Manuelzão e Miguilim
Professor Antônio Sanseverino (Ufrgs)
Esboço biográfico (1908-1967) - Rebelde (1932) - Médico (atua no interior de Minas até 1934) - Diplomata (destacar atuação de 1938-42 na Alemanha, durante a II Guerra) - Mineiro: forte vínculo com o universo interiorano de Minas, com o Sertão, tanto no que diz respeito à natureza, quanto a sua população.
Corpo de baile (1956) Gerais (romance) - Campo Geral (Sol / apolo – Seu Aristeu) - A estória de Lélio e Lina - Dão-lalão - Buriti Parábase (contos) -Uma estória de amor (Júpiter / Soberba – Manuelzão - Recado do morro - Cara de Bronze
Manuelzão e Miguilim 1- Campo Geral – Miguilim - Infância: aprendizado e iniciação do mundo 2- Uma estória de amor (a festa de Manuelzão) – Manuelzão - Velhice: próximo da morte (contemplação da vida realizada)
Paisagens do Sertão
Campo Geral (1) 1- Personagem central – Miguilim 2- O tempo da estória está posto entre duas viagens - retorno da Crisma com Tio Terez (7 anos) - Partida com Dr. José Lourenço (8 anos)
3- Local: Mutum (em ponto remoto, no meio dos Campos gerais)
Campo Geral (2) Síntese dos principais momentos • Retorno da viagem com Tio Terez (crisma) • Dito avisa da briga da mãe (Nhãnina) e do pai (Nhô Bero), por causa do Tio Terez; castigo sofrido. • Expulsão de Tio Terez pela Vovó Izidra (ciúmes do Pai) • Declarado doente, Miguilim faz um pacto com Deus (prazo de dez dias). Ao final, decide ficar deitado para esperar a morte ou a vida. Seo Aristeo declara que ele está bem e que vai ter longa vida.
Campo Geral (3) • Ajuda o pai, levando comida na hora do almoço. Encontro com Tio Terez (dilema do bilhete enviado para Nhanina). O que fazer? Entra em cena Luisaltino. • - Na ausência do Pai e de Vovó Izidra, por causa da morte de Patori, o resto da família vive o “dia mais bonito de todos”. - Vale observar que Miguilim vê a Mãe (Nhaninha) conversando com Luisaltino. Ele não descreve a traição, deixa ao leitor que tire suas conclusões.
• Corte no pé, doença e morte de Dito. Perto da morte, Dito chama Miguilim para perto de si e diz que “a gente pode fizer sempre alegre, alegre, mesmo com toda coisa ruim que acontece acontecendo” • O pai diz que Miguilim deveria ter morrido no lugar do irmão. • Sofrimento de Miguilim, dificuldade de superar o luto. Passa a ajudar o pai na roça.
Campo Geral (4) • Uma vez, depois do trabalho, o Pai diz para Nhanina, na frente de Miguilim, que “menino bom era o Dito, que Deus tinha levado para si, era mulito melhor tivesse levado Miguilim em vez d´o Dito.” • Briga com o irmão mais velho, Liovaldo. Surra dada pelo pai. • - Miguilim passa alguns dias com o vaqueiro Salúz. Na volta não toma bênção do pai, que solta todos os seus pássaros das gaiolas. • Novamente doente. Pai mata Luisaltino e comete suicídio. • Recupera-se depois da visita de Seo Aristeo, que lhe ensina a mesma mensagem de Dito: “Miguilim, carece de ficar alegre. Tristeza é agouria...” • Recebe os óculos e vê o mundo com uma nitidez aguda. Esforço para guardar todos na sua memória e, com oito anos, parte do Mutum em outra viagem
Campo Geral (5)/ questões finais •
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História de uma iniciação: formação de uma criança (doença, sofrimento, luto, confronto com o pai, surra...); descoberta do valor da reza para enfrentar dificuldades); dilema moral sobre a correção do agir; visão do mundo... Seo Aristeo ensina que é necessário permanecer sempre alegre (tal como Dito havia falado) Narrador onisciente: Pelos olhos de Miguilim, pelos olhos da criança (crise do pai e da mãe) – uma história não contada diretamente (do mundo dos adultos) que a criança vê e sofre, e que pode ser inferida pelo leitor. No centro: a infidelidade de Nhanina. Isolamento rural: no meio do Sertão.
Manuelzão, guia de Guimarães Rosa
Manuelzão, guia de Guimarães Rosa
Uma estória de amor (1) 1- Personagem central – Manuelzão - 60 anos, vaqueiro, “voz de comandar mil bois”... - Estabilidade: família junto de si (mãe, o filho, a nora, os netos)
2- Tema central: valor da estória / eficácia simbólica - Festa de consagração da capela
3- Local: Samarra Naquele lugar – nem fazenda, só um reposto, um currais-de-gado, pobre e novo ali entre o Rio e a Serra-dos-Gerais, onde o cheiro dos bois apenas começava a corrigir o ar áspero das ervas e árvores do campo-cerrado, e, nos matos, manhã e noite, os grandes macacos roncavam como engenho-de-pau moendo.
Uma estória de amor (2) Síntese dos principais momentos: andamento alternado entre acontecimentos da festa e recordações e reflexões de Manuelzão.
• - De certo modo, podemos dizer que existem as ações de Manuelzão, a consagração do poder de quem ascendeu de posição pelo trabalho contínuo. Ele supervisiona cada momento da festa. Nesse raro momento, ele está num raro momento de ócio... • Ao mesmo tempo, o conto traz os incômodos de Manuelzão. Desde a dor no pé machucado até seus questionamentos: não tem propriedades, não tem mulher, não confia na sucessão pelo Adelço.
Uma estória de amor (3) • Uma lembrança importante de Manuelzão é a do córrego que pára de correr. A casa havia construída especialmente ao lado do riachinho por causa da água, mas um dia ele pára. Essa perda parece trazer algo de mau olhado, algo que a construção da igreja pode aliviar. • - Manuelzão vivia a angústia da decisão. Deveria sair com a boiada no dia seguinte ou não. Deveria mandar seu filho Adelço e ficar em casa com Leonísia, ou não... Enfim, o momento de ócio, da festa, sem trabalho, leva Manuelzão ao questionamento de sua história e do valor de suas ações.
Uma estória de amor (4) • De outro lado, temos a dimensão de Joana Xaviel e do Velho Camilo. O título provavelmente refere-se ao caso amoroso deles, dois contadores de estórias que viviam dos favores alheios. Sua estória de amor provocou escândalo na população e Manuelzão, em sua autoridade, providenciou a separação dos dois. O velho Camilo veio morar em Samarra por ordem de Manuelzão. • Joana Xaviel veio para festa. Á noite, véspera da festa, na cozinha, ela contava estórias para as mulheres. De sua cama, Manuelzão, insone, acompanhava. Ao final de uma história sem resolução, sem castigo para o Mal, ele passa a se perguntar como se formam as histórias, para que elas servem. A história inacabada parece para ele inaceitável e deixa um sentimento de angústia. (p. 565)
Uma estória de amor (5) • -Depois do transcorrer inteiro da festa (missa, leilão, música e dança, bebida e comida...), Manuelzão pede que o velho Camilo conte uma história.
• Surpresa é geral, o velho se transforma ao contar a história do Boi bonito, história que comove a todos, encerra a festa e leva Manuelzão a se reconciliar consigo mesmo e a decidir em partir com a boiada no dia seguinte.
Uma estória de amor (6)/ Questões finais
• Temos novamente o narrador onisciente, que se prende ao ponto de vista de um personagem. No caso, acompanhamos o olhar de Manuelzão. Na dispersão dos episódios da festa, miudamente narrados, o homem velho questiona-se sobre suas decisões, sua vida.(p.601) • A narrativa final (através do velho Camilo) permite que Manuelzão elabore seus problemas e tome a melhor decisão, de aceitar seu destino e partir com a boiada no dia seguinte.
Questões finais (1) • 1- Cenário / Universo do Sertão Vemos o sertão mineiro através de uma fazenda distante no Mutum ou através da fundação de Samarra, grande fazenda que se constrói, que se “civiliza” pela criação do gado e tem seu ponto máximo na consagração da capela.
• 2- Enredo Temos uma história de formação, de Miguilim. É o menino que se inicia na vida e no mundo: doente, perda do irmão, sofrimento e luto, confronto com o pai... Ao final, ele ganha visão nítida dada pela lente. Na outra ponta, é o homem velho que recapitula sua existência, sua ascensão social à procura de sentido.
Questões finais (2) 3- Poesia Na linguagem, Guimarães Rosa mistura inovações formais (como criação vocabular e narrativa de introspecção) e a forma tradicional do relato oral (da fala sertaneja). Em Miguilim, temos a história do menino e por seus olhos vemos o mundo dos adultos. Em Manuelzão, o homem velho vê o lugar em que chegou transformado em grande fazenda e se pergunta sobre a necessidade de parar ou de continuar... Vemos a Joana Xaviel e Velho Camilo se transformarem ao narrarem seus causos. 4-Valor metafísico-religioso Qual o valor disso tudo? A dimensão humana se revela na iniciação ao mundo em que a criança bebe goles de velhice, amadurece, mas não pode perder a alegria. No velho, vemos a reconciliação do velho pela narrativa.
- Algumas imagens do Sertão de Rosa 1- Miguilim - contador de estórias de Cordisburgo 2- Manuelzão no programa do Jô Soares 3- Manuelzão, curta-metragem (estória da capela) 4- Festa de Manuelzão 5- Manuelzão e bananeira (1) 6- Manuelzão e bananeira (2) 7- Manuelzão e bananeira (3)