Eixo Temático: 1 - Pesquisa, Educação e seus Fundamentos

acabaram se tornando referencia na área de EF como: Valter Bracht, Elenor Kunz, Coletivo de autores etc. Esse importantíssimo movimento,...

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Eixo Temático: 1 - Pesquisa, Educação e seus Fundamentos COMPREENSÕES SOBRE O PAPEL FORMATIVO DO ESPORTE NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR: ELEMENTOS DE SEMIFORMAÇÃO?

Eixo Temático 1 - Pesquisa, Educação e seus Fundamentos;

Resumo: Este texto é o relato de um trabalho de mestrado que tem como objetivo investigar o modo como o esporte vem sendo tratado na formação de professores de Educação Física (EF). Assim sendo, o trabalho dedica-se a uma análise de duas obras que orientam a formação de professores de EF escolhidas a partir do planos de curso das disciplinas ministradas na licenciatura em EF na Universidade Federal de Lavras. Como referencial teórico para a análise utilizou-se das teorizações sobre formação dos autores da Teoria Crítica da Sociedade, principalmente as categorias de análise: Semiformação e Indústria Cultural. Após a análise foi possível apontar, diante dos discursos percebidos, uma negação de uma apropriação crítica do esporte pela EF escolar que sinaliza a necessidade de se repensar o modo como o esporte é vinculado por essa disciplina, uma vez que, esse cenário tem contribuído para o consumo do esporte nos moldes da Indústria Cultural. Palavras-chave: Semiformação, Indústria Cultural, Educação Física Escolar.

1.0 Introdução

Este texto tem como objetivo realizar uma breve exposição da dissertação de mestrado que vem sendo desenvolvida no Programa de Pós Graduação em Educação da Universidade Federal de Lavras em sua modalidade Mestrado Profissional. Assim sendo, o trabalho busca expor dentro das limitações das normas, as reflexões que vem sendo desenvolvidas no decorrer do processo de realização do estudo que se encontra em fase de desenvolvimento. O estudo se propõe a pensar, a partir do referencial da Teoria Crítica da Sociedade, como o esporte vem sendo pensado enquanto elemento formativo nos cursos de licenciatura em Educação Física. Isso por que o esporte esteve historicamente nos debates sobre o que ensinar na Educação Física escolar sendo em alguns momentos tido como única justificativa da existência da EF, enquanto em outros foi renegado totalmente. Assim sendo, e considerando que o debate sobre o papel formativo do esporte na EF escolar segue em aberto, esse trabalho se propõe a fazer uma análise crítica do modo como o esporte vem sendo pensado na formação de professores de EF na contemporaneidade. Como recorte do objeto e a título de elencar as obras a serem analisadas, tomou-se o curso de Licenciatura em EF da Universidade Federal de Lavras. Tal escolha se justifica pela proximidade dos pesquisadores com a instituição. Assim foi realizada uma análise dos planos das disciplinas presentes no Projeto Político Pedagógico (PPP) do curso sendo elencadas as obras que mais se repetem. Em seguida foram escolhidas para análise as seguintes obras: “Educação Física na Escola: implicações para a prática pedagógica”- por ser a que mais se repetiu e “Educação Física na Adolescência: construindo o conhecimento na escola” - que aparece repetidamente além de tratar de um “prolongamento” dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s) que orientam a prática da EF escolar. O texto se divide em três momentos. No primeiro é feita uma discussão sobre a formação a partir do referencial teórico da Escola de Frankfurt, principalmente do pensamento de T. Adorno e C. Türcke. Essa discussão tem como proposta subsidiar a análise que será realizada sobre o material elencado acima que serão expostos no segundo capítulo, juntamente com uma retomada histórica do debate sobre a relação do esporte com a EF escolar. No terceiro capítulo será realizada a análise do material apresentado no capítulo antecedente, tendo como base o referencial da Teoria Crítica apresentado no primeiro capítulo.

2.0 Formação cultural e Semiformação. Falar em formação, e conseqüentemente em educação, requer necessariamente olhar para a estrutura social em que essa formação se materializa. Esse postulado foi muito bem considerado pelos autores de Teoria Crítica da Sociedade que ao teorizar sobre a formação na sociedade contemporânea mantiveram sempre a tensão dialética entre formação e sua relação com a sociedade. Como um exemplo podemos analisar, inicialmente, o texto Educação após Auschwitz (1995), de T. Adorno no qual o filósofo se propõe a pensar uma educação que se contraponha à lógica que permitiu a ascensão do nazismo. Desse modo, Adorno (1995) orienta-se pela possibilidade de efetivação do postulado Kantiano de autonomia, sem desconsiderar, contudo que essa possibilidade se encontra em vias de degradação em uma sociedade onde o indivíduo caminha a passos largos para sua aniquilação. Como exemplo desse indivíduo reificado Adorno cita a transferência da libido para os meios - técnicos e tecnológicos- onde, segundo o filósofo, transparece a “incapacidade de amar” da sociedade capitalista moderna. Esse pressuposto é analisado e aprofundado por um pesquisador contemporâneo da mesma corrente de pensamento. C. Türcke, professor da Universidade de Leipizg, e tido como um dos continuadores da Teoria Crítica da Sociedade, em sua obra “Sociedade e Excitada” e, principalmente, “Filosofia do Sonho”, demonstra como esse “amor pelas máquinas” é acentuado na sociedade contemporânea com a onipresença dos aparatos tecnológicos. Assim sendo, Türcke argumenta que a partir da Revolução Industrial os seres humanos se depararam com um cenário onde as máquinas passaram a materializar algo que foi caro para existência da humanidade- a repetição. Isso porque segundo Türcke a repetição foi essencial no processo de constituição do homo sapiens, bem como para a construção da cultura. O autor demonstra, no entanto, como esse novo cenário oriundo da Revolução Industrial atua sobre a subjetivação humana, colocando os homens se sentem em uma situação de inferioridade quantos aos aparatos. Isso por sua vez, gera uma situação que subjuga os homens e coloca em cheque a capacidade dos mesmos de se apropriarem dos bens culturais historicamente produzidos pela humanidade pois esses são produzidos cada vez mais como mercadorias e veiculados sob a forma de choques audiovisuais por esses aparatos audiovisuais. O autor denuncia assim como as conquistas culturais humanas se encontram em perigo diante da lógica contemporânea, apontando para a necessidade do desenvolvimento de outra maneira de lidarmos com tais choques.

Esse postulado já havia sido desenvolvido por Adorno em outros de seus textos, “Teoria da Semiformação”. Neste ensaio Adorno analisa a situação da formação na sociedade contemporânea, construindo a ideia de crise na formação cultural. Esta crise, para Adorno, diz respeito à conseqüência de uma falsa formação, de uma formação que não se dá de maneira efetiva. Isso porque, para o autor, o que se tem propagado nos dias atuais como avanço no que diz respeito à apropriação cultural dos indivíduos, seria na verdade uma descaracterização do que se entende por formação, devido justamente a não possibilidade de sua efetivação. Nesse sentido, Adorno argumenta que a promessa liberal de formação e emancipação para todos os seres humanos não se cumpriu, tendo restado desse pleito apenas o imperativo para que todos os indivíduos se mantenham formados. Essa situação por sua vez, abre brechas para a atuação da Indústria Cultural que se aproveita do cenário para vender cultura como mercadoria para os consumidores que sentem sobre si tal imperativo. Assim a Indústria Cultural se nutre e perpetua a Semiformação. Isso já havia sido denunciado por Adorno em outro de seus textos, esse em parceria como Max Horkheimer. Um dos mais polêmicos e conhecidos textos do livro “Dialética do Esclarecimento” o capítulo “Indústria Cultural: O esclarecimento como mistificação das massas” é onde os autores cunham o conceito de Indústria Cultural. Com esse conceito os autores buscaram mostrar a inversão da ideia de cultura que passou, no capitalismo tardio, a ser produzida como mercadoria, em escala industrial e distribuída como tal. Desse modo os autores argumentam como esse modo de produzir cultura passa a contribuir na dominação e manutenção da sociedade capitalista tardia, pois mina as possibilidades formativas e questionadoras que a cultura apresentava em nome de um consumo irrefletido. Esse cenário brevemente descrito e que diz respeito à situação dos bens culturais produzidos historicamente pela humanidade pode servir de subsidio para pensarmos o modo como o esporte vem sendo tratado nos dias atuais. Um dos produtos mais lucrativos da Indústria Cultural, o consumo do esporte pelos meios de comunicação tem aumentado significativamente tanto no que diz respeito aos esportes tradicionais quanto aos esportes que aos poucos vem ganhando espaço na mídia, como o Mixed Martials Arts (MMA). Posto isto, o objetivo desse trabalho, é analisar de como o esporte tem sido pensado na formação de professores de EF, e analisar em que medida isso tem contribuído para o consumo do esporte pelos moldes da Indústria Cultural, propagando aspectos que contrariam a ideia de formação cultural e emancipação humana.

3.0 O debate sobre o esporte na EF escolar e sua atualidade. No final dos anos de 1980 o Brasil passava por um período de reabertura democrática com o final da ditadura militar (1964-1985). Isso possibilitou o surgimento de uma série de discussões que haviam sido abafadas em tal período. Na EF o que se viu foi um questionamento do modelo que a disciplina se encontrava sendo que o esporte foi o alvo principal das críticas que acusavam a EF de reproduzir na escola o fenômeno no seu formato de alto rendimento. Tal crítica apareceu de maneiras diferentes várias obras de autores que acabaram se tornando referencia na área de EF como: Valter Bracht, Elenor Kunz, Coletivo de autores etc. Esse importantíssimo movimento, que iniciou na área da EF escolar uma reflexão profunda sobre o papel do esporte na escola, sofreu, contudo algumas críticas. Uma dessas críticas foi o fato de exagerarem na crítica à técnica desconsiderando assim totalmente o esporte como elemento da EF escolar. Contudo, deve-se considerar a importância de tal movimento para a EF escolar, uma vez que ele serve de referência às discussões realizadas a partir dali, pois inaugurou um modo novo de enxergar o fenômeno esportivo. Tais discussões servem de respaldo para as duas obras que serão analisadas nesse trabalho. A primeira dessas obras é denominada “Educação Física na Escola: Implicações para a prática pedagógica.” Escrita coletivamente por 11 autores e organizada por Cristina Darido e Irene Conceição Andrade Rangel a obra é a que mais se repete nos planos de disciplinas do curso analisado. Tendo como pressuposto a ideia de Cultura Corporal de Movimento como eixo de orientação da EF as autoras se propõe a pensar uma educação que tenha como principio as três dimensões do conhecimento: atitudinais, procedimentais e conceituais. Nesse sentido após realizar uma retomada histórica do debate de EF na escola a obra afirma que é necessário se pensar um EF que possa contribuir na autonomia dos alunos. Essa ideia é mantida durante toda obra, sendo admitido que o essencial no processo educativo que o aluno possa aprender a construir autonomamente seus conhecimentos se sentindo como construtor de seu conhecimento. Essa compreensão, de formar os alunos para a autonomia, também norteia o segundo livro analisado. Denominado “Educação Física na Adolescência Construindo o conhecimento na escola”. O livro se trata de uma complementação dos PCN’s do Ensino Médio escrito por Mauro Mattos e Marcos Neira- autores da obra. Assim sendo a obra discute a partir da ideia de aprendizagem significativa e do conceito de “aprender a aprender”, as possibilidades

formativas da EF escolar. Desse modo os autores constroem sua teoria tendo em vista a necessidade de os alunos se aprenderem, a partir dos conteúdos da EF, a aprender sobre a cultura corporal. Ainda desse modo, os autores afirmam que cabe ao professor de EF elaborar atividades que se mostrem interessantes aos alunos, para que esses possam se sentir vontade de participar das aulas, e assim, possam construir seus conhecimentos. Isso acaba por se refletir no modo como é pensado o esporte, que é colocado como algo que deve ser modificado e adequado aos alunos, prezando a participação e “integração” de todos. Além disso, o conteúdo do esporte é tomado como secundário- sendo até negado em alguns momentos- sendo priorizado apenas a forma como ele é vinculado, pois, segundo os autores isso que contribuiria na formação da autonomia dos educandos. Essa breve análise das obras nos permite perceber alguns discursos que orientam as compreensões sobre o processo de ensino aprendizagem na EF escolar e que tem repercussão direta no modo como o esporte é tratado na escola. Assim sendo, serão destacados três posições que se repetem em ambos os discursos e que serão analisadas no terceiro tópico deste texto. São elas: A ideia do “aprender a aprender” que delega ao aluno a responsabilidade por construir seu conhecimento; A concepção de que a educação tem que se adaptar às necessidades e interesses dos alunos; O postulado de que o professor deve adaptar os objetos para que eles fiquem acessíveis aos alunos. 4.0 Algumas reflexões sobre esporte e (semi) formação. Ao analisar as obras escolhidas foi possível destacar ao menos três ideias que perpassam e se repetem em ambos os textos. Essas ideias foram acima expostas e serão agora analisas à luz do referencial da Teoria Crítica da Sociedade. A primeira ideia a ser analisada é a concepção de autonomia que delega ao professor a função de criar no aluno a capacidade de “aprender a aprender”. Esse postulado, advindo das idéias construtivistas, acaba por individualizar a responsabilidade pelo conhecimento, deliberando somente ao aluno a função de construir seus conhecimentos, sendo enfraquecido o papel do professor como autoridade pedagógica. Essa postura considera ainda que o importante é que o aluno aprenda a aprender coisas novas, e não necessariamente se aproprie dos conteúdos propostos, o que acaba por se materializar em uma desconsideração da importância do objeto para o ato de aprender. Ou seja, é dada mais importância à forma como o aluno aprende do que ao conteúdo em questão. Essa função de fazer os alunos se tornarem eternos aprendizes coaduna com a lógica

capitalista neoliberal, que necessita de trabalhadores flexíveis e que se adaptem rapidamente a instabilidade do mercado cada vez mais instável. Essa desvalorização do conteúdo- e conseqüentemente do esporte- também se materializa na ideia de que os professores devem trabalhar os conteúdos que atendam às necessidades dos alunos. Esse discurso acaba por dar aos conteúdos uma pretensa característica de utilitarismo imediato, - que também atende às necessidades do mercado neoliberal- o que conseqüentemente acaba por usurpar das aulas conteúdos que não atendam essa necessidade imediata. Isso tem como repercussão a negação de muitos conteúdos- e práticas esportivasque poderiam se materializar em uma formação cultural essa entendida como proposto por Adorno: o contato com os bens historicamente produzidos pela humanidade. Tal postura contribui para entregar os educandos à um consumo irrefletido de alguns produtos esportivos nos moldes da Indústria Cultural, pois se eles não encontram nas aulas de EF chance de se apropriar criticamente de tais bens culturais, a Industria Cultural os apresentará mastigados e palatáveis para serem consumidos irrefletidamente, como já havia apontado T. Adorno. Por fim, o terceiro ponto destacado diz respeito à orientação para que os professores adaptem os conteúdos a necessidade dos alunos. Essa questão- de adaptar os objetos aos sujeitos- foi muito bem discutida e argumentada por Adorno (1985). O autor explanou como nessa postura resplandece uma característica da Semiformação, uma vez que, quando se postula isso acaba por se esquecer um dos fundamentos da formação: a modificação do sujeito pelo objeto. Quando se adapta o objeto ao sujeito, tem-se exatamente o contrário: uma modificação do objeto para o sujeito. Essa questão repercute diretamente no modo como o esporte tem sido tratado na escola, pois, afirma-se que para sua vinculação nesse ambiente o esporte deve ser readaptado de acordo com as características do contexto, além de se postular um esporte que permita a integração e cooperação de todos os praticantes. Tal postura remete assim, a uma descaracterização do esporte enquanto bem cultural e, portanto, limita também as possibilidades de uma apropriação crítica do mesmo, uma vez que, o que se apresenta nas aulas de EF é na verdade um sucedâneo do esporte e não a possibilidade de apropriação do mesmo enquanto construção cultural. 5. Considerações Finais Este trabalho, ainda em andamento, busca refletir sobre o modo como o esporte vem sendo tratado pela EF escolar. Partindo do pressuposto da necessidade de uma educação crítica no que diz respeito ao esporte-entendido com uma prática cultural humana- tendo em

vista formar sujeitos que possam se opor aos mecanismos de dominação da Indústria Cultural. Assim sendo, ao analisar os materiais que orientam a formação do professor de EF podemos visualizar aspectos que caminham mais para uma situação de Semiformação no que diz respeito aos esportes do que para uma possibilidade emancipatória. Desse modo o argumento aqui desenvolvido aponta para a necessidade de se repensar o modo como o esporte é tratado no que diz respeito a formação humana, uma vez que, o modo como isso tem se dado tem contribuído para a formação de consumidores da Indústria Cultural, que por sua vez estão entregues ao processo de dominação capitalista.

Referências Bibliográficas: ADORNO, Theodor, Educação após Auschwitz. In: Educação e Emancipação. Rio de Janeiro: Paz e Terra. 1995, pp. 119-154 ADORNO, Theodor. Teoria da Semiformação. In: Teoria crítica e inconformismo: novas perspectivas de pesquisa / Bruno Pucci, Antônio A. S. Zuin, Luiz A. Calmon Nabuco Lastória (orgs.). -Campinas, SP: Autores Associados, 2010. - (Coleção educação contemporânea). ADORNO, Theodor; HORKHEIMER, Max, Dialética do Esclarecimento: fragmentos filosóficos. Tradução: Guido Antônio de Almeida- Rio de Janeiro. Zahar, 1985 DARIDO, Suraya Cristina; RANGEL, Irene Conceição Andrade; Educação Física na Escola:Implicações na prática pedagógica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008. MATTOS, Mauro Gomes de; NEIRA,Marcos Garcia, Educação Física na Adolescencia: Construindo conhecimento na escola. São Paulo Phorte 2008. TÜRCKE, Cristoph. Sociedade Excitada: Filosofia da Sensação, Editora Unicamp, Tradução: Antonio A. Zuin, Fabio A. Durão, Francisco C. Fontanela, Mario Frungillo. 2009 TÜRCKE,Cristoph. Filosofia do Sonho, Editora Unijuí, Tradução:Paulo Rudi Schneider, 2010.