Daniel Cristiano Wegler (1), Neuro José Zambam (2)

O método de abordagem será o fenomenológico-hermenêutico, sendo que esse método se ... explicando-se pelo fato de o Estado Espartano ter uma visão mil...

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Daniel Cristiano Wegler (1), Neuro José Zambam (2)

(1) Multiculturalismo, minorias, espaço público e sustentabilidade – IMED, Brasil. E-mail: [email protected] (2) Multiculturalismo, minorias, espaço público e sustentabilidade – IMED, Brasil. E-mail: [email protected]

A Demonização do Povo Alemão Resumo: O presente artigo propõe-se a trazer uma análise sobre como o povo alemão é visto até os dias atuais (e sua descendência, consequentemente) devido aos fatos ocorridos durante a Segunda Guerra Mundial, com ênfase no nazismo. Iniciar-se-á com uma compreensão da evolução histórica, apenas com o fim de contextualizar a ideia da evolução a que todos estamos submetidos, tanto como pessoas quanto como povos. Após, o foco estará sobre os prejuízos causados pelo nazismo, mostrando, por uma perspectiva histórica, o que de fato ocorreu e quem foi atingido. A seguir, o ponto abordado é o contexto histórico no qual a Alemanha da Segunda Guerra estava inserida, percebendo a compreensão compartilhada pelas elites mundiais sobre os fatos. Na sequência, o ponto abordado é a fertilidade das terras alemãs para o surgimento de pensadores que ainda hoje moldam a nossa maneira de ver o mundo nas mais diversas áreas do conhecimento, para que se possa ter os fatores negativos e positivos que subsidiarão, com justiça, alguma conclusão sobre esse povo. Após, se terá um contexto no qual há explicações sociológicas sobre porque se escolhe demonizar a alguém ou a um povo, finalizando com a conclusão do artigo. O método de abordagem será o fenomenológico-hermenêutico; os métodos de procedimento serão o histórico e o comparativo; como tipo de pesquisa, adotou-se a pesquisa bibliográfica. Palavras-chave: Alemanha; Nazismo; História; Sociologia; Antropologia. Abstract: This article proposes to bring an analysis of how the German people is seen to this day (and his descendants consequently) due to events that occurred during the Second World War, with emphasis on Nazism. Start with an understanding of the historical evolution, only in order to contextualize the idea of evolution to which all are subject, both as individuals and as a people. After, the focus will be on the damage caused by Nazism, showing, for a historical perspective, what actually occurred and who was hit. Next, the issue addressed is the historical context in which Germany was part of World War II, realizing the shared understanding by the world's elites about the facts. Following the issue addressed is the fertility of German lands to the emergence of thinkers that still shape the way we see the world in different areas of knowledge, so we can have the negative and positive factors that will subsidize justly any conclusion about its people. After, we will have a context in which there are sociological explanations about why we choose to demonize someone or a people, ending with the conclusion of the article. The method of approach is the phenomenologicalhermeneutic; methods of procedure shall be the historical and comparative; as a kind of research, we adopted the literature. Keywords: Germany; Nazism; History; Sociology; Anthropology. 1 INTRODUÇÃO Seria fácil assumir como responsabilidade a produção de um artigo sobre um tema no qual não haja contradições ou onde a margem de interpretação seja larga o suficiente para que se fique confortável, sem demandar muita pesquisa ou argumentação por parte do autor. Mas quando, dentre uma gama de possíveis assuntos a serem abordados, escolhe-se um tema deixado à margem de análises mais profundas por ter a ideia de que esse já foi esgotado ao seu limite, ou ainda pelo perigo que é ter que manuseá-lo devido ao receio da impressão tida sobre o mesmo, assume-se um desafio onde é preciso delimitar muito bem o que se pretende apresentar, eliminando assim possíveis interpretações dúbias – o que, tratando deste assunto especificamente, corre-se o iminente risco de ocorrer.

Desse modo, o presente artigo tem como objetivo trazer um quadro geral sobre a identidade do povo alemão. Não se pode, no entanto, aprofundar tanto no assunto, devido ao espaço limitado ao seu desenvolvimento, o que acaba conflitando com a história repleta de acontecimentos de uma nação muito mais antiga do que a nossa própria história como nação. Mas procurar-se-á fazer um apanhado geral e, através disso, mostrar como esse povo possui várias virtudes, essas infelizmente sublimadas, à sombra da face negra gerada, principalmente, pelo nazismo, durante a Segunda Guerra Mundial. Para isso, utilizar-se-á o máximo possível do que Max Webber denominou de neutralidade axiológica, logo, a análise dos assuntos aqui mencionados da perspectiva de um pesquisador, e não de um apologista, assim, de maneira neutra, imparcial. Partindo do princípio básico levado em consideração quando fala-se em justiça, precisa-se perceber o tema de maneira a contemplar sua totalidade, levando em consideração, todos os fatos, prós ou contras, e não apenas um prisma parcial e, portanto, injusto. O método de abordagem será o fenomenológico-hermenêutico, sendo que esse método se caracteriza pela análise crítica e reflexiva do problema proposto, observando, dessa forma, o contexto onde o mesmo encontra-se para que, assim, possa-se entender todo o cenário e não, simplesmente, os elementos isolados. Os métodos de procedimento serão o histórico e o comparativo, sendo que o primeiro permite a investigação de acontecimentos e instituições que existiram num mesmo período histórico, e o segundo, permite que se trace um paralelo entre as realidades isoladas, mais precisamente entre nações que, no mesmo período histórico, possuíam atitudes semelhantes. Como tipo de pesquisa, adotou-se a pesquisa bibliográfica. 2 A EVOLUÇÃO DA SOCIEDADE A sociedade evolui. Isso é fato. Essa afirmação já abre espaço, de início, para questionamentos como, por exemplo, “será que de fato evoluímos ou apenas pensamos ter evoluído?”; mas, o ponto onde se quer chegar, deixando as abstrações à parte, é que, como civilização, caminhamos alguns passos desde nossa gênese até este momento, deixando para trás práticas que já não cabem mais segundo a atual maneira de pensar da coletividade. De repente, não da melhor maneira que poderia ter sido feito – e sabe-se que muito mais poderia ter sido feito na história que já traçamos -, mas evoluímos. E isso é constante. Seria muita inocência ou muita arrogância imaginar que o que se tem hoje como padrão social seja definitivo e imutável, tornando, portanto, igualmente lastimável julgar as falhas que nossos antepassados cometeram ao terem eles, como base de tais atitudes errôneas, as melhores das intenções segundo a sua cosmovisão. Em algum momento, essa nossa realidade também mudará, e isso é algo que, acredita-se, grande parte das pessoas não analisa diariamente, nas suas ações. Será que se vive da melhor maneira possível hoje ou apenas no futuro perceber-se-á que se

poderia ter feito diferente e, consequentemente, também a nossa era será considerada ainda de um povo bárbaro? A história da civilização é repleta de fatos que hoje parecem inimagináveis de serem praticados. Apenas para ter uma noção do que se trata aqui, pensemos em duas práticas consideradas antigas, mas, como se verá, não, por isso, em desuso: a primeira encontra-se na antiga Esparta. Um costume entre os cidadãos era o de “descartar” crianças que nascessem com algum defeito físico (CHEROBINO, 2012). Isso, embora nos pareça algo bárbaro – o que de fato é – tinha uma razão para existir, explicando-se pelo fato de o Estado Espartano ter uma visão militar. Logo, os nascidos ali deveriam ter capacidade de tornarem-se soldados; nesse silogismo, aqueles que não respondiam a este critério, eram mortos ainda bebês – e nesse contexto específico, é de imensurável importância apontar que essa vil prática, tão antiga, com maior destaque na Grécia antiga, ainda ocorre em certas tribos indígenas brasileiras hoje (SIMÕES, 2012), indiferentes ao entendimento que temos, como sociedade, sobre os direitos humanos nos dias atuais. Outro fato ocorreu precisamente aqui, no Brasil. Nosso país, a mais rica das colônias lusitanas, trabalhou com comércio de escravos (JUNIOR, [201-?]). Mas, mesmo que a escravidão seja uma prática também antiga e ultrapassada, ainda ocorre em diversas partes do mundo, inclusive no Brasil (CAMARGO, [201-?]). É lógico que os exemplos citados são de atitudes torpes não aceitas pelo senso comum hoje – embora ocorram em uma escala menor, como apontado -, mas, na época em que ocorreram, eram atitudes normais praticadas entre os cidadãos que, nos locais supracitados, viviam. Eram hábitos. Agora, será que é necessário o extermínio de tais povos pelas atitudes praticadas em tempos tão remotos, quando o que faziam era praticado algo normal, ou o aprendizado e a evolução intelectual dos mesmos possui alguma relevância, redimindo-os, de certo modo, pelos erros cometidos em épocas tão remotas? 3 OS PREJUÍZOS DO NAZISMO Sem dúvida alguma, o nazismo foi um regime que causou uma destruição imensurável não apenas durante a Segunda Guerra Mundial, mas para a humanidade toda, e de uma maneira que ainda não é visualizado em sua totalidade. Tendo causado milhões de mortes, a ideologia do Partido Nazista atingiu muito mais do que comumente é mencionado, pois não foram apenas os judeus os afetados por isso. Geralmente, quando fala-se do nazismo, a primeira visão que se tem é a de uma nação alemã unida (representada pelo sabido conceito de povo, ou Volk), voltada contra o resto do mundo, com a ênfase desse ataque nos judeus.

Pois é exatamente aí que está o equívoco. O ponto que não é mencionado entre o senso comum é que, além dos milhões de judeus mortos, o próprio povo alemão sofreu sendo perseguido com o nazismo. Um exemplo disso foi a promulgação da lei que permitia ao Estado o direito de esterilizar portadores de doenças que pudessem ser hereditárias para que, assim, fosse possível “purificar” a raça ariana, o que é mencionado por Demétrio Magnoli (2009, p. 46-47) no trecho a seguir:

A Alemanha tornou-se o primeiro e único Estado oficialmente eugenista com a promulgação da Lei para a Prevenção da Descendência Hereditariamente Doentia, em julho de 1933. A lei conferia ao Estado o poder de esterilizar portadores de doenças que se supunham hereditárias, como esquizofrenia, insanidade maníacodepressiva ou epilepsia. Cegos, surdos e portadores de outras deficiências podiam também ser esterilizados se os médicos oficiais diagnosticassem causas hereditárias para tais males. Além disso, os alcoólatras estavam contemplados pela lei.

Pode-se perceber pelo trecho supracitado que o Estado alemão, então governado pela ideologia nazista, pretendia fazer uma limpeza dentro de sua população, independente de quem fosse. Há registros ainda de que o programa eugênico funcionou bastante no início da guerra, nos primeiros dois anos, “mas praticamente não atingiu os judeus” (MAGNOLI, 2009, p. 55), logo, tem-se o raciocínio de que, embora os judeus tenham sido os maiores prejudicados, e o seu extermínio o principal foco de Hitler, esses não foram os únicos atingidos. É preciso, no entanto, para compreender algo, entender o contexto no qual o que está sendo estudado se encontra. Qual era a concepção do mundo nesse momento histórico? Será que apenas os alemães pensavam dessa maneira, de que deveria ser feito uma espécie de evolução genética, ou diferentes partes do mundo tinham uma mesma compreensão dos fatos? É isto o que se verá a seguir. 4 UMA QUESTÃO DE CONTEXTO Ao ver qualquer material sobre a Segunda Guerra Mundial, seja livros, documentários ou filmes, o principal ponto a ser comentado, indubitavelmente, é a barbárie que os alemães (e aqui é preciso enfatizar que diz-se os “alemães” e não os “nazistas”, generalizando o contexto), realizaram na mencionada guerra. Até pouco tempo, esse contexto parecia imutável, já que depende-se da mídia e dos meios de comunicação para atingir algum tipo de conhecimento. Logo, tendo essas fontes de conhecimento sido viciadas, direcionadas para uma visão parcial, a balança do julgamento que cada um carrega acaba pendendo para apenas uma compreensão. Mas, quando numa busca, muitas vezes, despretensiosa por conhecimento em fontes de temas que não necessariamente estão relacionados ao assunto que tratamos aqui, descobrem-se novos dados

que acontecem paralelamente ao tema abordado, devido ao momento histórico. Novos horizontes começam a se abrir. É como se novas estradas do conhecimento, até então obscuras e pouco ou nada usadas, fossem descortinadas, mostrando fatos de grande relevância histórica. Esses fatos acabam agregando peças até então perdidas do tabuleiro, mudando a percepção do quadro. Um exemplo de como é preciso ter uma visão geral do contexto está no que se refere ao escritor inglês Bertrand Russell, um aristocrata ateu que defendia que o Estado deveria ter o poder de esterilizar obrigatoriamente os deficientes mentais, conforme o texto de Alister MacGrath (2013, p.251):

Russell argumentava que o Estado deveria ter o poder de esterilizar compulsoriamente todos os que fossem considerados “deficientes mentais” por especialistas capacitados, e que essa medida devia ser adotada apesar dos prejuízos que pudesse causar. Ele sugeria que a redução do número de “idiotas, imbecis e débeis mentais” proporcionaria um benefício suficiente para a sociedade, compensando quaisquer danos causados por seu mau uso.

Nesse ponto as informações começam a colidir com o que se acreditava, gerando dúvidas sobre as até então bem definidas atitudes exclusivamente alemãs. É de conhecimento de todos que a Inglaterra era uma das potências inimiga da Alemanha na Segunda Guerra e, por uma questão lógica – pelo menos é o que subjetivamente entende-se -, deveria lutar contra seus interesses. O ponto que não é mencionado, no entanto, é que e os intelectuais, exemplificado aqui pelo já citado Bertrand Russell, e as elites mundiais pensavam, de fato, que deveria haver algum controle no que era relacionado aos genes humanos e que isso era dever do Estado. Um exemplo disso é o que dizia o geneticista e biólogo britânico John Burdon Sanderson Haldane, ou simplesmente, J. B. S. Haldane. O biólogo, assim como vários outros pensadores de sua época – décadas de 1920 e 1930 -, “defendia a otimização da totalidade dos genes humanos por meio da prevenção da procriação de certos tipos de pessoas” (MCGRATH, 2013, p. 250). A posterior vinda do nazismo acabou obscurecendo essas falhas cometidas por tais elites:

Essas visões são raramente verificadas hoje em dia, em parte porque foram contaminadas com sua subsequente associação com teorias eugênicas nazistas, e em parte porque parecem incompatíveis com os ideais democráticos liberais. No entanto, elas eram amplamente defendidas entre as elites intelectuais inglesas e norte-americanas no período entre as duas guerras mundiais. Três conferências mundiais de eugenia (Londres, 1912; Nova Iorque, 1921; e Nova Iorque, 1932) argumentaram em defesa da “seleção da natalidade” (contrapondo-se ao “controle de natalidade”) e da eliminação genética dos que eram considerados insuficientemente bons. (2013, p. 251).

Além das elites inglesas e norte-americanas terem discutido a ideia, houve, por parte dos americanos, pelas Fundações Rockefeller e Kellogg’s, grandes patrocínios para que a pesquisa genética pudesse ser feita. E avançando ainda mais, para sair de qualquer subjetividade onde seja possível afirmar que, em tudo isso, foram apenas intelectuais e/ou empresas que não estavam diretamente ligadas ao governo os que cogitaram tais ideias, o próprio governo americano, sob a liderança de Theodore Roosevelt, instituiu uma Comissão de Hereditariedade nos EUA, buscando, através disso, identificar a origem do povo americano e, no mesmo sentido do que Hitler fez na Alemanha – porém com menor intensidade -, estimular o aperfeiçoamento de seus cidadãos (MAGNOLI, 2009). Logo, fica claro que, numa perspectiva mundial – das elites mundiais -, tirando o foco da Alemanha para olhar de maneira mais abrangente, compartilhava-se a ideia de criar um ser superior, uma raça superior. Dessa maneira, desmistifica-se a ideia de que apenas o povo germânico visava isso. Mas, para contrapor os vícios cometidos pelos alemães, precisa-se colocar, na outra bandeja da balança, as virtudes pertencentes a esse povo. 5 UMA TERRA DE PENSADORES Uma das coisas que chamam a atenção ao olhar para trás e ver o que já foi gerado de conhecimento em nossa história é a constatação de que grande parte dos pensadores é de origem alemã. Nesse ponto, questiona-se qual seria a razão de não haver uma valorização por isso, já que houve lá tantos pensadores que formaram as bases em várias áreas do conhecimento e que, ainda hoje, influenciam nossa maneira de pensar. A lista de pensadores alemães é grande e fascinante de ser analisada. Apenas para ter uma ideia: É inimaginável conceber a poesia sem pensadores como Goethe e Schiller; a psicologia moderna sem Wilhelm Wundt; a sociologia sem os pensamentos de Karl Marx, Friedrich Engels e Max Weber, ou ainda sem a Teoria Sistêmica de Niklas Luhmann; a filosofia sem o Zaratustra de Friedrich Nietzsche ou as ideias de Imanuel Kant, Arthur Schopenhauer e Martin Heidegger. É preciso destacar ainda as ideias de Nicolau Copérnico que, com a teoria do Heliocentrismo – o sol como centro do universo -, desafiou a teoria vigente do Geocentrismo – a terra como centro do universo -, e assim tudo aquilo que era tido como definitivo naquele momento histórico. Mas, sem dúvida alguma, o integrante mais icônico para quase todos nos dias atuais, incluso no rol dos pensadores alemães, é o físico Albert Einstein. Além dessas personalidades, impressiona também o número de Prêmios Nobel que a Alemanha possui, informação essa que acabou ganhando destaque nesses últimos dias devido à derrota humilhante que a Seleção Brasileira sofreu para a Alemanha na Copa do Mundo FIFA 2014,

sediada precisamente aqui no Brasil. O site Diário de Cuiabá traz a informação de que, contra nenhum Pêrmio Nobel do lado brasileiro, a Alemanha ostenta o número de 103 (VUOLO, 2014). Dentre os 103 Prêmios, um merece destaque: O Site Nobelprize.org, site oficial do Prêmio Nobel, traz a informação do Nobel da Paz de 1935 concedido ao alemão Carl Von Ossietzky, militante contra o governo, logo, contra o nazismo. Ossietzky foi preso por defender ideias contra a guerra, permanecendo em um campo de concentração. Quando foi indicado ao prêmio, o mesmo foi considerado uma afronta ao governo, fazendo com que as autoridades nazistas proibissem, a partir de então, que qualquer alemão recebesse um Prêmio Nobel (NOBELPRIZE.ORG, [200-?]). Essa é apenas uma pequena amostra dos pensadores formados na terra alemã, e, com ela, não se tem a pretensão de mostrar algo além de que o fato de que há muito mais a ser enaltecido historicamente do que a ser condenado, afinal, que prova maior disso do que um alemão, no caso, Ossietzky, que foi preso por alemães nazistas devido a sua luta contra o regime e contra a guerra? Mas, sabe-se que esse tipo de julgamento é, infelizmente, algo natural, inerente ao ser humano. No item a seguir monta-se o contexto para mostrar como acontece esse processo, o processo de manter o estigma sobre uma pessoa ou, nesse caso, sobre uma nação. 6 A DEMONIZAÇÃO DO POVO ALEMÃO Há uma frase que define com maestria a essência do que pretende-se dizer aqui. A frase “a sociedade crava em cada um o seu passado” (CARNELUTTI, 2009, p. 113) explana exatamente a ideia de que, não importa o que você fez, e se isso já não é mais uma conduta habitual: você sempre será lembrado por isso! Essa situação é ainda mais triste quando muito tempo já passou e os filhos de uma nação, logo, aqueles que apenas nasceram ali, inocentes das obras feitas por seus antepassados, ainda são lembrados por aquilo e condenados pelos pecados cometidos por aqueles. Mas, além dessa condenação, há algo interessante nesse processo: é preciso haver a demonização de alguém para que os demais possam se sentir limpos. É como se fosse necessário, vez após vez dentro da história, existir um bode expiatório onde a sociedade deposita seus pecados e, assim, se sinta limpa. O sociólogo Luís Eduardo Soares lança luz sobre esse assunto com o seguinte trecho:

Também aqui funciona um sistema: quando alguém é mau, outros são bons; se um é louco, outros são saudáveis; se alguém tem problemas, outros não têm. (...) Só haverá vitoriosos se houver perdedores. Se ninguém ocupar esta última posição, será preciso atribuí-la a alguém, mesmo que a preço da artificialidade e da crueldade. (2005, p. 102).

Aqui fica nítido algo que está intrínseco no ser humano a necessidade de demonizar a alguém para exorcizar seus demônios, colocando sobre o infeliz escolhido todo o fardo de erros cometidos. E convenhamos que o mundo produziu uma quantidade bastante generosa de erros durante a Segunda Guerra, portanto, uma quantidade grande de demônios para que precisasse exorcizar sobre alguém. É lógico que, assim como apontam os fatos já citados neste artigo, o nazismo, verdadeiramente, produziu a sua cota de malefícios. Mas, tratando-se de uma análise crítica, é preciso contrabalancear as atitudes boas e as más do povo alemão para que se possa ter uma real noção de sua identidade, não os demonizando por isso, mas tendo uma visão justa de sua obra na história da humanidade. Concentrou-se sobre os alemães todos os erros de uma geração, fazendo com que, além de seus próprios erros (no caso, o nazismo), esse fosse tornado o bode expiatório quando não se menciona hoje que, historicamente, a Inglaterra e os Estados Unidos também pensavam em produzir uma “raça perfeita”, logo, possuíam o mesmo intento que o povo germânico. Logicamente, essa mesma perspectiva se daria com relação a qualquer outro povo se analisado, não sendo algo específico ao povo alemão. 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS Diante dos fatos apresentados, parafraseia-se Francesco Carnelutti (2009, p. 117): “Quem pecou está perdido. Cristo perdoa, mas os homens não.” De fato, o fardo que o nazismo gerou para o povo alemão será, pelo menos percebendo agora, pesado demais e nunca mais esquecido. Assim como a “marca de Caim”, o povo alemão carrega uma marca invisível, gerando repulsa, medo e dúvida sobre sua postura e conduta. O Rio Grande do Sul, estado no qual vivemos, é um lugar de grande concentração de descendentes de alemães, e essa é uma das razões da criação desse artigo. A marca gerada pelos nazistas ainda permanece em cada descendente alemão, inclusive aqui, em terras brasileiras, e cresce à medida que decresce o conhecimento sobre o assunto. Tomando o silogismo iniciado antes, onde pega-se uma balança para contrapor prós e contras oriundos dessa nação, distribuindo os contras numa bandeja e os pós na outra, será que não fica claro que os benefícios causados em toda a sociedade fazem com que o fiel da balança penda a favor do povo alemão, favorecendo suas benfeitorias? Tenhamos, em todo o momento, o pensamento de que precisamos ser justos em nossos julgamentos, afinal, nós mesmos, como nação, embora pensemos em questões como essa buscando justiça, ainda possuímos vícios a ser tratados, como o assassinato/abandono de crianças e a escravidão. Agora, retomando o questionamento ainda sem resposta do final do título 2, acredita-se que uma nação não deve ser exterminada por seus pecados, pois, vendo ainda pela perspectiva do Direito, e crendo que o Direito deve ser aplicado para restabelecer o cidadão à sociedade, muito mais quando

se trata de toda uma nação que busca historicamente por excelência, ela pode sim ser redimida de seus erros, muito mais quando, além de buscar por essa excelência continuamente, já possui um histórico de significativas construções e contribuições ideológicas. Acredita-se que as manchas podem ser limpas, embora, obviamente, não sejam jamais esquecidas. E tratando do esquecimento, esse, de fato, não deve nem pode ocorrer, pois a lembrança, embora não deva servir para manter um julgo, nos manterá alerta para não cometer novamente os erros antigos. 8 BIBLIOGRAFIA ATHAYDE, Celso; BILL, MV; SOARES, Luiz Eduardo. Cabeça de Porco. Rio de janeiro: Objetiva, 2005.

CAMARGO, Orson. Trabalho escravo na atualidade. Brasil Escola. Sociologia. . Acesso em: 29 jul. 2014.

CARNELUTTI, Francesco. As Misérias do Processo Penal. São Paulo: Pillares, 2009.

CHEROBINO, Vinícius. Saiba Como Era a Infância em Esparta: Em Esparta, o Estado Tomava os Meninos das Famílias para Treiná-los na Arte da Guerra. Guia do Estudante. Disponível em: . Acesso em: 04 out. 2014.

JUNIOR, Leandro Augusto Martins. Escravidão na América Portuguesa. Globo.com. Disponível em: . Acesso em: 03 out. 2014.

MAGNOLI, Demétrio. Uma Gota de Sangue: História do Pensamento Racial. São Paulo: Contexto, 2009.

MCGRATH, Alister. A Vida de C. S. Lewis: Do Ateísmo às Terras de Nárnia. São Paulo: Mundo Cristão, 2013.

NOBELPRIZE.ORG. Carl von Ossietzky – Biographical. Disponível em: . Acesso em: 29 jul. 2014.

SIMÕES, Jonathas da Silva. Infanticídio Indígena em Tribos Brasileiras. Ordem dos Advogados do Brasil.

Seccional Paraíba. Disponível em: . Acesso em: 29 jul. 2014.

VUOLO, Vicente. Alemanha 103 X 0 Brasil. Disponível em: . Acesso em: 18 jul. 2014.