Arquivo Público do Estado de São Paulo

MOREL, Edmar. A Revolta da Chibata. 4ª Edição. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1986. MAESTRI Filho, Mário. 1910, a Revolta dos Marinheiros: Uma Saga Ne...

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Arquivo Público do Estado de São Paulo Ação Educativa Oficina “Os Usos dos Documentos na Sala de Aula”

Universidade de São Paulo Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas Departamento de História

Seqüência Didática “A Revolta da Chibata”

Texto e Atividades de: Bianca Reis

São Paulo, maio de 2013.

Tema

O tema desta seqüência didática será a “Revolta da Chibata”, movimento de insurreição dos marujos negros da Marinha brasileira em 1910, contra as más condições de trabalho nos navios da Armada, semelhantes às longas jornadas sem direitos trabalhistas dos operários das primeiras Revoluções Industriais, época que mais tarde ficou conhecida como “Capitalismo Selvagem”; e os castigos físicos, denunciados pelas próprias vítimas como típicos de uma “fazenda de escravos”. O movimento se situa no contexto político e social do início do século XX e transição da chamada “República da Espada” para a “República Velha” ou “do Café-com-Leite”, época de outras grandes revoltas, como o Contestado, o arraial de Canudos, a da Vacina, etc., e o Rio de Janeiro era a Capital Federal, uma cidade com um grande porto generosamente aberto ao mar e vulnerável à mira dos couraçados em rebeldia, e surpreendida pelo repentino sucesso da insurreição disciplinada dos negros.

Justificativa

A Revolta é um tópico que merece atenção dentro do Componente Curricular da “República Velha”, pois torna visíveis alguns aspectos da ordem imperial (e provavelmente colonial) do liberalismo à ibérica, da civilização, da Nação construída com “cada um em seu devido lugar”. Estatutos jurídicos diferentes para a ordem política do país não mudavam o rumo da questão do racismo, e sua violência legalizada pela “Companhia Correcional” sancionada pelo Congresso, e que recebia foros de ciência pela Eugenia, ambiente de discussão de idéias povoado tanto pelos autores que, junto das opiniões públicas urbanas, se horrorizaram com a repressão da revolta, quanto pelos políticos, oficiais e outros participantes da repressão e vingança contra o movimento. Após tantos anos do desfecho da Revolta e das mortes de seus líderes, ainda persiste o problema da discriminação racial no nosso país, onde a “raça/cor” é um dado importante na documentação dos alunos, inclusive com fins econômicos e de obtenção de bolsas de estudo ou benefícios de programas sociais, onde propaga-se a imagem colorida e pacífica

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da “democracia racial”, mas o problema da discriminação racial é de uma necessidade de discussão ampla e imparcial e solução efetiva, tanto na contemporaneidade quanto no início do século XX, quando os soldados negros da Marinha Brasileira tiveram que ameaçar a Capital da Federação de bombardeio para que suas reivindicações e necessidades fossem ouvidas. E a aula de História pode ser um bom espaço de discussão, para os alunos que vivenciam estes problemas e podem trazer o diálogo para outros espaços onde vivenciam o saber histórico, como a vizinhança, a família, as redes sociais da Internet, etc.

Objetivos •

Desenvolvimento das “competências leitoras” propostas pelos Parâmetros Curriculares Nacionais;



Difusão do serviço público dos arquivos, como locais de patrimônio histórico e cultural nacional, de acesso público e gratuito;



Difusão dos documentos históricos como material variado de trabalho na sala de aula;



Desenvolvimento do gosto pela História entre os estudantes, pela demonstração de seu lado lúdico e de estudo de conflitos sociais de grupos variados.



Desenvolvimento de propostas de estudo transdisciplinares, flexíveis conforme a abordagem do professor, a dinâmica e a proposta pedagógica da escola e os Parâmetros Curriculares conforme cobrados pelas autoridades.



Discussão, conscientização e crítica dos alunos sobre o lugar social e a opinião sobre a criminalidade, em épocas diferentes.

Componente Curricular: República Velha/ República da Espada/ Primeira República/ Revoltas da Primeira República Ano/ Série: 8ª Série/ 9º Ano do Ensino Fundamental ou 3º Ano do Ensino Médio. Tempo previsto: aproximadamente 6 aulas.

Seqüências Didáticas Anteriores possíveis: Belle Époque, Conferência de Berlim, “Tutelas” dos Imperialismos do XIX e XX na África, Revolta Messiânica do Contestado,

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Arraial de Canudos, “Abolição da Escravatura”, Ciclos Econômicos do Café e da Borracha, Imigração, Revolta da Vacina, Urbanizações e Sistemas Fabris, etc.

Aulas 1 e 2: Contexto da Revolta •

Conteúdos de sequências didáticas anteriores como as sugeridas, aulas expositivas, cadernos de proposta curricular (estadual ou municipal), livros didáticos, pesquisas propostas para os alunos, etc., aproveitados pelo professor conforme a dinâmica da classe e da proposta pedagógica da escola.



Discussão sobre as más condições de trabalho no serviço militar imperial e nacional (recrutamento forçado desde o XIX, alimentação de má qualidade, soldos baixos ou atrasados, castigos físicos regulamentados por leis, como a “Companhia Correcional” ou colocados a cargo do “bom senso” dos oficiais”)



A Modernização da frota da marinha



Problemas financeiros do novo Estado republicano e a intervenção da Argentina (problemas de geopolítica e relações exteriores, transdisciplinaridade com Geografia).



Recrutamento de ex-escravos ou mestiços “sem profissão formal”, criminosos, e outras pessoas indesejáveis, por “sorteio”.

Uma parte da exposição do contexto será feita pelo professor, as outras, para promover a participação do aluno nas aulas, são apresentadas, escritas ou debatidas por eles. Todos participam da explicação do contexto, na medida do possível.

Aula 3: Reivindicações e Direitos Etimologias e Significados dos termos de embate entre os marinheiros e as autoridades, acompanhadas de debate e discussão:

a.nis.ti.a sf. Perdão de crime político. chi.ba.ta sf. 1. Vara delgada para fustigar. 2. Bras. V. chicote.

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Ultimato da Guarnição rebelada à Presidência da República: Para facilitar a visualização e análise, propomos uso de cópia em página inteira (como fez Edmar Morel ao disponibilizar o fac-símile) ou em datashow.

Questões possíveis para análise: •

Qual é o tipo/ gênero textual deste documento?



Quem é o autor?



Quais são as abreviaturas que aparecem no texto? Você sabe qual é o uso e o significado delas?



Estas abreviaturas são usadas atualmente?



Quais são as palavras relacionadas à política que aparecem no texto?



Quais os pedidos que os marinheiros fazem ao Presidente?



Estes pedidos são questões (reivindicações) políticas? Por que?

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Você acredita que atualmente existem possibilidades de discussão política direta com as autoridades, como esta que os marujos fizeram?



Você conhece outros grupos que fazem representação política, no seu bairro, ou na sua cidade? Quais são?

Discussão ou aula expositiva, possivelmente junto com a análise da carta: Muitos entre os marinheiros anônimos que participaram da não tiveram acesso à educação básica. A marujada utilizou-se da violência para conseguir atenção para uma reivindicação política – a abolição dos castigos físicos como garantia das proteções que a lei Constitucional concedia a todos os cidadãos, mesmo às “praças de pré”, que não tinham direitos políticos. Após a análise da carta-ultimato, é importante frisar para os alunos a linguagem muito patriótica e quase jurídica, em que ela foi escrita, para depois compará-la com a Illustração Brazileira, como dois pontos de vista possíveis sobre o caráter de conflito por direitos e cidadania – de conflito político – que a Revolta teve. Com o conteúdo da próxima aula, mais a análise da carta e a Exposição Virtual do APESP, propomos aos alunos a montagem de exposições em forma de cartazes, peças de teatro, vídeos, maquetes, mapas da baía fluminense onde ocorreu o conflito; ou qualquer outra forma adequada à criatividade dos estudantes, ou possível de ser usada em cooperação transdisciplinar com as aulas de Língua Portuguesa, Arte ou Geografia, para tornar a escola, ao menos por um período curto, o próprio museu da comunidade escolar.

Aulas 4 e 5: Análise de Capas ou Matérias de Revistas

Localização de informações:

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Nome do Veículo (Revista)



Ano



Periodização (Semanal? Mensal? Diária? Quinzenal? Etc.)



Local de Publicação e Circulação



Patrocínio/ Grupo (s) produtor (es)



Repórteres/ Colunistas/ Fotógrafos / Outros colaboradores



Preço e Fontes de Renda

Para esta atividade, usaremos revistas contemporâneas (a Veja, outubro de 2002, contexto de ataques do crime organizado no Rio de Janeiro) e como oportunidades de experimento e análise do documento histórico, outra revista, contemporânea da revolta (A Illustração Brazileira, 1º de dezembro de 1910). É recomendável usar cópias em página inteira ou em “datashow” para facilitar a leitura e a análise. A revista “contemporânea” está aqui como exemplo, para análise de várias revistas, em série ou separadamente, para trabalho individual ou em grupo na sala de aula, propomos que sejam usadas outras disponíveis na biblioteca ou em outros fundos possíveis.

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Esta atividade de análise de jornais e desenvolvimento das “competências leitoras” dos alunos também pode ser mais aproveitada, junto com atividades transdisciplinares

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desenvolvidas com os professores de Língua Portuguesa, para desenvolvimento e interpretação de gêneros textuais variados, como os jornalísticos, ou análise de imagens. Terminada a análise dos documentos de época, após tentar resolver com os alunos algumas dúvidas sobre o contexto, sobre a narrativa da revolta, ou outras que possam surgir durante a aula, o professor aponta para as continuidades e rupturas das idéias sobre crime nas revistas contemporâneas da Revolta e as do século XXI. Em 1910, tratava-se da ação violenta de luta política dos marujos negros, pois os locais oficializados de ação política eram-lhes proibidos. Por isso, a Revolta, movimento de luta organizada de uma corporação profissional por direitos de trabalho digno, aparece como crime irracional e desorganizado; em comparação com as notícias contemporâneas da revista usada como exemplo nesta seqüência, que mostra criminosos organizados, com infiltração na máquina do Estado por corrupção, além de códigos disciplinados e feições empresariais para o uso da violência, que praticam atividades que proporcionam o acesso aos produtos do consumo moderno.

Aula 6: O Encouraçado Potemkin

Algumas fontes sobre a Revolta, como os livros de Maestri Filho e Edmar Morel, citam as notícias e rumores da revolta do encouraçado russo Potemkin, como inspiração para os marujos brasileiros que trabalharam nos estaleiros ingleses de Newcastle no aprendizado da operação e manutenção dos novos “vasos de guerra”. O vídeo proporciona aos alunos, enquanto trabalham e planejam a exposição que servirá de encerramento da sequência didática, uma referência visual, semelhante a uma possível reconstituição de uma revolta contemporânea e relativamente similar à Chibata, relatada numa mídia cinematográfica, por um contemporâneo e conterrâneo dos marinheiros: o cineasta Sergei Eiseinstein. Então utilizaremos este vídeo do YouTube, de três minutos de duração, com alguns comentários sobre o filme, além dos subsídios das aulas anteriores para propor aos alunos que elaborem redações, para trabalhar a comparação dos dois levantes. Tanto esta aula quanto os debates, análises ou discussões de documentos, ou a possível exposição, podem ser contadas, a critério do professor que utilizar esta seqüência, como avaliações.

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http://www.youtube.com/watch?v=4_UbYdMMsCg

Cartaz de divulgação do filme em versão remasterizada.

Esta última atividade também pode ser um “gancho” para seqüências didáticas posteriores possíveis, como Revolução Russa, I Guerra Mundial,Belle Époque, Greves de 1914 e 1917 em São Paulo, O Cangaço, entre outras.

Fontes

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Minidicionário Aurélio da Língua Portuguesa. 4ª Edição; Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2002.

MOREL, Edmar. A Revolta da Chibata. 4ª Edição. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1986.

MAESTRI Filho, Mário. 1910, a Revolta dos Marinheiros: Uma Saga Negra. Série História Popular, Volume 6. 1ª Edição, São Paulo: Global, 1982.

Acervo da Hemeroteca do Arquivo Público do Estado de São Paulo. Revista A Illustração Brazileira, nº 37. Rio de Janeiro, 1º de dezembro de 1910.

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Acervo Digital do Arquivo Público do Estado de São Paulo. Exposição digital sobre a Revolta

da

Chibata.

Disponível

em:

http://www.arquivoestado.sp.gov.br/exposicao_chibata/index.php. Acesso em 28/04/2013.

Revista Veja, nº 1769, São Paulo: Abril, 18 de setembro de 2002.

EISEINSTEIN, Sergei. O Encouraçado Potemkin. Drama, 74 min. União Soviética, 1925.

ROCHA, Helenice A.B. Problematizando a Organização do Ensino de História. in. I Seminário de Pesquisa e Prática Educativa: os desafios da Pesquisa no Ensino de História. Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, 2009.

KNAUSS, Paulo. Documentos Históricos na Sala de Aula. in. Primeiros Escritos, nº 1 – julho-agosto de 1994.

ZABALA, Antoni. Os Enfoques Didáticos. In. O Construtivismo em Sala de Aula. 4ª Edição, São Paulo: Ática, 2002.

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