Profetas Maiores – A Mensagem Profética da Bíblia Fala Hoje

PROFETAS MAIORES ® A Mensagem ... LIÇÃO 1 – Introdução ao Estudo dos Profetas Maiores _____ 12 LIÇÃO 2 – O Livro de...

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PROFETAS MAIORES® A Mensagem Profética da Bíblia Fala Hoje

Autoria de Roney Ricardo Cozzer

É permitida a reprodução parcial desta obra desde que citados o autor e o título da obra.

Diagramação e Consulta Ortográfica: Roney Ricardo Cozzer

1ª edição – Março de 2014

CONTATOS COM O AUTOR: Telefones: 27-9773-4158 (Vivo) e 8854-3678 (Oi) Por e-mail: [email protected] Blog Fundamentos Inabaláveis

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ÍNDICE Orientações Fundamentais Para o Estudo Deste Livro ________________________________ 3 Lista de Siglas Utilizadas Neste Livro _________________ 5 Apresentação ____________________________________ 8 Prefácio ________________________________________ 10 LIÇÃO 1 – Introdução ao Estudo dos Profetas Maiores _____________________________ 12 LIÇÃO 2 – O Livro de Isaías ________________________ 27 LIÇÃO 3 – Os Livros de Jeremias e Lamentações de Jeremias _________________________ 39 LIÇÃO 4 – O Livro de Ezequiel ______________________ 46 LIÇÃO 5 – O Livro de Daniel ________________________ 64 Bibliografia ______________________________________ 88 O Autor _________________________________________ 90

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ORIENTAÇÕES FUNDAMENTAIS PARA O ESTUDO DESTE LIVRO Estimado(a) leitor(a), preocupado com o seu aprendizado pessoal, e no sentido de contribuir para o seu tirocínio bíblico e teológico é que fazemos a você as seguintes recomendações logo a seguir. É importante ressaltar ainda que no esforço de aprender a Palavra de Deus é imprescindível observar alguns critérios, os quais contribuirão de forma decisiva para que colhamos e retenhamos o máximo possível de nossos estudos. Estes critérios, quando observados, dão ordem ao nosso processo de aprendizado; eles são uma metodologia a ser seguida por nós. Abaixo, você tem uma lista com alguns itens que devem ser seguidos no estudo deste livro: 1) Procure sempre depender de Deus em seus estudos, orando sempre ao Senhor para que possa iluminá-lo através do Espírito Santo – A Bíblia não é um Livro para ser lido e estudado sem oração! 2) Leia todo o conteúdo do livro tendo sempre ao seu lado um exemplar da Bíblia Sagrada a fim de ler as referências citadas – isto é fundamental; é profundamente enriquecedor ler todas as referências citadas no texto. 3) Se ao ler determinado trecho você não conseguir entender o sentido do texto, releia novamente esta parte, de modo a chegar a compreensão correta do assunto tratado. É importante também ressaltar que agora você é um estudante da Bíblia e de teologia e, portanto, procure, dentro de suas possibilidades, adquirir algumas ―ferramentas‖ que o auxiliarão muito nos seus estudos pessoais; abaixo, segue uma lista de algumas destas ferramentas:

Profetas Maiores – A Mensagem Profética da Bíblia Fala Hoje 1) 2) 3) 4) 5) 6) 7)

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Bíblia, em mais de uma versão, para estudo comparativo. Um caderno para apontamentos individuais. Dicionários Bíblico e Teológico Dicionário da Língua Portuguesa Concordância Bíblica Atlas Bíblico Comentários Bíblicos (existem vários)

O autor destas linhas deseja sinceramente que você possa sempre ter e alimentar em seu coração o desejo profundo de conhecer e prosseguir no conhecimento do Senhor (Os 6.3), e sabemos que este conhecimento nos é dado pela Bíblia Sagrada. Deus o abençoe ricamente em Cristo Jesus! O autor.

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SIGLAS UTILIZADAS Com o intuito de ganhar tempo e espaço, no decorrer deste livro utilizo algumas siglas. Uma sigla nada mais é do que uma abreviatura de um título ou denominação, sendo geralmente composta pelas letras iniciais das palavras que compõe este título ou denominação, como por exemplo, a sigla ARC, que remete ao título Almeida Revista e Corrigida, que é uma das versões da Bíblia em português publicada pela Sociedade Bíblica do Brasil (sociedade esta que também é representada por uma sigla: SBB). Neste livro você também encontrará citações bíblicas e versículos bíblicos transcritos diretamente no texto. Com a finalidade de destacá-los, escrevemos sempre esses versículos entre aspas e em itálico. Neste trabalho, optamos também por usar a versão Almeida Revista e Atualizada (ARA) – publicada pela SBB, por ser ela uma versão de grande aceitação entre o público brasileiro e de mais fácil compreensão para o leitor. A versão ARA também apresenta menos erros de tradução em alguns casos, sendo, portanto, mais fiel aos originais que a sua precursora - a ARC (Almeida Revista e Corrigida). Utilizo ainda outras versões como, por exemplo, a NTLH (Nova Tradução na Linguagem de Hoje) e a NVI (Nova Versão Internacional), que também são excelentes versões bíblicas, muito utilizadas em nossa nação. Assim, desejo que os comentários neste livro possam ser uma benção para você e toda a sua família, amado leitor e amada leitora. É para você que este trabalho foi carinhosamente preparado!

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A seguir, você tem dispostas algumas siglas que utilizamos neste livro com seus respectivos significados: ARA – Almeida Revista e Atualizada ARC – Almeida Revista e Corrigida cap. – ―capítulo‖. caps. – ―capítulos‖ Cf. – confira ou conferir i.e. – ―isto é‖ NVI – Nova Versão Internacional NTLH – Nova Tradução na Linguagem de Hoje Op. Cit. - vem do latim e significa ―a obra citada‖ ou ―da obra citada‖. ss – seguintes. Refere-se aos versículos seguintes que podem ir até o fim do citado capítulo. vv – indica de um versículo.

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APRESENTAÇÃO Estudar os livros proféticos do Antigo Testamento é muito gratificante para o cristão, hoje. Sua mensagem, embora oriunda de um tempo e contexto bem diferentes do nosso, transpôs os séculos e mesmo hoje, no século 21, Isaías, Jeremias, Ezequiel e Daniel continuam nos falando e nos tocando através dos livros que escreveram! Muitos assuntos ali abordados perpassam nossa realidade. Podemos sim extrair lições maravilhosas para nossas vidas, no serviço cristão, sem necessariamente ferir a exegese do texto contido nos livros proféticos. De fato, isso é algo maravilhoso quanto à leitura da Bíblia: a aplicação é multiperspectiva enquanto que a hermenêutica bíblica, inflexível que é, não é por isso agredida. É possível sim aplicar verdades do texto bíblico sem ferir a exegese dele. Lembramo-nos do que diz Paulo logo após citar um verso do Salmo 69: “Porquanto, tudo que dantes foi escrito, para nosso ensino foi escrito, para que, pela constância e pela consolação provenientes das Escrituras, tenhamos esperança” (Rm 15.4). Por vezes, os autores neotestamentários escreveram desenvolvendo sua teologia com base nos livros proféticos do Antigo Testamento e interpretaram eventos com base neles. Aliás, o próprio Senhor Jesus, após ler a profecia de Isaías 61.1,2, na sinagoga de Nazaré, afirmou: “Hoje se cumpriu esta escritura aos vossos ouvidos” (Lc 4.21). Em Jesus se cumprem as profecias e expectativas contidas na mensagem profética do Antigo Testamento. Neste livro, procuro apresentar a você, estimado leitor (ou leitora) uma visão panorâmica dos cinco livros proféticos chamados de “Profetas Maiores”. Eles são assim chamados por duas razões: 1ª)

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em função da extensão de seus livros e, 2ª) por causa da extensão do ministério de seus autores. O livro de Daniel não é tão extenso quanto Isaías, Jeremias e Ezequiel, mas o ministério do profeta Daniel foi muito extenso (talvez o mais extenso de todos os outros três). O livro de Lamentações de Jeremias, embora muito pequeno, entra nessa classificação por sua ligação estreita com o de Jeremias. Alguns estudiosos chegam a classificá-lo como uma espécie de “apêndice” a Jeremias, ou ainda, uma continuação de Jeremias. É importante pontuar aqui que este livro não se propõe a ser uma espécie de “comentário bíblico”. Reconhecemos nossa limitação teológica para tão elevada proposta e no mais, não teríamos espaço e tempo para tal produção. Todavia, me sentirei grato a Deus se esse livro for-lhe útil para introduzi-lo ao estudo dos livros bíblicos, mormente os profetas maiores, aqui em foco. O propósito dessa obra é abordar especialmente os aspectos principais, a fim de situá-lo na pesquisa dos acontecimentos e da mensagem que envolve esses livros tão extraordinários. Mesmo assim, me detive a comentar aquelas passagens ou trechos do livro que considerei dentre as mais relevantes dos livros proféticos aqui estudados. Neste livro, também não me preocupei em disponibilizar uma bibliografia ao final, visto que fiz as indicações das obras que consultei sempre ao rodapé das páginas. Sugiro a você que, dentro de suas possibilidades, adquira essas obras que lhe serão de grande valia no estudo e compreensão dos livros bíblicos. Estudar os livros proféticos da Bíblia Sagrada leva-nos também a perceber que os profetas não se ocuparam tanto da predição profética como costumamos pensar. Reconhecemos que essa é uma parte intrínseca ao texto bíblico. Grande parte do texto bíblico

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tem um teor profético preditivo. Mas vemos nos profetas uma preocupação maior por temas da sua vivência diária, da sua realidade social: a situação do culto a Iavé1, do órfão, da viúva, do estrangeiro, da violência social, da confiança no Senhor ao invés da confiança em alianças estrangeiras e outros temas contemporâneos ao profeta. O interesse de Deus, em relação ao seu povo, era que eles ouvissem a sua voz pela mediação profética. Os profetas eram aqueles homens escolhidos e vocacionados por Deus para transmitir a mensagem divina que poderia conduzir o povo à uma vida justa e santa, se eles considerassem essa mensagem em seus corações. Essa mensagem, todavia, nos alcança hoje! Tudo o que foi escrito, foi escrito para nosso ensino, escreveu Paulo referindo-se ao Antigo Testamento. Jesus baseou seu ensino, seu evangelho, também nos livros proféticos. Portanto, concluímos com isso, que essa mensagem, mesmo que originalmente destinada a um povo numa alocação histórica, tem aplicabilidade para nós hoje, em pleno século 21. Os profetas continuam clamando, continuam anunciando os oráculos divinos. Você consegue ouvi-los? Ótima Leitura Para Você! Professor Roney Ricardo Porto de Santana, Cariacica, Es Março de 2014 1

“Iavé” é a transliteração do nome de Deus em hebraico, que é geralmente traduzido nas Bíblias de versão protestante por “SENHOR”. É o nome mais pessoal de Deus no Antigo Testamento e só ocorre nesta parte da Bíblia, com grande freqüência: 6.845 vezes.

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LIÇÃO 1 INTRODUÇAO AO ESTUDO DOS PROFETAS MAIORES “Talvez o valor máximo da profecia do Antigo Testamento para nós esteja no desafio de seu elemento devocional e ético. Em todos esses escritos, o leitor encontra garantias que a fé pode incorporar para o fortalecimento da vida espiritual e da esperança”. G.C.D. Howley2. INTRODUÇAO A seção profética do Antigo Testamento contém tesouros espirituais não apenas para o povo a que foi destinada originalmente – Israel – mas também para nós, Igreja do Senhor, hoje, no aceleradíssimo século 21. Essa seção do Antigo Testamento compreende ao todo 17 livros, chamados proféticos por causa do seu conteúdo e porque foram escritos por profetas de Iavé, homens que viveram durante o período monárquico de Israel, ao longo de mais de quatro séculos! É importante ressaltar aqui que o que foi dito e escrito por estes homens de Deus do passado, os profetas de Israel, não é apenas material literário restrito àquele período, mas as verdades espirituais que encontramos nestes livros são também para nosso tempo, de modo que muito podemos 2

Extraído de Comentário Bíblico NVI, organizado por F.F. Bruce. Ed. Vida, 1ª ed., 2008, p. 137.

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aprender e apreender para nossa vida de devoção a Deus, relacionamento com e na Igreja e também na vivência cotidiana, social. Neste livro, nos debruçaremos sobre os cinco ―profetas maiores‖, como são chamados os livros de Isaías, Jeremias, Lamentações de Jeremias, Ezequiel e Daniel. Os profetas bíblicos ainda falam, depois de mais de 2.400 anos!3 Peça ao Espírito Santo que possa guiá-lo na compreensão da mensagem profética contida no Antigo Testamento. As profecias que foram transmitidas por estes homens de Deus formam a base teológica e cristológica do próprio Novo Testamento. São, portanto, a base para assuntos teológicos, desenvolvidos no Novo Testamento, da mais alta importância e profundidade, tais como Soteriologia, Antropologia, Hamartiologia, as Dispensações, Escatologia, etc. Mas o que acontece é que esses livros, apesar de serem tão vitais para nossa compreensão teológica do Novo Testamento e da Bíblia como um todo, são muitas vezes ignorados por nós, Igreja de Cristo. Esperamos que através do estudo contido neste livro, você possa reconhecer a importância dos livros proféticos do Antigo Testamento e dedicar-se a lê-los e estudá-los. QUEM ERA O “PROFETA” NO ANTIGO TESTAMENTO? Evidentemente precisamos começar entendendo o que a Bíblia nos revela sobre ―o ser profeta‖. A palavra ―profeta‖ aparece no Antigo Testamento na palavra hebraica Nabi e o sentido dela em toda a extensão do Antigo Testamento 3

Malaquias, o último profeta do cânon do Antigo Testamento, profetizou por volta de 420 a.C.

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aplicado aos profetas de Deus é ―aquele que fala ou declara uma mensagem em nome do Senhor‖. Ele era o porta-voz de Iavé, comunicando aos seus ouvintes (e leitores) a vontade DEle. É claro que nem sempre isto acontecia, pois o Antigo Testamento cita também os falsos profetas, como vemos no caso de Jeremias em seu embate com o falso profeta Hananias (Jr 28), por exemplo. A palavra grega para profeta é prophetes que significa ―aquele que fala sobre aquilo que está por vir ou adiante‖. O prophetes é aquele que conhece o futuro porque Deus lhe revelou e assim ele comunica o que recebeu de Deus por inspiração. Nota-se aqui o teor preditivo do ministério profético, subentendido no sentido da própria palavra ―profeta‖. Uma parcela significativa do profetismo bíblico dedicou-se a anunciar o futuro. Isto é visto nas profecias messiânicas, por exemplo. As profecias messiânicas são aquelas profecias contidas no Antigo Testamento que fazem referência ao Messias, por vezes, em detalhes. ―Já foi feita uma estimativa de que várias centenas de profecias relacionadas a Cristo já se cumpriram em seu primeiro advento. Arthur T. Pierson (1837-1911) afirmou que há 332 referências a Cristo no Antigo Testamento que foram expressamente citadas no Novo Testamento como profecias cumpridas durante a sua vida e ministério, ou como previsões de 4 seu caráter...‖ .

No Antigo Testamento, o profeta é também chamado em alguns momentos de ―vidente‖. Não deve o estudante da Bíblia 4

Dicionário Bíblico Wycliffe, 2ª ed., CPAD, pág. 1605.

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confundir o conceito bíblico de ―vidente‖ com o conceito do espiritismo sobre esta palavra. Na Bíblia, o profeta do Altíssimo era assim chamado porque ―via as mensagens que recebia de Deus‖, em alguns casos. De fato, livros como o de Ezequiel, Daniel, Zacarias e outros estão repletos de visões. A palavra ―vidente‖ significa ―aquele que vê‖. Mas além de ser o porta-voz de Deus, o profeta no Antigo Testamento era aquele que sentia o que o próprio Deus estava sentindo. Deus comunicava o Seu próprio coração ao coração do profeta! Vemos isso claramente nas Lamentações de Jeremias, por exemplo! O profeta chora ao ver a devastação de Judá. Também o profeta Oséias, igualmente sentiu o que Deus estava sentindo em relação à Sua infiel esposa – Israel. Dura missão recebeu aquele profeta de Deus: “Vai, toma uma mulher de prostituições e terás filhos de prostituição, porque a terra se prostituiu, desviando-se do Senhor” (Os 1.2). O seu próprio casamento seria um símbolo vivo da infidelidade de Israel! O profeta nestes casos se tornava, muitas vezes, uma espécie de mensagem ambulante! Enfim, vemos que os profetas veterotestamentários tornavamse assim os recipientes dos sentimentos do próprio Senhor. É claro que um coração humano não conteria todo o amor de Deus pelo povo. O amor divino é incomensurável! Mas aqueles homens5 eram de tal modo impactados pelo zelo do Senhor que suas emoções rendiam-se à causa divina.

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e mulheres também, em alguns poucos casos citados no Antigo Testamento.

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Os Falsos Profetas Assim como havia profetas verdadeiros no desenrolar da História do povo hebreu, havia também falsos profetas. Em Jeremias 28 temos um caso muito interessante em que um profeta do Altíssimo se depara com um falso profeta. Enquanto Jeremias profetizava um cativeiro com duração de 70 anos, Hananias, ali representando todo o grupo de profetas profissionais, refuta a mensagem de Jeremias, diante de um grande ajuntamento de sacerdotes e do povo, dizendo que o cativeiro duraria apenas dois anos. O curioso é notar a reação do profeta de Deus, que responde a Hananias com um enfático ―Amém!‖, como que dizendo: ―Que o Senhor possa assim fazer!‖ Vemos nisso que Jeremias não estava tão preocupado com o seu status como profeta, mas sim com a mensagem em si e o que ela iria repercutir nos ouvintes. Todavia, Jeremias estava de posse da verdade divina, não Hananias. Este incidente ali registrado destaca o quanto esses homens prejudicavam a nação desviando o povo da real vontade de Deus, com suas mensagens enganosas. O juízo de Deus sobre Hananias foi severo, como bem sabemos. Em linhas gerais, podemos dizer que os falsos profetas – aqueles que profetizavam em nome de Iavé – procuravam agradar ao rei, estando sob seu suborno, como no caso dos 400 falsos profetas que profetizavam diante de Josafá e Acabe (1 Re 22.5-12). Assim como aconteceu com Micaías – verdadeiro profeta de Deus – face àqueles 400 profetas, Jeremias também acabou por ficar sozinho, do ponto de vista humano, mas Deus não o desamparou assim como não desamparou Micaías! Muitas vezes, o profeta de Deus se vê,

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de fato, sozinho, mas como Paulo, pode dizer: “antes, todos me abandonaram. Que isto não lhes seja posto em conta! Mas o Senhor me assistiu e me revestiu de forças, para que, por meu intermédio, a pregação fosse plenamente cumprida, e todos os gentios a ouvissem; e fui libertado da boca do leão” (2 Tm 4.16a, 17). Os falsos profetas em Israel e Judá – ao que parece, numerosos – apelavam para as bênçãos prometidas na Aliança entre Deus e o seu povo e garantiam ao povo que Deus não permitiria que seu templo e a própria nação fossem destruídos. Todavia, como bem afirma Halley, esses falsos profetas com suas falsas mensagens esqueciam-se, de modo conveniente para eles, de que a aliança também explicava detalhadamente a maldição que a desobediência traria sobre o povo e sobre a terra. Esqueciam-se, também, de que o fundamento da aliança não eram os rituais religiosos, mas o amor de Deus pelo seu povo e o de seu povo para com ele. Rituais religiosos só seriam relevantes se expressassem uma atitude do íntimo. Deus consegue passar muito bem sem um templo e sem os respectivos sacrifícios – mas, no seu amor, deseja grandemente o amor de seu povo

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O PROFETISMO EM ISRAEL Afinal, o ministério profético no Antigo Testamento existiu como uma instituição organizada, como a dos sacerdotes? Houve de fato uma escola de profetas? Com base no que lemos em Números 11.16-30, entendemos que a 6

HALLEY, H. H. Manual Bíblico de Halley. ed. Vida, 1ª ed. 2002, p. 295.

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atividade profética inicia-se já nos tempos de Moisés. Aliás, o próprio Moisés é chamado nas Escrituras de profeta (cf. Dt 34.10). Mas é interessante observar que esta atividade já era conhecida no tempo do patriarca Abraão. Veja que Abimeleque ouve o próprio Deus dizer que Abraão era profeta! (Gn 20.6,7). Mas certamente essa atividade profética só veio a ser mais amplamente desenvolvida no tempo de Moisés mesmo. Acreditamos que o profetismo como movimento surgiu mesmo no oitavo século antes de Cristo e que ―tinha por objetivo restaurar o monoteísmo hebreu, combater a idolatria, denunciar as injustiças sociais, proclamar o Dia do Senhor e reacender a esperança messiânica num povo que já não podia esperar contra a esperança. Tendo sido iniciado por Amós, foi encerrado por Malaquias. João Batista é visto como o último representante deste movimento‖7.

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ANDRADE, Claudionor de. Dicionário Teológico. CPAD, p. 244.

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CLASSIFICAÇÃO DOS PROFETAS Veremos a seguir quatro tipos de classificação para os profetas do Antigo Testamento8: 1. Profetas “literários”, também chamados de “profetas clássicos”. São os profetas que nos legaram os livros que levam os seus nomes. Deixaram-nos uma mensagem escrita. 2. Profetas “não literários”, também chamados de “profetas orais”. São aqueles cujas profecias não chegaram até nós na forma de livros, embora encontremos as suas palavras registradas nos livros bíblicos, mas esse registro era sempre feito por um escritor9. 3. Profetas Maiores – refere-se aos livros de Isaías, Jeremias, Lamentações de Jeremias, Ezequiel e Daniel. São assim chamados por causa da grande quantidade de volume literário de seus livros e também por causa da extensão dos seus ministérios. 4. Profetas Menores – são assim chamados por causa do pequeno volume literário de seus livros. 8

Essa classificação tem estreita ligação com a distribuição dos livros bíblicos no cânon conforme a Septuaginta, que nossas versões protestantes e católicas seguem. Na Bíblia Hebraica, a classificação difere. 9 Importante ressaltar que a referência aqui nada tem que ver com a possibilidade real de que os profetas literários tivessem sido auxiliados por amanuenses, como no caso de Jeremias, auxiliado por Baruque.

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Nas tabelas10 a seguir, temos a classificação dos profetas em literários e não literários, de acordo com o tempo em que profetizaram:

Reino Dividido Profetas do Sul antes do Cativeiro Babilônico

Reino Dividido Profetas do Norte

Monarquia

Profetas Não Literários Um grupo incluindo Saul Gade Natã Aías Dois anônimos mencionados em 1 Reis 13

Elias (1 Re 17 a 2 Re 2) – 875-848 a.C. Outro anônimo mencionado em 1 Reis 20.13

Micaías (1 Re 22) – 849 a.C. Eliseu (1 Re 19; 2 Re 2-13) – 848-797 a.C. Obede (2 Cr 28.9) Semaías (2 Cr 12.5) Ido (2 Cr 12.15) Azarias (2 Cr 15.1) Eliézer (2 Cr 20.37) Um anônimo (2 Cr 25.15) Hulda (mulher - 2 Rs 22.14) Profetas anônimos (2 Rs 23.2) Urias (Jr 26.20-23) Hanani (2 Cr 16.7-10) Jaaziel (2 Cr 20.14-18) Tabela 1

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Tabelas elaboradas a partir das informações colhidas dos livros A Bíblia Através dos Séculos, de Antonio Gilberto, CPAD., e Manual Bíblico Halley, de H.H. Halley, Ed. Vida.

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Reino Dividido Profetas de Judá

Reino Dividido Profetas do Norte

Profetas Literários Jonas, com mensagem especial para Nínive (770 a.C.) Oséias (760-730 a.C.) Amós. Este foi profeta de Judá, mas com mensagem para Israel (760 a.C.) Miquéias. Caso idêntico ao de Amós (737-690 a.C.) Jeremias (627-580 a.C.) Ezequiel (593-570 a.C.)

Daniel (605-530 a.C.) Ageu (520 a.C.) Zacarias (520-518 a.C.) Malaquias (443 a.C.) Tabela 2

Poderíamos ainda classificar os profetas em ―profetas do pré-exílio‖ e ―profetas do pós-exílio‖. Conhecer e entender essa classificação ajuda muito na compreensão da mensagem dos livros proféticos. De fato, o exílio babilônico foi um marco na história do povo judeu, delimitando um ―antes‖ e um ―depois‖ na vida daquele povo. G.C.D. Howley chama a nossa atenção para o fato de que o Senhor se comunicava no Antigo Testamento por três meios, a saber: os sacerdotes, os profetas e os sábios. O sacerdote associava-se à Lei, os profetas à profecia ou mensagem e os sábios ao conselho. Isso fica subentendido na própria divisão da Bíblia Hebraica: Lei, Profetas e Escritos. A Lei associa-se aos sacerdotes, uma vez que eram eles que

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exerciam o ensino, os Profetas ao ministério profético que declarava a mensagem de Iavé e os Escritos, que correspondem aos conselhos, verdades, reflexões profundas da sapiência hebraica transmitida pelos sábios. CONCLUSÃO Os profetas do Altíssimo foram aqueles homens extraordinários que são chamados de ―vidente‖ (1 Sm 9.9,19) e ―homem de Deus‖ (1 Sm 9.6). Elias e Eliseu, por exemplo, foram considerados assim, como podemos ler, por exemplo, em 2 Reis 1.9 e 4.9. Eles também foram conhecidos como ―mensageiro‖ e ―servo‖ como em Isaías 42.19, ―sentinela‖ ou ―atalaia‖, como em Ezequiel 33.7. Em Oséias 9.7 ele é o ―homem do espírito‖ conforme o original hebraico. Sua famosa máxima “Assim diz o Senhor...” era uma espécie de ―selo‖ que autenticava suas mensagens como de fato procedentes do Senhor. Embora os falsos profetas pudessem usar também essa expressão, os verdadeiros profetas do Altíssimo sobressaíam pela exatidão de suas predições e pelo seu caráter elevadíssimo. Esses profetas eram chamados por meio de uma visão, como aconteceu com Isaías e Ezequiel, por exemplo, ou por meio do chamado que apanhava o profeta nas circunstâncias normais de sua vida, como aconteceu com Amós e Jeremias11. O Senhor escolhia para esse ministério homens jovens, muito jovens, como Daniel, e outros mais maduros, como Ezequiel. Uns eram do campo, outros profetizaram na corte, ainda outros entre os exilados e para os exilados. Deus sempre terá os seus, comprometidos com a transmissão da sua verdade ao longo dos séculos. Deus não fica sem testemunho!

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Jeremias era sacerdote em Anatote, exercendo portanto, o ministério sacerdotal e profético.

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EXERCÍCIOS DE REVISÃO – LIÇÃO 1 MARCE “C” PARA CERTO E “E” PARA ERRADO 1) Em se tratando daquilo que Deus desejava para o seu povo, Israel, no Antigo Testamento, encontramos pouca coisa nos livros proféticos. 2) G.C.D. Howley chama a nossa atenção para o fato de que o Senhor se comunicava no Antigo Testamento por três meios, a saber: os sacerdotes, os profetas e os sábios. O sacerdote associava-se à Lei, os profetas à profecia ou mensagem e os sábios ao conselho. 3) Os ―Profetas Não-literários‖, também chamados de ―Clássicos‖, são aqueles que não registraram por escrito as suas mensagens.

4) Acreditamos que o profetismo como movimento surgiu mesmo no oitavo século antes de Cristo e que ―tinha por objetivo restaurar o monoteísmo hebreu, combater a idolatria, denunciar as injustiças sociais, proclamar o Dia do Senhor e reacender a esperança messiânica num povo que já não podia esperar contra a esperança. 5) Halley explica que os falsos profetas esqueciam-se ―que o fundamento da aliança não eram os rituais religiosos, mas o amor de Deus pelo seu povo e o de seu povo para com ele. Rituais religiosos só seriam relevantes se expressassem uma atitude do íntimo‖.

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LIÇÃO 2 O LIVRO DE ISAÍAS “Isaías é chamado o profeta messiânico porque estava completamente imbuído da ideia de que seu povo seria uma nação mediante a qual, em algum dia futuro, viria da parte de Deus uma bênção portentosa e maravilhosa para todas as nações: o Messias que Deus enviaria e que traria paz, justiça e cura ao mundo inteiro. Ele focalizava continuamente sua atenção no dia em que seria realizada essa obra grande e maravilhosa”. H. H. Halley, conhecido comentarista bíblico.

INTRODUÇAO O livro de Isaías possui os escritos que estão entre os mais profundos de toda a literatura bíblica. Numa visão panorâmica do livro, percebemos também a amplitude de temas que compõem o livro. O livro pode ser estudado reconhecendo-se nele três seções12: a primeira, englobando os caps. 1 a 39, a segunda, 40 a 55 e a terceira, 56 a 66. A primeira seção tem um caráter de correção, indicação do pecado do povo e dos líderes da nação Israelita. Grande parte da mensagem de Isaías é endereçada a líderes políticos e militares que firmavam alianças com nações estrangeiras e não confiavam no Senhor. Na segunda seção, temos um vibrante discurso de consolo que é direcionado, profeticamente, aos israelitas exilados nas distantes terras da Babilônia. Esta seção 12

Isso não implica necessariamente numa autoria composta, como veremos adiante.

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já inicia com palavras de grande conforto: “Consolai, consolai o meu povo, diz o vosso Deus. Falai ao coração de Jerusalém...” (Is 40.1,2a). A terceira seção, que compreende os caps. 56 a 66 avança no tempo, com mensagens aos judeus repatriados da Babilônia. A descrição das condições históricas contida nesta última seção indica uma época por vir, posterior às que fazem referência às outras duas seções anteriores do livro13.

O profeta

Isaías, o filho de Amoz, é conhecido entre os estudiosos como o ―príncipe dos profetas do Antigo Testamento‖. É também por excelência o ―profeta messiânico‖, devido as várias referências que faz ao Messias, Jesus. Seu nome dá título ao livro por ele escrito, como acontece com todos os demais livros proféticos no Antigo Testamento. O significado é ―Iavé é Salvação‖ ou ―O Senhor é Salvação‖. Seu ministério foi extenso – profetizou por mais de 60 anos, desde antes da morte do rei Uzias, que era seu tio, até depois da morte de Senaqueribe, rei Assírio, i.e., de 740 a.C. até 681 a.C. (cf. 1.1; 6.1; 37.38). O ministério do profeta Isaías foi centrado em Jerusalém e abrangeu os reinados de quatro reis: Uzias, Jotão, Acaz,

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As descrições escatológicas do Milênio, conforme a linha de interpretação PréMilenista, baseiam-se também em textos contidos nesta seção: Isaías 65.18-23.

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Ezequias e Manassés (1.1). A tradição judaica (livro apócrifo de Ascensão de Isaías) afirma que Isaías morreu cerrado ao meio por ordens do filho do rei Ezequias, o ímpio rei Manassés. Possivelmente, foi à este fato que o escritor da epístola aos Hebreus tenha se referido em Hebreus 11.37. Isaías foi casado com uma profetisa e com ela teve dois filhos, cujos nomes eram mensagens simbólicas à nação de Judá: Sear-Jasube (7.3), que significa ―Um-Resto-Volverá‖ e Maer-Salal-Has-Baz (8.3), ―Rápido-Despojo-Presa-Segura‖.

A Mensagem de Isaías

Certamente a maior parte do livro de Isaías (caps. 1 a 39) foi escrita durante os reinados de Uzias, Jotão, Acaz e Ezequias e o restante do livro, caps. 40 a 66, durante o reinado do ímpio e perverso rei Manassés. Talvez os sofrimentos que tenha enfrentado por causa da perseguição deste malvado rei possa ter contribuído para os seus escritos a respeito do Servo Sofredor que viria no futuro (52.13-15; 53). O livro de Isaías em sua mensagem aborda temas sociais, religiosos e políticos. O profeta exorta o povo por causa de sua infidelidade a Deus, requer justiça dos líderes de Judá e procura mostrar que a salvação só pode vir do Senhor e

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não de acordos e alianças com outros países e nações. O livro de Isaías apresenta Iavé como ―O Libertador de Israel‖ ou ―O Redentor de Israel‖ (45.15; 49.26; 62.11). “Eu, eu sou o Senhor, e fora de mim não há salvador”. Isaías 43.11

O Livro de Isaías, Uma Mini-Bíblia Dentro da Bíblia O livro do profeta messiânico tem sido chamado de ―A Bíblia dentro da Bíblia‖ ou uma ―mini-Bíblia‖ por causa da semelhança da sua estrutura com a estrutura da Bíblia. Curiosamente o livro de Isaías está naturalmente dividido em duas grandes seções, assim como a Bíblia também é dividida em duas grandes seções, o Antigo e o Novo Testamentos. A primeira seção de Isaías compreende justamente 39 capítulos, assim como o Antigo Testamento tem justamente 39 livros. A segunda seção de Isaías tem 27 capítulos (40 a 66) assim como o NT tem 27 livros. A primeira seção do livro de Isaías contém uma mensagem com ênfase no julgamento divino sobre a nação pecadora, na Lei e faz referências ao Messias prometido. A segunda seção realça a graça, a redenção prometida, oferecida e realizada pelo Senhor, O Redentor de

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Israel e ao Messias, mas agora como estando presente. A primeira seção anuncia o Messias. A segunda apresenta o Messias manifesto!

Um, Dois ou Três Isaías?

Partindo do ponto de vista cristão e judaico da autoria do livro de Isaías, a conclusão é simples e direta: sua autoria é única: foi Isaías, o profeta, que viveu no oitavo século antes de Cristo, o autor desse livro, capítulo por capítulo. Essa posição conservadora a respeito da autoria do livro de Isaías, no entanto, vem sendo questionada pela erudição moderna. Existe uma hipótese da crítica bíblica concernente ao livro de Isaías que o classifica em ―Proto-Isaías‖ e ―DeuteroIsaías‖. ―Proto‖ indicando uma autoria para os capítulos 1 a 39, que seria a seção que de fato foi de autoria de Isaías, e ―Deutero‖ (gr. ―segundo‖) indicando uma segunda autoria para o livro, que abrangeria os capítulos 40 a 66. Esse ―DeuteroIsaías‖ teria sido escrito em data posterior ao ―Proto-Isaías‖, o que significa dizer que algumas profecias com caráter preditivo do livro na verdade, não passaram de ―fatos históricos narrados como se fossem ainda acontecer‖. É que segundo alguns estudiosos que defendem datas posteriores para alguns livros

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proféticos (como Daniel), os autores bíblicos tinham o hábito de escrever fatos históricos já ocorridos como se ainda fossem ocorrer. Pode até ser que isso tenha sido prática corrente na Antiguidade, mas resta-nos perguntar se isso de fato se aplica aos livros proféticos do Antigo Testamento. Mas a erudição moderna não defende apenas a posição de dois ―Isaías‖, mas chega a propor um terceiro Isaías. David F. Payne chega a afirmar que ―a maioria dos estudiosos defenderia um quadro mais ou menos assim: os oráculos do próprio Isaías estão contidos nos caps. 1-39; os caps. 40-55 são em grande parte obra de um profeta exílico do século VI; os caps. 56-66 contém os oráculos de ao menos mais um homem, que trabalhou na Palestina no final do século VI; e o livro todo também incorpora muitas notas editoriais, 14

em geral breves, mas algumas bem extensas‖

.

Em resumo, o livro de Isaías seria na verdade a reunião de textos de pelo menos três autores diferentes, percebendose isso por causa das diferenças de estilo literário e abordagens teológicas distintas contidas ao longo do livro de Isaías. Segundo os teólogos defensores dessa posição, o 14

PAYNE, David F. Comentário Bíblico NVI, organizado por F.F. Bruce. Ed. Vida, 1ª ed., 2008, p. 990.

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conteúdo do ―Proto-Isaías‖ volta-se mais para julgamento, ao passo

que

o

―Deutero-Isaías‖

oferece

conforto

e

sua

mensagem concentrava-se mais no Servo sofredor do Senhor, além do fato de que os capítulos 40 a 55 teriam sido escritos no contexto do Cativeiro. Essas evidências seriam indicativos de autorias diferentes e de que partes do livro teriam sido escritas em data posterior àquela que é proposta pela posição tradicional, como já explicado anteriormente. Se essa posição estiver correta, então a profecia espantosa a respeito de Ciro, sendo chamado pelo nome pelo profeta Isaías 150 antes do seu nascimento na verdade não passaria de um mero relato de algo contemporâneo ao escritor dessa ―profecia‖. Em outras palavras, a profecia deixa de ser profecia no sentido preditivo, perdendo assim o seu valor profético. Sob essa ótica, Isaías não teria predito nada, acontece apenas que o ―segundo Isaías‖ ou ―Deutero-Isaías‖ escreveu fatos que ele mesmo já conhecia por terem já ocorrido, portanto, sem nenhum caráter profético de fato!

Refutações à Hipótese

Pensamos que não é necessário separar a ideia de que houve um trabalho editorial no livro de Isaías de sua autoria

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única. De fato, o ministério dos profetas era mais oral que literário. O que diziam estava dito, mas quando escreviam suas mensagens, esse conteúdo necessitava sim de edição em função das ―amplificações, explanações e elos de ligação entre os oráculos‖15. Se aceita, por exemplo, a autoria única do Pentateuco (Moisés), mas reconhece-se como plausível a inserção de determinados textos adicionais, complementares, a fim de completar a narrativa, como por exemplo Deuteronômio 34 (afinal, como Moisés poderia ter escrito sobre sua morte?). É claro que os termos em que os livros bíblicos foram escritos eram bem distintos dos que envolvem toda a produção literária no século 21, mas mesmo hoje, quando se lança uma edição post mortem do autor, de um dado livro, por exemplo, costumase fazer correções e inserções, sem, contudo, comprometer a unidade autoral do livro. Outro fator interessantíssimo a se considerar na questão da unidade autoral de Isaías é que um argumento que poderia ser contrário torna-se favorável: o anonimato do suposto ―segundo Isaías‖. Sobre isso, citamos mais uma vez David F. Payne:

15

PAYNE, David F. Comentário Bíblico NVI, organizado por F.F. Bruce. Ed. Vida, 1ª ed., 2008, p. 990.

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... se realmente houve esse profeta extraordinário [que teria escrito os caps. 40-55 no sexto século a.C. – grifo meu), ministrando aos exilados na Babilônia, como é possível que até o seu nome e toda lembrança dele se tenham perdido?

16

Embora se reconheça que um profeta, anunciando a queda da Babilônia, precisaria sim, por questões de segurança, omitir-se, é ainda sim estranho quando pensamos, todavia, que houve profetas que lá estiveram e cujas identidades não foram ocultadas como Ezequiel e Daniel (este último chegou a interpretar os sonhos do rei que prenunciavam a substituição da Babilônia por outro reino – cf. Dn 2). De fato, alguns problemas permanecem em relação à autoria dupla ou tripla como eruditos modernos têm sugerido. Embora David F. Payne, aqui citado, se incline mais à hipótese de mais de um autor para Isaías, reconhece, todavia, que há algumas lacunas nessa hipótese17. Quanto ao argumento da diferença de estilos literários para se defender a dupla e/ou tripla autoria de Isaías, é importante considerar que o estilo de um autor pode variar de acordo com sua idade, contexto social, destinatário e o assunto que está sendo abordado. É inegável que elementos estilísticos 16 17

Idem, p. 991. Cf. a obra citada.

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são sim propensos às mudanças. Portanto, eruditos da ala conservadora afirmam que esse é um argumento de pouca força para se defender um autoria dupla ou tripla para o livro de Isaías e mesmo para outros livros do Antigo Testamento. Mas é preciso considerar ainda que, a despeito das nuances

que

possa

haver

em

Isaías,

determinadas

expressões, palavras e até frases se repetem – são comuns – em toda a extensão de Isaías. Comecemos citando a frase “as vossas mãos estão cheias de sangue”, que ocorre em 1.15 e 59.3. Deus, em Isaías, é chamado de “O Santo de Israel” em 10.17; 41.14 e 60.9 (nas três seções). Além de frases, palavras e expressões, temas também são abordados não apenas numa parte, mas em outras partes de Isaías, como por exemplo, a idolatria dos cananeus, o que é interessante, já que este tema não despertaria tanto interesse para um profeta que vivesse no período do pós-exílio, já que após os judeus regressarem do Cativeiro Babilônico, a idolatria já não era mais um problema tão agudo como antes do Cativeiro. Isso é visto nos livros proféticos do pós-cativeiro que, em geral, não abordam temas relacionados à idolatria. Era de se esperar, portanto, se de fato um segundo ou terceiro Isaías estivesse escrevendo após o Cativeiro, não abordar esse assunto, mas o tema da idolatria dos cananeus é assunto nas três seções.

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Por fim, um ponto muito importante a se considerar na questão da autoria de Isaías e a hipótese de uma dupla ou tripla autoria, é que muitos eruditos da Alta Crítica notadamente

apresentam

uma

rejeição

ao

sobrenaturalismo bíblico, o que não deixa de ser um fator norteador em sua pesquisa. Mas estudiosos sérios (mesmos os que

se

inclinam

a

negar

o

sobrenaturalismo

bíblico)

reconhecem que esse é um elemento muito presente nas narrativas bíblicas, sendo que os autores bíblicos tencionaram relatar fatos e eventos sobrenaturais. Muitos estudiosos, em geral de linha liberal, procuram explicar esses milagres e eventos sobrenaturais como sendo meramente mitos do povo judeu, e não ocorrências de fato sobrenaturais, no sentido exato da palavra, denotando assim uma interferência divina direta.

Em favor ainda da unidade autoral do livro de Isaías citamos ainda três fatores ou evidências:

1. O Novo Testamento não assume a posição de que tenha havido mais de um autor para o livro de Isaías, pois todas as partes ou seções do livro são citadas e atribuídas a Isaías, chamando-o pelo nome. Essa é uma evidência

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doutrinária, é claro e embora reconheçamos que a questão

autoral

não

era

o

foco

dos

autores

neotestamentários, todavia, o próprio Payne, que admite a possibilidade de vários Isaías, reconhece que ―segundo o que sabemos, na época do Novo Testamento ninguém nunca questionou a unidade do livro de Isaías‖ 18. Pensamos que seria um grande erro ignorar a questão da autoria do livro de Isaías face ao Novo Testamento, já que seus autores estavam mais próximos da autoria de Isaías do que nós, hoje. Um texto muito contundente em relação ao

fato

de

que

os

escritos

neotestamentários

consideravam o livro de Isaías escrito por um personagem histórico apenas – o profeta Isaías, filho de Amoz – é João 12.38-41, onde João cita dois textos de Isaías (primeiro, 53.1 e depois, 6.9,10) e afirma que “Isto disse Isaías porque viu a glória dele e falou a seu respeito” (Jo 12.41). ―Obviamente o mesmo Isaías que viu a glória de Cristo na visão do Templo de Isaías 6 foi aquele que também fez a declaração que está registrada em Isaías 53.1‖19.

18 19

Idem, p. 991. Citado em Dicionário Bíblico Wycliffe, CPAD, 2ª ed., 2007, p. 986.

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2. Em contraste com Ezequiel, que profetizou entre os cativos

da

Babilônia,

o

suposto

―Deutero-Isaías‖

demonstra não conhecer ou estar familiarizado com o ambiente babilônico.

3. Norman L. Geisler, uma das vozes conservadores de maior erudição na atualidade, menciona o fato de que ―os Papiros do Mar Morto incluem uma cópia completa do livro de Isaías, e não há interrupção alguma entre os capítulos 39 e 40. Isso significa que a comunidade de Qumran aceitava a profecia de Isaías como sendo um único livro, no século II a.C. A versão grega da Bíblia hebraica, que também data do século II a.C., considera o livro de Isaías como um único livro, escrito por um único autor, o profeta Isaías‖20.

Terminamos esta seção sobre a autoria de Isaías com o seguinte comentário contido no Dicionário Bíblico Wycliffe: Muitos que aceitam a opinião [de mais de um autor para o livro de Isaías – grifo meu) falham por não perceber que esse argumento prova muitas coisas. Se o texto em 41.2-4 deve conter as 20

GEISLER, Norman L. HOWE, Tomas. Manual Popular de Dúvidas, Enigmas e “Contradições” da Bíblia. Mundo Cristão, 1999, p. 275.

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palavras de um contemporâneo de Ciro, então o cap. 53 deve conter as palavras de uma testemunha da crucificação. Isto é naturalmente impossível. Consequentemente, aqueles que negam que Isaías poderia ter pronunciado as profecias a respeito de Ciro devem defender que o mesmo argumento não se aplica ao cap. 53, ou devem negar que Isaías 53 seja uma profecia messiânica, apesar do claro testemunho do Novo Testamento ao cumprir-se na morte do Senhor Jesus (Mc 15.28; Lc 22.37: At 8.35; 1 Pe 2.22). Por trás desse argumento contra a unidade de Isaías, está naturalmente a doutrina moderna a respeito da profecia, segundo a qual o profeta era um homem de seu próprio tempo que falou somente ao povo de seu próprio tempo, e não às gerações futuras. Esta

é

uma

meia-verdade

muito

perigosa.

Os

profetas

testemunharam muito seriamente aos homens de sua própria época. Mas eles também falaram sobre coisas futuras, sobre ―aquele dia‖, ―o dia do Senhor‖. Sem usar muitas palavras, essa definição modernista da profecia minimiza ou elimina dela o elemento profético. Contudo, de acordo com os claros ensinos das Escrituras, o cumprimento das profecias representa a evidência mais clara de que a palavra do profeta é uma mensagem de Deus; e nenhuma passagem declara esta verdade de uma forma mais clara do que os escritos do próprio 21

Isaías‖ .

21

Dicionário Bíblico Wycliffe, CPAD, 2ª ed., 2007, p. 986.

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O Livro de Isaías e o Novo Testamento

O livro de Isaías foi muito utilizado pelos escritores do Novo Testamento: são pelo menos 67 citações feitas em Mateus, Marcos, Lucas, João, Atos, Romanos, 1 e 2 Coríntios, Gálatas, Hebreus e 1 Pedro. Vários textos de Isaías citados no Novo Testamento são de caráter preditivo, de modo que os eventos narrados pelos autores neotestamentários eram o cumprimentos desses textos. A vinda de João Batista, pregando antes de Cristo e preparando-lhe o caminho (40.3-5 com Mc 3.1-1) e vários textos que se cumpriram na Pessoa de Cristo: sua encarnação e divindade (7.14 com Mt 1.22,23, Lc 1.34,35 e 9.6,7 com Lc 1.32,33; 2.11), sua missão (11.2-5; 42.1-4; 60.1-3 e 61.1 com Lc 4.17-19, 21) e sua morte expiatória (53.4-12 e Rm 5.6)22. Diante desses e de tantos outros textos sobre a vida, ministério, sofrimento, morte e ascensão do Messias, não temos dúvida de que Isaías predisse a vinda do Messias e deu muitas informações sobre Ele. Diante desse fato, muitos estudiosos tem considerado Isaías ―O Evangelho do Antigo Testamento‖.

22

Para mais textos proféticos que se cumpriram em Cristo, ver a introdução ao livro de Isaías da Bíblia de Estudo Pentecostal, CPAD.

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Esboço do Livro de Isaías

1. Profecia de denúncia e convite (primeira seção do livro) 1.1-35.10 Mensagem de Julgamento e promessas - 1.1-6.13 Mensagem concernentes ao Emanuel - 7.1-12.6 Mensagem de Julgamento sobre as nações - 13.1-24.23 Mensagem de Julgamento, louvor, promessa - 25.1-27.13 Os infortúnios dos descrentes imorais em Israel - 28.1– 33.24 Resumo - 34.1-35.10

2. O procedimento de Deus com Ezequias 36.1-39.8 Deus liberta Judá - 36.1-37.38 Deus cura Ezequias - 38.1-22 Deus censura Ezequias - 39.1-8

3. Profecia de consolo e paz (segunda seção do livro) 40.166.24 A garantia de consolo e paz - 40.1-48.22 O Servo do Senhor, o Autor do consolo e da paz - 49.1-57.21 A realização do consolo e da paz - 58.1-66.24

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BREVE ANÁLISE DE ALGUNS TEXTOS DO LIVRO DE ISAÍAS

Declarada a Impiedade de Judá e o Vislumbre de Esperança – Is 1-5

Já no primeiro versículo deste livro, Isaías se situa no tempo em que profetizava: “... nos dias de Uzias, Jotão, Acaz e Ezequias, reis de Judá”. Ele informa que sua visão era a respeito de Judá. Nesse texto, o profeta denuncia a religiosidade hipócrita do povo e, a semelhança de outros profetas do Altíssimo, salienta que atos meramente exteriores, vazios de significado, não podem purificar ―Sodoma‖, termo aqui usado pelo profeta para indicar o tão baixo nível a que havia chegado a nação. O profeta é enfático em dizer que Deus já não suportava mais a hipocrisia do povo, de modo que, diz o Senhor por intermédio de Isaías, “quando estendeis as mãos, escondo de vós os olhos; sim, quando multiplicais as vossas orações, não as ouço, porque as vossas mãos estão cheias de sangue” (v. 14). Isso nos lembra a dura condenação de Jesus contra os fariseus, por sua religiosidade meramente mecânica, exterior, em Mateus 23.

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Os capítulos 1 a 5 não contém material biográfico, sendo destinados a indicar quão grave era a situação em Jerusalém e Judá. Interessante notar que já nestes capítulos iniciais Isaías prediz primeiro o castigo de Judá, mas profetiza a respeito de um tempo de restauração espiritual para a nação. Profetiza que o “Renovo do Senhor será de beleza e de glória...” (4.2). ―Renovo‖ aqui indicando o Messias que haveria de vir para fundar um novo Israel, agora redimido. É comum na literatura profética encontrarmos mensagens com esse teor tão esperançoso após profecias de juízo e castigo. Deus sabe como tratar com seu povo! Isso nos faz lembrar que a graça e a verdade aparecem juntas nas Escrituras. O salmista afirma que “encontraram-se a graça e a verdade” (Sl 85.10) e Davi pede ao Senhor: “... guardem-me sempre a tua graça e a tua verdade” (Sl 40.11). João informa-nos que a “... a lei foi dada por intermédio de Moisés; a graça e a verdade vieram por meio de Jesus Cristo” (Jo 1.17). Imagine o leitor se Deus nos desse sua verdade sem a sua graça! Certamente, não poderíamos suportá-la, pois Sua verdade não é fácil de ser suportada. Mas junto com a verdade, deu-nos também a Sua maravilhosa graça.

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Uma Profecia com Duplo Cumprimento – Is 7

Judá havia sido invadida pelos reis da Síria e de Israel que intentavam substituir Acaz por outro rei, como vemos no versículo 6, que favorecesse mais aos seus interesses políticos. Acaz, por sua vez, recorrendo às manobras políticas típicas, recorre a Tiglate-Pileser, rei da Assíria, a maior potência de sua época, que atende sua solicitação atacando a Síria e o norte de Israel. Mas foi no início do ataque siroisraelita que Isaías pronunciou sua profecia indicando que esse ataque contra Judá haveria de fracassar: “... Isto não subsistirá, nem tampouco acontecerá” (cf. v. 7b). Com o intuito de confirmar a veracidade dessa profecia, o próprio Deus oferece a Acaz “... um sinal, quer seja embaixo, nas profundezas, ou em cima, nas alturas” (v. 11). A rejeição desse sinal por parte de Acaz indicava sua propensão a confiar mais na aliança com o rei da Assíria do que no Senhor. O próprio Deus então oferece o sinal: “Portanto, o Senhor mesmo vos dará um sinal: eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho e lhe chamará Emanuel” (v. 14). Isaías teve dois filhos, que foram sinais proféticos para a nação (8.18), bem como os nomes que eles receberam: um se chamou Sear-Jasube (que significa ―UmResto-Volverá‖ – 7.3) e o outro Maer-Salal-Hás-Baz (―Rápido-

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Despojo-Presa-Segura‖ – 8.3). Ross E. Price afirma que mais ―uma vez vieram aquelas alternativas inescapáveis para Acaz: Confie em Deus e aceite o significado de Isaías (―Deus é salvação‖) ou confie no homem e conheça o signficado de Sear-Jasube (―somente um remanescente deverá escapar‖)23. Esse sinal extraordinário oferecido pelo Senhor a Acaz – o nascimento de uma criança com o nome de Emanuel (―Deus conosco‖) – indicava a iminência de um livramento dentro de um curto prazo. A frase no versículo 15 – “Ele comerá manteiga e mel quando souber desprezar o mal e escolher o bem” – pode indicar a idade de 12 ou 13 anos,

... o momento da determinação da responsabilidade moral sob a Lei. Assim, ―quando‖ o menino tivesse 12 ou 13 anos de idade (722/721 a.C.), ele estaria comendo coalhada (um tipo de iogurte) e mel, em vez de produtos agrícolas, por causa da devastação de Israel, provocada pela Assíria. Alguns acreditam que a expressão envolvia um período de tempo mais curto, em razão do que lemos no versículo 24

16 e em 8.4 .

Interessante notar que Mateus viu no nascimento de Jesus o cumprimento completo e cabal dessa profecia, quando 23 24

PRICE, Ross E. Comentário Bíblico Beacon. vol. 4, 2ª ed., 2005, CPAD, p. 47. Bíblia de Estudo Arqueológica NVI, ed. Vida, 1ª ed., 2013, p. 1.067, nota 7.15.

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afirma que “... tudo isto aconteceu para que se cumprisse o que fora dito pelo Senhor por intermédio do profeta: eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho, e ele será chamado pelo nome de Emanuel (que quer dizer: Deus conosco)” (Mt 1.22,23). Mais de uma vez os autores neotestamentários aplicaram profecias do Antigo a eventos ocorridos no período do Novo Testamento como cumprimento da Palavra do Senhor, por

intermédio

dos

profetas,

indicando

um

segundo

cumprimento ou um cumprimento maior da profecia, conforme a Lei da Dupla Referência25 (cf. Os 11.1 e Mt 2.15). Um Versículo Muito Debatido – Is 7.14

Certamente esse é um dos versículos mais debatidos da Bíblia; leiamos: “Portanto, o Senhor mesmo vos dará um sinal: eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho e lhe chamará Emanuel”. O centro da discussão gira em torno da palavra hebraica para ―virgem‖ nesse texto, que no hebraico é ̀almah e indica não exclusivamente uma mulher virgem, mas uma mulher muito jovem, inclusive em condições de se casar ou já casada! Interessante notar que o hebraico bíblico possui outra 25

Para uma melhor compreensão desse assunto, confira o Apêndice 3 ao final deste livro.

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palavra para indicar uma virgem de fato, bethulah. Portanto, o texto não indicaria ―uma jovem concebendo sem ter mantido relações sexuais‖. A LXX26 traduziu o termo hebraico pela palavra grega parthenos, que significa virgem, dando ao texto um enriquecimento messiânico que originalmente não possuía. Diante do exposto, pergunta-se em que consistiria exatamente o sinal: uma virgem (no sentido exato da palavra) conceber ou o nascimento comum de uma criança chamada Emanuel? ... podemos interpretar o texto da seguinte forma: Acaz se negara a buscar um sinal, visto que ele sabia no seu coração que um sinal demonstraria que Isaías estava certo. Mesmo assim, um sinal iria confrontá-lo; e este sinal foi que, antes que pudessem passar nove meses, os invasores sírios e israelitas teriam partido de forma tão dramática que muitas mulheres grávidas dariam o nome Emanuel – 27

―Deus está conosco‖ – a seus recém-nascidos . (O nome Icabode, ―a glória se foi‖, cf. 1 Sm 4.21,22, é uma boa comparação e contraste). Em outras palavras, ―Emanuel‖ se tornaria um nome de criança muito comum no ano seguinte. No entanto, o nome seria um sinal ou prova para Acaz, não de que a ameça siro-efraimita

28

já tinha passado

(esse fato seria auto-evidente), mas de que o Deus que dessa 26

LXX refere-se à Septuaginta, a tradução do Antigo Testamento hebraico para o grego feita por 70 ou 72 tradutores judeus em Alexandria, no Egito. 27 O autor, nesse caso, abre um precedente para a ideia de que a referência em Is 7.14 não seja a uma mulher específica, mas seja uma referência geral. 28 Outra designação para “siro-israelita”, a coalizão das duas nações contra Judá. É que Israel é algumas vezes referido na profecia como “Efraim”.

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maneira era reconhecido como estando ―com‖ o seu povo tinha o propósito de causar graves dificuldades a eles por meio da Assíria. Quando essa ameaça se concretizaria? Em pouquíssimos anos, diz Isaías – antes que crianças que agora estavam no útero pudessem 29

crescer até o discernimento maduro (v. 16) .

29

PAYNE, David F. Comentário Bíblico NVI, organizado por F.F. Bruce. Ed. Vida, 1ª ed., 2008, p. 1.007.

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EXERCÍCIOS DE REVISÃO – LIÇÃO 2 ASSINALE COM “X” A ALTERNATIVA CORRETA 1) O livro de Isaías tem sido chamado o ________________ do Antigo Testamento. a) b) c) d)

Apocalipse Evangelho Apóstolo Nenhuma das alternativas anteriores está correta.

2) Em função das muitas profecias preditivas a respeito do ___________________, Isaías tem sido chamado o ___________________________. a) b) c) d)

profeta, Profeta Messiânico Profeta Messiânico, Messias Messias, Profeta Messiânico Nenhuma das alternativas anteriores está correta.

3) Certamente a maior parte do livro de Isaías (caps. 1 a 39) foi escrita durante os reinados de Uzias, Jotão, Acaz e Ezequias e o restante do livro, caps. 40 a 66, durante o reinado do ímpio e perverso rei _________________. a) b) c) d)

Joaquim Josias Nabucodonosor Manassés

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4) A terceira seção, que compreende os caps. 56 a 66 avança no tempo, com mensagens aos judeus repatriados da __________________. a) b) c) d)

Assíria Babilônia Etiópia Nenhuma das alternativas anteriores está correta.

5) O significado do nome Isaías é _________________. a) b) c) d)

―Iavé é Salvação‖ ―Iavé fortalece‖ ―Iavé consola‖ Todas as alternativas anteriores estão corretas.

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LIÇÃO 3 O LIVRO DE JEREMIAS E DE LAMENTAÇÕES DE JEREMIAS “Jeremias foi um homem sensível, de compleição delicada, para quem deve ter sido uma grande provação ser chamado para representar papel tão proeminente naqueles tempos escuros e tormentosos, e ter de ser posto “por muros de bronze, contra todo o país”. Mas ele é uma evidência do que pode fazer um homem em quem habita o Espírito de Deus com poderosa e viva força”. F. B. Meyer, antigo comentarista devocional da Bíblia.

INTRODUÇAO Nesta lição, consideraremos os dois livros – Jeremias e Lamentações de Jeremias – juntos, uma vez que Lamentações pode ser considerado uma espécie de apêndice ao livro de Jeremias e também pelo fato de os dois livros serem da mesma autoria. São duas pérolas da literatura bíblica, contendo mensagens de forte teor emocional. Ao ler Lamentações de Jeremias, temos a impressão de que o profeta está andando entre os escombros de Jerusalém, arruinada pelos exércitos babilônicos! O profeta Jeremias trata com vívida descrição a situação do povo e traz à tona seu próprio coração, seus próprios sentimentos pelo sofrimento de sua nação. Jeremias é um profeta bíblico que sofreu muito por carregar ―o peso da responsabilidade‖ de ter em sua própria boca as palavras do Senhor: “Depois, estendeu o Senhor a mão, tocou-me na boca e o Senhor me disse: Eis que ponho na tua boca as minhas

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palavras” (1.9). É impossível não ver em Jeremias um homem que se importava com aquilo que importava para Deus – um homem consumido por aquilo que Deus queria para seu povo e que sofria em consequência da desobediência desse povo. C. Paul Gray observa que Um dos maiores valores do livro [de Jeremias – grifo meu] é que Jeremias nos permite ver as suas lutas interiores, a extensão das suas emoções, à medida que busca levar a cabo uma tarefa que corta seu coração. Para seus inimigos e o público em geral ele parece inflexível e exageradamente teimoso. Mas Jeremias compartilha conosco seus pensamentos e sentimentos mais íntimos. Sabemos mais a respeito dele do que de qualquer outro profeta do Antigo Testamento. Nós o vemos nos momentos mais tristes e desesperadores da sua vida, mas também nos seus momentos de exultação e esperança. As oscilações da sua vida emocional podem ser tornar doloridas para o leitor, bem como alegres, visto que ele não hesita em expressar cada pensamento que desponta na superfície. Mas é a expressão desinibida dos seus sentimentos que nos intriga. Jeremias mostra exatamente quem ele é. Temos, portanto, o privilégio de ver um jovem imaturo 30 desenvolver-se em um gigante espiritual .

O Profeta O profeta Jeremias teve suas profecias muito atacadas em sua época. No capítulo 28 do livro temos narrado o seu embate com o falso profeta Hananias e no capítulo 29 ele prediz a morte do falso profeta Semaías no exílio. O nome ―Jeremias‖ significa ―O Senhor (Iavé) designa ou estabelece‖. A 30

GRAY, C. Paul. Comentário Bíblico Beacon. vol. 4, 2ª ed., 2005, CPAD, p. 248.

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mensagem profética de Jeremias indicava um cativeiro de 70 anos, ao passo que os falsos profetas diziam que o cativeiro duraria apenas dois anos: “Dentro de dois anos, eu tornarei a trazer a este lugar todos os utensílios da Casa do Senhor, que daqui tomou Nabucodonosor, rei da Babilônia, levando-os para a Babilônia” (28.3). Jeremias profetizava contra as melhores expectativas geradas pelos falsos profetas, o que tornava sua mensagem não tão agradável. Todavia, ele não declinou de sua posição de portador da verdade divina para o povo. Pouco mais de um século depois que Isaías exerceu o seu ministério, o Senhor agora chama o jovem Jeremias para o ofício profético, que era natural de uma família de sacerdotes. Seu pai se chamava Hilquias e a vila de onde era natural se chamava Anatote. O próprio significado do nome Jeremias é um indicativo de que ele fora de fato chamado e enviado pelo Senhor a profetizar a uma nação rebelde: ―a quem Iavé designou‖. Foi chamado ao ministério profético através de uma visão (1.4-10). Profetizou durante 40 anos, nos reinados dos cinco últimos reis de Judá (627 a 587 a.C.). A seguir, uma ordenação do livro a partir dos reinos em que as profecias de Jeremias foram anunciadas: 1. 2. 3. 4. 5. 6.

Josias (1.1-19; 2.1-6.30; 7.1-10.25; 18.1-20.18 Jeocaz – nenhuma referência Josias ou Jeoaquim (11.1-17-27) Jeoaquim (25 e 26, 35 e 36, 45-48) Joaquim (31.15-27) Zedequias (21-24; 27-34; 37-39; 49-51)

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7. Gedalias [e Egito] (40-44)31 As autoridades não recebiam bem as suas mensagens, pois Jeremias era tido como alguém que ―enfraquece as mãos dos homens de guerra que restam nesta cidade e as mãos de todo o povo‖ (38.4). Desse modo, Jeremias foi rejeitado, perseguido e preso. O livro de Jeremias possui alguns dados biográficos do profeta, pois alguns episódios de sua vida estão narrados no seu livro (caps. 26, 28, 32, 35-43). Nabucodonosor cuidou dele depois da destruição de Jerusalém (39.11-12). Foi forçado a ir para o Egito (43.6-7) e lá, em adiantada velhice, morreu martirizado na cidade de Mênfis. A Mensagem de Jeremias A mensagem do profeta Jeremias tinha aspectos de repreensão ao pecado do povo de Judá, a previsão do cativeiro babilônico e várias palavras de juízo contra as nações inimigas, como o Egito, Filístia, Moabe, Amom, Síria, etc. Mas o livro do profeta Jeremias não é só de juízo e castigo divinos sobre o povo. Há também a promessa do regresso da Babilônia após os 70 anos de cativeiro, o que significa dizer que há a esperança de reconstrução nacional da nação (cf. 25.11; 29.10). No livro também há uma referência ao Messias, futuro Rei da descendência de Davi (23.5,6). Jeremias é conhecido entre os estudiosos como o profeta das lágrimas, dado o teor melancólico de sua mensagem. E não era para ser diferente! O profeta Jeremias 31

Do livro Comentário Bíblico NVI, organizado por F.F. Bruce. Ed. Vida, 1ª ed., 2008, p. 1062.

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na extensão do seu ministério viu o povo afastar-se e como conseqüência, ocorrer a devastação da Jerusalém pelos exércitos babilônicos. Israel já completamente destruído. Agora, chegara a vez de e Judá.

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do Senhor cidade de tinha sido Jerusalém

I – O LIVRO DE JEREMIAS É importante estar atento quanto ao fato de que as narrativas do livro não estão em uma ordem cronológica exata. Temos no livro uma espécie de antologia das profecias e das experiências pessoais de Jeremias. Os caps. 1 a 6 parecem estar em ordem cronológica, mas do capítulo 7 em diante o livro não apresenta uma sequência cronológica bem definida. Alguns trechos do livro não indicam sequer uma data. Isso dificulta a sequenciação dos fatos em Jeremias. É preciso considerar, entretanto, que só o ―simples‖ fato de o livro existir, apesar do contexto turbulento em que ele foi escrito, seja em Judá ou concernente ao cenário internacional, já é resultado da providência divina. Os sofrimentos a que Jeremias foi submetido foram tantos que seria difícil organizar um documento, de maneira mais meticulosa. Podemos ter no capítulo 36 um vislumbre de como o livro foi escrito. Contexto Histórico No cenário internacional, Jeremias foi o principal profeta do Senhor no período de 627 a 587 a.C. para Judá e para as nações vizinhas. Os profetas Ezequiel, Daniel, Habacuque e Sofonias foram contemporâneos a ele. Ezequiel,

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assim como Jeremias, era oriundo da classe sacerdotal, mais jovem que Jeremias, e diferentemente dele, ministrou entre os cativos da Babilônia. O teor de sua mensagem era basicamente o mesmo da de Jeremias. Daniel, de linhagem real, também ministrava no cativeiro, mas no palácio de Nabucodonosor. Habacuque e Sofonias ajudaram Jeremias em Jerusalém. O momento histórico-político em que Jeremias profetiza é muito movimentado. Duas superpotências se levantavam no cenário mundial: o Egito e a Babilônia. Judá, um Estado fraco, ficava entre as duas, por vezes um Estado vassalo e por fim, subjugado. Não nos deteremos a descrever as movimentações internacionais que formam o contexto histórico do livro de Jeremias e de seu ministério, por questões de tempo e de espaço. Todavia, é importante pontuar que Jeremias começa a profetizar quando a Assíria começa a se fragmentar e perde a hegemonia mundial, como potência política. Em 626 a.C. morre o último grande rei da Assíria, Assurbanipal, o que incita o Egito e a Babilônia (e o próprio Josias, rei de Judá) a buscar a independência política. Após a batalha de Carquemis, em 606605 a.C., a Assíria cai de vez para não mais se levantar, o rei do Egito volta derrotado para sua nação e a Babilônia emerge definitivamente como a nova potência da Ásia. A batalha de Carquemis foi, basicamente, um confronto entre a aliança assírio-egípcia contra as forças dos caldeus, prevalecendo estes últimos.

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Em Judá, os precedentes históricos eram assustadores. Jeremias iniciou seu ministério no reinado de Josias, um rei bom que adiou temporariamente o juízo de Deus prometido por causa do governo terrível de Manassés. Os acontecimentos estavam mudando rapidamente o Oriente Próximo. Josias tinha iniciado uma reforma, a qual incluía a destruição dos lugares altos pagãos em Judá e Samaria. Entretanto, a reforma teve um efeito pouco duradouro sobre o povo. Assurbanipal, o último grande rei assírio, morreu em 627 a.C. A Assíria estava enfraquecendo, e Josias expandindo o seu território para o norte. A Babilônia, sob o domínio de Nabopolasar, e o Egito, sob Neco, estavam tentando sustentar sua autoridade sobre Judá. Em 609 a.C, Josias foi morto em Megido ao tentar impedir o Faraó Neco de ir contra o que restava da Assíria. Três filhos de Josias (Joacaz, Jeoaquim e Zedequias) e um neto (Joaquim) sucederam-no no trono. Jeremias viu a insensatez da linha de ação política desses reis e alertou-os sobre os planos de Deus para Judá, mas nenhum deles deu atenção à advertência. Jeoaquim foi abertamente hostil a Jeremias e destruiu um rolo enviado a ele, cortando-o em algumas colunas e jogando-as no fogo. Zedequias foi um governante fraco e vacilante, buscando às vezes os conselhos de Jeremias, outras vezes permitindo que os inimigos 32 de Jeremias o maltratassem e o aprisionassem .

A Mensagem do Livro de Jeremias Jeremias sempre insistiu que a Babilônia prevaleceria sobre Judá. Chegou a sugerir que se Judá se submetesse à Babilônia, seria poupada. Se Isaías, cem anos antes, não contemplou a destruição de Israel pela Assíria, Jeremias não teve a mesma felicidade em relação à Judá, pois ele 32

Bíblia de Estudo Plenitude. SBB.

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contemplou a destruição da cidade e do templo. Ele inicia seu ministério em 626 a.C. e durante 40 anos profetiza. Em 606 a.C., 20 anos após sua chamada, Babilônia invade Jerusalém deixando-a parcialmente destruída. Tem início aí o cativeiro babilônico, que duraria 70 anos. Em 586 a.C. o ―profeta das lágrimas‖ vê Jerusalém ser arruinada até as cinzas!33 É interessante notar que Deus, para corrigir seu povo, irá usar uma nação pagã, a Babilônia. Pode parecer estranho, muitas vezes, a maneira de Deus agir. O profeta Habacuque, contemporâneo de Jeremias, também foi avisado por Deus de que a Babilônia invadiria Jerusalém. Inicialmente, ele clama a Deus por causa da injustiça e da violência praticadas em Judá, e Deus lhe responde dizendo que os caldeus castigarão Judá. O profeta Habacuque acaba por ficar ainda mais confuso, afinal, como Deus poderia usar um povo ainda mais cruel para corrigir Jerusalém e Judá? Todavia, o Senhor lhe diz: “Eis o soberbo! Sua alma não é reta nele; mas o justo viverá pela sua fé” (Hc 2.4). A História, sob a ótica bíblica, não é cíclica, mas linear e Deus está no controle dos eventos a fim de que eles cumpram a Sua vontade. A perversa Babilônia foi o braço executor do juízo de Deus sobre a pecadora Judá, mas ela também foi castigada pelo Senhor por sua grande impiedade. Assim como aconteceu com Judá, Babilônia também seria castigada pela sua impiedade.

33

Importante notar que ocorreram três invasões sucessivas: a primeira, em 606 a.C., que marca o início da contagem dos 70 anos profetizados por Jeremias (25.11,12; 29.10); a segunda, em 597 a.C., e a terceira em 586 a.C., quando tanto a cidade como o templo são totalmente destruídos.

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O Livro de Jeremias e o Novo Testamento Os escritores do Novo Testamento por vezes citaram e desenvolveram sua teologia com base em escritos do livro do profeta Jeremias. Exemplo muito interessante temos no livro de Hebreus, onde o autor ao falar da nova aliança, da qual Cristo é o Mediador, menciona textos de Jeremias (cf. Hb 8.8-13; 10.15-17 com Jr 31.31ss). Mateus, quando narra a matança dos inocentes por ordem de Herodes, no afã de tentar matar também o menino Jesus, cita Jeremias 31.15, afirmando enfaticamente que aquilo era o cumprimento do que “... fora dito por intermédio do profeta Jeremias” (cf. Mt 2.17,18). Um dos conceitos teológicos mais lindos expressos no Novo Testamento – Cristo como herdeiro do trono davídico – encontra base também em Jeremias. Lucas cita Jeremias 23.5 afirmando que Deus daria a Jesus o trono de Davi (cf. Lc 1.32). O apóstolo João, escrevendo o Apocalipse, salienta a onisciência de Cristo citando Jeremias 11.20 e 17.10. Aliás, o próprio Cristo foi comparado com Jeremias, quando chorou sobre Jerusalém (cf. Mt 16.14). Essa comparação se deu pelo fato de que Jeremias, em seu tempo, lamentava a pecaminosidade de Jerusalém e viu o que lhe ocorreria em função disso. Cristo, sendo Deus, anteviu a destruição da cidade pelos romanos, em 70 d.C., e lamentou por isso. Ao todo, os autores do Novo Testamento citam Jeremias 40 vezes, sendo a maioria das citações relacionadas com a queda de Babilônia (o livro de Apocalipse).

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Esboço do Livro de Jeremias 1. O chamado de Jeremias - 1.1-9 2. Coleção de discursos - 2.1-33.26 Primeiro oráculos - 2.1-6.30 Sermão do templo e abusos no culto - 7.1-8.3 Assuntos diversos - 8.4-10.25 Eventos na vida de Jeremias - 11.1-13.27 Seca e outras catástrofes - 14.1-15.21 Advertência e promessas - 16.1-17.18 A santificação do sábado - 17.19-27 Lições do oleiro - 18.1-20.18 Oráculos contra leis, profetas e povo - 21.1-24.10 O exílio babilônico - 25.1-29.32 O livro de consolação - 30.1-35.19 3. Apêndice histórico - 34.1-35.19 Advertência a Zedequias - 34.1-7 Revogada a libertação de escravos - 34.8-22 O exemplo dos recabitas - 35.1-19 4. Julgamentos e sofrimentos de Jeremias - 36.1-45.5 Jeoaquim e os rolos - 36.1-32 Cerco e queda de Jerusalém - 37.1-40.6 Gedalias e o seu assassinato - 40.7-41.18 A fuga para o Egito - 42.1-43.7 Jeremias no Egito - 43.8-44.30 Oráculos para Baruque - 45.1-5

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5. Oráculos contra nações estrangeiras - 46.1-51.64 Contra o Egito - 46.1-28 Contra os filisteus - 47.1-7 Contra Moabe - 48.1-47 Contra os amonitas - 49.1-6 Contra Edom - 49.7-22 Contra Damasco - 49.23-27 Contra Quedar e Hazor - 49.28-33 Contra Helão - 49.34-39 Contra a Babilônia - 50.1-3 6. Apêndice histórico - 52.1-34 O reinado de Zedequias - 52.1-3 Cerco e queda de Jerusalém - 52.4-27 Sumário de três deportações - 52.28-30 Libertação de Joaquim - 52.31-34 ANÁLISE DE ALGUNS TEXTOS DO LIVRO DE JEREMIAS O chamado de Jeremias – caps. 1-3 Jeremias começa seu livro apoiando-se na autoridade da Palavra do Senhor: “a ele veio a palavra do Senhor...” (1. 2). Como Ezequiel, Jeremias recebe seu chamado através de uma visão. Sua cidade de origem, Anatote, ficava uns 4 quilômetros a nordeste de Jerusalém e era uma cidade levítica, no território de Benjamin. Atualmente, a cidade se chama ‗Anata. O Senhor declara a Jeremias que o havia chamado para uma missão muito ampla, não restrita apenas à Judá: “... te constituí profeta às nações” (1.3). Jeremias, à semelhança de Moisés, reluta em

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aceitar o chamado divino (cf. Êx 3.11; 4.10). F. B. Meyer comenta que ―Jeremias era muito jovem e tentou esquivar-se da grande missão a ele confiada. Os mais nobres sempre agem assim‖. Como é interessante perceber que Deus, nas Escrituras, frustra as intenções de alguns que quiseram postarse arrogantemente, e a outros que agiram com humildade Ele os presenteava com bênçãos grandiosas. Em Gênesis 11, Ele frustra os projetos daqueles que em rebelião contra Ele haviam dito: “... tornemos célebre o nosso nome...” (v. 4). No capítulo 12, no entanto, para um homem que não buscava fama, Ele promete: “... te engrandecerei o nome” (v. 2). Mas o chamado de Jeremias, “... para arrancares e derribares, para destruíres e arruinares e também para edificares e para plantares” (1.10), implicaria em grande sofrimento para ele. Em geral, os profetas do Senhor foram homens sofredores. Jeremias foi ameaçado de morte por anunciar a mensagem divina com integridade (26.7ss), foi preso e depois lançado numa cisterna e finalmente ajudado por um etíope (um africano – cf. caps. 37 e 38) e por fim, segundo a tradição, foi morto no Egito, tendo sido levado para lá como uma espécie de amuleto pelos que restaram do cativeiro babilônico e depois foi apedrejado pelos seus compatriotas (cf. caps. 43 e 44). Uma Visão Interessante – 1.11 e 12 Nesses versículos (11 e 12) Jeremias contempla ―uma vara de amendoeira‖. Logo em seguida o Senhor relaciona essa imagem com a Sua fidelidade no sentido de cumprir Sua Palavra. É que no hebraico há um jogo de palavras usado para indicar que Deus cuida – ―vigia‖ – para que sua Palavra seja

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fielmente cumprida. No hebraico, a amendoeira é a árvore ―vigilante‖, comenta F. B. Meyer, pois ela é a primeira árvore a florescer na primavera, acordando do sono do inverno antes das outras – daí ser chamada de ―árvore vigilante‖. No capítulo dois, Jeremias denuncia a apostasia de Israel – seu abandono de Deus – em função de sua idolatria. Israel cometeu dois males terríveis, diz o Senhor, o abandonou, “o manancial de águas vivas”, e em lugar disso, cavaram “cisternas rotas”, ou ―cisternas rachadas que não retêm água‖, como na NVI (cf. 2.13). Em uma região como a Palestina, onde a água não é abundante, é indispensável construir cisternas para armazenar a água (cf. 2 Sm 2.13). Essas cisternas eram cavadas na pedra porosa e depois eram impermeabilizadas com uma mistura de cal e areia. Contudo, sempre existia a possibilidade de se fenderem e deixarem escapar a água. Além disso, a qualidade da água armazenada não tinha comparação com a que brotava do manancial

34

.

No capítulo três, Jeremias compara Judá à uma prostituta, por causa de sua infidelidade espiritual. Judá é pior que Israel, declara o profeta! (cf. 3.10,11). Mencionam-se os ―altos‖, uma alusão às colinas onde se prestava culto aos deuses da fertilidade. A comparação da nação com uma mulher prostituta é recorrente no Antigo Testamento (Jr 3.6-13; Ez 16.26,28,29; Os 1.2; 2.5-7).

34

Sociedade Bíblica do Brasil: Bíblia De Estudo Almeida Revista E Atualizada. Sociedade Bíblica do Brasil, 1999; 2005.

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II – O LIVRO DE LAMENTAÇÕES DE JEREMIAS

Introdução

O autor deste livro expressa o mais profundo da sua alma em relação à como agora se acha “solitária aquela cidade dantes tão populosa!” (Lm 1.1 – ARC). Os cinco capítulos que estão escritos em forma poética são, na verdade, uma espécie de apêndice ao livro de Jeremias com as suas profecias. Seu título em hebraico é Eichah, que significa simplesmente ―como?‖, a primeira palavra do livro no original hebraico. O livro também recebe o nome de qinah que significa ―lamentação‖. A Septuaginta nomeou este livro como Threnoi, que significa ―lamento‖, ―cântico de dor‖, ―cântico fúnebre‖, ―gemido‖. Na Vulgata Latina o título específico é Lamentationes. Em português, a palavra ―lamentação‖ ―vem do latim, lamentum, que indica o ato de chorar, deplorar, carpir‖ 35. Este título expressa bem o contexto histórico de Lamentações. Jerusalém está agora desolada e o templo, símbolo máximo da religião judaica, arruinado!

35

CHAMPLIN, Russell N. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. vol. 3, ed. Candeia, 1991, p. 718.

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A catástrofe terrível que ocorreu com o país de Judá e a cidade de Jerusalém em 587-586 a.C. constitui a cortina de fundo desse pequeno livro. O exército babilônico de Nabucodonosor tinha sitiado Jerusalém por dezoito longos meses. Quando a cidade afetada pela fome e doença foi finalmente tomada, ela foi totalmente demolida e incendiada. Foi uma ocasião trágica e muito sofrida para o povo judeu. A segurança de Jerusalém era vista como uma doutrina preciso pelos habitantes da cidade desde os tempos de Isaías (701 a.C.). Agora, os que estavam vivos para ver a cidade em ruínas e o Templo completamente destruído tinham dificuldades em acreditar naquilo que viam. A aflição deles era quase insuportável. Nos meses e anos que se seguiram, suas mentes foram importunadas com muitas perguntas não respondidas acerca da sua história 36

passada e do seu destino futuro .

Vejamos a seguir como Flavio Josefo, conhecido historiador judeu, descreve o cerco e consequente destruição de Jerusalém e do Templo: Nabucodonosor apertava cada vez mais o cerco. Mandou construir altas torres, com as quais sobrepassava as muralhas da cidade, e também grande quantidade de plataformas tão altas quanto os muros. Os habitantes, por sua vez, defendiam-se com todo empenho e com toda a coragem possível, sem que a fome e a peste pudessem esmorecê-los. A coragem dava-lhes ânimo contra os

36

GRAY, C. Paul. Comentário Bíblico Beacon. vol. 4, 3ª ed., 2009, CPAD, p. 401.

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males e perigos. E, sem se espantar com as máquinas de que seus inimigos se serviam, opunham-lhes outras. [...] Passaram-se dezoito meses desse modo. Por fim, os sitiados, consumidos pela fome, pela peste e pela quantidade de dardos que os inimigos lhes atiravam do alto das torres, cederam, e a cidade foi tomada pela meia-noite do décimo primeiro ano, no nono dia do quarto mês do reinado de Zedequias por Nergelear, Aremante, Emegar, Nabazar e Ercarampsar, generais de Nabucodonosor que então estavam em Ribla. Eles marcharam diretamente para o Templo. O rei Zedequias, sua esposa, seus filhos, seus parentes e as pessoas da nobreza que ele mais estimava saíram da cidade para fugir por lugares desconhecidos rumo ao deserto. Os babilônios, porém, foram avisados por um dos que eles haviam deixado de lado ao fugir, e ao despontar do dia puseram-se a persegui-los. Alcançaram-nos perto de Jericó e quase todos os que acompanhavam Zedequias o abandonaram. Ele foi aprisionado com sua mulher, seus filhos e os poucos que lhe restavam, e todos foram levados ao rei. Nabucodonosor chamou-o de ímpio e pérfido por faltar à promessa de lhe conservar inviolavelmente o reino, pois para isso pusera a coroa na sua cabeça. Reprovou-lhe a ingratidão, por esquecer-se da obrigação que lhe devia por tê-lo preferido a Joaquim, seu sobrinho, ao qual pertencia o reino, e por ter empregado contra o seu benfeitor o poder que este lhe concedera. E terminou com estas palavras: ―Mas o grande Deus, para castigar-vos, vos entregou em minhas mãos‖. Então, na presença dele e diante dos outros escravos, mandou matar os seus filhos e amigos. Vazou-lhe os

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olhos e ordenou que o acorrentassem para levá-lo escravo à 37

Babilônia .

Josefo prossegue dizendo que o que acontecera era cumprimento das profecias de Jeremias e Ezequiel, profecias essas que foram desprezadas por Zedequias. Jeremias havia profetizado que ele seria feito prisioneiro, seria levado a Nabucodonosor e o veria face a face; e Ezequiel havia profetizado que ele seria levado à Babilônia, mas não a poderia ver! Josefo então afirma: Esse exemplo ensina, mesmo aos mais ignorantes, o poder e a sabedoria infinita de Deus, que sabe fazer realizar por diversos meios e no tempo por Ele marcado tudo o que determina e prediz. [...] Esse foi o fim da estirpe de Davi, depois que vinte e um reis seus

descendentes

sucessivamente

ocuparam

o

trono

e

empunharam o cetro do reino de Judá. E todos os seus governos, juntamente, duraram quinhetos e quatorze anos, seis meses e dez dias. Nabucodonosor, depois da vitória, enviou Nebuzaradã, general de seu exército, a Jerusalém, com ordem de incendiar o Templo após retirar de lá tudo o que encontrasse e de também reduzir a cinzas o palácio real e de destruir a cidade por completo. Deveria trazer depois todos os habitantes como escravos para a Babilônia... esse general (Nebuzaradã – grifo meu), para executar tal ordem,

37

JOSEFO, Flavio. História dos Hebreus. CPAD, 15ª ed.: 1990, pp. 482-3.

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despojou o Templo de tudo o que lá encontrou: levou todos os vasos de ouro e de prata, o grande vaso de cobre chamado mar, que Salomão mandara fazer, as duas colunas de bronze, as mesas e os candelabros de ouro. Em seguida, incendiou o Templo e o 38

palácio real e destruiu completamente a cidade .

O livro é composto por cinco poemas que estão dispostos no livro, respectivamente, em cinco capítulos. Pode ser considerado uma espécie de cântico fúnebre da cidade de Jerusalém. A impressão que temos ao ler as comoventes palavras do ―profeta das lágrimas‖ é de que ele está de pé em meio aos escombros da cidade e do templo. Quem sabe não foi assim de fato!? Mas no livro de Lamentações encontramos um clarão de luz de esperança em meio à escuridão da desolação que se abatera sobre a cidade: “O Senhor não rejeitará para sempre; pois, ainda que entristeça a alguém, usará de compaixão segundo a grandeza das suas misericórdias; porque não aflige, nem entristece de bom grado os filhos dos homens”.

Lamentações de Jeremias 3.31-33 38

Idem. p. 483.

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O Livro de Lamentações e sua Colocação na Bíblia Hebraica

O livro de Lamentações está incluído na terceira divisão do cânon hebraico, junto com outros quatro livros, na seção chamada pelos judeus de ―Escritos‖, ou Hagiographa, ―Escritos Sagrados‖, ou ainda, ―Os Cinco Rolos‖, como eram também conhecidos esses cinco livros (ou rolos). Você Sabia? Um dado histórico muito interessante aqui é saber que cada um desses cinco livros eram lidos em público anualmente pelos judeus em uma de suas festas sagradas. Halley informa que até ―o dia de hoje, o livro de Lamentações é lido publicamente nas sinagogas do mundo inteiro, em todos os locais onde existem judeus, no nono dia do quarto mês, o dia de jejum que lembra a queda do templo (Jr 52.6)39.

O livro de Lamentações de Jeremias, a despeito de quem seja seu autor, foi escrito por alguém que sem dúvida foi testemunha ocular dos eventos subseqüentes à invasão

39

HALLEY, H. H. Manual Bíblico de Halley. ed. Vida, 1ª ed. 2002, p. 330.

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babilônica. É provável que tenha sido escrito no breve período decorrido entre a destruição de Jerusalém e a partida dos sobreviventes para o Egito e também é provável que cópias tivessem sido enviadas para os exilados na Babilônia e para os restantes que fugiram para o Egito, a fim de que eles memorizassem e cantassem. Desse modo, o livro deve ter sido escrito depois de 586 a.C., mas não antes de 538 a.C.

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Na tabela a seguir temos a disposição dos livros conforme o cânon hebraico:

A DIVISÃO DO CÂNON HEBRAICO LEI

PROFETAS

ESCRITOS

Gênesis

Profetas Anteriores

Livros Poéticos

Êxodo

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Reis (os dois livros)

Os Cinco Rolos

Profetas Posteriores

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Isaías

Rute

Jeremias

Lamentações de Jeremias

Ezequiel

Eclesiastes

Os Doze Profetas Menores reunidos em um só livro

Ester

Livros Históricos Daniel Esdras-Neemias (num livro só) Crônicas (os dois livros) Tabela 3

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Autoria e Contexto Histórico do Livro de Lamentações Em 2 Crônicas 35.25 lemos assim: “Jeremias compôs uma lamentação sobre Josias; e todos os cantores e cantoras, nas suas lamentações, se têm referido a Josias, até ao dia de hoje; porque as deram por prática em Israel, e estão escritas no Livro de Lamentações”. Mesmo que esse texto não possa ser usado para indicar, de maneira definitiva, a autoria de Jeremias para o livro de Lamentações, certo é que ele indica que Jeremias produziu esse tipo de literatura. Champlin pontua que ―o trecho de Lamentações 3.48-51 parece similar às expressões de Jeremias 7.16; 11.14; 14.11-17 e 15.11)‖40. É fato que não há nada no texto hebraico que indique a autoria de Jeremias, mas tanto a tradição judaica quanto a cristã atribui sua autoria a Jeremias. A LXX41 inclui uma nota preliminar que afirma: ―Sucedeu, quando Israel foi levado cativo e Jerusalém assolada, que Jeremias, chorando, se assentou e entoou esta lamentação sobre Jerusalém, dizendo:...‖42. Em 40

CHAMPLIN, Russell N. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. vol. 3, ed. Candeia, 1991, p. 720. 41 “LXX” refere-se à Septuaginta, a tradução do Antigo Testamento hebraico para o grego feita por 70 ou 72 tradutores judeus em Alexandria, no Egito. 42 Sociedade Bíblica do Brasil: Bíblia De Estudo Almeida Revista E Atualizada. Sociedade Bíblica do Brasil, 1999; 2005, Lm.

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favor do profeta Jeremias ser o autor do livro que leva seu nome, Edward Young menciona o fato de que expressões similares ocorrem em Jeremias e Lamentações: os olhos do profeta ―se desfazem em água‖ (Lm 1.16; 2.11 e Jr 9.1, 18b; 13.17b), ―há terror por todos os lados‖ (Jr 6.25; 20.10 e Lm 2.22) e ―Veja eu a tua vingança sobre eles‖ (Jr 11.20 e Lm 3.64-66)43. Champlin44 menciona várias evidências contrárias à possibilidade de Jeremias ter sido o autor do livro; dentre elas, menciono a que está relacionada ao quinto poema que, conforme bem explica Champlin, indica que o autor de Lamentações reflete no texto um tempo já transcorrido após a ocupação babilônica de Jerusalém, sendo que segundo sabemos da História Bíblica, Jeremias ―permaneceu apenas algumas poucas semanas na Palestina, após a captura de Jerusalém‖45.

Todavia,

mesmo

após

apresentar

vários

argumentos contra a autoria do profeta Jeremias para o livro de Lamentações, Champlin conclui dizendo que não ―há como se fazer uma declaração firme sobre a questão. O livro de Lamentações não indica quem foi o seu autor – a obra é

43

Citado por Stanley A. Ellisen, em Conheça Melhor o Antigo Testamento. ed. Vida, 8ª imp., 2000, p. 239. 44 Op. Cit. 45 Op. Cit. p. 720.

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anônima‖46. Todavia, mesmo que não tenha sido o profeta Jeremias o seu autor humano, não nos resta dúvida quanto ao seu Autor divino. Que o livro é divinamente inspirado, e digno de constar no cânon sagrado, isso é ponto pacífico.

A Mensagem do Livro de Lamentações

Em Lamentações, Sião ficou deserta. Jerusalém é comparada agora a uma mulher que ficou viúva (1.1). Aquela cidade, que havia experimentado pouco antes um avivamento sob o reinado de Josias, onde a importância do templo, face aos santuários sincretistas ao redor da nação, havia sido destacada e esse clima de avivamento tendia a criar no povo uma expectativa de inviolabilidade do templo e da cidade, agora jazia destruída! A cidade de Jerusalém continha o templo que era o símbolo da religiosidade do povo judeu, todavia, Jeremias

havia

profetizado

contra

essa

ideia

errônea

procurando demonstrar que os símbolos eram inválidos se não houvesse uma verdadeira religião, se os símbolos e rituais não expressassem o íntimo do coração em relação a Deus. Os tristes eventos que acometeram Jerusalém eram o resultado da justiça de Deus – agora celebrada – e também os efeitos 46

Op. Cit. p. 721.

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altamente destruidores do pecado contínuo da nação e seus líderes contra Deus. A cidade que outrora populosa, agora é solitária, sujeita a trabalhos forçados e chora de dia e de noite não tendo quem a console, tamanha é a sua vergonha, declara o profeta (1.1,2)! O autor do livro parece personificar a cidade de Jerusalém ao se referir a ela. Como uma mãe que vê seus filhos perecerem, assim está Jerusalém agora. O profeta a convida a confiar outra vez no Senhor. Lamentações não é só pranto – mesmo em horas tão escuras como as que o profeta atravessava, ele pôde expressar sua confiança em Deus, certo de que “O Senhor não rejeitará para sempre; pois, ainda que entristeça a alguém, usará de compaixão segundo a grandeza das suas misericórdias; porque não aflige, nem entristece de bom grado os filhos dos homens” (3.31-33). O mesmo Deus que usara uma nação estrangeira para corrigir seu povo poderia, com igual poder, trazê-los novamente à sua terra! O livro, portanto, exalta a justiça e a misericórdia de Deus, além de realçar o fato de que por trás de eventos tenebrosos, muitas vezes, está a Mão que conduz a História.

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Esboço do Livro de Lamentações de Jeremias

1. Primeiro lamento: Tristeza da Sião cativa (1.122) 2. Segundo lamento: As tristezas de Sião vêm do Senhor (2.1-22) 3. Terceiro

lamento:

Esperança

de

libertação

através da misericórdia de Deus – um vislumbre de esperança em meio ao caos! – (3.1-66) 4. Quarto lamento: O castigo de Sião consumado (4.1-22) 5. Quinto lamento: Oração do povo afligido (5.122)47.

Lamentações de Jeremias, um Acróstico Alfabético

Lamentações, como já mencionamos, consiste de cinco poemas, sendo quatro escritos em forma de acróstico alfabético – um recurso magnífico usado na poesia hebraica. Trata-se de um artifício literário encontrado em alguns poemas do Antigo Testamento para ajudar a memória ou propiciar a 47

Esboço extraído da Bíblia De Estudo Almeida Revista E Atualizada. Sociedade Bíblica do Brasil, 1999; 2005, Lm, com algumas adaptações feitas por mim.

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divisão das estrofes. O tipo de acróstico empregado no Antigo Testamento é de caráter alfabético. Talvez o exemplo mais conhecido seja o Salmo 119. Este salmo inteiro forma um acróstico alfabético. Suas vinte e duas seções de oito versos cada correspondem às vinte e duas letras do alfabeto hebraico. Cada versículo começa com a letra da sua respectiva seção. Isso pode ser verificado na versão ARC. É lógico que na tradução do hebraico para outras línguas, o efeito do acróstico se perde e as letras iniciais de cada versículo não são todas as mesmas para cada divisão do salmo. Há outros Salmos acrósticos como o 9, 25, 34, etc. Já em Lamentações os capítulos 1,2 e 4 contêm 22 versos com acrósticos, que nem sempre seguem uma ordem precisa. O capítulo 3 tem três versos para cada letra do alfabeto. Alguns afirmam que os poemas acrósticos sejam de um período posterior, mas essa opinião não está baseada em fatos. A seguir, você tem o texto hebraico dos oito primeiros versos do Salmo 119 dispostos em dois gráficos, onde o gráfico da direita dispõe os oito versos com todas as letras álefes48 marcadas. Repare que esta é a primeira seção, i.e., a ―seção Álefe‖, onde todos os versos iniciam justamente com esta letra. Lembre-se ainda de que no hebraico a leitura é feita da direita para a esquerda: 48

“Álefe” é o nome da primeira letra do alfabeto hebraico.

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BREVE ANÁLISE DE LAMENTAÇÕES cap. 3 Esse capítulo difere dos demais no quesito estruturação, já que tem três vezes mais versículos que os demais capítulos do livro, i.e., 66 ao invés dos habituais 22. Um detalhe que nos chama a atenção neste capítulo é o fato de grande parte dele estar na primeira pessoa: ―eu‖, ―a mim‖, ―meu‖, ―eu sou‖, ―me levou‖, ―me fez‖, ―contra mim‖, etc. Isso denota uma identificação do autor com a comunidade sofredora. Denota um sentimento altruísta, o que não impede que o poema seja usado como um lamento público. O autor está ligado à cidade como que de maneira orgânica. Expressões fortíssimas são usadas, tais como “Eu sou o homem que viu a aflição pela vara do furor de Deus” (v. 1) e “Entesou o seu arco e me pôs como alvo à flecha” (v. 12). Nota-se nestas expressões, inclusive, o fator ―castigo divino‖ nos tristes eventos ocorridos. Em outras palavras: essa grande desolação foi resultado da ira divina, há muito adiada, mas agora derramada! Todavia, o capítulo 3 não é só de desespero, desesperança – muito pelo contrário! Mesmo em meio a tanta dor, o autor reconhece que “As misericórdias do SENHOR são a causa de não sermos consumidos, porque as suas misericórdias não têm fim” (v. 22). Isso nos ensina uma grande lição espiritual: mesmo nas intempéries da vida, o servo do Senhor pode recorrer a Ele, pois “Bom é o SENHOR para os que esperam por ele, para a

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alma que o busca” (v. 25). O profeta expressa aquilo que deveria ser expresso pelo povo à Deus. C. P. Gray comenta o seguinte sobre os versículos 42 a 47: Deve haver confissão de pecado: Nós prevaricamos e fomos rebeldes (42), e sua confissão deve ser acompanhada pela lamentação (pranto, pesar genuíno). Nesses versículos vemos ―Os Resultados de Rejeitar a Deus‖. 1) A rebelião corta as misericórdias de Deus; tu não perdoaste (42). De acordo com a sua natureza, Deus não podia perdoar até que ocorresse um arrependimento genuíno. 2) A rebelião produz um castigo imediato e implacável: Mataste, não perdoaste (43). O pecado é um terrível bulmerangue. 3) A rebelião separa de Deus; uma nuvem fica entre o homem e Deus por causa da transgressão, de tal forma que a nossa oração não chega a Deus (44). Somente quando o povo se afasta da rebelião é que Deus poderá ouvir a oração (Sl 66.18). 4) A rebelião traz humilhação e pesar: ―Tu nos tornaste escória e refugo entre as nações‖ (45 – NVI). 5) A rebelião traz terror e confusão: “Temor e cova vieram sobre nós” (46-47). ―O caminho dos transgressores é difícil‖ e o profeta roga para o povo produzir ―frutos dignos de arrependimento‖ (Mt 49 3.8) .

49

GRAY, C. Paul. Comentário Bíblico Beacon. vol. 4, 3ª ed., 2009, CPAD, p. 415.

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EXERCÍCIOS DE REVISÃO – LIÇÃO 3 ASSINALE COM “X” A ALTERNATIVA CORRETA 1) Segundo C. Paul Gray temos em ________________ o privilégio de ver um jovem imaturo desenvolver-se em um gigante espiritual. a) b) c) d)

Jeremias Isaías Ezequiel Daniel

2) A profecia de Jeremias indicava um cativeiro com duração de _____________ anos. a) b) c) d)

setenta dois poucos Nenhuma das alternativas anteriores está correta

3) O momento histórico-político em que Jeremias profetiza é muito movimentado. Duas superpotências se levantavam no cenário mundial: __________________. ________, um Estado fraco, ficava entre as duas, por vezes um Estado vassalo e por fim, subjugado.

a) a Assíria e a Babilônia, Filístia b) o Egito e a Assíria, Judá

c) o Egito e a Babilônia, Assíria d) o Egito e a Babilônia, Judá

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4) O livro de _________________ é composto por ______ poemas que estão dispostos no livro. Pode ser considerado uma espécie de cântico _____________ da cidade de Jerusalém. a) b) c) d)

Jeremias, cinco, de alegria Lamentações de Jeremias, cinco, fúnebre Lamentações, quatro, fúnebre Nenhuma das alternativas anteriores está correta

5) O livro de Lamentações não é só ___________ – mesmo em horas tão escuras como as que o profeta atravessava, ele pôde expressar ______________ em Deus, certo de que “O Senhor não rejeitará para sempre...”. a) b) c) d)

pranto, sua confiança alegria, seu receio pranto, sua alegria Nenhuma das alternativas anteriores está correta

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LIÇÃO 4 O LIVRO DE EZEQUIEL “Quando eu disser a um ímpio que ele vai morrer, e você não o advertir nem lhe falar para dissuadi-lo dos seus maus caminhos para salvar a vida dele, aquele ímpio morrerá por sua iniqüidade; mas para mim você será responsável pela morte dele. Se, porém, você advertir o ímpio e ele não se desviar de sua impiedade ou dos seus maus caminhos, ele morrerá por sua iniqüidade, mas você estará livre dessa culpa”. Ezequiel 3.18,19 na NVI INTRODUÇAO Em 605 a.C. cativos judeus – dentre eles o jovem Daniel – são levados à Babilônia. Essa foi a primeira deportação e o marco inicial do cativeiro babilônico de 70 anos profetizados por Jeremias. Em 597 ocorre nova deportação de mais cativos – 10 mil –, agora, incluído entre eles o jovem Ezequiel, de origem sacerdotal (2 Reis 24.11-16 narra essa deportação). Ezequiel foi levado ao cativeiro antes da destruição do templo e da cidade de Jerusalém, como veremos adiante. Por fim, em 586 a.C. Jerusalém e o templo são arrasados até o chão. Deus, para cada momento histórico, circunstância e local, sempre tem seus emissários que comunicam ao povo a sua verdade e o seu propósito. Para os que ficaram, ele tem um Jeremias. Para os que estão no palácio real, ele tem um Daniel e para os que estão no exílio, ele tem um Ezequiel. Há, inclusive, um paralelo interessante entre Ezequiel e o apóstolo

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João, escrevendo o Apocalipse séculos mais tarde: ambos receberam suas visões no exílio, aquele na Babilônia, e este em Patmos, a ilha-prisão rochosa (cf. Ez 1.1 e Ap 1.9). I – O LIVRO DE EZEQUIEL O livro de Ezequiel é repleto de visões, algumas inclusive, muito complexas. A essas visões Ezequiel acrescentava atos simbólicos. De fato, não era algo incomum os profetas do Altíssimo ―atuarem‖ representando visivelmente a mensagem que transmitiam. Jeremias, por ordem divina, enterrou um cinto e depois o desenterrou e o utilizou perante o povo como símbolo visível da mensagem que pregava (cf. Jr 13). É bem provável também que ele tivesse usado, durante algum tempo, um jugo de madeira para falar do cativeiro babilônico. Depreendemos isso do texto de Jeremias 28 que afirma que o falso profeta Hananias “... tirou o jugo do pescoço do profeta Jeremias e o quebrou” (v. 10 na NVI), o que indica que Jeremias poderia estar usando aquele jugo em suas mensagens proféticas acerca do cativeiro. Isaías, igualmente, serviu como exemplo visível, ele mesmo, da mensagem que emitia. Em Isaías 20.3 lemos que Isaías andou três anos nu e descalço, a fim de indicar como seriam tratados os cativos do Egito e da Etiópia. Vejamos a seguir algumas das ações simbólicas (algumas, um tanto estranhas) usadas pelo profeta Ezequiel, que, como nenhum outro, fez uso deste recurso didático: 1. O Senhor ordenou que ele se trancasse em casa e fez com que ele ficasse mudo, indicando com isso que no

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tempo oportuno, quando o Senhor lhe falasse, ele teria condições de anunciar ao povo a Palavra de Deus (cf. 3.26,27). 2. Usando um tijolo, conforme a ordem do Senhor, Ezequiel encena o cerco de Jerusalém e a chegada da fome, em decorrência do cerco (4, 5.7-17). 3. Come alimentos cozidos sobre esterco de gado a fim de ilustrar o que haveria de acontecer com os israelitas (4.9-17). 4. Usando bagagens, Ezequiel encena a queda de Jerusalém e chega a fazer um furo no muro da cidade. O Senhor lhe disse: “... eu fiz de você um sinal para a nação de Israel” (12.6 – cf. todo o cap. 12). 5. A morte da esposa de Ezequiel é usada como um sinal para Israel. Ele é proibido por Deus de pranteá-la! (24.15-27). Ellisen comenta que Essas representações pictóricas anunciam e explicam os julgamentos do Senhor sobre Israel e as nações, através da Babilônia, e a futura restauração de Israel quando os destruidores forem aniquilados. As figuras não são misteriosas, mas estão explicadas nos contextos. João tomou muitas delas emprestadas ao 50 escrever o Apocalipse .

50

ELLISEN, Stanley A. Conheça Melhor o Antigo Testamento. ed. Vida, 8ª imp., 2000, p. 252.

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O profeta O profeta Ezequiel juntamente com Daniel é um dos profetas que atuaram no cativeiro. Enquanto Jeremias profetizou na cidade de Jerusalém, Ezequiel profetiza entre os exilados na Babilônia. Seu nome significa ―fortalecido por Deus‖. Ele foi levado para a Babilônia na segunda leva de cativos, junto com o rei Joaquim, nove anos depois que Daniel já se encontrava lá. Seu ministério não teve uma extensão tão grande comparado aos ministérios de Isaías e Jeremias. Ele profetizou por 20 anos aproximadamente. O conteúdo literário de seu livro, no entanto, está entre os maiores dos livros proféticos. O chamado de Ezequiel veio a ele em 593 a.C, o quinto ano do reinado de Joaquim. A última data dada por oráculo (29.17) é, provavelmente, 571 a.C. Presume-se que ―o trigésimo ano‖ citado em 1.1 é a idade dele quando recebe a primeira visão, justamente a idade em que os levitas começam o serviço sagrado conforme Números 4.3 (interessante notar que tanto Jesus como João Batista iniciam seus ministérios aos 30 anos de idade!)51. O nome ―Ezequiel‖ aparece apenas duas vezes no Livro em apreço (1.3; 24.24) e em nenhum outro lugar do Antigo Testamento52. ―Ezequiel‖ significa no hebraico ( ‫ יחזקאל‬Y ̂echezqe’l ) ―Deus fortalece‖, ―Deus fortalecerá‖ ou ―Deus 51

Os estudiosos pontuam, contudo, que existe a possibilidade de que “o trigésimo ano” possa ser uma referência ao calendário babilônico, nesse caso indicando já o trigésimo ano de Nabopolassar, pai de Nabucodonosor, tempo esse contado a partir da conquista da independência da Babilônia em relação à Assíria em 625 a.C. 52 Isso nas versões em português que foram consultadas (ARA, ARC e NVI). Mas no hebraico, o nome aparece também em 1 Crônicas 24.16 como “Jeezquel”.

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prevalecerá‖, um nome apropriado, já que Ezequiel enfrentou duras consequências em função de ser um porta-voz do Senhor. Ezequiel era membro de um família sacerdotal associada ao templo em Jerusalém. Seu pai chamava-se Buzi, como lemos em 1.3. No exílio, estabelece-se às margens do Quebar, um rio ou canal na Babilônia. Ezequiel se refere ao cativeiro como o ―nosso exílio‖ (33.21 e 40.1). Teve uma esposa e uma casa, como vemos em 24.15-18 e 8.1. Ezequiel é descrito como o Filho do homem 87 vezes em toda a extensão do livro. Essa expressão hebraica indica que alguém pertence ao gênero humano e indica a pequenez humana, sua posição humilde face à majestade de Deus. Interessante notar que essa expressão – ―Filho do homem‖ – foi usada também no livro de Daniel e no Novo Testamento, mas com um novo significado53. Ocorre duas vezes em Daniel (7.13 e 8.17) e cerca de 70 vezes nos quatro livros do evangelho54: 30 vezes em Mateus, 5 em Marcos, 25 em Lucas e 10 em João. Sobre a relação dessa expressão com a Pessoa de Cristo e o uso que Ele próprio fez dela, conclui-se duas coisas: 1. Cristo estava identificando-se como homem no sentido típico da palavra, realçando sua humanidade. A expressão ―filho de...‖ ao longo das Escrituras sempre indica isso.

53

Sociedade Bíblica do Brasil: Bíblia De Estudo Almeida Revista E Atualizada. Sociedade Bíblica do Brasil, 1999; 2005 54 Sobre o uso da construção frasal “quatro livros do evangelho” ao invés de “quatro evangelhos”, ver Apêndice 1 ao final deste livro.

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2. Cristo estava identificando a si mesmo como o Messias profetizado, já que esta expressão, como aparece em Daniel 7.13,14, foi usada como um dos nomes do Messias vindouro. Você Sabia? Dado o teor estranho de algumas das visões e encenações proféticas que Ezequiel realizou, alguns levantaram a hipótese de que ele sofria de um distúrbio mental, e até mesmo de uma forma de catalepsia, uma enfermidade em que a pessoa que é acometida por ela fica na mesma posição em que é colocado. ―Catalepsia‖ é um termo geral para posição imóvel constantemente mantida. Todavia, essa conjectura ignora a natureza, a origem das visões e experiências espirituais do profeta Ezequiel. Considerando as pressões psicológicas que sofreu, em face do sofrimento que enfrentou (como a perda da própria esposa), foi um homem muito equilibrado mentalmente, por mais estranhas que pudessem parecer as encenações que ele realizava para comunicar ao povo a Palavra de Deus. A autoria do Livro de Ezequiel A escola judaica de Shammai considerava o livro uma obra apócrifa por acreditar que havia nele contradições com a lei mosaica. Até a década de 1920 a unidade autoral desse livro não havia sido seriamente questionada. Uma conclusão que não recebeu amplo apoio foi a de Gustavo Hoelscher que considerava, dos 1.273 versículos que compõem o livro, apenas 170 que seriam de fato oriundos do próprio Ezequiel.

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Um autor moderno chegou a afirmar que o livro é uma obra pseudepígrafa55 do terceiro século. A partir de 1924 várias datas foram cogitadas para o livro, situando-o entre os séculos VII e III a.C, de 691 a 230 a.C. Todavia, a maioria dos eruditos crê que o livro é obra de Ezequiel, o profeta, admitindo pequenas adições posteriores e escrito a partir de 593 a.C, i.e., no sexto século. O livro apresenta uma sequência cronológica bem definida, como veremos a seguir, o que pode ser um indício de sua unidade autoral. Há também unidade de pensamento em suas construções frasais e expressões pouco corriqueiras em outros livros do Antigo Testamento que ocorrem em todo o livro de Ezequiel, como ―filho do homem‖ (87 vezes) e ―seres viventes‖ (nos caps. 1, 3 e 10) e a comparação do profeta a um atalaia, em 3.17 e 33.7. É interessante também notar que o refrão ―para que saibais que eu sou o Senhor‖ ocorre mais de 60 vezes em Ezequiel.

55

Uma obra “pseudepígrafa” corresponde a livros não-bíblicos rejeitados por todos os estudiosos e que foram intitulados "pseudepígrafos" (falsos escritos).

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Diferentemente de Jeremias, Ezequiel apresenta uma sequência cronológica bem definida, tendo como evento principal a destruição de Jerusalém, e a contagem inicia-se a partir da data do cativeiro do rei Joaquim, em 597 a.C., como se segue:

Cronologia das Profecias de Ezequiel Profecia(s) A respeito dos pecados de Judá

Ano(s) – a.C.

Referência

592-588

Caps. 4-24

Profecias contra as nações pagãs vizinhas. ―Estes oráculos estão agrupados entre as mensagens proféticas anteriores à destruição de Jerusalém (Ez 1— 24) e as que anunciam a restauração de Israel depois do exílio (Ez 56 33—48)‖ .

587-585

A respeito da restauração de Israel à sua terra

585-573

56

Caps. 25-32 As profecias de 29.17-21 foram proferidas em 571.

Caps. 33-48

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A Mensagem do Livro de Ezequiel Assim como aconteceu com outros profetas do Altíssimo, Ezequiel contemplou consternado a desobediência de Israel: “A casa de Israel se rebelou contra mim no deserto” (20.13). Mas o livro não deixa de conter, como acontece em outros livros proféticos, uma mensagem de esperança: “Habitareis na terra que eu dei a vossos pais; vós sereis o meu povo, e eu serei o vosso Deus” (36.28). Com Deus é sempre assim! Ele revela a doença, mas oferece o remédio para a cura! Os capítulos 36 e 37 são mensagens que focam a restauração de Israel. A conhecidíssima passagem do Vale dos Ossos Secos (cap. 37) é, na verdade, uma referência à restauração da nação de Israel. Esta grandiosa visão é a resposta do Senhor ao desalento e à desesperança dos israelitas no exílio (cf. Ez 33.10). Fora da Terra Prometida, os exilados são comparados a um monte de ossos secos (cf. v. 11). Mas o Senhor dará vida novamente ao seu povo através da eficácia da palavra profética (v. 4) e com a força vivificante do seu espírito (v. 5). O relato é dividido em duas partes: na primeira, temos a descrição da visão (vs. 1-10); na segunda, encontramos a explicação do significado da visão (vs. 11-14). É importante considerar também que este capítulo, assim como outros do livro de Ezequiel, tem ainda uma interpretação escatológica e um cumprimento escatológico, assuntos que não comentaremos aqui por questões de tempo e espaço.

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Ezequiel e Apocalipse A relação de Ezequiel com Apocalipse pode ser notada na semelhança de visões que ocorrem em ambos os livros:  Os querubins e/ou seres viventes57 (Ez 1 e Ap 4)  Gogue e Magogue (Ez 38 e Ap 20)  Tanto Ezequiel como João comem um livro (Ez 2 e Ap 10)  A descrição da Nova Jerusalém (Ez 40-48 e Ap 21)  João, assim como Ezequiel, fala do rio da água da vida (Ez 47 e Ap 22)

Esboço do Livro de Ezequiel 1. O início da visão e chamada de Ezequiel - 1.1-3.21 Visões introdutórias - 1.1-28 O encargo dos profetas - 2.1-3.21 2. Profecias e visões sobre a destruição de Jerusalém 3.22-24.27 Oráculos de julgamento - 3.22-7.27 Visões de idolatria no templo - 8.1-11.25 O exílio e cativeiro de Judá - 12.1-24.27 57

Alguns estudiosos relacionam os quatro seres viventes de Apocalipse com os quatro seres viventes mencionados por Ezequiel.

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3. Oráculos da ruína contra nações estrangeiras - 25.132.32 Contra Amom - 25.1-7 Contra Moabe - 25.8-11 Contra Edom - 25.12-14 Contra a Filístia - 25.15-17 Contra Tiro - 26.1-28.19 Contra Sidom - 28.20-26 Contra Egito - 29.1-32.32 IV. Profecias de restauração - 33.1-48.35 Ezequiel como vigia - 33.1-33 Deus como Pastor - 34.1-31 Julgamento contra Edom - 35.1-15 Restauração de Israel - 36.1-37.28 Julgamento contra Gogue - 38.1-39.29 Restauração do templo - 40.1-46.24 Restauração da terra - 47.1-48.35

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EXERCÍCIOS DE REVISÃO – LIÇÃO 4 MARCE “C” PARA CERTO E “E” PARA ERRADO 1) A expressão ―para que saibais que eu sou o Senhor‖ ocorre mais de 60 vezes em Ezequiel. 2)

Ezequiel profetizou durante aproximadamente 20 anos.

3) Tanto em Ezequiel como em Apocalipse encontramos paralelos, como por exemplo, ambos os profetas comem um rolo. 4) Ezequiel contemplou consternado a desobediência de Israel – ele não se alegrou pelo castigo divino sobre a nação. 5) É consenso entre os estudiosos que Ezequiel é de autoria múltipla, de modo que Ezequiel, o profeta, não teria sido de fato seu autor.

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LIÇÃO 5 O LIVRO DE DANIEL “O livro de Daniel é o desvendar de um mistério. E, se por um lado desvenda o mistério, por outro, o envolve em surpresa e admiração, deixando grande parte do mistério da revelação em aberto”. Roy E. Swim INTRODUÇAO O livro de Daniel é adequadamente considerado o ―Apocalipse do Antigo Testamento‖, uma vez que ele foi escrito dentro do gênero apocalíptico58 e é singular nesse sentido, em toda a extensão do Antigo Testamento. No cânon hebraico, ele está na terceira seção, chamada de Ketubim, ou ―Escritos‖, na divisão chamada de ―Livros Históricos‖, junto com mais dois livros59: Esdras-Neemias e Crônicas (em nossas bíblias esses livros aparecem separadamente). Embora esteja nessa colocação no cânon hebraico (e não entre os Profetas), é praticamente impossível dissociar do livro de Daniel o seu teor profético, separando-o dos outros. Certamente por isso mesmo a LXX o coloca logo após Ezequiel. O profeta Ezequiel reconheceu Daniel como um homem de integridade ímpar, cujo caráter e sabedoria notáveis fizeram dele uma espécie de 58

Para mais detalhes sobre a literatura apocalíptica, ver Apêndice ao final deste livro. 59 Ver tabela 3.

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lenda entre o povo judeu (Ez 14.14, 20; 28.3). Embora Daniel não tivesse o ―ofício de profeta‖, à semelhança de Jeremias e Ezequiel, por exemplo, que foram chamados por Deus para esse fim, é inegável que ele recebeu ―o dom‖. Observemos que Jesus mesmo se refere à ele como ―o profeta Daniel‖ (Mt 24.15). O Profeta Daniel é exemplo de fidelidade a Deus em meio a circunstâncias as mais adversas possíveis. Ele estava à 800 quilômetros de sua terra natal, de sua própria cultura, de seu próprio povo. Agora, introduzido numa cultura completamente pagã, a cultura babilônica, ele tem seu nome mudado na corte de Nabucodonosor para Beltessazar (1.7), uma homenagem ao ídolo Bel, pois o nome significa ―Bel proteja sua vida‖. Seu nome original, Daniel, significa em hebraico ―Deus é meu Juiz‖. Ele passou por um período de três anos estudando no palácio e depois foi selecionado para o serviço real. Na corte, recebeu novo nome babilônico assim como seus três amigos, Misael, Azarias e Ananias. Isso tinha por finalidade evitar o transtorno de diversos nomes estrangeiros, além de unificar uma corte tão diversificada e também de demonstrar o domínio babilônico sobre os estrangeiros. Ali, Daniel demonstrou límpida pureza de caráter decidindo “... firmemente, não contaminar-se com as finas iguarias do rei, nem com o vinho que ele bebia...” (1.8). Essa recusa de participar do banquete real não era simples dieta, mas uma firme resolução de não romper seus votos de consagração como hebreus ao Deus de Israel. Daniel nos ensina a preciosa lição de vida de um jovem que mesmo sob

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circunstâncias totalmente desfavoráveis, manteve-se fiel a Deus. Daniel era membro da família real. Nasceu em Jerusalém, por volta do ano 623 a.C., durante a reforma de Josias e no começo do ministério de Jeremias. Foi levado cativo para a Babilônia na primeira leva de exilados, no ano 605 a.C. O ministério de Daniel foi muito extenso. Ele era adolescente por ocasião dos eventos registrados no capítulo um de seu livro e devia já estar na faixa dos oitenta anos quando recebeu de Deus as visões dos capítulos 9 a 12.

A Mensagem do Livro de Daniel O livro de Daniel é por excelência o ―Apocalipse do Antigo Testamento‖. Ele é assim chamado justamente por causa do seu alto teor profético. O livro todo pode ser considerado profético, embora encontremos nele descrições históricas, como os capítulos três e seis. O livro de Daniel juntamente com o de Apocalipse pertence a uma classe da literatura judaica chamada de ―literatura apocalíptica‖, que é encontrada no Antigo Testamento60. Além de Daniel, outros profetas também utilizaram este gênero literário, tais como Isaías (caps. 24-27), Joel (cap. 2), Ezequiel (caps. 1 e 40-48) e, sobretudo, Daniel (caps. 7-12) e Zacarias (caps. 1-6). A literatura apocalíptica61 tem sua origem num conjunto de textos 60

Para mais detalhes sobre a literatura apocalíptica, ver Apêndice 2 ao final deste livro. 61 Importante ressaltar que quando afirmamos que Daniel pertence à literatura apocalíptica, a referência é pelo fato dele ser do mesmo gênero, não indicando

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do judaísmo tardio (sec. II a.C.) e do cristianismo primitivo. Entre esses textos destacam-se o 2 Enoque, o Apocalipse de Abraão, o 2 Baruque, o 4 Esdras e as Adições em Daniel. Mas estes livros não tinham o peso da inspiração divina, tal como encontramos em Daniel e Apocalipse. Um fato interessante no livro de Daniel é que a sua ênfase recai mais sobre os gentios do que sobre o povo judeu, sobre Israel, diferentemente dos outros profetas. Ele menciona Israel ou Judá apenas 12 vezes. Já Ezequiel o faz 201 vezes! O livro de Oséias, 59 vezes. Interessante ainda é notar que mais da metade do livro está escrito originalmente em aramaico, que na época da escrita (séc. VII a.C.) era a língua gentia mais falada no Oriente Médio. Esta parte do livro vai de 2.4 à 7.28 e registra dois sonhos ou visões nos capítulos dois e sete que tratam dos ―tempos dos gentios‖, de modo que o papel dos reinos gentílicos é o assunto ou mensagem principal do livro. Autoria e Data de Daniel Como acontece com o livro de Isaías, grande debate tem ocorrido em torno da autoria deste livro. Já no terceiro século depois de Cristo, um filósofo chamado Porfírio atribuiu Daniel ao segundo século a.C. acreditando que a profecia preditiva era impossível e que as ―visões‖ na verdade eram narrativas da história recente. Jerônimo, tradutor da Vulgata Latina, planejou um comentário ao livro de Daniel a fim de refutar Porfírio. Millard chega a dizer atitudes que ―semelhantes portanto, que ele tenha sido escrito no período em que floresce a literatura apocalíptica, a partir do segundo século a.C.

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à de Porfírio foram expressas ocasionalmente durante os 1.500 anos seguintes, depois difundidas amplamente durante o século 19, e são agora padrão entre a maioria dos eruditos do Antigo Testamento‖62. Tem sido proposto pela Alta Crítica que Daniel foi escrito no período interbíblico, precisamente quando os judeus sofriam uma terrível opressão sob Antíoco IV Epifânio. Se essa posição estiver correta, então as profecias contidas em Daniel acabam por perder sua força, quando na verdade o profeta não estaria escrevendo eventos futuros, mas contemporâneos a ele próprio e/ou que já teriam ocorrido. Seria uma espécie de ―mentira piedosa‖ do verdadeiro autor a fim de encorajar os leitores a enfrentarem o sofrimento a que estavam sendo submetidos. O verdadeiro autor do livro estaria utilizando ―Daniel‖ como pseudônimo para intitular esse livro, prática comum na literatura apocalíptica. Ele estaria usando a figura de um sábio chamado Daniel, de antigas lendas judaicas, que suportara terríveis sofrimentos e que deveria ter seu exemplo seguido. Vários outros argumentos em favor de uma data recente para a autoria de Daniel são apresentadas; vejamos, no entanto, duas refutações evidenciais a essa hipótese: 1. Críticos mencionam que o aramaico contido em Daniel não era mesopotâmico, mas palestino, como evidência para uma data recente para a composição do livro. Todavia, temos de considerar o fato de que o aramaico era a língua franca dos impérios babilônico e persa. Reconhece-se que o fato de que metade de Daniel 62

MILLARD, Alan R. Comentário Bíblico NVI, organizado por F.F. Bruce. Ed. Vida, 1ª ed., 2008, p. 1062.

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tenha sido escrito em aramaico encerra em si um grande mistério no que tange à reconstrução de sua história. Mas é sabido também que o aramaico presente em Daniel é, de fato, o ―aramaico oficial‖ usado nas correspondências reais da Assíria e Babilônia (cf. 2 Re 18.26 e Dn 2.4), e não o aramaico coloquial usado na Palestina do século II a.C. Alan R. Millard comenta que ―... o aramaico [de Daniel – grifo meu] pertence mais provavelmente ao período entre os séculos VI e IV a.C., embora também pudesse ser posterior. As palavras tomadas por empréstimo do persa se encaixam bem no contexto do século VI, e até os três termos musicais gregos não forçam a data para um período posterior‖63. 2. As três palavras gregas usadas por Daniel para instrumentos musicais (harpa, cítara e o saltério – 3.5,10) são apresentadas pelos críticos como evidência de que o livro teria sido escrito no período helenista. Mas W. F. Albright, lembrado como o ―deão da Arqueologia Bíblica‖64 confirma que mesmo antes de Nabucodonosor, a língua e cultura grega já havia penetrado no Oriente Médio65. Ainda com relação ao uso de termos persas e gregos no livro, é importante pontuar que muito antes de Daniel já existia ativo comércio com 63

MILLARD, Alan R. Comentário Bíblico NVI, organizado por F.F. Bruce. Ed. Vida, 1ª ed., 2008, p. 1.176. 64 Albright foi considerado um dos maiores arqueólogos do século passado. Ele mesmo migrou do liberalismo teológico para o conservadorismo bíblico. Por meio de suas pesquisas, Albright chegou à conclusão de que o Pentateuco é de autoria mosaica, embora reconhecendo a presença de adições posteriores; reconheceu a historicidade dos patriarcas e apresentou evidências em favor do Novo Testamento. Sua colaboração à Apologética Cristã foi extraordinária – cf. GEISLER, Norman L. Enciclopédia de Apologética, ed. Vida. 65 Citado em CHAMPLIN, Russell N. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. vol. 2, ed. Candeia, 1991, p. 10.

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os gregos, como depreendemos de Joel 3.6. Note-se que Joel é considerado um dos mais antigos profetas de Judá, da época de Joás (cerca de 830 a.C.) ou possivelmente do reinado de Uzias, em 750 a.C. Não poderíamos deixar de citar também a evidência doutrinária em favor de ser Daniel, o profeta exilado em Babilônia, o autor desse livro. Em Mateus 24.15 o Senhor Jesus refere-se à Daniel como um personagem histórico real e em outras passagens vemos que Ele usou algumas expressões contidas no livro de Daniel:  ―Tamanha tribulação‖ (Mc 13.19) de Daniel 12.1.  ―Abominável da desolação‖ (Mc 13.14) de Daniel 11.31.  O ―pisotear do santuário‖ (Lc 21.24) de Daniel 8.13.

Você Sabia? O capítulo 5 de Daniel foi alvo de ataques de críticos bíblicos que alegavam haver um erro nesse texto, pelo fato de Daniel cita Belsazar como ―rei‖ (5.1,2). Belsazar, segundo a crítica da Bíblia, não poderia ser o rei, já que o rei de fato era Nabonido, seu pai, que reinou 556 a 539 a.C. Portanto, a narrativa bíblica estaria incorrendo em erro. Mas a Palavra de Deus tem dado provas tão concretas de ser verdadeira em suas narrativas, e isso até nos detalhes. A arqueologia demonstrou que Nabonido de fato era quem reinava, mas Belsazar seu filho, era co-regente do reino com ele – daí ser chamado rei e daí oferecer a Daniel o ―terceiro lugar‖ (note que

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ele não oferece o segundo lugar! Cf. 5.16). Um documento arqueológico chamado de as Crônicas de Nabonido informa que ele havia posto as tropas militares sob o comando de Belsazar e lhe confiou o reino antes de partir para o Ocidente, onde permaneceu por dez anos. Assim, não é estranho que Belsazar fosse chamado de rei. Alguns também supõem que haja uma contradição no texto bíblico de Daniel 5, pelo fato de Belsazar ser ali mencionado como ―filho‖ de Nabucodonosor (quando este na verdade era seu avô). Mas isso é facilmente explicado pelo fato de que no hebraico bíblico não havia uma palavra equivalente para ―avô‖, ou ―bisavô‖ e portanto, ―filho‖ ali é uma forma de dizer que ele era descendente direto de Nabucodonosor.

Uma Singularidade de Daniel Sem dúvida alguma, encontramos no livro de Daniel uma das maiores contribuições proféticas: a profecia das setenta semanas de anos, registrada em 9.24-27: ―Esta é uma profecia que aguarda a sua plena concretização, pois já se cumpriu em grande parte, ou seja, é uma profecia extensiva. Ela se encontra registrada em Daniel 9.24-27: “Setenta semanas estão determinadas sobre o teu povo e sobre a tua santa cidade, para fazer cessar a transgressão, para dar fim aos pecados, para expiar a iniqüidade, para trazer a justiça eterna, para selar a visão e a profecia e para ungir o Santo dos Santos. Sabe e entende: desde a saída da ordem para restaurar e para edificar Jerusalém, até ao Ungido, ao Príncipe, sete semanas e sessenta e duas semanas; as praças e as

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circunvalações se reedificarão, mas em tempos angustiosos. Depois das sessenta e duas semanas, será morto o Ungido e já não estará; e o povo de um príncipe que há de vir destruirá a cidade e o santuário, e o seu fim será num dilúvio, e até ao fim haverá guerra; desolações são determinadas. Ele fará firme aliança com muitos, por uma semana; na metade da semana, fará cessar o sacrifício e a oferta de manjares; sobre a asa das abominações virá o assolador, até que a destruição, que está determinada, se derrame sobre ele”. Esta passagem nos possibilita chegarmos às seguintes conclusões: a) Estas semanas dizem respeito ao povo judeu, somente. A Igreja não está inserida aqui, é só observar o texto: “Setenta semanas estão determinadas sobre o teu povo e sobre a tua santa cidade...” O povo aqui é o judeu e a cidade é Jerusalém. b) A profecia das Setenta Semanas é extensiva, ou seja, cumpriu-se em alguns eventos, mas requer cumprimento futuro. Para constatar isso, é só verificar os eventos descritos no versículo 24, que só terão cumprimento no futuro. c) Que se trata aqui de semanas de anos não resta dúvidas. Primeiro porque o hebraico diz simplesmente ―sete setes‖ (sete semanas, no versículo 25 – pois a palavra ―semana‖ no hebraico é shabua – ‫ׂשבע‬ –, que significa ―sete‖). Segundo, porque se fossem semanas de dias então teríamos 70 X 7 = 490 dias. É simplesmente impossível que Jerusalém fosse destruída e reedificada em apenas 490 dias, como lemos no versículo 25. d) A profecia divide as setenta semanas em três grupos, ou três períodos, a saber: 1) sete semanas = 49 anos; 2) sessenta e duas semanas = 434 anos, e 3) uma semana, a semana final, a 70ª

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semana – a Grande Tribulação = 7 anos. Assim temos: 49 + 434 + 7 = 490 anos. Os eventos pertinentes aos dois primeiros grupos, ou seja, aos 483 anos, já se cumpriram no passado, restando agora o cumprimento dos últimos sete anos – a última semana profética. No versículo 25 de Daniel nove lemos sobre “... a saída da ordem para restaurar e para edificar Jerusalém”. Abalizados estudiosos do assunto concordam que se trata aqui da saída de Neemias da Pérsia para a cidade de Jerusalém a fim de restaurar a cidade e os muros. Leiamos: “No mês de nisã, no ano vigésimo do rei Artaxerxes... E ainda disse ao rei: Se ao rei parece bem, dêem-se-me cartas para os governadores dalém do Eufrates, para que me permitam passar e entrar em Judá” (Ne 2.1a,7). É necessário salientar que a Bíblia menciona quatro decretos pertinentes à Jerusalém e ao Templo; são eles: o de Ciro, em 536 a.C. (cf. Ed 1.1-3); o de Dario, entre 521 e 486 a.C. (cf. Ed 6.68); o de Artaxerxes, no sétimo ano de seu reinado, provavelmente em 458 a.C. (cf. Ed 7.12,21) e o quarto decreto, também promulgado por Artaxerxes, mas no vigésimo ano de seu reinado, situado no ano 445 a.C. (cf. Ne 2.1,7). O evento descrito em Daniel 9.25 teve seu cumprimento neste último decreto, o de Artaxerxes, em 445 a.C. A contar desta data iniciam-se as setenta semanas de anos. A Bíblia nos informa, porém, que a contagem destas semanas seriam interrompidas: “Depois das sessenta e duas semanas, será morto o Ungido e já não estará...” (Dn 9.26a). O leitor deve ter cuidado para não confundir-se pensando se tratar aqui de 62 dentre as setenta semanas, pois o texto está se referindo aqui ao segundo período, ou seja, ao período de 434 anos após o primeiro período de 49 anos, o que perfaz um total de 483 anos, ou, 69 semanas (69 X 7 = 483). Assim, fica faltando uma semana, e entre a 69ª e a 70ª semana há um intervalo de tempo indefinido, no qual insere-se a Igreja. Esse intervalo de tempo indefinido é chamado de ―Dispensação da Igreja‖ e ―Tempo dos Gentios‖. Abalizados estudiosos afirmam que foi a entrada triunfal

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de Jesus em Jerusalém (Mt 21.1-10) que marcou o fim do segundo período, pois a Bíblia diz que “Depois das sessenta e duas semanas, será morto o Ungido e já não estará...” (Dn 9.26). Logo após a entrada triunfal do Ungido em Jerusalém, ocorre a sua morte – “será morto o Ungido e já não estará”; os demais eventos descritos neste texto tiveram então o seu cumprimento (ainda que não totalmente completo) por ocasião da destruição de Jerusalém pelos exércitos romanos em 70 d.C. – “e o povo de um príncipe que há de vir destruirá a cidade e o santuário, e o seu fim será num dilúvio, e até ao fim haverá guerra; desolações são determinadas”. Assim, ―a septuagésima semana, diferente das primeiras 69, não vem a seguir, imediatamente e consecutivamente. Nos 1.900 anos subsequentes não há sequer um período de sete anos que cumpra satisfatoriamente a profecia do versículo 27. Uma conclusão justa é que este período ainda é futuro e deve ser identicado com a tribulação que será precedita pelo arrebatamento da Igreja, e que é descrita e revelada 66 em Apocalipse 6-19‖ .

Um Detalhe Interessante Sobre Daniel Daniel, assim como Moisés e outros escritores véterotestamentários, escreve na terceira pessoa quando registrava os capítulos históricos. Alguns supõem com isso que ele não poderia ser o autor do livro, já aparece sempre na terceira pessoa, como se o autor do livro não fosse ele mesmo. Mas o fato dele escrever na terceira pessoa não é necessariamente uma evidência contrária a autoria de Daniel, o profeta, para o livro que leva seu nome. Mesmo hoje, em pleno século 21, isso ainda é usado. Aliás, eu mesmo, Roney 66

RICARDO, Roney. Escatologia Bíblia – Uma Disciplina Confortadora Para a Igreja do Senhor. 2010 – Apostila, pp. 16,7.

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Ricardo, enquanto escrevo utilizo em vários momentos a terceira pessoa e nem por isso deixo de ser o autor deste livro. É apenas um recurso literário. Outras obras antigas como as Guerras Gaulesas e Guerras Civis, de Júlio César, foram escritas usando esse recurso, o que indica que isso não era uma prática de todo estranha na Antiguidade. Esboço do Livro de Daniel 1. As convicções religiosas de Deus - 1.1-21 O exílio de Judá - 1.1-2 A decisão de Daniel de manter-se separado - 1.3-21

2. O primeiro sonho de Nabucodonosor - 2.1-49 O sonho esquecido - 2.1-28 A revelação e a interpretação de Daniel - 2.29-45 Daniel é honrado através de promoção - 2.46-49 3. A libertação da fornalha de fogo - 3.1-30 Convocação para adorar a estátua de ouro - 3.1-7 A recusa dos três hebreus de se prostrarem perante a estátua - 3.818 Os três hebreus são miraculosamente protegidos - 3.19-25 O rei confessa o Deus verdadeiro - 3.26-30 4. O segundo sonho de Nabucodonosor - 4.1-37 O sonho de Nabucodonosor - 4.1-37 A Interpretação da Daniel - 4.19-27 O cumprimento do sonho - 4.28-33 A oração e restauração de Nabucodonosor - 4.34-37

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5. A festa blasfema de Belsazar - 5.1-31 A escrita manual na parede - 5.1-9 A interpretação de Daniel da escritura - 5.10-31 6. Daniel na cova dos leões - 6.1-28 Complô contra Daniel - 6.1-9 Daniel é lançado na cova dos leões - 6.10-17 Daniel é liberado - 6.18-28 7. A primeira visão de Daniel - 7.1-28 O sonho da Daniel sobre os quatro animais - 7.1-14 A Interpretação de Daniel - 7.15-28 8. A segunda visão de Daniel - 8.1-27 O sonho de Daniel sobre um carneiro, um bode e sobre os chifres 8.1-14 A interpretação de Gabriel - 8.15-27 9. A profecia das setentas semana - 9.1-17 A oração de Daniel - 9.1-19 A Visão da Daniel - 9.20-27 10. A visão final de Daniel - 10.1-12.13 A visão de Daniel de um ser glorioso - 10.1-9 A visita de um anjo - 10.10-21 Guerra entre reis do Norte e do Sul - 11.2-45 O tempo da tribulação - 12.1-13

CONCLUSÃO Os livros dos profetas maiores revelam-nos uma riqueza muito grande. Neles, vemos o quanto o Senhor requer do seu

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povo a justiça, a retidão, a pureza e também percebemos que somente Ele é soberano sobre os eventos da História. A Bíblia toda é muito rica em profecias e o cumprimento dessas profecias vêm somente comprovar a origem divina da Palavra de Deus, até porque, o Senhor é Soberano sobre a História e conhece o futuro ainda no passado. Aleluia! É impressionante o fiel cumprimento de muitas profecias contidas nos livros dos profetas maiores, como por exemplo, ―em Ezequiel 37 está uma das mais claras profecias sobre o despertamento nacional e espiritual do povo israelita. O cumprimento dessas profecias está em marcha perante nossos olhos. Há inúmeros outros casos de famosas profecias bíblicas. Ciro, o monarca persa, Deus chamou-o pelo nome através do profeta Isaías, 150 anos antes do seu nascimento! (Is 44.28). Josias, rei de Judá, também foi chamado pelo nome 300 anos antes do seu nascimento (Ver 1 Reis 13.2 com 2 Reis 23.15-18)...‖67.

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GILBERTO, Antonio. A Bíblia Através dos Séculos, 19ª ed., CPAD, pág. 42.

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EXERCÍCIOS DE REVISÃO – LIÇÃO 5 MARCE “C” PARA CERTO E “E” PARA ERRADO 1) Um fato interessante no livro de Daniel é que a sua ênfase recai mais sobre os gentios do que sobre o povo judeu, sobre Israel, diferentemente dos outros profetas. 2) O jovem Daniel teve seu nome mudado na corte de Nabucodonosor para Belsazar (1.7), uma homenagem ao ídolo Bel, pois o nome significa ―Bel proteja sua vida‖. 3) O livro de Daniel, assim como acontece com Isaías, sofreu grandes questionamentos quanto à sua autoria e quanto à data em que foi escrito. Há, contudo, boas evidências em favor de que de fato o profeta Daniel, exilado na Babilônia, tenha sido o seu autor. 4) A profecia das Setenta Semanas é extensiva, ou seja, cumpriu-se em alguns eventos, mas requer cumprimento futuro. Para constatar isso, é só verificar os eventos descritos no versículo 24, que só terão cumprimento no futuro. 5) A profecia divide as setenta semanas em três grupos, ou três períodos, a saber: 1) sete semanas = 49 anos; 2) sessenta e duas semanas = 434 anos, e 3) uma semana, a semana final, a 70ª semana.

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APÊNDICE 1 POR QUE “QUATRO LIVROS DO EVANGELHO” E NÃO “QUATRO EVANGELHOS?”

É comum nos trabalhos literários evangélicos referir-se aos quatro primeiros livros do Novo Testamento como ―evangelhos‖: ―evangelho de Mateus‖, ―evangelho de Marcos‖ e assim por diante. Entendemos que este é apenas um uso didático da palavra ―evangelho‖, uma vez que estes quatro livros vão tratar justamente do evangelho; o evangelho é o seu conteúdo. Desse modo, não é incorreto dizer ―evangelho de Mateus‖, ―evangelho de João‖, etc. Mas é preciso que se afirme que os quatro evangelistas estão falando do mesmo evangelho, O Evangelho de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Assim, entendemos que a Bíblia é clara em mostrar que não há dois evangelhos, ou quatro, mas apenas um evangelho, o que é claramente ensinado inclusive nas epístolas paulinas. Sendo assim, neste livro optamos por usar a expressão os quatro livros do evangelho que evoca mais a idéia de quatro livros retratando o mesmo evangelho, porém, de óticas diferentes, ao invés da usual expressão os quatro evangelhos. Para concluir: quando falamos de Mateus, Marcos, Lucas e João estamos necessariamente falando do mesmo evangelho. O conhecido teólogo escocês F. F. Bruce comenta: Falamos usualmente dos quatro evangelhos, dos evangelhos apócrifos, e assim por diante, usando a palavra

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―evangelhos‖ livremente no plural. Mas esse uso não teria sido compreendido na igreja dos dias apostólicos, nem durante quase um século após a era apostólica. As primeiras ocorrências da palavra ―evangelhos‖ no plural nesse sentido posterior estão na segunda metade do século 2 – em Justino Mártir, Cláudio Apolinário, Clemente de Alexandria, Ireneu e no Cânon Muratório

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Comentário Bíblico NVI, organizado por F.F. Bruce. Ed. Vida, 1ª ed., 2008, p. 1485.

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APÊNDICE 2 A LITERATURA APOCALÍPTICA JUDAICA No imaginário popular, ―Apocalipse‖ é uma palavra sempre associada àquilo que é oculto, incompreensível, enigmático. Esta palavra vem do grego apokálypsis e significa justamente o oposto disto; ―apocalipse‖ significa ―revelação‖. A idéia no grego do Novo Testamento é de ―tornar descoberto, exposto‖, ―aparecimento‖69. Significa no original, literalmente, ―retirar, remover completamente, descerrar, tirar fora‖. O termo aparece também em outros textos do Novo Testamento, tais como Romanos 16.25, Gálatas 1.12 e Efésios 3.3. Em Lucas 12.2 temos um interessante caso, onde a palavra apokalupto (revelado), que dá origem ao termo apokalupsis (revelação) aparece junto com a palavra ―oculto‖ (no grego kruphaios) que significa o oposto: ―oculto, escondido, secreto‖. O Novo Testamento delineia bem os sentidos das palavras e fica patente para nós que a intenção do livro de Apocalipse não é esconder, mas tornar conhecido o futuro da História humana. O livro de Apocalipse pertence a um gênero literário chamado de ―apocalíptico‖ ou ―literatura apocalíptica‖. Quando falamos da literatura apocalíptica judaico-cristã devemos pensar num período que vai de 165 a.C. até 120 d.C. É importante também reconhecer que a literatura apocalíptica inicia justamente no período do governo de Antíoco Epifânio, o monstro sírio que tanto perseguiu o povo judeu. A literatura apocalíptica tinha como finalidade oferecer esperança à um 69

Léxico Hebraico, Aramaico e Grego de Strong, SBB, G602.

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povo que estava debaixo de tremenda perseguição, e nesse sentido essa literatura cumpriu seu papel. Nas palavras de Champlin, ―essa literatura apocalíptica teve a finalidade de dar aos homens a ‗esperança quanto ao futuro‘ estando eles a passar por um presente dificílimo‖70. Que fique claro também que todo livro apocalíptico é escatológico, mas nem todo livro escatológico é apocalíptico. Devemos guardar as distinções. Vários apocalipses foram produzidos dentro desse período citado. Entre os protestantes, é consenso geral que somente o livro que está no Novo Testamento é divinamente inspirado, estando, portanto onde deveria estar: no cânon sagrado. Mas escritores cristãos reconhecem que pode haver algo de verdade nos outros apocalipses que foram produzidos. Champlin chega a afirmar que a ―atividade da literatura apocalíptica nunca ter-se tornado uma questão central no judaísmo, e apesar que a maioria dos rabinos judeus a ignoravam essencialmente, contudo, esses escritos serviram ao seu propósito; e embora nunca tivessem ganho posição canônica, não há razão para supormos que não há ali certo discernimento quanto ao futuro, misticamente intuitivo, apesar de não ser diretamente inspirado pelo Espírito do Senhor‖71.

70

CHAMPLIN, R. N. O Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo. Hagnos, 1ª ed. Vol. 6, p. 351. 71 Idem.

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Características da Literatura Apocalíptica Em geral, os livros apocalípticos têm as seguintes marcas: a) Descrevem eventos passados como sendo eventos por acontecer; b) Os autores desses apocalipses em geral usam pseudônimos, isto é, apresentam-se como sendo outras pessoas, em geral, pessoas de destaque na tradição judaica; c) As visões e revelações são dadas por algum anjo a alguma grande personagem do passado, tal como Abraão, Moisés ou Esdras; d) Os livros apocalípticos contêm criaturas estranhas e números simbólicos; e) Em geral, esses livros estão recheados de referências tiradas do Antigo Testamento e não apenas referências, mas também figuras72. O que Torna o Apocalipse do Novo Testamento Diferente? Essa é uma pergunta até natural quando falamos da literatura apocalíptica. A seguir, algumas características do livro

72

HALLEY, H. H. Manual Bíblico de Halley. Vida, 1ª ed. p. 715.

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de Apocalipse que o distingue dos demais apocalipses existentes: a) João não usa pseudônimo, mas identifica-se de maneira clara e contundente como o autor humano do livro de Apocalipse. b) A autoridade do livro está baseada não num ser celeste enviado a João, mas na Pessoa do próprio Cristo: “... da parte daquele que é, que era e que há de vir... da parte de Jesus Cristo” (cf. 1.4,5). c) O livro de Apocalipse, como os demais 65 livros da Bíblia, tem o peso da inspiração divina; ele exige para si mesmo essa inspiração ao considerar-se como ―profecia‖. d) O livro de Apocalipse, diferentemente dos demais apocalipses existentes, revela eventos que hão de ocorrer, embora trate de eventos da época do autor humano e dos seus leitores: “... as coisas que em breve devem acontecer...” e ainda “Escreve, pois, as coisas que viste [passado], e as que são [presente], e as que hão de acontecer depois destas [futuro]” (1.1,19 – grifo meu). Daniel e a Literatura Apocalíptica Daniel é considerado um ―livro apocalíptico‖ mais em função das características que dão forma à um Apocalipse do

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que por estar situado, como propõem muitos estudiosos, entre os anos 165 a.C. a 120 d.C., quando floresceu a chamada ―literatura apocalíptica‖73. Vimos anteriormente as marcas distintivas desses apocalipses, produzidos nesse período de tempo. Mas, o que é um ―apocalipse‖? O que torna Daniel um livro apocalíptico? 1. Podemos começar afirmando que um apocalipse sempre terá um caráter escatológico, desvendando eventos a cumprir-se. Nesses livros, procura-se trazer à tona condições futuras. 2. Outra marca distintiva dos apocalipses bíblicos é sua ênfase na vinda do Senhor. Daniel salienta a vinda do Messias vindouro e o estabelecimento do seu reino (Dn 7.13,14 e Ap 19-22). 3. Os apocalipses bíblicos são marcados por experiências espirituais profundas, e são ricos em visões. Os autores são levados ao céu, vêem multidões, animais simbólicos indicando nações da terra, etc. 4. Os apocalipses bíblicos sempre enfatizam o fato de que a História segue seu rumo conforme a vontade Deus – Ele é o condutor dos eventos que culminarão no cumprimento ou realização da sua vontade. 5.

Os

apocalipses

bíblicos

são,

em

sua

essência,

messiânicos. Cristo é o centro desses livros. Enquanto Daniel antevê a vinda do Messias como homem, Jão 73

Quanto à questão da data em que Daniel foi escrito, confira o tópico “Autoria e Data de Daniel”, na lição 5.

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contempla Jesus – homem – agora glorificado, exaltado e vindo para reinar! Em Apocalipse, temos revelado não apenas uma série de eventos futuros, mas a própria Pessoa de Cristo em suas qualidades divinas.

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APÊNDICE 3 A LEI DA DUPLA REFERÊNCIA ESTUDOS EM HERMENÊUTICA BÍBLICA Ou, Leis Básicas de Interpretação da Bíblia Pr. Davis W. Huckabee Muitas vezes ocorre que determinada passagem das Escrituras pode ter uma referência dupla, uma imediata e local, e a outra profética e bem distante. Quando tal é o caso, há grande confusão se não reconhecemos isso e não levamos em consideração o aspecto profético da dupla referência. De maneira semelhante, já aconteceu às vezes que indivíduos recusaram aceitar a referência imediata e local, mas afirmaram que a referência só trata do lado profético e distante. Ao fazerem isso, eles foram capazes de ser indiferentes à sua própria responsabilidade no assunto. Assim foi nos dias de Ezequiel, pois ele foi comissionado para dizer aos israelitas: "Filho do homem, eis que os da casa de Israel dizem: ―Filho do homem, eis que os da casa de Israel dizem: A visão que este tem é para muitos dias, e ele profetiza de tempos que estão longe. Portanto dize-lhes: Assim diz o Senhor Deus: Não será

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mais adiada nenhuma das minhas palavras; e a palavra que falei se cumprirá, diz o Senhor Deus‖ (Ez 12.27-28). A

Lei

da

Dupla

Referência

é

simplesmente

o

reconhecimento de que o cumprimento de determinada passagem das Escrituras pode não ter esgotado seu significado, mas que pode haver um cumprimento maior e posterior da passagem. Isso não é raro nas Escrituras, mas aparece numerosas vezes tanto no Antigo quanto no Novo Testamento. Isso se aplica tanto a eventos quanto a pessoas, pois as pessoas são muitas vezes tipos e representações de pessoas. Quem, por exemplo, imaginaria que havia algo mais do que uma referência imediata e local para Isaías e seus filhos na declaração de Isaías 8:18: ―Eis-me aqui, com os filhos que me deu o SENHOR, por sinais e por maravilhas em Israel, da parte do SENHOR dos EXÉRCITOS, que habita no monte de Sião‖ (Is 8.18). No entanto, essa declaração é citada em Hebreus 2.13 como se referindo a Cristo e Seus irmãos. Isso é simplesmente um exemplo de Dupla Referência, e onde isso não é levado em consideração, o resultado pode ser confusão, e pode haver uma incapacidade de receber toda a verdade. Essa Lei explica muitas referências no Antigo Testamento como tendo um sentido e aplicação duplos. Sem dúvida, assim como algumas pessoas do Antigo Testamento prefiguravam

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Cristo, de modo semelhante pessoas que há muito tempo deixaram de existir prefiguram o Anticristo em alguns lugares. Essa

Lei se

encontra

principalmente nas partes

proféticas da Palavra, pois a profecia é muitas vezes apresentada figurativamente em alguns eventos locais. Tal caso é aquele que se acha nas predições de nosso Senhor sobre a destruição de Jerusalém, que veio a ocorrer no ano 70 d.C., que prefigura a invasão final da Terra Santa por exércitos do Anticristo, e a Grande Tribulação que então sobrevirá. Isso em nada diminui o cumprimento imediato e local, nem diminui em nada o pleno sentido e força da profecia em seu primeiro cumprimento. No caso da destruição de Jerusalém em 70 d.C., a profecia se cumpriu literalmente, e incontáveis milhares de judeus foram mortos do modo mais cruel e bárbaro que dá para imaginar. Mas esse cumprimento não esgotou a profecia, pois o Livro de Apocalipse, que foi escrito depois desse evento, ainda aguarda uma matança terrível de judeus e gentios, que reduzirá a população deste planeta à quase metade. Jesus declarou que ―naqueles dias haverá uma aflição tal, qual nunca houve desde o princípio da criação, que Deus criou, até agora, nem jamais haverá‖ (Mc 13.19). Isso é, a Grande Tribulação será um tempo de aflição que não tem

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paralelo na história, e do qual, em matéria de terror e selvageria, outros eventos não chegarão nem perto, de modo que é evidente que a destruição de Jerusalém não esgotou essa profecia. Desde então, já houve vários eventos que ultrapassaram em terror a destruição de Jerusalém. Por isso, o cumprimento final da profecia de Jesus ainda vai vir. Muitos pensadores liberais e modernistas se equivocam porque, por negligência, não levam em consideração essa Lei da Dupla Referência na interpretação da Bíblia. Pois muito mais que freqüentemente eles procuram um cumprimento imediato e local de certas profecias, e quando essas não se cumpriram literalmente no tempo designado por esses indivíduos que se julgam especialistas na arte de interpretar, eles as explicam como falhas por parte de Deus. Pedro falou desses zombadores em sua época: ―Sabendo primeiro isto, que nos últimos dias virão escarnecedores, andando segundo as suas próprias concupiscências, e dizendo: Onde está a promessa da sua vinda? Porque desde que os pais dormiram, todas as coisas permanecem como desde o princípio da criação‖ (2 Pe 3.3-4). Um número muito grande de pessoas quer fixar uma data final para Deus, e se Ele não cumpre Sua palavra bem na computação trivial determinada por eles, eles presumem que Ele falhou, ou então que Ele é incapaz de

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manter Sua palavra. Ou, eles poderão considerar algum cumprimento imediato e local ―um que talvez seja apenas um cumprimento parcial‖ e achar que nada mais poderá vir da profecia. Mas na interpretação da Bíblia, seria melhor que nos lembrássemos de uma das leis básicas da Lei da Dupla Referência, que tem abertura para o cumprimento de uma profecia muito mais plena e mais tarde. [...] Muitas profecias têm essa característica. Alguém assemelhou essas duplas referências, e o fato de que até mesmo os próprios profetas às vezes não percebiam seu duplo significado, à pessoa que observa montanhas. Essa pessoa vê só uma grande e elevada cadeia de montanhas sem discernir que há um vale amplo entre as montanhas da frente e as que ficam mais ao fundo. Até mesmo muitas das profecias da vinda de Cristo têm parte nessa natureza dupla. Uma das melhores ilustrações disso se vê na profecia de Isaías 61.1-3, que mistura

elementos

de

ambos

os

Adventos

de

Cristo,

transformando-os num só evento aos olhos do profeta. Contudo, quando Jesus pegou o rolo de Isaías e o leu na sinagoga de Nazaré, Ele separou com muita habilidade as duas partes dessa profecia mista. Ele parou de ler no meio da profecia com as palavras ―Pregar o ano aceitável do Senhor‖, então proclamou ―Hoje se cumpriu esta Escritura em vossos

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ouvidos‖, Lucas 4:18-21. Não se pode dizer que o restante dessa profecia se cumpriu naquele dia, nem que tenha ainda se cumprido, depois de quase dois mil anos. Mas com certeza se cumprirá no devido tempo. Essa Lei da Dupla Referência, no que se refere a indivíduos, encontra numerosos exemplos nos livros proféticos. Principalmente em Daniel, vemos o Anticristo definitivo várias vezes retratado sob as figuras imediatas e locais do rei da Babilônia, do rei da Grécia, do rei da Síria, etc. Ninguém pode negar o cumprimento que ocorreu logo depois que a profecia foi dita. Mas também seria melhor não ignorar o fato de que essas mesmas profecias têm um segundo, ou até mesmo maior, cumprimento que ainda virá a se cumprir nos últimos dias na pessoa do Homem do Pecado. Nós nos arriscamos a citar ainda outro exemplo de uma referência dupla no que é dito acerca de um indivíduo. Em Ezequiel 28, se faz referência ao ―rei de Tiro‖ nos versículos 11-19, e essas palavras sem dúvida tiveram um cumprimento parcial em algum homem que ocupou essa posição e manteve esse título. Contudo, a linguagem vai além do que se poderia aplicar a algum homem, pois este é chamado de ―o querubim ungido‖, v. 14, ―querubim protetor‖, v. 16, títulos que jamais são

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dados a ninguém, exceto alguns do exército celestial. E é mencionado que ele esteve no Éden, o jardim de Deus, v. 13. Obviamente,

deve

haver uma dupla

referência

nesses

versículos: uma a um mero homem, a outra ao próprio Satanás. Tendo dito tudo isso, é necessário soar um aviso contra o desejo inato de sensacionalizar a Palavra de Deus tentando descobrir coisas secretas. Que nenhum estudante da Bíblia seja culpado de tentar manufaturar algum cumprimento secundário de um evento histórico. O único curso seguro é apegar-se somente a um cumprimento profético secundário onde textos posteriores declaram que existe tal cumprimento. Caso contrário, pode-se facilmente cair no engano de Orígenes de espiritualizar o que foi designado para ser aceito só literalmente. Autor: Davis W. Huckabee Tradução: Júlio Severo Revisão e Edição: Joy E Gardner e Calvin G Gardner Fonte: www.PalavraPrudente.com.br Link: http://www.palavraprudente.com.br/estudos/dw_huckabee/herm eneutica/cap11.html Acesso em 04/06/2010

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O AUTOR O irmão Roney Ricardo serve a Deus e a Igreja como presbítero, professor de teologia e de Escola Bíblica Dominical na Assembléia de Deus de Porto de Santana, presidida pelo Pastor Evaldo Cassoto. É casado com Dolarize Alves Vieira. O casal tem uma filha, a Ester Alves Cozzer. Atuou durante um ano e meio como Diretor Acadêmico do Instituto Bíblico Fundamentos Inabaláveis (IBFI). Atualmente, é Professor e Diretor Geral no Setor de Teologia do CETAPES (Centro Teológico e Psicanalítico do ES). Pela graça de Deus, é palestrante nas áreas de Igreja, família, teologia e co-autor do livro Escola Dominical: o que Você Precisa Saber. É formado no curso Médio de Teologia da EETAD (Escola de Educação Teológica das Assembleias de Deus), Graduado em Teologia, Psicanalista Clínico, mestrando (intra corpus) em Teologia Histórica, cursando Segunda Licenciatura em Pedagogia e PósGraduando em Metodologia do Ensino da História e da Geografia. CONTATOS: Pelos telefones: (27) 99773-4158 e 98854-3678 Por e-mail: [email protected]