A Diagnósticos de enfermagem identificados em RTIGO

Diagnósticos de enfermagem identifi cados em pacientes 1103 internados em Unidade de Terapia Intensiva Adulto Chianca TCM, Lima APS, Salgado PO...

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NURSING DIAGNOSES IDENTIFIED IN INPATIENTS OF AN ADULT INTENSIVE CARE UNIT

ARTIGO ORIGINAL

Diagnósticos de enfermagem identificados em pacientes internados em Unidade de Terapia Intensiva Adulto*

DIAGNÓSTICOS DE ENFERMERÍA IDENTIFICADOS EN PACIENTES INTERNADOS EN UNIDAD DE TERAPIA INTENSIVA DE ADULTOS Tânia Couto Machado Chianca1, Ana Paula Souza Lima2, Patrícia de Oliveira Salgado3

RESUMO

ABSTRACT

RESUMEN

Estudo descri vo para iden ficar nos registros de prontuários de pacientes internados em uma Unidade de Terapia Intensiva de Adultos os diagnós cos de enfermagem e mapear os diagnós cos mais frequentes às Necessidades Humanas Básicas. Obteve-se uma amostra de 44 prontuários. Iden ficaram-se 1.087 diagnós cos de enfermagem. Após exclusão de repe ções, encontraram-se 28 diferentes tulos de diagnós cos. Vinte e cinco diagnós cos estavam relacionados às necessidades psicobiológicas, e três, às necessidades psicossociais. Sugere-se a realização de estudos que iden fiquem, entre os diagnós cos de enfermagem formulados e as necessidades humanas afetadas, quais foram solucionados e para quais necessidades são predominantemente elaborados os cuidados. Os resultados deste estudo são importantes para a organização de conteúdos de ensino para alunos e enfermeiros, preparando-os para que, ao prestar o cuidado, considerem o ser humano, tanto nos aspectos biológicos, como emocionais e espirituais.

This descrip ve study was performed to iden fy the nursing diagnoses in the records of the inpa ents of an adult intensive care unit, and map the most frequent diagnosis according to the Fundamental Human Needs. The sample consisted of 44 pa ent records. A total of 1,087 nursing diagnoses were iden fied. A er excluding the repe ons, 28 different diagnoses were iden fied. Twenty-five diagnoses were related to psychobiological needs, and three to psychosocial needs. Further studies should iden fy, among the formulated nursing diagnoses and the affected human needs, which problems were solved and for what needs the care is predominantly developed. The present study results are important for the organiza on of teaching content for students and nurses, preparing them to consider human beings as a whole when providing care, considering their biological, emoonal, and spiritual aspects.

Estudio descrip vo apuntando iden ficar en historias clínicas de pacientes internados en una Unidad de Terapia Intensiva de Adultos los diagnós cos de enfermería y mapear los diagnós cos más frecuentes rela vos a las Necesidades Humanas Básicas. Se obtuvo una muestra de 44 historias clínicas. Se iden ficaron 1087 diagnós cos de enfermería. Luego de exclusión de repe ciones, se encontraron 28 diferentes tulos de diagnós cos. Vein cinco diagnós cos se relacionaban con necesidades psicobiológicas y tres a necesidades psicosociales. Se sugiere realizar estudios que iden fiquen, entre los diagnós cos de enfermería formulados y las necesidades humanas afectadas, cuáles de ellos fueron solucionados y para cuáles necesidades son elaborados mayoritariamente los cuidados. Los resultados de este estudio son importantes para la organización de contenidos de enseñanza para alumnos y enfermeros, preparándolos para que al prestar el cuidado consideren al ser humano, tanto en aspectos biológicos como emocionales y espirituales.

DESCRITORES

DESCRIPTORS

DESCRIPTORES

Cuidados de enfermagem Diagnós co de Enfermagem Classificação Unidades de Terapia Intensiva Humanização da assistência

Nursing care Nursing Diagnosis Classifica on Intensive Care Units Humaniza on of assistance

Atención de enfermería Diagnós co de Enfermería Clasificación Unidades de Terapia Intensiva Humanización de la atención

* Extraído da dissertação “Identificação e mapeamento dos diagnósticos e ações de enfermagem de pacientes internados em uma UTI-Adulto”, Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais, 2010. 1 Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Professora Associada da Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais. Professora do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte, MG, Brasil. [email protected] 2 Enfermeira. Especialista em Emergência, Trauma e Terapia Intensiva. Enfermeira do Centro de Terapia Intensiva Medimig e Hospital da Polícia Militar de Belo Horizonte. Belo Horizonte, MG, Brasil. anapsouzal@ yahoo.com.br 3 Enfermeira. Doutoranda em Enfermagem da Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais. Enfermeira da Gerência de Ensino e Pesquisa do Hospital Odilon Behrens. Belo Horizonte, MG, Brasil. [email protected]

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Rev Esc Enferm USP 2012; 46(5):1102-1108 www.ee.usp.br/reeusp/

Recebido: 22/07/2011 Aprovado: 11/03/2012

Diagnósticos de enfermagem identifi cados em pacientes Português / Inglês internados em Unidade de Terapiawww.scielo.br/reeusp Intensiva Adulto Chianca TCM, Lima APS, Salgado PO

INTRODUÇÃO O termo Diagnós co de Enfermagem (DE) tem sua origem no advento da enfermagem moderna, quando Florence Nigh ngale, durante a Guerra da Criméia, diagnos cou e tratou problemas de saúde nos soldados e u lizou o levantamento desses problemas para planejar a sua assistência(1). Com o avanço da Enfermagem e a organização do seu próprio conhecimento, na década de 1950, os enfermeiros resgataram a experiência daquela época, com o objevo de planejar a prá ca profissional e educacional da enfermagem, realizando de forma sistemá ca o cuidado, ou seja, aplicando o Processo de Enfermagem (PE), composto por fases, onde o diagnós co de enfermagem é incluído(1). No Brasil, estudos acerca do Processo de Enfermagem começaram a ser desenvolvidos com uma atuação pioneira da Enfermeira Doutora Wanda de Aguiar Horta, que começou a discu r sobre teoria de Enfermagem no campo profissional(2). O modelo teórico proposto por Horta é denominado Teoria das Necessidades Humanas Básicas (NHB), sendo descrito em fases organizadas e interrelacionadas que fornecem dados para o Enfermeiro planejar suas ações e prestar uma assistência focada nas necessidades dos pacientes(3). As necessidades apresentadas pelos pacientes são iden ficadas pelos Enfermeiros a par r da coleta de dados. Em um processo de raciocínio clínico, necessidades são iden ficadas a par r da interpretação e agrupamento dos dados coletados, sendo formulados diagnós cos de enfermagem, para os quais propostas de solução são estabelecidas. Esse processo de raciocínio clínico é mental, devendo ser guiado pelo referencial teórico u lizado onde necessidades afetadas emergem.

...a identificação de um conjunto de diagnósticos de enfermagem pode direcionar a assistência de enfermagem a pacientes internados em UTI, fornecendo subsídios para a elaboração do plano de cuidados individualizado, voltado para o atendimento de Necessidades Humanas Básicas estabelecidas mentalmente.

Embora o cuidado de enfermagem seja considerado essencial para o tratamento da maioria dos pacientes, tal fato ainda não é muito visível ou reconhecido. Na prá ca assistencial percebe-se a necessidade de instrumentalizar os enfermeiros para implementar o Processo de Enfermagem de uma forma efe va e com ações sistema zadas. Essa realidade tem maior impacto, sobretudo, quando nos remetemos às Unidades de Tratamento Intensivo (UTI). O número reduzido de vagas e a elevada procura por esses serviços, além do número de procedimentos realizados, nos levam a repensar sobre a necessidade de organização das ações executadas e do seu acompanhamento. Além disso, torna-se necessário nestas unidades um redirecionamento dos cuidados, a fim de que sejam voltados ao ser humano e não apenas à doença ou ao trauma aos quais estão subme dos os pacientes(5). Diagnósticos de enfermagem identificados em pacientes internados em Unidade de Terapia Intensiva Adulto Chianca TCM, Lima APS, Salgado PO

Em uma UTI-Adulto de Belo Horizonte, Brasil, as etapas do Processo de Enfermagem vem sendo implementadas desde 2006. Nesta é u lizado como arcabouço teórico a Teoria das Necessidades Humanas Básicas(3) e os diagnós cos de enfermagem são elaborados a par r da taxonomia II da NANDA-I(4). Entretanto, mesmo sendo a prá ca de enfermagem na unidade norteada por uma teoria, alguns problemas rela vos à abrangência da assistência de enfermagem para além dos aspectos biológicos do paciente são iden ficados pelos enfermeiros na prá ca. Apoiados em estudos que estabelecem a dificuldade de alguns enfermeiros em iden ficarem aspectos rela vos a necessidades de âmbito emocional e/ou espiritual como sendo prioritários em relação aos problemas fisiológicos dos pacientes(6-8) gerou inquietação acerca de se conhecer as Necessidades Humanas Básicas que são atendidas a par r dos diagnós cos de enfermagem formulados para os pacientes desta UTI. Jus fica-se este estudo por considerar que a iden ficação de um conjunto de diagnós cos de enfermagem pode direcionar a assistência de enfermagem a pacientes internados em UTI, fornecendo subsídios para a elaboração do plano de cuidados individualizado, voltado para o atendimento de Necessidades Humanas Básicas estabelecidas mentalmente. Assim, o mapeamento de Necessidades Humanas Básicas aos diagnós cos de enfermagem iden ficados pode contribuir para o estabelecimento de um perfil diagnósco à luz do referencial teórico adotado na assistência a pacientes internados em UTI. O conhecimento deste perfil é altamente significa vo para o desenvolvimento de uma base de dados de enfermagem que subsidiará um so ware em construção e favorecerá a extração de dados de eficácia do cuidado de enfermagem prestado nesta unidade.

Dessa forma, o presente estudo tem por objetivo identificar nos registros de prontuários de pacientes internados em uma UTI de adultos os diagnósticos de enfermagem e mapear os diagnósticos mais frequentes às Necessidades Humanas Básicas de Horta. MÉTODO Trata-se de estudo descri vo desenvolvido em uma UTI de Adultos de Belo Horizonte (MG), dotada de 10 leitos des nados a atendimentos par culares e por convênio. Para a realização do estudo considerou-se como população todos os pacientes internados na UTI no período de 1 de setembro de 2008 a 30 setembro de 2009, totalizando 494 pacientes. A opção por este período de coleta se deu porque todas as fases do Processo de Enfermagem já Rev Esc Enferm USP 2012; 46(5):1102-1108 www.ee.usp.br/reeusp/

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estavam implementadas u lizando impressos próprios na unidade neste período.

pertos, assinando o Termo de Consen mento Livre e Esclarecido (TCLE).

Para o cálculo da amostra utilizou-se o método de reamostragem por permutação(9). Inicialmente foi realizado um sorteio para composição de uma amostra aleatória composta pelos diagnósticos de enfermagem de 60 prontuários. Desse total, 16 prontuários não apresentavam os diagnósticos de enfermagem formulados, sendo excluídos e totalizando uma amostra de 44 pacientes. Em seguida, para cada paciente, identificou-se o número de diagnósticos de enfermagem formulados e calculou-se a média de diagnósticos exclusivos para cada paciente. Verificou-se que para os 10 primeiros pacientes ocorreu uma média de 19 diagnósticos diferentes, porém, a partir do 15º paciente, a cada dois pacientes aparecia um novo diagnóstico e, em torno do 40º paciente, passou a aparecer uma média de menos de 0,2 novos diagnósticos de enfermagem por paciente. Assim, a amostra por aleatorização foi constituída pelos prontuários de 44 pacientes que é uma estimativa do percentual dos diagnósticos de enfermagem formulados pelos enfermeiros para os pacientes na unidade no período.

Como estratégia de validação do processo de mapeamento realizado u lizou-se a técnica Delphi, método para obter o consenso de um grupo de expertos sobre um determinado tema(13). Não há diretriz que estabeleça o adequado nível de consenso a ser ob do(14), porém, recomenda-se a obtenção do nível mínimo de concordância de 70%, na etapa final da Técnica Delphi(15). Diante dessa recomendação, adotou-se o índice de 70% como nível mínimo de consenso a ser ob do pelos expertos neste estudo.

Os dados foram coletados diretamente nos prontuários dos pacientes e transcritos individualmente para uma planilha do programa Excel for Windows, para identificação das informações necessárias e exclusão das repetições. Os diagnósticos de enfermagem obtidos foram submetidos a correções de ortografia, análise de sinonímia, adequação de tempos verbais, uniformização de gênero e de número e exclusão das expressões pseudoterminológicas, definidas como elementos que ocorrem de forma casual no discurso, mas que não designam conceitos particulares, sendo considerado lixo terminológico(10). Os diagnós cos documentados foram analisados em freqüências absolutas e rela vas. Além disso, realizou-se o processo de mapeamento cruzado dos diferentes tulos diagnós cos de enfermagem coletados com a classificação das Necessidades Humanas Básicas(3,11). O mapeamento cruzado é um procedimento metodológico que pode ser u lizado na análise de dados con dos no Processo de Enfermagem, nos diferentes campos do cuidado, através da comparação entre as informações existentes nos prontuários dos pacientes e as classificações de referência para a prá ca de enfermagem(12). Os diagnós cos de enfermagem mapeados foram subme dos a um processo de validação, primeiramente por pesquisadores do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Sistema zar o Cuidar em Enfermagem da Escola de Enfermagem da UFMG e, em seguida, foram encaminhados para avaliação de enfermeiros intensivistas e pesquisadores da área de Sistema zação da Assistência de Enfermagem (SAE) que concordaram em par cipar do estudo como ex-

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No processo de validação dos diagnós cos de enfermagem mapeados foram u lizados dois instrumentos: um primeiro instrumento com as orientações necessárias e com as definições das Necessidades Humanas Básicas(11) e o segundo elencando os tulos diagnós cos de enfermagem coletados e mapeados às Necessidades Humanas Básicas. Para a realização da validação dos diagnósticos de enfermagem mapeados foram convidados, por e-mail, 11 enfermeiros. Ao receber o convite, todos os profissionais aceitaram participar e receberam por e-mail o material para validação (Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, um instrumento com as orientações necessárias para a validação e com as definições das Necessidades Humanas Básicas, o instrumento com os diagnósticos de enfermagem mapeados e envelope selado e endereçado para retorno do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido assinado). Contudo, 6 dos enfermeiros responderam o instrumento dentro do prazo determinado, compreendendo, portanto, a amostra de expertos deste estudo. O estudo obteve parecer favorável da diretoria da unidade onde se realizou a pesquisa e do Comitê de É ca em Pesquisa (COEP) da Universidade Federal de Minas Gerais (Parecer COEP nº 315/09), sendo seguidas as recomendações da resolução 196/96. RESULTADOS Entre os 44 pacientes cujos prontuários foram analisados, a maioria era do sexo feminino 30 (68%). A faixa etária variou entre 28 e 93 anos, sendo 68,3% dos pacientes com idade maior ou igual a 60 anos, a média de idade foi de 64 anos, a mediana de 66,5 e o desvio padrão de 17,5 anos. Os diagnós cos médicos predominantes foram de acordo com o CID-10(16), Doenças do Aparelho Respiratório (30%). IdenƟficação dos ơtulos diagnósƟcos Para os 44 pacientes foram formulados 1087 diagnóscos de enfermagem. Após a realização do processo de normalização do conteúdo, obteve-se 28 diferentes tulos diagnós cos (Tabela 1). Diagnósticos de enfermagem identificados em pacientes internados em Unidade de Terapia Intensiva Adulto Chianca TCM, Lima APS, Salgado PO

Tabela 1 – Freqüência dos títulos diagnósticos enfermagem da NANDA I por paciente - Belo Horizonte, MG, 2011 Categoria Diagnóstica

Frequência N

%

Risco de infecção

44

100

Risco de integridade da pele prejudicada

43

98

Integridade da pele prejudicada

12

27

Integridade tissular prejudicada

11

25

Risco de aspiração

7

16

Desobstrução ineficaz de vias aéreas

7

16

Proteção ineficaz

5

11

Risco de disfunção neurovascular periférica

2

5

Risco de quedas

1

2

Déficit no autocuidado para banho e/ou higiene

44

100

Déficit no autocuidado para higiene íntima

41

93

Mobilidade no leito prejudicada

27

61

Débito cardíaco diminuído

3

7

Padrão respiratório ineficaz

2

5

Mobilidade física prejudicada

1

2

Perfusão renal ineficaz

1

2

Perfusão tissular periférica ineficaz

1

2

Risco de glicemia instável

35

80

Volume excessivo de líquidos

4

9

Nutrição desequilibrada: menos do que as necessidades corporais

2

5

Risco de constipação

44

100

Troca de gases prejudicada

2

5

Risco de síndrome de estresse por mudança

21

48

Ansiedade

5

11

Dor aguda

2

5

Dor crônica

1

2

Confusão aguda

2

5

Risco de solidão

2

5

Negrito= os cinco títulos diagnósticos de enfermagem mais frequentes Nota: (n=44)

Os tulos diagnós cos foram descritos conforme a publicação brasileira de 2008 da classificação de diagnós cos de enfermagem da NANDA-I(17), pois esta foi a edição u lizada pelos enfermeiros para formular os diagnós cos dos pacientes internados no local do estudo. Verifica-se que 10 (36%) dos diagnós cos de enfermagem formulados foram diagnós cos de risco. Entre os 28 diagnós cos iden ficados 7 apresentaram freqüência maior que 50%. Os de maior prevalência foram: risco de infecção, déficit no autocuidado para banho/higiene e risco de conspação, todos formulados para 100% dos pacientes. Outros diagnós cos também veram freqüência elevada, a saber: risco de integridade da pele prejudicada (98%), déficit no autocuidado para higiene ín ma (93%), risco de glicemia instável (80%) e mobilidade no leito prejudicada (61%). Dos 13 domínios da Taxonomia II da NANDA-I(4), 5 não foram representados por nenhum diagnós co, são eles: Diagnósticos de enfermagem identificados em pacientes internados em Unidade de Terapia Intensiva Adulto Chianca TCM, Lima APS, Salgado PO

Promoção à Saúde, Papéis e Relacionamentos, Sexualidade, Princípios da Vida, Crescimento/Desenvolvimento. Os domínios Nutrição, Eliminação e Troca, A vidade/ Repouso, Percepção/Cognição, Autopercepção, Enfrentamento/Tolerância ao Estresse, Segurança/Proteção e Conforto foram representados pela ocorrência de pelo menos um de seus respec vos diagnós cos. Os domínios mais representados foram os de Segurança/Proteção (9 diferentes tulos diagnós cos) e de A vidade/ Repouso (7). Mapeamento dos ơtulos diagnósƟcos de enfermagem à classificação das Necessidades Humanas Básicas Os tulos diagnós cos de enfermagem formulados para os pacientes cujos prontuários foram analisados foram mapeados às Necessidades Humanas Básicas proposta por Horta(3) (Quadro 1). Verifica-se no Quadro 1 que, entre os 28 diferentes tulos diagnós cos de enfermagem formulados, 25 foram mapeados às necessidades psicobiológicas; 3 às necessidades psicossociais e nenhum dos diagnós cos formulados referem-se às necessidades psicoespirituais. Observa-se, também, que à Necessidade Humana Básica de regulação vascular foi comparado o maior número dos diferentes tulos diagnós cos de enfermagem iden ficados (5-20%). Quanto ao mapeamento às necessidades psicossociais os diagnós cos de enfermagem formulados foram comparados apenas à necessidade de segurança emocional, compreendendo três diferentes tulos diagnós cos de enfermagem, a saber: risco de síndrome do estresse por mudança, ansiedade e risco de solidão. Validação dos ơtulos diagnósƟcos de enfermagem mapeados Todos os enfermeiros que compuseram a amostra atenderam aos critérios de inclusão, apresentando pontuação igual ou superior a 05 de acordo com os critérios estabelecidos(18). Todos os profissionais trabalham e residem em Belo Horizonte, MG e são do sexo feminino. Verifica-se que os expertos deste estudo são qualificados, aliando além da experiência prá ca (a idade mínima de experiência prá ca foi de 4 anos) a experiência com a vidades acadêmica e de pesquisa. Para a validação dos tulos diagnós cos de enfermagem mapeados u lizou-se uma rodada da Técnica Delphi, uma vez que foi alcançado o nível mínimo de concordância estabelecido entre os avaliadores já na primeira rodada. Verificou-se que o grau de concordância entre o grupo de expertos no processo de validação, foi de 100% de concordância (Kappa= 1,0). Rev Esc Enferm USP 2012; 46(5):1102-1108 www.ee.usp.br/reeusp/

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Quadro 1 – Títulos diagnósticos de enfermagem mapeados às Necessidades Humanas Básicas - Belo Horizonte, MG, 2011 Necessidade Humana Básica Cuidado corporal

Título Diagnóstico Déficit no autocuidado para banho/higiene Déficit no autocuidado para higiene íntima Risco de integridade da pele prejudicada

Integridade física

Integridade da pele prejudicada Integridade tissular prejudicada Risco de infecção

Necessidades Psicobiológicas

Segurança física/meio ambiente

Risco de aspiração Proteção ineficaz Risco de quedas

Eliminação

Risco de constipação Risco de glicemia instável Risco de disfunção neurovascular periférica

Regulação Vascular

Débito cardíaco diminuído Perfusão renal ineficaz Perfusão tissular periférica ineficaz

Atividade física

Mobilidade no leito prejudicada Mobilidade física prejudicada Desobstrução ineficaz de vias aéreas

Oxigenação

Padrão respiratório ineficaz Troca de gases prejudicada

Hidratação

Volume excessivo de líquidos

Alimentação

Nutrição desequilibrada: menos do que as necessidades corporais

Percepção dos órgãos dos sentidos

Segurança emocional

Confusão aguda

Ansiedade Risco de solidão

DISCUSSÃO Os pacientes idosos respondem atualmente por 42 a 52% das admissões nas UTI(19). Na amostra estudada, a maioria (68,3%) dos pacientes concentrou-se na faixa etária de pessoas com idade maior ou igual a 60 anos, o que apoia a percepção de que a idade média dos pacientes em UTI tem aumentado nos úl mos anos e aumentará ainda mais com o envelhecimento da população em geral. Para 44 pacientes cujos prontuários foram analisados encontrou-se 1087 diagnós cos de enfermagem formulados, sendo elaborados, em média, 8,5 diagnós cos de enfermagem por paciente, número próximo ao descrito na literatura em que a média de diagnós cos encontrados por pacientes foi, respec vamente, 6,9(8) e 8(20). Neste estudo somente 10 dos diagnósticos de enfermagem formulados foram diagnósticos de risco, sendo 2 deles identificados em todos os pacientes. Os diagnósticos reais descrevem respostas já presentes nos pa-

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Dor crônica Risco de síndrome do estresse por mudança

Psicossociais

Necessidades

Regulação Neurológica

Dor aguda

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cientes e os de risco descrevem respostas que podem desenvolver-se. Este último está apoiado em fatores de risco que contribuem para o aumento da vulnerabilidade à patógenos(4). O fato da maioria dos diagnósticos serem classificados como real é a evidência de que os cuidados de enfermagem em UTI devem ser centrados na recuperação da saúde. No entanto, a identificação de diagnósticos de risco também indica que existe preocupação por parte dos enfermeiros quanto aos aspectos preventivos no cuidado aos pacientes(8). Em uma UTI encontram-se pacientes em risco de morte, cabendo ao enfermeiro reconhecer os sinais iniciais de desvio da normalidade para implementar assistência de enfermagem de qualidade. Observa-se que os diagnós cos de enfermagem de risco para cons pação, déficit no autocuidado para banho/ higiene e risco de infecção, formulados para 100% dos pacientes, pertencem aos domínios estabelecidos na taxonomia da NANDA I, eliminação e troca, a vidade/repouso Diagnósticos de enfermagem identificados em pacientes internados em Unidade de Terapia Intensiva Adulto Chianca TCM, Lima APS, Salgado PO

e segurança/proteção, respec vamente(4). Esses diagnóscos referem-se às Necessidades Humanas Básicas de eliminação, cuidado corporal e segurança sica/meio ambiente e todas necessidades psicobiológicas. Algumas delas podem estar relacionadas a a vidade sica deficiente, uma vez que pacientes internados em UTI permanecem no leito e o risco para cons pação pode estar presente. Nestes pacientes o déficit no autocuidado para banho/ higiene é evidente e foi estabelecido para todos aqueles cujos prontuários foram analisados. As ações de enfermagem relacionadas ao banho no leito, higiene ín ma e ves r-se são essenciais e se referem às necessidades humanas de pacientes que estão em repouso absoluto, ou cuja mobilidade e locomoção estejam afetadas. Por sua vez, o diagnós co de enfermagem de risco de infecção, a exemplo do presente estudo, tem sido iden ficado em diferentes unidades de hospitais(8,21). Essa ocorrência pode ser explicada face ao paciente internado em hospital apresentar exposição ambiental a patógenos aumentada, principalmente em UTI onde um grande número de procedimentos invasivos são normalmente realizados. Os diagnós cos de enfermagem de risco de integridade da pele prejudicada, déficit no autocuidado para higiene ín ma, risco de glicemia instável e mobilidade no leito prejudicada foram formulados para mais de 50% dos pacientes. Assim, as necessidades psicobiológicas de integridade sica, cuidado corporal, regulação vascular e a vidade sica es veram afetadas nestes pacientes. Observa-se, então, que entre os diagnós cos mapeados às Necessidades Humanas Básicas, 25 (89%) estão relacionados às necessidades psicobiológicas e somente 3 (11%) às necessidades psicossociais. Não foram mapeados diagnós cos à necessidade psicoespiritual. Autores relatam que a espiritualidade/religiosidade pode ser considerada um aspecto de extrema relevância, uma vez que pode contribuir para inspirar coragem, ânimo e confiança nos pacientes acerca do processo de recuperação da doença(22). Compreende-se que, em função da gravidade do estado de saúde sica dos pacientes internados em UTI, a equipe de enfermagem, ao prestar os cuidados priorize a documentação de problemas e a assistência às necessidades psicobiológicas afetadas. Contudo, as necessidades humanas são inter-relacionadas e fazem parte de um todo indivisível do ser humano de tal forma que, quando uma se manifesta todas as outras sofrem algum grau de alteração(3). Assim, as prioridades para a assistência de enfermagem têm de ser ajustadas sistema camente. Apesar da limitação à iden ficação de apenas 3 diagnóscos de enfermagem que foram mapeados à necessidade psicossocial este é um dado importante, visto que na grande maioria dos serviços os enfermeiros realizam a assistência ainda muito voltada para um modelo médico-centrado. Em estudo realizado também em UTI de Adultos não foram Diagnósticos de enfermagem identificados em pacientes internados em Unidade de Terapia Intensiva Adulto Chianca TCM, Lima APS, Salgado PO

iden ficados diagnós cos de enfermagem referentes às necessidades humanas psicossociais e/ ou psicoespirituais(8). As autoras ques onam o fato por saber que muitos pacientes internados em UTI apresentam dificuldades relacionadas à comunicação, isolamento social, ansiedade, sofrimento espiritual, entre outras. Estranha-se o fato destas não serem documentadas nos prontuários dos pacientes por parte dos enfermeiros dado se referirem a necessidades afetadas que demandam cuidados de enfermagem. Analisando o perfil dos enfermeiros que validaram os diagnós cos de enfermagem mapeados foi possível observar que 83% apresentam prá ca clínica de pelo menos um ano de duração na área de terapia intensiva, usando um modelo de assistência que emprega o processo de enfermagem na prá ca e que u liza diagnós cos, intervenções e resultados de enfermagem para documentar a prá ca clínica. Todos são especialistas em terapia intensiva, ressaltando-se o elevado número de expertos (5-83%) que possui publicações na área de terapia intensiva, de diagnós cos, intervenções ou de resultados de enfermagem. Obteve-se 100% de concordância (Kappa=1,0) entre os expertos na avaliação dos diagnós cos de enfermagem mapeados às NHBs em uma única rodada da Técnica Delphi. Tal fato pode ser explicado devido a primeira etapa do mapeamento cruzado realizado ter sido subme do a um processo de análise e confirmação por um grupo de pesquisadores na área de processo de enfermagem, o que respalda os resultados encontrados no mapeamento realizado. CONCLUSÃO Este estudo permitiu identificar os diagnósticos de enfermagem mais frequentes em uma Unidade de Terapia Intensiva de Adultos e mapeá-los às Necessidades Humanas Básicas. Para os 44 pacientes cujos prontuários foram analisados encontrou-se 28 títulos diagnósticos de enfermagem diferentes. Desses, sete foram formulados para mais de 50% dos pacientes, sendo que três foram elaborados para todos os pacientes. A maioria dos diagnósticos de enfermagem identificados neste estudo também foi encontrada em outros trabalhos, confirmando que são comuns à prática clínica do enfermeiro em UTI. Somente três diagnós cos referiam-se as necessidade psicossociais e nenhum esteve relacionado à necessidade psicoespiritual. Esta realidade mostra a importância de que seja dada con nuidade a pesquisas relacionadas à iden ficação dos diagnós cos de enfermagem e as Necessidades Humanas Básicas que estão afetadas com maior freqüência nos pacientes internados em Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Sugere-se a realização de estudos que iden fiquem entre os diagnós cos de enfermagem formulados e as Necessidades Humanas Básicas afetadas quais foram solucionados, que necessidades predominam no atendimento e quais deixam de ser trabalhadas. Rev Esc Enferm USP 2012; 46(5):1102-1108 www.ee.usp.br/reeusp/

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Por sua vez, considera-se que os resultados deste estudo são importantes para a organização de conteúdos de ensino para alunos e enfermeiros preparando-os para que ao prestar o cuidado considerem toda a estrutura enquanto

ser humano, abrangendo não somente os aspectos biológicos, mas os valores culturais, históricos e sociais, somados aos aspectos emocionais e espirituais que permeiam o indivíduo enfermo e que se encontra hospitalizado.

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Diagnósticos de enfermagem identificados em pacientes Correspondência: Tânia Couto Machado internados de Terapia Intensiva Adulto Universidade Federalem deUnidade Minas Gerais - Escola de Enfermagem TCM,190 Lima–APS, Salgado PO Efigênia Av. AlfredoChianca Balena, Bairro Santa CEP 30130-100- Belo Horizonte, MG, Brasil