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A ESSÊNCIA DO PENSAMENTO: RAZÃO, EMANCIPAÇÃO E EDUCAÇÃO EM HORKHEIMER1 Juliana Damasceno de Oliveira2 Avelino da Rosa Oliveira3 Resumo: O presente trabalho tem por objetivo retomar os ideais do Esclarecimento em favor de uma racionalidade emancipatória. Para tanto, analisamos obras de Max Horkheimer de diferentes períodos, a fim de extrair de seu constructo teórico a fundamentação racional da práxis educacional comprometida com a realidade vigente e preocupada com a forma social em que a educação se constitui. Como objetivo secundário, inserido nessa perspectiva mais geral, sugerimos que mesmo com a aparente atitude cética de Horkheimer, nos escritos da fase mais amadurecida de suas reflexões, este não deixou de confiar à razão, papel fundamental no processo de emancipação humana. Para concluir, apresentamos os resultados de nossas análises, juntamente com a nova perspectiva sugerida pela obra de Horkheimer. Palavras–chave: Razão. Max Horkheimer. Educação.

Considerações iniciais: o compasso da crítica e a filosofia das luzes Terça-feira, 08 de agosto de 2006. Balanço das edições anteriores: 78 ataques, 2 mortos, 5 feridos e 12 presos. O Estado de São Paulo foi alvejado pelo Primeiro Comando da Capital pela terceira vez ontem [...] (JORNAL O ESTADO DE S. PAULO). A nós brasileiros, esta é uma notícia já familiar. Porém, refletindo um pouco sobre os acontecimentos, podemos perceber a semelhança desses fatos, ou de outras barbárie semelhantes, com o passado de Auschivitz. Após a tragédia das guerras mundias, o anseio de paz e liberdade fez surgir em todos os cantos do mundo vários movimentos e discursos que, embora diferentes, têm um desejo geral: a felicidade humana. Mas será que apesar de estarmos inseridos em novos tempos, não retornamos agora à tragédia da barbárie irracional? 1

O presente texto é parte dos resultados de pesquisa apoiada por bolsa e recursos financeiros do CNPq e da FAPERGS. 2 Acadêmica do curso de Pedagogia da FaE/UFPel. Bolsista PIBIC/CNPq. Integrante do FEPráxiS. E-mail: [email protected]. 3 Professor Doutor, titular do departamento de Fundamentos da Educação da FaE/UFPel. Integrante do FEPráxiS. E-mail: [email protected].

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Max Horkheimer faz parte de um dos principais e produtivos movimentos intelectuais contemporâneos: a Escola de Frankfurt. Este pensador juntamente com Theodor W. Adorno, foi o precursor da expressão Teoria Crítica que impregnada por um interesse racional, seria o instrumento capaz de libertar o homem da repressão, da ignorância e da inconsciência, buscando transformações sociais. Por Escola de Frankfurt, entende-se o conjunto de investigações interdisciplinares que a partir do início do século XX caracterizou-se por pensar radicalmente o conceito de emancipação humana. Deste modo, Horkheimer pode ser tomado como referencial para que se lance luz sobre as questões que nortearão este estudo, subsidiando a fundamentação racional da práxis educacional. A questão dos fundamentos da práxis educacional tem merecido a atenção de inumeráveis educadores, desde a instalação da modernidade. O foco principal onde tem sido localizado o problema é a identificação de que [...] a denominada crise na educação não é mais nem menos que a crise da modernidade e da racionalidade, das quais a educação se apresenta como filha promissora. (Prestes, 1996, p.11) Portanto, o problema da fundamentação filosófica da racionalidade ultrapassa o nível de problema exclusivamente teórico e se apresenta como questão indispensável para pensarmos a educação contemporânea. A partir dos séculos XVII e XVIII, surge na Europa, um movimento filosófico, pedagógico e político (Reale; Antiseri, 1990, p.666) denominado Iluminismo. Este se caracterizava por sua postura racionalista, ou seja, confiança no uso crítico e construtivo da razão, além de questionar o modelo tradicional dominante de pensamento até então imposto pela mitificação. Kant, em seu texto Resposta à pergunta: Que é Esclarecimento?, de 1783, descreve genericamente que a proposta do Iluminismo era dar à humanidade o direito de fazer uso livre de sua razão e isso demandaria decisão e coragem. De posse da idéia de um pensamento que objetiva o progresso da humanidade, o Iluminismo buscou a libertação da razão dos dogmas metafísicos, superstições religiosas e relações desumanas entre os homens. O Iluminismo, filosofia otimista, estreitamente vinculado aos rumos da sociedade burguesa em ascensão, elegeu a razão como verdade única e indiscutível, reconhecidamente como conhecimento científico e técnico para transformação do mundo e melhoria progressiva das condições espirituais e materiais da humanidade. Os Iluministas definiram regras em concordância com a razão – as coisas e idéias são ou não racionais, e assumiram a postura de designar à razão para guiar as ações dos homens na sociedade e na natureza. Ela era o poder que pertencia a cada sujeito, fundamentava todas as

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decisões e ações humanas, como verdade absoluta, dom supremo na qual a vida era oferecida em voto. A racionalidade estaria acima de qualquer dúvida. Desde sempre o Iluminismo, no sentido mais abrangente de um pensar que faz progressos, perseguiu o objetivo de livrar os homens do medo e de fazer deles senhores. Mas, completamente iluminada, a terra resplandece sob o signo do infortúnio triunfal. O programa do Iluminismo era o de livrar o mundo do feitiço. Sua pretensão, a de dissolver os mitos e anular a imaginação, por meio do saber. (Adorno; Horkheimer, 1983, p.89) De fato, desde que Kant exortou a humanidade com seu Sapere aude!, definindo claramente os propósitos do Esclarecimento, outra não foi a lógica Iluminista do que o esforço em evidenciar como a humanidade detinha a faculdade de, pela razão, retificar seus desvios da ordem natural universal com o propósito de certamente alcançarem a felicidade. E nesta empresa, quão elevado foi o papel adscrito à educação! A aposta na racionalidade como fundamento da emancipação fez-se acompanhar da crença de que na educação encontrar-se-ia a fonte inexaurível do progresso humano. (Oliveira, 1998, p.32) Kant afirma ser impossível ao homem [...] tornar-se um verdadeiro homem senão pela educação. (1996, p.15) E após assim asseverar, atribui com fidelidade o envolvimento da educação no processo emancipatório da humanidade. É entusiasmante pensar que a natureza humana será sempre melhor desenvolvida e aprimorada pela educação, e que é possível chegar a dar aquela forma que em verdade convém à humanidade. Isto abre a perspectiva para uma futura felicidade da espécie humana. (Kant, 1996, p.17) Porém, apesar destes esforços, o tipo de racionalidade privilegiada pelo desenvolvimento da ciência, a partir do século XVII, ao invés de conduzir a humanidade à pretendida libertação, acabou por reconduzi-la a tantas outras formas de irracionalidade, [...] o que levou o homem moderno à tragédia das guerras e da desumanização. (Gadotti, 2003, p.311).

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A conseqüência: o discurso pós-moderno No final dos anos 50, concomitantemente à lembrança recente das Guerras Mundiais, começaram a ocorrer amplas mudanças científicas, culturais e sociais que, mais tarde, atingiriam a escola. Essas mudanças se relacionam com o advento de um novo movimento, que surge como uma crítica à modernidade. Vivemos agora em tempos Pós-Modernos. Seria esta uma afirmação correta? Vivemos mesmo em novos tempos, ou escamoteamos as injustiças nas singularidades, nas parcialidades e nos fragmentos? A educação, entendida como instrumento fundamental de transformação social, necessita uma práxis transformadora. Por sua vez, a práxis social necessita esforço cognitivo e moral. Assim, necessita razão. Logo, o discurso pós-moderno, por suspeitar do uso da razão na contemporaneidade, anularia qualquer possibilidade de êxito neste empreendimento. Conseqüentemente, a escola, que foi depositária dos ideais Iluministas e que é suscetível a estas mudanças e, principalmente, à crítica pós-moderna à razão, perderia seu objetivo, já que [...] a atitude pós-moderna suspeita de qualquer função legitimante e, por isso, desconfia do apelo da ciência a ideais de progresso e emancipação. (Loureiro; Della Fonte, 2003, p.16). Nesta perspectiva, o professor, como mediador do conhecimento no processo de aprendizagem, corre o risco de tornar-se obsoleto. O que passa a ser importante é o domínio das novas tecnologias para auxiliar o manejo dos alunos nos bancos de dados. É o fim da era do professor. (Lyotard, apud Loureiro; Della Fonte, 2003 p.17). Deste modo, este trabalho tem por objetivo retomar os ideais do Esclarecimento, mas através do olhar crítico, ampliado, oferecido pela obra de Max Horkheimer, em favor de uma racionalidade emancipatória. Essa nova perspectiva sugerida pela Teoria Crítica, pretende demonstrar que o conhecimento amplo existe a favor da totalidade, mas não é definitivo, ele se dá, assim como a emancipação, na necessidade da crítica permanente. Um possível caminho: a crítica frankfurtiana Num primeiro momento do texto Teoria Tradicional e Teoria Crítica (Tradizioelle und Kritische Theorie), Horkheimer descreve o conceito de teoria (em geral) e o seu atual quadro na ciência. Este sentido usual da teoria para a pesquisa pode ser entendido como [...] uma sinopse de proposições de um campo especializado, ligadas de tal modo entre si que se poderiam deduzir de algumas dessas teorias todas as demais. (Horkheimer, 1983b, p.117).

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Posteriormente, denomina esta teoria que possui necessidade de harmonia entre suas partes ligadas ininterruptamente, pois seu ideal de perfeição é a ausência de contradição., em Teoria Tradicional. Seguindo o método de Descartes a Teoria Tradicional deve começar assim como a matemática com operações mais simples para depois atingir as mais complexas. Os nomes que aparecem como elementos da teoria e partes das conclusões são substituídos por símbolos matemáticos se tornando uma construção típica das ciências exatas. Assim as ciências do homem e da sociedade têm procurado seguir o modelo (vorbild) das mais bem sucedidas ciências naturais. Desta forma, o autor questiona não o significado da teoria em geral, mas [...] da teoria esboçada de “cima para baixo” por outros, elaboradas sem o contato direto com os problemas de uma ciência empírica particular. (1893b, p.119). Segundo a lógica da Teoria Tradicional, cartesiana, a saída da humanidade do mundo miserável e consequentemente a liberdade, em vistas á uma sociedade futura, deve ser determinada pelo entendimento produzido unicamente pela ciência e pelo cientista, com base nas ciências naturais. Assim, a teoria tradicional caracteriza-se por limitar o conhecimento à subjetividade do teórico, de um lado, e ao universo a ser investigado, de outro. A Teoria Tradicional com sua pseudo neutralidade perceptível com relação aos embates sociais, leva a humanidade a constatar que esse mundo existe e deve ser assim, aceito. As ciências exatas, naturais que na perspectiva da Teoria Tradicional aparecem como “logos eterno” não constituem atualmente a práxis do pensamento humano, o que particularmente aparece na Teoria Crítica da sociedade. A representação tradicional de teoria é abstraída do funcionamento da ciência, tal como este ocorre a um nível dado da divisão do trabalho. Ela corresponde à atividade científica tal como é executada ao lado de todas as demais atividades sociais, sem que a conexão entre as atividades individuais se torne imediatamente transparente. Nesta representação surge, portanto, não a função real da ciência nem o que a teoria significa para a existência humana, mas apenas o que significa na esfera isolada em que é feita sob as condições históricas (1983b, p.123). Um dos pontos altos do texto diz respeito ao contraponto que Horkheimer realiza entre Teoria Tradicional e Crítica. O autor constata que diferentemente da Teoria Tradicional arcaica, a Teoria Crítica de Horkheimer surge do interesse por um estado racional e torna explícito que todo saber aplicado e disponível está sempre contido numa práxis social. Ademais, não conduz o pensamento segundo o padrão dos experimentos das ciências naturais, mas fornece subsídios para os indivíduos de uma certa sociedade

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analisarem seu próprio tempo histórico [...] a teoria crítica não almeja de forma alguma apenas uma mera ampliação do saber, ela intenciona emancipar o homem de uma situação escravizadora. (1983b, p.156). Horkheimer descreve a atividade humana, de seu tempo, como contraditória e ambígua: por um lado, a unidade e a orientação, por outro, o obscuro, o inconsciente e o intransparente. Deste modo acredita que a ação conjunta dos homens na sociedade e sua racionalidade são a força e a essência da humanidade. Porém os resultados desse processo são estranhos por conter desperdício de força de trabalho e de vida humana, nas formas de guerras e miséria absurda. Como é perceptível, o Iluminismo aparece freqüentemente recuperado nas idéias de Horkheimer, principalmente quando ele se refere à crença incondicional na razão. Coloca-se aqui então um desafio. Porém este é precocemente superado, pois para Horkheimer mesmo com todo ideal racional perseguido pela filosofia e economia burguesa, inclusive descrita por Kant na Crítica da Razão Pura, este não é movido por um objetivo geral (da sociedade), assim a vida do todo, como que por acaso, resulta em uma figura deformada, desse modo irracional. Utilizamos, nessa pesquisa, uma abordagem teórico-metodológica de análise filosófica de quatro obras de Horkheimer: duas delas – Teoria Tradicional e Teoria Crítica e Filosofia e Teoria Crítica (ambas de 1937) – são bons exemplos da fase inicial da produção intelectual do autor; a terceira e a quarta – Conceito de Iluminismo e Eclipse da Razão (ambas de 1947) – situam-se em período já mais amadurecido de suas reflexões, sendo inclusive, Conceito de Iluminismo, em parceria com T. W. Adorno, autor de Educação e Emancipação (1971), livro este que complementa este estudo. Com motivação na experiência original dos pesquisadores do Institut für Sozialforschung, desenvolvemos nossas reflexões em constante debate com os demais pesquisadores e estudantes no interior de um Grupo de Pesquisas. Deste modo, apostamos que a constante discussão de idéias, num processo de reflexão coletiva, contribui para o aperfeiçoamento dos estudos produzidos. Encontramos, nos textos de Horkheimer, indicadores que encaminham para a comprovação da hipótese proposta, ou seja, o ideal de emancipação do homem enquanto sujeito racional é revitalizado pela crítica de Max Horkheimer ao modelo de fundamentação da racionalidade contemporânea. O autor faz, em seus escritos de 1937, uma crítica contundente à razão nos moldes do Iluminismo, porém, sem negá-la. Afirma que a crise da racionalidade se deu devido à forma como ela foi historicamente conduzida e ao modelo de sociabilidade a que esteve associada, desde sua origem. Já nos escritos de 1947, apesar de estar menos otimista, ele critica e

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questiona profundamente a razão até no título de seu livro, Eclipse da Razão, que se refere à obscuridade que tomara conta da racionalidade nesses novos tempos. No entanto, afirma perceptivelmente que esse desterro da razão a uma posição subordinada, subjetivada, utilizada para meios, mas não para fins, e sua redução a mero instrumento, afeta inclusive sua utilização até mesmo como instrumento. Anula-se a razão, em nome da busca por novos interesses até então desconhecidos. Em Eclipse da Razão, Horkheimer demonstra estar descontente com os rumos tomados pela razão subjetiva, razão esta que ele próprio descreve como estúpida e ingênua. Para ele, a razão subjetiva perde toda espontaneidade e produtividade para descobrir e afirmar novos conteúdos. Assim, consegue também perder a própria subjetividade. É a razão individualizada que rejeita a si mesma em um círculo vicioso. A razão dos novos tempos tornou o pensamento incapaz de produzir objetividade ou o levou a acreditar que era tudo um imenso desconhecido, uma ilusão. O próprio Horkheimer, provavelmente, não se considerava cético com relação à razão, pois para ele, cético era aquele que, enquanto sujeito cultivado, não tivesse sido contaminado pela civilização, permanecendo unicamente apegado a seus instintos, o cético [...] se alia involuntariamente ao conservadorismo cultural reacionário [...] (Horkheimer, 2002, p.63). Deste modo, a razão que ele critica impreterivelmente é a razão subjetiva que embora muito parecida com as atuais correntes de pensamento, volta aos moldes da Teoria Tradicional arcaica, não unindo teoria e práxis. Esse tipo de racionalidade descrito por Horkheimer fragmenta-se a favor das diferenças e contra a totalidade. Porém não percebe que a luta em favor do diferente, do subjetivo, em nome da improvisação, acaba por mascarar as injustiças, a favor da lógica de dominação. Apesar das duras críticas feitas por Horkheimer à Teoria Tradicional, ele não deixa de conferir o adequado valor às construções desta racionalidade, através dos esforços teóricos já existentes: Se não há continuidade no esforço teórico, então a esperança de melhorar fundamentalmente a existência humana perderá a sua razão de ser. Referimo-nos ao esforço que investiga criticamente a sociedade atual com vista a uma sociedade futura organizada racionalmente, e que é construída com base na teoria tradicional, formada nas ciências especializadas. A existência de positividade e submissão, que ameaça também tornar insensíveis à teoria os grupos mais avançados da sociedade, afeta não só a teoria, mas também a práxis libertadora. (1983b, p. 148)

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Percebe-se claramente na passagem citada que Horkheimer não abre mão de que o projeto social capaz de garantir a definitiva emancipação da humanidade não poderá deixar de ser organizado racionalmente. Mais ainda, não se pode entender a teoria crítica como simples substituta da teoria tradicional. Tal compreensão seria o mais veemente abandono da dialética, uma vez que o devir superador das contradições é sempre subsunção (Aufhebung) dos momentos anteriores, superação e simultânea conservação, enfim, elevação a um superior patamar, seja epistemológico ou ontológico. Daí o fato de o autor sublinhar que a investigação crítica constitui-se com base na teoria tradicional. Outro aspecto imprescindível de ser considerado, tanto pela relevância no contexto de argumentação do autor quanto pela surpreendente atualidade que ainda carrega, diz respeito à perda de rumo de certos grupos sociais que seriam fundamentais para a construção do projeto da radical emancipação humana. Neste sentido, pressentindo que a positividade crua que dominou as ciências modernas pudesse fazer descrer absolutamente na razão, Horkheimer alerta que tal caminho, mais do que afetar a teoria teria incidência nefasta também sobre a práxis libertadora. Por isso, pouco adiante do excerto referido, volta a enfatizar que a necessária crítica ao modelo de racionalidade reinante [...] não tem nada a ver com o princípio de questionar radical e permanentemente qualquer conteúdo teórico e de estar iniciando sempre tudo de novo [...] (Horkheimer, 1983b, p.149) Hoje, infelizmente, constatamos que não era infundada a apreensão do autor. Considerações finais: o inconformismo e a práxis transformadora O dito pessimismo de Horkheimer encontra-se em seu inconformismo com a situação humana de escravização, seja de mitos, medos ou das pressões sociais em relação à própria construção de nós mesmos. Apesar disso, Horkheimer só faz a denúncia da razão por entendêla como um serviço à emancipação e felicidade humanas.

Então, apropriando-nos do

pensamento de Horkheimer, questionamos: deve o pensamento permanecer senhor de si mesmo e preparar, assim, a sua solução teórica ou ira contentar-se em exercer papel de metodologia vazia ou receita garantida? A razão jamais dirigiu a realidade social, mas hoje, se entregou aos interesses e conflitos pós-modernos. Devido a isto, Horkheimer aponta um caminho ao defender a razão objetiva, aquela que representa a essência e exige uma atitude teórico-prática que parte da realidade existente e compromete-se com sua emancipação. O mesmo ocorre com sua Teoria Crítica, que mesmo preocupada com a realidade social existente, não conseguiu exercer a sua função enquanto práxis e inserir-se na sociedade. Para

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Horkheimer, essa busca de inserção da práxis racional na sociedade deveria ser o papel atual da filosofia. Para nós, a busca de inserção da práxis social e racional na escola, deveria ser o papel atual da educação. Para concluir, sugerimos que a busca incessante de emancipação radical e universal se dá na necessidade corajosa da crítica permanente, sempre levando em conta a forma social em que a educação se concretiza. Referências bibliográficas ADORNO, Theodor W, (1995). Educação e Emancipação. Rio de Janeiro: Paz e Terra. ADORNO, Theodor W., HORKHEIMER, Max, (1983). Conceito de Iluminismo. In: BENJAMIN, Walter, HORKHEIMER, Max, ADORNO, Theodor W., HABERMAS, Jürgen. Textos escolhidos. 2. ed. São Paulo: Abril Cultural. (p.89-116/Os Pensadores) GADOTTI, Moacir, (2003). História das Idéias Pedagógicas. São Paulo: Ática. HARGREAVES, Andy, (1998). Os Professores Em Tempos De Mudança: o trabalho e a cultura dos professores na Idade Pós-Moderna. Lisboa: McGrawHill de Portugal. HORKHEIMER, Max, (1983a). Filosofia e Teoria Crítica. In: BENJAMIN, Walter, HORKHEIMER, Max, ADORNO, Theodor W., HABERMAS, Jürgen. Textos escolhidos. 2. ed. São Paulo: Abril Cultural. (p.155-161/Os Pensadores) HORKHEIMER, Max, (1983b). Teoria Tradicional e Teoria Crítica. In: BENJAMIN, Walter, HORKHEIMER, Max, ADORNO, Theodor W., HABERMAS, Jürgen. Textos escolhidos. 2º ed. São Paulo: Abril Cultural. (p.117-154/Os Pensadores) HORKHEIMER, Max, (2002). Eclipse da razão. São Paulo: Centauro. KANT, Immanuel, (1985). Resposta à pergunta: Que é Esclarecimento? In: KANT, Immanuel. Textos seletos. Petrópolis-RJ: Vozes. KANT, Immanuel, (1996). Sobre a Pedagogia. Piracicaba, SP: Editora Unimep. LOUREIRO, Robson; DELLA FONTE, Sandra Soares, (2003). Indústria cultural e educação em “tempos pós-modernos”. Campinas-SP: Papirus. (Coleção Papirus Educação) OLIVEIRA, Avelino da Rosa, (1998). O problema da verdade e a educação: uma abordagem a partir de Horkheimer. Cadernos de Educação, Pelotas, n. 11, p. 31-42, jul./dez. PRESTES, Nadja Mara Hermann, (1996). Educação e Racionalidade: conexões e possibilidades de uma razão comunicativa na escola. Porto Alegre: EDIPUCRS. (Coleção Filosofia, 36)

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