RELATO DE EXPERIÊNCIA, FORMAÇÃO GENERALISTA E PSICOLOGIA

Todavia, acreditamos que a introdução e conhecimento de diferentes ... generalista no que diz respeito à sua construção e realização...

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PSICOLOGIA E DIREITOS HUMANOS: Formação, Atuação e Compromisso Social

RELATO DE EXPERIÊNCIA, FORMAÇÃO GENERALISTA E PSICOLOGIA Maria Eduarda Freitas Moraes* (Graduanda em Psicologia da Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria-RS, Brasil); Cezar Augusto Vieira Junior (Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal de Santa Maria, Bolsista CAPES, Santa Maria-RS, Brasil). contato: [email protected] Palavras-chave: Formação Acadêmica. Universidade. Estudantes.

No Curso de Psicologia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), observa-se uma estrutura, bem como uma grade curricular, que privilegia durante a graduação em psicologia determinados locais e formas de atuação do(a) psicólogo(a) (principalmente, a clínica), bem como determinadas abordagens teóricas (essencialmente, a psicanálise e a cognitivo-comportamental). Tal fator não é totalitário, mas exerce forte influência sob a formação que os estudantes adquirem. Porém, de acordo com o Plano Pedagógico do referido curso, ao final da graduação, o graduando em psicologia deve, entre outras coisas, reconhecer a diversidade de perspectivas necessárias à compreensão do ser humano e ser capaz de atuar em diferentes contextos. Conforme Bock (2008), a diversidade de pensamentos acerca da psicologia reflete a complexidade do ser humano, de forma que não é possível falar de uma única psicologia, mas de psicologias. Dentro deste panorama, cabe colocarmos em questão se a prática que se tem em sala de aula e demais espaços de formação é coerente com tal plano pedagógico. Sentindo a incapacidade do curso em dar conta desta proposta, o Diretório Acadêmico da Psicologia (DAPSI) da UFSM teve como iniciativa proporcionar aos estudantes o I Ciclo de Encontros de Formação Generalista durante 2013 e o II Ciclo de Encontros de Formação Generalista durante 2014. Cada um dos ciclos foi composto por três oficinas. Embora a gestão do DAPSI tenha mudado em parte e, em outra parte, se manteve as mesmas pessoas, a proposta foi levada adiante tendo em vista os interesses e a aceitação da mesma por parte dos estudantes. Bernardes (2012) afirma que a formação em psicologia nunca foi generalista e isso é um mito, visto que nossa formação sempre foi centrada no indivíduo e localizada na clínica. O autor ainda argumenta que não se pode reduzir a formação generalista a um trânsito em diferentes áreas ou locais de atuação, mas que se deve estar atento a necessidade de produzir uma formação preocupada com as demandas das populações. Uma das cartilhas do CFP

PSICOLOGIA E DIREITOS HUMANOS: Formação, Atuação e Compromisso Social (2006) converge para a segunda proposição que apresentamos de Bernardes (2012), indicando que a formação generalista é tomada como uma perspectiva crítica na medida em que abarca a complexidade da realidade, considerando que o profissional deve ser sensível ao contexto em que está atuando. Cabe assinalar que, embora tendo a psicologia produzido um acúmulo de conhecimento científico, ela enfrentou crises e diversos questionamentos (Moura, 1999) por não saber responder às questões da sociedade contemporânea. Pois, por vezes, a prática da psicologia se constrói através de uma perspectiva isolada e fragmentada (Ronzani & Rodrigues, 2006). Neste sentido, concordamos que o trabalho do psicólogo deve comportar uma sensibilidade para com as demandas da população a qual atende, bem como as especificidades do seu local de trabalho. Todavia, acreditamos que a introdução e conhecimento de diferentes abordagens teóricas e áreas da psicologia favorece uma possibilidade de escolha do psicólogo da linha teórica que irá utilizar, pois à medida que conhece diferentes abordagens, pode-se optar por aquela com a qual tem mais afinidade. Com isso, entendemos que a possibilidade de escolher com o que se trabalha corrobora e favorece a qualidade do trabalho desse profissional. O presente trabalho se propõe a relatar a experiência dos encontros de formação generalista no que diz respeito à sua construção e realização. Aqui abordaremos experiência no sentido expresso por Larrosa (2002) como aquilo que nos acontece e nos passa, não aquilo que acontece simplesmente, pois conforme aponta, “a cada dia se passam muitas coisas, porém, ao mesmo tempo, quase nada nos acontece” (Larrosa, 2002, p. 21). Os encontros ocorreram ao longo de 2013 e 2014, consistindo oficinas nas quais eram apresentados e debatidos temas que eram pouco comentados ou sequer vistos em sala de aula e, ainda assim, eram de suma importância para a construção de uma compreensão generalista do(a) psicólogo(a). Os temas foram selecionados a partir de queixas dos estudantes sobre a carência deles e o interesse por eles em sua formação. Alguns dos temas foram pensados a partir de Assembleias estudantis, outros foram pensados a partir de outras sugestões, bem como à disponibilidade de profissionais capacitados a ministrar as oficinas. A partir das sugestões, elas foram organizadas separadamente em reuniões do DAPSI. Também consideramos que os mediadores ou apresentadores das oficinas poderiam ser professores já inseridos no departamento de psicologia da UFSM, mas que não dispusessem de muito espaço para a discussão de alguns dos temas com os quais trabalham, no âmbito da sala de aula.

PSICOLOGIA E DIREITOS HUMANOS: Formação, Atuação e Compromisso Social Cada um dos ciclos foi composto por três oficinas, sendo a inscrição de cada oficina realizada separadamente, haja vista a grande diferenciação de cada tema. Sendo assim, ocorreram seis oficinas, sendo o tema delas: psicologia no âmbito jurídico; gênero; psicodrama; perícia psicológica; terapia sistêmica familiar; e esquizoanálise. Tendo sido produzido um encontro para cada tema citado. Através do espaço proposto por meio dos encontros, os estudantes puderam reconhecer a diversidade de abordagens teóricas, bem como de locais de atuação que a psicologia pode ocupar. Tal reconhecimento era bastante restrito anteriormente, à medida que, além de um currículo restrito, o curso não oferece disciplinas opcionais. Desta forma, os estudantes puderam se qualificar profissionalmente, compartilhar vivências, bem como realizar-se pessoal e profissionalmente ao debater uma área nova, ou que já era de seu interesse, mas que não havia espaço reconhecido para esse debate anteriormente. Reconhecemos que os encontros são breves e não suprem a falta curricular que existe no curso, sendo por isso necessária também a criação de outras alternativas de desenvolvimento da abrangência da formação profissional desses estudantes, tais como grupos de estudo, uma possível reforma curricular e outras formas de eventos para que se aprofunde determinadas questões. Entretanto, percebemos essa experiência como um potencial para se ter conhecimento da diversidade que compõe o campo da psicologia. Referências Bernardes, J. S. (2012). A formação em psicologia após 50 anos do Primeiro Currículo Nacional de Psicologia – alguns desafios atuais. Psicologia: ciência e profissão, 32, 216-231. Recuperado em 15 março, 2015, de http://www.scielo.br/pdf/pcp/v32nspe/v32speca16.pdf Bock, A. M. B. (2008). Psicologias: uma introdução ao estudo da psicologia (14ª ed.). São Paulo: Saraiva. Conselho Federal de Psicologia – CFP (2006). I Fórum Nacional de Psicologia e Saúde Pública: contribuições técnicas e políticas para avançar no SUS. [Cartilha]. Brasília, DF. Larrosa, J. B. (2002). Notas sobre a experiência e o saber de experiência. Revista Brasileira de

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98931999000200003&script=sci_arttext Ronzani, T. M., & Rodrigues, M. C. (2006). O psicólogo na rede de atenção primária à saúde: contribuições, desafios e redirecionamentos. Psicologia: ciência e profissão, 26 (1), 132-143. Recuperado em 15 março, 2015, de http://www.scielo.br/pdf/pcp/v26n1/v26n1a12.pdf