custos2009
UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA FACULDADE DE ENFERMAGEM DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM BÁSICA (EBA) DISCIPLINA ADMINISTRAÇÃO EM ENFERMAGEM II
Gerência de Custos em Enfermagem GRECO, Rosangela Maria Profa. do Depto. EBA
1- Objetivos Destacar a relevância da política de recursos financeiros para a qualidade da assistência nas instituições de saúde; Conhecer a importância da participação do enfermeiro no gerenciamento de custos; 2 - Introdução Para desempenhar bem qualquer trabalho é necessário ter conhecimento sobre o que se pretende fazer, que se delimitem os objetivos aos quais se quer chegar, estabeleça as prioridades, desenvolva um plano de ação, execute e avalie o que se planejou. Mas, para realizar uma ação é necessário, considerar também uma etapa muito importante, principalmente no que diz respeito às ações voltadas para a assistência à saúde de indivíduos e comunidades, que é a fase de delimitação de recursos disponíveis e necessários, sejam eles materiais, humanos e financeiros. Nós já estudamos o gerenciamento de recursos humanos e materiais e nesta aula iremos tratar do gerenciamento de custos. Na área da saúde a crescente elevação dos custos, tem feito com que os profissionais busquem cada vez mais a racionalização da alocação de recursos e o equilíbrio entre custos e recursos financeiros, visando à eficiência e eficácia1. É necessário, portanto ter conhecimentos e desenvolver habilidades no gerenciamento de custos, como instrumento que pode vir a auxiliar no processo de planejamento e de tomada de decisão. 3 – Custos e a Enfermagem Para falarmos do por que a enfermagem pode e deve realizar o gerenciamento de custos no seu trabalho iremos nos basear no trabalho realizado por Francisco; Castilho (2003)2. No Brasil, assim como ocorre em outros países, o grande desafio do nosso sistema de saúde é buscar um equilíbrio entre a qualidade da assistência e seus custos. Mas, o que se observa é que há um crescimento dos gastos com a assistência à saúde de indivíduos e coletividades acompanhado de uma crescente restrição orçamentária. Assim, é cada vez mais necessário que se tomem medidas em relação à adoção de um sistema de gerenciamento de custos, ou seja, a criação de metodologias de aferição e controle dos custos para os serviços de saúde, tendo em vista a realização das ações com qualidade e eficiência. E neste sentido, desde 1982 a Organização Mundial de Saúde, já afirmava ser o enfermeiro o profissional da área de saúde com o maior potencial para assegurar uma assistência de qualidade e com custos racionais. O que pode ser explicado pela presença desse profissional nos serviços de saúde a maior parte do tempo, assim como pela proximidade aos usuários, o que faz com que eles possuam capacidade para estar avaliando a assistência e, portanto devem ser ouvidos nos debates sobre gerenciamento de custos. Segundo Aburdene e Naisbitt (1993) apud Francisco; Castilho (2003), as enfermeiras podem ser responsáveis por 40 a 50% do faturamento dos hospitais, uma vez que estudos comprovam que o trabalho da enfermagem contribui para a qualidade e redução dos custos da assistência. Como justificativa para este fato esses autores afirmam que isto se deve ao conhecimento que o enfermeiro possui sobre administração hospitalar o que supera o conhecimento de outros profissionais. Entretanto eles colocam que o enfermeiro precisa complementar sua experiência administrativa com novas habilidades, entre elas, sobre finanças e marketing. 1 2
FRANCISCO, I. M. F.;CASTILHO, V. A enfermagem e o gerenciamento de custos. Rev Esc. Enf da USP, 2003. Op cit. 1
Ainda a este respeito, também em 1993, O Conselho Internacional de Enfermagem (CIE), no documento “A qualidade, os custos e a enfermagem”, sinalizou para a necessidade e importância dos enfermeiros considerarem os custos quando avaliam os resultados de suas ações, frente às pressões econômicas, vivenciadas pelos sistemas de saúde de todo o mundo. Assim, atualmente os enfermeiros estão cada vez mais sendo cobrados em relação à gestão de custos, no planejamento orçamentário das instituições de saúde, tendo que gerir recursos humanos, materiais e financeiros escassos. E segundo Francisco; Castilho (2003), a pergunta que surge é: Quais os conhecimentos e habilidades necessárias para poder gerir os recursos da melhor forma possível? Neste sentido, como um inicio da reflexão sobre esta questão é que estaremos desenvolvendo o conteúdo desta aula. 4 - Finalidade e objetivos do gerenciamento de custos em enfermagem A gerencia de custos consiste em manter o equilíbrio entre receitas e despesas, de modo a que a organização possa cumprir sua finalidade a atingir as suas metas. Nos serviços de saúde, como em qualquer instituição, há a necessidade de se conhecer os custos, controlar os gastos e eliminar os desperdícios. Mas diferentemente de outros serviços, na saúde, os gestores, devem administrar os custos, sem prejuízo da qualidade, com eficiência na distribuição dos recursos, garantia de oferta de serviços qualificados e compatibilidade entre custos e orçamentos3. Em relação ao gerenciamento de custos a enfermagem de modo geral, e em particular o enfermeiro por seu papel gerencial na equipe, tem uma função importante, podendo contribuir para o faturamento, a redução dos gastos e a utilização racional dos recursos. Além disso, segundo o CIE (1993) apud Francisco e Castilho (2003) “as enfermeiras constituem um nível decisório importante na alocação de recursos, quando determinam em suas unidades de trabalho as prioridades de seus serviços, decidem quem prestará e quanto tempo será despendido nos cuidados, e quais recursos serão empregados”4. Podemos concluir então que a gerencia de custos em enfermagem deve ser realizada tendo como finalidade tanto a economia como a otimização dos recursos, não se perdendo de vista a qualidade, a eficácia, a eficiência com baixo custo. Além disso, segundo Francisco e Castilho (2003), “o gerenciamento de custos em enfermagem é um processo administrativo que visa à tomada de decisão dos enfermeiros em relação a uma eficiente racionalização na alocação de recursos disponíveis e limitados, com o objetivo de alcançar resultados coerentes às necessidades de saúde da clientela e às necessidades/finalidades institucionais. Para tanto, se faz necessário à compreensão de um conjunto de princípios e conhecimentos de análise econômica que viabilizem a escolha de decisões mais convenientes. 5 – Definindo termos Conforme já vimos, para que possamos realizar o gerenciamento de custos na enfermagem temos que conhecer, compreender e utilizar conhecimentos de contabilidade de custos entendida como a área da contabilidade que trata da determinação, análise e controle dos gastos, que ocorrem na área de saúde especificamente na prestação dos serviços5,6. Vejamos então a definição de alguns termos que podem nos ajudar nesta tarefa. Gasto - é o investimento, um custo ou uma despesa (normalmente em dinheiro) que uma instituição faz para obter um produto ou realizar um serviço. Exemplo: compra de matéria prima, recursos humanos, aquisição de equipamentos entre outros. Investimento – é o gasto realizado tendo em vista a aquisição de bens ou serviços que irão ser incorporados ao patrimônio. Exemplo: aquisição de móveis, máquinas, matéria prima entre outros. Despesas - são os gastos não utilizados no processo de produção das atividades fins da organização, ou seja, que não tem relação direta com a prestação do serviço ao paciente. São os bens consumidos ou serviços
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CASTILHO,V., FERNANDA, M. T. F., GAIDZINSKI, R. R. Gerenciamento de custos nos serviços de enfermagem. In: Kurcgant, P. (Coord) Gerenciamento em enfermagem. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005. 4 FRANCISCO, I. M. F.;CASTILHO, V. O ensino de custos nas escolas de graduação em enfermagem. Rev. Esc. Enf. USP. 2003. 5 Op cit. CASTILHO,V., FERNANDA, M. T. F., GAIDZINSKI, R. R (2005) 6 ZORZO, C. Contabilidade de Custos. www.estudaqui.com.br. 2
prestados direta ou indiretamente para a obtenção de receitas, relacionados à função administrativa do serviço como, por exemplo: pagamento de juros, taxas bancárias, materiais de uso administrativo. Desembolso - aquilo que se paga por adquirir um bem ou serviço. Custo – gasto relativo a um bem ou serviço utilizado na produção de outros bens ou serviços, serve para a formação do preço, como por exemplo: medicamentos, recursos humanos, energia elétrica, água, entre outros. Os custos podem ser classificados em: Custos diretos – são os gastos que são aplicados diretamente na produção de um bem ou serviço, é aquele facilmente identificado no produto, que eu posso mensurar. Não precisa de critérios de rateio. Exemplo: materiais, equipamentos, recursos humanos. Custos indiretos - são os gastos que não são aplicados diretamente na produção de um bem ou serviço, mas sim estão relacionados ao processo de produção, é aquele não identificado no produto, aqueles que eu não tenho como medir exatamente. Necessita de critérios de rateios para locação. Exemplo: depreciação, água, luz, telefone, entre outros. Custo Variável - depende da quantidade de atendimento realizado ou produzido. Ex.: material, medicamentos e etc. Custo Fixo - independe da quantidade de atendimento realizado ou produzido. Ex.: aluguel, salários, encargos, etc. Rateio – divisão proporcional dos custos apurados. Segundo Gama (2003) 7 “uma das finalidades do conhecimento de custos está na condição de se poder elaborar a previsão orçamentária para o Serviço de Enfermagem – SE, quando o enfermeiro poderá obter: mapeamento de seu serviço para demonstração de resultados; fornecimento de informações do SE aos administradores para controle global da instituição, para o planejamento e processo de tomada de decisões”. Vejamos então o que é como elaborar um orçamento. 6 - Elaborando um Orçamento Como já dissemos anteriormente para que se possa ter os recursos humanos e materiais necessários para o desempenho de nosso trabalho, ou seja, o desenvolvimento de ações voltadas para a assistência à saúde de indivíduos e comunidades, é necessário que se delimitem os recursos financeiros disponíveis e necessários. Portanto para o funcionamento de uma unidade de assistência em saúde é preciso que se faça o planejamento, organização e controle de recursos financeiros, é necessário que se faça um ORÇAMENTO8 . Assim, um orçamento é um plano que de modo resumido envolve a aquisição e o dispêndio de verbas, incluindo o preparo e controle durante o período para o qual está destinado9. O orçamento afeta as políticas de pessoal que determinam à qualidade e a composição da equipe de enfermagem, desta forma, a qualidade de assistência ao paciente; determina a quantidade e tipo de equipamento, recursos de planta física e outros recursos que estarão disponíveis para pesquisa e atividades de enfermagem “10. O orçamento afeta também, o espírito da equipe de enfermagem, orçamentos muito justos e apertados costumam anular a criatividade da equipe, já ao contrário um orçamento que de condições para a equipe desempenhar suas funções com qualidade, experiência e pesquisa, estimula a criatividade e o espírito investigativo11. Os limites do orçamento fazem com que a enfermagem redefina a extensão de suas metas, seus objetivos. No que diz respeito às vantagens e desvantagens do orçamento pode-se citar que: Possibilita que se critique o próprio planejamento sendo um importante instrumento de avaliação do mesmo, mostrando quais os aspectos em que as estimativas foram adequadas ou não; ao mesmo pode possibilitar a defesa do planejamento contra ataques injustificados; Seu uso como um meio de pressionar para obter resultados pode estimular problemas de relacionamento humano; Quando se torna a meta, ou seja, o próprio fim, e não um meio para o alcance dos fins, seus objetivos são anulados; Bem elaborado um plano orçamentário evita desperdícios, mal elaborado leva a desperdícios;
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GAMA, B. M. B. De M. O gerenciamento de custos em enfermagem. Apostila de curso. 2003 (mimeo) CHIAVENATO, I. Teoria Geral da Administração. São Paulo, MAKRON BOOKS, 1993. 9 ARNDT, C.; HUCKABAY, L. M. D. Administração em enfermagem. Rio de Janeiro, Interamericana, 1983. 10 Op cit. 11 Op cit. 8
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Proporciona qualidade no serviço, ao possibilitar a provisão de recursos; Evita a falta de materiais e o estresse da equipe;
7 – O Serviço de Enfermagem e a definição de um plano orçamentário Para o Serviço de Enfermagem, o planejamento orçamentário diz respeito à parte relativa à assistência de enfermagem aos pacientes, ou seja, a fração do orçamento da instituição que é aplicada em enfermagem, sendo que a definição de um orçamento e um sistema de controle orçamentário são funções que estão inseridas no papel do enfermeiro como administrador da assistência de enfermagem.. O enfermeiro deve fazer um bom planejamento orçamentário, levando em conta as necessidades do paciente, a necessidade de pessoal, equipamentos e materiais adequados de acordo com cada unidade, com apresentação de argumentos que sejam convincentes demonstrando a necessidade de recursos para a manutenção da qualidade dos programas da instituição. Ao se elaborar um plano orçamentário é importante que se combinem os objetivos e as metas que se quer alcançar com os custos para a realização de tais propostas, pois segundo ARNDT, HUCKABAY (1983), “a eficiente operação de uma unidade de assistência em saúde somente pode ser realizada pela adoção de uma filosofia de trabalho adequada às disponibilidades financeiras da instituição”. Portanto, uma vez que a enfermagem é quem permanece na unidade hospitalar, 24 horas, ininterruptamente, cobrindo todas às necessidades do paciente, a equipe de enfermagem deve ser considerada como o elemento central no controle e redução dos custos12. Os custos, em uma unidade hospitalar, são “a soma de todos os gastos gerais, com pessoal e material, destinados ao atendimento e construção dos objetivos do hospital e da sua finalidade. Portanto, todo investimento em bens, serviços, drogas e similares destinados ao uso e consumo do paciente” 13. Assim sendo, considerando que no gerenciamento de custos em enfermagem como objetivo final esperasse um retorno financeiro segundo Marx; Morita14, alguns aspectos devem ser considerados: “pessoal qualificado e capacitado desempenha tarefas com menos desperdício e maior eficiência e rapidez; adequação de pessoal gera menos estresse e maior produtividade; material adequado e de boa qualidade reduz a margem de erros e agiliza os procedimentos e controle de material, pessoal e equipamentos, evita desperdício de tempo e dinheiro”. O enfermeiro deve ainda, manter a equipe informada sobre o custo hospitalar da assistência, visando com isto obter destes o apoio no sentido da racionalização da utilização de materiais e equipamentos, evitando desperdícios, sem perder de vista a qualidade da assistência. De modo geral, não se dispõe de todos os recursos necessários para o desenvolvimento e a realização de atividades e programas, tendo-se com freqüência que se estar definindo prioridades. Para FONSECA (1995) 15 , “os programas orçamentários devem ser desenvolvidos dentro de uma metodologia compatível, elegendo aquele que digam mais respeito à sua organização de trabalho. A distribuição orçamentária variará de acordo com as prioridades estabelecidas no planejamento, por ex.: 60% para pessoal; 20 a 30% para suprimentos, 10% equipamentos e treinamentos; 5% viagens e atualizações”. Deve-se prever ainda, o desenvolvimento de programas específicos de educação continuada que mantenham o pessoal de enfermagem informado sobre os recursos econômico-financeiros da instituição, e que ao mesmo tempo motivem e capacitem o pessoal para implementar o cuidado ao paciente, relacionando-o com o seu custo. É importante ainda ressaltar que a preocupação com os custos pelo enfermeiro não deve ser tomada como “uma fuga do seu papel profissional, já que o mesmo deve estar inserido na política administrativa de saúde e na filosofia institucional, cabendo ressaltar que a redução de custos gera ganhos para o hospital aplicar em pessoal, material e equipamentos, beneficiando toda a população usuária dos serviços hospitalares” 16. 9 – A titulo de conclusão
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ALMEIDA, M. H. Custos hospitalares na enfermagem. Rio de Janeiro, Cultura Médica, 1984. Op cit. 14 MARX, L.C.; MORITA, L.C. Manual de Gerenciamento de Enfermagem. São Paulo: EPUB, 2003. 15 FONSECA, M. das G. Orçamento Programa para o Serviço de Enfermagem. apostila de curso. 1996.(mimeo). 16 PADILHA, M. I. C. S. A qualidade da assistência de enfermagem e os custos hospitalares. Rev. Hosp. Adm. Saúde, São Paulo. Vol. 14 (03), 1990, p.128-30 4 13
Nossa sociedade esta estruturada sob a forma de organizações e para que elas desempenhem suas atividades de modo estruturado e racional é necessário que estas sejam administradas. Faz parte das funções administrativas, o planejamento e dentro dele o plano orçamentário. Para que o Enfermeiro possa atuar eficaz e eficientemente ele necessita utilizar os conhecimentos administrativos e dentre eles ressaltamos a delimitação de recursos disponíveis e necessários para a assistência à saúde de indivíduos e comunidades. Além disso, segundo Gama (2003) 17 “é preciso que o enfermeiro tenha consciência de sua responsabilidade para com a qualidade da assistência e que o gerenciamento de custos ocupe aí lugar de destaque. Precisamos ter claro para todos nós que gerenciar custos não significa pensar e fazer uma assistência que não seja qualificada, mas muito ao contrário – saber de fato as reais necessidades e buscar provê-las”.
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GAMA, B. M. B. De M. O gerenciamento de custos em enfermagem. Apostila de curso. 2003 (mimeo) 5