EDUCAÇÃO AMBIENTAL: CONSTRUINDO METODOLOGIAS E PRÁTICAS

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EDUCAÇÃO AMBIENTAL: CONSTRUINDO METODOLOGIAS E PRÁTICAS PARTICIPATIVAS Ana Maria Dantas Soares1, Lia Maria Teixeira de Oliveira2, Edilene Santos Portilho3, Lilian Couto Cordeiro4, Deise Keller Cavalcante5. RESUMO O debate sobre a questão ambiental, na atualidade vem ocupando agendas de governantes, intelectuais e da sociedade civil, inserida ou não em movimentos sociais ou organizações não-governamentais, no empenho da resolução da crise sócioambiental gerada pelos próprios desmandos em relação à natureza e pelo emprego indiscriminado da técnica em nome do desenvolvimento econômico. Diante de um emaranhado de idéias e de valores disseminados a partir de um olhar marcadamente antropocêntrico o homem atual minimiza o valor à natureza e a "entende" erroneamente na lógica mercantilista-exploradora. A Educação Ambiental (EA) nasce da sensibilidade de aliar conhecimento científico, tecnológico, artístico e cultural com uma nova consciência de valores de respeito aos seres humanos e aos recursos naturais, com perspectivas de ajudar a formar uma mentalidade impulsionadora da construção de um novo paradigma emancipador. Este trabalho busca refletir sobre as metodologias e práticas implementadas no município de Paracambi-RJ, numa parceria entre o Instituto de Educação da UFRRJ e as Secretarias Municipais de Educação e Esportes e de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Paracambi-RJ, e a partir de uma análise sobre a efetividade de seu alcance. Palavras-chave: Educação Ambiental. Desenvolvimento Sustentável. Formação Continuada.

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Docente do DTPE/IE/UFRRJ. Mestre em Educação pela UFF. PhD em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade pelo CPDA/ICHS/UFRRJ. Pesquisadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Política Educacional - NEPPE/IE/UFRRJ, nas áreas de Políticas Públicas para a Educação, Educação Agrícola e Educação Ambiental e Coordenadora do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Ambiental e Desenvolvimento Sustentável - GEPEADS/IE/UFRRJ. E-mail: [email protected]. 2 Docente do DTPE/IE/UFRRJ. Mestre e Doutoranda em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade pelo CPDA/ICHS/UFRRJ. Pesquisadora do NEPPE/IE/UFRRJ, nas áreas de Formação de Professores e Educação Agrícola. Membro do GEPEADS/IE/UFRRJ. E-mail: [email protected]. 3 Discente do Curso de Licenciatura em Ciências Agrícolas. Bolsista de Iniciação Científica do DTPE/IE/UFRRJ. Membro do GEPEADS/IE/UFRRJ. Email: [email protected]. 4 Discente do Curso de Licenciatura em Ciências Agrícolas. Monitora da disciplina Estrutura e Funcionamento do Ensino, do DTPE/IE/UFRRJ. Membro do GEPEADS/IE/UFRRJ. Assessora Executiva da Prefeitura Municipal de Paracambi/RJ. E-mail: [email protected]. 4 Licenciada em Ciências Agrícolas. Especialista em Ciências Ambientais. Diretora de Gestão Ambiental, da Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável do município de Paracambi/RJ. Membro do GEPEADS/IE/UFRRJ. E-mail: [email protected].

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ABSTRACT The environmental question debate is in governments, intellectuals and civil society agenda, inserted or not in social movements. Everyone be engaged in the environmental-social crisis resolution, produced by the own excess conected to the nature and by the thecnics indiscriminate employ in the name of the economic development. In front of a puzzle ideas and values, disseminated from an anthropocentric view, the actual man decrease the value to the nature and understand the same nature in the mercantilist-explorer logic. The Environmental Education bores from a sensibility scientific, technologic, artistic and cultural knows, with a new conscience of the respect values to the human being and to the naturals resource, in a perspective formative to impel a mentality of new paradigms construction. This works wants to reflect about the methodologies and practices implemented in Paracambi-RJ city in a partner with the Instituto de Educação, Secretaria Municipal de Educação and Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, by the analyze about the alcance of the activities. Key Words: Environmental Education. Defensible Development. Continued Formation.

INTRODUZINDO A TEMÁTICA “Quem me dera ao menos uma vez que o mais simples fosse visto como o mais importante (...) acreditar que o mundo é perfeito e que todas as pessoas são felizes”. (Renato Russo)

Nas últimas décadas do século XX e nesse início de século o debate sobre a questão ambiental ganhou uma extraordinária dimensão, principalmente no âmbito das políticas públicas, uma vez que a grande maioria dos governantes sentiu-se pressionada a desenvolver propostas e ações adequadas aos apelos sociais e da natureza, frente aos inúmeros problemas criados pelos próprios desmandos do modelo acelerado de desenvolvimento econômico, fruto de uma inserção passiva e tardia no capitalismo e suas formas de produção tecnicista. De acordo com Leff (2003, p. 15-16): “A crise ecológica é a crise do nosso tempo. O risco ecológico questiona o conhecimento do mundo. Esta crise se apresenta a nós como um limite no real que re-significa e re-orienta o curso da história: limite do crescimento econômico e populacional; limite dos desequilíbrios ecológicos e das capacidades de sustentação da vida; limite da pobreza e da desigualdade social. Mas também crise do pensamento ocidental: da “determinação metafísica” que, ao pensar o ser como ente, abriu a via da racionalidade científica e instrumental que produziu a modernidade como uma ordem coisificada e fragmentada, como formas de domínio e controle sobre o mundo”.

Boaventura Santos (1996, p. 91), ao analisar o projeto da modernidade, referindo-se ao período que se inicia no final dos anos sessenta e se estende até os anos

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noventa, e que ele denomina de período do capitalismo desorganizado, traz a contribuição de Karl-Otto Apel para realçar os dilemas da modernidade, que nos confinou numa ética individualista que nos afasta da responsabilidade pelos acontecimentos globais, como a catástrofe nuclear ou ecológica, em que todos, mas ninguém em particular, parece poder ser responsabilizado. O paradigma hegemônico que dicotomiza, separa e individualiza, reforça essa alienação dos seres diante de suas próprias responsabilidades para com a sociedade e aos outros indivíduos. Por outro lado, a atualidade, pautada em processos sociais democráticos, nos traz como desafio a emergência de um novo paradigma de sociedade e cultura em contraposição ao esquema newtoniano de lógica mecanicista, o que implica numa mudança radical de mentalidade, que vai ocasionar modificações profundas nas relações sociais e nas formas de organização, requerendo novas respostas à questões dos diferentes campos: político, social, econômico, ecológico, cultural e, sobremaneira, no campo educativo, espaço político-pedagógico em que se trabalha

mentalidades e

posturas. As mudanças que se fazem necessárias não apenas dizem respeito às respostas a antigas indagações, como, e principalmente, àquelas que passam a centralizar as preocupações contemporâneas de caráter científico motivadas pelo avanço tecnológico, pela intensidade de novas demandas do conhecimento, pelas demandas da transnacionalização e pelas revoluções no campo da informação, das telecomunicações, da biotecnologia. Para Leff (op. cit, p.16), a crise ambiental é, sobretudo, um problema de conhecimento, em meio à complexidade do mundo e do próprio ser, o que implica na necessidade de desconstruir e reconstruir o pensamento, buscando entender as origens, compreender as causas e desvendar as certezas embasadas em falsos fundamentos. Isso se faz fundamental, sobretudo quando se constata que o pensamento, na atualidade, encontra-se submetido/adaptado à lógica do instrumento, em função da influência das técnicas sobre o comportamento humano, afetando as maneiras de pensar, que vão se direcionar muito mais para aquilo que é considerado útil, material, forjando a prevalência de um único sistema técnico, base material da globalização. (Santos, 1999). Diversos documentos e agendas têm sido elaborados, refletindo as preocupações com essas questões candentes, mas continua a existir um enorme distanciamento entre o plano das intenções e a efetivação das ações necessárias e urgentes de serem

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implementadas. Desde a Conferência de Estocolmo6, em 1972, destacando-se Tbilisi7, em 1977, passando pelo Relatório Bruntland8, em 1987, pela Rio 929 e chegando à Lei 9.795/99, que institui a Política Ambiental e normatiza a Educação Ambiental em nosso país, temos constatado um descompasso entre o proclamado e o realizado no cotidiano das práticas políticas, em seus diferentes níveis e locais de ação. No que concerne ao avanço democrático de discussões sobre o meio ambiente e à questão da sustentabilidade, gestado nos movimentos de base, perspectivados a partir de múltiplos olhares e saberes do campo social, observa-se que as últimas décadas estes discursos trazem um forte contorno sócio-educacional. O ser humano, na sua relação autoritária com o ambiente, tem compreendido tal relação numa dimensão antropocêntrica10, de configuração economicista. Os desníveis sócio-educacionais, o preconceito étnico-cultural, a fragmentada e submissa cultura brasileira, a tênue participação política nos projetos de desenvolvimento, a orientação estatal para o progresso técnico a “qualquer custo”, entre tantas outras mazelas originárias dos modelos econômicos do passado e em curso e da nossa formação social, deixa-nos apreensivos quanto às escolhas de caminhos que devemos trilhar para efetivamente pensar e agir sobre o meio ambiente de forma sustentável. De acordo com Leis (1999, pp. 53-55) as concepções tradicionais sobre o ambientalismo têm implícito essa dimensão antropocêntrica e destaca o enfoque histórico vital que ele deve ter, 6

Desta Conferência resultou a Declaração sobre o Ambiente Humano, que reconhece o desenvolvimento da Educação Ambiental como o elemento crítico para o combate à crise ambiental no mundo, além de recomendar o treinamento de professores e o desenvolvimento de novos recursos e métodos. 7 Em 1977, em Tbilisi, na Georgia (ex-URSS), foi realizada a Primeira Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental, que vai precisar a natureza da EA, definindo-lhe objetivos, características, recomendações e estratégias, bem como reforça a necessidade urgente de investigação de novos métodos e materiais educativos. Pode-se perceber o destaque que é dado ao enfoque interdisciplinar orientado para a resolução de problemas concretos do meio ambiente. 8 O Relatório Bruntland, é um documento da ONU, também chamado “Nosso Futuro Comum”, resultado de uma pesquisa produzida entre 1983 e 1987, sobre o estágio ecológico da Terra e no qual projetou-se o ideal de “desenvolvimento sustentável” - considerado como aquele que satisfaz as necessidades das atuais gerações sem comprometer a das futuras, atendendo ao equilíbrio social e ecológico e prioritariamente às necessidades dos mais pobres. 9 Também conhecida como Eco-92, a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Humano, produziu um plano de ação denominado Agenda 21, assinada por 179 países, que se constitui num roteiro detalhado com vistas ao alcance de uma educação orientada para a sustentabilidade. A Agenda considera a educação Ambiental como indispensável para a modificação de atitudes, o que exige que ela seja desenvolvida em todos os níveis escolares, devendo-se rever programas e metodologias. O Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global, oriundo também da Eco 92, reforça a Educação Ambiental dentro de uma perspectiva interdisciplinar e voltada para o desenvolvimento de uma consciência ética e crítica. 10 Leonardo Boff (2004), enfatiza que “a ética da sociedade dominante hoje é utilitarista e antropocêntrica. Considera o conjunto dos seres a serviço do ser humano que pode dispor deles a seu bel-prazer, atendendo a seus desejos e preferências. Acredita que o ser humano, homem e mulher, é a coroa do processo evolutivo e o centro do universo”.

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permitindo dar relevância à multiplicidade de suas expressões e suas interações, concebendo o conflito e a cooperação atravessando e redefinindo o comportamento dos diversos setores e atores sociais em termos de suas orientações favoráveis ou contrárias a uma relação equilibrada entre a sociedade e a natureza. A sociedade da chamada pós-modernidade nos remete à reflexão sobre as formações/modelos rígidos e ortodoxos, tanto os positivistas quanto os marxistas, os quais não nos permitiram a percepção de que somos seres constitutivos do meio social e natural. Até hoje é presente a idéia de que somos sujeitos cognoscentes em oposição ou acima dos objetos cognoscíveis, a exploração de conhecimentos e técnicas que ajudaram a nos revelar o que podíamos extrair da natureza. Aos poucos percebemos que a natureza não é uma Mãe Natureza que está sempre pronta a nos perdoar dos erros cometidos contra ela. O paradigma da ciência moderna, que separa em partes os fenômenos naturais/sociais sob a perspectiva da parcialização do conhecimento, tem refletido na educação uma epistemologia também parcializada. O ser humano tem sido educado para reproduzir práticas sociais que compreendem que o ambiente natural/social é dissociado de relações e interdependências. Estudos e debates têm sido produzidos na última década e nesse início de século considerando que o pensamento do homem, formatado dentro de uma concepção cartesiana de mundo, é que fragmenta/parcializa a sua compreensão da realidade natural/social. Nesse sentido, o conhecimento resultante do processo educativo tem se transformado em coisas, objetos, mercadorias, técnicas descontextualizadas do humano/ambiente. De acordo com Santos (2000, p. 171-72): "Vivemos em um mundo complexo, marcado na ordem material pela multiplicação incessante do número de objetos e na ordem imaterial pela infinidade de relações que os objetos nos unem. (...) Nosso mundo é complexo e confuso ao mesmo tempo, graças à força com a qual a ideologia penetra objetos e ações. (...) Na era da ecologia triunfante é o homem quem fabrica a natureza ou lhe atribui valor e sentido, em curso ou meramente imaginários". Frente a este emaranhado de idéias e de valores, o homem atual minimiza o valor à natureza, se relacionando pela lógica mercantilista-exploradora. Deste contexto confuso nasce, por outro lado, uma ótica mais sensível de verdadeiro sentimento à natureza que desperta para problemas do presente, agravos futuros e conscientiza para atitudes necessárias que estão diretamente ligadas à sua reintegração com o ambiente.

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Face essas constatações, a Escola, como uma das principais agências formadoras do ser humano, vê-se questionada e desafiada pelas pressões que o mundo contemporâneo vivencia. Um dilema tem se apresentado à instituição escolar: continuar apegada a velhos conceitos, orientando currículos/conteúdos e práticas para atender a uma estrutura fechada, normativa e continuamente identificada como impositiva e restritiva, centrada num modelo disciplinar hierarquizado, ou, de outro modo, repensarse,

reavaliar-se

e

reorientar-se

por

processos

autoorganizativos,

realmente

contextualizados histórica e culturalmente, numa perspectiva interdisciplinar. Nesta segunda opção é fundamental entender que o conhecimento é produzido a partir do próprio sujeito e da sua inserção no universo/sociedade, observado na multiplicidade de facetas que o constituem como humano. A partir desse entendimento, se focaliza a importância da intensa e extensa rede de relações que se interconectam, numa interdependência entre todos os processos sociais e naturais que configuram a própria humanidade e que traçam a teia de comunicações entre os diferentes sujeitos nos quais essa humanidade se faz presente. No seio dessa complexidade e para entendê-la e nela sobreviver entendemos que é fundamental perceber a realidade atual sob uma ótica humanizadora, constituindo-a inclusive como valor a atingir, pois, segundo Bosi (1992, p. 365) essa marca teleológica nos ensina a apreciar nos meios técnicos precisamente o que são: instrumentos, objetos úteis, produtos da inteligência prática, e não um fim em si mesmos. Com a preocupação voltada para a complexidade que esse entendimento traduz, o Departamento de Teoria e Planejamento de Ensino, do Instituto de Educação DTPE/IE, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro construiu, em 2001, um Programa em parceria com a Prefeitura Municipal de Paracambi-RJ, com o objetivo de desenvolver, acompanhar e analisar ações voltadas para o Desenvolvimento Sustentável, tendo como eixo articulador a Educação Ambiental. Observe-se que a ação do DTPE/IE se deu, principalmente, em função daquele município ter colocado como política central para a sua gestão a qualidade de vida, direcionando as ações de suas diferentes Secretarias para o alcance desse objetivo, tendo como destaque o desenvolvimento sustentável, com base na agroecologia. O Programa foi iniciado em 2002, centrado na Secretaria de Agricultura, numa perspectiva interdisciplinar, congregando várias áreas de conhecimento e com a parceria da PESAGRO-RIO e EMBRAPA- Solos., e com financiamento da Petrobrás, que viabilizou 08 bolsistas de apoio técnico. Desde o início utilizou-se a metodologia da

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pesquisa-ação, na busca de maior integração e aceitação das comunidades envolvidas. Para tal foi realizado um Diagnóstico Rápido Participativo-DRP, para levantar as necessidades e desejos dessas comunidades. Visando o desenvolvimento mais efetivo das ações multiplicadoras no espaço de tempo letivo, e atendendo às solicitações da Secretaria de Educação e Esportes e de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, foi elaborado um projeto denominado “Educação Ambiental como estratégia de ação para viabilizar programas de desenvolvimento sustentável”, que conta atualmente com uma Bolsista de Iniciação Científica, do CNPq. Esse projeto busca acompanhar a realização dos Programas voltados para o desenvolvimento sustentável que vêm sendo realizados no município, procurando verificar o papel da educação ambiental como eixo articulador desses programas, no sentido de perceber como a mesma interage nesses Programas e como é vista e utilizada na definição das políticas públicas. Além desse objetivo, a criação e dinamização de um grupo permanente, interdisciplinar, de estudos e pesquisas, com vistas ao aprofundamento, produção científica e divulgação da temática, constituiu-se numa meta, que já foi atingida com a instalação do GEPEADS - Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Ambiental e Desenvolvimento Sustentável, em agosto de 2003. Ainda como parte desse projeto foi elaborado e oferecido um Curso de Capacitação em Educação Ambiental para docentes do primeiro segmento do Ensino Fundamental, aprovado como projeto de extensão do DTPE/IE/UFRRJ, evidenciando a busca da integração entre as funções precípuas da universidade. Deve-se destacar ainda que se tem procurado verificar os limites e as possibilidades das ações oficiais em torno da questão ambiental, buscando observar em que medida os programas em andamento podem subsidiar a tomada de decisões e alimentar as políticas e estratégias de ação governamental. NAS TRILHAS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL “A tarefa da educação é formar seres humanos para o presente, para qualquer presente, seres nos quais qualquer outro ser humano possa confiar e respeitar, seres capazes de pensar tudo e fazer tudo o que é preciso como um ato responsável a partir de sua consciência social”. (Maturana & Rezepka)

A Educação Ambiental (EA), no discurso dos processos sociais instituintes, nasce da sensibilidade de aliar conhecimento científico, tecnológico, artístico e cultural com uma nova consciência de valores de respeito aos seres humanos e aos recursos

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naturais, com perspectivas de formar uma consciência ambiental através da difusão de novos valores resultando talvez numa dimensão culturalmente consciente de atitudes ecológicas. Como destaca Carvalho (2003, p. 29), o grande desafio da EA se passa em nível ético. O fato de reservar especial atenção à dimensão ética do fazer Educação Ambiental, mais dirigida a sua prática, advém igualmente do fato de não querer apresentá-la como uma espécie de "remédio milagroso" solucionador de todos os problemas ambientais. A ética deve ser o leme que irá direcionar o pensamento ideológico que a EA será capaz de despertar e que esteja compromissada com a busca da justiça social. É fundamental ter muito claro, conforme enfatiza Carvalho (op. cit., p. 42) o fato de que a EA, se constitui em uma forma de luta contra a crise ambiental e o modo autoritário/extrativista como os indivíduos tem se relacionado com o meio ambiente. Mesmo reconhecendo a sua importância, enquanto promotora de uma nova consciência ecopedagógica e ambientalista, é inegável que desligada de uma política ambiental mais efetiva e acompanhada de uma legislação rígida socialmente referenciada, ou de ações voltadas para uma distribuição de renda mais igualitária ou ainda para a construção e manutenção de um contexto político-cultural favorável, estaremos agindo no "vazio", longe de vislumbrar um futuro sócio-ambiental menos desolador. Como bem destaca Quintas ( 1997, p. 79): "A prática da EA deve ter como um de seus pressupostos, o respeito aos processos culturais característicos de cada país, região ou comunidade.(...) Isto significa reconhecer que há diferentes modos de relacionamento homem-homem e homem-natureza. Na sociedade brasileira esses diferentes modos de relacionamento determinam a existência de conhecimentos, valores e atitudes que devem ser considerados na formulação, execução e avaliação da prática da EA."

A EA deve estar presente em todos os ambientes: escolas, praças, família e comunidade. Atualmente os eventos que tratam da temática ambiental são importantes espaços de discussão e realização de atividades formativas através de cursos, grupos de trabalhos, oficinas etc. Em uma dimensão maior, a EA vem despertar para a conscientização da capacidade que temos de assumir estratégias de desenvolvimento diferente das que se tem hoje, uma estratégia ética que integre crescimento econômico com justiça social

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que desencadeie num desenvolvimento sustentável. Para isso é necessário relacionar e descobrir novas formas de lutar pela construção deste projeto. A participação ativa dos sujeitos envolvidos no processo é fator fundamental na cobrança dos órgãos controladores do serviço público para que os recursos e as políticas públicas se voltem em benefício dos cidadãos e até possibilitem a ampliação dos direitos. A Constituição Brasileira, de 1988, incorporou em seu texto a Educação Ambiental, conforme o Art. 225, ressaltando a qualidade de vida como integrante da própria cidadania. Os Parâmetros Curriculares Nacionais11 apresentam a questão ambiental como um dos temas transversais do currículo do Ensino Fundamental, mas a sua efetivação no cotidiano escolar ainda deixa muito a desejar e, em muitos casos, tem se limitado a ações isoladas e/ou a entendimentos parcializados sobre a questão ambiental, orientados por uma visão excessivamente biologizada, dentro de uma vertente ecológico-preservacionista, e/ou fica restrita a eventos comemorativos (dia da árvore, dia do meio ambiente), ou ainda limitada à realização de algumas atividades práticas, denominadas extra-curriculares, eventuais (campanha do lixo, coleta para reciclagem, caminhadas ecológicas, visitas, plantio de hortas, etc.), sem a contextualização necessária e sem a internalização sobre o real entendimento da problemática ambiental no cotidiano das comunidades escolares. Essa constatação remete a uma preocupação que tem nos instigado continuamente em nossa prática universitária, qual seja a da formação dos futuros professores em nossos cursos de Licenciatura. A concepção linear e disciplinar de currículo que vem caracterizando nossas instituições de Educação Superior, ainda está longe de ser superada. Os enfoques de conteúdos e práticas têm se limitado, na maioria das vezes, à reprodução e/ou apropriação dos saberes cientificamente considerados pela academia, deixando de lado os vínculos e as possibilidades de construção de outros saberes oriundos das práticas escolares dos demais níveis de ensino, bem como as representações sociais, os valores instituídos e instituintes, a produção de sentidos a partir das próprias experiências dos sujeitos do processo educativo. Nesse sentido, o entendimento da educação ambiental que se vem buscando vai nos dois sentidos: o da formação de nossos futuros professores e o da formação continuada dos professores da

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Os PCN´s recomendam que o processo educativo deve romper com o adestramento e a simples transmissão de conhecimentos, destacando que cada professor, dentro da especificidade de sua área, deve adequar o tratamento dos conteúdos para contemplar o tema Meio Ambiente, assim como os demais Temas Transversais.

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rede pública de ensino, possibilitando uma reflexão e uma retomada de caminhos sobre os currículos formadores em ambos os espaços - a Universidade e a Escola. A promulgação da Lei 9795/99 que dispõe sobre a Educação Ambiental e institui uma Política Nacional de EA foi uma relevante conquista da sociedade civil, pois dá lugar à democracia e à justiça social no campo da questão em tela, cabendo ao poder público definir políticas públicas que incorporem a dimensão ambiental, além de promover a mesma nos currículos de todos os níveis e modalidades de ensino, bem como no âmbito não-formal. Ressalte-se que três dos objetivos fundamentais que são definidos por aquela lei além de apontar para uma perspectiva de sustentabilidade, dizem respeito a uma visão necessariamente interdisciplinar no contexto educacional, quais sejam o que evidencia: "o desenvolvimento de uma compreensão integrada do meio ambiente em suas múltiplas e complexas relações, envolvendo aspectos ecológicos, psicológicos, sociais, econômicos, científicos, culturais e éticos"; o que menciona "o estímulo e o fortalecimento de uma consciência crítica sobre a problemática ambiental e social" e o que nomeia "o incentivo à participação individual e coletiva, permanente e responsável, na preservação do equilíbrio do meio ambiente, entendendo-se a defesa da qualidade ambiental como um valor inseparável do exercício da cidadania". Tal visão implica numa nova forma de encarar as questões ambientais por parte das instituições escolares, para além dos reducionismos e simplificações instalados. A possibilidade interdisciplinar, por sua vez, tem se constituído um discurso presente, em especial nas universidades, mas uma prática ainda muito tímida e, na maioria das vezes, mal interpretada e mal conduzida. No entanto, já existem inúmeras experiências inovadoras que têm dado conta de avançar tanto conceitual quanto metodologicamente, no campo da educação ambiental, enquanto prática interdisciplinar, voltada para a qualidade de vida. A conscientização dos docentes da rede pública de ensino para a importância do seu engajamento nesse processo de produção/construção de novas práticas pedagógicas mediadas pela educação ambiental se constituiu em um desafio a ser por nós perseguido e vem alimentando cada um dos momentos desse nosso projeto de pesquisa e extensão. Compactuamos com a perspectiva apontada por Carneiro (2002, p. 76) e compreendemos a Educação Ambiental orientada pela vertente sócio-ambiental, o que significa que os currículos requerem uma dinâmica pedagógico metodológica interdisciplinar, crítica e prospectiva, tendo em vista a formação de sujeitos eticamente responsáveis para com o ambiente.

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CAMINHOS QUE SE CONSTRÓEM EM PARCERIA “Se o sentido da educação criar redes fluidas de processos de saber, de um ponto de vista de uma sociologia e de uma psicopedagogia dialógica do aprender, então boa parte de sua razão de ser estaria na criação de redes de co-criadores do próprio saber. Redes cada vez mais amplas de pessoas ativa e solidariamente criadoras, através de práticas de partilha em todos os processos de criação e aquisição de conhecimento, dento e fora do âmbito da escola.”, (Brandão, 1997).

Em nosso entendimento, a universidade deve envidar um profundo esforço para sair do isolamento em que por décadas se posicionou, deixando de desenvolver as suas funções principais, quais sejam o ensino, a pesquisa e a extensão, voltadas para a qualidade social. De acordo com Boaventura Santos (1996, p. 224): “compete à universidade criar as condições para que a comunidade científica possa reflectir nos pesados custos sociais que o seu enriquecimento pessoal e científico acarretou para comunidades sociais bem mais amplas. A primeira condição consiste em promover o reconhecimento de outras formas de saber e o confronto comunicativo entre elas.A universidade deve ser um ponto privilegiado de encontro de saberes. (...) A revalorização dos saberes não científicos e a revalorização do próprio saber científico pelo seu papel na criação ou aprofundamento de outros saberes não científicos implicam um modelo que subordine o know-how técnico ao know-how ético e comprometa a comunidade científica existencial, ética e profissionalmente com o impacto da aplicação”.

Nessa ótica, o DTPE/IE tem realizado um grande esforço para aproximar-se dos diferentes atores que constituem o cenário da educação, cuidando para que isso se dê não como um trabalhar sobre o outro, de forma tutoral/ditatorial, mas sim num movimento de “abertura ao outro”, configurando o que Boaventura Santos coloca como o sentido profundo da democratização da universidade, e que possa reverter em favor de uma melhor formação profissional aos licenciandos dos diferentes cursos de graduação, bem como na contribuição para a melhoria da qualidade do processo educativo, sobretudo na educação pública. O trabalho que tem sido desenvolvido com os professores da rede municipal, localizados nas escolas rurais e urbanas, pauta-se no aporte teórico da dialética-crítica, referenciado nos princípios da pedagogia libertadora/problematizadora de Paulo Freire, bem como em teorias e práticas daqueles que enveredaram por construir conhecimentos a partir de uma perspectiva histórico-social. Desde o primeiro momento, o DTPE/IE pensou que ao se trabalhar em espaços tão específicos/peculiares, como o urbano-rural,

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mas também tão interrelacionados, não se poderia elaborar e executar propostas que não representassem as falas, dilemas, contradições, visões, enfim realidades que foram construídas por sujeitos ou grupos de sujeitos instituídos e instituintes. Com esse entendimento percebeu-se que não se chegaria a bom termo se o trabalho partisse da utilização da imagem do oficialmente estruturado, a saber, a Universidade e a Prefeitura, e sim dos principais atores envolvidos no processo: professores, estudantes e comunidade. Quanto à metodologia, ou seja, o modo de caminhar compartilhando o desejado, optou-se pela pesquisa-ação, proposta por Michel Thiollent (2002), onde o relacionamento entre os objetivos práticos - equacionamento do problema considerado na pesquisa, levantamento de soluções e proposta de ações correspondentes - e os objetivos de conhecimento - obtenção de informações que seriam de difícil acesso por meio de outros procedimentos e/ou para aumentar o conhecimento de determinadas situações, denotando a complexidade dos problemas considerados, são referendados por procedimentos participantes. Essa proposta metodológica, quando bem conduzida a partir de um amadurecimento contínuo, pode vir a alcançar, simultaneamente, a resolução de problemas, a tomada de consciência e a produção de conhecimento. Também Brandão (1984 e 1986) e Espeleta & Rockwell (1989) têm amparado, com suas produções teóricas, o planejamento e desenvolvimento das ações que vêm sendo construídas. O Projeto, na sua primeira fase, com vistas a atender às demandas do município, constou de um Curso de Capacitação para Docentes do primeiro segmento do Ensino Fundamental. Tal curso foi planejado e desenvolvido pelos professores das áreas de Didática e Prática de Ensino de Biologia, Ciências Agrícolas e Física, sendo a Coordenadora da área de Política Educacional, da UFRRJ.

Pela Prefeitura de

Paracambi atuaram profissionais, ligados à Secretaria Municipal de Educação e Esportes, Secretaria Municipal de Agricultura e Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, com formações em Pedagogia, Biologia e Ciências Agrícolas. Ao longo da Capacitação, foram realizados encontros voltados para a construção teórico-prática, além do acompanhamento das atividades dos professores da rede em suas escolas, da coleta de dados para elaboração de documento que expressasse as atividades desenvolvidas pelos professores da rede pública municipal, encontros para estreitar os laços com as escolas e as secretarias, bem como trabalho de “Dia de Campo” de alunos da Prática de Ensino de Ciências Agrícolas, nos Centros Comunitários rurais,

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para aproximação do universo cultural e de produção agrícola em que os professores das Escolas Rurais viviam. Neste ultimo, cabe evidenciar a receptividade e alegria de alguns professores, pertencentes a estes Centros Comunitários, ao nos reconhecer como mediadores de seus interesses na defesa do meio ambiente nas comunidades que vinham passando por problemas como a contaminação da água por detritos doméstico, com agrotóxicos, com o lixo doméstico, etc. (este trabalho de suporte ao projeto, foi publicado no último Encontro de Didática e Prática de Ensino, em Goiânia). A execução das atividades delineadas pelos cursistas já se encontra em andamento, sendo discutidas e desenvolvidas com um caráter interdisciplinar a partir do Projeto-Político-Pedagógico (PPP) das escolas. Cabe ressaltar que este foi um dos temas do Curso de Capacitação amplamente discutido, gerando, posteriormente, o planejamento de uma Agenda Ambiental para a rede municipal de ensino e impulsionando no sentido de que a maior parte dos trabalhos desenvolvidos nas Escolas fossem apresentados na I Mostra de Educação Ambiental do município de Paracambi, em junho de 2003. O Curso de Capacitação ofereceu 20 vagas aos professores da rede pública municipal,

cujo

critério

de

seleção

enquadrou-se

na

idéia

de

formar

multiplicadores/dinamizadores, distribuídas homogeneamente entre as 18 escolas da rede. Os cursistas foram dispensados de suas atividades nos dias previstos para realização do curso de capacitação de modo a viabilizar o alcance dos objetivos traçados. Num primeiro momento foi realizado um diagnóstico para verificar as potencialidades, as atividades, as articulações, o âmbito de atuação, para que houvesse uma adequação do programa ao perfil dos cursistas. O planejamento do Curso de capacitação se deu em função das demandas detectadas no diagnóstico, sendo o eixo norteador o caráter participativo preconizado pela Educação Ambiental, onde a participação ativa dos sujeitos é fator primordial para o alcance dos objetivos propostos e para o sucesso das ações empreendidas12. A execução do curso se deu em parte no espaço da Escola Municipal Terra de Educar e a outra parte no Instituto de Educação da Universidade Rural. De acordo com os pressupostos descritos pela EA, o planejamento das ações deve ser do tipo participativo, ou seja, onde todos os sujeitos envolvidos devem

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Os pressupostos em EA foram organizados historicamente através das diversas Conferências existentes, tais como: Conferência de Estocolmo, Conferência de Belgrado, Conferência de Tbilisi, Conferência de Moscou e Conferência do Rio de Janeiro (mais conhecida como Eco-92).

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contribuir de forma a facilitar a compreensão e atuação sobre a realidade a ser explorada, tendo assim, no exercício da cidadania, uma participação ativa na elaboração teórica e prática das ações para a superação dos problemas diagnosticados. A metodologia participativa, que se buscou desenvolver, pressupõe que os conteúdos das diferentes áreas de conhecimento são o ponto de partida para a reelaboração dos conceitos, de forma que o conhecimento re-laborado seja aplicado à realidade com o intuito de transformá-la. Essa transformação se dá na medida em que o equilíbrio local seja atingido a partir da modificação na relação homem-natureza, permitindo uma relação mais integrada e uma abertura de consciência por parte dos sujeitos. De acordo com Lopes (1990, in Guimarães, 1998), os objetivos gerais para o planejamento participativo em EA são: participação ativa dos sujeitos, unidade teoriaprática, realidade concreta como ponto de partida e a busca por atingir o fim mais amplo da educação. A capacitação dos professores da rede pública municipal objetivou a superação de conceitos pautados na técnica e na ordem material (Santos, op. cit.), buscando a ética, a incorporação de um que-fazer conscientizador e, sobretudo, problematizador da questão ambiental, bem como a redefinição de pressupostos para o planejamento escolar referenciado pelo aporte teórico-prático participativo e percebendo a complexidade de relações e de contextos nos quais a prática educativa se estabelece. O trabalho desenvolvido buscou se pautar na perspectiva de que a formação continuada dos professores deve se dirigir para tratá-los do mesmo modo que se espera que eles tratem seus alunos, mas instigando um olhar reflexivo que lhes permite ver suas próprias emoções como o espaço de capacitação em que se encontram em cada momento, sem perder o respeito por si mesmos, porque podem reconhecer seus erros, pedir desculpas e ampliar o olhar reflexivo com os seus alunos sem desaparecer nele. (Cf. Maturana & Varela, 2001, p. 17). Torna-se evidente que sem um processo educativo consistente e participativo, que consiga abranger toda a sociedade, é inviável a busca pela sociedade sustentável. Fez-se necessário captar as representações de sociedade, educação, ambiente, natureza, indivíduo-sociedade, escola e, finalmente cidadania, que os envolvidos tinham concreta e simbolicamente construídas ao longo e no cotidiano de suas vidas. O desafio posto estava configurado em mobilizar tais representações para o debate e ampliação de outras mais próximas da realidade desejada e objetivada no projeto.

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Dada a força influenciadora da escola nas comunidades, optou-se por buscar o caminho da EA, num primeiro momento com a Capacitação e em seguida com os desafios que os cursistas/professores da rede colocassem. O segundo momento de atuação formal junto a docentes da rede municipal está projetado para acontecer em 2004, atingindo-se os docentes do segundo segmento do Ensino Fundamental, que já foram contatados, numa tentativa de sensibilização. Espera-se, posteriormente, que a proposta se estenda amplamente aos Centros Comunitários - Rural e Urbano, de educação não-formal, de forma a atingir a totalidade do município. Observe-se ainda que as ações governamentais que vêm sendo efetivadas buscaram o apoio de um grupo de estagiários vinculados à Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, ampliando a parceria, incluindo estudantes do Instituto Superior de Tecnologia - IST, da rede estadual de educação, localizado no município. É importante ressaltar que tal prática está em consonância com os dispositivos legais sobre a EA e com a Política Nacional de EA, que após o reconhecimento político (Saito, 2002) exigem sua execução, a colocação em prática das idéias ali expostas. Destaque-se que os conteúdos trabalhados pelos professores nos projetos de EA desenvolvidos nas escolas apresentaram muita riqueza, por isso se resolveu selecionar todo o material para uma futura publicação que servirá de apoio e referência para o próprio município, bem como para outras escolas da região. O projeto encontra-se em andamento, e novas etapas deverão ser implementadas, possibilitando o acompanhamento das ações, a partir da coleta de dados sobre as atividades que foram e estão sendo desenvolvidas; o desenvolvimento do Curso de Capacitação em EA para professores do segundo segmento do Ensino Fundamental (5ª a 8ª séries). Importa destacar que o trabalho está cheio de entrelaçamentos, e, como é próprio das metodologias participativas, novas demandas vão surgindo, caminhos vão sendo repensados/redirecionados, numa dinâmica que vai possibilitar uma melhor interação e o conseqüente alcance de objetivos construídos, partilhados e efetivados numa ótica emancipadora. PRIMEIROS RESULTADOS Mais do que ativismo ecológico, o que se pretende é caminhar para a assimilação e execução de uma nova postura/mentalidade frente à realidade que se tem e se pretende modificar. E essa mudança se faz na medida em que essa mesma realidade

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se mostra insustentável e a reflexão sobre sua insustentabilidade leva a posturas modificadoras. O acompanhamento de todo o processo é fator fundamental para o alcance dos objetivos propostos e o que se tem percebido é um engajamento por parte dos sujeitos e a mudança gradual de atitudes, valores e posturas frente à questão ambiental. Nota-se esse engajamento, quando os cursistas/professores foram e estão sendo capazes de se descobrirem propositivos no que diz respeito a suas práticas pedagógicas e ao exercício de sua cidadania. De outro lado, a participação de estudantes de diferentes cursos de graduação, no debate sobre Educação Ambiental e desenvolvimento sustentável, no acompanhamento aos programas que vêm sendo desenvolvidos e no planejamento de atividades que possam apoiar a reflexão e o aprofundamento sobre essa temática, constitui-se num importante avanço no alcance dos objetivos que foram propostos inicialmente e daqueles que vêm sendo construídos coletivamente, a partir das novas demandas que vão se apresentando. A instalação do GEPEADS, reunindo professores, estudantes e profissionais de várias instituições, já começa a se fazer perceber no interior da universidade como um local importante para a elaboração teórico-analítica, no que respeita à consciência ambiental e permitindo uma visão crítica sobre a educação Ambiental, contextualizando-a e problematizando-a na realidade de suas ambiências e práticas. Reconhece-se o árduo trabalho que se tem pela frente e que as mudanças serão realizadas ao longo prazo, por isso a perseverança de realizações e a união dada por uma idéia-força alimentada em parceria, são elementos primordiais a ser tomado como parte intrínseca dos sujeitos envolvidos no processo. Podemos perceber uma maior aproximação dos atores envolvidos nos Programas de Educação Ambiental do município de Paracambi, nas ações integradas de suas diversas secretarias executivas, evidenciando-se que anteriormente a Educação Ambiental era apenas uma dentre as ações da Secretaria Municipal de Meio Ambiente. Partindo-se da capacitação dos professores da rede municipal, que envolvia além daquela Secretaria, a Secretaria Municipal de Educação e Esportes e o Instituto de Educação da UFRRJ, conseguiu-se penetrar nas atividades das Secretarias de Saúde, de Planejamento e na Secretaria de Governo da Prefeitura. Nessas secretarias a Educação Ambiental, embora ainda não sendo assumida como uma política pública, é percebida como um instrumento de exercício da cidadania no sentido do melhor uso e

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aproveitamento das melhorias realizadas no município13. A importância da conscientização através da EA se dá de forma marcante, uma vez que o mau uso, por parte da população, das melhorias realizadas pelo poder público, pode acarretar na paralisação das obras ou reverter em maiores prejuízos para a própria população. Cabe aqui ressaltar a importância da formação da equipe de estagiários14 que executa as ações de educação ambiental, sendo este um fator de acompanhamento e avaliação das atividades realizadas, partindo-se assim para um processo de educação ambiental no nível não-formal, abrangendo não somente as escolas da rede municipal, mas também os moradores das diferentes comunidades onde estão situadas as escolas, ou num trabalho junto às associações de moradores e outros grupos organizados. As ferramentas utilizadas para o acompanhamento e avaliação das atividades são as visitas periódicas às escolas e bairros, visando a verificação das maiores demandas das comunidades no que se refere à temática ambiental. Desde o seu delineamento inicial, passando por cada uma das etapas que vêm sendo desenvolvidas, nos move uma idéia de educação e de ambiente, que se expressa muito bem nas palavras de Maturana (1998, pp. 34-35): “Para que educar? Para recuperar essa harmonia fundamental que não destrói, que não explora, que não abusa, que não pretende dominar o mundo natural, mas que deseja conhecê-lo na aceitação e respeito para que o bem-estar humano se dê no bem-estar da natureza em que se vive.. Para isso é preciso aprender a olhar e escutar sem medo de deixar de ser, sem medo de deixar o outro ser em harmonia, sem submissão. Quero um mundo em que respeitemos o mundo natural que nos sustenta, um mundo no qual se devolva o que se toma emprestado da natureza para viver. (...) Quero um mundo no qual seja abolida a expressão ‘recurso natural’, no qual reconheçamos que todo o processo natural é cíclico e que, se interrompermos seu ciclo, se acaba”.

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Tais melhorias referem-se às obras de saneamento básico, através das instalações de esgotamento sanitário (diversos bairros), construção de galerias de águas pluviais (diversos bairros), construção de estação de tratamento de água no bairro de Ponte Coberta, construção de estação de tratamento de esgotos no bairro Guarajuba e arruamentos (diversos bairros). 14 A equipe de estagiários é formada por quatro alunos do Curso de Ciências Ambientais do Instituto Superior Tecnológico de Paracambi e um aluno do Curso de Ciências Agrícolas da UFRRJ. Tais alunos possuem uma bolsa-auxílio financiada pela Crown Tecidos para Decoração, indústria situado no bairro Cascata e que utiliza de um sistema de tecnologia limpa de aproveitamento do uso da água utilizada no preparo e tingimento dos tecidos.

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