O meu livro tem bicho Madalena da Luz Costa
ATENÇÃO! Este livro é habitado por uma colónia de bichinhos-da-leitura. O contacto prolongado pode provocar Papei-livros. Os sintomas incluem: aumento da Imaginação e da Curiosidade, ataques de «Porquês» e, nos casos mais graves, uma vontade incontrolável de ir buscar outro livro.
Eh, tu! Sim, tu, com o nariz metido no papel! Olá! Espero que tenhas lido o aviso antes de virar a página. Não? Como «não»? Volta lá atrás, por favor. Eu espero aqui por ti. Já está? Ótimo. Agora que já sabes mais ou menos o que podes vir a encontrar escondido no meio destas páginas, podemos começar. Há uns anos, devia eu ter mais ou menos a tua idade, fui mordida por um bichinho-da-leitura. O bichinho-da-leitura é um animal que mora em todos os livros que há por esse mundo fora, e também em jornais, revistas e noutros sítios. Não me doeu, não te preocupes! Quase nem dei por isso. É até uma história engraçada que te vou contar. Como de certeza já aconteceu contigo (e se não aconteceu vai acontecer), de vez em quando caía-me um dente de leite. E a Fada dos Dentes tinha a mania de me deixar livros debaixo da almofada… Juro que consegui transformar a minha boca numa biblioteca, de tantos livros que ela me trouxe! Ora, acho que a Fada dos Dentes não se preocupa muito em fazer a desinfestação dos livros. Já telefonei para o Apoio ao Cli-Dente a queixar-me, mas dizem-me que a culpa é dos fornecedores. Enfim, aconteceu que um desses presentes tinha um habitante inesperado. Estava eu muito bem a virar uma página, quando… ZÁS! Saltou de lá um bichinho-da-leitura e mordeu-me o nariz! Ao início não notei nada de especial. Continuei o meu livro como se nada fosse, mas quando o acabei tive logo vontade de ler outro. E depois outro. E mais outro. Quando dei por mim, tinha uma verdadeira coleção! Ou melhor, uma biblioteca! O que significava que tinha também uma bela criação de bichinhos-daleitura, só que ainda não sabia. É que o mesmo bicho só morde cada pessoa uma vez, e depois disso esconde-se. Só volta a saltar cá para fora quando alguém que nunca levou uma mordidela abre o livro onde ele está. Já deves estar a perguntar como sei o que quer que seja sobre os nossos pequenos amigos, se só os vemos uma vez na vida. Bem, eles não são tão discretos como gostariam. São até bastante barulhentos! Estás a ver aquele raspa-raspa das páginas de cada vez que as passas? Na verdade, é o som dos bichinhos-da-leitura a conversar entre si. E aquele «PLOC!» que
os livros fazem quando os fechas com mais força é na realidade um bichinho-da-leitura a rir às gargalhadas. De vez em quando também os vemos passar a correr, mas são tão rápidos que acabamos por ter de voltar atrás e reler a linha onde estávamos. Ou temos mesmo de regressar à página anterior, de tão perdidos que ficamos. Quanto maior for um livro, maiores e mais lentos são os bichinhos-da-leitura que lá vivem, e portanto um pouco mais fáceis de encontrar. Aliás, às vezes até demoram mais tempo a morder… o que não quer dizer que não faça efeito na mesma! Foi assim que apanhei um bichinho-da-leitura entre as páginas de um calhamaço que descobri na minha casa. Com muito cuidado para não o magoar, pu-lo num frasquinho de vidro e observei-o durante umas horas antes de o soltar. Virei e revirei o frasco, tirei notas, fiz um círculo de enciclopédias à minha volta, e não descansei até descobrir tudo o que havia a saber sobre aquela estranha criatura. (Também consultei a Internet, mas se me perguntarem vou dizer que não.) Mesmo assim não fiquei satisfeita… até que, de repente, para meu espanto, comecei a ouvir uma vozinha, vinda do frasco, a chamar-me uma data de nomes, demasiado feios para eu escrever aqui. Pois… o bichinho-da-leitura consegue ser bastante mal-educado quando quer. Ainda por cima conhece todas as palavras de todas as línguas… Abri logo a tampa e libertei o bichinho, que pelo menos teve a decência de parecer envergonhado por me ter chamado nomes. Disse-me que se chamava Artur (ficarias surpreendido com a quantidade de bichinhos-da-leitura com nomes como Maria e Manel) e que vivia na página vinte do meu livro. Pedi-lhe desculpa por o ter enfiado dentro de um frasco para o bem da ciência, mas o Artur disse-me que tinha ficado irritado sobretudo por me ver andar às voltas sem descobrir quase nada, quando podia perfeitamente ter-lhe perguntado. Esta foi, portanto, a minha primeira descoberta: o bichinho-da-leitura consegue falar, e é mesmo muito impaciente. E agora vou mostrar-te o que, com a ajuda do Artur, consegui descobrir sobre os nossos amigos fugidios.
O que é mesmo o bichinho-da-leitura?
O bichinho-da-leitura é, como já deves ter calculado pelo nome, um inseto. Na verdade, os cientistas chamam-lhe Coccinella liber, mas infelizmente não usamos este tipo de nome muitas vezes. Já pensaste como seria engraçado se dissesses «Vou passear o Canis lupus familiaris» de cada vez que tivesses de levar o cão à rua? Ou «O meu Felis catus farta-se de cuspir bolas de pelo»? Se bem que é capaz de ser um bocado chato (e um verdadeiro destrava-línguas) ir à pastelaria pedir umas línguas de Odocoileus virginianus em vez de línguas de veado, por isso é melhor deixar as coisas como estão. Onde é que eu ia? Ah, já sei. O Coccinella liber (perdão, o bichinho-da-leitura!) é completamente redondo, mais redondo que um berlinde. É muito fácil de reconhecer caso tenhas a sorte de conseguir apanhar um, porque tem sempre uma letra ou sinal de pontuação nas costas, dependendo do sítio da frase onde nasceu. Os mais novos são geralmente os mais fáceis de distinguir, porque são os que têm um ponto final, de interrogação, de exclamação, ou umas reticências. Isto acontece porque nascem no final da frase. O Artur tem um ponto de exclamação, e por isso não para quieto. As asas brancas destes bichinhos são pequeninas como as de um mosquito se o livro onde moram for mesmo muuuuuuuito aborrecido (os coitados que vivem em dicionários têm umas asinhas minúsculas), e tão grandes como as de uma borboleta caso seja um daqueles livros que nos mantém acordados até tarde, sem conseguir parar de ler. (Por acaso já viste algum por aqui? E tem asas grandes? Hum… Se calhar devia escrever sobre dragões. Ou vampiros. Toda a gente parece adorar vampiros, não sei bem porquê. Deve ser das capas.) O Artur e os amigos têm também dois primos, o bicho-das-contas (nada de confusões com o bicho-de-conta!) e o bichinho-da-escrita. Com o bicho-das-contas não temos de nos preocupar (a não ser que peguemos numa calculadora…), e mais à frente já te vou falar do bichinho-da-escrita.
Onde é que vive o bichinho-da-leitura?
Principalmente em livros, claro. Grandes, pequenos, com e sem imagens, ainda com o perfume da tinta fresca ou já com as páginas amareladas e o cheiro a histórias que viram crianças crescer. Nas bibliotecas vivem tantos bichinhos-da-leitura que não se pode fazer barulho, para não os assustar. Mas segundo o meu novo amigo Artur, não é só em livros que ele e os seus irmãos gostam de se instalar. Nos últimos tempos têm andado a explorar outros sítios, e na verdade não há quase nada que esteja totalmente a salvo de receber uma família dos nossos companheiros. Podemos encontrá-los nos filmes, na televisão, em cartazes… Quando ouvires alguém dizer «Agora fiquei com vontade de ler o livro!», já sabes levou uma mordidela na sala de cinema, ou no sofá lá de casa. O sítio mais estranho onde já vi passar um bichinho-da-leitura foi num frasco de champô! O que até faz sentido, se formos a ver bem: quando vamos à casa de banho para fazer «uma coisa mais demorada» e nos esquecemos de levar alguma coisa para ler, os frascos de champô transformam-se em verdadeiros livros de aventuras. Também há aqueles malandrecos que decidem instalar-se nas ementas dos restaurantes e nos livros de receitas. Se soubesses o quanto eles se divertem a fazer-nos crescer água na boca e a ouvir o nosso estômago a roncar… Quando estes bichinhos em particular nos mordem, o efeito é um bocadinho diferente. Em vez de ficarmos com vontade de ler livros ficamos com vontade de comer. Mas lá no fundo vai dar ao mesmo. Quer a nossa cabeça fique cheia de histórias, de imagens de um bolo de chocolate gigante, ou dos nomes esquisitos nos frascos de champô, certo é que a nossa Imaginação aumenta. E o bichinho-da-leitura agradece.
Mas se vive nos livros, afinal o que é que o bichinho come?
Pois… é uma boa pergunta! Não é lá muito fácil encontrar comida dentro de um livro, a não ser que sejas como eu e tenhas a mania de ler ao lanche. Para grande vergonha minha, tenho ali uns quantos livros com manchas de chocolate nas páginas e migalhas de pão entaladas.
Fiz essa mesma pergunta ao Artur porque a enciclopédia não explicava lá grande coisa. E parece que a dieta do bichinho-da-leitura é muito simples, porque ele só se alimenta de duas coisas: Curiosidade e Imaginação. Isto pode parecer uma coisa um bocado esquisita, mas garanto que para o bichinho-da-leitura são verdadeiros pitéus! De cada vez que lês um livro e a seguir inventas uma nova brincadeira ou fazes uma pergunta a alguém, os teus bichinhos-daleitura de estimação fazem um banquete. Segundo o Artur, um dos pratos mais apreciados é Curiosidade Assada com Molho Imaginário. A mim soa-me um bocado indigesto, mas ele lá sabe. Às vezes é possível que as pessoas se sintam tão curiosas, tão curiosas, tão curiosas depois de serem mordidas por um bichinho-da-leitura, que elas próprias fiquem com fome. É a chamada «fome de conhecimento», que é um dos sintomas de uma estranha doença.
PAPEI-LIVROS!
Não te preocupes, não tem nada a ver com a papeira. Na verdade, a Papeilivros é completamente invisível e também inofensiva. Torna-se é um pouco aborrecida quando temos de ir a algum lado e não podemos levar um livro a reboque. Ou quando enjoamos no carro porque somos teimosos e continuamos a ler… Embora a Papei-livros, como já sabem, se apanhe normalmente quando um bichinho-da-leitura nos morde, nem sempre é assim. Há quem seja imune, ou quem consiga curar-se e nunca mais toque num livro na vida. Também há casos raríssimos, em que alguém precisa de ser mordido duas ou três vezes por diferentes bichinhos até a Papei-livros se manifestar! Se calhar até conheces alguém assim. Normalmente passam imenso tempo a dizer que não gostam de ler, até ao dia em que pegam num certo livro e a partir daí nunca mais largam a estante. Eu apanhei logo em criança, e ainda bem. Lembras-te da história que contei no início deste livro, em que a Fada dos Dentes me trouxe um presente cheio de bichinhos-da-leitura? Pois, foi aí… Ainda telefonei a queixar-me outra vez, só para ver se conseguia os meus dentes de volta, mas disseram-me que tinha de apresentar uma
queixa formal no Departamento de Distribuição. Como não percebi patavina, e também não estava para me chatear, acabei por desistir. Com a Papei-livros não há tosse, nem espirros, nem febre. Também não faz manchas, bolhas ou comichão. Pelo menos não da maneira a que estás habituado. Começa, sim, com uma curiosidade tremenda. A maioria dos livros é muito malandra e não conta a história toda… Pensa por exemplo nas personagens dos contos de fadas. O que é que lhes acontece depois de vencerem o lobo mau, ou de encontrarem um príncipe encantado (desencantado sabe-se lá de onde…)? Sim, já sei. «E viveram felizes para sempre». Mas isso é muito vago! O que é que fazem nos tempos livres? Onde é que tiram férias? Têm animais de estimação? Será que a Cinderela reclama com o Príncipe por ele deixar a tampa da sanita para cima, ou o palácio é tão grande que cada um tem a sua casa de banho? Pronto, estás a ver onde quero chegar. Há sempre qualquer coisinha que fica por contar e que nos fica a fazer comichão no cérebro. Vês? A Papei-livros sempre faz comichão, mas quantas vezes já deste por ti a coçar os miolos? Esta curiosidade toda resulta normalmente num chorrilho de perguntas, ou até num ataque de Porquês. A única forma de aliviar estes sintomas é procurar quem perceba do assunto. Ou então ver noutro livro. (E sim, também podemos usar a Internet.) Se não conseguirmos arranjar respostas para as nossas perguntas, mesmo ao fim de muito massacrar o juízo a outras pessoas, podemos sempre inventar. É aqui que entra a parte da Imaginação, a tal que os gulosos dos bichinhos-daleitura tanto adoram. E quanto mais mirabolantes forem as nossas explicações, melhor para eles. Por exemplo, podemos imaginar que a Carochinha acabou por encontrar outro noivo (um que não caiu no caldeirão, claro está) e acabar aí. Mas se calhar os bichinhosda-leitura gostariam muito mais se pensássemos que ela abriu um restaurante vegetariano de cinco estrelas e agora aparece na capa de todas as revistas. Ou então que o Lobo dos Três Porquinhos fez uso do seu talento para soprar e agora anda por aí a verificar se as casas são construídas como deve ser. Enfim, a Papei-livros não acaba aqui.
A comichão no cérebro rapidamente se transforma numa sensação de formigueiro nos dedos. Se te sentares em cima das tuas mãos durante uns minutos és capaz de conseguir um efeito parecido, mas não é lá muito agradável. Quando damos por nós, esses mesmos dedinhos já estão esticados para a estante outra vez, para escolher outro livro. Percorrem as lombadas, pousam neste título ou no outro… De vez em quando tiramos um livro da estante, viramo-lo e reviramo-lo, lemos o que está na contracapa… Muitas vezes voltamos a arrumá-lo e pensamos: «Depois leio este». Normalmente a escolha é fácil, outras nem por isso. O formigueiro é completamente imprevisível: tanto nos pode levar para um livro que nunca lemos nem pensámos ler, como para um que já lemos três, cinco, dez vezes! (Não olhes assim para mim! É perfeitamente normal ler um livro dez vezes!) E depois? E depois começa tudo de novo. A Papei-livros não se cura. Não, espera!!! Não é preciso ires a correr para o médico! A Papei-livros só nos faz bem. Pensa como seria a vida sem Imaginação nem Curiosidade. Pois… Agora que já estás mais descansado, posso finalmente revelar o que acontece quando a nossa Imaginação fica tão grande, tão grande, que já não cabe em todos os livros que lemos…
O primo do bichinho-da-leitura
Chama-se bichinho-da-escrita, e apesar de os bichinhos-da-leitura muito carinhosamente lhe chamarem «primo», as coisas não são bem assim. Fazem parte da mesma família, isso é certo, mas são mais irmãos do que propriamente primos. Na verdade, até há uns dias nem fazia ideia que o bichinho-da-escrita existia. Não é que ele seja raro. Longe disso! Hoje em dia há verdadeiras infestações por aí. O problema do bichinho-da-escrita é que ele é ainda mais difícil de ver do que o bichinho-da-leitura, e mil vezes mais tímido. Só descobri que o bichinho-da-escrita existe porque, sem querer, dei demasiada Imaginação ao Artur.
Ora, isto aconteceu porque enquanto eu andava a bisbilhotar em enciclopédias e a correr de uma estante da biblioteca para a outra, a minha Imaginação disparou. Havia ainda tanto para descobrir sobre o bichinho-da-leitura que ela aumentou, aumentou, aumentou… E, todo esse tempo, o Artur andou a deliciar-se! Salame de Criatividade, Sonhos, Pastéis de Nada (no que toca a doces, os bichinhos-da-leitura são muito… imaginativos, lá está). E, claro, toda aquela Imaginação para um só bichinho fez com que o Artur inchasse e ficasse ainda mais redondo do que já era. Foi um acidente, juro! Ele também foi muito guloso e não me avisou. De qualquer forma, comecei a ficar preocupada e perguntei ao Artur se não queria que eu o levasse ao veterinário. Não tenho bem a certeza se os veterinários costumam atender bichinhos-da-leitura, mas nunca se sabe! Não é preciso disse-me ele. Estou só um bocadinho cheio. Depois largou um arroto capaz de fazer tremer as paredes, o que eu achei espantoso porque, mesmo inchado, o Artur continuava a ser bastante pequenino. Eu lá fui dormir descansada, só com um certo cuidado para não sonhar com alguma coisa demasiado imaginativa. Qual não foi o meu espanto quando me levantei no dia seguinte, olhei para a estante onde tinha deixado o Artur a dormir… … e no lugar dele estava um casulo! Fiquei muito baralhada, porque não tinha lido nada que dissesse que os bichinhos-da-leitura fazem casulos. Mas decidi esperar para ver o que acontecia. Nos primeiros dias não aconteceu nada, e o Artur ficou muito quietinho no seu casulo. E eu esperei… E esperei… Dormi uma soneca… E continuei à espera… Finalmente, ao fim de uma semana, notei que havia um buraquinho no casulo do Artur. Aproximei-me até ficar com o nariz praticamente colado à estante, e vi surgir o meu amigo, completamente mudado. As asinhas do Artur, que antes eram tão brancas como papel novo, tinham-se transformado num verdadeiro arco-íris. Olhei com mais atenção, e reparei que estavam cobertas com pedacinhos das capas de todos os livros que eu já tinha lido.
Fiquei com os olhos tão esbugalhados que até precisei de os segurar, antes que aumentassem para o tamanho de bolas de ténis, ou que me saltassem as lentes de contacto. Só não pude continuar a olhar feita parva porque de repente o Artur saltou e… ZÁS! Mordeu-me o nariz! Fiquei bastante ofendida, é claro. É isto que se leva em troca da preocupação? Uma mordidela no nariz? O Artur explicou-me que se tinha transformado num bichinho-da-escrita. «O quê?», pensei eu, enquanto esfregava o meu pobre nariz. Não demorei muito a descobrir: parece que quando o bichinho-da-leitura come demasiada Imaginação, faz um casulo e sai de lá um bichinho-da-escrita. Mais ou menos como as borboletas, só que elas não andam aí a morder o nariz às pessoas. Descobri também que a mordidela do bichinho-da-escrita é muito diferente da mordidela do bichinho-da-leitura. Faz muito mais comichão! É uma comichãozinha nas pontas dos dedos, mas não se resolve coçando, nem indo buscar livros. Só se resolve pegando numa caneta ou num lápis, e numa folha. Pode ser uma folha em branco, de linhas ou quadriculada. Até pode ser um computador, na verdade. Depende do que está mais à mão. E foi o que eu fiz fui buscar um montinho de papel, sentei-me e peguei numa esferográfica. Fiquei um tempo parada a olhar para a parede, a decidir como havia de dar início ao meu livro. Depois comecei a escrever. Quando já não cabia nem mais uma letra na primeira folha, peguei noutra… E depois noutra… Durante todo esse tempo, o Artur esteve pousado no meu ombro, a encorajarme e a dar ideias. Parecendo que não, escrever cansa! Ainda fiquei com uma valente bolha no dedo por causa da caneta. O que não teria acontecido se eu não fosse teimosa e tivesse começado logo a escrever no computador. Mas lá acabei o meu livro, que como já deves ter adivinhado é este mesmo que tens nas mãos agora. E sabes o que aconteceu? Mal coloquei o último ponto final, apareceu uma família de bichinhos-daleitura.
Ainda não sei bem de onde é que eles vieram, e ninguém me explicou… Certo é que pousaram nas páginas acabadas de ser escritas, olharam em volta e decidiram instalar-se. Uns dias depois, já era uma barulheira de páginas a passar e livros a fechar que eu nem te conto. Já os deves ter visto a passear por aqui. Se não os viste, devem estar para aparecer, até porque esta família de bichinhos-da-leitura em particular não é tão tímida como é costume. Talvez apanhes um! Quem sabe? Até te pode acontecer o mesmo que a mim, e lhe dês Imaginação suficiente para o transformar num bichinho-da-escrita. E olha que o bichinho-da-escrita é um amigo para a vida. O Artur ficou a morar na estante do meu quarto, e de vez em quando vem ter comigo com uma nova ideia para eu escrever. Às vezes dá-me alguma preguiça, mas acabo sempre por seguir o conselho dele. Quando tiveres um bichinho-da-escrita vais poder escrever os teus próprios livros. E se isso acontecer, promete que me avisas, porque gostava mesmo de os ler. Sim, porque lá por ter sido mordida por um bichinho-da-escrita não quer dizer que me tenha passado a Papei-livros. Espero que tenhas gostado de conhecer os nossos gulosos amigos. Ah, e toma bem conta deles, porque tanto os bichinhos-da-leitura como os bichinhos-da-escrita precisam de alguma atenção. É aqui que tenho de dizer adeus, porque está ali um livro à espera de ser lido. Mas fico em pulgas para saber notícias das tuas aventuras literárias! Ou melhor, eu e o Artur ficamos!