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RESENHA BIBLIOGRÁFICA

Monteiro, Rolando. Camões -

controvérsias biográficas. Rio de Janeiro. 1982.

Ao título de médico ilustre, nome consagrado nos meios científicos do país, o Prof. Rolando Monteiro possui o grande mérito de respeitado e eminente camonista, autor de pesquisas valiosas nesse campo das especialidades literárias. Vem confirmá-lo agora com mais um trabalho, intitulado Camões - controrérsias biográficas, primorosamente impresso e eruditamente documentado, sobre "o soldado e poeta dos dois lados do mundo numa época como a dos descobrimentos" - "personagem ímpar e apaixonante, em torno do qual as lendas se solidificam e as conclusões se casam para consagrá-lo o maior, o mais aventuroso dos gênios literários" - conforme escreve, apresentando o trabalho, o Prof. Oliveira Ribeiro Neto, da Academia Paulista de Letras. Quando Camões chegou a Lisboa, em 1569, de volta da índia, com seu poema composto, teve de acomodá-lo ao jesuitismo e à Inquisição. Para publicá-lo eram indispensáveis o alvará real e a aprovação do Santo Ofício. Então, para conseguir o imprimatur, o poeta teve de freqüentar quase diariamente o Mosteiro de São Domingos, onde a férula eclesiástica ia apontando os pontos condenáveis. Felizmente, os censores não eram muito rigorosos, orientados por um espírito de sensibilidade e discernimento que foi o dominicano Bartolomeu Ferreira. Tudo isso a plaqueta de Rolando Monteiro assume para o leitor - e muitos outros aspectos do grande épico. Não concluímos esta breve nota sem encarecer a destruição do "mito de Camões brigão, boêmio, salaz e espadachim, mais ligado à dolce vüa do que aos estudos" - mito que não resiste à moderna análise dos exegetas. Parabéns ao DI. Rolando Monteiro por mais esse lúcido e valioso ensaio com que vem de brindar os estudiosos nacionais. D. M. Mendes, Antonio Celso. Anotações filosóficas. Curitiba, 1982. O autor desses ensaios deu-lhes o verdadeiro título: são observações dignas de meditação feitas à margem de interrogações de natureza filosófica. "Só o pensamento faz a grandeza do homem" - diz-nos citando Pascal. Às vezes, sua divagação extrapola, quando, por exemplo, escreve: "A ciência, produto da razão humana, é um mundo de cifras e pálidas explicações." Para nós, é uma interpretação do real, que se refaz incessantemente perfectíveI e jamais perfeita. Um quadro interpretativo que se retoca progressivamente, conforme o crescer da experiência historicamente transmitida no labor das gerações R. Ci. paI.,

Rio de Janeiro,

26(1):212-216,

jan./abr. 1983

que se sucedem. A citação de Jean WaIl é elucidativa nesse sentido: a verdade é a fidelidade ao real. Tal fidelidade se realiza através de nós mesmos, como ele postula. Outra citação que provoca meditação é a de Joliver: "A metafísica visa essencialmente aquilo pelo qual tudo que é tem um sentido." A tese imiscui o axiológico no ontológico - coisa que nem sempre se coaduna com os ângulos do filosofar do filósofo francês. A intelegibilidade do ser, nos termos de Tomás de Aquino, abre um horizonte que não tem sido até hoje explorado como devia, pois, a ver de alguns dissidentes, estaria endereçado a certo monismo suspeito às teses escolásticas. Mas isso é uma tese eriçada de dificuldades, que pediria grande alento especulativo. O autor, pela abundância das citações, parece ser jovem. Tem pela frente ainda muito tempo para pensar nesses problemas por conta própria. Que o futuro lhe seja fecundo. D. M. li Politico - Rivista italiana di scienze politiche. Università degli Studi di Pavia, n. 2, 1982.

Abrindo este número com o magistral estudo de Giorgio Borsa, aula dada na Universidade de Pavia em 20 de maio de 1982, Il Politico confirma o alto conceito de que desfruta nos meios culturais do mundo pela seleta e notável equipe de colaboradores, nomes destacados na ciência política. A visão que o Prof. Borgio nos dá da evolução do pensamento político, vindo de eras remotas à atualidade, revela um espírito largo e forte, capaz de comunicar, como o fez, em meia dúzia de páginas, a impressão sintética do processo de convivência humana interpretado pelos principais teóricos, desde Confúcio a Voltaire, Kant, Marx e Freud. Aos leitores brasileiros, entre tantos ensaios de valor, cumpre-nos apontar o de David Fleischer, Political party reform in Brazil: within the context of "abertura" . O estudo vem documentado de estatísticas e gráficos que comprovam a cuidadosa atenção dispensada na sua elaboração. O exame da transição, que constitui o objetivo cardeal do Governo do Presidente João Batista Figueiredo, é feito com informes criteriosos e recua aos períodos governamentais anteriores, à busca de fundamentar a promissora perspectiva da consolidação das instituições democráticas. O autor analisa o movimento de organização dos partidos, as diferentes tendências ideológicas e o papel de equilíbrio e liberalização das forças responsáveis pela transição conduzida com a firmeza c sensatez do atual presidente da República. Enriquecem a revista, ainda, trabalhos de politicólogos como Calvin Woodward, Roland Pressat, Corrias Corona, Claudio Stroppa, Giovani Pesce e Gilbert Abcarian, todos no campo das teorias políticas e de sua atualidade mundial. D. M. Resenha bibliográfica

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Rodrigues, J. H. Chagas Freitas e o Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 1982. Conforme diz José Cândido de Carvalho no prefácio ao livro Chagas Freitas e o Rio de Janeiro, de autoria do historiador José Honório Rodrigues, o avassalador prestígio do Governador Chagas Freitas "não foi feito por decreto do Diário Oficial ou inventado pelas magias alquimistas de nossa política: é uma realidade importante", uma vez que é "um líder de fortes raízes democráticas". Depois do estudo sobre a formação social e política, as classes sociais, as transformações urbanas, os centros de elaboração das grandes decisões nacionais no processo de integração, em suma, do cenário onde se desenvolve a ação do estadista, o historiador traça o perfil admirável do governador do estado do Rio de Janeiro, desde seu nascimento em 4 de março de 1914, filho do desembargador Antônio José Ribeiro Freitas Júnior, oriundo da alta classe média. Depois dos cursos ginasiais, ingressa na Faculdade Nacional de Direito do Rio de Janeiro, bacharelando-se em 1937. Sempre voltado para nobres ideais políticos, Chagas Freitas destacou-se ao lado de outros grandes espíritos na fundação da esquerda democrática, ala mais intelectual da UDN, com Castro Rebelo, João Mangabeira, Hermes Lima, Arnon de Melo, Domingos Velasco, Rubem Braga, Homero Pires, batalhando na propaganda de um socialismo democrático. Eleito deputado, trava luta em defesa das imunidades parlamentares, empenha-se a fundo no trabalho das comissões e elege-se governador do estado da Guanabara (1971-75). Leiam-se as páginas do capítulo 4 deste livro para aquilatar as iniciativas e realizações desse fecundo quadriênio administrativo. No seu segundo governo, após a fusão dos estados da Guanabara e do Rio de Janeiro, ainda mais sobreleva o valor de sua ação governativa (1978-82). Nesse período, o ProL Marcial Dias Pequeno revela-se o seu mais forte, discreto e preclaro auxiliar, o seu braço direito, amigo de uma lealdade que confirma a fibra de sua resistência nordestina, feita de vigilante probidade e energia ,ilenciosa. Registrando este livro, que, no fundo, é um preito de justiça a um digno brasileiro, praz-nos assinalar a valia de sua leitura aos estudiosos das personalidades marcantes da política contemporânea. D. M.

Ariel -

Revista de artes e letras de Israel. Jerusalém, n. 51, 1982.

o que mais surpreende e comove o resenhador destas linhas, quando se trata de assuntos hebreus, é a irresistível polarização dos filhos de Israel para a cultura espiritual. Pois, precisamente ao receber este número de Ariel, revista de artes e letras editada em Jerusalém, em 1982, nas suas primeiras páginas, o artigo de J aim Beer, intitulado Plumas, conta-nos as vicissitudes de três lutadores que, todas as manhãs, a caminho das empresas Nasser, nas adjacências de Suez, ao lado de suas armas, tinham no bolso a Epístola de Najmánides, no Livro de orações. Mesmo sob as dolorosas contingências da guerra, a preocupação espiritual acompanha os passos de um povo que, nas mais ingratas situações históricas, volta-se para os objetivos científicos, filosóficos e religiosos. Citamos, neste número, como dignos de leitura dos estudiosos, o ensaio de Guidión Ofrat - El arte 214

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utópico de la Escuela Bezalel. Esta escola, inaugurada em 1906, precedeu a fundação da Universidade Hebraica C1925) e numerosas outras instituições culturais do país. Liderado pelo famoso rabino Eliezer Ben Jehuda, grande responsável pela renascença da língua e da literatura judaicas, o movimento científico, artístico e literário cresceu administrativamente no seio do sionismo. Outros ensaios, acompanhados de excelentes fotos, documentam vários aspectos das comunidades empenhadas na construção da pátria israelita. Os estilos europeus, ornamentais e bíblicos, são artisticamente adaptados a letras de adornos árabes. Jaakov Stark, em 1912, combinara tais motivos em murais da Sinagoga Adass, de Jerusalém, em formas curiosas de sincretismo religioso. Em suma, a brevidade desta notícia não pode oferecer ao leitor toda a riqueza desse opúsculo de cento e poucas páginas, que merece ser lido e estudado. D. M. Wouk, Miguel. Estudo etnográfico-lingüístico da comunidade ucraína de Dorizon. Curitiba, 1981. Esta preciosa pesquisa enfeixada no livro citado deve interessar vivamente aos lingüistas, historiadores e sociólogos. Diga-se logo que Dorizon é um vilório ao sul do Paraná, casas de madeira espaçadas, entre arvoredos, privado de serviços públicos, mergulhado numa atmosfera bucólica que dá otimismo e saúde - tais são as informações iniciais que abrem o livro. Não nos cabe resumir aqui o histórico de Dorizon. Vale a pena ouvi-lo do próprio pesquisador Cp. 18 e segs.). Saibamos, entretanto, que nele se integram, etnicamente, três contingentes: o ucraíno, o polonês e o mestiço brasileiro. O autor nos explica os traços essenciais da língua ucraína, seus parentescos fonéticos, fonológicos e morfológicos com o russo. Seguem-se depois páginas agradáveis sobre costumes e crenças religiosas, as famílias, as cerimônias fúnebres, a educação, as atividades culturais, os recursos econômicos. Enfim, a quarta parte do trabalho onde o autor aborda o centro de sua investigação, vem a ser a língua e a linguagem ucraÍnas. "O ucraíno - explica-nos - falado pela comunidade encontra-se atualmente na etapa mais importante, mas não a final; está na fase do bilingüismo" - fase em que se processa a interpenetração das falas. O estudo revela a formação científica do autor, que dispõe de cuidadoso material lingüístico e o explica com critério e segurança. Nesse ponto, passamos a palavra aos especialistas, para apreciarem o alto valor do trabalho. A edição representa mais um novo título de serviço à cultura devido ao Governo do eminente paranaense Ney Braga. D. M.

Resenha bibliográfica

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