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Técnicas de análise financeira | 165 Algumas outras medidas são muito empregadas na análise financeira, a exemplo do Valor Econô-mico Agregado (EVA) e...

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Técnicas de análise financeira Considerações gerais O domínio das técnicas de análise financeira é fundamental à formação do gestor financeiro. Trata-se de uma importante ferramenta de apoio ao processo decisório. É por meio dela que se têm condições de aferir o impacto de determinados fatos sobre a situação financeira da empresa. Responde a questões como: ::: Em que percentagem o crescimento das vendas afetou positivamente minha rentabilidade? ::: Qual o efeito dos aportes de recursos externos realizados nesse período (empréstimos e financiamentos) sobre a situação financeira da empresa? ::: O nível de endividamento da empresa é suportável? As técnicas podem ser utilizadas em diferentes momentos da administração, na elaboração de relatórios gerenciais e diagnósticos diversos. A análise financeira corresponde a um conjunto de técnicas que proporcionam um diagnóstico sobre a situação econômico-financeira da organização analisada. São utilizadas profissionalmente em trabalhos como: avaliação de desempenho organizacional, análise da eficácia e efetividade do planejamento financeiro, de fundamentação de reorganizações societárias e de reestruturação financeira, avaliações periciais, entre outros. As aplicações são variadas: ::: verificar capacidade de pagamento, rentabilidade e limites de crédito de um negócio; ::: monitorar a geração de caixa (fluxo); ::: avaliar a natureza das dívidas (composição) e políticas operacionais; ::: verificar se a remuneração dos sócios ou acionistas é compatível com a expectativa destes;

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::: estudar a viabilidade econômico-financeira de projetos; ::: avaliar a remuneração do investimento realizado pela entidade; ::: servir de base para realização e acompanhamento de projetos; ::: apoiar pesquisas empresariais; ::: conhecer a composição patrimonial (perspectiva de controle). Serão explicados os principais índices utilizados na análise financeira. Os índices correspondem a relações entre contas oriundas das demonstrações contábeis que reportam diferentes aspectos da gestão: econômico, financeiro e operacional. A utilização de índices para diagnóstico financeiro é muito comum. Todavia, uma análise financeira não se resume no cálculo de índices. A essência da análise é a interpretação e contextualização dos dados. Enfatizada a relevância dessas técnicas, este capítulo dedica-se à sua exposição, orientando quanto aos cálculos relacionados e à respectiva interpretação.

Técnicas de análise A análise pode ser desenvolvida numa perspectiva estática ou dinâmica. É dentro dessa orientação que se organizam os procedimentos de análise. A análise estática é realizada por meio de índices calculados em um dado período. A análise dinâmica implica em comparações de saldos e medidas ao longo do tempo. Com base nesse raciocínio, se a análise de índices for realizada considerando-se uma série temporal (períodos consecutivos), pode-se afirmar que essa análise é dinâmica. Se, ao contrário, a análise tem por base apenas o cálculo de índices de determinado período, pode-se concluir que se trata de uma análise estática. Naturalmente, o valor da análise numa perspectiva dinâmica é significativo porque sinaliza tendências e descontinuidades na evolução dos saldos patrimoniais. As técnicas de análise principais são: ::: análise vertical; ::: análise horizontal; ::: análise estática: ::: de liquidez; ::: de estrutura de capital; ::: de rentabilidade e lucratividade; ::: do giro; ::: análise de Capital de Giro.

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Algumas outras medidas são muito empregadas na análise financeira, a exemplo do Valor Econômico Agregado (EVA) e do Lucro Antes dos Juros, Depreciação e Amortização (EBITDA).

Análise vertical e horizontal Análise vertical A análise vertical possibilita o estudo da estrutura patrimonial em seu aspecto qualitativo e quantitativo. Visa apresentar a composição dos grupos patrimoniais. Responde a questões como: qual a representatividade das disponibilidades (saldo de caixa e das contas bancárias) em relação aos ativos da empresa? Cálculo: AV (%) =

Saldo da conta contábil x 100 Total do grupo ou subgrupo patrimonial

Exemplo:

Descrição

Saldos

Análise vertical

Ativo Disponibilidade Caixa

R$ 5.000,00

5%

Bancos

R$ 25.000,00

23%

Aplicações financeiras

R$ 8.000,00

7%

Clientes

R$ 40.000,00

36%

Mercadorias

R$ 32.900,00

30%

Total do Ativo Circulante

R$ 110.900,00

100%

Cálculo da representatividade (percentual) da conta caixa em relação ao total do Ativo Circulante: AV (%) =

R$ 5.000,00 x 100 = 5% R$ 110.900,00

A análise vertical informa a participação de cada conta em relação ao total do grupo patrimonial ou uma de suas subdivisões. A análise vertical é, de fato, uma leitura vertical das contas patrimoniais (de cima para baixo). A técnica é também conhecida como análise de estrutura, análise de composição ou, ainda, como análise de percentagens verticais.

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Planejamento Financeiro

Permite que a estrutura patrimonial seja visualizada. Veja por meio do gráfico: Gráfico 1 – Análise vertical do Ativo Circulante Caixa 5%

Mercadorias 30%

Banco 23%

Caixa Bancos

Clientes 35%

Aplicações financeiras 7%

Aplicações financeiras Clientes Mercadorias

A participação das contas em relação ao total do grupo patrimonial a que pertence mostra a sua importância e representatividade para análise do conjunto. Vejamos outro exemplo:

Descrição

Saldos

Análise vertical

Ativo Circulante

R$ 35.259,00

33%

Ativo Realizável a Longo Prazo

R$ 25.000,00

24%

Ativo Permanente

R$ 45.000,00

43%

Total do Ativo

R$ 105.259,00

100%

Passivo Circulante

R$ 46.925,00

57%

Passivo Exigível a Longo Prazo

R$ 35.000,00

43%

Total do Passivo

R$ 81.925,00

100%

Patrimônio Líquido

R$ 23.334,00

A análise vertical deve ser aplicada à demonstração do resultado do exercício, em que o cálculo é feito como segue:12 AV(%) =

Saldo das contas de resultado1 x 100 Vendas ou receitas líquidas2

Vejamos um exemplo:

Descrição

Saldos

Receitas

R$ 30.000,00

(–) Deduções

R$ 8.000,00

1 Receitas, custos e despesas. 2 Após as deduções.

Análise vertical

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Descrição

Saldos

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Análise vertical

(=) Receitas líquida

R$ 22.000,00

100%

(–) CMV

R$ (9.850,00)

45%

Lucro operacional bruto

R$ 12.150,00

55%

(–) Despesas operacionais

R$ (8.000,00)

36%

(+/–) Outras receitas/despesas operacionais

R$ 8.900,00

40%

(=) Lucro operacional

R$ 13.050,00

59%

(+/–) Receitas/despesas não-operacionais

R$ 5.000,00

23%

(=) Lucro Líquido

R$ 18.050,00

82%

Na verdade, a análise vertical tem por base uma regra de três simples: Receita líquida

100%

Lucro operacional

X(%)

X(%) =

Lucro operacional x X(%) Receita Líquida

A interpretação da análise vertical pode seguir diferentes caminhos. Estudemos alguns exemplos isolados: ::: A participação das contas “Caixa e bancos” é pouco expressiva (8%), o que reforça as dificuldades dessa empresa em gerar caixa. ::: As contas “Caixa e bancos” refletem diretamente o desempenho da empresa na geração de caixa, mas é preciso analisar as outras aplicações da empresa bem como sua estratégia de investimentos. ::: A conta “Clientes” representa 40% do Ativo Circulante, o que é justificado pelo volume de vendas a prazo, estratégia adotada pela administração para fomentar as vendas. ::: A conta “Clientes” ou “Contas a receber” reflete a política de crédito da empresa e sua estrutura de controle e cobrança. Quanto mais frágeis os procedimentos de controle e cobrança, maior tende a ser esse saldo. ::: O Lucro Líquido representa 20% das vendas líquidas, o que evidencia a pesada estrutura de custos. ::: A análise vertical aplicada à demonstração do resultado do exercício tem como uma das funções mostrar o impacto dos custos sobre o resultado final apresentado. ::: A participação da conta “Estoques” é significativa (45%), especialmente quando consideramos que o produto carro-chefe da empresa tem giro lento e que há queda nas vendas (25%).

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Planejamento Financeiro

::: Estocagem excessiva (acima da demanda) representa investimento desnecessário, uma vez que o ato de estocar gera custos financeiros (com manutenção, distribuição e controle). A interpretação da estrutura patrimonial deve ser contextualizada, ou seja, contemplar outras informações para fundamentação.

Análise horizontal A análise horizontal consiste na comparação entre valores de uma mesma conta ou grupo de contas, em períodos diferentes. Saldo em determinada data Número-índice = Saldo numa data-base escolhida A análise horizontal pressupõe uma série temporal (saldos das contas em períodos consecutivos). O analista financeiro pode tomar por base o primeiro período da série temporal ou o período imediatamente anterior ao que está sendo analisado. O segundo critério torna a análise mais dinâmica. Quando se fixa como período-base o primeiro da série, corre-se o risco de distorções na interpretação (períodos com contextos muito diferentes). Por meio da análise horizontal, verifica-se o comportamento dos saldos ao longo dos períodos analisados (evolução/involução). Responde a questões como: como o saldo da conta _____ se comportou na transição do ano ___ para o ano ___? A variação horizontal é calculada como segue:3

VH (%) =

Saldo da conta no período 2 x 100 – 100 Saldo da conta no período 13

A interpretação da variação percentual demanda que sejam identificados os indutores da mudança: o que justificou a variação? A análise horizontal é realizada em duas etapas: 1.º Fixa-se um período-base. 2.º Calcula-se a variação de cada conta em relação a esse período-base. 3 Período base.

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Vejamos um exemplo:

Descrição

Ano 1

Ano 2

Análise horizontal (%)

Ativo Disponibilidade Caixa

R$ 5.000,00

R$ 10.000,00

100,0

Bancos

R$ 25.000,00

R$ 35.000,00

40,0

Aplicações financeiras

R$ 8.000,00

R$ 5.690,00

–28,9

Clientes

R$ 40.000,00

R$ 32.000,00

–20,0

Mercadorias

R$ 32.900,00

R$ 29.860,00

–9,2

Total do Ativo Circulante

R$ 110.900,00

R$ 112.5-50,00

1,5

Considerando o ano 1 como período-base, calculemos a variação horizontal da conta caixa: 10.000,00 VH (%) = x 100 – 100 5.000,00 VH = 100% No denominador temos o saldo no período-base e no numerador o saldo do período analisado. A interpretação da análise da variação horizontal também pode seguir diferentes caminhos. Estudemos alguns exemplos isolados: ::: O saldo da conta “estoques” elevou-se 25% do ano 1 para o ano 2 em função da queda observada na demanda, ocasionando uma redução no giro do produto (saída); ::: O saldo da conta “clientes” elevou-se 30% do ano 1 para o ano 2 em função do aumento das vendas a crédito. É fundamental investigar o que provocou a variação (positiva ou negativa). Em alguns casos, essa variação é inexpressiva, não merecendo atenção do analista. A técnica possibilita que sejam identificadas tendências no comportamento das contas patrimoniais. Deve-se buscar, durante a análise, a identificação de comportamentos continuados e de descontinuidades (variações abruptas), os quais devem ser investigados.

Análise horizontal com base negativa Na realização da análise horizontal deve-se atentar para as situações em que o saldo do períodobase é um valor negativo. O cuidado decorre do fato de que a análise horizontal encontrada não reflete o verdadeiro comportamento do saldo ao longo do tempo.

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Vejamos:

Descrição

Ano 1

Lucro/Prejuízo

– R$ 1.000,00

Ano 2 – R$ 2.000,00

Ano 3 – 5.000,00

Cálculo: AH (%) = – 2.000,00 = + 200% – 1.000,00 Esse resultado, aritmeticamente, leva-nos enganosamente à interpretação de uma variação positiva, o que não reflete a realidade. Na verdade, com base em nosso exemplo, o que de fato cresceu foi o prejuízo (impacto negativo). “Essas inversões nos sinais dos números-índices, que refletem um comportamento contrário ao que efetivamente se verificou, podem se solucionadas alterando-se o sinal do valor-base e, consequentemente, de todos os números calculados.” (ASSAF NETO, 2006, p. 119, )

Análise horizontal em contextos inflacionários É recomendável que a análise horizontal compreenda no mínimo três anos. O procedimento de cálculo, tal como foi apresentado, não prevê o efeito da inflação. Na hipótese de inflação elevada, os saldos devem ser atualizados. Etapas da atualização: 1) Cálculo do fator de correção. F=

Índice de correção período analisado Índice de correção período-base

Existem diferentes índices, que podem ser utilizados no processo de atualização, a exemplo do Índice Geral de Preço Disponibilidade Interna (muito empregado). O IGP-DI, índice instituído em 1944, é calculado mensalmente pela Fundação Getúlio Vargas. Tem o papel de aferir, como o próprio nome sugere, o comportamento dos preços. O índice é obtido pelo cálculo da média aritmética, ponderada dos índices: Índice de Preços no Atacado (IPA), Índice de Preços ao Consumidor (IPC), Índice Nacional da Construção Civil (INCC). DI ou Disponibilidade Interna significa que foram consideradas somente as variações de preços que afetam, de forma direta, as atividades econômicas desenvolvidas no território brasileiro, não contemplando as variações de preços de produtos exportados. 2) Multiplicação do fator pelo saldo a ser atualizado (mais antigo). Saldo corrigido = Saldo x F

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Orientações complementares à análise horizontal Qualquer análise horizontal é orientada pela comparação. A apresentação de saldos isolados nada revela se não forem contextualizados (o que implica no estabelecimento de relação causa e efeito). Seguem comparações relevantes para uma análise financeira: ::: Compare a evolução dos Ativos com os Passivos – quando as contas do Ativo Circulante crescem mais que as contas do Passivo Circulante na transição entre períodos consecutivos, em geral, revela-se folga financeira. Essa situação de “folga financeira” será ainda mais favorável se as contas de ativo tiverem alta rotatividade (no caso das rubricas “contas a receber” e “estoques”) e disponibilidade imediata para movimentação (nível das contas “caixa e bancos”). Na hipótese contrária, pode-se inferir aperto financeiro. Deve-se avaliar a dimensão da situação, favorável ou desfavorável. ::: Compare os saldos das contas “caixa” e “contas a receber” com o saldo da conta “vendas” (receita gerada) – essa comparação permite que o analista verifique o volume de vendas à vista e a prazo. Como as vendas são efetuadas? É uma informação valiosa que ajuda a compreensão das razões que levam ao déficit de caixa. ::: Compare os saldos do Ativo Imobilizado com o Passivo Exigível a Longo Prazo e Patrimônio Líquido – como o Ativo Imobilizado vem sendo financiado ao longo do tempo? ::: Compare os saldos do Ativo Imobilizado com as vendas – o investimento na capacidade produtiva é amparado pelo crescimento das vendas? ::: Compare o crescimento do Passivo Circulante, Passivo Exigível a Longo Prazo e Patrimônio Líquido – como a empresa vem financiando seus ativos? Como a estrutura de capital evoluiu ao longo dos anos? Qual a participação relativa do capital de terceiros (Passivos) e capital próprio (Patrimônio Líquido)? ::: Confronte a evolução dos níveis de estocagem e compras efetuadas com as vendas – o nível de estocagem é compatível com a demanda? As compras são, de fato, necessárias? ::: Compare o comportamento dos custos, das vendas e do lucro – de que maneira os custos e despesas evoluíram relativamente às vendas? ::: Compare o comportamento do Lucro Líquido com as vendas do respectivo período – esse confronto é importante para avaliar o impacto dos custos sobre a formação do lucro final. É interessante verificar a evolução de algumas contas isoladamente:

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Descrição

Objetivos de análise :::

Analisar o grau de comprometimento financeiro da entidade com agentes externos.

:::

Avaliar o comportamento dessas rubricas ao longo dos anos.

Estoque

:::

Analisar o nível de estocagem.

Vendas

:::

Verificar o comportamento das vendas.

Custos

:::

Avaliar a evolução dos saldos, identificando-se os de maior impacto.

:::

Verificar o custo do dinheiro utilizado.

:::

Acompanhar o impacto da política da empresa no financiamento de seus ativos.

Empréstimos e financiamentos

Despesas financeiras

(A autora)

Quadro 1 – Variação horizontal: avaliação das contas isoladamente

Um recurso de análise interessante é a comparação do comportamento de diferentes contas no tempo em um mesmo gráfico (análise gráfica). A análise horizontal pode ainda ser utilizada para avaliar o comportamento de elementos como preço de venda e custo unitário. Que se ressalte que para interpretação adequada deve-se explicar o porquê das variações. A análise horizontal ganha mais substância se combinada com análise cross-sectional ou benchmarking.4 “A análise cross-sectional envolve a comparação de índices financeiros de empresas diferentes em um mesmo ponto no tempo.” (GITMAN, 2001, p. 129). A análise horizontal comparativa permite avaliar a dinâmica do negócio.

Análise por meio de índices Análise de liquidez A análise de liquidez tem o propósito de ensejar a avaliação da capacidade de pagamento das empresas em tempos distintos: do curto ao Longo Prazo. 4 Processo contínuo de comparação dos produtos, serviços e práticas emrpesariais entre os mais fortes concorrentes ou empresas reconhecidas como líderes. É um processo de pesquisa que permite realizar comparações de processos e práticas “companhia a companhia” para identificar o melhor do melhor e alcançar um nível de superioridade ou vantagem competitiva (SORIO, 2008).

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Índices

Alcance temporal

Liquidez imediata

Imediato

(A autora)

Quadro 2 – Índices de liquidez

Liquidez corrente Liquidez corrente ajustada Liquidez seca

Curto

Liquidez operacional Liquidez geral

Longo

As medidas de liquidez têm o papel de revelar o grau de proteção dos credores e o grau de comprometimento da empresa.

Liquidez imediata (Li) Outras denominações: liquidez absoluta ou instantânea. Li =

Disponibilidades Passivo Circulante

O indicador afere a capacidade de pagamento da empresa com recursos disponíveis. A medida responde a questões como: ::: As disponibilidades são suficientes para honra das obrigações de curto prazo? ::: Qual o grau de cobertura? O “disponível” é formado pelas contas caixa, bancos e aplicações financeiras de liquidez imediata. Exemplo de interpretação: A interpretação, em geral, é feita como segue: “As disponibilidades correspondem a ___% das dívidas de curto prazo.” Para entendimento adequado do significado do índice, recomenda-se a análise de uma série temporal (cálculo do índice para períodos anteriores). A análise exige a verificação do grau de comprometimento do disponível, considerando as características do negócio quanto a sazonalidade, suas necessidades operacionais e fluxo de caixa. Alguns negócios têm períodos de alta e baixa demanda bem definidos, afetando a geração de caixa operacional. Em períodos de baixa demanda é normal uma diminuição no fluxo de caixa, e nos de alta, melhor desempenho. Lembre-se: a maior fonte geradora de caixa é a atividade-fim da empresa.

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A sazonalidade tem como característica a elevação e a redução significativa da demanda pelo produto ao longo do ano. Os negócios sazonais possuem um nível maior de risco quando a gestão financeira é ineficaz. Deve-se ainda considerar na análise a ocorrência de eventos inesperados, não contemplados nas previsões. Segundo Teles (1996), na prática, muitos autores e profissionais consideram índices situados entre 0,1 e 0,20 ou ainda entre 0,15 e 0,25 como regulares. Entretanto, recomenda-se a comparação com a média do setor ou benchmark. A comparação com valores médios, referências setoriais e benchmark enriquece a interpretação. A análise, considerando saldos mensais, dá ao analista e ao gestor financeiro uma leitura do desempenho conjunto. Lembrando que o benchmarking consiste em um processo de avaliação de práticas organizacionais reconhecidas pela qualidade. Vale ressaltar que os números evidenciados no Balanço Patrimonial no final do período escondem, muitas vezes, os efeitos da sazonalidade e de eventos não-programados sobre o caixa do negócio. “A liquidez imedita pode variar conforme as circunstâncias do mercado financeiro e a situação conjuntural. A situação em que os dados foram levantados estimula ou recomenda investimentos a curto prazo no mercado financeiro? Qual a taxa de juros naquela data? E a inflação?” (VASCONCELOS, 2005, p. 69). Quanto maior o índice tanto melhor será para a empresa, desde que não implique na ociosidade de recursos e falta de investimentos no giro do negócio, afetando com isso sua continuidade. Em períodos inflacionários deve-se evitar a manutenção de grandes saldos em caixa. Os excessos devem ser evitados e seu saldo aproveitado em aplicações interessantes (geradoras de receitas). O gestor financeiro pode monitorar a interpretação da medida com o cálculo do “encaixe mínimo” para cada período analisado. A expressão “encaixe” é muito utilizada nas atividades bancárias. Neste trabalho, o encaixe mínimo refere-se ao volume de caixa a ser gerado para cobertura das despesas mais imediatas (30-45 dias). Encaixe mínimo = obrigações imediatas (tributos, encargos sociais, fornecedores etc.) Com essa perspectiva, têm-se condições de afirmar categoricamente se o comportamento do índice é favorável ou desfavorável. Recomenda-se, nesse sentido, a manutenção do controle das “contas a pagar” a fim de classificar as dívidas da empresa por datas, facilitando o cálculo do encaixe. Seguem algumas recomendações para interpretação do índice: ::: verifique a composição do disponível;

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::: observe se a empresa realiza depósitos em juízo (recursos sob intervenção). É importante identificar o impacto desses depósitos sobre o fluxo de caixa; ::: verifique a composição do Passivo Circulante, ::: sobre a diversidade de prazos do Passivo (30, 60, 90, 180 e até 365 dias), Iudícibus (1998) orienta que a comparação mais correta entre o Ativo Circulante e o Passivo Pirculante seria trazer os saldos a valor presente: quanto pagaríamos se efetuássemos todos os pagamentos na data de hoje? ::: nem sempre saldos significativos no final do período são representativos do comportamento do índice ao longo do ano. Alguns meses do ano têm seu caixa mais sacrificado. Vejamos alguns exemplos: no mês de dezembro o pagamento do 13º. salário afeta expressivamente o caixa das empresas, especialmente o das prestadoras de serviços (cujo fluxo de entrada é relativamente menor); os meses de dezembro e janeiro são de fraco movimento para empresas de consultoria; ::: cerifique a estrutura de controle de caixa da empresa. Pode ocorrer do saldo de caixa não expressar a realidade, contendo , por exemplo, vale-despesas concedidos a funcionários já demitidos ou até mortos (funcionários fantasmas), recibos de adiantamentos etc. Quanto melhor a qualidade dos controles internos, tanto melhor para o processo de análise; ::: consulte o orçamento de caixa (entradas previstas e saídas programadas); ::: informações como porte da empresa, estilo de gestão e natureza do empreendimento ajuda a entender determinados desempenhos de caixa; ::: identifique os eventos que afetam a geração de caixa: nível de inadimplência, política de vendas, proporção venda a vista/venda a prazo, pagamento de indenizações trabalhistas, férias dentre outras verbas, sazonalidade, elevação do preço de matérias-primas etc. Por fim, uma interpretação adequada do índice demanda compreensão das atividades da empresa, ritmo do negócio e sua política financeira. ::: A empresa vende prioritariamente à vista ou a prazo? ::: Como financia o suprimento de estoques? ::: Como é sua relação com fornecedores? A análise de liquidez necessariamente pressupõe o estudo da composição de ativos, mas , nesse caso específico, o nível de minúncias, ou possibilidades de refinamento do indicador, em relação à composição dos ativos, é pequeno porque se trabalha com ativos líquidos (estado máximo de liquidez). O refinamento possível fica por conta do “Passivo”, trazendo os valores a pagar à data presente (valor presente dos vencimentos). (VASCONCELOS, 2005, p. 71)

Exemplo de interpretação: “A empresa analisada apresentou neste mês índice de liquidez imediata 0,20, compatível com a média setorial (0,21). O disponível corresponde a 20% do Passivo Circulante, cobertura suficiente considerando o encaixe mínimo e os índices observados em períodos anteriores, no mês correspondente. Observou-se melhora gradativa ao longo dos anos, o que se deve ao crescimento do negócio e sua consolidação no mercado.”

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Observe que a redação acima apresenta o desempenho e seu direcionador (o que motivou o comportamento). Recapitulando... Manter índices de liquidez imediata elevados em contexto inflacionário não é recomendado. Nem sempre uma diminuição do índice indica problemas financeiros. Pode ser, por exemplo, uma conseqüência do “momento de investimento” da empresa, mudanças na política de vendas ou, simplesmente, uma redução premeditada do limite de segurança. O analista deve investigar as razões para a diminuição do índice.

Liquidez corrente (Lc) Outras denominações: liquidez relativa ou comum. Lc =

Ativo Circulante Passivo Circulante

Trata-se de uma das medidas mais utilizadas na análise financeira, no processo de avaliação da capacidade de pagamento das empresas. Por essa razão, alguns se referem à medida como convencional ou relativa. O índice possui restrições que devem ser consideradas na interpretação, a exemplo da estrutura do Ativo Circulante, prazos de recebimento e pagamento e composição dos Passivos. Essas restrições serão apresentadas em detalhes e ajustes serão recomendados. O Ativo Circulante (Capital de Giro) é composto por caixa, bancos, aplicações financeiras, “contas a receber”, estoques e despesas antecipadas, ou seja, contas com capacidade de conversão em caixa variável. Interpretação: A interpretação tradicional é que: “A cada R$ 1,00 de dívida, a empresa dispões de R$ ___ de Ativos Circulantes para pagamento.” Quanto maior o índice, tanto melhor será para a empresa desde que os Ativos Circulantes possuam boa liquidez (capacidade de conversão em dinheiro). Vasconcelos (2005) adverte que mesmo índices elevados podem sinalizar problemas do giro: ::: Concentração elevada de recebíveis (“contas a receber”) com prazos dilatados. ::: Saldos elevados de estoque em função de problemas de mercado (itens não absorvidos pelo mercado). ::: Parte do estoque, em muitas empresas, é mantido por mera segurança (estoque mínimo de segurança). O saldo mínimo de segurança é aquele que protege a empresa contra eventual falta de mercadorias. O pedido de compra é disparado não quando o estoque é zerado, mas quando atinge esse estoque mínimo de segurança.Trata-se, portanto, de uma imobilização financeira (Capital de Giro empatado). Exemplo: imaginemos que para o produto ‘A’ o estoque mínimo de segurança seja de 30 unidades. Assim, quando o saldo do produto alcança 30 unidades, é feito o suprimento do estoque para aquele item, com o intuito de evitar a falta do produto e suas conseqüências.

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::: Existência de estoques obsoletos, de títulos atrasados e prescritos, de elevado grau de inadimplência e de itens no Ativo Circulante que não representa ingresso futuro de caixa (adiantamentos concedidos a terceiros e despesas antecipadas). ::: Ocorrência de perdas de estoque por conta de quebras e avarias. A análise da conta “estoques” exige que sejam avaliados ainda: tendência de preços, existência de contratos, entre outros aspectos não-financeiros.

Rubrica Disponibilidades

Risco Desfalques de caixa. Incerteza de venda (realização);

Estoques

Possibilidade de perda por fatores diversos (roubo, perda por deterioração, obsolescência tecnológica, retração de mercado).

Contas a receber

(VASCONCELOS, 2005, p. 72)

As contas do Ativo Circulante têm timing distintos de realização

Possibilidade de inadimplência/existência de títulos podres.

O tempo de realização depende das características do fluxo financeiro (estratégia adotada) e das especificidades do público-alvo (especialmente inadimplência). O tempo de realização dos estoques depende das condições do mercado e do próprio tipo de produto (giro). A conversão em dinheiro fica atrelada, então, ao fluxo financeiro. Ao calcularmos o índice, admitimos liquidação forçada dos ativos sem considerarmos prazos e a inadimplência. Criamos, então, uma condição ideal. Acrescente à análise a probabilidade de ocorrência de perdas do valor econômico e apropriações indébitas. A verificação dos controles internos é fundamental para uma análise mais precisa e, portanto, segura. Por essa razão, é desejável que as demonstrações contábeis sejam auditadas. Assim, algumas ponderações são necessárias à interpretação do índice de liquidez corrente: ::: aumentos do índice de liquidez corrente podem não significar melhora na capacidade de pagamento, assim como eventuais reduções não implicam necessariamente em perda da capacidade financeira. Em muitos casos são apenas indícios de situações que demandam economia na distribuição de recursos (destinados ao Ativo Permanente para aumento de capacidade) – melhoras efêmeras. Marion (2001, p. 83) adverte que “[...] uma queda do índice de liquidez corrente (Lc) nem sempre significa perda da capacidade de pagamento; pode significar uma Administração Financeira mais rigorosa (o que é louvável) diante, por exemplo, da inflação, do crescimento da empresa etc.” ::: Os estoques são avaliados pelo custo de aquisição e não pelo valor de mercado, o que mascara a potencialidade da medida. ::: A medida não informa a sincronia entre recebimentos e pagamentos (abordagem estática). A estrutura de prazos dos ativos e Passivos é distinta, problema comum a todo índice de liquidez.

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O analista externo tem uma dificuldade natural em acessar informações relevantes para análise. Essas limitações, todavia, não invalidam a interpretação da medida porque fornecem uma visão aproximada da realidade. Seguem algumas recomendações para interpretação do índice: ::: confronte o índice do período com resultados obtidos em períodos anteriores; ::: antes de emitir juízo de valor, faça uma análise vertical do Ativo Circulante (verificação de sua composição); ::: obtenha informações sobre o giro desses ativos. A análise do índice de liquidez corrente é amarrada como segue:

Ao longo do tempo Monitoramento dos preços praticados no mercado e tendências

(A autora)

Figura 1 – Interpretando a liquidez

Liquidez corrente

Composição dos ativos

Sincronia entre prazos

O valor informativo da medida cresce quando combinado com informações financeiras e não financeiras, além de outras medidas. Índices posicionados acima da unidade são considerados geralmente como favoráveis e abaixo da unidade, desfavoráveis (figura 2). Entretanto, temos que analisar as características da atividade. Um índice de 0,80 pode ser inadequado para uma indústria e coerente para outra empresa; pode não ser, por exemplo, preocupante para uma empresa de transporte coletivo que opera com receita à vista (sem grande impacto sobre o fluxo de caixa). Para Savytzky (1987), desde que as contas a receber e os estoques possuam giro satisfatório, pode-se, grosso modo, analisar o índice conforme orientação do quadro 3:

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Índice de liquidez corrente

Interpretação geral

1,8/2,00 ou superior

Situação financeira de folga absoluta

1,6 – 1,7

Situação financeira muito boa (folga relativa)

1,4 – 1,5

Bom equilíbrio financeiro, mas não é folga

1,2 –1,3

Situação ainda em equilíbrio, mas já sinalizando aperto financeiro

1,00 – 1,10

Aperto financeiro

Abaixo de 1,00

Situação de extremo aperto financeiro

(SAVYTZKY, 1987. Adaptado)

Quadro 3 – Interpretando o índice de liquidez

Liquidez corrente

Em geral “desfavoravel”

1,00

(A autora)

Figura 2 – Escala de liquidez

Em geral “favoravel”

Recapitulando... A depender da atividade, podemos encontrar índices ligeiramente menores que 1 e isso não significar crise financeira. As empresas que operam com receitas à vista são exemplos típicos de negócios que suportam operar com liquidez corrente abaixo da unidade sem gerar com isso problemas de caixa (déficit). Por motivos como esse é que a comparação do comportamento do índice com o de empresas congêneres é fundamental para a análise. Para empresas que somente vendem à vista ou que mantenham um nível mínimo de estoque (como as fundações, hospitais, representações comerciais e prestadores de serviços), Reis (2003 , p. 177) sugere ajustes no índice de liquidez: Lc =

Ativo Circulante + Receitas provável do exercício seguinte Passivo Circulante + despesa provável do exercício seguinte.

Vale lembrá-los que determinadas ações podem “melhorar” o índice de liquidez corrente e tornar sua interpretação enganosa: ::: pagamento de obrigações com recursos de Longo Prazo;

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::: aporte de capital externo a Longo Prazo; ::: aumento de capital em dinheiro (recursos próprios); ::: Liquidez corrente ajustada. O índice de liquidez corrente pode ser ajustado para melhorar a qualidade da informação. A divergência entre os prazos de recebimentos e pagamentos pode afetar a leitura da medida, que pode ser atenuada pelo uso da fórmula: Lc =

Ativo Circulante x Prazo médio de pagamento Passivo Circulante x Prazo médio de recebimento

Outros ajustes possíveis: Lc (2) =

Disponível + (Clientes – Inadimplência) + (Estoque – Perdas) Passivo Circulante

Lc (3) =

Entradas previstas Saídas programadas

Essa última medida permite que se tenha uma posição de liquidez (real) em qualquer data. Note que os ajustes têm o papel de melhorar a qualidade da informação evidenciada pela medida.

Liquidez seca (Ls) Relaciona Ativo e Passivo Circulante, sendo o Ativo Circulante Líquido dos estoques. Responde à seguinte questão: na hipótese de crise financeira, qual a capacidade de pagamento da empresa? O que ocorreria com a empresa se as vendas estagnassem ou se os estoques ficassem obsoletos? Ls =

Ativo Circulante – Estoques Passivo Circulante

Os estoques são excluídos porque não têm uma data precisa de realização. De mais a mais, podem simplesmente não se realizar por perdas (apropriação indébita, avarias, perecividade etc.) A estratégia de mercado afeta a gestão de Capital de Giro. Imagine a hipótese de uma paralisação por força de greve ou outro fator, como ficaria a situação financeira? Pois bem, o índice de liquidez seca cumpre esse papel, porque pressupõe crise financeira pela vulnerabilidade de mercado, paralisações ou qualquer outro evento que afete a realização dos estoques. “Se a empresa parasse de vender seus estoques, conseguiria pagar suas obrigações?” O índice torna-se mais interessante para o usuário externo porque o estoque é considerado um componente manipulável no balanço.

Técnicas de análise financeira

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Alguns autores excluem do Ativo Circulante as despesas antecipadas (por não representarem ingressos de caixa). Ls (1) =

Ativo Circulante – Estoque – Despesas antecipadas Passivo Circulante

Outra possibilidade de refinamento do índice de liquidez seca é apresentada na seqüência: Ls (2) =

Disponível + Direitos realizáveis + [Direitos realizáveis sujeitos a desconto x (1 – It)] Passivo Circulante

Onde: i = Taxa de juros cobrados pelos bancos. t = tempo de permanência dos descontos. O uso freqüente do desconto de duplicatas torna a fórmula importante. Temos ainda a liquidez seca para empresas rurais: Ls (3) =

Ativo Circulante – Cultura em formação – Produtos agrícolas Passivo Circulante

O Ativo Circulante de uma empresa rural compõe-se de estoques de produtos agrícolas e cultura em formação. A conta “Cultura em formação” recebe os investimentos realizados na fase de desenvolvimento da cultura. A conta “produtos agrícolas” corresponde ao saldo de produtos em estoque, prontos para comercialização. Ao se calcular o índice de liquidez seca, recomenda-se excluir do Ativo Circulante ambas as contas por medida de prudência. Para uma cultura em formação, o risco de não-recebimento é ainda maior por força de fatores externos. O índice de liquidez seca avalia de forma conservadora a capacidade de pagamento da empresa. Ao eliminar os estoques, elimina-se a incerteza de realização e o impacto das distorções geradas em função dos critérios de avaliação dos estoques (IUDÍCIBUS, 1998). Índices em torno de 0,8 podem ser aceitáveis desde que a liquidez corrente seja satisfatória e os estoques e as contas a receber tenham bom giro. O ramo no qual a empresa atua também influencia a interpretação da medida. Por exemplo, para o ramo de supermercados, é relativamente normal índices mais baixos (comparativamente a outros ramos). Nesses casos, é importante que a geração de caixa seja satisfatória para evitar problemas de liquidez. Índice de liquidez baixo não significa necessariamente aperto financeiro. A análise depende do percentual dos estoques em relação ao Capital de Giro (Ativo Circulante).

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Trata-se de uma medida conservadora, mas que reporta a situação financeira da empresa em situações especiais. O indicador de liquidez seca é conhecido como um teste ácido em função de suas premissas quanto ao destino dos estoques. Em geral, os usuários não vinculados à empresa gostam desse indicador porque ao se eliminar os estoques, elimina-se também a possibilidade de manipulação (com o intuito de melhorar o índice de liquidez corrente sem a correspondente melhora da condição da empresa. (VASCONCELOS, 2005, p. 81)

Marion (2001, p. 87) acrescenta: “O banqueiro gosta muito desse índice, porque se eliminam os estoques. O estoque é o item mais manipulável no balanço. O estoque pode tornar-se obsoleto (antiquado) a qualquer momento. Ele ainda é, às vezes, um item perecível.” Compare o índice com médias setoriais e analise a medida considerando a interpretação de outros índices de liquidez. A liquidez seca concentra atenção na eficiência financeira da empresa. Exemplo de interpretação: “A empresa analisada apresentou liquidez seca 0,6, índice compatível com a média do setor e coerente com o tipo de atividade e as características do negócio. Significa que, a cada R$1,00 de Passivo Circulante, a empresa possui R$0,6 de Ativos (disponibilidades e recebíveis)”

Liquidez total ou geral (Lg) Afere a capacidade de pagamento a Longo Prazo.

Lg =

Ativo Circulante + Ativo Realizável a Longo Prazo Passivo Circulante + Passivo Exigível a Longo Prazo

O índice de liquidez é, geralmente, menor que o índice de liquidez corrente por causa das exigibilidades de Longo Prazo, muitas vezes maiores que os valores realizáveis a Longo Prazo. Mesmo que o índice de liquidez geral seja ligeiramente menor que 1, se os índices de liquidez corrente e seca forem adequados e os recursos dos aportes de Longo Prazo forem aplicados em projetos rentáveis, o quadro não é preocupante. Note que o gestor financeiro deve verificar os projetos de investimentos e sua viabilidade, pois, se a empresa aportar capital externo para aplicação em projetos de baixa rentabilidade (ou simplesmente não-rentáveis), pode haver problemas financeiros de alta gravidade. Índices abaixo de 1 denunciam problemas financeiros se os índices de liquidez corrente e seca não são satisfatórios. Afetam a interpretação: ::: Falta de sintonia entre os prazos de recebimento e pagamento e a incerteza de realização dos itens de Longo Prazo. ::: A composição do Ativo Realizável a Longo Prazo (que muitas vezes possui restrições). A medida considera contas do Longo Prazo com incerteza do tempo de realização, a exemplo de

Técnicas de análise financeira

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empréstimos concedidos a sócios, despesas antecipadas, depósitos judiciais etc. Os depósitos judiciais são recursos temporariamente indisponíveis até que exista uma sentença, que pode ser ou não favorável. Os empréstimos concedidos a sócios, em geral, têm prazo de realização flexibilizados. Valores a receber de empresas do mesmo grupo econômico, muitas vezes, representam maior parte do Ativo Realizável a Longo Prazo, com recebimento atrelado a estratégias maiores do grupo. ::: Os adiantamentos de sócios/acionistas para futuro aumento de capital (Passivo Exigível a Longo Prazo) são obrigações não-exigíveis porque inevitavelmente serão transferidas para o Patrimônio Líquido. O risco das “Contas a receber” de Longo Prazo depende do histórico de recebimentos. Questione: A empresa depende de um único cliente? Qual o grau de dependência? Na hipótese de perda desse cliente, quais os possíveis reflexos? O Lucro Líquido ajustado é o lucro sem as despesas que não geram desembolsos. Lg ajustada =

AC + ARLP + (LLA x Prazo de pagamento do exigível a Longo Prazo) PC + Passivo Exigível a Longo Prazo

Onde: AC = Ativo Circulante ARLP = Ativo Realizável a Longo Prazo LLA = Lucro Líquido ajustado O diferencial da fórmula é a consideração do potencial da empresa em gerar lucro para pagamento das obrigações de Longo Prazo. Recapitulando... Podem ser realizados aportes de recursos de Longo Prazo para aplicações na expansão da capacidade produtiva, sem que com isso signifique aperto financeiro, se os projetos alvos do investimento são interessantes. O índice de liquide geral herda as limitações do índice de liquidez corrente, o que torna igualmente necessário analisar a estrutura dos ativos da empresa. A análise de liquidez é complementada pela análise de rentabilidade porque a forma pela qual os índices são calculados não consideram o potencial de lucro. Exemplo de interpretação: “A cada R$ 1,00 de Passivo (de curto e Longo Prazo), a empresa apresenta R$ 0,85 de ativos. Como os índices de liquidez corrente e seca são favoráveis, considerando inclusive a estrutura dos Ativos e que os recursos do Passivo Exigível a Longo Prazo serão aplicados em um projeto de elevada rentabilidade, podemos inferir que o quadro não é preocupante (apesar do índice posicionar-se abaixo da unidade).”

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Liquidez operacional (Lo) A liquidez operacional contempla a análise dos prazos médios de estocagem, recebimento e pagamento (figura 3).

Lo =

(Percentual das vendas a vista x Prazo médio de estocagem) + [Percentual das vendas a prazo x (Prazo médio de estocagem + Prazo médio de recebimento)] Prazo médio de pagamento

São considerados na análise da liquidez operacional os seguintes fatores: política de financiamento das vendas, política de compras e giro dos estoques. A medida reconhece o ciclo operacional. Quanto menor a liquidez, tanto melhor para a empresa. Walter (1986) adverte que o índice não pode ser empregado com a finalidade de aferir a capacidade financeira de curto prazo. A medida reflete apenas os efeitos da política financeira em função das vendas à vista e a prazo. Índices posicionados acima de 1 denotam risco financeiro pois isso significa prazo de recebimento superior ao prazo médio de pagamento; situação que pode empurrar a empresa para o endividamento. Índices posicionados abaixo da unidade demonstram que a estrutura de cobrança e política financeira da empresa é adequada.

(A autora)

Figura 3 – A dinâmica patrimonial

Caixa

Recebimento

Venda

Estocagem e produção

Ciclo operacional

Compra

Na prática, para melhora da capacidade de pagamento de uma empresa, o gestor financeiro poderá recomendar: ::: intensificação dos processos de cobrança, gerando ingressos de caixa; ::: pagamento antecipado de obrigações, obtendo-se com isso desconto; ::: fomento às vendas;

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::: realização de desconto de duplicatas para suprimentos eventuais de caixa; ::: melhora nos controles internos de caixa. Os gestores financeiros monitoram o nível de caixa, não somente consultando saldos bancários, mas, igualmente, acompanhando o orçamento de caixa, confrontando real versus orçado.

Outras medidas e conceitos ::: Grau de liberdade do Capital de Giro O grau de liberdade de Capital de Giro é medido pelo inverso do índice de liquidez corrente: Liquidez corrente =

Ativo Circulante Passivo Circulante

1 Ativo Circulante = Liquidez corrente Passivo Circulante Assim, imagine que tenha obtido liquidez corrente igual a 1,35. A redação mais empregada para interpretar a medida é: “A cada R$ 1,00 de Passivo a empresa dispõe de R$1,35 de Ativo Circulante admitindo-se liquidação imediata e simultânea dos mesmos.” Discussões sobre a validade dessa interpretação à parte, outra possibilidade de redação nasce quando o analista trabalha com o inverso do índice de liquidez corrente (1 / 1,35): “74,07% do Ativo Circulante está comprometido com as dívidas de curto prazo, ou seja, 25,93% do Ativo Circulante não dependem desses recursos.” O cálculo permite a medição do grau de dependência da empresa dos recursos de curto prazo. Quanto maior essa parcela livre do Ativo Circulante, maior a folga financeira da empresa e em conseqüência, a capacidade de captação de recursos. Trata-se de uma informação importante para decisões sobre renovação de empréstimos. Imagine uma liquidez igual a 0,75. A liquidez invertida é 1,33. o ativo circulante está totalmente dependente do passivo (capital de terceiros), revelando inexistência de folga financeira. O gestor terá dificuldades em fazer novos aportes de capital de terceiros. A análise de liquidez revela aspectos gerenciais importantes como coerência das aplicações (dosagem), risco, ineficiência na alocação de recursos, insolvência etc. Admitindo-se duas empresas com mesmo fluxo de caixa, revela-se como a de melhor estrutura aquela com maior grau de liberdade do Capital de Giro em relação ao suprimento dos recursos de curto prazo. A dependência dos recursos de curto prazo tolhe a liberdade de ação dos gerentes porque dificulta a negociação de prazos, novas captações e investimentos, deixando a empresa vulnerável às adversidades de mercado. É importante destacar que o fluxo de caixa varia conforme as vendas, mas se as vendas não se alterarem (ou mesmo diminuirem) e a liquidez não for favorável, o gestor terá dificuldades em tomar decisões de ajuste.

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::: Solvência geral Uma dos conceitos empregadas na análise financeira é o de solvência geral. O seu objetivo é a avaliação da capacidade de pagamento do negócio, tal como os demais índices de liquidez. A diferença de abordagem reside na fórmula e seu alcance: Solvência geral =

Ativo Total Passivo Exigível

O índice considera no cálculo todos os Ativos da empresas (independente do prazo de realização, incluindo o Ativo Permanente) A interpretação responde à seguinte questão: qual a capacidade de pagamento da organização considerando recursos de curto e Longo Prazo? O cálculo admite da mesma forma que o índice de liquidez uma hipótese de liquidação forçada dos ativos, o que sugere ao analista o trabalho com valores atuais. O profissional deve ter o cuidado de refletir sobre as variáveis que interferem na realização e natureza dos ativos. Como na análise dos demais índices, alguns questionamentos devem ser feitos: ::: Existe volume significativo de créditos acima do programado por conta de ineficiência dos procedimentos de cobrança? ::: Quais os critérios inadequados para concessão de crédito? ::: Quais as orientações da política financeira? ::: Qual a qualidade da carteira de clientes? ::: A estocagem alinha-se com a demanda? ::: Qual o custo financeiro de manutenção dos estoques? ::: Os níveis elevados de imobilização são compatíveis com as características do negócio? ::: Quem financiou ou financia as imobilizações? Quais variáveis influenciaram o comportamento da medida? Em que dimensão? O que justifica o comportamento atual? Qual o padrão setorial? E o histórico? Quais as expectativas? Como melhorar a qualidade das aplicações (ativos)?

Análise de estrutura de capital As empresas são livres para terem qualquer estrutura de capital. Os rumos da administração é que dão forma a essa estrutura, motivada muitas vezes pelas perspectivas do próprio negócio. A análise de endividamento tem o papel de avaliar o impacto da estrutura de capital sobre a administração do negócio. Trata-se de procedimento necessário à gestão financeira de qualquer negócio, independente da natureza ou porte.

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Nível de endividamento As organizações se utilizam do capital de terceiros para financiar suas necessidades (de imobilização e Capital de Giro). A análise de endividamento se fundamenta na relação entre capital próprio e de terceiros e dos elementos do capital de terceiros entre si. Vejamos alguns índices de endividamento: ::: Garantia do capital de terceiros (E1) E1 =

Patrimônio Líquido Passivo Circulante + Passivo Exigível a Longo Prazo

Quanto maior a participação do capital de terceiros, mais vulnerável estará a empresa a eventuais anormalidades nos negócios, tornando-a dependente dessas captações. Acrescente ainda o ônus dos encargos financeiros que comprometem parte dos lucros, ocasionando o repasse deste para o preço de venda. A medida mostra a composição do capital (de terceiros e próprio). Quanto maior a participação do capital de terceiros (volume de dívidas), maior o risco da empresa e consequentemente a pressão para se gerar caixa. Existe um grupo denominado de Resultados de Exercícios Futuros, que a principio deveria ser incluído no denominador, mas como raramente aparece não o foi. O grupo resultados futuros pode ser considerado capital de terceiros para fins de análise. Quanto menor for o índice, maior tende a ser o risco, mantidos constantes os demais fatores. Informações complementares à medida: prazo da dívida, indicação das dívidas de maior impacto ou representatividade (análise vertical) e evolução das obrigações (análise horizontal). Exemplo de interpretação: E1 = 0,70 “A cada R$1,00 de Passivo, a empresa tem R$ 0,70 de capital próprio.” E1 = 0, 20 “A cada R$1,00 de Passivo, a empresa tem apenas R$ 0,20 de capital próprio. Este quadro revela relativa dependência do capital de terceiros.” Quando a participação do capital de terceiros é expressiva, pouca é a garantia ou cobertura proporcionada pelo capital próprio aos compromissos assumidos pela empresa. Outras medidas complementam a avaliação: E2 =

Patrimônio Líquido Ativo Total

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E3 =

E4 =

Passivo total Ativo Total

Despesas financeiras do Imposto de Renda Empréstimos + financiamentos

Onde E4 é conhecido como custo do capital oneroso, medida importante para avaliação do ônus da utilização de recursos oriundos de empréstimos e financiamentos. Exemplo de interpretação: E2 = 0,30 “A cada R$1,00 de ativo, o capital próprio contribui com R$ 0,30” E3 = 0,70 “A cada R$ 1,00 de ativo, o capital de terceiros contribui com R$ 0,70” Ambas as medidas permitem avaliar a estrutura de capital da empresa. Qual a proporção de financiamento dos ativos com capital de terceiros? Qual o grau de comprometimento dos ativos de uma empresa? O índice E3 é denominado de “Grau de endividamento”, “Índice de dependência financeira” e de “Grau de cobertura dos ativos’” A medida apresenta a proporção dos recursos de terceiros em relação ao total de aplicações (investimentos) da empresa. Quanto maior o índice, maior será o risco para o credor, especialmente quando os ativos não forem tão líquidos; apesar de o índice ser um importante sinalizador de risco, sua análise exige prudência. Ao se questionar qual a composição dos ativos, constata-se que uma empresa pode apresentar ativos superiores ao capital de terceiros e não possuir folga no fluxo de caixa ou conviver com constantes atrasos (problemas com a qualidade da carteira). A medida, entretanto, não é indicadora das flutuações de caixa que possam vir a refletir sobre os pagamentos da empresa; sabe-se que o estudo da política financeira é ponto essencial para análise desse indicador. Observa-se que na composição da fórmula há ativos com prazos de vencimento distintos (realização) e no Passivo, há exigibilidades com prazos diferenciados e não-sincronizados com os vencimentos dos ativos. Desse modo, os valores reproduzidos no balanço não indicam valores econômicos atuais nem mesmo valores de liquidação, o que exige do profissional a consideração de outros aspectos não evidenciados. Recomenda-se que o capital de terceiros não ultrapasse 50% do total de ativos, embora outros fatores devam ser considerados na análise. A questão que o gestor financeiro deve ter em mente é: qual o grau de comprometimento dos resultados?

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Determinantes do endividamento

(A autora)

Figura 4 – Analisando o endividamento

Levantamento das aplicações

Análise preliminar da viabilidade das aplicações Verificação do nível de geração de caixa (grau de cobertura dos ativos)

Estudo da composição patrimonial (participação e prazos) Status da estrutura patrimonial A figura 4 relaciona os pontos críticos da análise de endividamento de uma empresa. ::: Perfil da dívida É importante reconhecer as características da dívida (parcela onerosa e não-onerosa). As dívidas onerosas são caracterizadas pelo ônus do encargo. Exemplo: empréstimos e financiamentos. As dívidas não-onerosas representam o Passivo da estrutura: folha de pagamento, encargos tributários e trabalhistas, fornecedores. Quanto maior o volume de dívidas onerosas, maior o risco. Podemos obter o perfil da dívida como segue: Perfil da dívida =

Passivo oneroso x 100 Passivo total ou

Perfil da dívida =

Passivo não-oneroso Passivo total

Recomenda-se que a evolução desse perfil seja acompanhada para períodos consecutivos a fim de sinalizar uma possível tendência de comportamento.

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::: Análise da dependência bancária

Seguem índices que evidenciam o grau de dependência bancária: I1 =

Empréstimos e financiamentos Ativo Total

(instituições de crédito)

A medida sinaliza o percentual das aplicações totais que são financiadas pelas instituições de crédito. I2 =

Financiamentos de instituições de crédito x 100 Capital de terceiros

A medida representa o percentual dos financiamentos relativamente ao capital de terceiros. I3 =

Financiamentos de instituições de crédito a curto prazo Ativo Circulante

Afere o grau de comprometimento do Ativo Circulante com financiamentos (percentual de financiamentos em relação ao Capital de Giro). Outra medida interessante é aquela que relaciona duplicatas descontadas e duplicatas a receber. I4 =

Duplicatas descontadas x 100 Duplicatas a receber

Quanto maior o índice, maior a dependência financeira e menor flexibilidade gerencial. I5 =

Passivo Exigível a Longo Prazo x 100 Passivo total + Patrimônio Líquido

Esse índice de endividamento é bastante empregado. As dívidas de Longo Prazo geralmente estão associadas a projetos de expansão de atividades (ou ampliações), razão pela qual a medida recebe atenção especial dos analistas e geralmente é alvo de estudo. Entretanto, faz-se necessária a realização de comparações entre custo de captação e rentabilidade. Recomendações à análise de endividamento Vejamos os cuidados que devemos ter no processo de análise do endividamento: ::: verifique a origem e justificativa do endividamento; ::: analise o comportamento da dívida, especialmente aquelas contratadas junto às instituições financeiras; ::: analise o histórico da medida com dados da própria empresa; ::: identifique o percentual de dívidas onerosas (empréstimos e financiamentos) e não-onerosas (Passivo de estrutura);

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::: avalie o ônus do Passivo Não-oneroso, afinal é ele que mantém parte da estrutura da empresa funcionando; ::: compare o custo médio das dívidas com a rentabilidade das aplicações que consumiram os recursos aportados; ::: tome por referência padrões setoriais ou índices das concorrentes (fontes de pesquisa: revista Exame, Gazeta Mercantil, Valor Econômico, IBGE, Serasa etc.); ::: por fim, analise as notas explicativas a fim de identificar eventuais contingências. É comum as empresas não apresentarem condições para financiarem integralmente suas dívidas, utilizando-se então do capital de terceiros. O uso do capital de terceiros não pode ser visto como algo preocupante (em todas as situações). Utilizar exclusivamente o capital próprio não é interessante porque o custo do capital próprio é significativo (risco inerente ao negócio e tributos sobre lucro). É sadia a utilização de capital de terceiros desde que este promova um retorno adequado; o que não pode ocorrer é a perda de soberania do capital próprio. Em uma análise de endividamento, o custo de capital é outro fator a ser analisado. Quanto maior o prazo do empréstimo, maior será o custo financeiro.

(ASSAF NETO,2006. Adaptado)

Figura 5 – Custo do dinheiro Taxa de juros

Curto

Médio

Longo

Tempo

A estrutura do Passivo deve ser analisada com cuidado, especialmente os reflexos sobre a administração do Capital de Giro. A análise do nível ótimo de Capital de Giro passa pela avaliação do custo do dinheiro. A taxa de juros de curto e Longo Prazos são diferentes. A taxa de juros de Longo Prazo é geralmente maior que a de curto prazo. A explicação é o risco inerente à maturidade do aporte: quanto maior o prazo da dívida, maior o risco para o credor. Esse risco está associado à previsibilidade do retorno. Com isso, o devedor acaba remunerando o credor pela incerteza vinculada ao prazo do empréstimo. Na hipótese de desajuste econômico, as taxas de juros podem elevar-se significativamente. Nessa situação atípica, o custo do dinheiro de curto prazo pode superar o de Longo Prazo ainda que por um curto espaço de tempo. O gestor financeiro deve analisar as linhas de crédito disponíveis antes de fazer suas escolhas.

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Imobilização Toda empresa precisa de uma infraestrutura mínima. O imobilizado compreende o conjunto de bens e direitos que apóiam as atividades da empresa. A necessidade de imobilização depende das características do negócio. Cabe ao gestor financeiro estudar a melhor forma de financiar essas necessidades. Ao investir na aquisição à vista de bens do imobilizado, ou ao adquirir para pagamento a curto prazo, o gestor deixa de contar com esses recursos no giro do negócio. Portanto, quanto maiores os recursos de curto prazo destinados ao financiamento do imobilizado, maior o risco da empresa. O ideal é que o imobilizado seja financiado com recursos próprios e/ou de Longo Prazo. Quando o valor do imobilizado de uma entidade é superior ao capital próprio (Patrimônio Líquido), as imobilizações estão consumindo recursos do longo e/ou curto prazo. Quando o capital de terceiros de curto prazo (Passivo Circulante), financiam as imobilizações, o giro fica descoberto, opção de financiamento que pode levar o negócio ao desequilíbrio financeiro. Vejamos alguns índices relevantes nessa análise: ::: Grau de imobilização (Gi) Gi =

Ativo Permanente x 100 Patrimônio Líquido

Quando o Patrimônio Líquido é menor que o Ativo Permanente, as imobilizações absorvem integralmente o capital próprio, consumindo ainda o capital de terceiros. Exemplo de interpretação: Grau de imobilização = 90% “As imobilizações absorvem 90% dos recursos próprios, restando uma pequena parcela deste capital para aplicação no giro do negócio.” Grau de imobilização = 120% “As imobilizações absorvem integralmente os recursos próprios e parte do capital de terceiros. Quando os recursos próprios são totalmente destinados a imobilizações, o giro fica descoberto e dependente do capital de terceiros.” Qual o nível ideal de imobilização? Depende do ramo e do porte do negócio. Uma indústria, por exemplo, demanda um volume maior e as prestadoras de serviços, um volume menor. Cabe ao gestor avaliar o impacto do grau de imobilização sobre o giro. Quanto maior o volume de recursos investidos no Ativo Permanente, maior o nível de custo fixo em decorrência do saldo de depreciação, despesa de manutenção e seguros. Quando as imobilizações comprometem recursos do curto prazo, diminuem as alternativas de ação do gestor financeiro em relação a eventuais problemas no giro. Inexiste um grau de imobilização padrão. Sabe-se, entretanto, que quanto menor a relação, tanto melhor será para a empresa, que passa a ter recursos próprios no giro.

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A forma como a empresa financia suas imobilizações afeta a estrutura de capital. Admitindo-se o financiamento do imobilizado com recursos de Longo Prazo, podemos calcular o seguinte índice: Gi2 =

Ativo Permanente x 100 Patrimônio Líquido + Passivo Exigível a Longo Prazo

Exemplo de interpretação: Grau de imobilização (Gi2) = 70% “As imobilizações absorvem 70% dos recursos próprios e de Longo Prazo, restando 30% para aplicação no giro.” ::: Rotação do imobilizado (Ri) A rotação do imobilizado relaciona receita líquida e o saldo médio do imobilizado. Ri =

Receita líquida Imobilizado

É desejável uma rotação elevada. A análise da rotação do Ativo Imobilizado afere sua produtividade e quanto mais produtivo o acervo imobilizado, tanto melhor para o negócio. Como medida complementar de análise; temos o índice “grau de ocupação”, que corresponde a relação entre quantidade produzida e capacidade instalada. Quando maior o grau de ocupação, menor a capacidade ociosa. Naturalmente, quando o grau de ocupação é igual a 1, significa que a capacidade está saturada. A análise “favorável” ou “desfavorável” depende das perspectivas de mercado (de sua capacidade de absorção). Pode-se observar um quadro de superinvestimento em imobilizado (acima das necessidades), ocasionando improdutividade. Da mesma forma, pode-se verificar uma situação de subinvestimento, revelando estagnação da estrutura produtiva. A produtividade afeta a rentabilidade do Ativo Imobilizado, razão pela qual o gestor financeiro deve estar atento. A interpretação da medida exige informações não-financeiras.

Índices de giro Outras denominações: quocientes de atividade, índices de rotação. O Capital de Giro tem origem na defasagem entre os processos de produção/venda e recebimento. Seu papel é viabilizar as atividades até que gerem ingressos de caixa. Os índices de giro conferem à análise uma perspectiva mais dinâmica, complementando as análises de liquidez e endividamento.

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Planejamento Financeiro

O conhecimento dos quocientes de atividades, também chamados por “rotação”, “produção”, “dinâmicos”, “de circulação” e outros, tem uma aplicação prática bastante considerável nas empresas, pois eles consistem no estudo analítico do volume de transações de diversos elementos do patrimônio, mediante a quantificação do número de vezes que ocorre cada ciclo de atividades numa empresa e o tempo gasto nesse percurso. (TELES, 1996, p. 97)

Vejamos alguns índices e sua importância no contexto da análise.

Índice de rotação ou giro dos estoques Ige =

CMV ou CPV = ___ vezes. Estoque médio

Onde: Ige = Número de rotações CMV = Custo das mercadorias vendidas CPV = Custo dos produtos vendidos O índice mede a velocidade com que os estoques giram. Quanto maior o giro, tanto melhor para o negócio porque maior tende a ser a lucratividade e menor o volume de perdas por obsolescência, perecividade, quebras, avarias e apropriações indébitas; e ainda, maior a geração de receita. É importante deixar claro, todavia, que acréscimos no giro não implicam necessariamente aumentos nos lucros uma vez que a lucratividade depende de outros componentes de resultado. Para Samanez (2007, p. 85), Esse indicador afere, na realidade, a eficiência com que os estoques são administrados e a influência que exercem sobre o retorno global da empresa ou do projeto. Em outras palavras, um maior prazo médio de rotação de estoques acarreta a necessidade de maiores investimentos no Ativo, constituindo, em conseqüência, um fator redutor de seu retorno.

Para calcularmos o prazo médio de realização dos estoques, basta dividir 360 pelo número de rotações: PMRe = 360 Ige Onde: PMRe = Prazo médio de rotação dos estoques Exemplo de interpretação: “A empresa analisada apresentou giro a cada ‘y’ dias.” Tanto o prazo de estocagem como o de recebimento (cobrança) geram a necessidade de recursos externos (de terceiros ou dos próprios sócios) para suprimento do ciclo operacional. Vale ressaltar que os recursos de terceiros acarretam despesas financeiras e os recursos próprios, custo de oportunidade. O custo de oportunidade é o retorno que a entidade obteria se os recursos fossem investidos em outra operação de risco equivalente.

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Índice de rotação ou giro das contas a receber O índice responde à indagação: qual o ritmo dos recebimentos? A gestão das “contas a receber” deve merecer grande atenção do analista porque as vendas a prazo são importantes fontes de suprimento de caixa. Ige =

Recebimento das vendas a prazo Média das contas a receber

Os prazos médios incorporam a variável tempo às análises financeiras, tornando-as mais dinâmicas. O prazo médio do recebimento é calculado como segue: PMRcr = 360 Ige Onde: PMRcr = Prazo médio de rotação das contas a receber. A gestão das contas a receber influencia a lucratividade das empresas. Giros lentos oneram os custos da empresa (custo de ociosidade dos recebíveis). O prazo médio de recebimento deve ser breve, na medida do possível, a fim de estimular o suprimento de caixa em um intervalo de tempo menor. Manter grandes saldos em “contas a receber” é prejudicial em tempos de elevada inflação por conta das perdas que a inflação impõe a esses ativos monetários (SAMANEZ, 2007). A análise do giro das contas a receber deve ser feita considerando-se o contexto da economia, os costumes e práticas próprias do negócio, política de crédito, eficácia do processo de cobrança, entre outros fatores (elementos de fundamentação). Vender a prazo implica assumir riscos pela concessão de crédito. Como conseqüência desses riscos, podemos identificar as perdas financeiras pela falta de pagamento do devedor e as despesas de cobrança. Embora a venda a prazo favoreça o giro dos estoques, é comum se verificar “perdas de caixa” decorrentes da falta de controle. Conceder crédito aos clientes representa assumir custos e riscos que não existem nas vendas à vista, tais como: • despesas com a cobrança das duplicatas; • risco de perdas com os créditos incobráveis; • custo dos recursos aplicados nas contas a receber; • perda do poder aquisitivo do valor dos créditos em decorrência do processo inflacionário. (BRAGA, 1989, p. 114)

O crédito tornou-se fundamental nas práticas empresariais, demandando do gestor financeiro um controle efetivo e eficaz deste, a fim de evitar perdas decorrentes da uma administração ineficaz das contas a receber.

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Planejamento Financeiro

Índice de rotação ou giro das disponibilidades O índice é calculado por meio da relação entre o total de recebimento de clientes e o saldo médio do disponível (TELES, 1996). O total de recebimentos compreende a soma do saldo inicial das “contas a receber” e vendas líquidas menos o saldo final das ”contas a receber”. Igd =

Total de recebimentos = ___ vezes. Média de disponível PMRd = 360 Igd

Onde: PMRd = Prazo médio de rotação das disponibilidades A rotação das disponibilidades é importante para a análise porque denuncia o ritmo de ingresso de caixa. Exemplo de interpretação: “As disponibilidades giraram ‘n’ vezes, permanecendo ‘y’ dias com o dinheiro parado.” Em contextos inflacionários, por força da desvalorização do poder aquisitivo da moeda, não é interessante concentrar recursos em caixa. Nessa hipótese, quanto maior, tanto melhor para o negócio.

Índice de rotação ou giro do capital circulante Trata-se de um índice muito importante para fundamentação da análise de liquidez. PMRcc =

[(Disponível x PMRd) + (Contas a receber x PMRcr) + (Estoque x PMRe)] Capital circulante

O capital circulante representa a soma dos saldos do disponível, das contas a receber e dos estoques. O índice é calculado após o cálculo da rotação do disponível, das contas a receber e dos estoques. Teles (1996) comenta que a medida é muito empregada para ajustamento dos índices de liquidez. Ao comparar-se o índice com o prazo médio das contas a pagar, tem-se uma leitura mais adequada da capacidade geral de pagamento. Exemplo de interpretação: “O capital circulante demora ‘n’ dias para movimentar-se, o que compreende a aquisição, venda e reaplicação de ativos.”

Índice de rotação ou giro das contas a pagar É calculado por meio da relação entre o total de pagamentos do período e o saldo médio das contas a pagar.

Técnicas de análise financeira

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O indicador afere o tempo decorrido entre a aquisição de insumos produtivos e o prazo previsto para pagamento. O total dos pagamentos do período corresponde ao somatório do saldo inicial das contas a pagar menos o saldo final das contas a pagar mais total de dívidas geradas ou assumidas no período. Igcp =

Total de pagamentos Saldo médio das contas a pagar PMRcp = 360 Igcp

PMRcp = Prazo médio de rotação das contas a pagar Exemplo de interpretação: “O Passivo da empresa gira ‘n’ vezes por ano, sendo um giro feito a cada ‘y’ dias.” O cálculo permite avaliar a qualidade da política financeira. Samanez (2007, p. 85) orienta que: “Desde que os encargos atribuídos às compras a prazo não excedam a taxa inflacionária verificada (ou as taxas de juros de mercado, se estas estiverem eventualmente aquém da inflação), torna-se atraente à empresa apresentar um prazo de pagamento mais elevado.”

Cabe ao gestor financeiro analisar os prazos de pagamento pactuados com seus fornecedores.

Índice de rotação ou giro do capital A rotação do capital é relevante porque complementa a análise de rentabilidade. É calculado como segue: Igcn =

Vendas líquidas Capital nominal

PMRcn =

360 Igcn

PMRcn = Prazo médio de rotação do capital nominal. Vale ressaltar que o capital representa os recursos investidos pelos sócios (integralizados), conceito de capital nominal. “A relação entre vendas e esta grandeza monetária informa a sua rotação, ou seja, o número de vezes que a movimentação global da empresa, representada pelas vendas, atingiu o valor deste elemento patrimonial “(TELES, 1996, p. 99).

Índice de rotação ou giro do Patrimônio Líquido O Patrimônio Líquido corresponde aos recursos próprios da entidade.

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Planejamento Financeiro

O índice é calculado como segue. IgPL =

Vendas líquidas PL

PMRPL =

360 IgPL

PL = Patrimônio Líquido PMRPL = Prazo médio de rotação do Patrimônio Líquido. Exemplo de interpretação: “O Patrimônio Líquido completou ‘n’ rotações no exercício social, em ‘y’ dias.”

Índice de posicionamento relativo Relaciona os prazos médios de recebimento e pagamento. Quanto menor, melhor para a empresa. Ipr =

PMRcr PMcp

Os gestores financeiros devem esforçar-se para que o índice seja menor que 1, ou pelo menos próximo. Índices acima da unidade não são desejados porque tendem a provocar déficit de caixa. O índice complementa a análise de liquidez e fundamenta mudanças na política financeira das empresas (redução dos prazos médios de recebimento e aumento dos prazos médios de pagamento). Se o analista for mais rigoroso considerará no cômputo do índice o prazo médio de estocagem. Ipr ajustado =

PMRcr + PMRe PMcp

Exemplo de interpretação: “O somatório dos prazos médios de recebimento e estocagem é ____ ( maior/menor) que o prazo médio das contas a pagar.”

Índice de rotação ou giro dos ativos A medida responde a seguinte questão: quantas vezes o Ativo girou?

Técnicas de análise financeira

Iga =

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Vendas líquidas Ativo médio

O analista pode calcular o giro de elementos específicos do Ativo: Vendas líquidas ::: Igac = Ativo Circulante ::: Igap =

Vendas líquidas Ativo Permanente

(A autora)

Figura 6 – Ciclo de caixa Suprimento dos estoques

Venda

A prazo

À vista

Recebimento

Caixa

Despesas diversas

Pagamento a forncecedores

Investimentos necessários

Manutenção da atividade

Desajustes nos prazos de realização dos recebíveis e exigibilidades tende a forçar o empresário a recorrer a novas dívidas (formas de financiamento).

Conceitos relevantes para análise do giro ::: Ciclo operacional de caixa Corresponde à soma do prazo médio de estocagem (PMRe) e do prazo médio de recebimento (PMRcr).

Venda PMEe Compra

PMRcr Recebimento

(A autora)

Figura 7 – Ciclo operacional de caixa

200

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Planejamento Financeiro

::: Período de defasagem de caixa ou ciclo financeiro Corresponde à diferença entre o ciclo operacional de caixa e o prazo médio de pagamento (PMcp). Conhecer o período de defasagem ou ciclo financeiro é interessante porque serve de alerta para mudanças necessárias relativas à política financeira. O ciclo econômico compreende o intervalo de tempo entre as transações de compra e venda, sendo uma informação relevante para a gestão financeira de curto prazo, devendo afetar decisões relacionadas à manutenção de estoques. O quadro 4 apresenta um resumo das fórmulas dos ciclos.

Ciclo operacional de caixa = PMRe + PMRcr Período de defasagem ou ciclo financeiro = (PME + PMR) – PMcp

(A autora)

Quadro 4 – Os ciclos da análise financeira

Ciclo econômico = PMRe

::: Coeficiente de rotação do Capital de Giro O coeficiente de rotação de Capital de Giro informa quantas vezes por ano o Capital de Giro é movimentado (giro). Como conseqüência dos conceitos apresentados, podemos calcular o Capital de Giro do negócio. Vejamos:

Coeficiente de rotação do Capital de Giro =

360 Período de defasagem de caixa

=

Gastos operacionais Capital de Giro

portanto, Capital de Giro =

Gastos operacionais Coeficiente de rotação do Capital de Giro

::: Mudanças no Capital de Giro É a diferença entre o nível de Capital de Giro para períodos distintos. Exemplo de interpretação “Observou-se o crescimento do ciclo econômico por conta ‘retração de mercado’, quadro que estendeu o ciclo operacional de caixa. A empresa, para não perder sua posição no mercado, resolveu alongar o prazo médio de recebimento. Como existe um grande volume de dívidas no curto prazo, o ciclo financeiro ficou comprometido.” Quanto mais regulares forem as vendas e as compras, maior será a precisão dos índices de prazos médios. Na hipótese de flutuarem drasticamente a análise desses índices, podem-se gerar distorções. Recomenda-se ao analista, nesse caso, trabalhar com saldos finais.

Técnicas de análise financeira

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Análise de rentabilidade e lucratividade A análise da rentabilidade compara o lucro e elementos patrimoniais (grupo ou subgrupo: “retorno sobre ________ (elemento patrimonial)”. A análise de lucratividade relaciona os diferentes tipos ou níveis de lucro (lucro operacional bruto, lucro operacional e lucro antes do Imposto de Renda) e a receita auferida. Vejamos alguns desses índices:

Rentabilidade sobre o Patrimônio Líquido (RPL) Relaciona o Lucro Líquido e o Patrimônio Líquido. RPL =

Patrimônio Líquido Lucro Líquido

É uma medida que interessa aos proprietários. Para obter o payback (tempo previsto para retorno dos proprietários), basta dividir 100% pela TRPL. O analista pode trabalhar com Ativo E PL médio. Quanto maior, melhor para a empresa. O Patrimônio Líquido é o capital próprio do negócio. Exemplo de interpretação: “Para cada R$ 1,00 de capital próprio, a empresa remunera em R$ ______”.

Taxa de retorno sobre o investimento (TRI) Relaciona o Lucro Líquido e o Ativo Total. TRI =

Lucro Líquido Ativo Total

Reflete o quão os ativos estão bem aplicados. Trata-se de uma medida de qualidade da alocação de ativos. Quanto maior a TRI, melhor para a empresa. Ao dividirmos 100% pela TRI, encontramos o payback que nada mais é do que o tempo médio necessário para retorno. Dessa fórmula, podemos derivar outras medidas importantes para a análise de rentabilidade. Uma das medidas de análise mais conhecidas no Brasil é a Taxa de Retorno do Investimento (TRI). Essa métrica consiste na razão entre Lucro Líquido e Ativo Total, aferindo o quão rentável foram os investimentos realizados pela empresa. O investimento é representado na fórmula pelo Ativo Total, independente de sua origem (capital próprio ou de terceiros). As origens das aplicações variam e decorrem geralmente de: ::: aporte do capital de terceiros (curto e Longo Prazo); ::: empréstimos de sócios;

202

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Planejamento Financeiro

::: reaplicação dos lucros gerados no próprio negócio. Essa medida está sendo cada vez mais empregada nos processos de avaliação de desempenho de áreas, de projetos e até unidades. Entretanto, seu uso mais freqüente é a análise global da rentabilidade do negócio. O retorno sobre o montante investido (TRI) serve de parâmetro para diversas decisões, a exemplo do pagamento de remuneração variável5, reorganizações societárias, aquisições de novos ativos, como também exploração de novos nichos de mercado. O índice pode ser decomposto como segue: TRI =

Vendas Lucro Líquido Lucro Líquido x = Ativo Total Vendas Ativo Total

Essa decomposição, proposta pela DuPont, auxilia na identificação das razões que conduziram a empresa à rentabilidade global observada. A relação entre Lucro Líquido e vendas corresponde ao conceito de margem; já entre vendas e o Ativo Total, corresponde ao de giro. As quedas de rentabilidade podem ser explicadas por uma baixa no giro ou redução na margem; caberá, então, ao analista investigar as causas que produziram tais variações. A leitura da medida depende essencialmente da combinação entre giro e margem, dessa forma, ela tem papel importante no planejamento dos lucros e no processo de formatação estratégica. A melhora do desempenho de uma organização pode passar pela elevação da margem, aumento do giro (turnover) ou de ambos. A decomposição pode referenciar decisões importantes como: precificação, expansão de mercado, redução de gastos, incremento de aplicações, além de redução no volume de investimentos. Quadro 5 – Decisões envolvendo os conceitos de giro e margem

Decisões

Desdobramentos decisórios 1. Redução do volume de ativos por meio da baixa de investimentos improdutivos. 2. Venda de bens não utilizados na atividade e que não geram renda. :: Alienação de bens desnecessários ao processo produtivo.

Aumento do giro

3. Diminuição do nível de estocagem (o que reduz os custos financeiros). :: Programação de resultado. 4. Incremento nas vendas (estímulo mercadológico). :: Redução do saldo de estoques, especialmente aqueles de giro mais lento. :: Formação de mix promocional.

Aumento da margem

1. Elevação do preço por meio da redução dos custos variáveis ou adição de valor ao produto/serviço. :: Revisão do projeto do produto para adicionar valor.

5 Pagamento de bônus a funcionários.

Técnicas de análise financeira

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É necessário destacar, todavia, que a medida não deve ser utilizada isoladamente. Empresas com baixo nível de desempenho com base na TRI podem apresentar desempenho satisfatório sob a ótica do retorno sobre o Patrimônio Líquido (Lucro Líquido/Patrimônio Líquido) por conta de uma boa alocação de recursos de terceiros. Vale ressaltar, porém, que não existe um valor ótimo da medida aplicável a todas as empresas. Para uma análise mais precisa, é imprescindível conhecer o negócio e seu entorno (ambiente), pois cada ramo possui uma resposta compatível com as suas características, especialmente no que toca ao giro e à margem, por exemplo: joalherias, estaleiros e galerias de arte possuem giro menor comparado ao de supermercados, comércio de roupas, de cosméticos e farmácias. Acrescenta-se, ainda, a necessidade de se analisar a medida baseando-se nos objetivos da avaliação de desempenho, definidos pela cúpula diretiva, para um juízo de valor mais completo. O emprego eficaz do TRI deve contemplar, concomitantemente, a análise do giro e da margem numa perspectiva histórica e por segmento. Deve-se fazer, então, tal reflexão: quais as variáveis que afetam os componentes da medida? Através de uma análise minuciosa, contemplar-se-ão outros diagnósticos. Entretanto, tal restrição não invalidará a contribuição da medida para a leitura da performance econômica da organização analisada. ::: Rentabilidade sobre o Ativo operacional Relaciona o lucro e ativos operacionais. Trata-se de um refinamento do índice de rentabilidade sobre o Ativo. É uma medida interessante porque decorre de uma triagem dos investimentos. Não são incluídas no cômputo o Ativo Realizável a Longo Prazo, muito menos aplicações no mercado financeiro. TRI2 =

Lucro operacional Ativo operacional

Mostra a rentabilidade sob uma perspectiva eminentemente operacional. A medida afere, portanto, o retorno das aplicações na atividade operacional. Responde à seguinte questão: qual a capacidade desses ativos em gerar lucro? Quanto maior, melhor para a empresa. ::: Rentabilidade do Ativo Imobilizado Relaciona o lucro operacional e Ativo Imobilizado. TRI3 =

Lucro operacional Ativo Imobilizado

A medida afere o retorno das imobilizações. Quanto maior, melhor para a empresa.

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Planejamento Financeiro

Rentabilidade do capital nominal (RCN) A medida relaciona o Lucro Líquido e o capital nominal. RCN =

Lucro Líquido Capital nominal

Trata-se de uma medida que informa a remuneração do capital investido pelos sócios ou acionistas. O capital nominal é aquele subscrito e integralizado pelos sócios e colocados a disposição para movimentação. Pode-se aperfeiçoar a fórmula, colocando no denominador a média dos valores considerando as últimas alterações no contrato social ou estatuto. Exemplo de interpretação: “Para cada R$ 1,00 de capital investido no negócio pelos sócios/acionistas, a empresa gerou R$______ de lucro”. Quanto maior, melhor para os titulares do capital (sócios ou acionistas) e mais atrativo será o negócio.

Rentabilidade por ação Relaciona o Lucro Líquido e o número total de ações. Rentabilidade por ação =

Lucro Líquido Número total de ações

Mostra a remuneração de cada ação com base no resultado contábil. O índice é comparado com o valor de mercado das ações, o que o torna medida imprescindível nas análises financeiras com propósito de medir desempenho. Exemplo de interpretação: “Para cada ação, a empresa gerou de Lucro Líquido R$_____”.

Rentabilidade do dividendo por ação (Rd) Relaciona o dividendo declarado e o número total de ações. Rd =

Dividendo Número total de ações

Mostra o quão o investimento dos acionistas é recompensado. Quanto maior, mais atrativo será o negócio para novos investidores. Exemplo de interpretação: “Para cada ação, a empresa pagou dividendo de R$_____”.

Técnicas de análise financeira

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Rentabilidade da produção (Rp) Relaciona Lucro Líquido e a quantidade produzida e vendida. Quanto maior, melhor presume-se a alocação de recursos e produtividade da empresa. Rp =

Lucro Líquido Produção vendida

A produção da empresa gerou ou tem gerado bons resultados? É a questão respondida pela análise da medida. Exemplo de interpretação: “Para cada unidade produzida e vendida, a empresa gerou de Lucro Líquido R$_____”.

Rentabilidade do capital circulante (Rcc) A medida relaciona o Lucro Líquido e a média do capital circulante. Rcc =

Lucro Líquido Média do capital circulante

Quando o capital circulante possui giro inadequado, com baixa conversão em caixa, o reflexo é sentido na formação do lucro. Na verdade, o índice mostra esse efeito por meio da rentabilidade do Capital de Giro (Ativo Circulante). Como desdobramento dessa medida, poderíamos substituir o denominador pelo conceito de Capital Circulante Líquido (o mesmo que Capital de Giro próprio), que corresponde à diferença entre Ativo Circulante e Passivo Circulante.

Lucratividade bruta (Lb) O índice relaciona lucro operacional bruto e receita líquida. Lb =

Lucro operacional bruto Receita líquida

Vejamos como obter a receita líquida: Receita bruta (–) Deduções = Receita líquida (–) CMV ou CPV = Lucro operacional bruto

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Planejamento Financeiro

Onde: CMV = Custo das Mercadorias Vendidas CPV = Custo dos Produtos Vendidos O índice mostra o impacto do CMV sobre o lucro operacional bruto. Seu cálculo enseja a avaliação do reflexo de uma eventual elevação nos custos de aquisição de mercadorias ou matéria-prima, e até de procedimentos inadequados do pessoal das áreas de compras sobre a lucratividade da empresa. Exemplo de interpretação: “A empresa analisada, na transição entre os exercícios sociais, apresentou queda significativa na lucratividade bruta por força da elevação nos preços das mercadorias vendidas.”

Lucratividade operacional (Lo) O índice relaciona lucro operacional e receita líquida. Lo =

Lucro operacional Receita líquida

Vejamos como obter o lucro operacional: Receita bruta (–) Deduções = Receita líquida (–) CMV ou CPV = Lucro operacional bruto (–) Despesas operacionais = Lucro operacional

Onde: CMV = Custo das Mercadorias Vendidas CPV = Custo dos Produtos Vendidos O índice mede o impacto dos custos e despesas operacionais sobre a geração do lucro operacional. Vale ressaltar que são os custos e despesas operacionais que mantêm a atividade-fim da empresa, razão pela qual tem-se que conhecer seu reflexo sobre a lucratividade do negócio.

Lucratividade líquida (Li) O índice relaciona Lucro Líquido e receita líquida. Li =

Lucro Líquido Receita líquida

Técnicas de análise financeira

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Vejamos como obter o Lucro Líquido antes dos impostos sobre o lucro:6 Receita bruta (–) Deduções = Receita líquida (–) CMV ou CPV = Lucro operacional bruto (–) Despesas operacionais = Lucro operacional (+/–) Receitas/ despesas não-operacionais = Lucro antes dos impostos sobre o lucro6

A medida incorpora na análise o impacto do resultado não-operacional sobre a lucratividade. É uma medida de lucratividade geral. Responde à seguinte questão: quanto é gerado de Lucro Líquido para cada R$ 1,00 de venda? Os conceitos de rentabilidade lucratividade são muito importantes para os acionistas e potenciais investidores, e como visto, podem ser expressos de diversas formas. Vejamos agora, com mais detalhes, as medidas que incluem em sua fórmula o preço das ações denominadas de indicadores fundamentalistas (que relacionam o preço das ações no mercado aos números evidenciados nas Demonstrações Contábeis). A análise fundamentalista visa à avaliação das ações e se baseia em informações contábeis e fatores econômicos: projeções de resultado, desempenho setorial, preço dos ativos, sua relação de oferta e demanda. Ela estima o preço justo de venda das ações com base na análise dos fatores supracitados. A abordagem econômica não exclui a necessidade do estudo das Demonstrações Contábeis e demais relatórios divulgados externamente. Os indicadores fundamentalistas adicionam o elemento “preço das ações” às medidas financeiras para leitura da eficiência e rentabilidade no mercado. São dados relevantes nessa análise: o volume de investimentos, a capacidade de endividamento e geração de resultado, as perspectivas do setor e da empresa. Por meio do cálculo do fluxo de caixa descontado, os analistas estabelecem o preço justo das ações de determinada empresa; esse preço é o elemento principal do processo decisório relacionado à compra e venda de ativos. A aquisição é recomendada quando o preço da ação excede o da ação na bolsa de valores, sinalizando uma perspectiva de valorização. Quando o preço de mercado exceder o preço justo, o investimento não será recomendado, apesar da sobrevalorização observada. Evidencia-se, então, a importância das medidas fundamentalistas para a estimativa do preço justo das ações. 6 Imposto de Renda e Contribuição Social.

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Planejamento Financeiro

Índice preço – lucro por ação I1 =

Cotação no final do trimestre Lucro por ação nos últimos 12 meses

Quanto maior o índice, melhor será para a organização. Índices elevados sinalizam uma expectativa favorável no mercado, materializada através dos lucros da companhia; já os índices baixos podem indicar risco de investimento. A análise é enriquecida quando a medida é calculada para períodos consecutivos. Recomendase o uso de gráficos (linhas ou barras) para que o analista tenha sensibilidade visual da tendência de desempenho.

Índice preço – valor patrimonial I2 =

Cotação no final do trimestre Patrimônio Líquido por ação

Índices elevados sinalizam credibilidade da companhia por conta do excesso do valor da cotação em relação ao seu valor patrimonial. Quanto maior o índice, melhor para a organização e para quem investiu nela. A relação mede o grau de confiança do investidor em certos papéis. Responde-se, então, à seguinte questão: quantas vezes o mercado está disposto a pagar pelo papel em relação ao seu valor contábil? Por exemplo, se uma ação apresenta uma relação equivalente a 2, significa que o investidor está disposto a pagar um ágio (valor superior ao seu valor contábil).

Índice dividendo – valor patrimonial I3 =

Dividendo Patrimônio Líquido por ação

A medida representa o genuíno retorno do acionista, obtido através da relação entre os dividendos pagos e o valor patrimonial por ação. Quanto maior a medida, melhor o desempenho da empresa sob a ótica dos investidores. A relação entre dividendos propostos e Lucro Líquido é conhecida como payout e se trata de uma medida de retorno: I4 =

Dividendos propostos Lucro Líquido

Outras medidas: ::: dividend yield (%): soma dos dividendos por ação, pagos no período/cotação; ::: prices sales ratio: cotação x quantidade total de ações.

Técnicas de análise financeira

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Os analistas que tomam por base os índices fundamentalistas se lastreiam em dados reais da empresa, a exemplo das medidas de rentabilidade, produtividade, inovação, modernidade da planta industrial, êxito na inserção no mercado internacional, expectativas macroeconômicas do país e outros; ou seja, partem de leituras quantificadas (dados concretos). Os índices são utilizados para formar o ranking das empresas no mercado. São elaboradas listas segundo cada critério. O juízo de valor somente é elaborado após a análise desses critérios. Embora a rentabilidade dos papéis não seja o único critério, é muito importante conhecê-la para a leitura de desempenho. Rentabilidades elevadas são sempre desejáveis, entretanto sem variações bruscas. Assim, complementar à análise de rentabilidade, faz-se relevante verificar a volatilidade ou variação das cotações. A análise deve ser integrada a um amplo volume de informações e os analistas devem ter consciência de que os números não asseguram o futuro, mas sinalizam uma tendência (referência).

Alavancagem financeira e Grau de Alavancagem Financeira (GAF) A alavancagem financeira é decorrente da utilização do capital de terceiros pela empresa. O endividamento pode ser interessante se o custo da dívida for menor que o retorno auferido pela aplicação desses recursos. Nessa hipótese, o retorno proporcionado pelo capital aportado excede o custo de captação, alavancando a rentabilidade do negócio. Na hipótese inversa, quando o retorno da aplicação dos recursos obtidos for inferior ao custo de captação, a empresa deverá cobrir a diferença com recursos oriundos de outras operações. A alavancagem financeira responde a uma questão simples: qual a capacidade que o capital de terceiros tem de elevar os resultados líquidos do negócio? “Podemos definir alavancagem financeira como potencial de uso de custos fixos financeiros para maximizar os feitos de variações em lucros antes de juros e imposto de renda nos lucros por ação da empresa.” (GITMAN, 2001, p. 377). São exemplos de custos fixos financeiros os juros sobre dívidas e dividendos de ações preferenciais. Vejamos como calcular o grau de alavancagem financeira: GAF =

Lucro operacional Lucro operacional – Despesas financeiras

O cálculo do grau de alavancagem financeira revela como o Lucro Líquido se comporta na medida em que o lucro operacional varia. A interpretação é feita como segue. Admitindo-se GAF = 2, temos que: “Cada 1% do aumento do lucro operacional resulta em um acréscimo de 2% no Lucro Líquido.” O estudo da alavancagem financeira é fundamental à prática do planejamento financeiro. Outra possibilidade de cálculo:

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Planejamento Financeiro

GAF =

Variação percentual no Lucro Líquido =_____ vezes Variação percentual no lucro operacional.

Quanto maior o GAF, tanto melhor será para a empresa porque significa uso adequado do recurso de terceiros. Tomemos, por exemplo, uma empresa cujo GAF é 1,5: “A variação no lucro operacional produziu uma variação de 1,5 vezes maior no Lucro Líquido.” Situação: A empresa Delta LTDA apresentou os seguintes dados no período corrente:

Descrição

Valor ($)

Lucro operacional

50.000,00

(–) Despesas financeiras

(10.000,00)

Lucro Líquido

40.000,00

Cálculo do GAF: GAF = 50.000,00/ 40.000,00 = 1,25. Exemplo de interpretação: “A cada 1% de aumento no resultado operacional, o Lucro Líquido gera um acréscimo de 1,25%. Para determinar o GAF após o impacto dos tributos sobre o lucro, basta alterar a fórmula de cálculo”. GAF =

Lucro operacional, líquido dos tributos Lucro Líquido

Memória de cálculo

Descrição Lucro operacional (–) Tributos sobre o lucro = Lucro operacional líquido (–) Despesas financeiras Lucro Líquido

O grau de alavancagem financeira pode ser obtido pela razão entre os retorno sobre o PL e sobre o Ativo (BRAGA, 1999).

Técnicas de análise financeira

Grau de alavancagem =

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Rentabilidade sobre o PL Rentabilidade sobre o Ativo

Onde: Rentabilidade sobre o Ativo =

Lucro Líquido do exercício + despesas financeiras Ativo Total médio

Rentabilidade sobre o PL =

Lucro Líquido do exercício Patrimônio Líquido médio

A adição das despesas financeiras ao lucro tem o propósito de eliminar seu reflexo sobre o Lucro Líquido. A consideração das despesas financeiras dificultaria a análise. Ao desconsiderá-las, conseguese raciocinar como seria se não houvesse os encargos financeiros e, portanto, se o capital utilizado fosse totalmente próprio. A análise da alavancagem financeira tem o propósito de aferir a eficiência na alocação dos recursos aportados de terceiros e seu impacto sobre o retorno do capital próprio (Patrimônio Líquido). A utilização do capital de terceiros deve ser adequada, ou seja, provida de vantagem para o aplicador. A vantagem reside no excesso de retorno sobre os encargos financeiros (despesas), razão pela qual o aporte de capital externo exige planejamento. Juros elevados oneram o saldo das despesas financeiras reduzindo a rentabilidade da empresa, provocando, muitas vezes, o prejuízo com a utilização do capital de terceiros. O interesse por capital de terceiros deve estar lastreado em um retorno compensatório – trade off – risco-retorno. Quando o grau de alavancagem iguala-se a unidade a utilização do capital de terceiros não introduziu melhoras à rentabilidade, sendo indiferente para o gestor trabalhar com recursos próprios ou de terceiros. Quando o grau de alavancagem é inferior à unidade, a utilização do capital de terceiros reduziu a rentabilidade do capital próprio, sendo recomendado trabalhar com capital próprio em lugar do capital externo. Graus de alavancagem acima da unidade sinalizam um quadro favorável de alocação de recursos.

Grau de alavancagem financeira

Efeito do uso do capital de terceiros sobre a rentabilidade do capital próprio

>1

Favorável

=1

Indiferente

<1

Desfavorável

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Planejamento Financeiro

Aumentos no grau de alavancagem financeira podem ser conseguidos por meio de mudanças na estrutura de capital (próprio e de terceiros), no ajuste do mix da dívida (onerosa e não-onerosa) e fomento à geração de receita. A análise de alavancagem financeira, como se pode notar, é de fundamental importância para o diagnostico econômico-financeiro de uma organização especialmente porque orienta o gestor no processo de captação de recursos. Enseja à monitoração da qualidade das aplicações, sendo importante no apoio à tomada de decisões, especialmente aquelas que envolvem a captação de recursos, afinal, nem sempre o endividamento é prejudicial ao negócio. Depende de como os recursos são empregados.

Análise de risco e retorno Nas seções anteriores, abordou-se o retorno como ganhos obtidos ou gerados a partir dos investimentos realizados. Agora, conceituaremos risco, elemento implícito no processo decisório. Ao gestor financeiro cabe criar valor para os acionistas ou proprietários do negócio por meio de decisões adequadas, organizadas em dois eixos: decisões de investimento e decisões de financiamento (LEMES JÚNIOR et al. 2002). As decisões de investimento se baseiam na análise de risco e retorno, afinal, o retorno é o grande alvo do gestor. Os retornos esperados variam conforme diferentes variáveis: aspectos técnicos dos projetos de investimento, disponibilidade de matéria-prima, qualificação de mão-de-obra etc. É a influência de fatores, como os que foram citados, que determinam o risco da aplicação ou investimento. Mas, em que consiste o risco? O risco compreende a possibilidade de perda financeira. Não se confunde com incerteza porque, enquanto o risco pode ser mensurado, a incerteza não pode ser medida. Quando a incerteza pode ser transformada em probabilidade de ocorrência de um evento, tornase risco. “Risco: possibilidade de prejuízo financeiro ou, mais formalmente, a variabilidade do retorno associado a determinado alvo.” (LEMES JÚNIOR et al. 2002, p. 135). A incerteza, nesse contexto, representa uma situação de insegurança em relação aos resultados futuros. O conceito de risco está muito associado à incerteza decorrente da variabilidade de retorno dos ativos. Quanto mais certo for o retorno do Ativo, menor tende a ser a variabilidade do retorno desse

Técnicas de análise financeira

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ativo. Os investimentos devem trazer recompensa ao investidor que assume os riscos. O retorno representa essa recompensa. Por essa razão é que riscos elevados geram prêmios maiores (porque o prêmio pelo risco recompensa o investidor). Na análise do risco é essencial o estudo da dispersão efetiva entre os retornos. O risco nasce da volatilidade de retornos. Para avaliação do risco, alguns conceitos estatísticos são utilizados: variância e desvio-padrão. Ambas são medidas de volatilidade empregadas na análise do retorno. Var (R) =

Soma (Rn – Rmédio)2 T–1

Onde T = Tempo. O desvio-padrão equivale a raiz quadrada da variância. Quanto maior a variância, mais o retorno efetivo se distancia do retorno médio, portanto, maior a dispersão dos retornos. Exemplo: Sendo r1, r2, r3 e r4 os retornos individuais, a variância é calculada da seguinte forma: R1 = 0,20 R2 = 0,15 R3 = 0,30 R4 = 0,19 n = número de ocorrências do retorno = 4 (1) Cálculo do retorno médio Rmédio =

R1 + R2 + R3 + R4 4

Rmédio = 0,21 (2) Cálculo da variância Para se calcular a variância, basta obter a diferença entre cada um desses retornos e o retorno médio e, em seguida, elevar a diferença ao quadrado.

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Planejamento Financeiro

Período

Retorno efetivo (Rn)

1

0,20

2

0,15

3

0,30

4

0,19

Retorno médio (rmédio)

0,21

Quadrado da diferença (R2)

Diferença (Rn – rmédio) -0,01

0,0001

-0,06

3,60 X 10 -3

0,09

8,10 X 10 -3

-0,02

4,00 X 10

Soma

Variância Var (r) =Soma (rn – rmédio)2 / t –1

0,004033

-4

0,0121

Var (R)=

Soma (Rn- Rmédio)2 T-1

=

0,0121 4-1

= 0,004033

Como o desvio-padrão equivale à raiz quadrada da variância, temos que, nesse exemplo, o desvio é de 0,0635 (6,35%). Como o conceito de variância é muito difícil de interpretar (afinal, é uma percentagem), utiliza-se o conceito de desvio-padrão na leitura do risco Existem diferentes tipos de riscos: risco do empreendimento, risco do negócio e risco país. Os riscos do empreendimento são particulares, relacionados ao empreendimento em si e às escolhas gerenciais da cúpula diretiva. Os riscos do negócio relacionam-se às atividades próprias do empreendimento de mesma natureza. Esse tipo de risco afeta a todas as empresas do ramo. O risco país, segundo Lemes Júnior et al (2002), está associado ao fato de o investimento ocorrer nesse ou naquele país por força das vantagens competitivas. A parte surpresa do retorno é o verdadeiro risco do investimento. Isso ocorre porque nenhum investimento é 100% seguro (livre de risco). Para entender as fontes de riscos, é preciso compreender suas possíveis fontes. Os riscos podem ainda ser categorizados em sistemáticos e não-sistemáticos. O risco sistemático, chamado de risco de mercado, é causado por variáveis que afetam sistematicamente a maioria das empresas, a exemplo de guerras, incidentes internacionais, inflação, fatores de ordem política, recessões, elevadas taxas de juros etc. Na verdade, condições econômicas gerais se repercutem de alguma forma nas empresas, na maioria das vezes, negativamente. Esse risco não é eliminável. Os riscos não-sistemáticos são específicos à empresa, portanto, podem ser eliminados ou mitigados. São causados por: qualidade da gestão financeira, informações relevantes divulgadas, existência de contingências fiscais/trabalhistas, entre outros. O risco não-sistemático é relacionado a eventos específicos (ROSS et al., 2000).

Técnicas de análise financeira

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Ao investir, o gestor financeiro assume riscos, embora geralmente se procure evitá-los. A maioria dos gestores financeiros tem aversão ao risco, exigindo um retorno compensador para assumi-lo (posição conservadora). Quanto maior o retorno, maior o risco. Independente de estilo, conservador ou agressivo, cabe ao profissional da gestão dimensionar esses riscos antes de fundamentar decisões de investimentos.

Texto complementar Administrando o Capital de Giro (CANNIZZARO*, 2002)

7

O Capital de Giro de qualquer organização tem participação decisiva no desempenho operacional das empresas, cobrindo na maioria das vezes a parcela mais essencial dos ativos investidos. Por isso é a alma de qualquer empresa, de onde irradiam suas energias. Uma má administração deste capital de trabalho – giro líquido – resultado entre ativos e Passivos correntes, invariavelmente arrasta qualquer negócio para bancarrota. O gerenciamento destes recursos situados em meio circulantes parece ter decisões absolutamente interdependentes, ou seja, na prática, administram-se ativos de uma maneira muito própria, assim como os Passivos, mas sempre ligados por um cordão umbilical com fina sintonia. Perda de liquidez, por exemplo, em uma empresa que investiu pesadamente em seu nível de estoque, concentrando majoritariamente quase toda a estrutura de seu Ativo Circulante, pode produzir efeitos desastrosos ao caixa, ou quem sabe a presença de Passivos de curto prazo, pressionando-o a exigir ativos correntes mais líquidos e de imediata conversibilidade, estimulando também outros efeitos colaterais horríveis. Enfim, a definição do montante adequado do Capital de Giro, ou seja, a necessidade de Capital de Giro é uma identificação de sensível repercussão para o sucesso ou mesmo fracasso de qualquer empresa. Liquidez e rentabilidade são outros oxigênios essenciais, sempre presentes nas águas da administração dos fluxos de caixa. Por isso é preciso estimular as gestões empresariais nos esforços de melhor fortalecer a administração do Capital de Giro, sobretudo periódicas avaliações e medições, principalmente conhecendo-se se o retorno marginal de seus ativos correntes estão de fato acima do custo dos recursos alocados para o próprio financiamento da atividade. Se o custo de alocação dos recursos que financia o seu giro estiver, por exemplo, bem abaixo do retorno dos Ativos Circulantes, é possível afirmar que seu negócio vai no caminho do sucesso. * Consultor e titular da Cannizzaro & associados S/C Ltda.

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Planejamento Financeiro

Se for ao contrário, você tem nas mãos uma empresa vocacionada para o insucesso que virá, mais cedo do que você mesmo imagina. Ademais, empresas não “quebram” só pelo Passivo, ao contrário, podem “quebrar” na gerência de seus ativos. A importância e o volume exato do capital de trabalho é peça determinante neste “jogo”, e está associada a fatores bem determinantes. Assim, convivem em águas difíceis: volumes de vendas, políticas de negócios, fatores cíclicos da economia, tecnologia, sazonalidade, entre outros. Considere-se ainda que elementos que compõem o Ativo Circulante, em todo negócio, costumam não apresentar sincronização temporal equilibrada em seus níveis e atividade, e é exatamente a boa ou má articulação de seus movimentos que costuma conduzir o caixa para “dores de barriga”. Inadequações na administração deste capital de trabalho são sempre fatais. Poucas empresas medem isto de forma correta, com uma visão prática e técnica e com instrumentos adequados de interpretação.

Atividades Avalie as assertivas e atribua V (verdadeiro) ou F (falso). ((

A rotação do investimento afere a eficiência dos recursos aplicados oriundos de instituições financeiras.

((

A rotação do imobilizado relaciona receita líquida e o saldo médio do imobilizado.

((

Empresas que operam com receitas a prazo podem suportar índices de liquidez menores que a unidade sem que tenham problemas de fluxo de caixa.

((

A diferença entre os prazos médios de estocagem mais prazo médio de recebimento das vendas e o prazo médio de pagamento nos mostra quanto tempo a empresa necessita de financiamento para completar o giro.

((

A relação entre capital próprio e de terceiros (índice denominado de garantia do capital de terceiros) informa o grau de cobertura que o Patrimônio Líquido oferece às obrigações ou dívidas assumidas pela empresa.

Técnicas de análise financeira

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((

O endividamento total ou grau de endividamento corresponde à relação entre Passivo total e Ativo Total. Quanto menor, menor será o risco.

((

A boa política financeira orienta que os ativos permanentes sejam prioritariamente financiados por capital próprio, seguido do capital de terceiros (de Longo Prazo).

((

A análise do grau de imobilização depende do tipo de atividade e porte do empreendimento.

((

Quanto maior o volume de recursos investidos no Ativo Permanente, maior o nível de custo fixo em decorrência do saldo de depreciação, despesa de manutenção e seguros.

((

O índice de liquidez instantânea mede a capacidade de pagamento por meio da relação entre ativo e Passivos circulantes.

((

A alavancagem financeira é a capacidade da empresa em usar encargos financeiros fixos para maximizar o resultado antes das despesas financeiras e do Imposto de Renda sobre o Lucro Líquido do exercício.

((

O ciclo operacional de caixa corresponde ao somatório dos prazos médios de rotação de estoque e cobrança (recebimento).

((

O ciclo financeiro corresponde à diferença entre a soma dos prazos médios de estocagem e o prazo médio de pagamento.

((

Quanto maior o ciclo operacional de caixa, maior será a necessidade da empresa de recursos externos até que os ingressos de caixa aconteçam.

((

Quanto maior o prazo médio de estocagem, maiores os custos financeiros para manutenção dos estoques.

((

O período de defasagem corresponde ao ciclo econômico.

((

A mudança no Capital de Giro corresponde à diferença entre o capital em períodos distintos.

((

O coeficiente de rotação de Capital de Giro informa quantas vezes, por ano, o Capital de Giro é movimentado (giro).

((

O coeficiente de rotação do Capital de Giro é medido pela relação entre 360 e o período de defasagem de caixa.

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Planejamento Financeiro