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186 A EVOLUÇÃO DA CIÊNCIA Carlos Alberto Barros Santos Paulo Fernando Oliveira Varela 3º Ano do Curso de Comunicação Social O trabalho que a seguir se...

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A EVOLUÇÃO DA CIÊNCIA

Carlos Alberto Barros Santos Paulo Fernando Oliveira Varela 3º Ano do Curso de Comunicação Social

O trabalho que a seguir se apresenta tem como principal objectivo fazer uma viagem aos aspectos mais relevantes da evolução da ciência, presentes no livro “Um Discurso Sobre as Ciências” de Boaventura Sousa Santos. Nesta altura reveste-se de particular importância esta análise pois a evolução da Ciência constitui um ponto de relativa importância no âmbito da disciplina de Métodos e Técnicas de Investigação Social, leccionada pela Professora Doutora Ana Paula Cardoso. A execução do trabalho contou com a supervisão da referida Professora Doutora, podendo-se distinguir-se duas fases. Uma primeira, que incluiu o contributo dos colegas da turma, na obtenção das respostas às perguntas propostas pela docente. E, uma segunda fase, esta sim mais exaustiva, que resultou na reestruturação, correcção e compilação dessas mesmas respostas, e consequente elaboração deste humilde legado. Contudo e, tendo em conta os quase doze anos após a edição da fonte bibliográfica deste manuscrito, aqui se expõem os aspectos mais importantes acerca da evolução da Ciência.

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- Como é que o autor caracteriza o tempo científico presente? Santos (1990) caracteriza o tempo científico presente como um tempo atónito que está estagnado em relação às potencialidades tecnológicas que o século apresenta. Segundo o autor, vivemos em termos científicos ainda no século XIX e o século XX ainda não começou, nem talvez comece antes de terminar. Além disso existe uma grande ambiguidade e complexidade da situação do tempo presente, que é considerado “um tempo de transição, síncrone com muita coisa que está além ou aquém dele, mas descompassado em relação a tudo que o habita” (p.6). Refere ainda, duas imagens contraditórias: por um lado, as potencialidades da tradução tecnológica dos conhecimentos acumulados fazem-nos crer no limiar de uma sociedade de comunicação e interactividade libertada das carências e inseguranças que ainda hoje compõe os dias de muitos de nós; por outro lado, uma reflexão cada vez mais aprofundada sobre os limites do rigor científico combinada com os perigos cada vez mais verosímeis da catástrofe ecológica ou da guerra nuclear fazem-nos temer o pior para a humanidade. O tempo presente é, pois, um tempo de complexidade e transição a nível científico marcado por antagonismos em relação ao mundo actual envolvente.

“Tal como noutros períodos de transição, difíceis de entender e de percorrer, é necessário voltar às coisas simples, à capacidade de formular perguntas simples, perguntas que, como Einstein costumava dizer, só uma criança pode fazer mas que, depois de feitas, são capazes de trazer uma nova luz à nossa perplexidade” (Santos, 1990, p. 6) - Explique o sentido desta afirmação. A capacidade de formular novas questões deve aguçar o espírito humano perante obstáculos e problemas difíceis de entender e contrariar o cepticismo. Assim, Einstein refere que é necessário recorrer a questões mais elementares, procurando respostas que não suscitem a menor dúvida para a sociedade, atingindo o cerne da questão de uma forma mais simples. As perguntas que Rousseau formulou há cerca de duzentos anos mantêm-se actuais: estamos regressados à necessidade de perguntar pelas relações entre a ciência e a virtude, pelo valor do conhecimento dito ordinário ou vulgar para nós.

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Temos de questionar se todo este conhecimento científico que possuímos traz algo de favorável ou, pelo contrário, desfavorável para a nossa felicidade. As nossas perguntas podem ser simples mas as respostas certamente não o serão. Estamos no fim de um ciclo de hegemonia de uma certa ordem científica.

- Refira, sumariamente, as etapas seguidas pelo autor ao longo deste trabalho. As etapas seguidas pelo autor ao longo deste trabalho são: - Caracterizar sucintamente a ordem científica hegemónica. - Analisar os sinais da crise dessa hegemonia, distinguindo entre as condições teóricas e as condições sociológicas da crise. - Especular, depois, sobre o perfil de uma nova ordem científica emergente distinguindo de novo entre as condições teóricas e as condições sociológicas da sua emergência. - Apresentar, de seguida, as suas “hipóteses de trabalho”: 1º - deixa de fazer sentido a distinção entre ciências naturais e ciências sociais; 2º - as ciências sociais tenderão a fazer a síntese entre estas ciências; 3º - as ciências sociais deverão recusar todas as formas de positivismo lógico ou mecanicismo com a consequente revalorização do que se convencionou chamar humanidades ou estudos humanísticos; 4º - esta síntese não visa uma ciência unificada mas tão só um conjunto de galerias temáticas; 5ª - à medida que se der esta síntese, a distinção hierárquica entre conhecimento científico e conhecimento de senso comum tenderá a desaparecer.

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- Refira-se, sucintamente, à emergência da ciência moderna e ao seu percurso de afirmação durante os séculos XVIII e XIX. A ciência moderna e o modelo de racionalidade que a caracteriza nasce a partir da revolução científica do século XVI. Este foi desenvolvido nos séculos seguintes, basicamente no domínio das ciências naturais, no entanto, a sua afirmação verifica-se, sobretudo, nos século XVIII e XIX. Este modelo vai englobar, também, no século XIX, as ciências sociais e daí que se possa falar de um modelo global de racionalidade científica. Este modelo de Ciência vai afirmar-se progressivamente, em contraposição ao senso comum e às chamadas humanidades ou estudos humanísticos, tornando-se segundo Santos (1990, p.11) “um modelo totalitário na medida em que nega o carácter racional a todas as formas de conhecimento que se não pautam pelos seus princípios epistemológicos e pelas suas regras metodológicas”.

- Refira os principais traços que caracterizam o paradigma cientifico moderno dominante. O paradigma científico moderno deu-nos uma nova visão do mundo e da vida, opondo-se à visão Aristotélica da ciência e do mundo. A ciência moderna é contra todas as formas de dogmatismo e de autoridade. A ciência moderna opõe-se ao conhecimento vulgar (senso comum), na medida em que a ciência desconfia das evidências da nossa experiência imediata. O conhecimento científico avança pela observação descomprometida e livre, sistemática e mais rigorosa possível dos fenómenos naturais. A Matemática fornece à Ciência o instrumento privilegiado de análise, a lógica da investigação e o modelo de representação da própria estrutura da matéria. Na ciência, e ao contrário do senso comum, a determinação da causa formal obtém-se com a expulsão da intenção. “Um conhecimento baseado na formulação de leis tem como pressuposto metateórico a ideia de ordem e de estabilidade do mundo, a ideia de que o passado se repete no futuro”

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- Explicite o pressuposto referido neste extracto de texto. Neste texto está encerrado o pressuposto mecanicista (a ideia de um mundo comparável a uma máquina, cujas operações são determinadas através de leis físicas e matemáticas; a ideia de ordem e de estabilidade do Mundo e de que o passado se repete no futuro).

-Como é que o “determinismo mecanicista” influenciou, no início, os estudos no âmbito das ciências sociais? O “determinismo mecanicista” coloca a ênfase na capacidade de transformar e dominar o real, traduzindo-se num conhecimento que se pretende utilitário e funcional. No âmbito das ciências sociais, por exemplo, houve a preocupação de transferir o modelo de racionalidade das ciências naturais e exactas para o estudo da sociedade. Tal como foi possível com as leis da Natureza, o “determinismo mecanicista” pretendia igualmente descobrir as leis da sociedade. Distinguem-se duas vertentes relativas ao modo como o modelo mecanicista foi assumido. A primeira, e a dominante, consistiu em aplicar na medida do possível, ao estudo da sociedade todos os princípios epistemológicos e metodológicos que se aplicavam ao estudo da Natureza, partindo do pressuposto que as ciências naturais utilizam o único modelo de conhecimento universalmente válido. A segunda, reivindica para as ciências sociais um estatuto epistemológico e metodológico próprio, considerando o ser humano um elemento distinto do estudo da Natureza. - Refira-se às ciências sociais e, concretamente, a alguns dos obstáculos respeitantes à aplicação do princípio do determinismo no sentido absoluto e rigoroso dos fenómenos. Os principais obstáculos respeitantes à aplicação do determinismo absoluto e rigoroso dos fenómenos são (Santos, 1990, pp.20-21): - as ciências sociais não têm como objectivo formular teorias explicativas, revestindo-se de um carácter pré-paradigmático;

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as ciências sociais não estabelecem leis universais, uma vez que os

acontecimentos sociais são condicionados por factores histórico/culturais; - as ciências sociais não podem produzir previsões a nível comportamental, porque os seres humanos modificam o seu comportamento em função do conhecimento que sobre ele se adquire, por se considerarem os factos sociais com natureza subjectiva; - os fenómenos sociais têm um elevado índice de subjectividade e como tal não se deixam captar totalmente pela observação objectiva e rigorosa; - as ciências sociais não são totalmente objectivas porque o cientista social, enquanto tal, não pode libertar-se dos valores que informam e condicionam a sua actividade prática. As ciências sociais têm como objectivo primeiro a obtenção de um conhecimento intersubjectivo, descritivo e compreensivo, em desfavor de um conhecimento objectivo, explicativo e nomotético tão próprio das ciências naturais. “Ambas as concepções de ciência social a que aludi pertencem ao paradigma da ciência moderna, ainda que a concepção mencionada em segundo lugar represente, dentro desse paradigma, um sinal de crise e contenha alguns dos componentes da transição para um outro paradigma científico” (Santos, 1990, p.23). - Explique o sentido desta afirmação. A afirmação pretende evidenciar que o paradigma actual (ciência moderna), já não fornece soluções aos problemas com que as ciências sociais se debatem, sendo necessário proceder a um reajustamento evolutivo do paradigma actual, que estabeleça um novo paradigma que possa fornecer respostas que se colocam no âmbito de uma ciência pós-moderna. - Refira-se, em geral, à crise do paradigma dominante (cf. parte inicial do texto). A crise do paradigma dominante é, no fundo, uma crise que o modelo de racionalidade científica atravessa. Esta crise surgiu no início do século XX e foi despoletada não apenas por um factor, mas por vários. Para além de profunda, esta situação é irreversível. Um dos factores que contribuiu para esta crise foi a evolução científica iniciada por Einstein com a teoria da relatividade (domínio da Astrofísica) e por Planck com a mecânica quântica (domínio da Física Atómica).

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Tendo em conta que a crise do paradigma dominante é o resultado interactivo de uma pluralidade de condições teóricas e sociais, as distinções básicas em que assenta este paradigma vão, de acordo com o autor, seguramente falhar. “A crise do paradigma dominante é o resultado interactivo de uma pluralidade de condições. Distingo entre condições sociais e condições teóricas” (Santos, 1990, p.24). Refira, por ordem, os quatro factores teóricos apresentados pelo autor ao longo do texto. Os factores teóricos apresentados pelo autor, ao longo do texto, e que permitem identificar os limites e as insuficiências estruturais do paradigma científico moderno são: a revolução nas concepções de espaço e de tempo, com a teoria da relatividade de Einstein; a impossibilidade de observar ou medir um objecto com rigor sem interferir nele e o alterar – princípio da incerteza de Heisenberg (mecânica quântica); as investigações de Gödel, que o levam a questionar o fundamento do rigor matemático; e, por último, os avanços do conhecimento nos domínios da Microfísica, da Química e da Biologia, que conduzem a uma nova concepção da matéria e da natureza. - Explique cada um deles e mostre as implicações que tiveram na evolução da Ciência. Quanto ao primeiro factor teórico, Einstein (domínio da astrofísica) revolucionou as concepções de tempo e espaço absolutos de Newton, dando à luz o conceito da relatividade da simultaneidade. Este cientista distingue a simultaneidade de acontecimentos presentes no mesmo lugar e a simultaneidade de acontecimentos distantes, separados por distâncias astronómicas. Esta teoria contraria a concepção de tempo e espaço absolutos de Newton surgindo uma nova ideia de tempo e espaço, e com ela a noção de relatividade dos fenómenos. Quanto ao segundo factor teórico, a mecânica quântica relativisou o rigor das leis de Newton no domínio da Microfísica. A ideia fundamental deste segundo factor é a de não ser possível observar ou medir um objecto sem interferir nele. Heisenberg, ao formular o princípio da incerteza, revela-nos que “não se podem reduzir

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simultaneamente os erros da medição da velocidade e da posição das partículas; o que for feito para reduzir o erro de uma das medições aumenta o erro da outra”. Ou seja, o sujeito interfere no objecto observado. Desta forma, o nosso conhecimento é limitado e só podemos conseguir resultados aproximados e assim, as leis da física são apenas leis probabilísticas. O terceiro factor surge com as investigações de Gödel que vêm demonstrar que o rigor matemático também carece de fundamento, e isso põe em causa, também, o rigor das leis da natureza. Finalmente, o quarto factor teórico está ligado aos avanços do conhecimento nos domínios da Microfísica, da Química e da Biologia que se verificaram nos últimos vinte anos. Estes avanços mostram-nos uma nova concepção da matéria e da natureza, o que fez alterar ou mesmo substituir a forma como determinados princípios eram vistos. Assim, “em vez de eternidade, a História; em vez do determinismo, a imprevisibilidade; em vez do mecanicismo, a interpenetração, a espontaneidade e a auto-organização; em vez da reversibilidade a irreversibilidade e a evolução; em vez da ordem, a desordem; em vez da ordem, a desordem; em vez da necessidade, a criatividade e o acidente” (Santos, 1990, p.28). “Este movimento científico e as demais inovações teóricas que atrás defini como outras tantas condições teóricas da crise do paradigma dominante têm vindo a propiciar uma profunda reflexão epistemológica sobre o conhecimento científico, uma reflexão de tal modo rica e diversificada que, melhor de que qualquer outra circunstância, caracteriza exemplarmente a situação intelectual do tempo presente. Esta reflexão apresenta duas facetas sociológicas importantes” (Santos, 1990, pp. 2930). - Refira as duas facetas sociológicas importantes consideradas pelo autor. Na opinião de Boaventura Sousa Santos o movimento científico e as demais inovações têm proporcionado uma profunda reflexão epistemológica sobre o conhecimento científico, que assenta em duas facetas sociológicas importantes. A primeira é feita pelos próprios cientistas, isto é, cientistas dotados de interesse filosófico, pelo que reflectem sobre a própria ciência, sendo lícito afirmar a existência, actualmente, de muitos “ cientistas-filósofos” (Santos, 1990, p.30).

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Esta corrente nasceu em contrapondo ao positivismo do século XIX o qual gerou uma aversão, por parte dos cientistas, pela reflexão filosófica, ou seja, a Ciência procurava exaustivamente encontrar uma justificação universal e objectiva aos problemas, sem reflectir sobre estes. Assim, exacerbados pelo enorme desejo de conhecimento de nós próprios e dos problemas que nos rodeiam, os cientistas, para além de recorrerem à ciência, começaram, também, a alicerçar-se na filosofia como meio de problematizar a sua prática científica. A segunda faceta de análise assenta em questões, anteriormente de carácter sociológico, como são as análises dos contextos socioculturais, e a análise dos modelos organizacionais da investigação científica, que na actualidade ocupam um relevante papel na reflexão epistemológica. - Refira também alguns dos temas mais salientes desta reflexão. Para Santos (1990), os principais temas de reflexão epistemológica assentam, em primeiro lugar, no conceito de lei e no conceito de causalidade que lhe está associado. Quando se fundam as leis da Natureza parte-se do pressuposto que os fenómenos observados dependem de um conjunto de condições cuja influência é observada e medida. Todavia, por mais completo que se pense ser o conhecimento, na verdade não o é, pois a não observação de alguns fenómenos revela um conhecimento imperfeito, logo as previsões feitas são provisórias ou precárias. Assim, é lícito afirmar-se que as leis têm um carácter probabilístico, aproximativo e provisório, bem expresso no princípio da falsificabilidade de Popper. Esta simplicidade das leis conduz a uma simplificação dos conhecimentos naturais. Na Biologia, e noutras ciências, a noção de lei tem vindo a ser parcial e sucessivamente substituída pela noção de sistema, de estrutura, de modelo e, por último, pela noção de processo. “O declínio da hegemonia da legalidade é concominante do declínio da hegemonia da causalidade” (Santos, 1990, p.31). O segundo grande tema de reflexão epistemológico versa mais sobre o conteúdo do conhecimento científico do que sobre a sua forma. De facto, como afirma Prigogine o conhecimento científico moderno reduz a natureza a um “interlocutor terrivelmente estúpido” (Santos, 1990, p.32), pelo que, deste modo, se reduz o suposto diálogo experimental entre cientista e natureza a uma acção de prepotência deste sobre a natureza. Este conhecimento baseado no conhecimento matemático “quantifica, desqualifica, objectualiza e caricaturiza a natureza, perdendo esta a sua personalidade

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em favor da do cientista” (Santos, 1990, p.32). Assim, o conhecimento ganha em rigor mas perde em riqueza e retumbância dos êxitos de intervenção tecnológica, reflectindo os limites da compreensão humana sobre o mundo. - A crise do paradigma da ciência moderna explica-se, também, por condições sociais. Refira algumas dessas condições. A crise do paradigma da Ciência explica-se tanto por condições teóricas como por condições sociais, todavia, ainda que tenha alguns limites ultimamente a Ciência ganhou em rigor e perdeu em auto-regulação. A nível social deve destacar-se a industrialização da ciência que conduziu, tanto nas sociedades capitalistas como nas sociedades socialistas de Leste, a um compromisso desta com os centros de poder económico, social e político, os quais passaram a ter um papel decisivo na definição das prioridades de investigação científica. Tome-se como exemplo os avanços científicos da II Guerra Mundial, nomeadamente a bomba atómica. No domínio da organização do trabalho científico a industrialização da Ciência conduziu, por um lado, à estratificação da comunidade científica, ou seja, as relações de poder entre os cientistas tornaram-se desiguais e autoritárias, sendo muitos cientistas “proletarizados” no interior dos laboratórios e centros de investigação. Por outro lado, a investigação capitalista-intensiva acentuou o fosso entre países ricos e pobres a nível de investigação científica, devido às dificuldades em adquirir material por parte destes últimos. - Refira as principais ideias relativas ao paradigma emergente apresentadas na parte introdutória do texto. Como designa Boaventura Sousa Santos o novo paradigma da ciência? Segundo o autor, o paradigma emergente só se atinge através da especulação e a sua compreensão varia de pessoa para pessoa já que, ao fazermos esta análise do futuro, esta é feita de acordo com uma interpretação pessoal. Daí que seja compreensível a disparidade de interpretações existentes, ainda que contenham pontos comuns. Boaventura Sousa Santos defende a existência “do paradigma de um conhecimento prudente para uma vida decente” (Santos, 1990, p.37). Como o próprio

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autor explica, esta noção não se circunscreve, simplesmente, a uma mudança científica, mas implica, também, uma revolução social. “Todo o conhecimento científico-natural é científico-social” (Santos, 1990, p.37). - Explique, em linhas gerais, o sentido desta afirmação/tese. Para explicarmos esta tese é estritamente imprescindível termos em consideração a primeira frase de Santos (1990): “a distinção dicotómica entre ciências naturais e ciências sociais deixou de ter sentido e utilidade” (p.37). Os avanços recentes da Física e da Biologia, bem como de outros ramos do saber, questionam esta distinção entre o orgânico e o inorgânico, entre o humano e o não humano, natureza e cultura, natural e artificial, mente e matéria e outras dicotomias, que até há bem pouco tempo se consideravam familiares e óbvias. Condensam-se nelas as contradições entre as ciências naturais e ciências sociais, agora suprimidas. Por outro lado, é de salientar a intenção subjacente aos modelos explicativos de ambas, que procuram aplicar-se ao domínio contrário. Ou seja, teorias naturais aspiram colmatar falhas de âmbito social e vice-versa. A superação desta dicotomia tende a revigorar os estudos humanísticos que, segundo o autor, não ocorrerá sem que as humanidades sejam, também, profundamente transformadas. Esta primeira tese, ao defender que todo o conhecimento é também social, introduz “conceitos de historicidade e de processo, de liberdade e de autodeterminação e até de consciência” (Santos, 1990, p.38).

“Todo o conhecimento é local e total” (Santos, 1990, p. 46). - Explique em linhas gerais o sentido desta afirmação/tese. A ciência moderna tem a tendência a especializar-se cada vez mais, à medida que o conhecimento progride. O conhecimento é tanto mais rigoroso quanto mais restrito for o objecto de estudo. No entanto, aí reside o “dilema básico da ciência moderna: o seu rigor aumenta na proporção directa da arbitrariedade com que espartilha o real” (p.46). A excessiva parcelização e disciplinarização faz do cientista um

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ignorante especializado ou seja, que apenas detém conhecimento de uma parte muito específica do saber e claro isso acarreta efeitos negativos sobretudo nas ciências aplicadas. Por exemplo, o médico vê o doente como apenas uma pequena quadrícula do que realmente é o corpo humano. São notórias todas as desvantagens desta parcelização ou disciplinarização do conhecimento, mas não se tem conseguido corrigir este “problema”. A solução provavelmente não existe no seio do paradigma dominante. Assim, no paradigma emergente, o conhecimento é total e tem como horizonte a totalidade universal ou a totalidade indivisa: “todo o conhecimento é local e total”. Este conhecimento baseia-se em temas que são adoptados por grupos sociais concretos como projectos de vida locais. A fragmentação pós-moderna não é disciplinar mas sim temática. Os temas são galerias por onde os conhecimentos progridem ao encontro uns dos outros. Ao contrário do paradigma actual, o conhecimento avança à medida que o objecto se amplia, abrangendo as mais diversas vertentes do problema.

“Todo o conhecimento é auto-conhecimento” (p.50) - Explique, em linhas gerais, o sentido deste tema. Para a ciência moderna o conhecimento é objectivo, factual e rigoroso e não tolera a interferência dos valores humanos e religiosos. Assim sendo, há uma distinção dicotómica sujeito/objecto. Porém, esta distinção relativamente aceite nas ciências naturais, foi sempre pouco pacifica nas ciências sociais. Nestas, a distinção epistemológica entre sujeito e objecto diminui, havendo necessidade de utilizar metodologias de distanciamento: por exemplo, o inquérito sociológico, a análise documental e a entrevista estruturada. No entanto, segundo Santos (1990) “uma nova gnose está em gestação”, considerando-se que todo o conhecimento científico é auto-conhecimento: “A Ciência não descobre, cria e os pressupostos metafísicos, os sistemas de crenças e os juízos de valor são parte integrante da explicação científica” (p.52). No paradigma emergente, o carácter autobiográfico e auto-referenciável da Ciência é plenamente assumido. “A qualidade do conhecimento afere-se menos pelo que ele controla ou faz funcionar no mundo exterior do que pela satisfação pessoal que dá a quem a ele acede e o partilha” (Santos, 1990, p.54).

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“Todo o conhecimento científico visa constituir-se em senso comum” (Santos, 1990, p. 55). - Explique, em linhas gerais, o sentido desta afirmação. Esta tese afirma, basicamente, que a ciência pós-moderna deve dialogar com outras formas de conhecimento, em particular com o conhecimento do senso comum. Deste modo, considera-se que “tal como o conhecimento se deve traduzir em autoconhecimento, o desenvolvimento tecnológico deve traduzir-se em sabedoria de vida” (Santos, 1990, p.57), num saber prático, que ensina a viver.

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