ESCOLA SUPERIOR DE TECNOLOGIA E GESTÃO DE VISEU

Detenhamo-nos sobre alguns indicadores considerados como centrais, em termos de análise e gestão. A respectiva classificação, por muito difícil...

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ESCOLA SUPERIOR DE TECNOLOGIA E GESTÃO DE VISEU DEPARTAMENTO DE GESTÃO

Indicadores Financeiros 2º semestre

Luís Fernandes Rodrigues

2016 - 2017

RÁCIOS FINANCEIROS E OUTROS INDICADORES DE APOIO À ANÁLISE E DIAGNÓSTICO FINANCEIRO As realidades e os fenómenos a acompanhar e estudar para realizar um diagnóstico financeiro podem ser de natureza diversa – financeira, económica, económico-financeira, técnica, etc. Relativamente ao Balanço, procura identificar-se o risco financeiro assumindo que a estrutura tem que ser equilibrada para que a empresa possa funcionar com normalidade. O equilíbrio financeiro surge como teste à capacidade da empresa solver os compromissos para com terceiros, nas respectivas datas, com recurso ao estudo da liquidez e solvabilidade, estabilidade, capacidade de endividamento, etc. Surge ainda como a necessidade de garantir um equilíbrio funcional entre recursos e aplicações. Falamos, então de tesouraria líquida, fundo de maneio e necessidades em fundo de maneio. Importa ainda diagnosticar não apenas ao nível dos resultados operacionais mas igualmente a forma de financiamento do activo (capitais próprios e alheios).

Em análise e gestão financeira utiliza-se com frequência uma técnica que consiste em estabelecer relações entre contas e agrupamentos de contas do Balanço e da Demonstração dos Resultados. Estas relações têm muitas denominações – rácios, índices, coeficientes, indicadores, etc. O termo mais corrente é o de rácio. Os rácios não são um fim em si mesmos nem dão respostas, são apenas um instrumento de apoio que permite sintetizar uma grande quantidade de dados e comparar o desempenho económico e financeiro das empresas e a sua evolução no tempo. Recorrem a este método todas as pessoas que têm responsabilidades de gestão, os analistas financeiros, os bancos, as sociedades financeiras e as empresas especializadas na venda de informação comercial e financeira. Podem-se construir inúmeros rácios ou relações, conforme o objectivo e o campo de análise e controlo. Os rácios da empresa podem devem comparar-se com outras diferentes fontes de informação que representem o comportamento “normal” no sentido de boas práticas:  Documentos contabilísticos históricos  Médias do sector de actividade  Concorrentes mais importantes, etc. As centrais de balanços como a Central de Balanços do Banco de Portugal e as bases de dados comerciais como a S.A.B.I. são muito utilizadas hoje em dia permitem apurar rácios sectoriais.

Detenhamo-nos sobre alguns indicadores considerados como centrais, em termos de análise e gestão. A respectiva classificação, por muito difícil, não é homogénea, adoptando-se com frequência uma classificação com base em critérios pragmáticos.

DEFINIÇÃO DOS RÁCIOS BASE PARA UM DIAGNÓSTICO FINANCEIRO



Rácios de Liquidez

permitem apreciar os impactos financeiros da gestão ao nível do ciclo de exploração

Prazo médio de recebimentos Prazo médio de pagamentos Liquidez Geral Liquidez Reduzida etc.

Liquidez Geral = Activo Corrente Passivo Corrente Sendo o Activo Corrente aquilo que a empresa transforma em dinheiro no prazo de 1 ano (disponibilidades, títulos, dívidas de curto prazo, inventários) e o Passivo Corrente o que a empresa tem de pagar nesse período (dívidas a curto prazo).

Liquidez Reduzida = Activo Corrente - Inventários Passivo corrente

Prazo médio de recebimentos = Clientes X 360 dias Vendas

Prazo médio de recebimentos = Fornecedores X 360 dias Compras



Rácios Solvabilidade

Estrutura Financeira Capacidade de endividamento Solvabilidade, Cobertura dos Encargos Financeiros Taxa de juro aparente etc.

apreciam aspectos que têm a ver exclusivamente com aspectos financeiros

 Estrutura de capital

Determina a extensão da utilização de capital alheio no financiamento das actividades da empresa. Várias relações se podem estabelecer.

Autonomia Financeira = Capitais Próprios Activos Totais Solvabilidade = Capitais Próprios Passivo

Cobertura por Capitais Permanentes = Capitais Permanentes Activo Fixo  Cobertura dos Encargos Financeiros

Mede o grau de cobertura dos encargos financeiros pelos resultados antes desses encargos e das depreciações.

Cobertura dos Encargos Financeiros =

EBITDA Encargos Financeiros

EBITDA = Res. Antes Enc. Financ. + Depreciações + Variação de imparidades  Taxa de juro aparente

Permite estimar a capacidade de cobertura da dívida, num período não histórico mas prospetivo. Taxa de juro aparente = Encargos Financeiros Passivo



Rácios Rentabilidade

Rendibilidade do Activo Rotação do Activo Rentabilidade das Vendas, Rentabilidade dos Capitais Próprios etc.

revelam aspectos mistos, económicos e financeiros

Estabelecem relações entre os resultados e as vendas ou grandezas dos capitais próprios.

Rendibilidade das Vendas = EBIT Vendas Rotação do Activo = Vendas Activo Totais As Rotação do Activo indicam o grau de utilização dos activos.

Rendibilidade dos Capitais Próprios (ROE) = Resultados Líquidos Capitais Próprios

Rendibilidade do Activo (ROA) = EBIT Activo Totais

Rentabilidade versus Risco O Risco é directamente proporcional à volatilidade dos resultados. Convém não confundir risco e incerteza. A incerteza existe quando a gestão não consegue estimar objectivamente as probabilidades dos acontecimentos. Só existe risco se houver hipótese de estimativa. Na teoria financeira podemos caracterizar o risco como a provável variação dos fluxos monetários futuros. Se pensarmos no mercado de capitais, para ilustrar esta matéria, podemos dizer, por exemplo, que investir no título X comporta mais risco que no Y, se é mais precisa a estimativa do retorno, ou cash-flow, futuro do primeiro, relativamente ao segundo. Conclusivamente, em cada negócio o risco é tanto maior quanto maior a incerteza na previsão de fluxos monetários gerados. Num enquadramento de mercado aberto em que existem diversas alternativas de aplicação e financiamento, a quantificação do risco assume relevância. É óbvio que se trata de uma matéria complexa que, de acordo com os objectivos do programa e do presente manual, deverá ser tratada do modo mais simples e prático possível. Com base no referido, o risco operacional pode ser medido (sobre demonstrações contabilísticas sucessivas) com recurso a: GRAU de ALAVANCA OPERACIONAL

Margem de Contribuição Resultado Operacional

GAO - Grau de Alavanca Operacional (Degree of operating leverage)

GAO =

Q * (PV - CV) [ Q * (PV - CV) * CF ]

=

(MB - CV) (MB - CV - CF)

Ou: GAO = MB / RO sendo : MB - CV - CF = RO em que :

Q PV CV CF MB CV RO

- Quantidade Vendida - Preço de Venda Unitário - Custos Variáveis Unitários - Custos Operacionais fixos - Margem Bruta em Valor - Custos Operacionais Variáveis - Resultados Operacionais

Significa que uma variação de +/- X% nas vendas, mantida a estrutura de custos fixos operacionais, implicará uma variação de +/- Y% nos resultados operacionais: Interpretação do GAO: O risco varia na proporção directa do peso dos custos fixos na estrutura dos custos. Se estes forem elevados (exº indústrias de capital intensivo), manterse-ão independentemente do nível da actividade, revelando elevado risco operacional. É precisamente esta relação entre o nível dos custos fixos e o resultado operacional que se designa por alavanca operacional ou económica. Se as vendas aumentarem a alavanca é favorável, pois, vai demonstrar um impacto mais que proporcional nos resultados operacionais. Se as vendas evidenciarem tendência para decrescerem, o fenómeno é inverso, sendo a alavanca operacional desfavorável. GAO = ( RO t / ROt-1) / ( Vt / Vt-1) em que :  ROt - Variação dos Resultados Operacionais no momento t ( RO t = ROt - ROt-1 ) ROt-1

- Resultados Operacionais do momento t-1

 Vt

- Variação das Vendas no momento t ( Vt = Vt - Vt-1 )

Vt-1

- Vendas do momento t-1

O efeito de alavanca operacional procura relacionar as variações nos resultados operacionais com o nível de actividade.

GRAU de ALAVANCA FINANCEIRA Grau de Alavanca Financeira GAF = RO / RAI

em que :

RO - Resultados Operacionais RAI - Resultados Antes de Impostos

Significa que uma variação de +/- X% nos resultados operacionais, mantida a estrutura de custos financeiros, implicará uma variação de +/- Y% nos resultados antes de impostos: Interpretação do GAF GAF = (RAI / RO) * (TA / CP) sendo :

RAI / RO TA / CP

- Efeito dos Encargos Financeiros - Efeito da Estrutura Financeira

em que :

TA CP

- Total Activo - Capital Próprio

GRAU COMBINADO de ALAVANCA Grau Combinado de Alavanca (Degree of Combined Leverage) - GCA = GAO * GAF

Significa que uma variação de +/- X% nas vendas, mantida a estrutura de custos fixos operacionais e de custos financeiros, implicará uma variação de +/- Y% nos resultados antes de impostos e nos resultados líquidos do exercício:

. BREAK-EVEN POINT OPERACIONAL ou PONTO CRÍTICO DAS VENDAS; Se considerarmos uma certa estrutura de custos, o respectivo grau de alavanca operacional é tanto maior quanto o volume de vendas estiver próximo do seu ponto crítico. Daí poder-se trabalhar numa perspectiva do ponto em que as vendas produzem resultado zero para a empresa.

Quantidade Crítica Económica (Operacional) - Q" = CF / (PV - CV) Volume de Vendas Crítico Económico (Operacional) - V" = PV * Q" = C / MBSV em que :

CF Custos Fixos Operacionais PV - Preço de Venda Unitário CV - Custos Variáveis Unitários

BREAK-EVEN POINT GLOBAL - Ponto Crítico Global das Vendas

Quantidade Crítica Global - Q´ = CF / (PV - CV) Volume de Vendas Crítico Global - V´ = PV * Q´ em que :

CF - Custos Fixos

MARGEM SEGURANÇA Decorrente do anterior importa agora saber qual o nível de vendas que a empresa atinge normalmente e qual a diferença para o nível crítico destas. A margem de segurança é a que informa sobre o intervalo de queda das vendas que conduz a empresa ao limite, ou seja, ao ponto crítico.

MS" - Percentagem em que o volume de vendas actual pode descer até se atingir o volume de vendas crítico económico (operacional). MS" = (V - V") / V em que :

V V"

-

Volume de Vendas Actual Volume de Vendas Crítico Económico (operacional)

MARGEM SEGURANÇA GLOBAL das VENDAS MS´ - Percentagem em que o volume de vendas actual pode descer até se atingir o volume de vendas crítico global . MS´ = (V - V´) / V em que :



-

Volume de Vendas Crítico Global

Anexos de Indicadores QUADRO DE INDICADORES FINANCEIROS LIQUIDEZ LIQUIDEZ GERAL

Activo Corrente / Passivo Corrente

(1)

LIQUIDEZ REDUZIDA

(Activo Corrente - Inv) / Passivo Corrente

(1)

LIQUIDEZ IMEDIATA

D / Passivo Corrente

FUNDO MANEIO (FM)

Activo Corrente - Passivo Corrente

FUNDO MANEIO NECESSÁRIO (FMN)

(Inv + C + EOEP + OD + D) - (F + EOEP + OC)

SITUAÇÃO DE TESOURARIA OU EQUILÍBRIO FINANCEIRO

FM - FMN

ROTAÇÃO INVENTÁRIOS PELAS VENDAS

Vendas /

PRAZO MÉDIO RECEBIMENTOS (PMR) (Dias)

Clientes / Vendas * 360

PRAZO MÉDIO STOCKAGEM (PMI) (Dias)

Inv / CMVMC * 360

PRAZO MÉDIO PAGAMENTOS (PMP) (Dias)

Fornecedores (C/C e Tít. a Pagar) / Compras * 360

(1)

Inv.

SOLVABILIDADE CAPITAIS PERMANENTES

Capital Próprio + Passivo M/L Prazo

FUNDO DE MANEIO

Capitais Permanentes – Activo Fixo

COBERTURA ACTIVOS FIXOS

Capitais Permanentes / Activo Fixo

COBERTURA FUNDO MANEIO NECESSÁRIO

Capitais Permanentes / FMN

ENDIVIDAMENTO

Total Passivo / Total Activo

SOLVABILIDADE

Capital Próprio / Total Passivo

AUTONOMIA FINANCEIRA

Capital Próprio / Total Activo

COBERTURA ENCARGOS FINANCEIROS

EBIT / Encargos Financeiros

COBERTURA ALARGADA ENCARGOS FINANCEIROS

(RO + A + Imp) / Encargos Financeiros

COBERTURA SERVIÇO da DÍVIDA (Capital e Juros)

(RO + A + Imp ) / (Juros + Amort. Emprést.C/ e M/L Prazo)

RENTABILIDADE MEIOS LIBERTOS BRUTOS (MLB)

RO + D + Imp

MEIOS LIBERTOS LÍQUIDOS (MLL)

MLB - D

RENDIBILIDADE CAPITAIS PRÓPRIOS (ROE)

EBIT / Capital Próprio

RENDIBILIDADE ACTIVOS. ECONÓMICOS

RLE / Ativos Económicos

RENDIBILIDADE do TOTAL do ACTIVO (ROA)

EBIT / Total do Activo

RENTABILIDADE das VENDAS

EBIT / Vendas

ROTAÇÃO do TOTAL do ACTIVO

Vendas / Total do Activo

(1) Devem-se considerar os valores líquidos de imparidades. D - Disponibilidades

Imp- Imparidades

C - Clientes

F - Fornecedores

OD - Outros Devedores

OC - Outros Credores

Inv - Existências Públicos

EOEP - Estado e Outros Entes

D- Depreciações do Exercício

RO - Resultados Operacionais

I - Imposto sobre o Rendimento de Exercício

EBIT - Resultado Antes de Juros e Impostos (Earnings Before Interest and Taxes)

CMVMC - Custo das Mercadorias Vendidas e das Matérias Consumidas

OUTROS INDICADORES SINTÉTICOS

EQUAÇÃO DE Du Pont ROE = ROA * MCP sendo : ROA = RLV * RA ROE = RLV * RA * MCP em que :

ROE ROA MCP RLV RA

- Rendibilidade do Capital Próprio - Rendibilidade do Total Activo - Multiplicador do Capital Próprio (Total Activo / Capital Próprio) - Margem Líquida sobre Vendas (RLE / Vendas) - Rotação do Total do Activo (Vendas / Total Activo)

EQUAÇÃO DO EFEITO DE ALAVANCA FINANCEIRA ROE = [ ROA´ + (D / E) * (ROA´ - i) ] * (1-t) em que :

ROA´ i D E

- EBIT / Total Activo - Encargos Financeiros / Total Passivo - Total do Passivo - Capital Próprio

SCORE Z DE ALTMAN : indicador de probabilidade de insolvência financeira. Score Z = X1 * 1,2 + X2 * 1,4 + X3 * 3,3 + X4 * 0,6 + X5 * 0,999 em que : X1 = FM / Total do Activo X2 = Resultados Retidos (Reservas+Resultados Transitados) / Total do Activo X3 = RO / Total do Activo X4 = VMCP / VMCA X5 = Vendas / Total do Activo sendo :

FM - Fundo Maneio Necessário (Activo Corrente - Passivo Corrente) VMCP - Valor de Mercado do Capital Próprio VMCA - Valor de Mercado dos Capitais Alheios

Hipóteses :

Z > 2,99 - Se tudo se mantiver como até então, não há probabilidade da empresa vir a falir nos próximos 2 anos; 1,81 < Z < 2,99 - Nada se pode concluir, sendo que se trata de um intervalo que corresponde a uma zona de indefinição; Z < 1,81 - Se tudo se mantiver como até então, existe uma forte probabilidade da empresa vir a falir nos próximos 2 anos.