A TENDÊNCIA TECNICISTA E O ENSINO DE ARTE

A pedagogia tecnicista surgiu na segunda metade do século XX, nos EUA, e no Brasil em 1960, com predomínio em 1978. As leis 5540/68 (ensino...

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A TENDÊNCIA TECNICISTA E O ENSINO DE ARTE Cristiane Campos Universidade Estadual do Centro-Oeste - UNICENTRO [email protected] Profª. Ms. Claudia Maria Petchak Zanlorenzi Universidade Estadual do Centro-Oeste - UNICENTRO Membro do HISTEDBR – Campos Gerais [email protected]

Resumo: O presente artigo é parte integrante da pesquisa de conclusão do curso 1 intitulada “A permanência do tecnicismo no ensino de arte nas séries iniciais nas escolas da rede pública na cidade de Inácio Martins”, neste nível de ensino analisando a trajetória de todo o processo educativo e em relação ao trabalho na disciplina de artes, como uma forma de conhecer as metodologias e as concepções que permeiam esse ensino é conhecendo também as tendências pedagógicas. A partir de uma reflexão atenta é possível analisar suas particularidades e projetos político-pedagógicos diferenciados, desenvolvidas em contextos diferentes, porém todas com um objetivo em comum: orientar as ações pedagógicas. O objetivo deste trabalho é demonstrar os princípios do tecnicismo e a sua influência no ensino de arte e como essa pedagogia utiliza seus métodos na preparação para o mercado de trabalho. Para tanto primeiramente será discutido brevemente o contexto brasileiro na época, em seguida será comentado sobre o tecnicismo, abordando como este se processa no ensino da arte, ou seja, a educação artística.

Palavras-chave: arte, tecnicismo, pedagogia, mercado de trabalho.

1Pedagogia da Universidade Estadual do Centro-Oeste, campus de Irati, orientado pela professora Ms. Claudia Maria Petchak Zanlorenzi

INTRODUÇÃO O presente artigo é parte integrante da pesquisa sobre arte e tecnicismo, especificamente nas séries iniciais do Ensino Fundamental. O ensino de arte na educação escolar brasileira ainda é baseado na simples realização de tarefas artísticas e isso recaí no esvaziamento dos conteúdos específicos da área de arte na educação escolar, prioriza-se somente a técnica, não levando em conta que a arte é uma interpretação da vida e vincula-se a fatores, religiosos, sociais, políticos e simbólicos ultrapassando o utilitário, ou seja, a arte está intimamente relacionada a uma época, lugar, estrutura social e a personalidade do artista. Sendo assim, num primeiro momento, será analisado o contexto histórico em que o tecnicismo foi implantado no Brasil, as duras represálias sofridas no campo educacional e a promessa do país tornar-se uma grande potência mundial. Posteriormente será discutido o surgimento do tecnicismo, que teve como principal intuito uma educação mais eficiente para formar indivíduos mais “competentes” e produtivos para o mercado de trabalho. Na escola tecnicista, os elementos curriculares essenciais: objetivos, conteúdos, estratégias, técnicas apresentavam-se interligados, destacando, porém, a própria organização racional e mecânica explicitados em documentos, tais como planos de curso e de aulas visando assim uma mudança no comportamento dos alunos que ao término do curso deveriam corresponder aos objetivos preestabelecidos pelo professor, tudo em sintonia com os interesses da sociedade capitalista. Para finalizar o presente trabalho será analisado o surgimento da educação artística, e a preparação dos professores em relação a esse novo contexto no ensino da arte.

O CONTEXTO BRASILEIRO: APROXIMAÇÕES O Brasil no período em que a Pedagogia Tecnicista se reforçava, vivia um momento histórico - político conhecido como ditadura militar. Para Seriacopi e Azevedo (2007 p.479) “[...] a chegada dos militares ao poder, em 1964, inaugurou um período de intensa repressão e violência no Brasil.” Foi um período onde a liberdade de expressão e todo o tipo de manifestação contrária as ideologias do

exército foram combatidas com extremo abuso de poder, fazendo com que muitos cidadãos brasileiros fossem exilados torturados ou mortos. Esse período foi relatado por Aranha (2006 p.313) da seguinte forma:

Durante vinte anos (de 1964 a 1985) os brasileiros viveram o medo gerado pelo governo do arbítrio e pela ausência do estado de direito, esses anos de chumbo, além do sofrimento dos torturados e ‘desaparecidos’, foram desastrosos para a cultura e a educação. Também provocaram prejuízos econômicos e políticos ao país.

No início o regime militar tinha o apoio dos principais grupos sociais do país, como a classe média a igreja e a própria elite, contando também com um grande aliado: os Estados Unidos que possuía grande interesse no Brasil nessa época. Para Mello e Novais (1998, p.620):

A revolução de 64, ao banir pela violência, as forças de igualitarismo e da democracia, produziu ao longo de seus 21 anos de vigência, uma sociedade deformada e plutocrática, isto é, regida pelos detentores da riqueza.

Segundo Seriacopi e Azevedo (2007), a vida política passou a ser regida por dispositivos autoritários que cerceavam a liberdade, censuravam os meios de comunicação e concentravam o poder nas mãos do governo militar. Em 1967, estudantes, trabalhadores e artistas, além de alguns setores da igreja católica que inicialmente chegaram a apoiar o golpe, intensificaram suas manifestações contra a ditadura. Em 68 as manifestações se multiplicaram e a repressão se fortificou. O auge de tais manifestações ocorreu em junho, 100 mil pessoas saíram pelas ruas do Rio de Janeiro, em manifesto pelo fim da ditadura. Entre os participantes estavam políticos da oposição, intelectuais, religiosos, estudantes e artistas, como Chico Buarque, Milton Nascimento e Gilberto Gil. Inclusive educadores sofreram represálias. Nos primeiros dias do novo regime mais de 1400 funcionários públicos foram afastados de seus cargos, diversos professores universitários aposentados compulsoriamente, sindicatos sofreram intervenção, e a União Nacional dos estudantes, declarada ilegal pelo governo militar, teve sua sede, no rio de janeiro, invadida e incendiada. (SERIACOPI e AZEVEDO, 2007, p.479).

Segundo Ribeiro (1993) foi assim que, a 9 de abril de 1964, a universidade de Brasília foi invadida, professores e alunos foram presos, e demissões a pedido dos próprios professores passam a acontecer em solidariedade aos colegas atingidos pela repressão, o terror político atingiu imediatamente o campo educacional. Ribeiro complementa: Tais acontecimentos evidenciam que, diante do golpe militar de 1964, tornava-se inviável o projeto de reforma universitário que vinha sendo esboçado e defendido teórica e praticamente por expressivos segmentos da população brasileira aquele articulado ao projeto político. (RIBEIRO, 1993, p. 189).

Nessa época muitos artistas foram exilados, pois, suas obras foram consideradas uma afronta ao sistema ditador. Como exemplo, pode-se citar o músico e escritor Caetano Veloso que foi obrigado a exilar-se na Inglaterra em 1969, acusado de desrespeito ao Hino Nacional e a Bandeira do Brasil, na música alegria, alegria lançada em 1967. Caetano retrata um pouco da trajetória de uma sociedade oprimida, mas que lutava para resgatar a sua liberdade:

Caminhando contra o vento Sem lenço e sem documento No sol de quase dezembro Eu vou... O sol se reparte em crimes Espaçonaves, guerrilhas Em cardinales bonitas Eu vou... Em caras de presidentes Em grandes beijos de amor Em dentes, pernas, bandeiras Bomba e Brigitte Bardot... O sol nas bancas de revista Me enche de alegria e preguiça Quem lê tanta notícia Eu vou... [...]

Sendo a música uma das mais belas expressões artísticas, pode-se afirmar que nessa época diante da rigidez do sistema militar, o Brasil acabou atrasando o seu avanço cultural, em relação a essa e a muitas outras

modalidades artísticas. Segundo Seriacopi e Azevedo (2007) esse período conhecido como anos de chumbo também foi chamado de “milagre econômico”, pois a partir de 1967 o produto interno bruto cresceu, a base desse crescimento eram investimentos do governo em obras de infra-estrutura, e expansão do mercado interno e das exportações. Durante o “milagre econômico” foram construídas obras de custos extremamente altos, como a hidrelétrica de Itaipu, a ponte Rio - Niterói e a rodovia transamazônica, que acabou se revelando um grande fracasso. Muitas multinacionais se instalaram no país, utilizando-se de mão de obra barata. As classes

médias

puderam

ter

acesso

aos

bens

como

automóveis,

eletrodomésticos, já as camadas mais pobres sofriam devido ao baixo salário. O governo tratou de explorar positivamente os bons resultados da economia, lançando campanhas para fixar a imagem de um “Brasil grande potência” com slogans como “ninguém segura este país”, ”pra frente Brasil”, ”Brasil: ame-o ou deixe-o”. Nesse contexto, tomando como fonte de referência Seriacopi e Azevedo (2007, p.484) pode-se afirmar que: “A vitória da seleção brasileira de futebol na copa do mundo, realizada em 1970 no México, foi amplamente explorada pelo regime com o intuito de criar uma imagem ufanista entre a população.” É neste contexto fértil que se instala no Brasil, as idéias do tecnicismo, o que será alvo da próxima discussão.

A PEDAGOGIA TECNICISTA: PREPARAÇÃO DE MÂO-DE-OBRA A pedagogia tecnicista surgiu na segunda metade do século XX, nos EUA, e no Brasil em 1960, com predomínio em 1978. As leis 5540/68 (ensino universitário) e 5692/71(ensino de 1º e 2º graus) são marcos da implantação do modelo tecnicista. Segundo Rodrigues (2005 p.27) no Brasil, ela é implementada a partir do governo militar, através dos acordos MEC-USAID. A USAID (United states Agency for International Development), empresa de consultoria norte-americana faz inúmeras pesquisas sobre a educação no Brasil, as quais acabam na implementação dessa tendência através das leis citadas no parágrafo anterior. Os órgãos internacionais, ainda hoje, exercem o papel de complemento

do pouco investimento por parte do governo, e em troca exigem uma política educacional determinada por eles, manipulando assim, a educação e o resultado é uma educação ineficaz que se preocupa mais com a quantidade do que com a qualidade. O golpe de 64, que implantou o regime militar no Brasil, foi o responsável pela disseminação da mentalidade tecnicista no ensino nacional. Foi um tempo duro e de repressão sendo que o tecnicismo serviu para quebrar as resistências das escolas, alunos e professores, tornado-os toleráveis às imposições ideológicas do regime .Um pouco do espírito dessa época pode-se perceber no HINO DA REPRESSÃO ,de Chico Buarque:

Se atiras mendigos No imundo xadrez Com teus inimigos E amigos, talvez A lei tem motivos Pra te confinar Nas grades do teu próprio lar [...]Se manchas as praças Com teus esquadrões Sangrando ativistas Cambistas, turistas, peões A lei abre os olhos A lei tem pudor E espeta o seu próprio inspetor

O objetivo da Tendência Tecnicista era de implementar o modelo empresarial na escola,ou seja, fazer com que os alunos raciocinassem de acordo com o sistema de produção capitalista. Tomando como fonte de referência Saviani (1995) no fim da primeira metade do século atual, a escola nova apresentava sinais visíveis de exaustão. As esperanças depositadas na reforma da escola foram frustrantes, o que causou certa desilusão nos meios educacionais, que acaba por desembocar na eficiência instrumental. Radicalizava-se a preocupação com os métodos pedagógicos. Articulando-se assim, uma nova teoria educacional: a pedagogia tecnicista.

A partir do pressuposto da neutralidade cientifica e inspirada nos

princípios de racionalidade, eficiência e produtividade, essa pedagogia advoga a reordenação do processo educativo de maneira a torná-lo objetivo e operacional. De modo semelhante ao que ocorreu no trabalho fabril, pretende-se a objetivação do trabalho pedagógico. (Saviani, 1995 p.23).

Na visão de Frigotto (1984, p.40) “[...] a educação, é o principal capital humano enquanto é concebida como produtora de trabalho. Neste sentido é um investimento como qualquer outro.”. Pode-se dizer, então, que a escola é meramente uma reprodutora do social, e não é vista como prioridade pelas autoridades, que fazem dela uma espécie de fábrica para construir pessoas, para que estas atuem no mercado de trabalho com eficiência e alienadas ao sistema capitalista. Esse mesmo autor afirma que o processo educativo, escolar ou não, se reduz

à

função

de

produzir

um

conjunto

de

habilidades

intelectuais,

desenvolvimentos de determinadas atitudes, transmissão de um determinado volume de conhecimentos que funcionam como formadores de capacidade de trabalho e produção. Neste sentido a escolarização:

Que influi de maneira considerável sobre a personalidade dos indivíduos, é reduzida progressivamente ao seu papel funcional: ela favorece as condições psicologicamente requeridas para formar força de trabalho alienada que é desejada. (GINTIS apud FRIGOTTO, 1984 p.47).

Verifica-se, portanto, que a escola foi reduzida a uma forma de instrução técnica, centrada na transmissão de conhecimento, visando à preparação de mão de obra barata. Para Frigotto (1984, p.169): A visão tecnicista da educação responde duplamente a ótica economicista de educação veiculada pela teoria do capital humano e constitui-se, a nosso ver numa das formas de desqualificação do processo educativo escolar.

Através da educação se prepara as pessoas para o mercado de trabalho e estas por sua vez têm o seu conhecimento transformado como força de trabalho. Recebe-se uma formação técnica e deixa-se o lado humanista: é a produção do capital humano onde o trabalho torna-se uma forma alienadora da vida do

trabalhador. No entanto, o trabalho que deveria ser visto de maneira prazerosa e como algo necessário para o bem viver, tornou-se alienação do homem pelo próprio homem, e a educação é o principal veículo para inculcar essa ideologia capitalista.

Sendo o local onde se dá (ou deveria dar-se) a educação sistematizada, a escola participa da divisão social do trabalho, objetivando prover os indivíduos de elementos culturais necessários para viver na sociedade a que pertence. (PARO, 1999, p.110).

Evidencia-se, então, que a escola deve preparar o cidadão tal qual a sociedade exige a fim de suprir a demanda do capital. Segundo Martins (1998) a Tendência Tecnicista surge no momento em que a educação é considerada insuficiente para preparar profissionais, tanto de nível médio quanto superior. A tecnologia expandiu-se e o mercado de trabalho não tinha mão de obra qualificada para esse avanço tecnológico.

De início, essa nova modalidade de pensar a educação visava um acréscimo de eficiência da escola, objetivando a preparação de indivíduos mais “competentes” e produtivos conforme a solicitação do mercado de trabalho. [...]. O professor passa a ser considerado como um técnico responsável por um competente planejamento dos cursos escolares (MARTINS, 1998, p.41).

A lei 5692/71 introduz a educação artística no currículo escolar e para Martins (1998, p.41);

Os professores de desenho, música trabalhos manuais, canto coral e artes aplicadas, que vinham atuando segundo os conhecimentos específicos de suas linguagens, viram esses saberes repentinamente transformados em “meras atividades artísticas”.

Os docentes viram-se totalmente perdidos e despreparados para encarar o tecnicismo de maneira adequada segundo as exigências do sistema.

A burocratização do ensino foi intensificada, afogando os professores em papéis nos quais deviam ser detalhados os objetivos de cada passo do programa. Houve interiorização das funções do professor, que se tornou simples executor das ordens vindas do setor de planejamento, a cargo de técnicos em educação que, por sua vez, não pisavam em sala de aula. (ARANHA, 1996, p.177).

Essa mesma autora complementa que nesse período a educação elementar foi bastante abandonada e a reforma do 2º grau, com a implantação do ensino profissionalizante, resultou em absoluto fracasso. Foram incluídas disciplinas técnicas no currículo e por conseqüência excluíram-se outras, (como filosofia, diminuiu-se também a carga horária de algumas como geografia e história. É neste contexto que as aulas de arte tomam um outro sentido, sendo esse ensino reduzido aos seus aspectos técnicos e ao uso de materiais diversificados, na maioria dos casos caracterizando poucos compromissos com o conhecimento de linguagens artísticas. Esse será o foco específico a ser discutido a seguir.

A METODOLOGIA DO ENSINO DE ARTE: EDUCAÇÃO ARTÍSTICA. Em relação ao ensino de arte ocorreram mudanças devido o fortalecimento do tecnicismo, tal disciplina passou ter a nomenclatura de educação artística com o surgimento da lei 5692/71, e passou a ser obrigatória nas escolas. Com relação à Educação Artística, que foi incluída no currículo escolar pela lei 5692/71, houve uma tentativa de melhoria do ensino de Arte na educação escolar, ao incorporar atividades artísticas com ênfase no processo expressivo e criativo dos alunos.com essas características, passou a compor um círculo que propunha valorização da tecnicidade e profissionalização em detrimento da cultura humanística e cientifica predominante nos anos anteriores. Paradoxalmente, a educação artística representava na sua concepção, uma fundamentação de humanidade dentro de uma lei que resultou mais tecnicista. (FERRAZ e FUSARI, 1992, p.15).

As bases teóricas não eram bem fundamentadas, causando assim um forte apego aos livros didáticos que, nos anos 70/80, estavam em pleno auge, apesar de sua discutível qualidade enquanto recurso para o aprimoramento dos conceitos de arte.

Se na escola tradicional a iniciativa cabia ao professor que era, ao mesmo tempo, o sujeito do processo, o elemento decisivo e decisório; se na pedagogia nova a iniciativa desloca-se para o aluno, situando-se o nervo da ação educativa na relação professor-aluno, portanto a relação interpessoal, intersubjetiva; na produção tecnicista, o elemento principal passa a ser a organização racional dos meios, ocupando professor e aluno posição secundária, relegados que são a condição de executores de um processo cuja concepção, planejamento, coordenação e controle ficam a cargo de especialistas supostamente habilitados neutros, objetivos, imparciais. (SAVIANI, 1995, p.24).

Verifica-se que diferente da escola nova onde os recursos didáticos também estavam disponíveis aos professores e esses podiam escolher como os utilizariam, no tecnicismo, o uso de tais recursos torna-se obrigatório por especialistas supostamente habilitados.

Na verdade são professores sem

preparo, sem condição para desempenhar um trabalho em sala de aula com todos os recursos disponíveis e até então desconhecidos. Conforme Iavelberg (2003), o behaviorismo era a base psicológica da proposta tecnicista. Objetivos, estratégias e avaliação eram racionais e mecanizados, visando adequar o comportamento do aluno às normas da escola. Acreditava-se que usando as propostas de Skinner de condicionamento, uso do reforço positivo e negativo, a relação estímulo/resposta fosse mais direta, sem passar pelos esquemas assimilativos do organismo. O ensino passa a ser um processo de condicionamento que visa o controle do comportamento individual face a objetivos preestabelecidos. Iavelberg (2003) diz que por estar diretamente ligada ao sistema produtivo capitalista, a escola tecnicista tinha em vista preparar os indivíduos para o mercado de trabalho. Acreditava-se na neutralidade científica (positivismo) e enfatizava o uso de manuais, módulos, tecnologia educacional e auto-instrução dirigida. Afirma-se então, que o objetivo da educação seria, pois, formar o produtor, o consumidor e a mão-de-obra requerida pela indústria moderna,

integrando-se ao capitalismo internacional. Segundo Kuenzer (1999) na pedagogia tecnicista os conteúdos são repetidos ano após ano de forma linear e fragmentada. O método predominante é o expositivo, combinado com atividades de cópias, pois o mais importante é cumprir a tarefa, tanto para o aluno como para o professor. Não se julga necessário estabelecer uma relação com o mundo do conhecimento, o fundamental nesse trabalho pedagógico é a memorização, acredita-se que só assim ocorre o aprendizado. Diante disso, o livro didático é o verdadeiro responsável pela qualidade do trabalho escolar. A comunicação entre professor e aluno, tem sentido exclusivamente técnico, a fim de garantir a eficácia na transmissão do conhecimento. Pouco importam debates, discussões, questionamentos, assim como relações afetivas e pessoais. Para Iavelberg (2003, p.115) “Aprender a fazer” era uma orientação forte da proposta. O professor era responsável pela eficiência e eficácia do ensino. Seu papel era técnico, neutro e imparcial. O enfoque era diretivo.” Os professores transformaram-se em técnicos treinados para fazer com que os alunos através da escola se adaptassem e fossem considerados trabalhadores competentes e disciplinados, é o homem brasileiro integrado ao projeto de desenvolvimento do país. Os principais representantes teóricos do tecnicismo segundo Feiges (1994) são Skinner, Gagné, Bloom e Cosete Ramos. Segundo a autora, nessa tendência usa-se a concepção analítica, pois não pressupõe uma visão de homem e nem de um sistema filosófico. Também é neopositivista em virtude que o conhecimento é analítico e requer exatidão e clareza. Como relata Feiges (1994) o papel da escola no tecnicismo articula-se com o sistema produtivo para aperfeiçoar o sistema capitalista; formando indivíduos para o mercado de trabalho. Para tanto segue as exigências da sociedade industrial e tecnológica e a escola funciona como modeladora do comportamento humano, pois o aluno é um ser biopsico - social. Na avaliação da escola tecnicista dá-se ênfase na produtividade dos alunos que ocorre no final do processo para verificar se os mesmos alcançaram os objetivos esperados. Com sua prática diluída, eclética e pouco fundamentada, pode-se dizer

que a pedagogia tecnicista não se preocupa com o processo mental do aluno e sim com os resultados obtidos. Busca-se a eficiência e eficácia, a qualidade, a produtividade e a neutralidade na escola, que deve funcionar como uma empresa. Segundo Ferraz e Fusari (1992, p.15) a educação através da arte é, na verdade um movimento educativo e cultural que busca a constituição de um ser humano completo, total dentro dos moldes do pensamento idealista e democrático, valoriza no ser humano os aspectos intelectuais, morais, estéticos, procurando despertar sua consciência individual, em harmonia ao grupo social ao qual está inserido. Pode-se constatar assim que a arte está ligada ao grupo cultural que lhe da origem e não deve ser vista como mera atividade para o desenvolvimento de algumas técnicas. As autoras supracitadas acreditam que a educação artística vinha sendo desenvolvida nas escolas brasileiras de maneira incompleta, e incorretamente, não levando em conta que o processo de aprendizagem e desenvolvimento do educando envolve muitos aspectos, e muitos docentes propunham atividades às vezes totalmente desvinculadas, de um verdadeiro saber artístico. Assim como também a Educação Artística é enfocada de modo abrangente, onde os professores se comprometem com objetivos, que naturalmente caracterizam-se como inatingíveis, convertendo a disciplina em uma pulverização de tópicos, técnicas, ”produtos” artísticos não levando em conta que com isso o verdadeiro sentido da arte acaba sendo empobrecido. Muitos professores e alguns autores passam à impressão que arte é puro trabalho manual desvinculados de qualquer teoria, como se a arte não tivesse uma história que a rodeia. Fato que pode ser verificado nos livros didáticos da época, conforme enxerto abaixo:

Você poderá perceber que neste livro não há história das artes, nem teoria musical, nem geometria. Isso porque estamos mais interessados na formação do que na informação. Ou seja, estamos mais interessados na vivencia do aluno do que na teorização. (AGUIAR, 1980 p.04).

A autora ainda chega ao extremo de evidenciar que por se tratar de um livro de arte de 1º grau, a teoria não é importante porque os alunos não têm idade adequada para compreendê-la.

O que queremos é proporcionar-lhe experiência de diferentes situações, para que ele aprenda a viver em grupos diversos e descubra seu riquíssimo mundo interior, pretendemos, portanto, fazer uma obra formativa, que ajude o aluno a se desenvolver. Num outro livro, e com outra faixa etária, o estudo teórico será estimulado. (AGUIAR, 1980 p.04).

Alguns livros didáticos chegam a ter como introdução à disciplina de educação artística, o método de organização do desenho e do material, deixando claro que o mais importante é a técnica em relação a esse ensino, orientando que com isso o discente será também um bom profissional:

Desenhar e pintar é muito bom. Diverte e estimula. Mas é necessário ter o material adequado para que os trabalhos sejam bem feitos. Providencie este material, e mantenha-o sempre em ordem. Esteja sempre em dia com seus exercícios de desenho e pintura. (XAVIER; AGNER, 1984, p.03).

Nessa obra os autores, apresentam a arte apenas como exercícios, os quais devem estar sempre organizados. As primeiras páginas mostram somente os materiais como: régua, esquadro, transferidor compasso. Percebe-se, então, que a educação artística nada tem de humanista, mais sim como disciplina mecanizada e adestradora e muito mais alienadora. O livro didático de 2º grau, intitulado Desenho Técnico Básico, mostra um conteúdo extremamente técnico, visando a total preparação para o trabalho como se o sistema capitalista tivesse suporte que garantisse trabalho a todos:

Agora no segundo grau, desenho técnico básico vai proporcionar a você um curso especialmente elaborado para facilitar seu estudo e orientá-lo profissionalmente. É fundamental que você tenha espírito criativo e não se limite ás atividades propostas, apresentando sempre trabalhos novos e atraentes. É fundamental também que você procure se expressar com correção e limpeza, qualidades essenciais para quem pretende tornar-se um bom profissional. (XAVIER et al., 1983, p.02).

Como um conteúdo que visa somente à técnica vai despertar a criatividade em seus alunos? E os professores conseguem manifestar a sua própria criatividade artística diante de tais técnicas?Na verdade a arte perdeu o

seu sentido, e ainda hoje desde a educação infantil os docentes ainda tem a visão da arte apenas como técnica, ensino mecanizado e repetitivo, dando ênfase principalmente à pintura, como se esta fosse a única modalidade artística que existe. No entanto, alguns livros didáticos conceituam a educação artística como forma de expressar seus sentimentos captados pelo meio em que vivem, ou seja, seu contexto social e cultural, e quando se abre tal livro o que se encontra são somente técnicas de desenho.

Constituindo um repertório rico em estímulos, as atividades de educação artística não podem ficar ausentes dos trabalhos aplicados a alunos da pré-escola, sobretudo no 1º estagio. É através dos trabalhos de educação artística que a criança consegue expressar seus sentimentos, anseios e impressões que capta do mundo exterior. (NAHUM, [19-], p.04).

Dando continuidade o mesmo autor ainda relata que:

O treino da percepção é muito importante no preparo da criança para aprender a ler, a escrever e a coordenar os movimentos do corpo, pois é através do treino da percepção visual e da auditiva que a criança tornase capaz de associar um som a um sinal gráfico. (NAHUM, [19-], p.04).

Percebe-se que o termo treinar está muito presente na metodologia do ensino da educação artística, esclarecendo que tal ensino veio para reforçar o tecnicismo presente nas escolas, a fim de preparar o aluno para o mercado de trabalho. Uma das questões fundamentais para o ensino da arte, é vê-la como algo construído historicamente, no entanto ainda hoje se percebe que a arte para muitos profissionais da educação, encontra-se desvinculada da teoria como se arte não tivesse história. Diante disso, faz-se necessária aqui uma reflexão para que os educadores saibam que sentido dar à educação, e sobre a sua própria identidade como educador, despertando através da arte o senso crítico dos educandos. Porém ainda hoje o tecnicismo se faz presente e predominante nas aulas de arte. Para finalizar essa discussão, deve-se ficar claro a importância da

contextualização histórica e cultural da produção artística estética da humanidade no processo do ensinar /aprender arte. Faz-se necessário compreender que a escola deve garantir às crianças o direito a esse conhecimento que amplia e aprofunda seu saber artístico, que atualmente se da apenas no fazer arte e na técnica.

REFERÊNCIAS:

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FERRAZ, Maria Heloisa C. T. & FUSARI, Maria F. de R. Arte na Educação Escolar. São Paulo: Cortez, 1992. (coleção magistério 2º grau série formação geral).

FRIGOTTO, Gaudêncio: A produtividade da escola improdutiva: um (re) exame das relações entre educação e estrutura econômico-social e capitalista. 1ª ed. São Paulo: Cortez, 1984.

IAVELBERG, Rosa: Para gostar de aprender arte: sala de aula e formação de professores. Porto Alegre: Artmed, 2003.

PARO, Vitor. H. Parem de preparara para o trabalho!!! Reflexões acerca dos efeitos do neoliberalismo sobre a gestão e o papel da escola básica. In: FERRETI, Celso J. et al. Trabalho, formação e currículo. 1ª Ed. São Paulo: Xamã, 1999.

MARTINS, Miriam C. et al, Didática do ensino da arte. São Paulo: FTD, 1998.

NAHUM, Erdna P. Pré-escola: segundo estágio. Livro do professor. 5ª Ed. São Paulo, Scipicione, s/d.

RIBEIRO, Maria. L. S. História da Educação Brasileira: a organização escolar. 4ªed. São Paulo: Moraes, 1982.

RODRIGUES, A.S. História: livro do professor. 1ª ed. São Paulo: Ática, 2005.

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www.letras.terra.com.br. Acesso em 15 de março de 2009.