A DIDÁTICA E SUA CONTRIBUIÇÃO NO PROCESSO DE FORMAÇÃO DO

4 A Pedagogia Renovada ficou conhecida também como Escola Nova, que tinha como ideal educativo o “aprender a aprender” partindo do pressuposto de que ...

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A DIDÁTICA E SUA CONTRIBUIÇÃO NO PROCESSO DE FORMAÇÃO DO PROFESSOR Flávia Aparecida dos Santos Barbosa1 Fernando Jorge Correia de Freitas2

“O homem constrói sua especificidade e se constrói enquanto ser histórico à medida que transcende o mundo natural pelo trabalho”. Vitor Henrique Paro Resumo: Este trabalho pretende mostrar como a Didática reflete na formação do professor. Tem como objetivo principal analisar a importância da Didática para que o professor possa construir e reconstruir sua identidade profissional valorizando-se e valorizando o educando enquanto ser social. Também visa mostrar como é preciso que haja uma relação de intensa união entre a teoria e a prática, sendo que somente assim o ensino acontecerá de forma a garantir verdadeiro significado ao educando em paralelo à formação integral do educador. Para fundamentar este trabalho foram utilizados principalmente os conceitos de autores como Damis (1988, 2010), Libanêo (1990, 2001 e 2012), Freire (1996) e Veiga (1989, 2014).

Palavras-chave: Didática. Teoria e Prática. Construção de Identidade. INTRODUÇÃO A partir de uma perspectiva didática, ao longo da história da educação, é visível à percepção de que o processo de ensino-aprendizagemse compõe em práticas e teorias indissociáveis. Torna-se indiscutível o discurso sobre o rompimento da dualidade existente entre prática e teoria, a fim de estabelecer uma ressignificação de ambas, pois não podem ser fracionadas, enquanto parte do todo educacional. Para tanto, é preciso compreender o percurso histórico da Didática e suas implicações na formação do professor. O motivo do interesse em pesquisar-se sobre o tema surge á partir da dúvida quanto ao ensino da Didática é como ela contribui na construção da identidade profissional do educador em potencial. Diante dos fatos fica a pergunta, que infere uma reflexão critica:diante de tantas influências e em busca de uma ressignificação, como a Didática é vista e ensinada para futuros educadores, como garantia de valorização enquanto seres sociaisnuma sociedade globalizada?

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Acadêmica do VIII Período de Pedagogia da Faculdade de Pimenta Bueno (FAP). E-mail: [email protected]. 2 Mestre em Educação pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), atualmente professor da Faculdade de pimenta Bueno (FAP) ministrando aulas no curso de Pedagogia. E-mail: [email protected].

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Neste sentido, o objetivo principal do trabalho é analisar a importância da Didática para que o professor possa construir e reconstruir sua identidade profissional valorizando-se e valorizando o educando enquanto ser social. O artigo foi estruturado em seções, que se apresentam de forma a garantir o entendimento do tema proposto. Inicialmente será abordadaa trajetória da Didática em paralelo com a história da Educação. A seguir foca-se a Didática como disciplina, buscando refletir seu papel na formação do professor.Posteriormente, apresenta-se a necessidade de articular teoria é prática,sendo que a relação entre ambas deve acontecer de modo a valorizar a realidade social das partes envolvidas nos processos de ensino e aprendizado. E, por fim, a última seção trata da construção da identidade do professor, entendendo que esta acontece á partir do entendimento das ações práticas, das orientações teóricas e dos valores e atitudes decorrentes da interação com a realidade social. O artigo foi produzido através de pesquisa bibliográfica em obras publicadas sobre o assunto,como os trabalhos de Damis (1988, 2010), Libanêo (1990, 2001 e 2012), Freire (1996) e Veiga (1989, 2014), que justificam a importância da Didática na formação profissional do professor. Ao entender a Didática como disciplina de extrema relevância para a formação docente, espera-se quenão apenas se entenda o funcionamento doprocesso de ensino, mas também,em como agir para que o futuro profissional conquiste a realização pessoal e o sucesso em sua carreira.

1. DIDÁTICA COMO A ARTE DE ENSINAR, NUMA BREVE RETROSPECTIVA HISTÓRICA. Jan Amos Comenius (1592-1670), na obra Didática Magna (1651) relata as primeiras interpretações a respeito da didática como a “arte de ensinar”. Comenius (1651) reconhece o direito à educação e a importância da Didática em relação ao ensino e ao aprendizado na vida de todo ser humano. Levando em conta a diferença entre o ensinar e o aprender, diz: Nós ousamos prometer uma didática magna, ou seja, uma arte universal de ensinar tudo a todos: de ensinar de modo certo, para obter resultados, de ensinar de modo fácil, portanto sem que docentes e discentes se molestem ou enfadem, mas, ao contrario, tenham grande alegria; de ensinar de modo solido, não superficialmente, de qualquer manheira, mas para conduzir á verdadeira cultura, aos bons costumes, a uma piedade mais profunda (COMENIUS, 1651, p. 13). 2

A didática é defendida e estudada há séculos por diferentes teóricos, estudiosos e autores que buscavam identificar e discutir sobre as várias técnicas e modelos de metodologias educacionais existentes, que teriam como um único fim a melhoria da educação. Damis (1988, p. 13), relata a evolução da Didática em paralelo com a história da educação quando diz: Desde os jesuítas, passando por Comênio, Rousseau, Herbart, Dewey, Snyders, Paulo Freire, Saviani, dentre outros, a educação escolar percorreu um longo caminho do ponto de vista de sua teoria e prática. Vivenciada através de uma prática social específica – a pedagogia -, esta educação organizou o processo de ensinar-aprender através da relação professor aluno e sistematizou um conteúdo e uma forma de ensinar (transmitir-assimilar) o saber erudito produzido pela humanidade.

Encontramos na histórica da educação períodos em que se difundiram novas tendências educacionais que ficaram conhecidas como Teorias de Ensino; entre elas cabe ressaltar a Pedagogia Tradicional, a Pedagogia Renovada, a Pedagogia Tecnicista e a Pedagogia Crítica. Fazer um paralelo da Didática com estas teorias se faz necessário, uma vez que a sua historicidade ocorreu em conjunto com os acontecimentos de cada período em que a educação se desenvolveu. Segundo Damis (2010, p. 206): Historicamente, os conhecimentos produzidos sobre arte de ensinar caminharam da ênfase no ensino para a aprendizagem, da transmissão de conhecimentos pelo professor para a orientação de atividades para estimular o pensamento e a reflexão do estudante, da importância de planejar contingências de reforço, com o objetivo de alcançar formas especificas de comportamentos, para regular aprendizagens e desenvolver competências nos estudantes. Enfim, o entendimento produzido sobre o ato de ensinar caminhou, historicamente, no sentido de priorizar ora um ora outro elemento que constitui o ato de ensinar.

A Pedagogia Tradicional revela um período em que a educação era principalmente de cunho religioso, que tinha como objetivo o trabalho de transcender o homem para ser o melhor de si. Sua ênfase de ensino era de sobrepor a teoria à prática, o que colocava o professor como centro do ensino, “detentor do saber” e onde o foco era a exposição mecânica do conteúdo, considerado por vezes enciclopédico. Além do mais, os conteúdos eram separados das experiências do cotidiano dos alunos e não estavam de acordo com as realidades sociais. Para Veiga (1989, p. 44), nesta concepção “a Didática é compreendida como um conjunto de regras visando assegurar aos futuros professores as orientações necessárias ao trabalho docente”, que “separa teoria e prática, sendo a prática vista como aplicação da teoria, e o ensino como forma de doutrinação”. Esta concepção ainda influencia de maneira direta e/ou indireta a forma de ensinar de muitos docentes. 3

A Pedagogia Renovada ficou conhecida também como Escola Nova, que tinha como ideal educativo o “aprender a aprender” partindo do pressuposto de que o importante é a aquisição do saber o que muitas vezes desqualifica o saber em si. De acordo com Veiga (1989, p. 52), na Pedagogia Renovada a Didática era vista: [...] como um conjunto de idéias e métodos, privilegiando a dimensão técnica do processo de ensino, fundamentados nos pressupostos psicológicos ou pedagógicos e experimentais, cientificamente validados na experiência e constituídos em teoria, ignorando o contexto sócio-politico-econômico.

O conteúdo era flexível, aberto e espontâneo, partia-se do conhecimento vulgar para chegar ao conhecimento cientifico. O papel do professor era o de mero auxiliar se necessário fosse alguma intervenção, e esta era para ajudar o aluno a reencontrar seu raciocínio. Muitos educadores ainda sofrem forte influência desta tendência pedagógica, já que é difundida em larga escala em cursos de licenciatura. A esse respeito Veiga (1989, p. 51) menciona que “devido à predominância da influência da Pedagogia Nova na legislação educacional e nos cursos de formação para o magistério, o professor acabou por absorver o seu ideário”. A Pedagogia Tecnicista “se estrutura na teoria da aprendizagem behaviorista orientada por objetivos instrucionais pré-definidos e tecnicamente elaborados” (Veiga, 1989, p.58). A ela cabe o termo “aprender a fazer” uma vez que o produto final do ensino é mais importante do que o aluno e o professor. Como afirma Veiga (1989, p. 60-61): O enfoque do papel da Didática a partir dos pressupostos da Pedagogia Tecnicista procurou desenvolver uma alternativa não-psicológica, situando-se no âmbito geral da Tecnologia Educacional, tendo como preocupação básica a eficiência e a eficácia do processo de ensino. [..] o processo é que define o que professores e alunos devem fazer, quando e como farão. [..] Enfim, a Didática é concebida como estratégia para o alcance dos produtos previstos para o processo ensino-aprendizagem.

Portanto, a função da escola é de produzir indivíduos para o mercado do trabalho, e ao professor cabe a responsabilidade de transmitir as matérias, que segundo Candau (1982, p.27) é “um ritual vazio”, que emprega o sistema de instrução que lhe é previsto a fim de garantir também o adequado controle no comportamento diante do ensino. A Pedagogia Crítica valoriza a escola como parte de um contexto social num todo, que busca a transformação da sociedade através da democracia. Para Saviani (2012, p.10) ela “recupera a unidade da atividade educativa no interior da prática social articulando seus aspectos teóricos e práticos que se sistematizam napedagogia concebida ao mesmo tempo como teoria e prática da educação”. 4

Em Giroux (2005, p. 135), vamos encontrar o seguinte esclarecimento sobre a Pedagogia Crítica: Está no âmago da própria definição de pedagogia crítica a vontade coletiva de reformar as escolas e de desenvolver modos de prática pedagógica em que professores e alunos se tornem agentes críticos que questionem ativamente e negociem a relação entre teoria e prática, entre a análise crítica e o senso comum e entre a aprendizagem e a transformação social.

Os conteúdos ensinados aos alunos são indissociavelmente a realidade do meio social em que estes indivíduos estão inseridos, o que dá significado real, humano e social ao que é ensinado. Saviani (1983, p.83), destaca que a perspectiva da Pedagogia Critica “aponta na direção de uma sociedade em que esteja superado o problema de divisão do saber”. Na Pedagogia Crítica encontramos uma Didática preocupada com o trabalho docente, com a tarefa do ensino e com a aprendizagem do aluno. Em Veiga (1989, p.75), vamos encontrar o seguinte esclarecimentosobre a Didática Crítica: A Didática Crítica busca superar o intelectualismo formal do enfoque tradicional, evitar os efeitos do espontaneísmo escolanovista, combater a orientação desmobilizadora do tecnicismo e recuperar as tarefas especificamente pedagógicas, desprestigiadas a partir do discurso reprodutivista. A Didática comprometida procura compreender e analisar a realidade social onde está inserida a escola.

Em síntese, esta trajetória da Didática na busca pela ressignificação, se apresenta com características diversas,de acordo com os momentoshistóricos, políticos e sociais. Inspirada pelas mais diversas correntes, tendências e concepções pedagógicas, ainda é influenciada até os dias atuais, uma vez que a história humana não para de reescrever-se e o conhecimento renova-se a cada momento. 2. A DIDÁTICA COMO DISCIPLINA NA FORMAÇÃO DO PROFESSOR Considerada uma ciência que estuda os saberes necessários á prática docente a Didática é um dos principais instrumentos para a formação do professor, pois é nela que se baseiam para adquirir os ensinamentos necessários para a prática. De acordo com Libâneo (1990, p. 26) “a didática trata da teoria geral do ensino”. Como disciplina é entendida como um estudo sistematizado, intencional, de investigação e de prática (LIBÂNEO, 1990). Ainda, nesta mesma linha de pensamento, Pimenta et al (2013, p.146), diz que: A didática, como área da pedagogia, estuda o fenômeno ensino. As recentes modificações nos sistemas escolares e, especialmente, na área de formação de professores configuram uma “explosão didática”. Sua ressignificação aponta para um balanço do ensino como prática social, das pesquisas e das transformações que têm provocado na prática social de ensinar. 5

Masetto (1997, p. 13), infere que “a didática como reflexão é o estudo das teorias de ensino e aprendizagem aplicadas ao processo educativo que se realiza na escola, bem como dos resultados obtidos”. Portanto, estudar Didática no Ensino Superior, não significa acumular informações sobre as práticas e técnicas do processo de ensino-aprendizagem, mas sim acrescentar em cada sujeito a capacidade crítica em questionar e fazer reflexão sobre as informações adquiridas ao longo de todo processo de ensino-aprendizado. Veiga (2010, p. 58) diz que é preciso “tornar o ensino da Didática mais atraente e respaldado nos resultados das investigações envolvendo alunos em processo de formação”. Para Rios (2001, p. 55) “tratar o fenômeno do ensino como uma totalidade concreta, buscar suas determinações, pensá-lo em conexão com outras práticas sociais é o que se espera fazer, do ponto de vista de uma concepção crítica do trabalho da didática”. Por muito tempo ensinar era nada mais do que ter conteúdos para transmitir para os alunos, e estes eram considerados seres sem luz, incapazes de construir conhecimentos próprios. Diz Martins, “historicamente, é muito comum ouvir nos meios educacionais, sobretudo entre alunos, afirmações como: “aquele professor não tem didática...”; “ele tem conhecimento, mas não sabe comunicar”; “o professor conhece o assunto da sua matéria, mas não sabe transmitir”. E acrescenta adiante “a didática é usualmente vista como sinônimo de métodos e técnicas de ensino e, mais que isso, que a escola é tida como a instituição que transmite conhecimentos” (2006, p. 75-76). Contudo,o modo de atuar educacionalmente, requer adequações ao mundo atual e suas transformações ágeis que não permitem a estagnação, o que cobra do professor uma posição dinâmica frente ao processo educacional. Segundo Veiga (2004, p.13): Enfatizar o processo didático da perspectiva relacional significa analisar suas características a partir de quatros dimensões: ensinar, aprender, pesquisar e avaliar. O processo didático, assim, desenvolve-se mediante a ação reciproca e interdisciplinar das dimensões fundamentais. Integram-se, são complementares.

Pimenta et al (2013, p.150), também descreve a nova postura da didática diante da importância na formação profissional quando enfatiza que: [...] didática é, acima de tudo, a construção de conhecimentos que possibilitem a mediação entre o que é preciso ensinar e o que é necessário aprender; entre o saber estruturado nas disciplinas e o saber ensinável mediante as circunstâncias e os momentos; entre as atuais formas de relação com o saber e as novas formas possíveis de reconstruí-las. 6

A Didática integra diversas dimensões que buscam uma ligação entre os pares que correspondem ao chamado “triangulo didático”. Para Libâneo (2012, p. 1), “os elementos integrantes do triângulo didático – o conteúdo, o professor, o aluno, as condições de ensinoaprendizagem - articulam-se com aqueles socioculturais, linguísticos, éticos, estéticos, comunicacionais e midiáticos”. Veiga (1989, p. 22), sobre a importância da Didática no currículo do professor diz que “o papel fundamental da Didática no currículo de formação de professor é o de ser instrumento de uma prática pedagógica reflexiva e crítica, contribuindo para a formação da consciência crítica”. E, diante desta interação, percebe-se que a construção de novos conhecimentos acontece de forma paralela à relação professor-aluno, visto que este traz para o cotidiano escolar sua experiência do contexto social em que vive e, com a ajuda mediadora do professor que deve conhecê-lo enquanto ser social considerando seus conhecimentos prévios, e ajudando-o, assim, a transformar essas vivências em conhecimentos relevantes dotados de significados. 3. ARTICULAR TEORIA E PRÁTICA, UMA RELAÇÃO NECESSÁRIA. A formação do educador exige uma inter-relação entre a teoria e a prática, sendo que a teoria se ocupa da pesquisa unindo-se com os problemas reais que surgem na prática e, esta, por sua vez, se determina pela teoria. De acordo com Guimarães (2004, p. 31): O que deve mover a discussão dessa temática é o empenho na formação profissional, é a convicção de que a educação é processo imprescindível para que o homem sobreviva e se humanize e de que a escola é instituição ainda necessária neste processo, enfim, a relevância dessa temática está na compreensão da urgência, da complexidade e da utopia do projeto de escolarização obrigatória e da qualidade por uma sociedade efetivamente mais democrática.

Os educadores enquanto seres sociais que transformam a realidade quando realizam sua prática, precisam estar conscientes da base teórica, a fim de se orientar por ela ao mesmo tempo em que a teoria se alimenta da prática. Freire (1996, p. 43-44),aborda a importância da reflexão crítica, em que professor deve fazer da prática sobre a teoria e vice-versa. Por isso é que, na formação permanente dos professores, o momento fundamental é o da reflexão crítica sobre a prática, é pensando criticamente a prática de hoje ou de ontem que se pode melhorar a próxima pratica. O próprio discurso teórico, necessário á reflexão crítica, tem de ser de tal concreto que quase se confunda com a prática. 7

No mesmo ponto de vista Solé e Coll (1996, p. 87), também indagam a importância da teoria sobre a prática quando dizem: Necessitamos de teorias que nos sirvam de referencial para contextualizar e priorizar metas e finalidades; pra planejar a atuação; para analisar seu desenvolvimento e modifica-lo paulatinamente, em função daquilo que ocorre e para tomar decisões sobre a adequação de tudo.

Freire (1996, p. 24) afirma que, “a reflexão crítica sobre a prática se torna uma exigência da relação Teoria/Prática sem a qual a teoria pode ir virando blábláblá e a prática, ativismo”. E reforça a seguir que, “quando vivemos a autenticidade exigida pela prática de ensinaraprender participamos de uma experiência total, diretiva, ideológica, gnosiológica, pedagógica, estética e ética, em que a boniteza deve achar-se de mãos dadas com a decência e com a seriedade” (FREIRE, 1996, p. 26). Um dos campos específicos da Didática aplica-se à constante articulação entre teoria e prática com outras áreas do conhecimento para assim dar suporte ao professor no desenvolvimento de suas habilidades e competências diante da educação. Ao referir-se a tal assunto Libanêo (2012, p. 16) diz que: [...] a formação de professores precisa buscar uma unidade do processo formativo. A meu ver essa unidade implica em reconhecer que a formação inicial e continuada de professores precisa estabelecer relações teóricas e práticas mais sólidas entre a didática e a epistemologia das ciências, de modo a romper com a separação entre conhecimentos disciplinares e conhecimentos pedagógico-didáticos.

Nesta perspectiva percebe-se a importância da Didática visto que ela “se caracteriza como mediação entre as bases teórico-cientificas da educação escolar e a prática docente” (LIBÂNEO, 1990, p. 28). Perrenoud (2000, p. 14), aponta como procedimentos da atuação do professor 10 (dez) famílias de competências que influenciam a formação contínua do educador: Eis as 10 famílias: 1. Organizar e dirigir situações de aprendizagem. 2. Administrar a progressão das aprendizagens. 3. Conceber e fazer evoluir os dispositivos de diferenciação. 4. Envolver os alunos em suas aprendizagens e em seu trabalho. 5. Trabalhar em equipe. 6. Participar da administração da escola. 7. Informar e envolver os pais. 8. Utilizar novas tecnologias. 9. Enfrentar os deveres e os dilemas éticos da profissão. 10. Administrar sua própria formação contínua. 8

Contudo, muitos profissionais não vêm necessidade em se apropriar da teoria como base para suas ações, consideram a boa atuação como “vocação natural ou somente da experiência prática, descartando-se a teoria” (LIBÂNEO, 1990, p. 28). Entretanto, para Freire (1996, p. 51),uma verdadeira formação docente acontece somente através de um novo olhar sobre a curiosidade epistemológica, pois: Nenhuma formação docente verdadeira pode fazer-se alheada, de um lado, do exercício da criticidade que implica a promoção da curiosidade ingênua a curiosidade epistemológica, e de outro, sem o reconhecimento do valor das emoções, da sensibilidade, da afetividade, da intuição ou adivinhação.

E, acrescenta a seguir,que “o importante, não resta dúvida, é não pararmos satisfeitos ao nível das intuições, mas submetê-las a análise metodicamente rigorosa de nossa curiosidade epistemológica” (FREIRE, 1996, 51). De acordo com Giroux (1988), as instituições de ensino se omitem ao negar aos docentes seu verdadeiro papel, que é educá-los como intelectuais, pois ao ignorarem a criatividade e o discernimento do professor separa-se a teoria da prática. Do ponto de vista de Veiga (2010, p. 51) “a tarefa está em criar outras práticas, o desafio é construir de modo coletivo uma Didática que faça pensar sobre nossas práticas pedagógicas”. A autora também se utiliza da afirmação de que a prática pedagógica é também uma dimensão da prática social inserida num contexto social, e que nossa obrigação enquanto educadores é possibilitar condições para que ela se realize (VEIGA, 1989). Vemos assim que teoria e prática não se dissociam uma da outra, o que garante um pensamento crítico e uma ressignificação de atitude, já que para garantir satisfação na prática é preciso estar numa relação consciente e direta com a teoria e basear-se nela em ações educacionais futuras. 4. A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE PROFISSIONAL A construção da identidade profissional é um processo de ressignificação em que o sujeito situado se constrói historicamente. O professor em formação tem que estar ciente sobre sua reflexão enquanto educador e de sua atualização sobre o conteúdo aprendido; ele precisa estar em constante estado de aprendizagem para melhorar suas competências tanto como profissional, quanto na sua metodologia de ensino. Libâneo (2001, p. 36) se refere à ação docente quando diz que:

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É certo, assim, que a tarefa de ensinar a pensar requer dos professores o conhecimento de estratégias de ensino e o desenvolvimento de suas próprias competências do pensar. Se o professor não dispõe de habilidades de pensamento, se não sabe “aprender a aprender”, se é incapaz de organizar e regular suas próprias atividades de aprendizagem, será impossível ajudar os alunos a potencializarem suas capacidades cognitivas.

Para o autor, a formação docente é um processo pedagógico, que deve acontecer de forma a levar o professor a agir de maneira competente no processo de ensino (LIBÂNEO, 2001). Maia, Scheibel e Urban (2009, p. 18), discorrem sobre os fatores que possibilitam a identidade do professor:    

significação social da profissão; revisão constante dos significados sociais da profissão; revisão das tradições; reafirmação de práticas consagradas culturalmente e que permanecem significativas (resistentes a inovações);  significação conferida pelo professor à atividade docente no seu cotidiano (a visão de mundo do professor);  rede de relações com outros professores, em escolas, sindicatos e outros agrupamentos.

Gadotti (2007, p. 65), diz que “o poder do professor está tanto na sua capacidade de refletir criticamente sobre a realidade para transformá-la, quanto na possibilidade de construir um coletivo para lutar por uma causa comum”. Imbernón (2002, p. 27) afirma que “[...] ser um profissional da educação significa participar da emancipação das pessoas. O objetivo da educação é ajudar a tornar as pessoas mais livres, menos dependentes do poder econômico, politico e social. E a profissão de ensinar tem essa obrigação intrínseca”. Os professores precisam repensar o modo pelo qual agem diante da sociedade e qual sua contribuição, uma vez que identidade não é inerente ao ser humano, e sim, uma posição que se constrói quer seja com certezas e/ou incertezas estabelecidas nas relações com a realidade social. Freire (1996, p. 25) enfatiza a respeito da formação que “quem forma se forma e reforma ao formar e quem é formado forma-se e forma ao ser formado”. De acordo com Tardif (2007, p. 23): [...] um professor de profissão não é somente alguém que aplica conhecimentos produzidos por outros, não é somente um agente determinado por mecanismos sociais: é um ator no sentido forte do termo, isto é, um sujeito que assume sua pratica a partir dos significados que ele mesmo lhe dá, um sujeito que possui conhecimentos e um saber-fazer provenientes de sua própria atividade e a partir dos quais ele estrutura e a orienta. 10

No que concerne à identidade profissional do professor pode-se dizer que o mesmo tem que ser mais do que um coadjuvante no ensino, que cativa e tem a atenção do aluno; mais do que isso, tem que promover situações em que os alunos sejam capazes de construir-se e reconstruir-se a partir de uma educação epistemologicamente cientifica, que garante ao aluno um ensino produtivo e significativo cognitivamente, estabelecendo intrínseca relação com a solidariedade, a democracia e o desenvolvimento humano enquanto ser social e histórico. Vale dizer que sendo sujeito de sua própria prática, o professor constrói sua história a partir de seus valores e atitudes de seu dia a dia como cidadão, fundamentando assim sua identidade. CONSIDERAÇÕES FINAIS A Didática como disciplina, deve desenvolver a capacidade a crítica dos professores em formação, para que possam analisar de forma clara e objetiva a realidade do ensino de modo a possibilitar que o educando construa seu próprio saber. Entender que a Educação é um processo que faz parte do conteúdo global da sociedade significa entender que a prática pedagógica é parte integrante do todo social. Vale ressaltar que as bases teóricas que influenciam a prática estão intrinsicamente ligadas à formação da identidade profissional do professor, visto que, para uma formação completa, é preciso uma visão holística da práxis pedagógica. Necessidade indiscutível é a presença do professor na sociedade e, esta presença, se faz pelo trabalho e comprometimento em tratar a educação e os valores advindos da sociedade na qual este profissional se insere. Percebe-se então, a necessidade da constância em buscar uma Didática que valorize os envolvidos e transforme os processos educacionais com propósito de integração. Sabendo que o fazer pedagógico do professor não se restringe a um fazer exclusivamente acadêmico, e que é preciso analisar criticamente o projeto econômico, politico e social para atuar satisfatoriamente no contexto atual, que é desafiador diante das mudanças dinâmicas que acontecem dia após dia. Reconhece-se a Didática como instrumento que garante a grandiosidade no atendimento educacional. REFERÊNCIAS DAMIS. O. T. Arquitetura da aula: um espaço de relações. In: DALBEN. S. I. L. F. et al. (org.). Convergências e tensões no campo da formação e do trabalho. Belo Horizonte: Autêntica, 2010. 818p. 11

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