de parques e jardins de Lisboa, e uma viagem botânica a todos os continentes sem sair da cidade. São mais de 120 espécies de plantas referidas nos textos e assinaladas nos mapas dos parques e jardins, incluindo árvores que são autênticos monumentos vivos, para além de muitas curiosidades interessantes. Uma selecção de 51 parques e jardins, incluindo três jardins botânicos, acompanhados de mapas graficamente apelativos e fichas com informações úteis. Uma imensa colecção de cenários e paisagens, ambiências, recantos, vistas e formas para desfrutar. A história também está presente, a enquadrar cada parque e jardim, guardando ainda muitas histórias para contar. Mais de 300 fotografias estão reunidas nesta obra, ilustrando perspectivas, pormenores e ambientes. Foram também seleccionados seis geomonumentos da cidade. É um livro inédito. Uma outra face de Lisboa espera por si. Venha descobri-la.
GUIA DOS PARQUES, JARDINS E GEOMONUMENTOS DE LISBOA
ESTE GUIA PROPÕE uma descoberta do património
P RO D U Ç Ã O
W W W . N A T U R T E R R A . C O M
GUIA DOS PARQUES, JARDINS E GEOMONUMENTOS DE LISBOA
FICHA TÉCNICA Edição: CÂMARA MUNICIPAL DE LISBOA (Pelouro do Ambiente, Espaços Verdes, Plano Verde, Higiene Urbana e Espaço Público) Produção: NATURTERRA Coordenação editorial: David Travassos (Naturterra) Textos: Aurora Carapinha (texto de abertura), Cláudia Pinto (descrição dos geomonumentos/CML), David Travassos (títulos, aberturas e descrição inicial dos parques e jardins/Naturterra), João Paulo Gomes (descrição da flora/Naturterra), José Vicente (descrição dos geomonumentos/CML), Nuno Ludovice (enquadramento histórico dos parques e jardins/CML) Fotografia: David Travassos (fotos dos parques e jardins destacados, do texto de abertura e da capa/Naturterra), Luís Tinoco Faria (fotos dos parques e jardins não destacados/Naturterra), José Vicente (fotos dos geomonumentos/CML) Investigação histórica dos parques e jardins: Nuno Ludovice (CML) Projecto gráfico: Miguel Félix (Naturterra) Cartografia: Luís Tinoco Faria (Naturterra) Edição dos mapas: David Travassos (Naturterra), João Paulo Gomes (Naturterra) Assessoria administrativa: Maria José Marreiros (CML) AGRADECIMENTOS: Câmara Municipal de Lisboa — Eng.º Ângelo Horácio de Carvalho Mesquita (Direcção Municipal de Ambiente Urbano); Eng.ª Inês Barreto Dias de Castro Henriques (departamento de Ambiente e Espaços Verdes), Arq.º João Paulo da Gama Leite de Barros da Rocha e Castro, Arq.ª Cristina Duarte, Arq.º Paulo Cardoso, Arq.ª Rosário Salema, Dra. Sandra Duarte (Divisão de Estudos e Projectos); Dra. Cristina Pereira Santos Andrade Gomes (Divisão de Educação e Sensibilização Ambiental); Arq.º Artur José Canal Madeira, Arq.ª Rosa Rodrigues, Eng.º Souto Cruz (Divisão de Matas); Eng.ª Ana Júlia de Lima Soares Francisco, Eng.º Vera Cruz (Divisão de Jardins); Dra. Maria Manuela Canedo (Direcção Municipal de Cultura/Gabinete de Estudos Olisiponenses); Dra. Mónica Queiroz (Divisão de Gestão de Arquivos/Arquivo do Arco do Cego); Dr. Álvaro Tição (Departamento de Património Cultural); Ministério da Cultura — Dra. Graça Mendes Pinto (Instituto dos Museus e da Conservação/Galeria de Pintura do Rei D. Luís); Dra. Clara Vaz Pinto, Arq.º Rui do Rosário Costa (Museu Nacional do Traje e da Moda); Fundação das Casas de Fronteira e Alorna — Dr. Filipe Benjamim dos Santos; Gabinete do Primeiro-Ministro – Jardim do Palácio de São Bento; EPAL – Empresa Portuguesa de Águas Livres, S. A. – Casa do Arco A título individual — Arq.º Paulo Pais, Arq.º Duarte Mata, Dr. Rui Lérias, Arq.º Bruno Alves Silva. Depósito Legal N.º: 293342 ISBN: 978-972-98489-1-9 Impressão: Divisão de Imprensa Municipal (Direcção Municipal de Serviços Centrais), Estrada de Chelas, n.º 101, 1900-154 Lisboa Tiragem: 4.000 exemplares Lisboa, Junho de 2009
GUIA DOS PARQU E S , JA R D I N S E G E O M O N U M E N TO S D E L I S B OA
ÍNDICE Prefácio .......................................................................................................................... 6 Introdução ..................................................................................................................... 8 Texto de abertura ......................................................................................................... 10 Mapa geral de Lisboa .................................................................................................... 16 Zona Ocidental ........................................................................................................ 18 Parque Florestal de Monsanto....................................................................................... 20 Jardim do Palácio Fronteira .......................................................................................... 38 Parque Recreativo dos Moinhos de Santana .................................................................. 48 Tapada da Ajuda........................................................................................................... 56 Jardim Botânico da Ajuda ............................................................................................ 68 Jardim Botânico Tropical / Jardim do Museu Agrícola Tropical .................................... 78 Jardim Ducla Soares / Ermida de São Jerónimo ............................................................ 88 Tapada das Necessidades e Jardim Olavo Bilac.............................................................. 92 Jardim Teófilo Braga / Jardim de Campo de Ourique / Jardim da Parada .................... 106 Jardim da Estrela / Jardim Guerra Junqueiro .............................................................. 110 Jardim Lisboa Antiga .................................................................................................. 120 Miradouro do Alto de Santa Catarina / Jardim do Adamastor .................................... 123 Jardim do Príncipe Real / Jardim França Borges ......................................................... 126 Jardim Botânico da Universidade de Lisboa / Jardim Botânico do Museu de História Natural .......................................................... 134 Jardim Alfredo Keil / Praça da Alegria ........................................................................ 146 Jardim de São Pedro de Alcântara / Jardim António Nobre ......................................... 149 Jardim da Gulbenkian ................................................................................................ 152 Jardim do Beau Séjour ................................................................................................ 162 Parque Bensaúde / Quinta de Santo António das Frechas ........................................... 166 Jardim das Amoreiras / Jardim Marcelino Mesquita .................................................... 174 Geomonumentos da Zona Ocidental ......................................................................... 178 Outros jardins da Zona Ocidental .............................................................................. 180 Zona Ribeirinha .................................................................................................... 184 Conjunto Monumental de Belém / Jardim do Império, Jardim Vasco da Gama e Jardim da Praça Afonso de Albuquerque .................................................................. 186 Jardim da Torre de Belém ........................................................................................... 196 Jardim 9 de Abril / Jardim da Rocha Conde de Óbidos .............................................. 199 Jardim Nuno Álvares / Jardim de Santos ..................................................................... 202 Jardim Sá da Bandeira / Praça D. Luís I ...................................................................... 205 4
Ín d i c e
Jardim Garcia da Orta ................................................................................................ 208 Parque Tejo e Trancão (concelho de Lisboa)................................................................ 216 Outros jardins da Zona Ribeirinha ............................................................................. 224 Zona Norte............................................................................................................. 226 Parque Silva Porto ...................................................................................................... 228 Jardim do Seminário da Luz ....................................................................................... 232 Parque do Monteiro-Mor ........................................................................................... 240 Jardim da Quinta de Santa Clara ................................................................................ 252 Geomonumentos da Zona Norte................................................................................ 255 Outros jardins da Zona Norte .................................................................................... 256 Zona Central .......................................................................................................... 258 Parque da Quinta das Conchas e dos Lilases ............................................................... 260 Parque Oeste / Parque do Vale Grande ....................................................................... 270 Jardim do Campo Grande / Campo 28 de Maio ........................................................ 272 Jardim do Museu da Cidade ....................................................................................... 281 Jardim do Campo Pequeno / Jardim Marquês de Marialva ......................................... 285 Parque Eduardo VII e Estufa Fria ............................................................................... 288 Jardim Amália Rodrigues ............................................................................................ 298 Avenida da Liberdade ................................................................................................. 301 Geomonumentos da Zona Central ............................................................................. 305 Outros jardins da Zona Central ................................................................................. 305 Zona Oriental ........................................................................................................ 306 Jardim do Castelo de São Jorge ................................................................................... 308 Miradouro de Santa Luzia .......................................................................................... 316 Jardim Braamcamp Freire / Campo de Santana / Campo dos Mártires da Pátria ......... 319 Jardim do Torel .......................................................................................................... 323 Alameda Dom Afonso Henriques ............................................................................... 326 Jardim Botto Machado / Jardim de Santa Clara .......................................................... 329 Jardim do Museu da Água .......................................................................................... 332 Parque da Madre de Deus........................................................................................... 334 Parque do Vale do Fundão .......................................................................................... 339 Parque do Vale do Silêncio ......................................................................................... 342 Parque José Gomes Ferreira / Parque de Alvalade ....................................................... 350 Parque da Bela Vista ................................................................................................... 358 Outros jardins da Zona Oriental ................................................................................ 366 Índice das plantas indicadas nos textos ....................................................................... 372 5
GUIA DOS PARQU E S , JA R D I N S E G E O M O N U M E N TO S D E L I S B OA
INTRODUÇÃO
E
ste guia é um convite a uma viagem ao rico património de parques e jardins de Lisboa, permitindo, por exemplo, conhecer notáveis árvores de espécies oriundas de todos os continentes, algumas das quais autênticos monumentos vivos, desde os metrosideros do jardim da Praça da Alegria e da colossal azinheira do Parque Bensaúde, à gigantesca araucária-de-Norfolk do Parque do Monteiro-Mor, passando pelas enormes figueiras exóticas do Jardim Botânico Tropical, do Jardim Botânico da Universidade de Lisboa ou do Jardim do Príncipe Real. Para cada parque e jardim destacámos um conjunto de espécies e exemplares, levando em conta uma perspectiva global sobre todos os parques e jardins. No entanto não deixa de haver alguma subjectividade nessa escolha, e não pretendemos de forma alguma reduzir a importância de todas as espécies e exemplares não destacados. Mesmo assim estão descritas e assinaladas nos mapas dos parques e jardins mais de 120 espécies de plantas e com informação útil e diversificada sobre cada uma delas. Foi ainda dada uma atenção especial às espécies nativas de Portugal, permitindo conhecer a diversidade botânica do país. É também uma viagem pela história de
Portugal e da cidade de Lisboa, com muitas histórias para contar, desde a antiga fábrica de seda no Jardim das Amoreiras — onde inicialmente foram plantadas 331 amoreiras para a cultura dos bichos-de-seda — às diferentes vidas que animaram ao longo do tempo o Jardim do Campo Grande. É também um encontro com inúmeros monumentos da cidade, alguns dos quais emblemáticos, sobretudo os que estão devidamente enquadrados por espaços verdes. São séculos de história reunidos na totalidade dos parques e jardins, de diferentes tipologias e épocas, desde antigas quintas de recreio até aos muitos jardins de inspiração Romântica, sem esquecer os espaços mais contemporâneos da arquitectura paisagista, como o Jardim da Gulbenkian, o Parque do Vale do Silêncio ou o Parque Tejo. Sobra ainda o património geológico da cidade, de uma escala temporal que ultrapassa a génese da humanidade, tendo sido destacados pela Câmara Municipal de Lisboa seis geomonumentos da cidade, de um conjunto total de 17. Mas este livro propõe sobretudo uma viagem pelos sentidos, pois a diversidade de paisagens e cenários, ambiências, recantos, formas, cores e aromas proporcio8
In t ro d u ç ã o
nados pelos parques e jardins de Lisboa a isso convidam. E com um clima aprazível e muitos dias de sol descoberto que enaltecem as cores e tonalidades naturais. Este guia propõe ainda quatro percursos pedestres, com alguns quilómetros cada, que prometem desvendar alguns segredos do imenso Parque Florestal de Monsanto (três percursos) e da notável, e por vezes esquecida, Tapada da Ajuda (um percurso). Locais, onde, pela sua dimensão, se pode descobrir a vida selvagem da cidade, incluindo esquilos, coelhos, águias-de-asa-redonda, pica-paus, gaios, pombos-torcazes, patos-reais, galinhasde-água, garças, entre muitas outras espécies. Em Lisboa podem ser observadas mais de 60 espécies de aves selvagens, e até diversas espécies exóticas que se naturalizaram na cidade, como os distintos periquitos-de-colar ou rabijuncos, e em menor número, os periquitosmonge e os periquitões-de-cabeça-azul. Para além de uma ficha que reúne uma série de informações úteis, os 51 parques e jardins destacados estão quase sempre acompanhados por um mapa com a indicação, pormenorizada, das espécies de plantas referidas nos textos, da estatuária presente (existem largas dezenas de estátuas ou esculturas no conjunto dos par-
ques e jardins de Lisboa), dos bebedouros, das cafetarias e restaurantes, dos parques infantis. Os mapas permitem uma autonomia na visita dos parques e jardins, nomeadamente nos de maior dimensão, sendo, em inúmeros casos, a única base cartográfica disponível ao público. A selecção dos parques e jardins, quer os destacados quer os não destacados, foi quase na totalidade proposta pela Câmara Municipal de Lisboa, tal como a sua organização no guia por zonas geográficas da cidade. A maior parte dos mapas teve como base o acervo cartográfico da Câmara, e todos foram actualizados com confirmações no terreno. Para além da contemplação e de observação da natureza, a colecção de parques e jardins de Lisboa permite excelentes oportunidades de convívio, de descanso, de introspecção e reflexão, de leitura e de estudo, de exercício físico, de lazer e de pura evasão à rotina do dia-a-dia e do bulício citadino. A elaboração deste guia foi um trabalho apaixonante, e até uma descoberta de uma outra dimensão da cidade. Cabe agora ao leitor juntar-se a nós, e surpreender-se com a face verde de Lisboa. DAVID TRAVASSOS (coordenador editorial)
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Jardim Botânico Tropical
GUIA DOS PARQUES, JA R D INS E G E O MO NU ME NTO S D E L I SB OA
JARDIM BOTÂNICO TROPICAL / JARDIM-MUSEU AGRÍCOLA TROPICAL
Uma pérola tropical
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É um dos jardins mais bonitos da capital, o que logo se percebe quando percorremos a sua alameda principal ladeada por grandes palmeiras. Um lago com uma ilha, canais de água, relvados salpicados de árvores de todos os continentes, um jardim de buxo e até um jardim oriental. Um belo cenário secular, onde a natureza foi sabiamente recriada pelo homem. 79
Jardim Botânico Tropical
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réplica da entrada do pagode mais antigo de Macau — o Pagode da Barra —, construída por ocasião da Exposição do Mundo Português em 1940, que comemorou os 800 anos da Independência de Portugal e os 300 anos da Restauração. Como o nome indica, procurou-se recriar um jardim oriental, obedecendo aos seus elementos estruturais, como os percursos sinuosos e intimistas com a vegetação, ou a presença constante de jogos de água e pequenas pontes, e como é claro, a utilização de espécies oriundas do Extremo Oriente, como o bambu, os hibiscos e as cameleiras. O cimo de todo este cenário botânico é enquadrado, já num tabuleiro superior, pela fachada do Palácio dos Condes da Calheta (séculos XVII-XVIII), e pelo seu geométrico jardim de buxo. A rua das palmeiras O “Jardim Oriental” recria o ambiente dos jardins do Oriente, utilizando espécies vegetais desta região.
A
partir do portão de entrada, o Jardim Botânico Tropical impõe logo a sua presença e a sua atmosfera particular. É um espaço que convida ao descanso e relaxamento, a um encontro com livros ou pessoas, ou à pura contemplação das plantas. É um jardim aberto, arejado, com um permanente jogo de luz e sombras. E a idade fê-lo amadurecer como o vinho. Criado há mais de um século, em 1906, no contexto da organização dos serviços agrícolas coloniais e do Ensino Agronómico Colonial, denominava-se então Jardim Colonial. Hoje integra o Instituto de Investigação Científica Tropical. São cerca de 500 espécies de plantas reunidas no jardim e nas suas estufas, a maioria das quais de origem tropical e subtropical, embora também se encontrem exemplares de climas temperados, como o nosso. Uma das curiosidades deste espaço é o “Jardim Oriental”, assinalado distintamente pelo seu portal de entrada em forma de arco. É uma
INFORMAÇÕES ÚTEIS • Área total: 7 hectares • Ano de criação: 1906 (origem), 1912 (instalação neste local) • Endereço: Calçada do Galvão • Entrada: adultos (1,5 €), dos 7 anos aos 18 anos e maiores de 65 anos (0,75 €), crianças até aos 6 anos (gratuita) • Abertura: encerra aos feriados • Horário de abertura: horário de Verão (26 de Abril a 28 de Outubro: 10h-18h nos dias úteis e 11h-18h aos fins-de-semana); horário de Inverno (29 de Outubro a 24 de Abril: 9h-17h nos dias úteis e 10h-17h aos fins-de-semana); • Acesso a pessoas c/ mobilidade reduzida: sim • Parque infantil: não • Café, restaurante e esplanada: não • WC: sim (com acesso a cadeiras de rodas) • Parque de merendas: não • Acesso a cães: não • Actividades lúdicas: passeios a pé • Acesso por transportes públicos: autocarros (4, 727, 728, 729, 751), eléctricos (15)
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As palmeiras que ladeiam a rua principal fazem-se notar ainda antes de se transporem os portões deste jardim. O alinhamento é composto por duas espécies similares, a palmeira-da-Califórnia (Washingtonia filifera) (1) e a palmeira-do-México (W. robusta) (2). O nome do género foi uma homenagem ao primeiro Presidente dos EUA, George Washington. Muito similares nas folhas, em forma de leque, distinguem-se por a primeira apresentar um “tronco” mais grosso. A palmeira-da-Califórnia é originária da Califórnia, e deve o seu epíteto filifera aos filamentos das suas folhas, usados no fabrico de sandálias pelos índios locais. Estes incluiam ainda os frutos desta palmeira na sua alimentação. As folhas mortas persistem agarradas ao tronco, criando uma “saia” volumosa. Com um crescimento rápido, atingem os 20 m de altura e podem viver até aos 200 anos. Estão bem adaptadas à secura e ao ambiente mediterrânico, idêntico ao da Califórnia. A palmeira-do-México é originária do noroeste do México, tem um crescimento mais
As palmeiras que ladeiam a rua principal fazem-se notar ainda antes de se transporem os portões deste jardim.
lento, mas atinge uma maior altura, apresentando um “tronco” mais delgado. É a palmeira que surge em quase todos os filmes rodados em Hollywood. De um lado e do outro desta rua podemos observar espécies consideradas “fósseis vivos”, expressão utilizada pela primeira vez por Charles Darwin na sua obra “A Origem das Espécies”, publicada em 1859. Esta expressão caracteriza os seres vivos que sobreviveram durante milhões de anos sem alterações significativas. Destas espécies destacam-se algumas árvores como o ginkgo (Ginkgo biloba) (3), a metasequoia (Metasequoia glyptostroboides) e o pinheiro-do-Chile (Araucaria araucana) e algumas espécies de porte arbustivo como as dos géneros Cycas, Dioon e Encephalartos, que constituíam 81
Jardim Botânico Tropical
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HISTÓRIA CRIADO A 25 DE JANEIRO de 1906, por Decreto Ré-
e em harmonia com o disposto no art. 3.º do Decreto
gio, no reinado de D. Carlos I (1863-1908), o então
N.º 2.089, de 25 de Novembro de 1915, para que o
denominado Jardim Colonial, assim como o Museu
ensino de Agronomia Colonial, ministrado no Institu-
Agrícola Colonial, são instituídos no contexto da res-
to Superior de Agronomia, possa ser feito pela forma
truturação dos serviços agrícolas coloniais e do ensi-
mais proveitosa possível.»
no Agronómico Colonial, ficando ambas instituições
No jardim destaca-se o seu grande lago localizado
sob a tutela do Instituto de Agronomia e Veterinária.
nas proximidades da entrada principal. Terá sido ex-
A instalação do museu efectivou-se em Maio de 1912
pressamente construído para embelezar esta antiga
no antigo Palácio dos Condes de Calheta (século XVII-
dependência do Palácio de Belém por ocasião da vi-
XVIII).
sita do Rei Afonso XIII de Espanha a Portugal.
Em 1912 o Jardim Colonial transferiu-se da Quinta
A partir de 1944, o Jardim Colonial funde-se com
das Laranjeiras (onde se tinha instalado em 1907)
o Museu Agrícola Colonial, passando a designar-se
para a maior parte da antiga “Cerca do Palácio de
por Jardim e Museu Agrícola Colonial, deixando de
Belém” (propriedade situada entre o Mosteiro dos
estar sob a alçada do Instituto Superior de Agrono-
Jerónimos e o Museu Nacional dos Coches), mas que
mia. A designação em 1951 altera-se para Jardim e
à data se encontrava devoluta, compreendendo uma
Museu Agrícola do Ultramar, passando a integrar-se
área de terreno de cerca de 5 hectares considerada
em 1974 na Junta de Investigações do Ultramar, hoje
suficiente para o projecto de ampliação do jardim.
Instituto de Investigação Científica Tropical (IICT). Em
Igualmente pesou nesta escolha a sua localização
1983 o Jardim adopta a designação de Jardim-Mu-
(virada a sul, situada numa encosta de vertente sua-
seu Agrícola Tropical, constituindo uma das unidades
ve) e ainda a existência de um abundante manancial
funcionais do (IICT). Numa perspectiva de dinamização e realização
de água nativa, proveniente de um poço e de várias minas ali existentes.
de actividades de cariz técnico, pedagógico, cultu-
Após a sua cedência feita pelo Ministério dos
ral e de apoio à comunidade, no enquadramento
Negócios Estrangeiros, iniciaram-se os trabalhos de
dos objectivos do jardim, foi criada em 2005 a
adaptação, substituindo o arvoredo existente por
Liga dos Amigos do Jardim Botânico Tropical, “as-
plantas exóticas em conformidade com os objecti-
sociação sem fins lucrativos que se propõe, ainda,
vos enunciados no Decreto de 10 de Maio de 1919
angariar fundos complementares e contribuir para
para a renovada instituição, dos quais se destacam:
a definição das linhas orientadoras do Jardim Bo-
«Fazer o estudo sistemático da flora económica das
tânico Tropical”.
Colónias Portuguesas e organizar os respectivos her-
Actualmente os objectivos do Jardim Botânico
bários e contribuir, juntamente com o Museu Agríco-
Tropical, designação atribuída nos primeiros anos
la Colonial, para o estudo económico das Plantas e
do século XXI, fundamentam-se em três vertentes
respectivos produtos das regiões tropicais e subtro-
principais: constituir um pólo para o estudo técni-
picais, com o fim de elucidar sobre a possibilidade
co e científico do IICT; ser “montra” de exposições
da sua exploração económica nas nossas Colónias
e outros eventos capazes de atrair e sensibilizar
ou de melhorar as explorações existentes; promover
o público para a importância, não só da enorme
o estudo da fitopatologia colonial e respectivos trata-
riqueza de exemplares da flora tropical e subtropi-
mentos preventivos e terapêuticos; divulgar conheci-
cal presentes no jardim; e divulgação da colecção
mentos sobre a flora e agricultura coloniais e forne-
existente na Xiloteca, que integra madeiras de todo
cer, juntamente com o Museu Agrícola Colonial, as
as partes do mundo, bem como o Herbário, situado
informações sobre assuntos da sua competência que
no “Pátio das Vacas”, que aloja cerca de 50 mil
lhe forem solicitados por entidades oficiais ou parti-
exemplares de flora mundial, destacando-se espe-
culares; contribuir, com o Museu Agrícola e Colonial
cialmente a africana.
82
Figueira-da-Austrália (Ficus macrophylla), uma das árvores mais imponentes do jardim.
o habitat percorrido pelos dinossauros, que se extinguiram há 65,5 milhões de anos.
ornamentais. Muito utilizada na medicina alternativa pelas suas propriedades regenerativas, despertou o interesse dos investigadores após a Segunda Guerra Mundial, por ter sobrevivido às radiações em Hiroxima. A bordejar o lago existe uma colecção de espécies pertencentes à ordem das Cycadales. A sua parecença com as palmeiras não passa disso mesmo. Todas as espécies desta ordem pertencem às Gimnospérmicas, ou seja, grupo de plantas de semente nua, como os pinheiros e os cedros. Entre elas, a cica (Cycas revoluta) (4), originária do Sul do Japão. O epíteto vem da forma enrolada dos vários folíolos que constituem as folhas. É uma planta de crescimento muito lento, podendo demorar 60 a 80 anos a chegar aos 6 m de altura. O “tronco” é formado pelas bases das folhas à medida que vão caindo, como nas palmeiras. Apesar de ser muito utilizada como ornamental, todas as partes da planta são tóxicas para as pessoas e animais, em particular as suas sementes que causam irritações gastrointestinais quando ingeridas.
Ginkgos e cicas Do lado esquerdo encontra-se um conjunto de ginkgos. Segundo alguns botânicos é a espécie viva geneticamente mais antiga, sendo actualmente considerada rara pelas reduzidas populações naturais existentes apenas na China. Existem registos de fósseis de folhas de ginkgo datadas de há 150 milhões de anos. São árvores que podem atingir os 30 m de altura. Apresentam umas folhas muito particulares em forma de leque com um rasgo a meio, que se pintam de um amarelo intenso no Outono antes de caírem. De muito fácil cultivo, pouco sujeitas a pragas e doenças e muito resistentes à poluição das cidades, tornam-se boas árvores de arruamento. O fruto tem um odor muito desagradável, mas como é uma espécie dióica, apenas as árvores femininas dão fruto, tornando os pés masculinos mais apetecidos para fins 83
Jardim Botânico Tropical
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O Jardim Botânico Tropical foi criado há mais de um século, em 1906.
As figueiras tropicais
gas registadas tem 3000 anos, em Bombaim. As folhas são inconfundíveis, com a extremidade fina e comprida e um longo pecíolo (caule que liga a folha ao ramo), que as faz agitar ao mínimo vento. São plantadas principalmente junto a templos budistas, mas também como ornamentais em jardins ou usadas como planta medicinal. Ao seu lado, uma figueira-da-Austrália (Ficus macrophylla) (6), de todas a mais imponente. De origem australiana, apresenta folhas grandes, como é sugerido pelo seu epíteto (macro – grande, phylla – folha). Para além das suas grandes raízes superficiais, apresenta raízes aéreas, uma estratégia de sobrevivência em solos pouco arejados. Com o tempo, as raízes aéreas alcançam o solo, enraízam e formam novos troncos, permitindo que a árvore se expanda na horizontal, característica comum à maioria das Ficus. As suas raízes de crescimento rápido são problemáticas quando próximas de equipamentos como lagos, passeios ou canalizações. Por último, o sicómoro (Ficus sycomorus) (7), originário da África Oriental, onde cresce junto a linhas de água. É uma cultura ancestral e frequente no Egipto, onde a sua madeira era utilizada na construção de sarcófagos. Os seus figos
A norte do lago surgem três árvores majestosas do género Ficus. Este género tem cerca de 800 espécies diferentes, quase todas de climas amenos das regiões tropicais ou sub-tropicais e de folha persistente. Uma excepção é a figueira (Ficus carica), uma árvore bem conhecida em Portugal. As flores são pouco vistosas e transformam-se em figos, uns mais carnudos do que outros, mas quase todos comestíveis por humanos e animais. A existência de fruto está dependente da existência de uma determinada vespa que polinize as flores; por sua vez a vespa está dependente do figo para depositar os seus ovos. Cada espécie de Ficus cria uma associação com uma espécie de vespa. A primeira é uma figueira-dos-pagodes (F. religiosa) (5), árvore originária do Sudeste da Ásia, também conhecida por “figueira-deBuda” por se acreditar que foi à sombra de uma destas árvores que Siddhartha Gautama se sentou a meditar e atingiu a iluminação convertendo-se num buda, sendo sagrada tanto para hindus como budistas. São árvores com grande longevidade; uma das mais anti84
O jardim e as suas estufas albergam cerca de 500 espécies de plantas, provenientes de climas tropicais, subtropicais e temperados.
ainda hoje são muito apreciados na alimentação e utilizados no fabrico de aguardente. Para além de ornamental e generosa na sombra, é um valioso recurso para a medicina alternativa, que aplica por exemplo o leite da sua seiva no tratamento de problemas pulmonares. Podemos ver outras duas espécies de Ficus neste jardim. A Ficus altissima (8), uma árvore de grande porte, nativa de regiões montanhosas da Ásia, entre os Himalaias e a Malásia. É cultivada como ornamental em jardins mas também como planta de interior. Tem uma importância económica acrescida por ser hospedeira do insecto Laccifer lacca, produtor de uma resina natural usada no fabrico de tintas e vernizes. A Ficus microcarpa (9), tem um porte menos imponente, mas pode chegar aos 25 m de altura. As suas fibras são utilizadas no fabrico de redes de pesca e confecção de algodão artificial.
orientais, utilizando espécies vegetais destas regiões, tais como o hibisco-chinês (Hibiscus rosa-sinensis) (10) e o bambu (Bambusa vulgaris) (11). O hibisco-chinês é um arbusto de folha perene, originário do Leste asiático. Cada flor dura apenas um dia, compensando com uma floração abundante e prolongada no ano, de Maio a Dezembro. É a flor nacional da Malásia, onde também é conhecido por “flor dos sapatos”, por ser usada para engraxar sapatos, para além de ainda ser utilizada em tratamentos de cabelo. O bambu é uma gramínea de origem desconhecida, reportada à Ásia tropical. Surge ao longo de linhas de água, e tem um forte carácter infestante devido à sua rápida propagação através das raízes. De uso ornamental formando densos tufos, apresenta variados e atractivos padrões no colmo, nome dado ao “tronco”. O bambu é um material muito resistente, com uma relação entre o seu peso e a força que suporta superior à do aço, sendo muito usado na construção de casas ou no fabrico de mobiliário.
O “Jardim Oriental” O “Jardim Oriental”, situado à esquerda da estufa principal, recria o ambiente dos jardins 85
Jardim Botânico Tropical
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