INCLUSÃO ESCOLAR: DESAFIO DO PROFESSOR NO SÉCULO XXI

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INCLUSÃO ESCOLAR: DESAFIO DO PROFESSOR NO SÉCULO XXI

Nadiesca Pohlmann1 RESUMO O tema em estudo discute o desafio do professor do século XXI de trabalhar com a inclusão de pessoas com necessidades educativas especiais. Como inclusão escolar, entende-se o processo de reconhecimento e respeito das diferentes identidades dos alunos e uma cultura institucional que aproveita estas diferenças de identidades para o benefício da educação de todos. Integrar e incluir tem significados diferentes. Na integração a pessoa integra-se na realidade que não se põe em questão e que acolhe sem se modificar, e poucas foram as mudanças que a integração provocou nos alunos e professores. Com a inclusão, acontece o contrário, a escola e o professor são desafiados para possibilitar a transformação e qualificação do ensino tradicional excludente. Movido pelos desafios que envolvem a temática da inclusão escolar e os desafios do professor no século XXI, o presente artigo propõe-se a discutir os respectivos segmentos: história da pessoa com deficiência ao longo da história da humanidade, o desafio da gestão na escola inclusiva, novos desafios para o educador, os autores e pesquisadores brasileiros e a luta pela educação inclusiva de qualidade.

Palavras- chave: Desafio. Professor. Inclusão escolar. Diferenças. ABSTRACT The subject studied discusses the challenge of XXI century teacher to work with the inclusion of people with special educational needs. As a school inclusion, means the process of recognition and respect for different identities of students and an institutional culture that leverages these differing identities for the benefit of education for all. Integrate and include has different meanings. Integrating the person belongs to the reality that is not put in question and which hosts without modifying, and few changes have resulted in the integration of students and teachers. With the inclusion, the opposite happens, the school and the teacher are challenged to enable the transformation of education and qualification traditional exclusionary. Driven by challenges involving the issue of inclusive education and the challenges of the teacher in the XXI century, this article proposes to discuss the respective segments: the history of people with disabilities throughout the history of mankind, the challenge of management in inclusive school, new challenges for educators, authors and researchers from Brazil and the fight for inclusive education of quality.

Keywords: Challenge. Teacher. School inclusion. Differences.

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Pedagoga, Especialista em Psicopedagogia Institucional e Educação a Distância, Mestre em Gestão e Políticas Educacionais. E-mail: [email protected]

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INTRODUÇÃO

De acordo com as Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica, entende-se a educação especial como um processo educacional definido por uma proposta pedagógica que assegure recursos e serviços educacionais especiais, organizados institucionalmente para apoiar, complementar, suplementar e, em alguns casos, substituir os serviços educacionais comuns de modo a garantir a educação escolar e promover o desenvolvimento das potencialidades dos educandos que apresentam necessidades educacionais especiais, em todas as etapas, modalidades e níveis de ensino. Não se trata apenas da permanência física dos alunos com necessidades especiais, junto aos demais educandos, mas representa a ousadia, o desafio de rever concepções e paradigmas inclusivos educacionais especiais na rede regular de ensino, bem como desenvolver o potencial dessas pessoas, respeitando suas diferenças e atendendo suas necessidades. O respeito e a valorização da diversidade dos alunos exige que a escola defina sua responsabilidade no estabelecimento de relações que possibilitem a criação de espaços inclusivos, bem como procure superar a produção, pela própria escola, de necessidades especiais. Com a Resolução nº02/2001 que instituiu as Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica, houve um avanço na perspectiva da universalização e atenção à diversidade, na educação brasileira com a seguinte recomendação: Os sistemas de ensino devem matricular todos os alunos, cabendo às escolas organizar-se para o atendimento aos educandos com necessidades educacionais especiais, assegurando as condições necessárias para a educação de qualidade para todos. No entanto a realidade desse processo INCLUSIVO é bem diferente do que se propõe na legislação e requer muitas discussões relativas ao tema. Essa resolução se estende a todos os níveis de educação: educação básica e ensino superior. A inclusão envolve um trabalho criativo com estado de elevação da consciência, direcionado aos benefícios dessa inclusão para tais alunos.

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A lei especifica que todos os alunos com Necessidades Educacionais Especiais têm o direito a educação pública gratuita adequada e de qualidade. Conforme a Declaração de Salamanca, de 1994:

A educação de crianças com necessidades educativas especiais é uma tarefa compartilhada por pais e profissionais. Uma atitude positiva dos pais ajuda a integração escolar e social. Os pais de uma criança com necessidades educativas especiais precisam de apoio para poder assumir suas responsabilidades. (SALAMANCA, 1994; p.43)

De acordo com a citação a escola e os professores devem estar preparados para atender não somente a criança, mas toda a família. Pois essas famílias precisam de ajuda para que as crianças tenham um bom desempenho no seu desenvolvimento pessoal e social e que possam ser inseridas na sociedade que tem um olhar diferente para a pessoa portadora de deficiência. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), no 9.394/96 (Brasil, 1996), no Capítulo III, art. 4º, inciso III, diz que é dever do Estado garantir o “atendimento educacional especializado gratuito aos educandos com necessidades especiais, preferencialmente na rede regular de ensino”. No capítulo V da LDB, Lei de Diretrizes e Bases 9.394/96 trata somente de aspectos referentes à Educação Especial. Entre os pontos especificados, o art. 58. § 1º diz que:

sempre que for necessário, haverá serviços de apoio especializado para atender às necessidades peculiares de cada aluno portador de necessidades especiais. Por exemplo, em uma classe regular com inclusão pode haver um aluno surdo que necessite de um professor de apoio que saiba LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais) para auxiliá-lo em todas as disciplinas.

Inclusão escolar é atender o aluno com Necessidades Educacionais Especiais, na classe regular com apoio dos serviços de Educação Especial, independente do nível e modalidade de ensino. Quer dizer o princípio da inclusão engloba serviços educacionais apropriados para toda a criança com necessidade educativa especial. Segundo carvalho (2004):

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Uma nova ética se impõe, conferindo toda a igualdade de direito-particularidade aos de equidade e a forma de discriminação por questões étnicas – socioeconômicas, de gênero , de classes sociais ou de peculiaridades individuais mais diferenciadas. Os movimentos sociais em prol dos direitos humanos muito contribuíram para resignificação dos sistemas educacionais e do papel das escolas. Em vez de seletividade que as tem caracterizado, penalizado inúmeros alunos com ou sem deficiência ou superdotação. (CARVALHO, 2004, p.34) Página

De acordo com a autora, precisamos é criar estratégias para que estes alunos possam se beneficiar da educação como os demais. No âmbito da Educação Especial, a inclusão aparece em ruptura com a integração, deslocando o enfoque do problema no indivíduo para a sociedade do aluno para a escola. Alguns pensadores não reconhecem esse movimento que está acontecendo como ruptura, e sim, como processo, já que o princípio da educação inclusiva não se efetivará por decretos, normativas ou imposição legal, mas a Educação Especial e os demais níveis e sistemas de ensino, precisarão de tempo para se organizar, adequar e construir políticas públicas e práticas pedagógicas que dêem conta de atender às diferenças, para realmente acontecer o desafio da inclusão. Para tanto, o Estado tem movido ações, conjugado forças e buscando “(...)trabalhar para que as condições de escolarização sejam as mais eqüitativas possíveis, para que todas as crianças possam verdadeiramente beneficiar-se de boas escolas e de bons professores” (MEIRIEU, 2005,p.24). O atual cenário educacional que estamos vivendo, sinaliza que há muito a ser constituído e que o Poder Público, e que as esferas: federal, estadual e municipal precisam unir esforços e garantir a inclusão escolar com pressupostos democráticos, na qual a diversidade e a diferença se tornam questões comuns nas instituições de ensino e não mais questões de discriminação e exclusão.

HISTÓRIA DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA AO LONGO DA HISTÓRIA DA HUMANIDADE

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A educação especial no Brasil segue os pressupostos formulados pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que define a educação especial como:

modalidade de educação escolar, oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para pessoas com necessidades educacionais especiais. A educação especial é uma modalidade de educação considerada como um conjunto de recursos educacionais e de estratégias de apoio que estejam à disposição de todos os alunos, oferecendo diferentes alternativas de atendimento. (definição dada pelo MEC).

A Educação Especial prevê, portanto, uma rearticulação da educação no sentido de providenciar estratégias e métodos que dêem conta do atendimento às crianças com necessidades especiais. E que estes instrumentos possam ser absorvidos e utilizados não só pela criança especial, mas por toda comunidade escolar. A lei existe, mas para que ela seja cumprida, de fato, é necessário que a sociedade e cada um de seus cidadãos a façam valer. Por isso é fundamental que todos cumpram com o seu papel de direitos e de deveres. Desde a década de 1960, é recomendada em nosso país a matrícula de pessoas com necessidades educacionais no sistema geral de educação, assim como é apontado nas Diretrizes e Bases da Educação Nacional – Lei 9394/96, Art. 60. Em seu Parágrafo único dispõe que:

Não é simplesmente integrar, que significa a inserção da pessoa deficiente preparada para conviver na sociedade, mas a inclusão que compreende a modificação da sociedade, como pré-requisito e como condição, para que a pessoa com necessidades especiais tenha condição de desenvolver e exercer sua cidadania.

A prática da inclusão social se baseia em princípios diferentes do convencional, que geralmente se reduz á presença das pessoas com deficiências na escola da rede regular. Mas aponta para a aceitação das diferenças individuais, valorização de cada pessoa, convivência Revista de Educação Dom Alberto, n. 3, v. 1, jan./jul. 2013.

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dentro da diversidade humana, aprendizagem por meio da cooperação e o atendimento às necessidades educacionais especiais. Enfim, segundo Mantoan (1997) “É preciso preparar a escola para incluir nela o aluno especial e não ao contrário”. O Século XX trouxe avanços importantes para as pessoas com deficiência, sobretudo em relação às ajudas técnicas ou elementos tecnológicos assistivos. Os instrumentos que já vinham sendo utilizados - cadeira de rodas, bengalas, sistema de ensino para surdos e cegos, dentre outros - foram se aperfeiçoando. A sociedade, não obstante as sucessivas guerras, organizou-se coletivamente para enfrentar os problemas e para melhor atender a pessoa com deficiência. Em 1948, a comunidade internacional se reúne na nova sede da ONU, em Nova York, jurando solenemente nunca mais produzir as atrocidades como aquelas cometidas durante a Segunda Guerra Mundial. Os dirigentes mundiais decidem então reforçar a Carta das Nações Unidas, declarando em um só documento todos os direitos de cada pessoa, em todo lugar e tempo. Nasce a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Declaração Universal dos Direitos do Homem Artigo 1º: Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotadas de razão e consciência e devem agir em relação umas às outras com espírito de fraternidade. No artigo 25 há menção expressa à pessoa com deficiência, designada de “inválida”, relação à pessoa com deficiência:

Toda pessoa tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e a sua família saúde e bem estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis, e direito à segurança em caso de desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistência fora de seu controle.2. A maternidade e a infância têm direito a cuidados e assistência especiais. Todas as crianças nascidas dentro ou fora do matrimônio, gozarão da mesma proteção social.

É nesse tempo de reconstrução que as instituições voltadas para as pessoas com deficiência se consolidaram em todos os países, principalmente buscando alternativas para sua integração social e aperfeiçoamento das ajudas técnicas para pessoas com deficiência física, auditiva e visual. Revista de Educação Dom Alberto, n. 3, v. 1, jan./jul. 2013.

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Para que haja uma melhor interação entre pessoas com necessidades especiais e as pessoas sem deficiências, o primeiro passo seria sensibilizar e capacitar todos os funcionários da instituição, professores, orientadores, enfim todos os profissionais. É importante também sensibilizar os pais, sobretudo os dos não deficientes, uma vez que eles devem desempenhar um papel ativo no processo de inclusão (JOVER, 1999, p. 12) Para que aconteça a inclusão no século XXI nas instituições de ensino é necessário: “A inclusão postula uma reestruturação do sistema de ensino com o objetivo de fazer com que a escola se torne aberta às diferenças e competente para trabalhar com todos os educandos, sem distinção de raça, classe (…)” (GUIMARÃES, 2003, p. 46).

O DESAFIO DA GESTÃO NA EDUCAÇÃO A gestão de uma escola que se espera para o século XXI tem compromisso não apenas com a produção e a difusão do saber culturalmente construído, mas com a formação do cidadão crítico, participativo e criativo para fazer face às demandas cada vez mais complexas da sociedade moderna. Libâneo (2004), afirma que as concepções de organização e de gestão escolar, a assumem diferentes modalidades conforme a concepção que se tenha das finalidades sociais e políticas da educação em relação à formação dos alunos. E, nesse contexto, situam duas concepções: a técnico-científica e a sociocrítica. Ao nosso ver, as alternativas devem ser colocadas no nível das grandes tendências epistemológicas, ou seja, dos paradigmas que fundamentam não somente as políticas educacionais, as concepções de educação e as práticas de gestão, mas também a articulação desses níveis entre si. De acordo com Libâneo (2004),a gestão da escola, para se constituir a partir do fundamento democrático, deve ter como princípios básicos: participação e autonomia. Pedagogicamente esse processo exige que a escola se arme de instrumentos que visem garantir esses princípios e se voltem para a especificidade dos objetivos da escola: garantir o processo de formação do cidadão, que envolve não apenas o conhecimento e aprendizagem

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de conteúdos pré-determinados, e que está pautado numa determinada concepção de homem que se quer formar, respeitando as suas diferenças e singularidades. Na escola isso vai significar a possibilidade de traçar seu próprio caminho, envolvendo professores, alunos, funcionários, pais e comunidade, unidos no sentimento de co-responsabilidade pelo êxito da instituição, para que esta tenha a prática de uma escola inclusiva. É certo que essa possibilidade se limita ao espaço da autonomia relativa possível a uma instituição que integra um sistema de ensino e que depende das políticas públicas e que não gera recursos próprios. Mesmo considerando que a autonomia da escola é relativa, Libâneo (2004)

ratifica a importância do PPP e do Conselho Escolar por serem ambientes deliberativos e organizacionais que, dentro da escola, abrem espaços para a definição de ações voltadas para o tipo de educação que se deseja empreender no espaço escolar.

Um processo de gestão democrática consiste em elaboração, execução, acompanhamento e avaliação do projeto educativo que deve estar expresso no PPP e ser conhecido por toda comunidade. Conforme Ferreira (2008):

a gestão escolar atravessa nos dias de hoje uma fase de profundas transformações que se traduzem em diferentes medidas e têm por objetivos redefinir o conceito de escola; reconhecer e reforçar sua autonomia; promover associação entre escolas e sua integração em territórios educativos mais vastos; adotar modalidades de gestão específicas e adaptadas à diversidade das situações existentes. Esse modelo de gestão é coerente com as tendências da educação observadas em outros países, como o Reino Unido, Austrália, Estados Unidos, Canadá e Alemanha (LÜCK et al., 2008).

Segundo Libâneo (2004), a própria existência do PPP pressupõe a participação coletiva em sua elaboração, execução, acompanhamento e avaliação (reescrito propositadamente!), mesmo que, na prática, isso tudo não ocorra. Nesse sentido, vale lembrar que as formas de organização e de gestão da escola são sempre meios que servirão para alcançar os objetivos da instituição e que, quando estes colocam em destaque a Revista de Educação Dom Alberto, n. 3, v. 1, jan./jul. 2013.

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formação humana, buscam o fortalecimento das relações sociais, verificando e fortalecendo ações relacionadas a inclusão. Nesse processo, o diretor da escola, como líder do processo de gestão democrática, vai necessitar de competências que o ajudem a conduzir o processo junto com a comunidade escolar. Entre essas competências está a de garantir a participação de todos no processo, até porque um elemento fundamental no processo participativo está relacionado com a motivação dos atores envolvidos, que perpassa os objetivos comuns dos indivíduos e se amplia a partir dos interesses coletivos, é preciso “discutir” e organizar estratégias e ferramentas para os professores poderem atuar com qualidade nas turmas com alunos com necessidades educacionais especiais.

NOVOS DESAFIOS PARA O EDUCADOR

Os professores precisam aprender a buscar informação, adquirir ferramentas conceituais para compreender a realidade, ampliar sua cultura geral, aprender a lidar competentemente com as práticas de ensinar. São questões que desafiam o professor. Isso precisa estar presente na formação inicial, feita nos cursos de formação, e na formação continuada, feita nas próprias escolas ou partir dos problemas apontados nas escolas. Libâneo (2004) considera necessário

que os cursos de formação e as escolas planejem estratégias de mudança na mentalidade dos professores em relação às formas de trabalho. As transformações na ciência, na noção de conhecimento e do processo do conhecimento estão afetando muito os métodos e procedimentos de ensino. Essa mudança de mentalidade precisa começar na própria organização pedagógica e curricular, nas formas de gestão da escola, na elaboração do projeto pedagógico. Os professores mudarão sua maneira de ensinar à medida que vivenciarem novas maneiras de aprender.

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Segundo Alarcão (2003), nossa sociedade, denominada “sociedade da informação, do conhecimento e da aprendizagem, da inclusão ”, exige competência de acesso, avaliação e gestão da informação oferecida. Nela, o homem deve ter a capacidade de transformar as informações em conhecimento. Deve saber lidar com a informação de modo rápido e flexível, discernindo sua importância, reorganizando-a,interpretando-a, selecionando-a, sistematizando-a e recriando-a. Assim, as

competências exigidas, hoje, devem ser

desenvolvidas num contexto em que haja apelo para atitudes autônomas, dialogantes e colaborativas e em projetos de reflexão e pesquisa, principalmente para trabalhar a inclusão de maneira a incluir e não somente integrar. De acordo com Alarcão (2003) a escola tem papel central nessa questão. A sala de aula é o espaço onde se procura e se produz o saber, se trabalha as diferenças de maneira a realizar a inclusão, sem exclusão. A aprendizagem deve ser organizada focando no aluno e promovendo sua capacidade de auto e heteroaprendizagem, o qual deve ser aprendente e descobrir o prazer de ser uma mente ativa. Segundo Alarcão (2003) o professor deve estar em constante formação a fim de poder atender as novas exigências. Precisa ser reflexivo numa escola reflexiva, isto é, sua atuação deverá ser produto de uma mistura integrada de ciência, técnica e arte. A idéia de professor reflexivo é transponível para a comunidade educativa, tendo um olhar diferente para as “diferenças”. Segundo Freire (2001) a educação transmitida na escola deve ser significativa e contextualizada com a realidade que norteia a vida do educando. O professor é o sujeito que ajuda o aluno no processo de construção desses diversos saberes, tais como a amar e respeitar, por isso, ser um mestre vai além de “transmitir” conteúdos. É preciso cativar o aprendiz e conquistar sua confiança, pois os laços criados nessas relações é que irão garantir o início da caminhadas rumo a formas mais adequadas de aprendizagem, assim o professor vai conseguir atender as diferenças sem o aluno se sentir “diferente”. Diante disso, faz-se necessário que a formação dos educadores esteja voltada para esse contexto, buscando prevenir e diminuir as dificuldades no processo de ensinar e aprender, dentro da visão de incluir as diferentes realidades dos educandos. Revista de Educação Dom Alberto, n. 3, v. 1, jan./jul. 2013.

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“[...] menciona que esse é o caminho para a profissionalização, uma vez que permitirá o desenvolvimento da capacidade reflexiva desses profissionais e através dessa reflexão é que se encontrarão meios para atuar com essa realidade discente, já que não existem fórmulas nem receitas para esta prática.” (PERRENOUD, 2000). As competências que o professor deve adquirir para trabalhar com os problemas que a aprendizagem se depara cotidianamente serão construídos somente através da qualificação profissional, e com isso a noção de competências está intimamente ligada à capacidade dos indivíduos de se adequarem a novas situações e de resolverem problemas que possam enfrentar na sua prática. Quando o professor trabalha a inclusão na prática se depara com muitos e diferentes desafios, por isso a importância da formação continuada permanente. Freire (1996) afirma que, “[...] é pensando criticamente a prática de hoje ou de ontem é que se pode melhorar a próxima prática.” Nesse sentido, podemos dizer que: A atualização profissional, ou seja, a construção do saber constante é essencial para a realização de um trabalho transformador,que realiza e faz a inclusão, pois permite o processo ação-reflexãoação. Portanto, é de vital importância que o gestor incentive e proporcione aos docentes formação continuada e incentivo para sua formação pedagógica. Segundo Freire todo educador deve acreditar que é possível ocorrer mudanças. Todos devem participar da história, da cultura e da política. Ninguém deve ficar neutro, nem estudar por estudar. Todos devemos fazer perguntas, não podemos ficar alheios. “Ser rebeldes e não resignados”, com olhar de incluir. Freire (1996): “É a partir deste saber fundamental: mudar é difícil mas é possível, que vamos programar nossa ação político-pedagógica, não importa se o projeto com o qual nos comprometemos é de alfabetização de adultos ou de crianças, se de ação sanitária, se evangelização, se de formação de mão-de-obra técnica.” De acordo com Carvalho (2006), a articulação entre as políticas públicas para a remoção das barreiras existentes é tarefa de todos nós. Mas não dependem de boa-vontade e sim de efetivas ações que garantam o funcionamento de escolas de boa qualidade para todos e com todos, para realmente acontecer a inclusão. Revista de Educação Dom Alberto, n. 3, v. 1, jan./jul. 2013.

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Carvalho (2006), afirma que não pretende cair no risco do moralismo abstrato e nem da retórica política. O processo é complexo, lento e sofrido, mas é possível melhorar as escolas que temos. É possível reverter os quadros do fracasso escolar evidentes nas estatísticas educacionais brasileiras e enfrentar o novo desafio da inclusão em todos os níveis e modalidades de ensino. Página

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AUTORES E PESQUISADORES BRASILEIROS E A LUTA PELA EDUCAÇÃO INCLUSIVA DE QUALIDADE Vários autores, pesquisadores brasileiros estão escrevendo, pesquisando e realizando a “luta” pela educação inclusiva de qualidade. O longo processo do reconhecimento pela sociedade e pelos governantes dos direitos das pessoas com deficiência, faz-nos refletir sobre esse importante tema que é um dos maiores desafios para o professor no século XXI. Segundo Baroukh (2004, p. 33),aposta nos projetos que levem o aluno a valorizar suas potencialidades e a se sentir parte de um todo. Para tanto, ”todos os professores sem exceção, precisam praticar o respeito e a tolerância que só nascem quando se entende que o normal é ser diferente”. A educadora Mantoan (2005), afirma que na escola inclusiva professores e alunos aprendem uma lição que a vida dificilmente ensina: respeitar as diferenças. Ressalta ainda, que a inclusão é a nossa capacidade de reconhecer o outro e ter o privilégio de conviver com pessoas diferentes. Diferentemente do que muitos possam pensar, inclusão é mais do que rampas e banheiros adaptados. Na perspectiva de Mantoan (2005), um professor sem capacitação pode ensinar alunos com deficiência.

O papel do professor é ser regente de classe e não especialista em deficiência, essa responsabilidade é da equipe de atendimento especializado, uma criança surda, por exemplo, aprende com especialista em libras e leitura labial. A função do regente é trabalhar os conteúdos, mas as parcerias os profissionais são muito produtivas. Se na turma há criança surda e o professor regente vai dar uma aula sobre o Egito o especialista mostra a criança com antecedência fotos, gravuras sobre o assunto (2005, p. 24)

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Conforme Hugo Otto Beyer (2005) existia alguns anos atrás uma definição clara em que as crianças com deficiência eram atendidas em escolas especiais e as crianças sem deficiências em escolas regulares. Além disso, não havia praticamente qualquer situação de trabalho comum entre as escolas especiais e as regulares, e os educadores especiais tinham seu lugar nas escolas especiais e os professores com formação nas pedagogias e nas licenciaturas nas escolas regulares. Estamos com uma nova realidade, as crianças estão incluídas desde a educação infantil até o ensino superior e precisamos qualificar a inclusão existente. Consideramos que não existe atualmente nenhuma possibilidade de se opor inclusão social à educacional. Seria inclusive ausência de bom senso, mas é preciso que seja construída com competência e responsabilidade, respeitando os princípios legais, de direito à cidadania e à educação, e os princípios éticos, do respeito á diferença. Desse modo, não é possível pensar a inclusão apenas localizando as mudanças nas ações dos professores e das suas práticas pedagógicas. Não excluímos a importância de sua atuação nesse contexto. Todavia é preciso avançar e considerar as mudanças que se operam no conjunto da escola, de suas práticas, de sua organização e de sua cultura (TARTUCI, 2001). De acordo com Sassaki (2010),em sua obra “Inclusão construindo uma sociedade para todos”, afirma que a luta pela inclusão apenas começou, é necessário termos nas instituições de ensino “apoios ou suportes” necessários para a qualidade de vida e para a inclusão das pessoas com deficiência. Em sua obra “Educação inclusiva: com os pingos nos “is”, Carvalho (2011),em uma linguagem figurada, quer deixar claro algumas idéias sobre a inclusão no século XXI. Em seu livro procurou analisar os processos excludentes de indivíduos, com base em suas diferenças. Também ressalta as características de sistemas inclusivos, com ênfase para a remoção de barreiras para a aprendizagem e para a participação de qualquer aprendiz. Segundo Krebs e Freitas (org.),(2005), na obra “Educação Inclusiva e Necessidades Educacionais Especiais”, no início do século XXI, os sistemas educativos e os docentes

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confrontaram-se com importantes problemas tanto de estrutura como de conjuntura no tema da inclusão escolar. Nessa obra refletem sobre a inclusão e seus atores, o processo de reconhecimento e respeito das diferentes identidades dos alunos e uma cultura institucional que aproveita estas diferentes identidades para o benefício da educação de todos. Página

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com este trabalho, pode concluir que a inclusão é um dos grandes desafios do professor no século XXI, estamos vivendo um momento que as exigências para incluir todas as crianças na escola deu-nos nova perspectiva para os alunos com necessidades especiais, mas ainda estamos apenas no começo. Existe ainda uma forte exigência pela capacitação por parte dos professores, que se sentem com muita dificuldade para conduzir a inclusão dentro da sala de aula. Existe a ciência desta necessidade por parte do MEC, que neste sentido, tem disponibilizado material para orientar e capacitar os professores através de sugestões de estratégias a serem utilizadas junto às crianças e jovens com deficiência. Há muito conhecimento sendo produzido em torno desta questão, como podemos verificar nesse trabalho. Devemos levar em conta a constante reflexão dos professores sobre suas próprias práticas de sala de aula para que possam ir encontrando caminhos a partir das dificuldades que apareçam. Mesmo crianças com uma mesma deficiência podem possuir necessidades diferentes, portanto não há uma regra ou padrão que possa ser aplicada pelo professor a um único grupo. É importante que os casos sejam discutidos e pensados de forma única para que sejam bem sucedidos. É necessário um “novo olhar para a educação inclusiva” , um olhar de respeito as individualidades de cada pessoa, de acordo com seu tempo, Este novo olhar para educação deve

ser almejado como uma nova dinâmica para a relação de ensino e aprendizagem, no sentido de atentar para as singularidades e diferenças.

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A singularidade do aluno está presente nos diferentes ritmos de aprendizagem, desde a educação infantil até o ensino superior, em uma maior ou menor afinidade com determinadas áreas, em uma habilidade maior para algumas tarefas e inabilidade para com outras, etc. Enfim, são inúmeras as evidências de que as crianças e adolescentes não apreendem conhecimentos da mesma forma e nem de forma homogênea. Repensar o papel do professor e do aluno dentro deste contexto pode beneficiar, não só, aos portadores de deficiência, de conduta e superdotados, mas a todos os alunos. Portanto, para que a inclusão de fato se concretize, é necessário que os professores estejam preparados para lidar com esse tipo de situação. O art. 59, inciso III, diz que os sistemas de ensino devem assegurar aos educandos com necessidades especiais “professores com especialização adequada em nível médio ou superior, para atendimento especializado, bem como professores do ensino regular capacitados para a integração desses educandos nas classes comuns” (Brasil, 1996, p. 44). Porém, não é isso que é verificado na realidade. Silva e Retondo (2008) citam Bueno (1999), dizendo que:

de um lado, os professores do ensino regular não possuem preparo mínimo para trabalhar com crianças que apresentem deficiências evidentes e, por outro, grande parte dos professores do ensino especial tem muito pouco a contribuir com o trabalho pedagó¬gico desenvolvido no ensino regular, na medida em que têm calcado e construído sua competência nas dificuldades específicas do alunado que atendem (SILVA e RETONDO, 2008, p. 28).

Torna-se urgente que os professores e gestores procurem refletir, discutir sobre o tema da inclusão, participar de Cursos, formação continuada, bem como as instituições de ensino superior nas disciplinas específicas em suas áreas de formação, trabalhar a educação inclusiva e as Necessidades Educacionais Especiais, bem como o conhecimento da língua brasileira de sinais (libras). Assim, poderemos estar vivendo e convivendo e realizando trabalho de qualidade relacionado à inclusão.

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REFERÊNCIAS

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