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INSTRUÇÃO: As questões de números 20 a 22 tomam por base uma passagem da Bíblia Sagrada, um trecho de Nova Floresta, de Manuel Bernardes (1644-1710), e um trecho do romance Esaú e Jacó, de Machado de Assis (1839-1908). Nascimento de Esaú e Jacó Chegado o tempo em que ela devia dar à luz, eis que trazia dois gêmeos no seu ventre. O que saiu primeiro era vermelho, e todo peludo como um manto de peles, e chamou-selhe Esaú. Saiu em seguida o seu irmão, segurando pela mão o calcanhar de Esaú, e deuse-lhe o nome de Jacó. Isaac tinha sessenta anos quando eles vieram ao mundo. Os meninos cresceram. Esaú tornou-se um hábil caçador, um homem do campo, enquanto Jacó era um homem pacífico, que morava na tenda. Isaac preferia Esaú, porque gostava de caça; Rebeca, porém, se afeiçoou mais a Jacó. Gênesis, 25, 24-28. In: Bíblia Sagrada. São Paulo: Editora Ave Maria, 1966. p.75-76.

Nova Floresta Sucede às vezes na mesma família haver três irmãos, filhos do mesmo pai e da mesma mãe, e um deles ser de condição fácil e bem intencionada, outro de condição retrincada e maliciosa, e outro de condição baixa e rasteira: o primeiro parece europeu, que escreve da mão esquerda para a direita; o segundo parece hebreu, que escreve da direita para a esquerda; o terceiro parece chino, que escreve de cima para baixo. Mais é, que, ainda dentro do ventre de Rebeca, já os dois meninos Esaú e Jacob renhiam e tinham tão diferentes gênios como duas nações opostas. Nos rostos, nas vozes, nas letras, apenas há entre milhões de homens um que se pareça inteiramente com o outro. Por que não há-de ser assim também nos gostos, opiniões e ditames? In: BERNARDES, Manuel: Nova Floresta. Seleção e apresentação de João Ubaldo Ribeiro. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1993. p. 83.

Esaú e Jacó Aos sete anos eram duas obras-primas, ou antes uma só em dois volumes, como quiseres. Em verdade, não havia por toda aquela praia, nem por Flamengos ou Glórias, Cajus e outras redondezas, não havia uma, quanto mais duas crianças tão graciosas. Nota que eram também robustos. Pedro com um murro derrubava Paulo; em compensação, Paulo com um pontapé deitava Pedro ao chão. Corriam muito na chácara por aposta. Alguma vez quiseram trepar às árvores, mas a mãe não consentia; não era bonito. Contentavamse de espiar cá de baixo a fruta. Paulo era mais agressivo, Pedro mais dissimulado, e, como ambos acabavam por comer a fruta das árvores, era um moleque que a ia buscar acima, fosse a cascudo de um ou com promessa de outro. A promessa não se cumpria nunca; o cascudo, por ser antecipado, cumpria-se sempre, e às vezes com repetição depois do serviço. Não digo com isto que um e outro dos gêmeos não soubessem agredir e dissimular; a diferença é que cada um sabia melhor o seu gosto, coisa tão óbvia que custa escrever. In: ASSIS, Machado de. Esaú e Jacó. São Paulo: Editora Mérito, 1962. p. 77-78.

Questão 20 O aproveitamento de episódios, quadros, temas e passagens da Bíblia é corriqueiro na literatura. Machado de Assis, por exemplo, tomou como referência o episódio bíblico de Esaú e Jacó no romance de mesmo nome, que conta a história de dois gêmeos, Pedro e Paulo. Com base neste comentário e em seus conhecimentos, releia os textos dados e responda. a) Na primeira frase do trecho de Machado de Assis, o narrador, por meio de uma metáfora, identifica os gêmeos a duas obras-primas; em seguida, corrige-se, dizendo que eram uma obra-prima em dois volumes. Explique o motivo desse procedimento do narrador, tendo

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em mente que o dicionário Aurélio define obra-prima como “a melhor e/ou a mais bem feita obra de uma época, gênero, estilo ou autor”. b) Demonstre que a oposição de temperamentos entre Esaú e Jacó, no trecho da Bíblia, é mais evidente do que a oposição dos temperamentos de Pedro e Paulo, no trecho de Machado de Assis.

b) "o primeiro parece europeu (‘de condição fácil e bem intencionada’), que escreve da mão esquerda para a direita; o segundo, parece hebreu (‘de condição retrincada e maliciosa’), que escreve da direita para a esquerda; o terceiro parece chino (‘de condição baixa e rasteira’), que escreve de cima para baixo. (...)"

Resposta

Releia o último parágrafo do trecho de Machado de Assis e atenda ao que se segue. a) Segundo conceituam os gramáticos Celso Cunha e Lindley Cintra, a elipse é um procedimento estilístico que consiste na “omissão de um termo que o contexto ou a situação permitem facilmente suprir”. Tomando por base esta informação, indique a elipse que ocorre na seqüência “Paulo era mais agressivo, Pedro mais dissimulado...” b) No segundo período desse parágrafo, reconheça as classes de palavras a que pertence o a, respectivamente, em “a fruta” e “a ia buscar”.

a) A metáfora advém do fato de ambos serem encantadores e complementares: "Em verdade, não havia por toda aquela praia, nem por Flamengos ou Glórias, Cajus e outras redondezas, não havia uma, quanto mais duas crianças tão graciosas." b) Na Bíblia: Esaú (o primeiro a nascer) era mais forte, "hábil caçador, um homem do campo" e Jacó, aquele que saiu do ventre materno "segurando pela mão o calcanhar de Esaú", era pacífico, tanto que o pai preferia o forte e a mãe, o habilidoso. Portanto, o texto bíblico enfatiza mais as diferenças entre os gêmeos. Em Machado de Assis: Os dois eram muito semelhantes, robustos; ambos briguentos, um (Paulo) mais agressivo, outro (Pedro) mais dissimulado, mas ambos sabiam agredir e dissimular quando lhes convinha.

Questão 21 Denomina-se preconceito a opinião formada antecipadamente, sem maior ponderação ou conhecimento dos fatos. Preconceitos costumam conduzir à intolerância, ao ódio irracional ou aversão a pessoas, raças, credos religiosos, etc. De posse desta informação, releia o trecho de Nova Floresta e, a seguir, a) identifique o preconceito que se evidencia no discurso de Bernardes, quando este compara três irmãos a três diferentes povos; b) comprove sua resposta com exemplos do texto.

Resposta a) Em Manuel Bernardes, como o ponto de vista é europeu, fica claro que há preconceito racial, cultural e moral em relação a hebreus e outros povos orientais.

Questão 22

Resposta a) Pedro (era) mais dissimulado. Há a elipse do verbo (ser) também conhecida como zeugma, pois o termo já havia sido anteriormente mencionado. b) • em "a fruta", o a é artigo definido feminino. • em "a ia buscar", a é pronome pessoal do caso oblíquo (retomando a fruta).

INSTRUÇÃO: As questões de números 23 a 25 se baseiam no seguinte trecho do romance Canaã, do escritor maranhense Graça Aranha (José Pereira da Graça Aranha, 18681931). O agrimensor olhou a árvore. – Faz pena – disse compassivo – botar tudo isso abaixo. – Eu, por mim – acudiu Milkau, levado pelo mesmo sentimento –, preferiria um lote onde não fosse preciso esse sacrifício. – Não há nenhum – respondeu Felicíssimo. – O homem – notou Lentz a sorrir com ar de triunfo – há de sempre destruir a vida para criar a vida. E depois, que alma tem

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esta árvore? E que tivesse... Nós a eliminaríamos para nos expandirmos. E Milkau disse com a calma da resignação: – Compreendo bem que é ainda a nossa contingência essa necessidade de ferir a Terra, de arrancar do seu seio pela força e pela violência a nossa alimentação; mas virá o dia em que o homem, adaptando-se ao meio cósmico por uma extraordinária longevidade da espécie, receberá a força orgânica da sua própria e pacífica harmonia com o ambiente, como sucede com os vegetais; e então dispensará para subsistir o sacrifício dos animais e das plantas. Por ora nos conformaremos com este momento de transição... Sinto dolorosamente que, atacando a Terra, ofendo a fonte da nossa própria vida, e firo menos o que há de material nela do que o seu prestígio religioso e imortal na alma humana... Enquanto os outros assim discursavam, Felicíssimo, no seu amor ingênuo à Natureza, mirava as velhas árvores, e com a mão meiga festejava-lhes os troncos, como os últimos afagos dados às vítimas do momento do sacrifício. Dentro da mata penetrava o vento da manhã e nas folhas passava brandamente, levantando um murmúrio baixo, humilde, que se escapava de todas as árvores, como as queixas surdas dos moribundos. in: ARANHA, Graça. Obra completa. Rio de Janeiro: MEC-Instituto Nacional do Livro, 1969. p.106-107.

Questão 23 Como nos três textos anteriores, centrados nas diferenças de caráter e de comportamento das personagens (Esaú e Jacó, Pedro e Paulo), no romance Canaã, publicado em 1902, defrontamo-nos com duas personagens de temperamentos bastante fortes, Lentz e Milkau, imigrantes alemães cujas concepções do homem e do mundo são opostas. Verifique com atenção a participação dessas duas personagens no trecho de Graça Aranha e, em seguida,

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a) sintetize, com suas próprias palavras, os dois tipos de “homem”, ou seja, de comportamento do homem no mundo, defendidos, respectivamente, por Lentz e por Milkau; b) mostre, com base no texto, que os fundamentos da consciência ecológica, hoje em dia bastante disseminados no mundo, já se encontram presentes nesse trecho de Canaã.

Resposta a) Enquanto Milkau é humanista, sensível e defende a idéia do homem integrado à natureza, Lentz, ao contrário, tem espírito agressivo, destruidor, e não mede esforços para atingir seus ideais, sobretudo os de conquista. b) Todo o parágrafo iniciado por "– Compreendo bem que é ainda a nossa contingência essa necessidade de ferir a Terra..." até "e firo menos o que há de material nela do que o seu prestígio religioso e imortal na alma humana."

Questão 24 A metagoge, recurso expressivo bastante usado pelos escritores de todos os tempos, consiste em atribuir atitudes, qualidades e sentimentos humanos a outros seres. No trecho de Canaã reencontramos tal procedimento, que reforça a dramaticidade dos fatos narrados. De posse destas informações, a) indique uma passagem do último parágrafo do texto em que ocorre esse recurso expressivo; b) demonstre que as personagens Milkau e Felicíssimo, que se identificam pelo amor à natureza, expressam esse sentimento de maneiras diferentes.

Resposta a) Fica evidente a metagoge (ou personificação) no último período do último parágrafo: "... levantando um murmúrio baixo e humilde, que se escapava de todas as árvores, como as queixas surdas dos moribundos". Outra possibilidade, no período anterior: "... mirava as velhas árvores, e com a mão meiga festejavalhes os troncos, como os últimos afagos dados às vítimas do momento do sacrifício". b) Embora ambos os personagens se identifiquem pelo amor à natureza, Milkau tem um discurso mais idealista, intelectual, sonhador e utópico. Felicíssimo é mais simples, sentimental, e humaniza a natureza para fazê-la mais próxima dele.

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Questão 25 Embora Graça Aranha não haja necessariamente tomado por referência o episódio bíblico de Esaú e Jacó, pode-se perceber, nas opiniões expressas por Lentz e Milkau, que suas personalidades apresentam certa correspondência com as dos gêmeos da Bíblia. Partindo desta hipótese, a) agrupe as quatro personagens (Esaú, Jacó, Lentz, Milkau) em dois pares, de acordo com as afinidades de caráter e atitudes;

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b) explique, com base nos dois textos, os critérios de que você se serviu para estabelecer tais pares.

Resposta a) Esaú – Lentz Jacó – Milkau b) No primeiro par, Esaú é caçador, Lentz é conquistador (luta). Enquanto, no segundo par, Jacó é um homem pacífico, assim como Milkau, que pensa na harmonia entre o homem e a natureza (paz).