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Jornal-Laboratório do Curso de Jornalismo da UCS Laboratório de Jornalismo Impresso Caxias do Sul | Ano 2011

No Brasil, cerca de 18 milhões de brasileiros são dependentes químicos. Em Caxias do Sul, uma casa acolhe quem está disposto a deixar o vício de lado, com trabalho terapêutico e recuperação da auto-estima. Além disso, acolhe moradores de rua, em parceira com a administração municipal. p. 10 e 11

CIDADE

ECONOMIA

RESENHA

De pai para filho: tradição no comércio p. 4 e 5

Bom pra cachorro: crescimento do mercado pet p. 14 e 15

Cinema em Caxias: do Apollo ao Ópera p. 4 e 5

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EDITORIAL Jornalistas em teste Chegamos à metade de julho com muitas expectativas. Enquanto os amigos estavam ansiosos para o início do recesso acadêmico, nosso pequeno grupo esperava a hora de começar a disciplina de férias para, enfim, saber como é o dia a dia em uma redação de jornal. Pela prática do jornal Textando sentimos o clima de viver na pressão de conseguir as fontes, a decepção quando uma pauta cai, as dificuldades de diagramação. Em busca de informação com qualidade, o sarampo, o novo aeroporto, a Feira do Livro, a segurança em parques públicos, os novos políticos e a tradição no comércio integram o nosso jornal. Nossa matéria especial do caderno de Cultura recorda os idos tempos do Cine Ópera, que iniciou como Cine Teatro Apollo, nos anos 20, e era o ponto de encontro dos jovens da época. Hoje, abriga um estacionamento e um dos principais terminais de ônibus da cidade. A rua movimentada e requintada, hoje é um ponto de lojas populares e também de assaltos. Na região central da cidade, a uma quadra da praça Dante Alighieri, o antigo cinema ainda é lembrado pela comunidade caxiense com saudades. As tradicionais lojas, quase centenárias e que sobrevivem às mudanças, contrastam com o novo comércio caxiense. Nas ruas onde antes circulavam jovens casais apaixonados, carroças, charretes e cavalos, hoje o que se vê são pessoas apressadas, os grandes ônibus e uma infinidade de carros e motos. As pessoas, sentadas uma ao lado das outras, nem sequer se olham, quanto menos

conversam. A calma e tranquilidade de antigamente, foram substituídas pela correria e insegurança. Em qualquer lugar da cidade, você sempre corre o risco de ser assaltado, a qualquer momento por algum jovem que vai usar o dinheiro para comprar drogas. E o aumento do consumo de drogas é um dos temas que vem preocupando Caxias do Sul. Os usuários da maconha, crack e cocaína usam os lugares públicos, como parques e praças para esconder e saciar seus vícios. O lugar que foi criado com o intuito de ser um recanto de paz e alegria, com as crianças brincando, os pais passeando com os filhos, jovens se conhecendo e conversando, transformou-se em um lugar de medo, tristeza e vergonha. Os principais parques da região central da cidade, o Parque Cinquentenário e o Parque Getúlio Vargas (Macaquinhos) são pontos de assaltos, estupros e consumo de drogas. E quase todo mundo que entra nesse caminho, acaba no mesmo lugar: na rua, sem amigos, sem família, sem dinheiro. Somente a louca vontade de sustentar o vício. Alguns procuram ajuda espontaneamente, sabendo que jamais chegarão a algum lugar além do que já estão: o fundo do poço. Com o apoio de familiares e orientação adequada, os ex-dependentes químicos se recuperam, e ajudam outros a saírem do buraco. Infelizmente, nem todos tem essa chance. Muitas vezes, os primeiros a abandonar o barco são os próprios familiares. E algumas pessoas não conseguem se reerguer sozinhas.

Felizmente existem as instituições que ajudam, gratuitamente, essas pessoas. E de um jeito prazeroso. No interior da cidade, ao ar livre, ouvindo o som dos pássaros e interagindo com a natureza, os internos mantém a mente ocupada e longe das drogas. Após reabilitados, ganham uma nova oportunidade de recomeçar a vida, e ajudar outras pessoas. Ir “à campo”, buscar as fontes, conhecer as pessoas, suas histórias, ouvir seus relatos e depois passar isso para o papel, querendo que o leitor sinta o mesmo que nós quando ouvimos a história pela primeira vez. Esse é um dos nossos objetivos. Fazer com que o texto “entre” no leitor e o faça refletir, buscando uma solução para os problemas, e adotando como exemplo algumas ações. Como foi fazer o Textando? Nos sentimos verdadeiros jornalistas, afinal, vir para aula era quase como ir para a redação. Discutir em que pé estão as matérias, como poderiam ser as fotos utilizadas, qual a melhor pauta para ser a capa, diagramar o jornal, encaixando todo o conteúdo e, o mais difícil: cortar o texto. Porque quando o professor exigia um texto de até 5 mil caracteres, nos desesperamos, porque era demais. De onde tiraríamos tanto? Então, na hora de diagramar, o problema: os textos chegavam com sete, oito, dez mil caracteres. Nosso jornal poderia ter 30 páginas, tamanha foi a empolgação. Começar a escrever é difícil. Mas depois que pega o embalo, o difícil é parar. E saber parar também é ser jornalista.

FOI DITO “Tirar os livros de quatro paredes e levar até o povo.” Maria Helena Lacava, livreira, sobre um dos prazeres em participar da Feira do Livro “Nem acaba uma temporada e já temos que começar a procura por dinheiro para outra. Praticamente o trabalho começa do zero, mesmo tendo conquistado bons resultados.” Gabriel Citton, técnico da Luna ALG/APAH/UCS/Prefeitura de Caxias do Sul “Enquanto o motorista tem medo, ele está seguro. A auto-confiança em excesso traz a falta de limites.” Joel Portela, fiscal de trânsito “Os filmes antigos eram mais calmos, davam importância à arte cinematográfica. Hoje em dia, estão submetidos à técnica, não mais a arte.” Sônia Regina Adami, professora e artista plástica. “O jovem está na inércia.” Rafael Bueno, assessor parlamentar, sobre a participação do jovem na política. “A música também é uma forma de trabalho e tenho muito orgulho em dizer que hoje a música é o meu trabalho.” Tatiéle Bueno, cantora e estudante de Relações Públicas da UCS. “Atualmente, o esporte caxiense depende dos paitrocinios. É mãe de uma atleta que tem uma empresa, um pai que conhece um empresário... é o apoio que recebemos.” Fernando Lemos, técnico da UCS/Mais Fruta/IMEC/APAAVôlei. Milena Leal

EXPEDIENTE Reitor – Isidoro Zorzi Vice-Reitor – José Carlos Köche Pró-Reitor Acadêmico – Evaldo Antonio Kuyava Diretora do Centro de Ciências da Comunicação – Marliva Vanti Gon-

çalves Coordenador do curso de Jornalismo – Álvaro Benevenutto Júnior Professor – Dinarte Albuquerque Filho Textando é um produto da disciplina

Laboratório de Jornalismo Impresso / 1º semestre de 2011 A turma Cassiane Silveira Osório, Clarissa Biasuz De Antoni, Geremias Orlandi,

Leonardo Lopes, Letícia Kirchheim, Marco Antonio de Matos, Marcos Camargo, Marjory de Vargas, Nestor Junior Copeli, Raquel de Almeida. Projeto gráfico: Cassiane Silveira

Osório e Letícia Kirchheim Editora de fotografia: Raquel de Almeida. Impressão: Gráfica da UCS Tiragem: 400 exemplares

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CIDADE Lazer é restringido pela insegurança Parques e praças da região central da cidade são usados para consumo de drogas e a disseminação de atos violentos Fotos Marjory Vargas

MARJORY VARGAS que ficam por ali. A praça fica no [email protected]

Toda cidade, independente de ter 5 mil ou 500 mil habitantes tem, no mínimo, uma área de lazer urbana. Seja a pracinha com dois balanços, um canteirinho de flores e três bancos, ou os grandes parques com árvores, lagos, calçadas e pistas de atletismo. Caxias do Sul, com seus mais de 400 mil habitantes, conta com três pontos de lazer na sua área central: o Parque Cinquentenário, o Parque Getúlio Vargas, mais conhecido como Parque dos Macaquinhos, e a Praça Dante Alighieri. O Parque dos Macaquinhos é uma área verde de 9,8 hectares. Quem frequenta o local desfruta de uma ampla estrutura para a prática de esportes, com a ciclovia, a pista de skate, as vias pavimentadas para as caminhadas, quadras de vôlei, futebol e basquete. Além disso, as fontes, as árvores e os bancos são um convite ao descanso da vida agitada. Já o Parque Cinquentenário dispõe de uma infra-estrutura parecida, em proporções menores, já que sua área é de 2,8 hectares, além da cancha de bocha coberta e dos monumentos artísticos espalhados pelo local. Os dois parques têm uma grande área verde e, nos finais de semana, as famílias e amigos lotam os gramados para beber um chimarrão e jogar conversa fora. Já a praça está sempre movimentada. Durante a semana, é comum encontrar pessoas sentadas nos bancos, lendo um jornal ou livro, ou alimentando as pombas

coração de Caxias, e é ponto de passagem para se chegar aos quatro cantos da cidade. No entanto, tanta movimentação e circulação gera um pequeno problema: a insegurança. Pequenos assaltos, vandalismo e uso de drogas são comuns nesses lugares. Há 30 anos, dona Antônia passa boa parte do seu dia na praça. Dona de uma banca de revistas, ela conta que a praça e as pessoas que passam por ali, mudaram muito. “Antes, quem passava por aqui era a elite caxiense. Hoje, é comum a circulação das pessoas de baixo nível social”, comenta. Ainda, segundo ela, quando a avenida Júlio ocupou o lugar do calçadão, no final de 2003, a tranquilidade da praça acabou, devido ao intenso movimento dos carros. A banca fica aberta até as 19horas, pois, segundo dona Antônia, depois disso é muito arriscado. “Tem sempre quatro rapazes, sentados em um banco, que ficam o dia todo bebendo. As prostitutas marcam território. Você pode estar sentado em um banco, ela chegam e te mandam sair, por que aquele é o ponto delas.” Para dona Antônia, a praça está abandonada. “É comum as pessoas ficarem subindo pelos monumentos, estragando os bancos.” A Guarda Municipal possuiu um posto 24h, mas, segundo a comerciante, “dependendo do guarda, ele não faz nada”. Apesar da situação, os tempos são bons. Já houve casos de assalto à mão armada às 16h; no entanto, no último ano a criminalidade na praça diminuiu.

Tranquilidade em meio ao caos Paulo Luiz Zugno, 76 anos, é professor aposentado. Mora perto da praça, e gosta de alimentar as pombas que estão sempre por lá. “Sempre dou uns três ou quatro pãezinhos, e depois a sobremesa.” A sobremesa são dois sacos de milho pipoca. E o revoar das pombas atrás dos grãos é encantador. Pessoas param e tiram fotos. “Eu gosto de ver as crianças brincando com elas”, conta. Ele vai quase todo dia e diz ter até um pomba que é sua amiga. Zugno cresceu nos arredores da praça. “Lembro da praça quando ela ainda tinha cascalho.” O lugar era o preferido para os jovens namorar. “Mas tudo muito supervisionado. Não como hoje, que saem e os pais nem sabem aonde estão”, compara. Para ele, “depois que abriram a avenida, ela ficou mais barulhenta. Mas ainda é um bom lugar para passar o tempo”. Ao mesmo tempo, com a reforma, a praça ficou mais limpa, e menos perigosa. “Tinha muito matagal, e os maconheiros e prostitutas ficavam por aí.”

Praça Dante Alighieri é ponto de encontro e referência de localização em Caxias, embora alguns frequentadores reclamem

Orientação da BM é para rondas A Brigada Militar possui um módulo em cada parque, além de um toldo na praça. Os policiais que ficam no módulo do Parque dos Macaquinhos são responsáveis por toda a área central da cidade, e abrangem, também, os bairros Rio Branco, São Pelegrino, Nossa Senhora de Lourdes e Exposição. Já o módulo localizado no Parque Cinquentenário responde por toda a parte norte e oeste de Caxias. Em qualquer um dos módulos há sempre um PM 24 horas por dia. Nos finais de semana, quando os parques ficam lotados, a Brigada Montada auxilia, com rondas pelo Parque dos Macaquinhos. Na praça, ponto de referência da cidade, há sempre um PM que circula pelo local e assegura a tranquilidade do ambiente, além de auxiliar as pessoas que precisam de algum tipo de informação. Além do policial, há duas câmeras ligadas direto à Brigada Militar, pelas quais é possível monitorar todo o movimento na praça. O capitão Alencastro e o major Ribas afirmam que os parques, apesar da má fama que os ronda, são seguros. Segundo o capitão Alencastro, “no último ano, não houve registros de assalto no Parque dos Macaquinhos. Somente flagrantes de usuários de drogas”. Os PMs são orientados a, pelo menos meia hora antes de encerrar seu turno, fazer uma ronda pelo Parque dos Macaquinhos, abordan-

Parque dos Macaquinhos tem intenso movimento nos dias ensolarados

do as pessoas que estão no local. A droga mais usada ainda é a maconha, embora o número de usuários do crack aumente a cada dia. Mas, ressaltam os policiais, dificilmente alguém será atacado por algum deles. “Eles vão lá fumar e ficar tranquilos. O que incomoda é o cheiro. As pessoas vão ao parque caminhar, sentem o cheiro da maconha e não se sentem seguras”, ressalta o capitão Alencastro. O major Ribas destaca que os módulos da Brigada não estão disponíveis somente para a vigilância dos parques. Tanto no módulo do Parque dos Macaquinhos quanto no do Cinquentenário, é possível fazer registros de ocorrência de assaltos. Já a Guarda Municipal é um

órgão da Prefeitura responsável por proteger o patrimônio municipal. No momento, a Guarda Municipal caxiense conta com 165 servidores, que se revezam em quatro turnos. Segundo o diretor geral da Secretaria Municipal da Segurança Pública e Proteção Social, José Francisco Barden da Rosa, há um guarda, 24h, na guarita da Praça Dante Alighieri. No Parque Cinquentenário, as rondas ocorrem durante o dia, das 6h às 20h. E no Parque dos Macaquinhos, durante as 24 horas, é possível ver guardas municipais em rondas motorizadas. Segundo Barden “a função da Guarda não é proteger as pessoas”, somente o patrimônio público. Para isso, diz, existem órgãos responsáveis, como a Brigada Militar.

4 CIDADE

De pai para filho, a tradição permanece Herdeiros se orgulham por honrar as tradições e o trabalho semeado pela família, ao longo dos anos, em suas lojas Fotos Marco Matos

MARCO MATOS

[email protected] Caxias do Sul não é mais uma cidade pequena, a maioria da sua população não tem mais origem Italiana, a agricultura não é mais a base da economia. Os tempos são outros e os costumes também mudaram através dos anos. Das décadas passadas resta muito pouco: algumas construções, igrejas, escolas e, claro, algumas lojas. O comércio sempre movimentou a cidade, principalmente na área central do município. Lojas que hoje mudaram de donos estão nas mão daqueles que eram crianças na época de sua fundação. Mais que uma herança, o ritual do trabalho é passado de geração para geração, como se definisse a personalidade de cada família.

CASA DA ELITE CAXIENSE A Óptica Martinato foi fundada em 12 de agosto de 1912, na cidade de Rio Grande, por Guerino Martinato. Com a mudança da família – a esposa, Margherita Giacomini, e quatro filhos – para Caxias do Sul no ano de 1934, a loja “veio” na bagagem. Na empresa, que então se chamava Eberle, Martinato & Cia, comercializava-se diversos artigos, desde joias, relógios e bijuterias até cristais alemães, perfumes franceses e bandejas de prata boliviana. Assim, a empresa passou a ser considerada a casa da elite caxiense. Ao longo do tempo, a loja sempre preservou essa característica de comercializar itens de

qualidade. Em 1939, Guerino Martinato adquiriu a parte de seus sócios e passou a ser o único dono do estabelecimento. A família sempre ajudou no negócio e, com o passar do tempo, o filho Carlos Antonio Martinato demonstrou grande interesse pelos negócios do pai. O menino, que cursou matemática na Universidade de Caxias do Sul e fez curso de contabilidade, sempre trabalhou na empresa. No início dos anos 80, com a saída dos irmãos da loja, Carlos passou a administrar o negócio e contou com o apoio de sua mulher e de seus filhos. “A minha família sempre me ajudou muito, estando do meu lado em todos os momentos”, conta. Com o desenvolvimento do ramo ótico a Casa Martinato se transformou em Óptica Martinato, e passou a oferecer cada vez mais produtos ligados ao ramo. Carlos, que tem uma fotografia de seu pai – feita pelo fotógrafo Ulysses Geremias – pendurada atrás da mesa de trabalho, considera o fato da empresa ser familiar como um dos grandes motivos para ela perdurar todos esses anos. “A maneira de trabalhar de forma correta, assim como aprendi com meu pai, é o que orienta a firma até hoje”, diz. Perto do aniversário de 100 anos da empresa, Carlos pretende, com o tempo, passar a administração para sua filha, Vera Martinato, mas não pretende abandonar o trabalho. “Quero ficar na loja até a hora de morrer”, planeja.

Relógio da Casa das Arnas, complementando o estilo rústico da decoração da empresa e informando, sempre, a hora certa.

Carlos Martinato, em frente ao balção principal da loja

Bom atendimento e uma linha variada de produtos Uma das lojas mais antigas da cidade é a ferragem Luiz Andreazza, fundada em 1919 pelo próprio Luiz. O local é ponto de referência de qualquer outro estabelecimento que fica em sua volta. Com mais de 90 anos e com um número incontável de itens para venda, a ferragem se destaca pela versatilidade e o jeito caseiro de atender. Logo após sua criação, na loja vendia-se inclusive alfafa, milho e cereais. Na época, David Andreazza era criança mas, desde os anos 80, administra a empresa. David, hoje com 84 anos, sempre trabalhou com o pai e aprendeu o ofício ainda jovem, com 18. “Naquela época tínhamos muitos clientes do interior, hoje existem casas especializadas para isso “, conta. A transformação do antigo local onde se

vendiam os tecidos a metro em um local onde está o bazar, com artigos de decoração e utensílios domésticos , foi provocada para adequar a loja às novas necessidades. “A venda de tecidos tinha caído muito, então colocamos o bazar”, diz. As mudanças são necessárias para a empresa se manter no mercado. “Hoje, por exemplo, não há como trabalhar sem o computador, coisa que antes nem precisávamos”, completa. As mudanças influenciaram diretamente o desenvolvimento do comércio na cidade, mas a tradição em trabalhar no que foi construído pela sua própria família é um estímulo a mais para seguir em frente, sem desistir. “Nós mantemos a tradição, pois tratamos o negócio como se fosse a nossa família”, diz o lojista.

David Andreazza, pronto para atender clientes, na venda de ferragens e de artigos do bazar

5 CIDADE

Mais de 60 anos incentivando o esporte de caça e tiro na região A Casa das Armas foi fundada no ano de 1947 por Orildo Stédile e Nercy Sambaquy. Funcionário da extinta Ferragens Triches, Sambaquy percebeu o potencial do ramo e resolveu arriscar e montar um negócio próprio. Algum tempo depois, em 1952, Stédile retirou-se da empresa e sua parte foi vendida para Silviro Cassina, cunhado de Sambaquy. Em 1967, Sambaquy faleceu e, então, Cassina continuou administrando o negócio. Nos primeiros anos de empresa, o ramo da caça e da pesca eram muito fortes na cidade, fato que ajudou a alavancar os negócios com as vendas de espingardas e munições. Cassina teve cinco filhos, mas apenas três deles seguiram com o comércio do pai. São eles: Flávio, Rui e Raul Cassina, que ainda trabalham na loja. O ramo da caça se expandiu muito desde a origem da empresa. “A tradição italiana ajudou a desenvolver

a atividade de caça, e se tornou comum os pais levarem os filhos para as caçadas, tornando-a um esporte familiar”, conta Rui. Caxias chegou a ter mais de 7 mil caçadores ativos na década de 1960. Com as novas legislações e barreiras impostas à prática esportiva da caça, o ramo passou por uma transformação. Enquanto antes vendiam muitas espingarda, passaram a vender armas de defesa, como revólveres e pistolas, já que a cidade começou a crescer rapidamente, o que provocou o aumento dos índices de criminalidade. Conservar as tradições sempre foi um dos principais valores da empresa, até a decoração da loja é em estilo rústico e cheia de objetos antigos. No meio das cabeças de javalis empalhadas e das carcaças de alguns animais, é possível “viajar no tempo” com os relógios, rádios e pôsteres de época.

“Acredito que a tradição é o que nos faz prosseguir na empresa que pertencia a nosso pai”, diz Rui. Ao lembrar do tempo de criança, Rui conta que algumas ruas do centro da cidade não eram calçadas e muitos clientes iam fazer suas compras a cavalo, e que na loja havia um local para amarrar os animais e tirar o barro das botas. O segmento cresceu muito, principalmente o de camping, entretanto a concorrência também; os supermercados, por exemplo, passaram a comercializar grande parte dos produtos de aventura. Mas mesmo com as dificuldades de manter um negócio por tantos anos, a vontade de seguir com os negócios da família é maior. “Não é apenas uma herança, isso aqui faz parte da nossa família, é a nossa personalidade”, define Rui. Agora resta esperar a terceira geração; logo, será a vez dos netos. Fotos Marco Matos

Tanques em miniatura na vitrine.

Os irmãos Raul (E), e Rui (D), dando continuidade aos negócios da família.

Decoração com animais empalhados

“Bodas de Prata” no mesmo emprego Se há lojas são antigas que conservam as tradições, também encontra-se funcionários que praticamente cresceram junto com as empresas. É o caso de Leandro Baldissarini, 45 anos, que, aos 19, após sair do quartel, foi trabalhar na Casa das Armas, onde teve sua primeira oportunidade de emprego. Até aí nada de diferente, exceto o fato do Baldissarini ainda trabalhar na loja 25 anos depois. Baldissarini, que, influenciado pelo pai, sempre gostou de caçar, pescar e, principalmente acampar, se identificou com o estabelecimento e ali ficou, perto de tudo que mais gosta.

“Lembro da época que a caça era permitida, as exigências para a aquisição de armas eram menores, o que impulsionava o negócio”, conta. Os 25 anos de dedicação à mesma empresa lhe renderam muito mais do que o emprego ou o salário; a maior conquista é a amizade de clientes e de seus chefes. “Gosto daqui, acho até que virou rotina, criei muitos amigos e estou perto de pessoas de quem eu gosto”, diz. Mesmo após todo esse tempo, Baldissarini nem pensa em mudar de emprego, e completa: “Pretendo continuar aqui, pois gosto do que faço.”

Baldissarini na venda de armas há 25 anos

Adote um amigo estranho e leve a encrenca de “brinde” Amigo estranho. Todos tem um. Todos mesmo. Você pode ser cético e afirmar com toda convicção que não possui, mas na verdade não há como escapar desta estatística. Mas como podemos identificar um exemplar dessa espécie? Muito fácil. Vamos usar situações cotidianas para ilustrar melhor o que é um amigo estranho. Amigo estranho é aquela pessoa que fala muito, muito mesmo, e , além disso, fala mais alto que todos do seu grupo, que faz as outras pessoas alheias a sua turma te perguntarem: Ei cara, o que tem o seu amigo? Tipo, além de falar alto, fala pra caramba... Calma, é só o jeito dele mesmo... Mas ele está perturbando a paz do ambiente... Eu sei meu senhor, mas é melhor não contrariar...sabe como é né... Entre algumas desculpas, você acaba sendo amigo deste tipo de amigo estranho por muito tempo, praticamente toda a vida. Afinal, um amigo estranho vale mais que mil palavras. Mas o que dizer daquele amigo que chega no final do jogo na sua casa, assiste ao narrador na televisão indignado com o que acabou de ver e pergunta: O Brasil perdeu? Não não calma, eles só erraram os quatro pênaltis que bateram, mas foi culpa do campo... Eu não acredito que o Brasil perdeu... Calma, é só um jogo de futebol, vai melhorar, tem tempo ainda pra Copa do Mundo em 2014... Copa do Mundo de 2014?? O pior nessas horas é quando o amigo estranho começa a chorar, e alguém tem que consolar a criança de 35 anos que está ali, naquela situação. É , mais uma coisa em que a culpa pode ser atribuída ao campo. E ao atraso das obras... E aquele amigo que usa os óculos do pai, achando que é surfista? Aqueles mesmos óculos que Raul Seixas mencionava em uma das suas canções mais conhecidas. Isso, aquela mesma que tem uma frase que diz mais ou menos assim: “quem não tem colírio, usa óculos escuros”. E ninguém vai falar pra ele cair na real, que estamos a quase mil metros do nivel do mar. Não podemos fazer isso. Afinal, ele é estranho, mas é nosso amigo. E não tem colírio. Tem aquele amigo que não bebe nada, e consegue se divertir nas festas mais que o resto do grupo inteiro, que acabou com o estoque do bar. E tem uma outra versão deste amigo festeiro, aquele que você convida pra balada, e ele vem com a desculpa clássica que não vai sair porque está sem dinheiro. Tudo bem, você entende, ou tenta, pois você sabe que ele acabou de ser promovido. Bom, ele deve ter os seus motivos para estar mentindo. Como é um amigo querido você simplesmente aceita estas desculpas. Você então vai para balada e ao chegar, para sua surpresa, lá está esse mesmo amigo pagando bebidas pra todo mundo. Ao te ver, não pestaneja e lhe paga muitas bebidas, como se não se lembrasse que havia acabado de lhe mentir algumas horas atrás. Bom, bebida paga por amigo a gente nunca pode negar. Mas que isso é bem estranho, isso sim. Pelo menos ele mesmo tenta te ajudar a esquecer a situação. Amigo estranho é aquele que fala que vai xingar muito no twitter. Este fenômeno pode ser raro, mas acontece com alguma frequência, por mais redundante que possa parecer. E a situação pode ficar #tensa quando você perceber que ele xingou, xingou muito mesmo, e o alvo dos xingamentos era você. Muito estranho, principalmente por que você o segue, claro, obviamente, por que ele é seu amigo. Você até fica com vontade de dar um unfollow de vez em quando, mas seria muita falta de sacanagem de sua parte. E não poderia acompanhar quando ele voltasse a te xingar. E a pior parte é quando você olha para todos os lados e todos os seus amigos parecem ser da espécie amigo estranho. E não há nada que se possa fazer. Existe uma explicação para isso: neste momento o amigo estranho só pode ser você! (Geremias Orlandi)

6 CIDADE

Associação resulta em boas vendas O crescimento de hiper-mercados em Caxias fez mercados menores unirem forças para sobreviverem NESTOR JÚNIOR COPELI

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Caxias do Sul conta com quatro associações de supermercados: Multi Mercados, Rede Fort, Super Bom e Smart Supermercados. Para o representante da Associação Gaúcha de Supermercados (Agas) no município, Ildemar José Bressan, a união de mercados menores gera um fortalecimento para a concorrência contra os grandes mercados. “A Agas vê com bons olhos essas uniões, pois fortalece o mercado, e os menores conseguem agir com maior ‘agressividade’ na busca por preços e campanhas de marketing”, diz Bressan. O representante explica, ainda, que o ranking estadual contabiliza a lucratividade somente por CNPJ, o que resulta na não divulgação das associações, por conta de cada mercado ter seu próprio registro. As redes mercadistas encontram-se no ranking das centrais de negócios da Agas, que divulga somente as 18 principais redes do estado. As redes de associação possibilitam aos mercados menores contar com preços competitivos, produtos de marca própria, otimização no processo de compras e campanhas promocionais. Conforme a Agas, o Rio Grande do Sul tem 18 redes de supermercados. Uma das associações, sem fins lucrativos, a Multi Mercados, ficou em 8 lugar em lucratividade no ranking estadual das centrais de negócios de 2009/2010. Fundada em 2002, a Multi promove a união de mer-

cados e proporciona competitividade, expansão e aprimoramento das atividades. Como o próprio nome diz, a rede tem o intuito de causar impacto e demonstrar sua grandeza. Atualmente, figura entre as principais redes do Estado, contando com 21 lojas, distribuídas em Caxias, Bento Gonçalves, Farroupilha, Flores da Cunha e Canela, e proporciona cerca de 350 empregos diretos. Segundo a Associação Brasileira de Super-Mercados (Abras) e a revista Super Hiper, em 2010 a rede Multi Mercados ocupou a 33ª posição no ranking do país, com faturamento superior a R$ 98 milhões. A soma de experiências, campanhas promocionais, aperfeiçoamento profissional, mídias cooperativadas, folheteria padrão, aumento das vendas e otimização no processo de compras, além de estar presente junto aos principais fornecedores do país, são alguns dos benefícios para o associado da rede. Conforme o presidente da associação, Gelson Zapparoli, a Multi proporciona poder de mídia e preços que, sozinhos, os empresários não conseguiriam. “Nos unimos pois sentimos a necessidade de fazer algo. Os grandes (mercados) estavam dominando o mercado.” Zapparoli explica que a associação compra de 30% a 40% dos produtos da rede, disponibilizando os itens em seu site. “Os super-mercadistas associados fazem seus pedidos conforme a necessidade. O valor é igual para todos independente da necessidade e quantidade. O pagamento dos pedidos é realizado pelo CNPJ de cada mer-

cado.” O restante da aquisição das mercadorias fica a cargo do proprietário de cada loja. A rede divulga um único panfleto de ofertas nas mídias e impresso, que circula nos primeiros 15 dias do mês e vale para todos os Multi Mercados. No restante do mês cada associado faz a promoção conforme achar melhor, podendo até fazer novos panfletos, mas por conta própria. Só não pode fazer concorrência com outros mercados da associação. Ao longo dos nove anos de atividade, a Multi procurou estabelecer um novo conceito sobre associativismo, ao estabelecer em seu plano estratégico sua missão: comercializar produtos e serviços satisfazendo plenamente seus clientes, funcionários, fornecedores e a comunidade. Com a linha de projeto bem definida, a rede colhe os frutos do trabalho realizado. A presidência da associação é escolhida por votação e disponibilidade de tempo, mas no futuro a ideia é que todos os associados passem pelo cargo para obter um maior envolvimento e comprometimento de todos. O associado participa de reuniões técnicas e comerciais em que são tratadas as atividades principais da associação. Segundo Zapparoli, “em 2011 o Multi Mercados está se reposicionando, através do Planejamento Estratégico 2011/2013, que vislumbra um maior crescimento para os associados, bem como a abertura de novas lojas”. Em abril de 2012, a rede Multi Mercados completa 10 anos, e ações de marketing estão sendo planejadas e desenvolvidas para marcar a data. Fotos Nestor Júniro Copeli

Bom atendimento e satisfação dos clientes e funcionários está inserido na missão da Multi Mercados

Para se associar Para fazer parte da rede Multi Mercados é necessário preencher alguns requisitos. O interessado passa por entrevista e consultas de créditos (SPC e Serasa). O estabelecimento deve estar em atuação há, no mínimo, cinco anos e dispor de CNPJ. Além disso, o super-mercado deve respeitar as distâncias entre associados da rede (2 Km no Centro e 5 Km em bairros). Após esta etapa, é realizado o pagamento de uma taxa de adesão. Todas as tratativas são feitas da mesma maneira quando da aquisição de uma franquia. Depois de aprovado, o associado adquire o direito de usar o nome e o logotipo da associação, começa a pagar mensalidades referentes às campanhas de divulgação e passa a cumprir com as normas do estatuto da associação. Torna-se, ao mesmo tempo, responsável pelo bom desempenho e pela organização da associação, conforme o presidente Gelson Zapparoli. Para quem faz parte do quadro de associados e pretende abrir uma nova loja na rede, a associação não auxilia na aquisição desta, mas possibilita o não pagamento das mensalidades por um determinado tempo, que é acordado entre os integrantes de sua comissão. Marca própria de produtos influênciam diretamente na busca de preço e nas promoções diárias

7 CIDADE

Aeroporto movimentará Serra gaúcha Interior de Caxias do Sul já se movimenta por conta do novo aeroporto. Obras devem começar em 2012 Fotos Geremias Orlandi

GEREMIAS ORLANDI

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Vila Oliva, localidade do interior de Caxias do Sul, terá em breve sua rotina mudada para sempre. Essa é a certeza depois que foi anunciado que o novo aeroporto regional ali será construído. E não apenas este distrito, mas praticamente toda a região da Serra gaúcha sentirá um impacto positivo. Mas isso vai demorar um pouco. Ainda há muito o que ser feito antes de o novo aeroporto começar a ser efetivamente construído. Distante cerca de 45 Km do centro de Caxias, para se chegar em Vila Oliva existem vários caminhos pelo interior da cidade, mas o mais aconselhado é passando pelo distrito de Fazenda Souza. Por este caminho, existe uma estrada que está em fase de asfaltamento, devendo estar pronta até março de 2012. Antes de chegarmos no centro do distrito, passase por uma enorme propriedade rural onde existe um pomar de maçãs, onde será o futuro aeroporto. Por essa localização, percebe-se que este futuro aeroporto poderá movimentar de maneira nunca vista o interior o município. Conforme o destino dos passageiros que desembarcarem no futuro aeroporto, eles terão, a princípio, duas rotas: ou

Fim da briga Entre todos os envolvidos na mobilização pela busca de recursos para o novo aeroporto, com diversas autoridades públicas e lideranças da iniciativa privada da Serra gaúcha, uma participação importante é a do prefeito de Farroupilha, Ademir Baretta. Depois de uma longa disputa política para que o aeroporto fosse para a região de Monte Bérico, com o anúncio oficial de Vila Oliva ele, literalmente, “baixou as armas” e declarou apoio incondicional ao empreendimento. “Sempre lutamos pela instalação do aeroporto na região de Farroupilha. A partir do momento que foi definida a área de Caxias do Sul, decidimos dar nosso apoio total ao empreendimento”, decretou Baretta. Esta declaração é importantíssima para simbolizar uma união da Serra gaúcha em torno de um objetivo que beneficiará a todos.

Daneluz já visualiza novas oportunidades para o pequeno negócio. Atualmente ele serve de 20 a 30 refeições diariamente

passarão por Fazenda Souza, em direção a Rota do Sol; ou passarão por Vila Oliva, por uma estrada que, 25 Km depois, os conduzirá à cidade turística de Gramado. Este é apenas um dos diversos exemplos que mostram o grau de importância que a instalação do aeroporto representará. O prefeito de Gramado, Nestor Tissot, já

reinvidica obras na estrada que une Vila Oliva a Gramado. “Dependemos muito do futuro aeroporto, pois recebemos cerca de 1 milhão de turistas por ano vindos do aeroporto Salgado Filho”, comenta Tissot. Este número deverá aumentar com a conclusão do aeroporto e o consequente asfaltamento desta rota turística.

MUDANÇAS A CAMINHO Em Vila Oliva, cuja principal atividade econômica é a fruticultura, a rotina também deve mudar. Em vários sentidos: poderão surgir ali pousadas, lancherias, uma infinidade de negócios. “Vai trazer desenvolvimento, e vai tumultuar um pouco nossa rotina”, diz, em

tom descontraído, o sub-prefeito Nelson Marcarini, que mora no distrito desde que nasceu, em 1947. O empresário Rogério Daneluz, 46 anos, também nasceu no distrito, saiu para estudar, mas retornou anos depois para montar o restaurante Vilaggio Point Lanches. Sobre o futuro aeroporto, Daneluz comenta: “Uma alternativa de desenvolvimento, vai aproximar o interior da cidade, não seremos mais vistos como final de linha.” O empresário ainda menciona que a intenção é manter o restaurante, onde serve uma média de 20 a 30 refeições diárias, e ampliá-lo. “Eu normalmente sei bem certo a quantidade de pessoas que almoçam, mas com o aeroporto a clientela irá aumentar bastante”, visualiza Daneluz. Segundo Milton Corlatti, presidente da Câmara da Indústria, Comércio e Serviços (CICS), de Caxias do Sul, em uma reunião realizada ainda em julho, a intenção é a reinvidicação por um aeroporto com capacidade para voos internacionais. “Hoje, mais da metade das pessoas da nossa região que precisam viajar de avião embarcam em Porto Alegre”, aponta Corlatti. Aparentemente, este novo aeroporto poderá ser uma alternativa para o Aeroporto Internacional de Porto Alegre, o Salgado Filho.

Estrutura exigirá recursos milionários Ao analisar o projeto do aeroporto, que custará cerca de R$ 200 milhões, o governo prefere ser mais cauteloso e adotar, a princípio, um modelo similar ao já existente no aeroporto Hugo Cantegiani, em Caxias do Sul, apenas com voos nacionais. Segundo dados da diretoria do aeroporto de Caxias, para 2011 existe a projeção de que 194 mil passageiros embarcarão a partir do solo caxiense. Número que poderia subir facilmente para mais de 200 mil se houvesse alternativas de voos, ou seja, mais linhas. Conforme Roberto Barbosa de Carvalho Netto, diretor do Departamento Aeroportuário do Estado (DAP), o novo aeroporto deverá ter capacidade para, inicialmente, 400 mil passageiros por ano. Mas a obra vai demorar para começar. “Dentro de um ano e meio teremos o projeto executivo, com todas as definições necessárias para o início das obras”, declarou Carvalho Netto. Questionado sobre que melhorias no sistema viário seriam necessárias para quando o aeroporto efetivamente começar a funcionar,

Sub-prefeito Nelson Marcarini mostra o terreno do aeroporto

o secretário municipal do Trânsito, Transportes e Mobilidade (SMTTM), Jorge Dutra foi franco. “Já existem diretrizes para a construção de estruturas viárias para atender a essa área. A Rota do Sol pode ser aproveitada, mas obviamente deverá haver uma melhoria”, aponta Dutra. De fato, a melhoria já começa a acontecer com o asfaltamento da estrada até Vila Oliva. Mas a grande aposta, mesmo, é uma complementação no anel viário do municipio, denominada

O asfaltamento da estrada deve ser concluído até 2012

Contorno Sul-Leste. Com 27 km, serviria como uma variante da BR 116. Entretanto, o custo da obra é elevado, cerca de R$ 850 milhões, e não existe orçamento previsto. A solução seria incluir o projeto, já conhecido pela comunidade, no plano viário nacional, o que possibilitaria buscar recursos federais para a execução da obra. “Com a chegada do aeroporto, essa estrada será de fundamental importância, as duas obras tem que tomar forma juntas”, argumenta Dutra.

O deputado federal Assis Mello (PC do B), em nota de sua assessoria de imprensa, assume o compromisso na busca de recursos para a viabilização das diferentes etapas do projeto e construção do novo aeroporto. “Esta conquista histórica para a Serra Gaúcha exige uma responsabilidade individual e coletiva de todos que lutam em defesa do desenvolvimento, da geração de emprego e renda e pela conquista de melhores dias para os moradores de nossa próspera região.”

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SAÚDE Elas “enchem a cara” nas baladas

Pesquisa revela que mais de 10 milhões de mulheres consomem bebidas alcoólicas regularmente Fotos Guilherme Dedececk

MARCO MATOS

[email protected] De acordo com a última pesquisa do Ministério da Saúde (MS) sobre o consumo de bebidas alcoólicas, as mulheres bebem cada vez mais. Em 2006, o índice de mulheres que consumiam bebidas alcoólicas regularmente era de 8,2%, na pesquisa divulgada em abril deste ano, o índice aumentou 2,4%, passando para 10,6% da população feminina, o que corresponde a mais de 10 milhões de mulheres que consomem bebidas alcoólicas regularmente. Em Caxias do Sul, a situação se revela verdadeira. Nas baladas, fica claro que as mulheres bebem cada vez mais. André Souza, 31 anos, trabalha como barman em uma casa noturna da cidade e revela que, constantemente, vê mulheres bêbadas durante as festas. “Elas estão bebendo igual aos homens, ou até mais. Depois da 1 hora da manhã a maioria delas já está mais pra lá do que pra cá”, conta. Márcio*, proprietário de uma boate tradicional de Caxias do Sul, conta que as mulheres têm se tornado suas melhores clientes nos últimos anos. “Ultimamente elas têm consumido mais, mesmo

legenda cp 9 Álcool associado à direção é um problema que atinge homens e mulheres; hoje, mulheres já chegam bêbadas nas baladas

com os limitantes, como o preço alto das bebidas nas festas”, diz o comerciante. “Muitas das gurias que bebem demais saem dirigindo daqui”, revela. O fato preocupa, pois, o álcool, associado à direção, pode ocasionar diversos acidentes de trânsito. “O que acontece muito é que algumas mulheres já chegam bêbadas na festa, pois o costume de fazer o ‘aquece’ antes da balada é tradicional aqui na

cidade”, conclui. Em contrapartida, elas defendem o direito de consumir álcool. Caroline Schiavo, 24, estudante universitária, é uma mulher que gosta de sair à noite e beber uma cervejinha com os amigos. “Gosto da sensação da bebida. Se eles podem beber, porque as mulheres não podem?”, questiona. E continua: “Não podem julgar as mulheres por beberem, mas sim pelo seu comportamento. Também não aprovo as que bebem até cair, mas o consumo de forma social não pode ser condenado.” A nutricionista Luiza* é uma notívaga de carteirinha, adora sair com os amigos e está sempre nas baladas da região, e, para ela, a bebida alcoólica é um item obrigatório das festas. “A bebida é uma necessidade. Não adianta sair à noite pra ficar bebendo água”, diz. Mas Luiza sempre se previne quanto ao modo como voltará para casa depois da festa. “Sempre volto de táxi, ou pego carona com algum amigo que está sóbrio”, conta. E afirma: “A sociedade já recrimina o cigarro, só falta agora querer intervir no que cada um bebe.” *As fontes preferiram não se identificar.

Para encarar o trânsito com segurança Persistência CLARISSA DE ANTONI

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Em Caxias do Sul, 63 pessoas lotaram o auditório da Secretaria de Trânsito, Transportes e Mobilidade (SMTTM), em um sábado pela manhã do mês de julho. Ocorria, na ocasião, mais uma edição da palestra “Superando o medo de dirigir”, promovida pela Escola Pública de Trânsito da cidade, como parte do Programa de Humanização no Trânsito. Todos eram bem-vindos; entretanto, apenas três homens destacavam-se entre as 60 mulheres. Tudo teve início com a fala do gerente de educação para o trânsito e fiscal de trânsito Joel Portela, que conduziu a primeira hora de palestra com informações sobre trânsito e atitudes seguras para os participantes do evento. “É natural sentir medo diante do desconhecido. Enquanto o motorista tem medo, ele está seguro. A auto-confiança em excesso traz a falta de limites. Vocês não vão sair daqui com o medo superado, mas este é um pequeno passo, e gradativamente vocês irão conseguir”, explicou o palestrante.

Tratamento para fobia

A psicóloga Paula Bisol aconselha, em casos mais extremos, terapia cognitivacomportamental. Na primeira fase do tratamento o profissional detecta a origem do medo. Após, é feito um trabalho de relaxamento muscular profundo. Neste momento, o paciente libera suas tensões e aprende exercícios de respiração. É recomendada a prática de exercícios físicos, o que faz liberar, naturalmente, endorfinas. O tratamento não fica somente na teoria, os pacientes dirigem com acompanhamento de um instrutor de trânsito e discutem cada aula com o psicólogo. Depois, vem a fase da “meia independência”, quando o aluno vai às ruas e é seguido pelo instrutor. No fim do tratamento o paciente já dirige sozinho, repete sempre o mesmo trajeto até superar seus medos.

O MEDO TOMA CONTA A segunda parte da palestra foi ministrada pela psicóloga Paula Bisol, que enfatizou aos participantes a diferença entre medo e fobia, e incentivou a busca pela cura. “Quando tenho medo de algo, evito, mas sou capaz de fazer. A fobia é algo mais intenso, uma patologia que deve ser tratada com medicamento e terapia”, esclareceu. A fobia é o caso de Ida Marini, 56 anos. Ela cursava as aulas teóricas no Centro de Formação de Condutores (CFC) mas, quando viu que as práticas se aproximavam, desistiu. “Tenho verdadeiro

pânico, tenho pesadelos, penso que estou dirigindo, tento frear e o carro nunca para. Acordo suada, com dor na panturrilha. Espero encontrar alguma orientação nesta palestra”, contou. A participante Neiva Ceconi, 55, também não dirige. Ela cursa auto-escola, porém, já mudou de CFC três vezes, pois nunca está suficientemente segura para fazer a prova. “Meu caso é um trauma de infância, sofri um acidente quando era nova, e sinto um pavor terrível já ao ligar o motor carro. Simplesmente não consigo ir adiante, tudo treme e o coração fica acelerado”, lamentou.

pela superação De acordo com a psicóloga Paula Bisol, as vítimas desse medo são pessoas que têm um mesmo perfil. Todas responsáveis, organizadas, com ansiedade generalizada, e que não admitem erros em qualquer setor de suas vidas. Normalmente, sofrem preconceito e por medo de críticas abandonam o volante. O trabalho em terapia faz com que a pessoa se permita a errar. “Será que todos acertam sempre? Todos humanos erram e isso não significa que sejam incapacitados. Devemos aprender com nossos erros, e ter persistência. Nos momentos de enfrentamento a pessoa costuma fugir, é preciso resistência para se superar”, alertou. A palestra “Superando o Medo de Dirigir” acontece a cada 60 dias, sempre às 9h, no prédio da SMTTM, na Rua Moreira César, 1666. As próximas datas já estão definidas: 10 de setembro e 12 de novembro. As vagas são limitadas, e as inscrições são feitas pelo telefone (54) 3290.3955. Informações pelo e-mail: [email protected]

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Sarampo retorna e país recorre à nova campanha de vacinação Doença voltou a ser foco de atenção na área da saúde, mesmo em países que não apresentavam mais casos Cristofer Giacomet/Divulgação

GEREMIAS ORLANDI

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Uma doença morta. Segundo especialistas da saúde, no Brasil sim. Erradicada. Essa é a palavra que decreta que o sarampo, tecnicamente, não se desenvolve em terras brasileiras. Mas ela ainda existe em outros países, principalmente aqueles subdesenvolvidos e que não têm campanhas de vacinação contra este tipo de doença. Mas de algum modo, a doença voltou ao Brasil, provavelmente trazida por turistas. Pessoas que visitaram outros países recentemente foram Crianças de zero a seis anos receberam gotinhas contra o sarampo em campanha nacional detectadas com a doença. Há notícias vindas da Europa que mostram a ocorrência de um surto no velho zadas campanhas de vacinação no Brasil. continente. Principalmente na França. Informações reConforme a chefe do Núcleo de Imunizações da centes da Organização Mundial da Saúde (OMS) apon- Secretária de Saúde do Estado, Taine Rainieri, sete casos tam que os franceses estão assustados com cerca de 5 mil já foram registrados no Rio Grande do Sul neste ano de casos registrados da doença. E outros 32 países também 2011. “No ano passado foram oito casos, todos importatem apresentam casos. Conforme dados da OMS, em 2008 dos por turistas gaúchos que visitaram países que ainda morreram 164 mil pessoas em todo o mundo vitímas do têm surtos da doença”, complementa Taine. Em decorrênsarampo. A grande maioria espalhada pelos continentes cia do risco de a doença se espalhar, houve uma nova camafricano e asiático. Atualmente se tem notícias de uma epi- panha. Em Caxias do Sul, segundo dados da Secretaria demia que atingiu o Congo, onde morreram cerca de 32 Municipal da Saúde foram vacinadas mais ou menos 95% pessoas no mês de junho e mais de 800 estavam infectadas. das crianças com idade até seis anos, que geralmente são Segundo informações no portal do Ministério da as que correm maiores riscos de contraírem a doença. Saúde do Brasil, a vacina contra o sarampo é a única meTambém é importante lembrar dos estudantes que dida preventiva, e também a mais segura. É importante vão fazer intercâmbios. Para Scheila Salvati, diretora de que o esquema vacinal esteja completo. A primeira dose intercâmbios da agência CI, é muito válido que a pessoa deve ser aplicada aos 12 meses de vida, e o reforço entre que irá fazer um intercâmbio tenha consciência da imporquatro a seis anos de idade. Todas as mulheres até 49 anos tância de fazer a vacina. “Embora os países não exijam devem receber uma dose da vacina e os homens até 39 a vacina como um dos requisitos para entrar na Europa, anos também devem ser vacinados, independente de seu ela é altamente recomendada, para o bem do estudante”, histórico em relação à doença. Frequentemente, são reali- afirma Scheila.

Destruidora de civilizações Relatos históricos registram pela primeira vez a existência do sarampo na Europa nos séculos II e III d.C. A primeira grande vítima que se tem notícia foi o Império Romano; uma grande proporção da população não totalmente imune à doença acabou vitimada. O sarampo, junto com outros doenças como a varíola, foi um dos grandes responsáveis, segundo alguns historiadores, pela queda do império Romano. Aparentemente, quando surgiu, muitos adultos economicamente ativos não haviam contraído a doença na infância, não tendo portanto, resistência natural a ela, o que explica o enorme estrago que causou nesta época. Diminuiu a população do império ao ponto de leis serem decretadas, como a da hereditariedade das profissões, postos oficiais e redução à servidão dos agricultores, antes livres, dando origem ao feudalismo. Ainda desta época, relatos históricos apontam que o sarampo também pode ter sido a causa da queda do império Han, na China. Já muitos séculos depois, a doença veio para a América, trazida da Europa com a chegada de Cristóvão Colombo. Obviamente causou muitas mortes, praticamente ajudando a dizimar as civilizações asteca e inca. Junto com doenças como a varíola e a varicela, ela matou cerca de 90% da população até então existente no recém-descoberto con-

Em países sub-desenvolvidos, como na África, doença ainda é risco

tinente. O vírus do sarampo só foi isolado pela primeira vez em 1954, e, quase uma década depois, no ano de 1963, foi desenvolvida a vacina contra a doença. No Brasil, até o final dos anos 70, esta virose era uma das principais causas de óbito dentre as doenças infectocontagiosas, sobretudo em menores de cinco anos, em decorrência de complicações, especialmente a pneumonia. Em 1992, o Brasil adotou a meta de eliminação do sarampo para o ano 2000.

Onde esse problema vai parar Quem discorda que a palavra problema desde seu nome indica que algo está errado? Independente do tamanho, grau ou circunstância, problema é sinônimo de algo ruim. Devemos saber lidar com as situações, pois problemas todos temos. Tirar conhecimento dos momentos de problemas serve e ajuda para a vida toda, basta ter paciência. Era noite de uma quarta-feira típica de inverno, chovia muito, aliás, havia chovido durante todo o dia, sem trégua, e o frio também incomodava. Eu acabara de realizar uma entrevista no bairro Ana Rech, zona norte de Caxias do Sul, para escrever uma matéria para a faculdade. Estava com os pés congelados e molhados, além da fome, por não ter feito nenhum lanche durante a tarde. Mas, tudo estava tranquilo, nenhum problema me incomodava. A chuva iria embalar meu sono durante toda a noite. Esperei por alguns minutos o Visate, até que apontou lá adiante o ônibus que me faria ver, pessoalmente, uma cena nunca presenciada antes. Embarquei no ônibus, linha Ana Rech/Salgado Filho, rumo ao Centro. Eu ainda teria que pegar mais um antes de chegar em casa e tirar os calçados molhados, tomar um banho quente e comer algo. Na parada localizada em frente à empresa Marcopolo é que tudo iria acontecer. Alguns passageiros embarcaram e um deles estava acompanhado de sua parceira. Eu estava bem acomodado no antepenúltimo banco do lado esquerdo do ônibus. Percebi uma movimentação estranha lá na frente e espichei um pouco o pescoço para ver melhor o que acontecia. O rapaz que entrou acompanhado estava enfurecido, tentando agredir o motorista, este no seu lugar. O motivo, segundo os berros do rapaz - que demonstrava estar drogado - era que o motorista não queria dar carona para ele e sua mulher, grávida. Gritava chamando o motorista para a briga, insultando-o com adjetivos como “velho filho da p...”, “velho careca”, “seu m...”, e prometendo “quebrar” o velho “a pau” quando o encontrasse pela frente. Questionava se o “velho” nunca havia precisado de ajuda. O condutor aparentava ter uns 50 anos e manteve-se calmo. Seus cabelos brancos demonstravam o aprendizado que a vida lhe concedeu ao longo de sua história. A agressão não chegou a acontecer porque um passageiro, que não tinha nada a ver com a situação, pagou as duas tarifas. O casal passou a catraca, mas a indignação do rapaz não. Seguiu falando em bater, xingava em voz alta, mandava o motorista andar e este não arrancou o carro. Cansado dos insultos, levantou-se de seu banco e falou que chamaria a polícia caso o revoltado não calasse a boca. Nesse momento, o rapaz pulou do banco e tentou partir novamente para cima do motorista; sua acompanhante não deixou, pedia para ele pensar em seu filho. Depois de uns 15minutos o ônibus voltou a andar. A polícia não foi acionada e nada aconteceu para o “valente” rapaz. Uma pessoa que trabalha de forma correta e que tem seus problemas para tratar, quase foi agredida pelo problema de outra pessoa. Uma criança que ainda não nasceu causou um enorme constrangimento dentro uma condução urbana, sem saber, por culpa de seu pai, que não tinha 5 reais para pagar o transporte. Em nenhum momento o homem ouviu ou, ao menos, deixou transparecer preocupação com a esposa e seu herdeiro, ainda no ventre da mãe, que ali, de certa forma, passou vergonha pela circunstância causada pela falta de razão, além de dinheiro. Se antes de nascer, o filho é motivo de desculpa para o pai não ter verba nem pra pagar uma condução, devemos temer o futuro. Pois se, naquela noite, o escolhido para a culpa foi o motorista do ônibus e, amanhã, poderá ser um de nós, qual o exemplo, a educação que este pai vai dar para a criança? Culpar o ensino público não poderá, pois educação se aprende em de casa. Devemos saber resolver os nossos problemas e não descarregar no próximo nossas raivas. Temo que, no futuro, a pobre criança que está para nascer seja um problema de todos nós, nas ruas. (Nestor Júnior Copeli)

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ESPECIAL Hora de recomeçar Espaço para recuperação de dependentes químicos é exemplo de superação e se mantém somente com doações da comunidade [email protected]

Um lugar onde você chega e é recebido com um sorriso e chamado de irmão. A Casa de Apoio Celeiro de Cristo foi fundada em 2008, no bairro Vale Verde, zona norte de Caxias do Sul, após se desmembrar da Igreja localizada em parte do terreno ao lado da Casa. O responsável pela organização do lugar é José Fernando Silva Andrade, que prefere ser chamado apenas de Fernando, diretor geral, também ex-dependente químico, assim como os 62 internos, hoje, que procuraram ajuda para tratar de seus vícios. A equipe é formada pelo diretor, mais José Mario Wodzik, pastor presidente e três monitores. Contam ainda com o apoio de obreiros (ex-pacientes que optam em permanecer na Casa prestando apoio aos internos). Todas as sextas-feiras recebem a visita e atendimento de uma psicóloga, financiada por uma igreja parceira do Celeiro. A casa aceita somente homens, entre 18 e 59 anos. Entre eles, está Allan Cristiano Borges de Farias, 35 anos, que mostra, com orgulho, o certificado de monitor da Casa pendurado na parede do escritório da entidade. Exdependente químico, conheceu as drogas aos 22. Estas o fizeram morar nas ruas, passar fome e, in-

clusive, o levaram a roubar para sustentar o vício. Farias perdeu a esposa e o contato com a filha, hoje com sete anos. Mas a maior dor foi ver sua mãe sofrer com a sua situação. “Minha mãe chorou ao me proibir de entrar em casa porque eu roubava as coisas, me alcançava comida pela janela e, banho, só tomava quando conseguia entrar em casa”, diz. O medo da morte o fez buscar ajuda por conta própria há três anos. O monitor salienta que não há centros que recuperam 100%, mas a pessoa precisa

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NESTOR JÚNIOR COPELI

“A vontade do ex-dependente nunca vai deixar de existir”, diz Farias

se ajudar e contar com ajuda. Na Casa, sua vida começou a mudar; ele reconquistou a confiança da família, recebendo um convite carinhoso da mãe para voltar a morar com ela. O convite não foi aceito, pois o trabalho no Celeiro e o amor pela nova família o fez ficar. “Não trocaria a vivência que tenho aqui por nenhuma das profissões que já exerci, entre elas soldador e programador de torno CNC.” Uma figura diferente, por sua alegria, é Jairo, somente Jairo,

mais conhecido como “Barbeiro”. Ele prefere ouvir a falar. “Tenho duas orelhas para ouvir muito e uma boca para falar a metade”, diz. Cortar o cabelo de todos os internos é motivo de mais alegria. Jairo garante que o trabalho é de primeiro mundo e brinca com o colega na cadeira e os outros ao seu redor que ninguém reclama de seus cortes, até porque é ele quem está com a navalha na mão, soltando uma enorme risada em alto som, acompanhada pelos colegas. “Para estar aqui no Celeiro deve ser por amor e não pela dor”, salienta o “Barbeiro”. Outro exemplo de superação é o do monitor Marciano Luis de Oliveira, 34. Morador da Casa há um ano e quatro meses, além de monitor é diretor da Chácara Celeiro de Cristo. Permanece na entidade por se sentir seguro, distante das drogas, e por amor ao trabalho que ali realiza. “Recebi proposta para voltar ao meu antigo trabalho, mas recusei. Prefiro ficar aqui, pois posso ajudar as pessoas que chegam debilitadas”, afirma Oliveira. O monitor destaca ainda a maravilhosa sensação de ver a evolução daqueles que chegaram mal saírem com suas famílias. Oliveira trata os pacientes como “almas”. “O dependente químico tem um vazio profundo dentro de si; este representa sua alma que deve ser preenchida com coisas boas, em busca da paz interior”, afirma

Espaço onde acontece as rodas de chimarrão serve para internos encontrarem os familiares

Divulg

Marciano (c) entre amigos, demonstra a alegria de sua vida hoje, como monitor da Casa

Para entrar em contato Para ajudar a Casa de Apoio Celeiro de Cristo, ou buscar ajuda, os contato são: 8426.5871, com Fernando, ou 9903.0027, com pastor José Mario [email protected] Atividades envolvem todos os internos, inclusive na manutenção dos produtos recebidos por doações da comunidade

gação

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Ex-usuários obedecem rotina para recuperação A rotina é rigorosamente cumprida por todos. O despertar acontece às 7h e até às 8h todos se preparam para tomar o café matinal. Após, é realizado um culto. Às 10h todos participam da laborterapia – trabalhos diversos que ocupam a cabeça dos pacientes, para evitar que pensem nas drogas. No restante da manhã, os 42 moradores se reúnem para repensarem em seus erros e buscarem soluções para repararem os danos causados no passado. Em seguida, é servido o almoço. A tarde se inicia com oração e, novamente, seguem-se os trabalhos de laborterapia, até a hora do lanche da tarde, 15h30min. Os trabalhos se encerram às 16h, com a lavagem e a organização de todo o material usado durante o dia. Com tudo limpo e arrumado, é a hora do banho e da confraternização, com uma roda de chimarrão que segue até o sinal do jantar. Depois, todos participam de um novo culto, antes do toque de silêncio; a noite é finalizada com um lanche. O tempo na Casa é repleto de atividades, mas nos momentos de lazer os internos podem ler jornal. Este é o principal meio de informação externa que eles têm; além disso, só livros evangélicos. Ouvem músicas, também evangélicas, e quanto ao uso do aparelho de televisão, somente para assistir filmes de ensinos bíblicos.

Ainda participam de oficinas e cursos que igrejas oferecem para os internos. Outra atividade que envolve toda a casa é o Grupo de Teatro da Casa da Apoio, montado em 2010 pelos próprios internos. Este trabalho também traz reconhecimento para o lugar. Segundo Fernando, o dinheiro arrecadado pelo teatro é somente para os custos do grupo teatral. “O grupo já se apresentou em diversas escolas, teatros da cidade e todos os domingos se apresenta em diferentes igrejas evangélicas”, destaca o diretor. O Celeiro sobrevive de doações de empresas parceiras, sem nenhuma ajuda dos governos municipal ou estadual. Durante o inverno, serve também de abrigo para muitos moradores de rua que chegam até a Casa por meio da Prefeitura de Caxias do Sul. De acordo com Fernando, a partir do mês de agosto o Banco de Alimentos de Caxias passa a ajudar com doação de alimentos para o local. Algumas famílias dos internados que têm condições ajudam com R$ 250, cada. A Prefeitura liberou, uma vez por mês, a Casa fazer os chamados pedágios nas sinaleiras no centro da cidade para a arrecadação de fundos que servem de ajuda nos custos. O auxílio da comunidade é um importante impulso para o Celeiro de Cristo seguir com seu trabalho.

Fotos Nestor Júnior Copeli

“Barbeiro” retoma sua profissão e é referência entre colegas do Celeiro, e também é quem cuida da aparência dos amigos Divulgação

Chácara Celeiro de Cristo “afasta” as tentações A extensão, localizada em Vila Oliva, abriga 20 internos. No local, ficam longe das tentações da cidade grande, uma segurança a mais para os primeiros dias de abstinência. O novo morador é encaminhado para o anexo no segundo dia de internação. Na Chácara, como é conhecido o local, são realizadas as mesmas atividades que na Casa. A permanência inicial é de 30 dias, mas pode ser alterada conforme o caso. O TRATAMENTO

Peças contra drogas são encenadas em escolas e igrejas da cidade e resultam em benefícios à Casa

O paciente pode procurar ajuda na Casa por conta própria, sem custo algum para ele ou seus familiares. O primeiro passo é assinar um documento confirmando a livre e espontânea vontade de buscar ajuda, ou de familiares que se responsabilizem pelo interno. Após, é realizada uma avaliação médica na UBS do bairro, caso o paciente não tenha um atestado comprovando suas condições de saúde. No lugar, ele será medicado e tratado da maneira adequada para curar suas dependências, sejam quais forem. A internação de cada um dura nove meses, mas este período pode ser maior,

conforme a melhora ou a confiança que cada paciente adquiriu em si para voltar a enfrentar o mundo fora dos muros da Casa. O Celeiro mantém um projeto com as empresas parceiras, que ajudam a manter o local, onde fazem a recolocação do interno no mercado de trabalho. Todos que estão ali têm alguma profissão interrompida pelas drogas. Após o período na Casa, o paciente que resolve sair tem um acompanhamento mensal, oferecido somente àqueles que seguem morando em Caxias. O último domingo do mês é reservado para a visita de familiares, que participam de um churrasco. Os internos com mais de 45 dias de internação, se autorizados, podem visitar a família aos domingos. Para aqueles com mais de 75 dias, também com autorização da família e comprometimento da mesma em buscar e trazer de volta à Casa, podem passar o final de semana com os familiares. Um quadro na parede da sala destaca os nomes autorizados para essa “regalia”: os na parte azul são os liberados às saídas, enquanto os nomes que figuram no vermelho ainda não estão preparados para tal atividade.

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Depois do telejornal, vem a telenovela São nove horas da noite e o hábito manda ligar a televisão. Começa a novela, e os enredos direcionam a atenção de grande parte da população para a ‘telinha’. Virou rotina assistir aos dramas das mocinhas e dos vilões da ficção. Não vou entrar no mérito de discutir o conteúdo das telenovelas, mas o efeito que isso causa nas pessoas comuns, que tem apenas a TV como meio de informação. O fato é que o entretenimento sempre dominou a grade televisiva e o jornalismo sempre foi um plus na programação. Basta comparar o tempo de duração do Jornal Nacional, com o somatório das novelas que a Globo exibe. Também não quero criticar a emissora por produzir ficção, pois também sou da geração dos que assistem as novelas, mas eu leio jornal e revista, e uso a internet para ler notícias e me atualizar dos acontecimentos do mundo. Imagine a parte da população que não tem acesso a internet, nem tem hábito de ler, apenas assiste, passivamente, a televisão. Essa pessoa possivelmente não esteja acostumada a contestar o que o apresentador diz. Para eles tudo é aceito, sem questionar. Essa é a receita dos meios de comunicação de massa, principalmente da televisão. Uma população que está extremamente acostumada a assistir ficção, que, por se tratar de algo inventado, faz com que o telespectador se acostume a não ter poder de ação, e a se sentir impotente diante dos assassinatos e das traições da novela. Neste caso temos um problema: as pessoas se acostumam em receber e não emitir, e passam a fazer isso com tudo o que vêem na televisão. Até mesmo os telejornais. A ficção da novela e a realidade do jornalismo se confundem e tudo vira o famoso “vi na TV”, mas não passa disso. Os folhetins são criados a partir da realidade, mas não a substituem. É preciso reeducar os telespectadores e parar de acreditar que todo mundo sabe e entende tudo. Na prática não é bem assim. Recentemente o caso Palocci invadiu as telas e passou a ser pauta em todos os telejornais por cerca de um mês. As pessoas viram tudo, desde as denúncias de enriquecimento súbito até o pedido de demissão do ministro, que poucos anos atrás já esteve envolvido em outro escândalo semelhante, que também lhe tirou da cena política. A população assistiu a tudo do sofá da sua casa, mas quando foram questionadas pelos institutos de pesquisa quanto à avaliação do governo Dilma, a grande maioria respondeu que tudo estava ótimo. É o que acontece quando depois dos desastres e falcatruas que o jornal apresenta começa uma novela, com uma estética limpa, cheia de personagens com contradições e, principalmente, com gente e histórias de mentira, que não permitem que ninguém interceda. As coisas não vão bem não, o governo não está tudo aquilo. Basta analisar os aumentos dos produtos básicos, como leite, pão, feijão, ou até mesmo o aumento da gasolina e do diesel. Mesmo com o “monstro” da inflação rondando o bolso do cidadão, ainda assim, está tudo certo. O diagnóstico para a população brasileira não é otimismo, mas sim comodismo. Está tudo relativizado, poucos têm opinião própria. Enquanto no Egito usaram o Facebook e o Twitter como uma maneira de organizar a população para derrubar o governo de um ditador, aqui no Brasil Facebook é usado para postar as fotos das festas e Twitter para escrever o itinerário do dia: “Fui pro cinema”; “Vou almoçar”, “Tô no banho”... Não estou pedindo que parem de ver novelas, mas que tenham discernimento suficiente para entender que nem tudo é irreal e não está ao nosso alcance. A família Sarney não é intocável como se pensa. Nenhum governo resiste à oposição do povo. Mas aqui no país do “jeitinho”, as coisas são diferentes. E eu não estou sendo pessimista, mas, sim, realista. Entendo perfeitamente que as pessoas que lêem jornal, como este aqui, poderão achar bonitas essas palavras e concordar, mas o público que eu gostaria de atingir com esse texto não são os leitores de jornais, mas sim o que não o julga importante suficientemente para dedicar-lhe alguns minutos do seu dia. Minutos esses que os tirariam da escuridão. (Marco Matos)

POLÍTICA

Jovens se interessam pouco pela luta social e pelos debates Em Caxias, o assunto não chama a atenção de grande parte do público Marcos Camargo

MARCOS CAMARGO

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O jovem foi muito importante para a história do País e lutou em várias frentes para promover avanços sociais. Mas será que a juventude de hoje se interessa pelo debate e pela luta política? Segundo o vereador Rodrigo Beltrão (PT), 32 anos, a participação desse público na política é muito pequena. Ele reconhece que alguns estão preocupados, mas preferem não se envolver. Outros têm a ideologia do consumo e não se interessam em discutir o contexto social no qual vivem, estão acomodados. Beltrão foi eleito vereador em 2008, mas conta que sua trajetória nas lutas sociais começou muito antes, ao ser eleito presidente do DCE da Universidade de Caxias do Sul (UCS), aos 18 anos. Ele também já trabalhou em ONGs e foi secretário municipal da Juventude, em 2003. Conforme Beltrão, a sociedade espera grande participação dos jovens, pois eles têm grande destaque em outros setores, como nos clubes esportivos e nas igrejas; porém, quando o assunto é política, surge o desinteresse. “Lotam estádios, mas não participam de reuniões”, constata. Já o vereador Vinícius Ribeiro (PDT), 34, diz que a juventude não está mobilizada porque, em primeiro lugar, está preocupada com sua sobrevivência. “O jovem trabalha o dia todo, depois vai para a universidade e chega tarde em casa. As condições não proporcionam que ele se dedique aos movimentos sociais”, relata. Enquanto estudante, Ribeiro

Os microfones estão abertos, mas falta a participação da juventude na política local

participou do DCE e do DA de Arquitetura da UCS. Ele enfatiza também, suas participações no Cenáculo de Maria, no Movimento Escoteiro e na prática de judô, que concentram jovens para a conscientização em diversos aspectos, inclusive na política.

Para Ribeiro, a presença do jovem no meio político é fundamental, pois ele precisa conhecer a realidade do espaço em que vive. “Ele não deve procurar a política apenas num momento de dificuldade. Ele precisa entender o ambiente ao seu redor durante toda a formação”, diz.

aos 15 anos, e ampliou seu trabalho. Hoje, ele cursa História e Sociologia na UCS e é presidente do bairro Boa Vista, sendo o mais jovem nessa função na UAB de Caxias do Sul. Ele também foi coordenador de comunicação na gestão 2010 do DCE da UCS e, hoje, milita na União da Juventude Socialista (UJS). Bueno concorda que a participação do jovem na política é pequena. Para ele, a economia corrompe o jovem, o deixa em situação de comodismo, sem vontade de lutar e protestar por seus interesses. “O jovem está na inércia”, constata. Ele lembra que a juventude foi fundamental na história do País, em fatos como a derrubada do presidente Fernando Collor de Mello, nos anos 90.

O assessor também está engajado na reativação da União Caxiense dos Estudantes Secundaristas (UCES). Nesse projeto, também está presente o estudante do Ensino Médio, Cláudio Libardi Jr., 16. Além desse projeto, Libardi ainda participa do Grêmio do colégio onde estuda. Sua motivação é a vontade de evoluir, de lutar pelos interesses dos estudantes. “O Grêmio não era muito atuante, estamos tentando mudar essa realidade.” Com o novo Grêmio, ele está promovendo jogos inter-séries e a criação de uma biblioteca com conteúdo específico para o vestibular. Para Libardi, o jovem perdeu a noção de luta. “O jovem espera que o outro lute por ele, está acomodado.”

Participação deve começar cedo Nem todos os cidadãos são desinteressados pelos temas sociais e pela política. Assim como os vereadores, outros jovens também estão preocupados com os problemas da comunidade, e decidiram lutar pelos seus objetivos por meio da política. Um exemplo é o universitário Rafael Bueno, 20 anos, que atua como assessor parlamentar. Ele conta que se interessou pela liderança política desde cedo, o que o motivou, quando cursava a 5a série do Ensino Fundamental, a fundar o grêmio estudantil na escola onde estudava. Movido pela perspectiva de mudança, e sempre motivado pelos colegas, Bueno continuou sua atuação até ser convocado a filiar-se a um partido político,

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ECONOMIA O otimismo que move o brasileiro Apesar das dificuldades o povo nunca perde as esperanças e consegue superar os problemas do dia a dia MARCOS CAMARGO

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O povo brasileiro é mundialmente conhecido pelo seu otimismo, alegria, solidariedade e empreendedorismo. Há alguns anos atrás, uma campanha publicitária da Associação Brasileira de Anunciantes (ABA) difundiu a expressão “brasileiro não desiste nunca”, e reforçou ainda mais essas características. O povo tupiniquim já passou por muitas dificuldades, como a inflação e as crises econômicas, mas, mesmo assim, sempre deu a “volta por cima” e superou as dificuldades. Hoje, a economia se encontra estável e o surgimento de facilidades, como os financiamentos e os auxílios governamentais, fazem com que o otimismo do brasileiro seja ainda maior. As dificuldades do passado, e aquelas ainda existentes na sociedade, são superadas por meio do que é retratado na expressão “jeitinho brasileiro”. Segundo pesquisa realizada nos anos 80 pela antropóloga Lívia Barbosa, citada pelo professor Robson Stigar em artigo, o jeitinho brasileiro pode ser definido como uma forma especial ou criativa de se resolver um problema ou emergência, que pode se caracterizar por um acordo, um ato de esperteza ou habilidade, ou até mesmo, a quebra de alguma regra. O jeitinho brasileiro é lembrado pela professora do curso de Economia da UCS, Maria Carolina Gullo, 41 anos. Ela rememora que o povo utilizou do jeitinho para driblar as dificuldades nos anos 80 e 90 quando o País viveu a inflação na economia. “Todos arranjaram alternativas para sobreviver à economia instável”, argumenta. A professora faz uma comparação da situação atual com a situação de 1985, época em que a inflação estava em seu auge e era conhecida como “dragão”. Segundo ela, o brasileiro é um dos povos mais empreendedores e criativos do planeta, e esses fatores foram fundamentais para a superação dos problemas. “Foi um salto muito grande, e o povo foi muito otimista para vencer esse problema. Passamos de uma instabilidade, para a estabilidade econômica”, comenta. Em comparação com outros países, Maria Carolina vê com bons olhos a economia brasileira e acredita que o país está em situação privilegiada. Em 2009, juntamente

com outros países em desenvolvimento, como China e Índia, o Brasil superou a crise sem grandes dificuldades. “Isso é reflexo de uma economia mais madura e menos vulnerável”, diz. Maria Carolina lembra, porém, de um grave problema do país: as desigualdades sociais. Por outro lado, a economia deixou mais otimistas as classes menos favorecidas, que agora, se tornaram consumidores em potencial. Conforme a professora, quando o governo faz reduções de impostos para compra de produtos, como ocorreu com o IPI sobre carros, móveis e eletrodomésticos na última crise mundial, a população responde imediatamente, pois se tratam-se de necessidades. “As classes C, D, e E representam uma demanda reprimida, ou seja, elas têm uma necessidade de consumo, pois ainda não têm os produtos”, explica. MERCADO Gerente de uma concessionária de veículos, Ronaldo Peirano, 38, é otimista com a situação atual da economia. Segundo ele, a redução do IPI fez com que o consumo aumentasse e, mesmo com a volta do imposto ao seu índice normal, a venda não diminuiu como esperado, e até registrou recorde. O carro é um desejo de consumo e as facilidades proporcionadas, conforme Peirano, sempre aumentam as vendas. “A economia sólida e o aumento da renda, transformaram em consumidores pessoas que antes não podiam adquirir um veículo”, comenta. Na hora de pagar, segundo ele, os números dizem que o brasileiro tem conseguido saldar suas dívidas. Os veículos mais comercializados são os populares, e representam 55%, mas o aumento das vendas se deu em todos os modelos. Peirano revela, como uma característica que demonstra o otimismo do brasileiro, que as pessoas estão sempre em busca de um veículo mais completo. “Quem não tem, quer ter. Quem tem, quer ter melhor”, exemplifica. Já nos supermercados, segundo o gerente José César Miola, 45, o consumo caiu em relação ao ano passado. Para ele, o reflexo dessa diminuição é visto em todos os produtos, desde os mais básicos, até os de maior valor. Miola alerta para um

Fotos Marcos Camargo

ponto negativo do otimismo exagerado: a acomodação. Com os benefícios e descontos concedidos nos últimos anos, o povo passou a consumir mais, mas não poupou o dinheiro. “O povo tem dinheiro, e não guarda. Quanto mais ganha, mais gasta”, opina. NA PSICOLOGIA

Com o aumento do poder aquisitivo do brasileiro, a população sai às compras

Para a psicóloga Marília Zanella, 40, o otimismo do ser humano pode estar ligado a diversos fatores, como os aspectos biológicos, as experiências vividas em família e a influência cultural e social, que moldam a personalidade. “Experiências ricas em emoções positivas e valores como altruísmo, solidariedade, alegria e esperança, contribuem para uma postura mais positiva diante da vida”, explica. Segundo Marília, pesquisas sugerem que o otimismo pode ser aprendido e ensinado. “O otimismo permite ao indivíduo transformar ‘fora’ a partir de ‘dentro’, e converter criativamente aspectos negativos em possibilidades positivas e construtivas”, diz. Para a psicóloga, o povo brasileiro, em especial, é muito criativo, e busca se “reinventar” constantemente. O “segredo” do otimismo, segundo Marília, pode estar também na natureza exuberante, no clima e na forma afetiva e extrovertida com que o brasileiro se relaciona. Esses fatores fazem com que as pessoas se sintam mais alegres, promovam o bem-estar e tenham uma postura mais otimista diante da vida. CONTRAPONTO

Sonho de consumo dos brasileiros, o automóvel zero km está mais acessível

Economia favorável Os indicadores econômicos mostram uma situação favorável para os brasileiros. Segundo dados da Fundação de Economia e Estatística (FEE/RS), no Rio Grande do Sul, a porcentagem de pobres (que recebem até ½ salário mínimo por mês) caiu de 37,7%, em 2001, para 25,3% em 2008. Já a renda real per capita, que era de R$ 491,00 em 2001, subiu para R$ 597,00 em 2008. Em janeiro deste ano, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgou que o poder de compra da população ocupada brasileira, teve um crescimento de 19%, entre 2003 e 2010.

Para a terapeuta Luciana Lourdes Mattana Thomé, 49, parte do povo brasileiro é otimista, e outra, em seu entender, é acomodada. “O otimismo faz parte da vida do ser humano, mas o que ocorre no Brasil é um comodismo geral”, opina. Para ela, a população está imóvel diante da realidade do País e se mostra satisfeita. Não há protestos em defesa dos direitos dos cidadãos e contra as injustiças que ocorrem. A terapeuta não se mostra otimista, e alega que os impostos são altos para as empresas, o que dificulta o crescimento. “Como podemos ter uma economia atuante e em desenvolvimento se exportamos matériaprima e importamos o que deveria ser produzido aqui?”, desabafa.

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Serviços e produtos são cada vez mais solicitados, para atender as necessidades do animal ou de seus donos Maurício Concatto/Divulgação

LETÍCIA KIRCHHEIM

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HOTEL E ADESTRAMENTO

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Bom pra cachorro

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Roupas para cães: de olho no mercado, confecções se multiplicaram e oferecem produtos para todos os gostos e tamanhos

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“Empresas de ração aparecem todos os dias. Mas as que ficam são poucas.” (Nivaldo Corrêa)

Morde e assopra”, diz. Para Corrêa, apesar de tantos produtos, o cuidado começa com carinho. “Oferecer uma boa ração, fazer todas as vacinas e, depois de certa idade, fazer uma bateria de exames no seu pet.

Além, de dar carinho e atenção”, completa.

OPORTUNIDADES

Novos postos de trabalho surgiram com os novos serviços oferecidos, principalmente para o banho e a tosa. Vanessa Santos, 28 anos, trabalhou durante seis anos no ramo da contabilidade. A rotina estressante e burocrática a fez pensar em mudar de área radicalmente. Há três meses, dá banho e faz tosa em um pet e pretende entrar de cabeça na área. Vanessa garante

Os hoteis para cachorros viraram moda e se espalharam pelas cidades. Sem ter com quem deixar, muita gente opta pelas diárias caninas, tanto para um dia ou dois fora da cidade, quanto nos períodos de festas de final de ano e de férias. Marcelo Luis Marcílio é adestrador de cães há 10 anos. Um dia, deixou sua cachorra em um hotel para viajar e quando retornou ela estava sedada. “Ela era extremamente dócil, mas por ser da raça pitbull, a sedaram todos os dias”, conta Marcílio. Depois desse episódio, ele se especializou na área e resolveu montar um local para adestrar e hospedar os animais. “Eu sempre gostei bastante de cachorros. Por causa da carência de hoteis em Caxias do Sul que soltassem os animais, pois geralmente eles ficam presos, comprei uma chácara e montei o hotel”, diz. O hotel Sul Serra e Adestramento existe há seis anos. Localizado na Rota do Sol, tem espaços individuais para 25 cachorros, em box com 10 m2. Dependendo do porte do animal, tem espaço para dividir o box com outro cachorro. Com seis hectares de terra, a chácara tem espaço para os cachorros ficarem soltos. “No hotel, o cachorro sai em média cinco vezes por dia do box, para poder brincar, em uma área de 3,6 mil m2. Eu tiro a energia do cão através do exercício, assim ele fica mais relaxado”, explica Marcílio. Para adestrar o seu pet, é necessário que ele tenha oito meses de idade e é preciso que ele fique, em média, dois meses com o treinador. “Obrigatoriamente o dono tem que vir aqui todos os sábados, para passar para ele o que eu trabalhei com o cachorro durante a semana. Ele só sai daqui quando aprender tudo”, diz. O preço do adestramento básico varia em torno de R$ 750. As diárias do hotel variam de R$ 20 a R$ 30, dependendo do tamanho do animal. Marcílio mora na chácara onde tem alguns animais de estimação próprios: três pitbull, dois rottweiler e três pastor-alemão, além de 20 vira-latas. Para ele, o crescimento dessa área aconteceu porque ter filhos se tornou caro. As pessoas estão substituindo os filhos pelo animal de estimação, os tratando como criança. “Eu não concordo em substituir uma criança por um cachorro. Acho que dá para ter os dois. Hoje em dia, tem gente que faz apartamento com quarto para o cachorro, com guarda-roupa e tudo”, revela.

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Há algum tempo os cachorros deixaram de ser apenas o melhor amigo do homem para se tornarem integrantes da família em milhões de lares brasileiros. A “humanização” dos animais e a opção em não ter filhos, são tendências que influenciam o comportamento das pessoas. Consequentemente, o crescimento deste segmento é tanto que, a cada dia, o mercado lança novos produtos e serviços, para satisfazer as necessidades dos animais de estimação e, principalmente, as necessidades de seus donos. Os números são impressionantes e evidenciam o sucesso do setor. Segundo a Anfal Pet (Associação Nacional dos Fabricantes de Alimentos para Pequenos Animais), o crescimento em 2010 foi de 3%. Para este ano, a estimativa é de 4%. Os dados de 2010 ainda revelam que o Brasil tem a segunda maior população do mundo em cães e gatos: são 34,3 milhões de cães e 18,3 milhões de gatos. O Brasil também é o quarto maior do mundo em população total de animais de estimação, e o sexto em faturamento, que chega a movimentar R$ 11 bilhões ao ano. Os pet foods, como são chamadas as comidas para os animais, lideram as vendas, com 66% do mercado; em seguida, estão os serviços, com 20%. O país tem hoje o segundo maior mercado pet do mundo, perdendo apenas para os Estados Unidos. Com o setor aquecido, a quantidade de pet shops e clínicas veterinárias duplicou nas cidades. Contam com inúmeros produtos curiosos, e até excêntricos, à disposição para todos os tipos de cães, gatos e donos. Coleiras que mais parecem joias, roupas de pele, perfumes, petiscos, chicletes, tosa artística, massagem relaxante e hotel para cachorro, são alguns dos muitos produtos e serviços diferenciados, oferecidos no mercado. Nivaldo Corrêa e Caroline Rossa, há dois anos, fizeram da necessidade uma oportunidade de negócio. “Estava desempregado quando surgiu a ideia. No início era para ser somente um comércio de rações e acessórios”, conta Corrêa. Com um estudo mais detalhado do setor, viram que tinha espaço no mercado em Caxias para oferecer o banho e a tosa, junto com uma clínica. Segundo Corrêa, o mercado para pet cresce a cada dia. “Empresas de ração aparecem todos os dias. Mas as que ficam são poucas”, afirma. Caroline conta que a televisão e as propagandas também influenciam os consumidores. “Esses dias fizemos uma tosa artística e pintamos de rosa um poodle, igual ao cachorro da novela das sete,

leireiros para animais. “As pessoas gostam de exibir seus animais domésticos. Por isso eles exigem que eles saiam do pet impecáveis”, conta Vanessa.

“Trabalhar com animais é gratificante. E o melhor, não se leva problema para casa.” (Vanessa Santos)

que valeu a pena a troca. “Não me arrependo. Trabalhar com animais é gratificante. E o melhor, não se leva problema para casa”, diz. A estética nos animais é um mercado amplo, uma espécie de cabe-

15 ECONOMIA

Crescimento do mercado se dá pela renovação Entre tantos produtos oferecidos, o que chama a atenção são as roupas para cachorros. De olho nesse potencial, Felipe Egger e Gabriela Sartor Egger criaram a Dig Doggy Pet, uma confecção de roupas para cães. A marca tem coleção de outono/inverno e primavera/verão, além de fazerem cama para os pets. Pioneiros nesse ramo em Caxias, começou em janeiro de 2009, e mostra que cachorro pode ter estilo. Os empresários acreditam que o crescimento nesse ramo se dá principalmente pela renovação dos investidores. “Os jovens começaram a montar pets e ir para São Paulo e vir com informação. O pessoal mais antigo dos pets já sabia o que queria, roupa de soft e camas baratas”, revela Egger. Gabriela é estudante de Moda e Estilo na UCS e desenha as peças da coleção. Apesar de ser filha de veterinário, ela nunca teve um cachorrinho. Há cerca de três anos, ela ganhou uma cachorra e surgiu a ideia de fazer roupas para cachorro. A partir de então ela começou a pesquisar em sites, a comprar roupinhas e a participar de feiras em São Paulo. “Começamos a fazer lacinhos, que

era o mais fácil”, lembra. No início, a Dig Doggy trabalhava com uma linha de roupas mais infantilizadas. “Com o tempo mudamos e seguimos uma linha de roupas mais para adultos, seguindo a tendência da moda em cores e tecidos. Como o xadrez está em alta, o usamos também na nossa coleção de inverno”, diz. Segundo Gabriela, o mercado está em ascensão porque as pessoas têm o seu estilo e gostam que o seu cachorro o acompanhe. “As pessoas querem que o cachorro seja uma extensão da roupa que ela está vestindo. Não querem mais uma roupa tão infantil”, conta. A aceitação das roupas foi difícil no início, principalmente na Serra, mas de um ano para cá os pedidos duplicaram “Eu tenho pedidos já para o inverno inteiro, e a mão de obra está escassa, tá difícil encontrar costureiras nos mercado”, conta Gabriela. A Dig Doggy atende praticamente a todo o estado. Em algumas regiões, como Porto Alegre, a empresa tem uma distribuidora. Em Caxias do Sul, quase todas as petshops vendem as roupinhas da Dig Doggy.

Fotos Letícia Kirchheim

Felipe Egger e Gabriela S. Egger, sócios da Dig Doggy Pet, confeccionam roupas para cães e distribuem para todo o Estado

Mercado Pet 2010

Novo membro na família

População de animais no Brasil

Dados Anfalpet 2010

Não é de hoje que os benefícios da relação entre o homem e os animais, se tornaram objeto de pesquisa. Um estudo realizado em 2008, pela Universidade de Missouri-Columbia, nos Estados Unidos, demonstrou que brincar por 15 minutos com um cão faz o nosso cérebro liberar hormônios como a serotonina e a ocitocina, que melhoram o humor e reduzem a irritabilidade. O crescimento do segmento de pet shops nos últimos anos indica uma mudança, tanto no mercado quanto no comportamento das pessoas: os animais passaram a ser tratados como um membro da família. Devido à necessidade que as pessoas têm de companhia, os animais de estimação passaram a ocupar um espaço importante na vida delas. “Hoje, para a família ter um crescimento em número de filhos, gera grandes gastos. Por isso as pessoas preferem ter animais”, conta Nilton Messerschmidt, veterinário há 25 anos e que tem clínica para os cães e gatos há 15 anos. O veterinário tem oito animais de estimação, entre cachorros e gatos. “É uma companhia que tem retorno. Eu chego na clinica e eles me recebem, ficam comigo o tempo todo. Esse carinho, não tem o que substitua”, diz. Para ele, a variedade

Nilton Messerschimidt é veterinário há 25 anos e tem cliníca há 15 em Caxias

de produtos é maior para atingir as necessidades do proprietário, que exagera nos gastos para ver o animal bonito. “Tem artigos de necessidade e artigos de ‘desnecessidade’. Nunca um cachorro usou roupa”, completa. O número de veterinárias, de remédios, exames e tratamentos na área também teve aumento. Messerschmidt é natural de Passo Fundo e mora há 15 anos na cidade. “Quando eu

vim para Caxias, tinha em média 45 clínicas, durante esses 10 anos esse número dobrou”, conta. Com tantos animais por aí, existem aqueles que cuidam de forma exagerada e outros que abandonam. “Animal não é brinquedo, as pessoas devem ter essa consciência. Alguns pais dão de presente para a criança brincar como se fossem objetos”, diz Messerschmidt.

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SEGURANÇA Foto: Marco Matos

Com o crescimento dos investimentos no ramo de segurança privada, as salas de aula dos cursos de formação de vigilantes ganham cada vez mais alunos

Vigilantes são opção de tranquilidade

Com um efetivo maior que o da Brigada Militar, o crescimento da profissão indica o aumento da criminalidade MARCO MATOS

[email protected] Estima-se, segundo o Sindicato Profissional dos Vigilantes de Caxias do Sul e da Região da Serra (SINVICXS), que haja mais de 3 mil pessoas empregadas na área em Caxias do Sul. O aumento da criminalidade e os altos índices de violência estimulam os investimentos em segurança privada. Com tamanha oferta de emprego, os profissionais precisam estar cada vez mais atualizados. Para o exercício da profissão é necessário fazer um curso de formação de vigilantes, regulamentado pela Polícia Federal. Para ser vigilante não basta apenas ter vontade, pois, para fazer o curso de formação, é preciso ser idôneo, ou seja, não apresentar antecedentes criminais; ter 21 anos completos; apresentar comprovante de escolaridade, no mínimo, da 4a série do ensino básico; e realizar exames médico e psicotécnico. Após a conclusão do curso, o certificado é homologado pela Polícia Federal. Quando o vigilante começa a trabalhar na área, a empresa a qual ele estará vinculado deve encaminhar para a Polícia Federal o pedido de emissão da Carteira Nacional de Vigilante (CNV), que serve como uma habilitação para o exercício da função, e é uma obrigatoriedade da empresa contratante providenciá-la. Em 2010, foram solicitadas apenas 137 carteiras na delegacia da Polícia Federal de Caxias do Sul. O curso de formação é de 160 horas/ aulas, divididas entre as disciplinas de armamento e tiro, noções de Direito Penal, defesa pessoal, relações humanas no trabalho, sistema nacional de segurança pública e crime orga-

nizado, criminalística e técnica de entrevista, prevenção e combate a incêndios e primeiros socorros, rádio-comunicação e alarmes, vigilância e noções de segurança privada. O custo do curso na região da Serra gaúcha é, em média, R$ 730.

A PROFISSIONALIZAÇÃO Em 2010, em Caxias, 215 pessoas concluíram o curso de formação de vigilantes, e 682 realizaram o curso de reciclagem, atualização que deve ser feita a cada dois anos por todos os profissionais que exercem a função. A psicóloga Monica Boone, 37 anos, é coordenadora da escola de formação de vigilantes e gerente de gestão de pessoas da Protesul. Segundo ela, o público que busca o curso é, na maioria, composto de pessoas entre 25 e 40 anos, e cerca de 70% de homens contra 30% de mulheres, diferença que vem diminuindo nos últimos tempos. Além dessas estatísticas, Monica ainda diz que a maior parte dos alunos não é natural de Caxias do Sul. “A maioria vem de fora, principalmente pessoas da fronteira, pois lá a formação militar é muito presente, e trabalhar com a área de segurança é uma das profissões de maior status para eles.” O mercado de trabalho está aquecido e, cada vez mais, oferece oportunidades para os vigilantes. “Nos últimos anos, as pessoas passaram a investir em segurança privada. Infelizmente, isso acontece devido ao aumento da criminalidade.” E completa: “Todas as empresas de segurança estão contratando profissionais.” Monica não acredita que a segurança privada possa, um dia, substituir a presença do Estado no setor, já que a função de vigilante é apenas a prevenção e não a ação contra a cri-

Números 78

Tiros efetuados no curso de formação de vigilante

137*

Solicitações da Carteira Nacional de Vigilante (CNV)

215*

Pessoas que fizeram o curso de formação

682*

Vigilantes que fizeram o curso de reciclagem

R$ 730

Valor médio do curso de formação

R$ 903,96

Piso da categoria na Região da Serra Gaúcha * Dados da Delegacia de Polícia Federal de Caxias do Sul.

minalidade. “Hoje o efetivo da segurança privada é maior do que o da segurança pública, entretanto não acredito que possa haver uma substituição”, diz. Quanto ao uso de armas de fogo no local do trabalho, Monica é cautelosa e diz que é preciso fazer uma análise em cada caso, pen-

sando se a utilização do armamento irá mesmo ser eficaz. “Os shoppings, por exemplo, têm grande circulação de pessoas. Dessa forma, é provável que a utilização de armas não seja uma boa opção”, conclui.

ARMAMENTO E TIRO Uma das disciplinas do curso de formação de vigilantes, e também da reciclagem, é a de armamento e tiro. Os instrutores da disciplina de armamento e tiro são credenciados pela Polícia Federal, e, para isso, passam por testes e avaliações criteriosas para serem aprovados. Douglas Cioato, 37 anos, é instrutor de tiro credenciado pela Polícia Federal e professor do curso de formação de vigilantes. Ele afirma: “Na instrução de armamento e tiro é mais interessante habilitar o aluno a usar a arma de forma legal e defensiva do que, simplesmente, usar armas.” O uso do armamento pelo vigilante deve ocorrer só em casos extremos, quando a vida dele ou a de pessoas sob sua responsabilidade estiverem em risco. “Para questão de patrimônio, eles não são orientados a reagir com o uso de força letal”, diz Cioato. As mulheres que procuram a profissão, cada vez mais, normalmente têm um bom desempenho com a utilização de armamento nas provas para a formação. “Quanto ao tiro, as mulheres chegam a ser melhores que os homens, pois são mais dedicadas”, afirma. A função do vigilante não é agir contra a criminalidade, mas sim tentar inibi-la. “A função básica do vigilante é alertar as autoridades competentes, visto que o vigilante deve vigiar, já a polícia que tem o dever de policiar”, define.

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O perigo do “bico”: o barato que pode sair caro Em busca da diminuição de custos com vigilância, algumas pessoas contratam profissionais não habilitados para exercer a função, principalmente em alguns mercados e como vigilantes de quadra, aqueles que vigiam as ruas durante as madrugadas. Entretanto, nem todos podem ser pessoas, de fato, confiáveis. O presidente do Sindicato Profissional dos Vigilantes de Caxias do Sul e da Região da Serra (SINVICXS), Claudiomir Brum, alerta a população para esse tipo de contra-

tação: “É possível que você contrate um informante de um futuro assalto”. Segundo ele, “na busca de segurança, muitas pessoas acabam contratando criminosos”. Além de pessoas sem qualificação para exercer a função, há também muitos policiais militares que fazem o famoso “bico”, para complementar a renda. Entretanto, a legislação não permite que funcionário público exerça outra função fora de seu horário de trabalho. “O ‘bico’ não é certo, a Brigada Militar tem o dever de prestar o

serviço para a comunidade, sem cobrar para isso”, afirma Brum. Outro problema, segundo Brum, é o excesso de empresas “picaretas” no mercado. “Elas acabam fazendo preços muito baixos e depois não cumprem com as normas trabalhistas. Dessa forma estão prostituindo a categoria”, diz. Hoje, o piso da profissão é de R$ 903,96 adicionado de 20%, devido ao risco de vida, assim como os benefícios de valetransporte e adicional noturno, se for o caso.

Quero ser vigilante “Quero ser vigilante pois eu gosto de fazer coisas novas e de aprender atividades diferentes” Nome: Marcos João Volpatto Idade: 37 anos Estado civil: Casado Cidade: Carlos Barbosa/RS Antiga profissão: Vendedor autônomo

“Pretendo melhorar minhas condições financeiras e ter uma vida um pouco melhor”

“Sempre gostei de quartel e de manusear armas de fogo”

Nome: Vinícius Capeletti de Morais Idade: 22 anos Estado civil: Solteiro Cidade: Caxias do Sul/RS Antiga profissão: Motorista

“Meu marido também é vigilante, ele me incentivou, e eu gosto de trabalhar com pessoas e em um local livre”

“Espero conseguir um bom emprego, na área, em Vacaria”

Nome: Jeferson Roberto de Oliveira Vieira Idade: 23 anos Estado civil: Solteiro Cidade: Vacaria Antiga profissão: Metalúrgico

“Sempre gostei da área, servi o Exército e gostei dos treinamentos de lá”

Nome: Rosangela Malgarin Idade: 25 anos Estado civil: Casada Cidade: Caxias do Sul/RS Antiga profissão: Auxiliar de segurança

Nome: Rosária Teresinha Herold Idade: 29 anos Estado civil: Casada Cidade: Caxias do Sul/RS Antiga profissão: Metalúrgica

Nome: Eberson Freire Pereira Idade: 23 anos Estado civil: Solteiro Cidade: Caxias do Sul/RS Antiga profissão: Auxiliar de frigorífico

“Por ser mulher temos que enfrentar grandes desafios, mas as criticas me dão mais força para continuar”

“Há tempo tinha decidido fazer o curso, daí aproveitei que meu filho ia fazer e vim junto com ele”

“A remuneração é melhor que no meu antigo emprego (...),meu pai é vigilante há 15 anos e me incentivou a fazer o curso”

Nome: Keli Luz Idade: 23 anos Estado civil: Casada com um vigilante Cidade: Caxias do Sul/RS Antiga profissão: Secretária

Nome: Marcos Roberto Vieira Idade: 45 anos Estado civil: Casado Cidade: Vacaria Antiga profissão:Metalúrgico e Pintor

Nome: Tiago Klain Idade: 23 anos Estado civil: Solteiro cidade: Caxias do Sul/RS Antiga profissão: Metalúrgico Fotos: Marco Matos

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ESPORTE Entre crescer e desaparecer

Caxias do Sul corre o risco de ter apenas a dupla Ca-Ju como representante do esporte de alto rendimento [email protected]

Há menos de um ano do início dos Jogos Olímpicos de Londres uma preocupante tendência pode ser constatada: o maior município da Serra gaúcha não terá representantes na competição. A falta de atletas de alto rendimento é um reflexo do panorama esportivo da cidade. A Universidade de Caxias do Sul (UCS), última referência esportiva com equipes que disputavam a Superliga Masculina de Vôlei e a Liga de Futsal, mudou sua política de apoio e “passou a bola” para o poder público e empresários da cidade. “Como uma universidade comunitária a UCS não pode lidar com custos tão altos para manter projetos externos. A nossa filosofia, agora, é que os projetos têm que ser auto-sustentáveis, e a universidade contribui com o espaço físico e a marca”, avalia o coordenador de Esportes e Formação da Vila Olímpica, professor Ubirajara Klamos Maciel. Sem uma política de apoio dos governos municipal e estadual, e sem a valorização das grandes empresas da região, o esporte de alto rendimento resiste graças a pessoas que se sacrificam em nome da sua modalidade.

Jonas Ramos

LEONARDO LOPES

ORGULHO PESSOAL Se Caxias tem uma equipe que ainda pratica esporte de primeiro escalão, a “culpa” é de Gabriel Citton, 33 anos. Caxiense, formado em Educação Física pela Universidade de Caxias do Sul (UCS), em 2005, ele se “divide” em seis para manter a cidade no cenário do handebol nacional. Citton começou como treinador de goleiros da modalidade na UCS em 1999. Aos poucos o trabalho consolidou-se, conquistaramse títulos e meninas foram convocadas para as seleções de base. Dez anos depois, já como o supervisor do handebol, Citton conseguiu montar uma equipe para disputar a Liga Nacional de Handebol Feminino 2009. Tendo como base meninas formadas na universidade, reforçada por atletas experientes, a equipe fez história. Gabriel Citton se tornou o técnico mais novo a participar da competição, com 30 anos, e a equipe sagrou-se a primeira estreante a chegar à s semifinais do torneio. O sucesso do primeiro ano trouxe mais investimentos, e aquela equipe feita para disputar a Liga Nacional se transformou numa categoria profissional. Em 2011, com o nome de Luna ALG/APAH/UCS/Prefeitura de Caxias do Sul, a equipe é motivo de orgulho. Com um orçamento que é a metade do das adversárias, a representante caxiense na Liga Nacional encaminha, pela terceira edição consecutiva, a classificação para a fase final. No ano passado viu sua atleta Laís Bordin da Silva, 19, ser a primeira caxiense a conquistar uma medalha oficial do Comitê Olímpico Internacional (COI), com o bronze nos Jogos Olímpicos da Juventude, em Cingapura. Porém, a história de sucesso dentro da quadra não é um reflexo dos bastidores. São quatro pessoas, que dividem um orçamento de R$ 50 mil por ano e se esforçam para manter a existência do clube. Citton, por exemplo, tem de fazer as funções de supervisor, coordenador técnico, técnico da equipe adulta, técnico da categoria juvenil, gerente geral e captador de recursos. “Faz três anos que não tenho salário, todo o dinheiro acaba indo para a equipe. Eu faço isso por mim, pelo orgulho pessoal de ver o handebol na minha cidade... mas está chegando a um ponto insustentável”, declara. Das sete equipes que disputam a Liga Nacional, quatro tem um orçamento estimado em mais de R$ 450 mil. Os custos mínimos para participar giram em torno de R$ 180 mil. A representante caxiense conta, neste ano, com um orçamento de R$ 230 mil, sendo 65% proveniente da Lei de Incentivo ao Esporte do Governo Federal. E a Luna ALG/APAH/UCS/Prefeitura de Caxias do Sul ainda disputa o Campeonato Gaúcho, a Copa Mercosul e a Copa do Brasil. “Falta incentivo tanto público quanto privado. A cidade só dá valor ao esporte às vésperas das Olimpíadas, quando vem as cobranças por falta de representantes”, avalia Citton, que não garante que a equipe vá ter forças para continuar na próxima temporada.

Artilheira da temporada, a ponta Samira Rocha (e) abandonou a equipe em meio à Liga Nacional para receber mais na Europa

Paulo Augusto Goldani Pasa

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Para lançar o projeto, o técnico Fernando Lemos foi até Antonio Prado e Lajeado encontrar empresas dispostas a investir um valor mínimo, o que obriga as meninas a trabalharem de dia e treinar apenas à noite

Base consolidada à espera de uma Superliga Recentemente, Caxias do Sul perdeu sua equipe que disputava a Superliga Masculina de Vôlei. A mudança de política de investimentos da UCS e a falta de patrocinadores obrigaram o clube a se “refugiar” em Porto Alegre. Porém, o trabalho nas categorias de base continua e mantém acesa a esperança da cidade voltar a representar o estado em cenário nacional. Esta é a aposta de Fernando Lemos,

Esforço olímpico Se nos esportes coletivos é difícil, no atletismo a saga vira épica. Em Caxias, a modalidade está diretamente ligada ao tempo de escola. “Logo que terminam o 2º grau, mesmo os nossos atletas mais promissores abandonam o esporte para trabalhar. É um ciclo natural do atletismo na cidade”, relata Gisele Nogueira, supervisora do atletismo da UCS/Sesi/Prefeitura de Caxias do Sul. Para ultrapassar esta barreira é necessária muita força de vontade. E esta é a principal característica de Diogo Mello da Rosa, 18 anos, único representante do alto rendimento em Caxias. Praticante desde os dez anos, Rosa definiu como objetivo de vida ser atleta, e move montanhas para isso. Por conta, ele procurou a Eletrobras e, através de um edital, conseguiu patrocínio. Para cursar Educação Física garantiu bolsa integral na UCS e começou a trabalhar como estagiário no Programa UCS Olimpíadas. A gana em seguir em frente comove os que o cercam e deixam uma certeza: se o atletismo caxiense tiver um representante nas Olimpíadas do Brasil, o nome será Diogo Mello da Rosa.

técnico das categorias femininas da UCS/ APAAVôlei/Prefeitura de Caxias do Sul. Sua crença e força de vontade é tamanha que, nesta temporada, ele conseguiu montar uma equipe para disputar o Campeonato Gaúcho Adulto de Vôlei com um custo mínimo. “Tanto eu quanto as atletas estamos jogando por amor à camisa, ao esporte. Nenhum de nós tem salário para estar na equipe”, comenta o técnico caxiense. Jonas Ramos

Lemos, que trabalha há 15 anos com o voleibol da categoria de base, 12 deles com o naipe feminino, afirma ter o projeto pronto para participar da principal competição nacional de vôlei feminino – só falta o dinheiro. “Tenho dez atletas, formadas aqui, com experiência de Superliga, interessadas em retornar e representar a cidade, entre elas a central Angélica Maliverno que está na Seleção Brasileira de

Novas”, afirma. Para participar da Superliga Feminina calcula-se necessário um orçamento mínimo de R$ 800 mil. Um investimento alto, mas com um retorno de mídia garantido. A competição já tem os direitos de transmissões acertados com três canais de televisão de âmbito nacional. Vale ressaltar que o Rio Grande do Sul atualmente não conta com nenhuma representante nesta liga.

Desde 2009, com a criação do Novo Basquete Brasil (NBB), a modalidade vem reconquistando espaço na mídia nacional. Mas este é mais um esporte em que os gaúchos não contam com um representante na elite. O Caxias do Sul Basquete, projeto desenvolvido em 2005 pelo técnico Rodrigo Barbosa, almeja levantar as cores do Estado, mas esbarra na falta de um grande parceiro. “Falta uma cultura esportiva aos nossos empresários. Esporte não é uma ajuda, é um negócio. Investir dá visão, consolida a imagem e torna conhecida marca”, avalia . Para participar do NBB, a Liga Nacional de Basquete (LNB) exige que a

equipe tenha um orçamento mínimo de um milhão de reais. Um investimento que se mostra como um retorno seguro: na temporada de 2010, participando do Campeonato Gaúcho e da Copa do Brasil, o Caxias do Sul Basquete teve um retorno de mídia de R$ 1,3 milhão. “O que nos falta é um patrocinador máster, aquele que tem a marca diretamente ligada ao nome da equipe. O suporte e a estrutura necessários temos garantidos graças à parceria com o Clube Juvenil”, informa Barbosa. Além disso, segundo o técnico, para o esporte caxiense se desenvolver é preciso “um novo pensamento político ou dos empresários” .

À procura de um nome

Lei de Incentivo ao Esporte A Lei do Incentivo ao Esporte permite que parte do imposto que seria pago ao governo seja repassado a projetos esportivos e paradesportivos pré-aprovados. Uma pessoa física pode deduzir até 6% do imposto de renda devido, enquanto pessoa jurídica tributada com base no lucro real pode repassar 1%. Vale ressaltar que este benefício não compete com outros incentivos fiscais, sendo exclusivo para o setor esportivo. Quem tiver interesse basta entregar uma carta de intenções ao responsável pela equipe a ser privilegiada. Diogo treina forte e sonha com as Olimpíadas

Mais que torcer, eles “vivem” o clube LEONARDO LOPES

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No S.E.R. Caxias, o momento é de harmonia e foco para voltar à Série B. Quem garante isto é Alceu Fassbinder, 64 anos de idade e mais de 50 deles dedicados ao clube do seu coração. Atual presidente do Conselho Deliberativo do Caxias, Fassbinder é o responsável por manter a sintonia entre, aproximadamente, 136 torcedores fanáticos. “O conselheiro é um torcedor dedicado, que conhece mais, vive o cotidiano e sente o sangue ferver pelo clube”, analisa. Para fazer parte do Conselho Deliberativo do clube basta ser sócio grená, se cadastrar e ser aprovado em eleição dos sócios. Entre as obrigações de um conselheiro, há o pagamento de uma taxa mensal, no valor de R$ 150, e a participação em reuniões, quando convocados. Em contrapartida, ganha livre trânsito pelas dependências do clube e tem direito a opinião em reuniões com outros conselheiros. Todo torcedor de futebol sonha em ter acesso ao vestiário do seu clube, falar com comissão técnica e grupo de jogadores, opinar e ser ouvido. É importante ressaltar que isto só cabe ao Departamento de Futebol, mas um membro do Conselho pode chegar bem perto disto. “Por ser conselheiro nós conhecemos mais, vivemos o cotidiano do Caxias. Temos contato com quem trabalha no dia a dia, por isso é importante saber manter a harmonia e sintonizar com a diretoria”, conta o conselheiro. Esta vivência do cotidiano e a ligação com os principais assuntos do clube, discutidos nas reuniões do Conselho Deliberativo, dá a oportunidade de ascender no Departamento de Futebol do clube. Um exemplo disso é a história de Fassbinder que, em tanto anos de dedicação, já foi dirigente em algumas oportunidades, entre elas em 2000, ano do maior título da história do S.E.R. Caxias, com a conquista do Campeonato Gaúcho, quando ele era vice de futebol. “A cidade parou. Chegamos de avião e encontramos um estádio lotado em plena madrugada”, relembra. Atualmente, como presidente do Conselho Deliberativo, Fassbinder se orgulha da organização do Caxias, com salários em dia e harmonia entre os comandos, em termos de clube, e pelas histórias que pode contar depois de tantos anos. “Pela minha experiência, 64 anos hoje, temos que ter uma história, uma contribuição social para com a sociedade da qual usufruimos. Valorizar os clubes da nossa cidade é uma dessas formas, pois sabemos que há muita coisa por trás”, afirma.

O Conselho Deliberativo é o órgão máximo de um clube de futebol profissional. Nas reuniões são decididas mudanças no estatuto, controle do patrimônio e a prestação de contas. Ser um conselheiro envolve mais do que votar e supervisionar o clube, é se dedicar a uma paixão. Fotos Leonardo Lopes

Segundo Segat, ser conselheiro acresce responsabilidade ao torcedor, que “aprende a ouvir, conciliar o torcedor e dirigente”

Com sua experiência, Fassbinder diz que a participação no Conselho é uma forma de contribuir socialmente com a cidade

No Esporte Clube Juventude o ano é de restruturação. Após um período conturbado, marcado por rebaixamentos, o clube alviverde busca absorver a nova realidade para iniciar uma reação rumo à elite brasileira novamente. Quem sintetiza este momento é Rodrigo Tramontina Segat, 35 anos, ativo nos bastidores do clube desde 2002. Secretário da Mesa Diretora do Conselho Deliberativo do Juventude, Segat relata um bom momento interno. “Não podemos ser hipócritas, existem alas dentro do Conselho e já tivemos tempos conturbados internamente no clube, mas o momento agora é pacificador, de foco no Juventude”, relata o secretário. Para ser um conselheiro papo o torcedor precisa ser sócio há mais de três anos ininterruptos, para então encaminhar um pedido, via outro conselheiro, e ser aprovado em reunião do Conselho Deliberativo. Atualmente, o clube conta com aproximadamente 220 conselheiros, de um total de 300 permitidos por estatuto. Nestes nove anos como conselheiro, Segat acompanhou de perto momentos distintos do clube. Dos bastidores, ele destaca 2006, quando era diretor de futebol, como um dos melhores momentos. “Foi uma campanha brigando até o fim por vaga na Sul-Americana. Convivi com grandes jogadores e lideranças no vestiário como o Antonio Carlos, o André Doring, o Cristian...”, relembra. É importante ressaltar que ser conselheiro não garante o direito de se intrometer no Departamento de Futebol. Mas estar nesta posição significa estar no cotidiano do clube, discutir os assuntos mais importantes, em sintonia com quem busca o melhor para o clube. E este convívio abre portas, faz amizades e lhe dá a oportunidade de, em uma rápida passagem, trocar palavras de incentivos com o técnico, os dirigentes e jogadores. “Futebol é um negócio sem garantias. Quando temos este convívio, percebemos que todos querem o melhor para o clube, mas às vezes não dá certo”, conta Segat. Ingressar no conselho é o primeiro passo para aquele torcedor que se acha capaz de trabalhar no Futebol de um clube. Assim, começa o “viver o clube”, se familiariza com as pessoas e a rotina, e ganha o direito de montar uma chapa e ser eleito para cargos como presidente, vice de futebol e vice de finanças. “Ser conselheiro nos torna torcedores com mais responsabilidades. Aprendemos a ouvir, conciliar o torcedor e dirigente, para tomar as melhores decisões para o clube que amamos”, resume.