História e Fotografia: A fotografia como fonte historiográfica no registro das transformações das paisagens urbanas – Morro Dois Irmãos no Rio de Janeiro/RJ
André Luiz Reis Mattos (∗) Resumo Descrevendo as impressões iniciais dos estudos desenvolvidos até o presente momento no meu projeto de mestrado sobre História e Fotografia, este artigo é uma incursão pela história e pela memória visual da cidade do Rio de Janeiro, especificadamente da Praia do Leblon, com destaque para o Morro Dois Irmãos. Utilizando das fotografias como fontes historiográficas, registro as mudanças ocorridas nos espaços físicos e nas estruturas arquitetônicas das paisagens urbanas, que no transcurso do século XX sofreram alterações em decorrência de movimentos econômicos, sociais e políticos. As fotografias são fragmentos de tempos históricos diferenciados e sucessivos, que num processo de comparação das imagens, permite-nos visualizar as transformações da referida paisagem urbana.
História – Fotografia - Memória Summary Describing the initial impressions of studies to date on my master's thesis project about history and photography, this article is an excursion into the history and visual memory of Rio de Janeiro, specifically from Leblon, with emphasis on the Hill Two Brothers. Using the photographs as historiographical sources, record the changes in physical spaces and the architectural structures of urban landscapes, which in the course of the twentieth century have changed as a result of economic movements, social and political. The photographs are fragments of different historical times and successive, that a process of comparing images, allows us to visualize the transformation of this urban landscape. History – Photographical - Memory
∗ Mestrando em História Cultural pela Universidade Severino Sombra – Vassouras/RJ
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Quais documentos poderiam dar visibilidade e divulgar para as gerações futuras os referenciais urbanos fundamentais para a perpetuação dos monumentos arquitetônicos e para a compreensão destes, se no processo de urbanização, essencialmente definido pela organização dos espaços sociais, aqueles desaparecem literalmente nas ações de transformação da paisagem? A História como ciência social e cultural, através do historiador no seu fazer e conhecer realidades do passado e do presente, no procedimento de descobrir e tornar permanente a memória humana, não pode prescindir da aceitação da diversificação dos fragmentos/documentos
históricos,
conforme
sinaliza
as
escolas
historiográficas
contemporâneas. Entre as fontes historiográficas modernamente assim consideradas, entendo que os registros fotográficos revelam-se de pertinaz importância por permitirem a observação cuidadosa das rupturas, continuidades e sobreposições arrastadas no âmbito das alterações urbanas, sociais e culturais; sendo possível compreender estes processos pelo papel de perpetuação dos fatos e tempos históricos, que primordialmente o material fotográfico disponível, concede-nos. Quanto à memória urbana, esta tem se dissipado enquanto perduram as identificações do moderno e do progresso, em obras que privilegiam a construção de uma outra paisagem física em substituição àquelas que representam as exterioridades marcadamente coloniais, relacionadas à imagem do atraso e da ausência de normalizações civilizadoras de uma sociedade então considerada inadequada para os padrões modernos. Mas a construção dos espaços físicos com esta identificação não atende a todo núcleo social urbano, ocorrendo em bolsões periféricos uma clara oposição a esse estado. Com a concentração populacional ocorrendo determinantemente nas grandes e médias cidades brasileiras num período inicial compreendido pelo primeiro quarto do século XX, muitos são afastados dos centros urbanos atendidos prioritariamente pela modernização desses espaços. Com o processo de favelização são demarcados limites de territorialidades sociais, criando-se oposições entre o centro e a periferia, mesmo quando esta não se encontra afastada destes espaços, como ocorre com a Favela do Vidigal, exemplo neste artigo apresentado.
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Considerando que “o que a fotografia reproduz ao infinito só ocorreu uma vez: ela repete mecanicamente o que nunca mais poderá repetir-se existencialmente” (Barthes, 2008:13), avalio que este registro, principalmente as que gravam transformações na paisagem urbana, apresenta-se como fonte historiográfica capaz de colaborar com as diversas ciências sociais no resgate, compreensão e perpetuação dos fatos históricos. Meu atual projeto de mestrado, considerando os pressupostos relacionados, é uma extensão dos realizados para a formulação de monografia da Graduação em História pela Universidade de Uberaba/UNIUBE, tendo as pesquisas iniciais realizadas com base nos seguintes autores: Peter Burke em sua obra “Testemunha Ocular – História e Imagem”; Boris Kossoy no livro “Fotografia e História” e Maria Eliza Linhares Borges na obra de sua lavra, “História e Fotografia”, além de textos pesquisados na internet. Sob a orientação da Drª Ana Maria Dietrich (∗), amplio este leque, começando a conhecer e estudar Martine Joly no seu livro “Introdução à Análise da Imagem”, que está me conduzindo a apreciar o pensamento conceitual sobre imagens e suas interpretações de Charles Sanders Peirce; Philippe Dubois na obra “O Ato Fotográfico”, além de reencontrar Kossoy no seu livro “Realidades e Ficções na Trama Fotográfica.” Sempre admirei as fotografias antigas. Julgo, hoje,
Fotografia 1
que há algo de “mágico” em cada uma daquelas que me levavam a um ambiente diferente, há um tempo anterior e a uma realidade que eu não experimentei. Entre tantas que pude observar das guardadas pelo meu pai, a que registra a Fazenda Capoeirinha, localizada em Chiador/MG sempre me chamou muito a atenção, e por isso, após o seu desencarne, solicitei à minha mãe ter a sua posse. Esta fazenda pertencia aos bisavós do meu pai, Marcelino José da Costa e Maria Cherobina de Castro Mattos, não tendo hoje o registro da data em que ela foi reproduzida. A mesma me fascina, porque além de uma visão parcial da sede da fazenda, temos, mesmo que não mais com tanta clareza, “o fragmento congelado de uma realidade passada” (Kossoy. 2003: 37). Uma realidade que reproduz não só a localidade, mas indivíduos formadores de uma pequena comunidade; sim, pessoas e suas reminiscências, possíveis de serem desvendadas, mesmo que parcialmente, ao analisar-se o ontem com os ∗ Ana Maria Dietrich. Doutora em História pela USP. Desenvolve atualmente o Pós-Doutorado em Sociologia na UNICAMP com o projeto Traumas de guerra na contemporaneidade.
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“olhos” dos conhecimentos históricos de hoje. Na seqüência de sua afirmativa, Boris Kossoy ainda referindo-se a esta fragmentação da realidade, traduz em conceitos o que eu sempre percebi diante desta ou de outras fotografias similares: “(...) o congelamento do gesto e da paisagem, (e porque não dizer, das individualidades) e, portanto a perpetuação de um momento, em outras palavras, da memória: memória do indivíduo, da comunidade, dos costumes, do fato social, da paisagem urbana, da natureza. A cena registrada na imagem não se repetirá jamais. O momento vivido, congelado pelo registro fotográfico, é irreversível”. (Kossoy. 2003: 155)
Ante esta perspectiva, encontrei-me sempre bastante apaixonado por todas as questões e possibilidades que este registro histórico apresenta como fonte, documento e elemento privilegiado para uma aproximação entre fragmentos do tempo histórico permitindo a perpetuação de um momento difícil de ser resgatado com precisão. Entendo que as respostas a tantas indagações que ainda hoje permanecem entre os historiadores, estão muito atreladas ao olhar que dirigimos a esta fonte, à relevância concedida e à maneira como a usamos na construção dos fatos históricos. Estudos sobre as imagens e suas interpretações, ou quanto ao “tratamento” a ser considerado a fotografia como documento/monumento/representação, são realizados pelos autores relacionados acima, objetivando perceber, conforme afirma Kossoy, “em que medida essas fontes têm se prestado para registrar e direcionar nossa compreensão sobre os fatos históricos.” (Kossoy. 2009:13) Dos diversos “ângulos” possíveis para o estudo da fotografia, proponho neste, considerar que a...: “... fotografia é memória e com ela se confunde. Fonte inesgotável de informação e emoção. Memória visual do mundo físico e natural, da vida individual e social. Registro que cristaliza, enquanto dura, a imagem – escolhida e refletida – de uma ínfima porção de espaço do mundo exterior.” (Kossoy. 2003: 156)
Esta possibilidade intrínseca a fotografia, fragmento perpetuável de uma paisagem passível de transformação pelas mãos humanas, permite-nos, pelo menos, visualizar as mudanças ocorridas em determinado espaço físico, ao se comparar fragmentos extraídos em tempos históricos distintos, fundamental aos historiadores urbanos que elegem “a cidade como artefato.” (Burke. 2001:103) É importante registrar que a fotografia em si, como as demais fontes historiográficas, não são a história, nem testemunhas isoladas dos fatos históricos, não é explicativa por si mesma, mas confirmadora de mudanças ocorridas ao longo de um período. 5
Kossoy afirma que “assim como as demais fontes de informação históricas, as fotografias não podem ser aceitas imediatamente como espelhos fieis dos fatos.” (Kossoy. 2009:22) Tenho consciência da necessidade de contextualização destas e das representações possíveis nas suas interpretações, mas quanto ao registro das variações das paisagens, observadas as possibilidades de manipulação da imagem, entendo ser aceitável conceder a prerrogativa de representação do real. No processo comparativo, utilizando de fotografias que privilegiaram ângulos e aproximações da paisagem idênticas ou aproximadas, esta constatação se faz mais evidente. Fotografia 2
Recebo de amigos e colegas de profissão, fotografias das mais diversas, relacionadas ou não com o projeto de mestrado. Há pouco tempo, registros fotográficos antigos da cidade do Rio de Janeiro,
chegaram-me
infelizmente,
sem
as as
mãos, anotações
importantes quanto ao autor ou autores das mesmas, o instrumento fotográfico utilizado, a data da reprodução e etc. Diante da fotografia 2, apontamento tirado da Praia de Ipanema, que permite visualizar a Praia do Leblon e ao fundo o Morro Dois Irmãos, busquei um exercício realizado sem muitas pretensões, de encontrar outra fotografia, que registra-se preferencialmente o mesmo ângulo ou aproximado, permitindo uma comparação entre ambas, e desta forma, a representação das transformações ocorridas ao longo do tempo. Assim encontrei os registros que exponho a seguir. Conforme informado em vários Fotografia 3
sites na internet, o Morro Dois Irmãos esta localizado no bairro do Leblon, Zona Sul da
cidade,
dividindo
Leblon
e
São
Conrado. O bairro e a praia do Leblon compartilham sua costa com os bairros e praias de Ipanema e Arpoador, ocupando esta a faixa final dessa costa, e estendendose aproximadamente por quase 1 km. No
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final deste trecho da costa do Rio de Janeiro, temos sempre visível e registrado nas fotografias, o "Morro Dois Irmãos", denominado desta maneira por ter dois picos similares. Numa breve avaliação entre as fotografias 2 e 3, perceberemos transformações no espaço urbano, mas restrita ainda as construções na orla da praia do Leblon, na Avenida Delfim Moreira. “O papel da fotografia é conservar o traço do passado ou auxiliar as ciências em seu esforço para uma melhor apresentação da realidade do mundo.” (Dubois.2009:30) Ao considerar o uso das imagens no processo de reconstrução da cultura material do passado Peter Burke afirma que: “Imagens são especialmente valiosas na reconstrução da cultura cotidiana de pessoas comuns, suas formas de habitação, por exemplo, algumas vezes construídas com materiais que não eram destinados a durar... Quando a Associação Nacional de Registro Fotográfico foi fundada na Inglaterra em 1897, para fazer fotografias e coleciona-las no Museu Britânico, os fundadores da entidade pensavam especialmente em registros de prédios e outras formas tradicionais da cultura material.” (Burke. 2001:99)
Mesmo que reproduzida a fotografia 4 numa posição mais aproximada do que a da fotografia 2, na comparação entre ambas e Fotografia 4
também com a fotografia 3, é possível identificar as mudanças ocorridas na paisagem entre três tempos históricos distintos. À direita observamse edifícios mais elevados, maior concentração urbana que se estende a base do Morro Dois Irmãos até o Hotel Sheraton, um dos cinco estrelas mais luxuosos da cidade, com sua construção iniciada em 1968.
A principal constatação que podemos fazer é a presença à esquerda, na fotografia 4, da Favela do Vidigal, permitindo-nos constatar que este processo de urbanização ocorre após a realização das fotografias 2 e 3. Realizando uma breve pesquisa, podemos assim resumir a história desse núcleo social: “O nome Vidigal era sinônimo de poder no Rio de Janeiro do Primeiro Império (1822-1831). O major de milícias e cavaleiro da Ordem Imperial do Cruzeiro, Miguel Nunes Vidigal, por exemplo, foi um dos homens mais influentes da cidade no século XIX. Por causa disso, recebeu presentes diversos ao longo da vida. Alguns deles bem valiosos, como o enorme terreno aos pés do Morro Dois Irmãos, exatamente onde hoje existe a favela. O major recebeu o agrado de monges beneditinos por volta de 1820. Daí a origem do nome Vidigal, que batizou primeiro a praia e depois a favela. O terreno ficou em mãos de herdeiros do major Vidigal até 1886, quando foi comprado pelo engenheiro João Dantas. Seu sonho era construir ali o ponto de partida de uma linha férrea que seguiria até o litoral sul fluminense. João Dantas gastou todo seu
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patrimônio na empreitada, que no final acabou não virando realidade, mas serviu como base para a construção da atual Avenida Niemeyer, que liga os bairros do Leblon e São Conrado. Os primeiros barracos do Vidigal começaram a ser construídos na década de 40. No início, a comunidade era conhecida como Favela da Rampa da Avenida Niemeyer. A explosão demográfica no local aconteceu nos anos 60 junto com a urbanização dos bairros do Leblon e Ipanema.” 1
Percebe-se então de forma simplificada, que utilizado em “parceria” com outras fontes históricas, a fotografia consente uma leitura sobre as intervenções humanas nos espaços urbanos, as realizações materiais na paisagem; possibilitando a expressão do imaginário social, político e econômico dos sujeitos pertencentes e realizadores da história deste núcleo observado, consentindo a divulgação e preservação de uma memória cultural da cidade. Este processo se repete mesmo quando utilizamos de fotografias com espaço temporal menor, vejamos o exemplo das fotografias 5 e 6 a seguir, ainda utilizando de registros fotográficos deste mesmo núcleo urbano. Existe uma diferença na paisagem entre as
Fotografia 5
fotografias 5 e 6, que meu filho de 8 anos, identificou de pronto: a presença de maior número de árvores na encosta do Morro que se apresenta do centro para a direita; o que também se percebe comparando a 4 com a 5. As duas últimas se encontram no mesmo site, com o seguinte texto:
Fotografia 6
“Projetos e Programa Resultados O sucesso do Programa pode ser avaliado tanto nas áreas reflorestadas como em seu entorno. O reflorestamento,
quando
realizadas
em
encostas,
promove a estabilização do solo e a redução da erosão garantindo uma maior segurança a população contra os riscos de deslizamentos e rolamento de blocos rochosos, além da redução na quantidade de sedimentos provenientes dessas áreas que causam a obstrução da
1 Extraído do site: http://www.favelatemmemoria.com.br/publique/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=36&sid=3. Acesso em 2010. Sem informação de autoria.
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rede de drenagem e o assoreamento dos rios e canais. A melhoria da qualidade de vida com a criação de áreas de lazer e a conscientização das comunidades para a importância das áreas verdes garantem a inibição do processo de expansão destas sobre as áreas de risco ou de proteção ambiental adjacentes. Além desses, a geração de renda, o treinamento e a qualificação de mão-de-obra nas comunidades carentes são outros resultados diretos do Programa Mutirão Reflorestamento. Ao longo dos últimos 15 anos, o Programa Mutirão Reflorestamento promoveu o reflorestamento de aproximadamente 1.400 hectares3 através do plantio de 3.188.000 mudas nativas da Mata Atlântica, frutíferas e leguminosas de rápido crescimento. Atualmente, trabalham no Programa 799 pessoas em 54 frentes de reflorestamento, na produção de mudas e na coleta e beneficiamento de sementes. Dos projetos de reflorestamento citados, 27 projetos já foram concluídos5 (área total de 240,9 hectares) e 29 projetos encontram-se em fase de manutenção (área total de 538,1 hectares)...” (2)
Uma das dificuldades que encontramos nas pesquisas é a falta de informação quanto aos autores das fotografias, o instrumento fotográfico utilizado e o ano da sua realização. Outro aspecto evidente e que ocorre comumente é que as fotos foram utilizadas como meras ilustrações, apenas a 5 e a 6 estão presentes como forma de constatar/registrar o resultado do programa de reflorestamento realizado. Quais as motivações para os processos de transformação desta paisagem urbana? Como ocorreram e por quais sujeitos históricos se configuraram estas mudanças? Questões como estas e outras pertinentes a este fato histórico, terão respostas em pesquisas e com a utilização também de outras fontes históricas, permitindo a sua construção historiográfica. E a fotografia tem parcela considerável para a escrita da história, notadamente no exemplo neste artigo, com suas representações e possibilidades de perpetuação de uma memória individual ou coletiva. Citado por Dubois, Baudelaire, reservando a cada prática – arte (pintura) e fotografia -, seu campo próprio, sobre esta última afirma: “... que seja finalmente a secretária e o caderno de notas de alguém que tenha necessidade em sua profissão de uma exatidão material absoluta, até aqui não existe nada melhor. Que salve do esquecimento as ruínas oscilantes, os livros, as estampas e os manuscritos que o tempo devora, as coisas preciosas cuja forma desaparecerá e que necessitam de um lugar nos arquivos de nossa memória, seremos gratos a ela e iremos aplaudi-la” (Dubois. 2009:29) 2 Sem informação de autoria. http://www0.rio.rj.gov.br/smac/mostra_subnoticia.php?not=PEP&codnot=38&cod_sub_not=16. Acesso em 2010.
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No seu nascedouro, quais as fotografias ocorreram com a consciência de se registrar e perpetuar o espaço físico, seus modelos arquitetônicos, as motivações e objetivos de sua construção? Quais foram frutos de fotógrafos que apenas se “deliciavam” com a beleza de uma paisagem aproveitando para tornar sempre presente aquele lugar em sua memória, dividindo este prazer com outras pessoas? Apenas com estas indagações percebemos o quanto à fotografia não deverá apresentarse sozinha para que o historiador reconstrua o passado, mas sem dúvida, não podemos desprezar seu potencial como “fontes insubstituíveis para a reconstituição histórica dos cenários, das memórias de vida (individuais e coletivas), de fatos do passado centenário, como dos mais recentes.” (Kossoy. 2009:133) Quanto a Fotografia 1, já iniciei algumas anotações que pretendo transformar em artigo, e faço com muita empolgação e paixão, tendo em vista a importância desta imagem para a minha família. Neste registro, onde se encontram individualidades em delimitações de uma hierarquia social bem clara, uma “segunda realidade” com certeza será construída, pois algumas das representações que os conhecimentos da história social e cultural permitem-me na atualidade formular, provavelmente não se faziam presentes no consciente individual ou coletivo daquelas pessoas. Para finalizar uma pequena homenagem ao espaço urbano que aqui serviu para as nossas reflexões, na composição intitulada “Morro Dois Irmãos” de Chico Buarque de Holanda que na interpretação de Adriana Calcanhoto alcança um patamar de rara beleza. “Dois Irmãos, quando vai alta a madrugada E a teus pés vão-se encostar os intrumentos Aprendi a respeitar tua prumada E desconfiar do teu silêncio
Penso ouvir a pulsação atravessada Do que foi e o que será noutra existência É assim como se a rocha dilatada Fosse uma concentração de tempos É assim como se o ritmo do nada Fosse, sim, todos os ritmos por dentro
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Ou, então, como um música parada Sobre um montanha em movimento.” (3)
Relação das Fotografias Fotografia 1: Arquivo de André Mattos. Fazenda Cachoeirinha, Chiador/MG. Fotografia 2: Tirada no ano de 1950 no trecho da Praia de Ipanema, permite visualizar a direita construções no bairro Leblon, sem grandes edifícios e no Morro Dois Irmãos extensões consideráveis de mata, sem a presença de transformações marcantes, ocorridas pela intervenção humana neste espaço. Seria possível determinar o período deste ano em que a fotografia foi reproduzida, pela presença de nuvens de tempestade que parecem formadas no continente? Fotografia 3: Retrata a Av Delfim Moreira, tem ao fundo a esquerda o Morro Dois Irmãos,
pode ser encontrada no site http://leblon.com.br/av-delfi.shtml. Não existe
informação sobre a fotografia, mas pelas construções podemos identificar como realizada anteriormente a fotografia 2. Observa-se mais nitidamente nos morros uma paisagem com camadas densas de mata tropical. Fotografia 4: Fotografia colorida, reproduzida 58 anos após a fotografia 2, permitenos observar transformações de ordem urbana na paisagem, demonstrando a intervenção do homem neste processo. Este registro foi localizado por busca no site www.google.com.br, foi reproduzida por Céfas de Sá Lira em 13 de Maio de 2008, encontrando-se disponível no site: http://www.baixaki.com.br/papel-de-parede/22848-praia-de-ipanema-rio-de-janeiro.htm Fotografias 5 e 6: Sem informação do seu(s) autor(es) podem ser localizadas no site: http://www0.rio.rj.gov.br/smac/mostra_subnoticia.php?not=PEP&codnot=38&cod_sub_not= 16.
3 Letra extraida do site: http://letras.terra.com.br/adriana-calcanhotto/87102/. Acesso em 2010.
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Bibliografia: Kossoy, Borris. “Fotografia e História”. São Paulo, Ateliê Editora, 2ª Edição, 1ª Reimpressão. 2003. Kossoy, Borrys. “Realidades e Ficções na Trama Fotográfica”. São Paulo. Ateliê Editorial. 4ª Edição. 2009. Dubois, Philippe. “O Ato Fotográfico”. São Paulo. Papirus Editora. 12ª Edição, 2009. Barthes, Roland. “A Câmara Clara”. Rio de Janeiro. Editora Nova Fronteira. 2008. Burke, Peter. “Testemunha Ocular. História e Imagem.” São Paulo. EDUSC. 2001.
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