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Gestão de estoque: estudo de caso em um frigorífico de Anaurilândia 1 COSTA, M. A. B.1,2*, CORNETO, E.2, DALPIAZ, J.2, SILVA, P. C.2, TOBAL, D. A.2
Resumo:
A administração dos estoques tem papel fundamental nas empresas. No decorrer desse trabalho são abordados conceitos da administração de estoque, bem como método de controle que as organizações podem usar para um gerenciamento adequado dos seus estoques finais. Também é dada uma atenção ao que se diz dos custos de estocagem, muito debatido por diversos autores, bem como também se é muito discutido as proposições que se referem aos estoques de segurança. São vistos ainda fatores que dão à administração de estoques características que a colocam como setor estratégico das empresas. Esses conceitos formam um pressuposto base para a aplicabilidade do estudo de caso, nele foram observados os conceitos teóricos deste trabalho na prática organizacional, principalmente aos aspectos de controle adotados. O estudo propiciou uma verificação de erros, tanto no processo produtivo quando na estocagem, que por vezes geraram desperdícios de recursos na empresa, no estudo é apresentado também propostas de melhorias para que esses problemas para que os mesmos sejam eliminados ou minimizados. Palavras chave: Estoque, Controle, Administração, Frigorífico. Abstract: The inventory management plays a fundamental role in the organization. In the course of this work are discussed concepts of inventory management, as well as a method of control that organizations can use to proper management of its ending stocks, Also attention is given to what is said of the costs of storage, much debated by several authors, and is also much discussed propositions that relate to safety stocks. Visas are still factors that give the inventory management features that place it as a strategic sector enterprise. These concepts form a basic assumption for the applicability of the case study, it was observed the theoretical concepts of this work in organizational practice, especially those aspects of control adopted. The study provided a check of errors both in the production process when in storage, which sometimes led to waste of resources in the company, the study is also presented proposals for improvements to these problems so that they are eliminated or minimized. At the end of the conclusions of this research work are presented with the final considerations and finally is given the references. Key words: Stock, Control, Management, Fridge.
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Universidade Federal de São Carlos
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Universidade Federal de Mato Grosso do Sul *Marcela Avelina Bataghin Costa, e-mail:
[email protected]
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1. Introdução A administração eficaz de estoques cada vez mais desponta como uma necessidade vital das organizações, tornando-se uma questão determinante no desempenho das empresas. Aperfeiçoar o investimento em estoques, sua gestão e possuir uma estocagem eficiente, influi no desempenho da produção e nas vendas (FRANCISCHINI e GURGEL, 2010). Em tempos de competitividade acirrada, as empresas travam uma verdadeira guerra pela busca e fidelização de clientes. Para tanto, são investidos muitos recursos da mesma, não apenas financeiro, mas de tempo (MAXIMIANO, 2004). Dessa forma, o gerenciamento de estoque, propiciando atendimento pontual aos clientes, no momento e quantidade desejada, é um diferencial competitivo, assumindo então características estratégicas (BERTAGLIA, 2009; MARTINS e ALT, 2009). Segundo Moreira (2012) e Francischini e Gurgel (2010), existem dois setores funcionais das empresas que empenham nos estoques cuidados especiais: setor operacional e setor financeiro. Surge assim um paradoxo: manter ou não manter níveis de estoques. Ballou (2006) pondera que há razões favoráveis e contra, onde os pontos a favor giram em torno do apoio à produção e os pontos contra quanto a sua onerosidade. Os objetivos desse trabalho são: ressaltar a importância da administração dos estoques, bem como da logística eficiente para que a empresa tenha o desempenho positivo, abordar métodos de gestão de estoque e desenvolver um estudo de caso observando o controle e a logística que são empregados nos estoques.
2. Administração de estoques O gerenciamento dos estoques começa antes mesmo do produto estar finalizado. Toda empresa existe por que produz bens ou serviços visando suprir uma necessidade, obtendo dessa transação um retorno financeiro. Para tanto, as empresas passam pelo modelo de produção: inputs, transformação e outputs (SLACK, CHAMBERS, JOHNTONS, 2009). Entretanto, no processo produtivo podem ocorrer diversos fatores que interrompam a produção (greve operacional, falta de matéria prima, por exemplo) justificando assim, um estoque de produtos acabados, para que as vendas e as receitas da organização não sejam afetadas todas as vezes que problemas ocorram. Ainda como justificativa da existência de estoques pode-se elucidar um aumento
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repentino de demanda, ao ponto que a empresa não consiga alavancar rapidamente a produção(FRANCISCHINI e GURGEL, 2010). Logo se percebe a função reguladora atribuída pelos estoques, ao que Martins e Alt (2009) fazem uma analogia do vetor tempo de entrada (produção) e tempo de saída (vendas ou consumo) com uma caixa d’agua ao passo que: se muita água (produtos) sai e pouca entra o nível da caixa diminuirá, em relação oposta, se há muita entrada e pouca saída, esse nível aumentará. Fica mais clara, assim a filosofia Just-in-time, quando nos vetores de tempo de produção e nos vetores vendas busca-se uma igualdade (BERTAGLIA, 2009). Segundo Francischini e Gurgel (2010) os estoques podem ser de quatro tipos: de matérias-primas (materiais e componentes adquiridos e armazenados que ainda não sofreram processamento); de materiais em processo (materiais e componentes sofreram pelo menos um processamento e aguardam utilização posterior); de produtos auxiliares (peças de reposição, materiais de limpeza e de escritório) e estoques de produtos acabados (produtos prontos para comercialização). Este trabalho tem como ênfase o estoque de produtos acabados. 2.1 custos dos estoques Os estoques por terem a características de reguladores de fluxo sofrem duas pressões: a primeira pressão é para operações de baixos níveis de estoque, pautadas principalmente na premissa de que estoques são sinônimos de desperdícios, devendo ser eliminados ou extremamente reduzidos (just-in-time); a segunda pressão é para operações de altos níveis de estoques, “puxados” principalmente pela probabilidade de pronto atendimento aos clientes, essas pressões ficam mais claras visualizadas na figura 1 (BALLOU 2006; MARTINS e ALT, 2009). Pressão para níveis baixos
ESTOQUES
Pressão para níveis Altos
Figura 1: pressão para os níveis de estoque. Adaptado de Martins e Alt, 2009
Alguns autores divergem em aspectos de separação dos custos gerados pelos estoques, para Ballou (2006) os custos podem ser advindos da terceirização desses serviços (quando a empresa opta por uma gestão de estoque, estocagem terceirizada) ou custos privados, (quando a própria empresa administra essa função). Assim conceitua os custos como: armazenagem pública, armazenagem arrendada com manuseio manual, A Revista Eletrônica da Faculdade de Ciências Exatas e da Terra Produção/construção e tecnologia, v. 3, n. 5, 2014
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estocagem privada e armazenagem privada com manuseio automatizado. Para Francischini e Gurgel (2010) o custo de estoque pode ser desmembrado em quatro partes, sendo: custo de aquisição, que é o valor pago pela empresa compradora; custo de armazenagem, onde há o maior esforço para manter esse valor o mais baixo possível (mais uma vez aqui desponta o Just-in-time), pois é um dos itens que mais onera a empresa quanto à lucratividade; custo de pedido, sendo ele “o valor gasto pela empresa para que determinado lote de compra possa ser solicitado ao fornecedor e entregue na empresa compradora” e por fim o custo da falta, onde há a maior pressão para níveis altos de estoque, pois a falta de um item pode causar diversos e imensos prejuízos à empresa, em geral esse custo é difícil de calcular com precisão, pela variabilidade de valores intangíveis, rateios e estimativas necessárias para o cálculo. Bertaglia (2009) elenca como tipos de custos: custos de aquisição, de manutenção, de espaço, de capital, de serviço, de risco e de falta de estoque. Ainda sobre os custos, Dias (2012) afirma que existem duas variáveis que incidem sobre eles: o fator quantidade e o fator tempo de permanência. Esses fatores incidem nas divisões de custos, sendo essas divisões: armazenagem (entrando aqui, custos de capital, de mão de obra, de edificações e de manutenção), pedido (mão de obra, material e custos indiretos) e o da falta de estoque. Dias (2012), conceitua ainda que o custo total de estoques (CT) é igual à soma dos custos totais de armazenagem (CTA) e dos custos totais de pedido (CTP), assim temos a fórmula descrita abaixo (1):
CT = CTA + CTP
(1)
2.2 Técnica de administração de estoques: curva ABC É possível analisa com base no item anterior, que manter estoque é um dispêndio não só de dinheiro, mas de energia, pessoas, espaço, etc. pela organização.Vários autores abordam técnicas para um gerenciamento de estoques, técnicas essas que auxiliam para uma tomada de decisão mais precisa, deixando de lado a intuição como aspecto mais relevante para essa decisão (PEDRO, 1998; BERTAGLIA, 2009). Uma das técnicas mais conhecidas é a Curva ABC. Também chamada de curva 20-80, a curva ABC é um método de priorização para facilitar a análise, permitindo uma concentração nos itens que trazem mais benefícios pelo objetivo proposto do estoque. “Poucos vitais, muitos triviais” (BALLOU, 2006; FRANCISCHINI e GURGEL, 2010). A Revista Eletrônica da Faculdade de Ciências Exatas e da Terra Produção/construção e tecnologia, v. 3, n. 5, 2014
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Esse método consiste na separação dos itens em classes de importância (A, B e C) e segue a regra de Pareto, onde poucos itens (20%) representam a maior parcela de importância (80%), a separação por relevância permite então uma tomada de decisão gerencial em casos fortuitos de redução de estoque, por exemplo (ALVARENGA, 2000; BERTAGLIA, 2009). Segundo Martins e Alt (2009), cerca de 10% a 20% do total de estoques, representam a classe A; 30% a 40% pertencem à classe B e que 50% são da classe C, porém não há uma forma totalmente aceita de determinar quanto cada uma das classes absorve da porcentagem total. Moreira (2012) reitera que a região A corresponde aos itens mais importantes, que devem receber atenção especial, a região B também devem receber atenção, porém menor que a anterior, por fim a região C, devem ser controladas, mas com menos rigor e atenção das demais. Quanto à formação da curva, Bertaglia (2009) enumera três pontos essenciais, que são: coleta de dados, cálculo do custo anual total para cada item e organização dos itens em ordem decrescente de valor. Já para Francischini e Gurgel (2010): definir a variável a ser analisada, coleta de dados, ordenar os dados, calcular os porcentuais e construir a curva. A formação dos cálculos (de ambos os autores) será desconsiderada nesse trabalho em razão dos objetivos e da metodologia propostos. Embora diferentes conceituações da formação, os autores são unânimes quanto à relevância da curva ABC e sua aplicabilidade, sendo essa uma técnica gerencial utilizada para decisões diversas, como expansão ou retração do nível de estoques, gerenciamento de valor monetário e de espaço dos mesmos, onde após classificados os itens, direciona-se o esforço necessário a cada um pela sua relevância e impacto na organização (ALVARENGA, 2000; BERTAGLIA, 2009; FRANCISCHINI e GURGEL, 2010). 2.3 Estoque de segurança (estoque mínimo) O estoque de segurança visa suprir lacunas ocasionadas por falhas, diminuindo os riscos de não atender as solicitações dos clientes, sejam eles internos ou externos (MARTINS e ALT, 2009). Francischini e Gurgel (2010) apontam essas falhas como: aumento repentino de demanda, demora no procedimento do pedido de compra e atrasos na entrega do fornecedor. Percebe-se que um estoque mínimo (ou de segurança) atenua essas falhas caso ocorram. A importância do estoque mínimo esta relacionada ao grau de imobilização financeira da empresa, o ponto de pedido então deve ser muito bem calculado, uma vez que se muito alto, os custos de estocagem se elevam e se muito A Revista Eletrônica da Faculdade de Ciências Exatas e da Terra Produção/construção e tecnologia, v. 3, n. 5, 2014
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baixo acarretaria em custos de ruptura e perdas de vendas (DIAS, 2012). O ponto de pedido, que também é conhecido como sistema de pedido com quantidade fixa, se baseia na avaliação de quantidades em tempo real ao consumo ou retiradas do estoque, verificando se já é hora de fazer a reposição (BERTAGLIA, 2009). A reposição desse estoque mínimo pode ser realizada de duas formas diferentes, na sistemática Q e na sistemática P. Na primeira o intervalo entre as revisões é variável, sendo fixa a quantidade encomendada, inversamente na sistemática P, tem-se fixo os intervalos entre as revisões e variável a quantidade, ambos os modelos possuem vantagens e desvantagens quanto utilizados, como se percebe na tabela 1 (ALVARENGA, 2000). Tabela 1. Vantagem e desvantagem das sistemáticas Q e P. Método Sistemática Q
Tempo Variável
Sistemática P
Fixo
Quantidade Fixa
Vantagem Desvantagem Estoque de reserva Exigência de monitoramento menor sistemático (custoso) Variável Elimina a necessidade Estoque médio superior ao da de controle contínuo sistemática Q por produto Fonte: Adaptado de Alvarenga (2000).
Além desses acima, Martins e Alt (2009), ainda agregam o estoque de segurança com consumo e tempo de atendimento probabilístico (ou variável), quando conceitua estoque de segurança. Vários autores trazem uma abordagem dos tipos de cálculos desenvolvidos para determinar as margens de estoque de segurança ou estoque mínimo, Dias (2012), por exemplo, sita o método da fórmula simples, da raiz quadrada, da porcentagem de consumo e o método do estoque mínimo com alteração de consumo e tempo de reposição, mas esses cálculos não serão exemplificados nesse trabalho, pelo objetivo proposto. Independente do cálculo, Bertaglia (2009) afirma que, quanto maior é o objetivo de atender bem o cliente, maior é o cuidado que se deve empenhar na definição do nível desse estoque mínimo.
2.4 O estoque e a estratégia O modo como as empresas gerem os seus estoques influenciam em seus retornos financeiros e a forma como competem no mercado, logo se percebe que essa gestão pode interferir nos resultados estratégicos das organizações, uma vez que o posicionamento estratégico dos produtos irá interferir no modo como são administrados os estoques (BERTAGLIA, 2009). Assim pode-se concluir que o gerenciamento de estoque deve estar conivente com a estratégia da empresa. Francischini e Gurgel conceituam cinco decisões de gerenciamento dos estoques, para alinhar-se à política e A Revista Eletrônica da Faculdade de Ciências Exatas e da Terra Produção/construção e tecnologia, v. 3, n. 5, 2014
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estratégia adotada: necessidade (comprar quando necessário); restrição (comprar um lote que atenda a necessidade da organização durante todo um período, tomando então riscos de falta de itens); Facilidade (manter níveis de estoques suficientes para a produção num determinado período – lead time); adequação (manter porcentagem de estoque suficiente para atendimento dos clientes quando o pedido ocorrer) e giro (níveis de matéria prima e produtos acabados possibilitam alcance da meta já definida de giro do estoque total). Moreira (2012), afirma que os chamados padrões básicos de consumos “demanda dependente” e “demanda independente” conduzem estratégias diferenciadas de controle de estoques, fazendo-se necessário entender essa dinâmica. Quando a demanda depende de condições que fogem do controle das empresas, ou seja, quando essa é regulada pelo mercado, ela é conceituada como independente, logo, é chamada de demanda dependente quando o consumo consegue ser programado internamente (BERTAGLIA, 2009). Métodos de controle de estoques são desenvolvidos para atender essas premissas de demanda dependente (MRP) e independente (lote econômico de compra, sistema P, sistema Q) (MOREIRA, 2012).
3. Método de pesquisa O método de pesquisa adotado para a condução deste estudo é a revisão bibliográfica seguida de uma pesquisa de campo (estudo de caso) e posterior análise e discussão dos dados obtidos. Com vista aos objetivos, a pesquisa é exploratória com o intuito de proporcionar maior familiaridade com o tema exposto (MARCONI e LAKATOS, 2001). A abordagem da pesquisa é predominantemente qualitativa, pois não se utilizou parâmetros estatísticos para analisar ou qualificar os resultados. Para Miguel et al. (2012) os métodos mais apropriados para conduzir uma pesquisa qualitativa é o estudo de caso ou a pesquisa-ação. Como os autores deste artigo não tiveram envolvimento direto com o objeto a ser analisado optou-se pelo estudo de caso. A coleta de dados ocorreu por meio de visita pessoal e entrevista aos responsáveis pelo controle de estoques no frigorífico, localizado na cidade de Anaurilândia, estado de Mato Grosso do Sul.
4. Pesquisa de campo 4.1 Características gerais da empresa A Revista Eletrônica da Faculdade de Ciências Exatas e da Terra Produção/construção e tecnologia, v. 3, n. 5, 2014
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Trata-se de um Frigorífico de médio porte localizado no distrito industrial da cidade de Anaurilândia e que produz carnes Bovinas, suínas, ovinos e miúdos em geral. Embora a empresa esteja a mais de 50 anos no mercado, atuando intensamente no ramo varejista, o frigorífico possui apenas 6 (seis) meses. Atualmente a empresa possui 5 (cinco) supermercados operando nos estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul O frigorífico abate em média 250 novilhas por semana (mais ou menos 50 cabeças por dia) sendo o abate realizado em um dia e a desossa em outro. O objetivo da empresa no momento é de fornecer seus produtos apenas para sua rede de supermercados, porém nos próximos meses visa distribuir para regiões mais próximas. A empresa possui 52 funcionários diretos e 01 indireto sendo alocados da seguinte forma, conforme mostra o Quadro 1. Setor
Funcionários
% dos funcionários por setor
2 33 9 2 2 2 3 53
3,77 62,26 16,98 3,77 3,77 3,77 5,66 100%
Escritório Abate Desossa Estoque Refeitório Limpeza industrial Pátio Total
Quadro 1: Distribuição dos funcionários por setor
Quanto à escolaridade dos funcionários, pode-se observar conforme mostra o quadro 2, que mais da metade (56,26%) dos funcionários da empresa possuem apenas ensino fundamental. Aproximadamente 24,52% possuem ensino médio, 7,57% algum curso técnico e somente 5,66% dos funcionários possuem ou estão cursando nível superior. Além destes, 5,66 não são alfabetizados. Ensino Fundamental Ensino Médio Curso Técnico Superior (cursando) Analfabeto Total
56,26% 24,52% 7,57% 5,66% 5,66% 100% Quadro 2: nível de escolaridade dos funcionários
Importante destacar que o nível de escolaridade dos funcionários não influencia diretamente nas distribuições das funções, sendo que funcionários com maior know-how adquirido através de experiência ocupam posições de maior responsabilidade. A remuneração dos colaboradores em regime mensal conforme a função de cada um varia entre R$ 678,00 até R$ 3550,00. A Revista Eletrônica da Faculdade de Ciências Exatas e da Terra Produção/construção e tecnologia, v. 3, n. 5, 2014
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4.2 Processo de produção Todo o processo de produção e estocagem se inicia com a chegada das novilhas em caminhões e o descarregamento das mesmas em um curral para que possam aguardar até o momento do abate que pode ser realizado no mesmo dia, ou o mais comum das situações, que é o recebimento da matéria prima para ser processada no dia seguinte. Neste estágio pode-se dizer que existe um estoque de matéria prima (viva) que ainda não entrou no processo de produção. Após este tempo de espera (chegada – início do abate) as novilhas vão sendo (uma de cada vez) abatidas e dessangradas. Este processo é necessário para que o sangue não influencie no aspecto da carne. Após a sangria o couro das novilhas são retirados e estocados para que possam ser levados até um curtume (cliente da empresa) que irá processá-lo e destiná-lo. Após o abate o animal é divido em duas bandas (partes). Em seguida os miúdos, (bucho, coração, fígado, língua, mocotó, pulmão, rabo, rim e fígado entre outros) são limpos para serem estocados. Pode-se dizer que neste estágio, já existe na empresa, grande quantidade de estoque em processamento.
4.3. Estocagem e controle Essas duas “bandas” do bovino são refrigeradas cerca de vinte quatro horas para facilitar a desossa e cortes. Após este período na câmara fria são retirados os cortes tradicionais da carne, coxão duro, coxão mole, músculo, patinho, picanha, alcatra, contra filé, filé mignon, capa de filé, fraldinha, ponta de peito, capa da paleta, acém, miolo de paleta, miolo de acém, contra file, costela, alcatra e o Cupim. Posteriormente a separação dos cortes os produtos são pesados, identificados, separados e colocados em caixas, para melhor estocagem e distribuição. O controle de estoque na empresa deve ocorrer pelo menos em tese da seguinte forma: com o auxilio de um sistema computadorizado as caixas são pesadas e apontadas no sistema conforme peso e código do produto (cada tipo de carne possuindo um código). Este sistema auxilia no controle do estoque permitindo que seja realizada a conferencia e emissão das notas fiscais por meio das suas informações. Para funcionar adequadamente os dados e informações inseridas no sistema devem ser corretos. No entanto identificações e pesagens incorretas dos produtos estão ocasionando grandes transtornos aos gestores da organização, pois estes acontecem com grande frequência e acarretando perca financeira. A Revista Eletrônica da Faculdade de Ciências Exatas e da Terra Produção/construção e tecnologia, v. 3, n. 5, 2014
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Realizado por dois funcionários, a gestão de estoque consiste na separação das peças de carnes por tipo e peso. Em seguida é feita a estocagem das caixas por tipo de produtos. É por meio da conferencia semanalmente realizada do estoque que se identifica algumas diferenças entre os tipos de carnes que realmente constam nas caixas e o que é mostrado nas etiquetas que estão identificando os produtos. Além disso, muitas vezes o peso também não é compatível com o descrito na etiqueta e disponível no estoque. Geralmente quando isto ocorre é necessário refazer todo o processo, o que gera custos de tempo e retrabalho. Além disso, embalagens e em alguns casos o próprio produto, acabam danificados. Caso notas fiscais sejam emitidas para estes produtos com pesos e tipos inconsistentes a empresa pode ter graves problemas junto à fiscalização, que pode entender tal divergência como sonegação fiscal. Buscando identificar e estudar soluções para esses problemas este estudo mapeou as prováveis fontes causadoras e concluiu que erros operacionais são os principais motivos de tais transtornos. Dois são os departamentos onde os erros ocorrem com mais frequências: Setor de embalagem: por falta de capacitação e conhecimento dos funcionários os produtos são identificados de forma errada, ou seja, não existe na empresa uma capacitação adequada aos funcionários do departamento que acabam identificando, por exemplo, um corte, com nome e código de outro. Setor de pesagem: os pesos e códigos dos produtos são digitados pelos funcionários manualmente. Apenas 1 (um) número digitado errado pode alterar significativamente tanto o peso real do produto, como o tipo de carne que está sendo embalada.
5. Proposições de melhorias Identificados os setores problemáticos e possíveis causas para os erros ocorridos fica claro que a falta de capacitação e comunicação adequada dos envolvidos com o controle de estoque tem sido a principal causa dos erros e distorções no processo de estocagem. Sendo assim propõem-se: investimento na capacitação dos funcionários. Uma proposta sugerida pelos próprios funcionários é o isolamento em um local mais reservado e sem distração do responsável pela pesagem do produto acabado no A Revista Eletrônica da Faculdade de Ciências Exatas e da Terra Produção/construção e tecnologia, v. 3, n. 5, 2014
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estoque, evitando que ocorram distrações que possam influenciar no desempenho eficiente do mesmo. É necessário que a empresa forneça um treinamento adequado aos funcionários, que os capacite a identificar corretamente os tipos de carnes e trabalhar com o sistema disponibilizado. Este treinamento pode ser conduzido por empresas especializadas ou por funcionários já capacitados pela empresa, o que não geraria grandes custos para a mesma e reduziria custos de retrabalho, tempo e perda de matéria prima. Além disso, melhoraria a imagem da empresa junto a seus parceiros e clientes.
6. Conclusão Percebe-se com este estudo, que o gerenciamento dos estoques das empresas independente de seu porte e número de funcionários quando feito inapropriadamente pode trazer dificuldades. Além de um aporte das normas da empresa, o administrador de estoque deve ter um domínio mínimo de conhecimento das técnicas e estudos realizados nessa área, pois os mesmos trazem uma ajuda significativa de noção sistêmica ao qual ele está inserido na organização, e corrobora ainda com um melhor desempenho de suas funções. Uma vez que a falta de embasamento desses conceitos ocorra,a organização fica propensa a erros e consequentemente, a perdas. Pode-se averiguar também, que a administração de estoques está ligada à produção, mas não se restringe a esta, outros setores da empresa também estão ligados direta ou indiretamente, como financeiro, vendas, marketing, planejamento estratégico, e claro, logística, por exemplo:um estoque de quantidade elevada de produtos acabados, pode ser resultado de uma ação estratégica que visa atender de imediato ao consumidor quando a venda é realizada, fazendo com que a distribuição tenha de ser feita prontamente, o marketing pode se utilizar dessa estratégia como agregação de valor ao produto. É vital, nesse caso, que a organização tenha uma comunicação eficaz, para que todo o processo seja feito de forma adequada, sem ruptura. O estudo de caso desse trabalho permite verificar que pequenos problemas podem gerar grandes transtornos. A falta de preparo dos funcionários alocados ao estoque, bem como o espaço no qual a parte final da produção (pesagem) está, constantemente propiciaram erros, que não só uma vez, ocasionam em perdas de tempo, de material e claro, perdas financeiras. Fica comprovado com o estudo que o A Revista Eletrônica da Faculdade de Ciências Exatas e da Terra Produção/construção e tecnologia, v. 3, n. 5, 2014
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gerenciamento de estoque quando não bem feito gera conseqüências danosas. Especificamente neste case, há fatores que incidem para que problemas ocorram, como o fato da empresa estar no início de suas atividades (ainda não completou um ano de operação) ou ainda à sua cultura organizacional, visto que não foi dada a atenção necessária no que se refere aos investimentos em treinamento operacional. Relevante faz-se saber, que uma análise das características aqui apresentadas como feedback, bem como uma proposta para aprofundamento do estudo, na intenção de desenvolver uma aplicação mais aprofundada da gestão de estoques como a aplicabilidade da curva ABC, será enviada à empresa, deixando em aberto esse trabalho para possíveis alterações.
Referências bibliográficas ALVARENGA, Antonio Carlos. Logística aplicada: suprimentos e distribuição física. 3ª ed. São Paulo: Blucher, 2000. BALLOU, Ronald H. Gerenciamento da cadeia de suprimentos/logística empresarial. 5ª ed. Porto Alegre: Bokkman, 2006 BERTAGLIA, Paulo Roberto. Logística e gerenciamento da cadeia de abastecimento. 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2009. DIAS, Marco Aurélio P. Administração de materiais: princípios, conceitos e gestão. 6ª ed. São Paulo: Atlas, 2012 FRANCISCHINI, Paulino G; GURGEL, Floriano do Amaral. Administração de materiais e do patrimônio. 1ª ed. São Paulo: Cengage Learning, 2010 MARCONI, M. A.; LAKATOS, E.M. Fundamentos da metodologia científica. 6.ed. São Paulo: Atlas. 2007. MARTINS, Petrônio G; ALT, Paulo R. C. Administração de materiais e recursos patrimoniais. 3ª ed. São Paulo: Saraiva, 2009 MAXIMIANO, A. C. A. Introdução à administração. 6 ed. São Paulo: Atlas, 2004. MIGUEL, P. A. C. (orgs). Metodologia da pesquisa em engenharia de produção e gestão de operações. 2ª ed. Rio de Janeiro. Elsevier: ABEPRO, 2012, 260f. MOREIRA, Daniel Augusto. Administração da produção e operações. 2ª Ed. rev e ampl. São Paulo: Cengage Learning, 2012 PEDRO, Éder. De volta à gestão de estoques: as técnicas estão sendo usando pelas empresas? SIMPOI FGV, São Paulo: 1998. Disponível em:
. Acesso em 06 jul. 2013 SLACK, Nigel; CHAMBERS, Stuart; JOHNSTON, Robert. Administração da produção. 3 ed. São Paulo: Atlas, 2009
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