OS MANUAIS DE HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO E SUAS LIÇÕES A ENSINAR SOBRE O PASSADO EDUCACIONAL1 José Cláudio Sooma Silva2 Raiza Maia Calheiros3
Introdução [...] quando de repente um Coelho Branco de olhos cor-de-rosa passou correndo por ela. Não havia nada de tão extraordinário nisso; nem Alice achou assim tão esquisito ouvir o Coelho dizer consigo mesmo: Ai, ai! Ai, ai! Vou chegar atrasado demais! (Quando pensou sobre isso mais tarde, ocorreu-lhe que deveria ter ficado espantada, mas na hora tudo pareceu muito natural) ... (CARROLL, 2009, p. 13)4
Empreender uma narrativa que analisa a escrita da história, mais especificamente a História da Educação é adentrar assim como Alice na toca do coelho do país das maravilhas, ou seja, incursionar em uma viagem estranha que alguns, igualmente, escolheram problematizar: os manuais de História da Educação e suas relações com as tentativas de produzir sentidos para o passado educacional. E produzir sentido, desconstruir ou ao menos estranhar o que parecia tão natural é ação almejada nesta pesquisa de Iniciação Científica tal como fez a personagem da ficção de Lewis Carroll (1832-1898) ao se deparar com um lugar tão cheios de possibilidades e dimensões interpretativas. Aliás, o movimento que se pretende realizar aqui é encarar “a escrita da história como prática interpretativa e não a descoberta do que verdadeiramente aconteceu” (DUSSEL, 2004, p. 46). Usualmente, nos acostumamos com certas visões sobre como pensar o passado principalmente aquela propagada em manuais, livros destinados a formação de professores. Estranhar o que parece natural é propor uma nova agenda de perguntas, oxigenar os questionamentos em vez de procurar simplesmente respostas. Nesse sentido, “As reflexões sobre os processos de produção, circulação e apropriação dos impressos apontam para a Esta pesquisa conta com o apoio financeiro do PIBIC/CNPq. Doutor em Educação pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Professor Adjunto IV do Departamento de Fundamentos da Educação e do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro. E-Mail: 3 Graduanda em Pedagogia pela UFRJ e bolsista de Iniciação Científica. E-Mail: 4 Aventuras de Alice no País das Maravilhas; Através do Espelho e o que Alice encontrou por lá/Lewis Carroll; inclui ilustrações originais de John Tenniel; tradução Maria Luiza X. de A. Borges. – Rio de Janeiro: Zahar, 2009. 1
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questão de que é necessário compreender os livros como parte de complexos discursivos (GONDRA e SILVA, 2011, p. 704), ou seja, os processos de produção dos manuais, as características materiais dos objetos e a relação destes com a formação docente (ROBALLO, 2012). Tais elementos tão abrangentes se tornaram indispensáveis para pensar o foco deste estudo que está concentrado em um manual específico: A História da Educação e da Pedagogia: Geral e Brasil – de Maria Lúcia Arruda Aranha – 1ª e a 3ª edições (1989 e 2006, respectivamente)5. A princípio, se tornou natural a forma como esses suportes inventaram a História da Educação fincados em princípios orientadores: 1) o enciclopedismo; 2) a perspectiva cronológica; 3) a narrativa alicerçada em nexos causais e 4) o destaque conferido à linearidade e à curva ascendente do processo histórico. Em um movimento semelhante feito pelos estudos de Gondra e Silva (2011, p. 706) acerca dos textbooks (manuais) norte-americanos: “procuramos apreciar o modo como tais princípios comparecem e marcam as escritas, para perceber como pretendem ordenar, regular e controlar aquilo que deveria ser ensinado, lido e escrito em termos de História da Educação” para a geração dos futuros professores.
Inventariando a modalidade narrativa e a função autor Qual concepção de História está vinculada nos Manuais? Que fatores influenciam a escrita de um livro destinado à formação de professores tanto no nível médio como superior? Tais questões foram investigadas por Gondra, Silva e Menezes (2015) no livro “História da Educação no Rio de Janeiro – Instituições, Saberes e Sujeitos” organizado pelos professores/pesquisadores e vislumbradas a partir de cenário que estava se construindo situado no fim da década de 1980, período de “interesse pela historiografia da educação, ou seja, pela produção de análise que objetivam inventariar e problematizar os modos consagrados de representar o passado educacional” (VIEIRA, p. 86) e no qual o Manual de Arruda Aranha está sendo editado pela primeira vez (1989). Perscrutar a trajetória da História da Educação, principalmente nos cursos de graduação públicos de Pedagogia no Rio está intimamente relacionada com esta pesquisa, isso porque o ensino recai nos usos tradicionais dos manuais didáticos encontrados em programas e ementas, além da detecção da larga aproximação com a Filosofia assinalada nas linhas destes livros didáticos.
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O manual de Arruda Aranha, até a presente data, conta com três edições lançadas pela Editora Moderna (1989; 1996 e 2006).
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Em detrimento desta História que se fundamenta em uma simples linearidade, estava nascendo novas pesquisas que ansiavam analisar os pormenores, as descontinuidades, perspectivar os acasos dos inícios dos acontecimentos. Iluminados pela ideia de Michel Foucault (2013) difundidas também no final do século XX, anos 80, este novo olhar de fazer história ponderava alguns aspectos até então considerados irrelevantes ou não-científicos emergindo assim um certo tipo de genealogia: Daí, para a genealogia um indispensável demorar-se: marcar a singularidade dos acontecimentos, longe de toda finalidade monótona; espreitá-los lá onde menos se os esperava e naquilo que é tido como não possuindo história - os sentimentos, o amor, a consciência, os instintos; apreender seu retorno não para traçar a curva lenta de uma evolução, mas para 'reencontrar as diferentes cenas onde eles desempenharam papéis distintos; e até definir o ponto de sua lacuna, o momento em que eles não aconteceram (Platão em Siracusa não se transformou em Maomé). (FOUCAULT, 2013, p. 55)
Nessa lógica, era preciso empreender uma operação historiográfica que considerasse essas nuances - os sentimentos, o amor, a consciência, os instintos – como componentes históricos. Esta visão faz abrir uma nova chave de entrada com relação aos manuais, a dimensão da função autoral que envolve os processos editoriais e os pertencimentos sociais de autores de manuais. Roballo (2012, p. 119) propõe em sua tese de doutorado sobre manuais didáticos um inventário de pesquisa que encara “a editora, a coleção, a biblioteca e editores, os autores dos manuais, o movimento das edições, entre outros, como também dos elementos que estruturam e organizam os objetos materiais”. Sobre esse aspecto, talvez seja interessante incursionar sobre algumas das preocupações teórico-metodológicas registradas por Michel Foucault (1992). Isto porque a responsabilidade pela assinatura de uma experiência narrativa não pode (ou não deveria) ser compreendida como uma relação neutra, imparcial e direta estabelecida entre o indivíduo e a exposição escrita de um conjunto de ideias. No lugar disto, tomando em consideração a dupla acepção descortinada pelo emprego da palavra sujeito que tanto pode remeter às ações concretizadas quanto às sujeições e constrangimentos sofridos, muito mais pertinente se afigura o investimento que se interesse em examinar as experiências narrativas a partir das funções autores que foram desempenhadas. (SILVA e CALHEIROS, 2016, p. 3)
Dessa forma, no que tange ao objeto deste estudo podemos destacar, primeiramente, os pertencimentos sociais da autora Maria Lúcia de Arruda Aranha e sua trajetória profissional na editora moderna sistematizadas por Maria Helena Camara Bastos (2014):
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Maria Lúcia de Arruda Aranha nasceu em Três Lagoas, Mato Grosso 6. Formada em Filosofia na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), lecionou para o Ensino Médio, em escolas da rede pública e particular, até se aposentar. Em 1986, em parceria com Maria Helena Pires Martins, publica a obra “Filosofando - introdução à filosofia”, atualmente em 3ª edição, inaugurando uma longa atuação junto à Editora Moderna, como autora e coordenadora de coleção. Também publica as obras: “Temas de Filosofia” (em coautoria Maria Helena Pires Martins, em 3ª edição revista e ampliada/2003); “Filosofia da Educação” (2ª edição, 1996); “Maquiavel, a lógica da força” (2ª edição/2006); “Guia Prático para o professor – Ética e cidadania na sala de aula” (2ª edição/2002); “Qual é a graça? O bom e o mau do humor” (2001); “A praça é do povo. Política e cidadania” (2001); “A bússola e a balança”. Para um mundo mais justo (2001) (BASTOS, 2014, p. 518-19)
As informações acima indiciam as ênfases do livro analisado que principalmente se baseiam no campo da Filosofia, de onde se origina a autora convidada pela Editora Moderna para o desafio de empunhar a escrita como ferramenta de trabalho e produzir um manual de História da Educação. Além disso, notou-se uma extensa trajetória de produção escrituraria de Aranha junto a Moderna, o que também na dimensão indiciária foi fator pertinente para se entender as condições de produção. “Na historiografia, a crítica metodológica está acompanhada da percepção das condições nas quais a escrita da história foi produzida” (VIEIRA, 2011, p. 84), nesse sentido muito mais de do que uma artilharia retroativa que visa apontar as incompletudes de uma narrativa, o objetivo é analisar dentro do que foi possível, exigido e necessário para a produção de um livro didático dentro do seu tempo, final da década de 80. Interligados com estas condições de produções estão as crenças sobre a operação historiográfica ou os modos de escrever a história, as relações da história com as outras áreas do conhecimento, neste caso, a Filosofia, e as representações sobre as funções sociais e políticas da história. E dessa forma nos permite pensar critérios capazes de produzir a classificação das narrativas, ou seja, os lugares institucionais ocupados pelos autores; os públicos visados pelas obras; as expectativas daqueles que encomendaram os textos; a intenção dos autores (função-autor) ao publicá-los; as crenças científicas, religiosas e/ou políticas dos autores; as linguagens mobilizadas; a presença de movimentos e instituições que influenciaram os campos da educação e da história. Caminhando neste percurso, o foco será na linguagem mobilizada no manual concebido para apoiar as práticas pedagógicas nos cursos de formação de professores. Abaixo é feita uma comparação de parte dos sumários
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A Lei Complementar nº 31 de 11 de outubro de 1977 criou o Estado do Mato Grosso do Sul. A partir dessa data, portanto, a cidade de Três Lagoas passou a integrá-lo. http://www.ms.gov.br/institucional/perfil-de-ms/. Acesso em 10/07/2016.
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organizados nas edições do manual de Aranha que sugerem os princípios orientadores constantes à História da Educação: QUADRO 1 SUMÁRIOS DAS EDIÇÕES – FACILITADORES DE LEITURA 1ª EDIÇÃO (1989)
3ª EDIÇÃO (2006)
UNIDADE IV - A EDUCAÇÃO MODERNA (universal e brasileira)
PARTE II – Brasil: de colônia a Império……….............................................219
7. Renascimento: a nova imagem do homem………………………………...102
Contexto histórico
Primeira parte: Contexto histórico Segunda parte: A educação na Renascença
1. A mudança da corte para o Brasil........219 2. Brasil Império ……….........................220 Educação
Terceira parte: A pedagogia humanista
1. Período Joanino .....................................221 Transformações culturais e criação de cursos superiores 2.Império: os três níveis de ensino.............222 O ensino elementar, O ensino secundário, O ensino superior 3. A formação de professores.....................227 4. Outros cursos profissionalizantes...........228 5. A Educação da mulher...........................229
1. Introdução, 114.
Pedagogia
2. Vives, 115. 3. Erasmo, 115.
1. Reflexões pedagógicas no final do Império.......................................................230 2. O método intuitivo.................................232
4. Rabelais, 116.
Conclusão……………………………......233
5. Montaigne, 116.
Leitura complementar…………………...235 Luciano Mendes de Fario Filho e Diana Gonçalves Vidal
1.A educação leiga, 104. 2. A educação religiosa reformada, 106. 3. A Contra-Reforma, 108.
6. Conclusão, 117.
[Escolas de improviso]
Fonte: Manual de História da Educação de Maria Lúcia de Arruda Aranha.
Os largos estratos temporais e a longa incursão na História Geral para tentar explicar a História da Educação são características ressaltadas aqui para pensar o caráter enciclopédico do manual e o curso previsível atribuído ao processo histórico. Além de, na terceira parte “A pedagogia humanista” encontrarmos filósofos enumerados como referências para a costura argumentativa, algo relacionado com a própria formação da autora como já sinalizado anteriormente. Fato curioso é observado na leitura complementar acrescida na 3ª edição do manual, no qual foram selecionados autores que não necessariamente dialogam com a perspectiva desta modalidade narrativa. Por que essa estratégia escrituraria de ampliação Anais Eletrônicos do IX Congresso Brasileiro de História da Educação João Pessoa – Universidade Federal da Paraíba – 15 a 18 de agosto de 2017 ISSN 2236-1855 5589
não dialoga diretamente com o corpo principal do texto? Na revisão e ampliação encontramse muitas leituras complementares com este caráter, além do aumento significativo de questionários que visavam selecionar aquilo que deveria ser retido pelos professores em formação. Desse quadro, por meio dessa distribuição reconhece-se nos largos estratos temporais previamente estabelecidos os traços comuns dos projetos educativos de cada um desses períodos da História Geral. E pressupõe, a história como lição e uma linearidade nos acontecimentos indiciando uma evolução, progresso do passado para o futuro incluindo a educação nessa curva ascendente. Por isso, podemos indiciar a separação entre Contexto Histórico/Educação/Pedagogia na 3ª edição, destacada na tabela acima, possa ter relação com essa concepção de História da Educação. Dessa forma, anula de uma certa forma as experiências humanas dos sujeitos sociais, desconsidera a lógica circunstancial de acontecimentos cotidianos atravessadas por aleatoriedades, caminhos, descaminhos e hesitações. No que tange à ordem do discurso e as concepções utilizadas neste trabalho cabe esmiuçar a categoria de diferentes presentes (o passado), na qual se debruça Silva e Lemos (2013) e se enquadra na possibilidade de considerar as necessidades, possibilidades e exigências
sociais
de
uma
delimitação
populacional
e
territorial.
Ou
seja,
“fundamentalmente, examinar as ações e as (in)certezas vivenciadas por homens e mulheres frente àquilo que lhes era necessário e possível em seus cotidianos. Nesse percurso, a grande questão é como se apropriar dessa visão em um Manual Didático? Para isso, é preciso sensibilizar o olhar para aquilo que não nos é (ou não deveria ser) familiar: os acontecimentos ocorridos em outros tempos que não os nossos. Mais do que modificar toda a estrutura da escrita de manual, uma modalidade específica em circulação o caminho é “transformar o real em enigma” como sugere Silva e Lemos (2012, p. 1): Por um lado, privilegiar diversificadas formas de entrada e discussão à problemática escolhida para análise; por outro, em concomitância, prestigiar um determinado posicionamento interessado não somente em averiguar aquilo que já se desenhava, inicialmente, no horizonte de propostas para o estudo.
Além disso, outros aspectos comparecem no que se refere a função autoral, editoração e circulação desses objetos materiais. Tal atitude, pode ser vinculada tão somente pelo livro, mas também pela prática do professor/pesquisador ao operacionalizar o objeto (livro) como propaga Chartier (1990, p. 126) quando salienta as diferentes apropriações dos sujeitos sobre Anais Eletrônicos do IX Congresso Brasileiro de História da Educação João Pessoa – Universidade Federal da Paraíba – 15 a 18 de agosto de 2017 ISSN 2236-1855 5590
os suportes materiais e as influencias na elaboração: “Façam o que fizerem, autores não escrevem livros. Os livros não são de modo nenhum escritos. São manufaturados por escribas e outros artesãos, por mecânicos e outros engenheiros, e por impressoras e outras máquinas”. Assim, podemos afirmar a complexidade de se estudar um manual, devido as diversas dimensões envolvidas na elaboração, circulação e apropriação desses impressos e das diversificadas leituras possíveis no que se refere a sua aplicabilidade. Para discorrer sobre alguns comparecimentos e interferências das problematizações referentes aos diferentes presentes no campo da História da Educação brasileira, de início, convém sublinhar que os estudos voltados para a construção de quadros contextuais foram preponderantes até meados década de 1980. Algo que passava pela adoção de marcos políticoseconômicos-administrativos como critérios definidores para pensar a sociedade, sendo a educação estudada a partir, e em função, daquela tradição inventada de se enquadrar o Brasil em três grandes blocos: Colônia (1500/1822); Império (1822/1889); República (a partir de 1889) 7. Nessa medida, ora encerrados nos direcionamentos administrativos e características econômicas gerais, ora restritos aos exames das proposições de práticas e métodos didáticos, os fenômenos educacionais eram abordados como reflexos de intencionalidades governamentais e/ou perspectivados sob as preocupações advindas da história das ideias pedagógicas que, no mais das vezes, subsumiam os sujeitos sociais responsáveis pela consecução das experiências educativas. (SILVA e LEMOS, p. 8-9)
O manual e suas variantes Silva e Calheiros (2016, p. 4) já haviam destacado sobre os aspectos que circunscrevem o manual e como se pode indiciar por aquilo que foi realçado no Quadro 1, entre a primeira (1989) e a terceira (2006) edições houve um significativo número de alterações no que tange à diagramação e à materialidade do impresso8. É na terceira edição que se constata mudanças significativas na materialidade da obra e no conteúdo, um cuidado maior com a diagramação, qualidade do papel, uso de duas cores (os dropes e as atividades são destacados em quadros na cor argila, contrastando com o fundo branco da página). A capa e as imagens que introduzem os capítulos, em número de 12, (página par), no tamanho integral da folha, coloridas em duas cores – argila e branco. O uso das imagens é ilustrativo, não havendo nenhuma alusão às figuras no corpo do texto (BASTOS, 2014, p. 520).
Sobre essa tradição inventada cabe, igualmente, apontar para outros arranjos que seguem o mesmo modelo, tais como: República Velha; República Nova; Estado Novo; Nova República. 8 Cumpre sublinhar que em 1996 foi lançada a 2ª edição do manual de Arruda Aranha. 7
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QUADRO 2: DIAGRAMAÇÃO E MATERIALIDADE DOS MANUAIS Ano/ Edição
1989 - 1ª Edição
2006 - 3ª Edição
Título
História da Educação
História da Educação e da Pedagogia Geral e Brasil
Formato
21 x 14 cm
24 x 17 cm
Número páginas
288
384
Diagramação
Texto único
2 colunas
Imagens
4 mapas/ 10 figuras
3 mapas/ 13 figuras
Sumário da obra
- Apresentação, - Introdução, - 5 unidades/12 capítulos, - Índice onomástico, - Indicações bibliográficas
- Apresentação, - Introdução, - 12 capítulos, - Orientação bibliográfica, - Bibliografia básica, - Bibliografia geral, - Índice de nomes com breve biografia
Organização dos capítulos
- Epígrafe, - Contexto histórico, - Educação, - Pedagogia, - Educação Brasileira (a partir do Capítulo 7), - Dropes (excertos de autores), - Atividades (questões), - Leituras complementares
- Introdução, - Contexto histórico, - Educação, – Pedagogia, - Dropes, - Leitura complementar, - Atividades (questões gerais e questões sobre a leitura complementar), - Sites para consulta
Fonte: BASTOS, 2014, p. 519-20.
A essas alterações na diagramação e na materialidade do impresso devem ser acrescidas aquelas outras que dizem respeito, por exemplo, ao aumento do número de páginas; alteração nos textos das “leituras complementares”; modificação das atividades propostas (questionários, pesquisas, análise dos textos); atualização das referências bibliográficas (BASTOS, 2014). Nessa medida, conquanto se perceba uma permanência nos princípios orientadores da experiência narrativa elaborada por Arruda Aranha, as revisões e ampliações que foram efetivadas para o lançamento da 3ª edição de 2006 produziram, de algum modo, alterações no manual. A esse respeito, o retorno a Roger Chartier (1990) tornase oportuno: [...] é necessário recordar vigorosamente que não existe nenhum texto fora do suporte que o dá a ler, que não há compreensão de um escrito, qualquer que ele seja, que não dependa das formas através das quais ele chega ao seu leitor. Daí a necessária separação de dois tipos de dispositivos: os que decorrem do estabelecimento do texto, das estratégias de escrita, das intenções do “autor”; e os dispositivos que resultam da passagem a livro ou a impresso, produzidos pela decisão editorial ou pelo trabalho da oficina [...] (CHARTIER, 1990, p. 127). Anais Eletrônicos do IX Congresso Brasileiro de História da Educação João Pessoa – Universidade Federal da Paraíba – 15 a 18 de agosto de 2017 ISSN 2236-1855 5592
Dialogar com tais ponderações significou, neste estudo, partilhar da problematização de que as dimensões relacionadas à diagramação e à materialidade do manual de Arruda Aranha interferem e modificam aquilo que, porventura, pode vir a ser apreendido pela comunidade de leitores. Afinal, o emprego de cores diferentes, qualidade do papel, organização dos dropes, tamanho do livro, número de páginas, atualizações etc. modificam a maneira de se narrar e produzir inteligibilidade ao passado educacional. A esse respeito, dentre vários, fiquemos apenas em um exemplo: os questionários. A formulação, o realce, a ordem desta ou daquela pergunta que deve ser respondida a partir da leitura realizada funcionam como estratégias interessadas em direcionar, controlar e fixar aquilo que deve ser trabalhado e aprendido. Algo que se amplia, tremendamente, ao recordarmos que o manual em análise tinha como público-alvo os responsáveis por ensinar às novas gerações aqueles que seriam os principais aspectos da História da Educação Geral e do Brasil. Nessa medida, que suas lições sejam problematizadas e desnaturalizadas ao serem empregadas nos Cursos de Formação de Professores assim como Alice se propõe a fazer no País das Maravilhas e seus enigmas. Que algumas reflexões presentes a este estudo contribuam para tais empreitadas, o nosso convite.
Considerações Finais Dentro dos recortes prestigiados por este estudo, optamos por incursionar sobre: a) as questões relacionadas às características editoriais/autorais e aos princípios orientadores da narrativa costurada no manual; b) certas variações indiciadas entre a 1ª e 3ª edições; c) determinados comparecimentos de aspectos que remetem ao movimento de fortalecimento do campo da História da Educação na 3ª. edição do manual. Esse investimento analítico esteve interessado em indiciar alguns dos motivos que, talvez, auxiliem a compreender o porquê deste manual permanecer se constituindo, atualmente, como uma referência no ensino da História da Educação nos Cursos de Formação de Professores. Acerca dessa permanência, de início, cumpre destacar que de acordo com as pesquisas e levantamentos que realizamos junto à Editora Moderna, de 2009 a 2014 a 3ª edição do manual de Arruda Aranha (2006) alcançou a tiragem total de 65 mil exemplares 9. A esse expressivo número, impreterivelmente, devem ser acrescidas as ponderações alusivas às maneiras de acessar e “caçar furtivamente” no terreno do outro (por meio das práticas de leitura; de escuta, de partilha; pela disponibilização de capítulos e excertos fotocopiados e/ou
8 Informação
concedida pela Editora Moderna.
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digitalizados; pelo empréstimo nas redes de bibliotecas que, via de regra, se fazem presentes às diferentes instituições de formação de professores etc.) (Cf. DE CERTEAU, 1994; CHARTIER, 2011). Tais apontamentos contribuem para que aventemos a possibilidade de uma circulação ainda maior do manual entre aqueles que, num futuro próximo, foram (ou, ainda, serão) os responsáveis por trabalhar junto às novas gerações a História da Educação. Nessa linha, os aspectos que foram abordados por este estudo indiciam que as produções de sentido para o passado educacional nos Cursos de Formação de Professores permanecem, ainda, empregando contumazmente o manual de Maria Lúcia de Arruda Aranha (BASTOS, 2014). Algo, portanto, que sinaliza que a discussão sobre as suas lições devem necessariamente integrar o horizonte daqueles interessados nos (des)caminhos trilhados (ou ainda, não percorridos) pelas Histórias da Educação do Brasil e sua gente.
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