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PSICOLOGIA CLÍNICA'
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atendimento psicológico de crianças de nível sócio-econômico baixo numa instituição: considerações sobre o estágio no SPA da PUC/RJ* MARIA CARMEM FIGUEIREDO** MARIA INÊs G. M. F. BITTENCOURT PEDRO AMÉRICO CORREA NETTO
1. Introdução; 2. A psicoterapia breve com crianças; 3. Orientação de pais; 4. Limites da orientação; 5. Caso clínico.
o atendimento psicológico a crianças de nível sócio·econômico baixo numa clínica universitária levanta questões relativas não apenas à formação acadêmica dos estagiários, mas também à necessidade de adaptação às caracterís· ticas dos clientes. Este trabalho, resultado de uma experiência prática aliada a uma reflexão teórica, procura apresentar uma contribuição ao problema, propondo algumas soluções a nível técnico relativas ao atendimento psicoterá· pico de crianças e ao acompanhamento dos pais. 1. Introdução
A demanda crescente, de uma população altamente carente, vem exigindo do setor de crianças do SPA da PUC/RJ um esforço contínuo de reflexão e pesquisa sobre formas de atendimento psicológico capazes de suprir as necessidades de atendimento numa situação que envolve dois aspectos: por um lado, o cliente, com suas características próprias e, por outro, a formação de estagiário numa clínica universitária. O presente trabalho apresenta considerações sobre o problema e algumas tentativas de solução. * Trabalho realizado pelas equipes do setor de crianças do SPA/PUC/RJ. Estagiárias: Carla de Mello e Souza, Carmem Noarbe Gonzalez, Claudia de Saboya Chagas, Cristina Massadan, Ivana Moncada Jardim, Izabela Guimarães Fischer, Laura Maria Gomes Fer· nandes, Leda Aparecida C. Vieira, Mônica B. Melo, Ondina Lúcia Ceppas Resende, Re· nata Cantalice Foukert, Renata Farias de Freitas, Vera Beranger. (Artigo apresentado à Redação em 31.5.83.) *. Endereço da autora: Rua Marquês de São Vicente, 205 - Gávea - 22.453 - Rio de Janeiro, RJ. Arq. bras. Psic.
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o trabalho do estagiário do setor de crianças numa instituição como o SPA da pue/RJ encontra dificuldades em vários níveis. Em primeiro lugar, existe o já tão falado problema das diferenças culturais entre o cliente e o estagiário. No caso específico do setor de crianças, os clientes são, além das próprias crianças, seus pais, que passam por um acompanhamento. Tentaremos analisar as peculiaridades destes pais e crianças a partir das características de sua classe social, pois as diferenças de forma de pensar, agir e sentir entre estagiários e clientes são oriundas de uma situação de divisão de classes. Geralmente por parte dos pais existe pouca mobilização para se procurar um atendimento psicológico para seu filho. Na maioria das vezes é a escola que alertará para uma necessidade de busca de ajuda. Estes pais estão tão atarefados com a luta pela sobrevivência, que as dificuldades de ordem emocional permearão esta dura existência, mas não serão o principal alvo de sua atenção. Esta atitude se reproduz de geração para geração e é, portanto, já um traço cultural de tentativa de resolução de conflitos por outras vias que não a ajuda de um psicólogo. A criança desta população carente geralmente tem dificuldades crônicas em função de problemas de formação (áreas da percepção, motricidade e cognição). Tem inconstância nas suas relações objetais devido a uma situação familiar muitas vezes precária e, pelo seu alto grau de privação, vai ter fortes fixações nas necessidades primitivas. Esta criança e sua família estão diante de uma multiplicidade de problemas e, portanto, seriam melhor ajudadas na medida em que haja trabalho integrado de profissionais de várias áreas (assistentes sociais, psiquiatras, neurologistas). Nossa realidade, no entanto, não é esta e o estagiário se vê incumbido de funções que em princípio não lhe caberiam; além do contato com escolas, com instituições assistenciais, cobre muitas vezes o trabalho da assistente social. Os fatores citados vão contribuir para que haja uma discrepância entre a atuação do estagiário e a expectativa dos pais em relação ao trabalho realizado com seu filho, que muitas vezes imaginam ser uma solução objetiva e rápida para suas dificuldades (como o efeito de um remédio). Além disto, há o problema da forma de comunicação utilizada pelo estagiário e pelo cliente. Pais e criança têm um código lingüístico restrito, isto é, se expressam muito mais por um código não-verbal que inclui gestos e ações, isto tudo decorrente de um tipo de simbolismo característico do grupo social a que pertencem. Esta diferença de comunicação se acirra ainda mais quando pensamos que é típico de crianças de qualquer classe social se utilizar também de outras linguagens que não a verbal. O estagiário do setor de crianças está, portanto, lidando com um cliente que é duplamente diferente dele e terá um duplo trabalho para compreender e ser compreendido. Ele difere de seu cliente por ser de outra classe social e por ser adulto. Para que o estagiário ajude a tomar consciente o inconsciente desta criança terá que inicialmente se identificar com ela. Para isto terá que reaprender a lingqagem dos gestos, da ação e da própria variação no tom da voz que são linguagens constantemente utilizadas pelas crianças. Terá também que, ao fazer uma comunicação verbal, simplificá-la, sem empobrecê-la. Por último, o estagiário ficará atento para suas próprias atitudes, gestos e tonalidades de voz, pois a criança é altamente perceptiva à conduta do terapeuta em todos os níveis. E a partir da análise das dificuldades antes apresentadas que se poderá pensar em formas alternativas de atuação. O uso de uma técnica de terapia breve constitui uma das formas possíveis de resposta à demanda apresentada pelos clientes do SPA, dentro da realidade presente da instituição, limitada ao atendimento a nível psicológico apenas, como foi exposto. Serão lembrados alguns pono
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tos básicos desta técnica tal como vem sendo usada. Em seguida serão apresentados aspectos técnicos relativos à orientação de pais, complemento indissociável do trabalho terapêutico com crianças. Finalmente, serão apresentados alguns trechos significativos de um atendimento, como ilustração do modo de trabalho adotado na instituição. No caso específico do setor de crianças quando se torna imprescindível interpretar a transferência, sobretudo a negativa que põe em risco o trabalho e a aliança terapêutica, privilegia-se a interpretação mutativa, que faz uma passagem imediata do terapeuta para as figuras centrais da vida da criança.
2. A psicoterapia breve com crianças Não são mais marcantes as diferenças específicas entre a psicoterapia breve infantil e a de adultos do que aquelas que existem entre as psicoterapias analíticas de adultos e crianças. Também fundamentada em pressupostos, modelos teóricos e técnicas da psicanálise, a terapia breve tem como ponto central o trabalho com os focos específicos determinados a partir do psicodiagnóstico da criança. Impulsos, sentimentos e defesas são interpretados com atenção seletiva para o ponto focal, não sendo abordados outros aspectos do material que conduziriam a novas vertentes. É claro que isso implica outras características dessa forma de psicoterapia - procura-se enfocar as dificuldades como um processo patológico emocional presente, atual, embora não sejam omitidas as referências ao passado, à gênese e às causas do problema; privilegia-se a interpretação não transferencial, evitando-se o surgimento de uma neurose ou psicose de transferência; controlam-se os efeitos regressivos da terapia; estabelece-se um vínculo mais realista com o paciente, evitando-se a idealização excessiva do terapeuta; correlatamente utiliza-se uma abordagem interpretativa mais cognitiva, voltada para o real, o prático e, como já vimos, o presente; estabelece-se uma aliança terapêutica mais rápida e um rapport positivo, que permita à criança tolerar as oscilações entre gratificação e privação; define-se claramente para o paciente, já na entrevista de devolução, o trabalho a ser feito, deixando patentes as dificuldades que serão trabalhadas; procura-se clarificar o conflito focal on the spot, cada vez que ele aparece; busca-se sempre relacionar aspectos de outros conflitos àquele que está sendo tratado, o que favorece a compreensão e a participação do cliente na busca das soluções; utilizam-se a par das interpretações outras intervenções como perguntas, assinalamentos, informações e sobretudo apoio; evita-se interpretar aspectos opostos e polarizados do cliente - as "partes" - para não incrementar a regressão; promove-se ao final do período psicoterapêutico estabelecido uma revisão do material trabalhado. Pode-se dizer que as dificuldades emocionais da criança, uma vez circunscritas a seus pontos essenciais - os focos - são trabalhadas como uma crise, razão por que o psicodiagnóstico deve ser rápido, embora muito cuidadoso e preciso. Torna-se curiosamente mais fácil engajar a criança e os pais - estes por suas expectativas, típicas das classes economicamente ~enos favorecidas, de soluções definidas e rápidas - em um trabalho comum de objetivos mais concretamente identificados. Esse aspecto da psicoterapia breve, inegavelmente favorece 84
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sua eficácia com crianças e ainda mais com crianças provenientes de um meio social de renda baixa. 3. Orientação de pais
A orientação de pais baseia-se no princIpIo de que os sentimentos, atitudes e atos dos pais se refletem na vida e nos atos da criança, cujos distúrbios e desajustes comportamentais procedem e mostram, de forma direta ou indireta, as influências dos pais. Por esta razão, paralelamente ao atendimento terapêutico de uma criança, é costume manter-se entrevistas regulares com os pais a fim de que se torne mais construtiva a relação entre pais e criança; sem a colaboração dos pais, o tratamento da criança não pode surtir muitos efeitos. A orientação de pais pode ser definida como uma ajuda visando a compreensão e aceitação da criança. É importante para isto que os pais reconheçam a sua participação nos problemas, podendo assim modificar atitudes e proporcionar à criança um ambiente mais favorável. A cooperação dos pais permite maior aproveitamento dos ganhos obtidos na psicoterapia da criança. A orientação de pais, tal como vem sendo praticada no SPA da PUCjRJ, baseia-se em alguns fundamentos teóricos, que foram destacados por M. G. Marconi, partindo principalmente de trabalhos de Slavson e Rogers sobre este assunto. Enfocaremos em seguida, de forma resumida, alguns pontos essenciais colocados por estes autores. Para Slavson, a orientação terapêutica dos pais de uma criança em tratamento psicoterápico pode dar-se em dois níveis: "os pais como pacientes" e "os pais como tais". Quando se enfocam os pais como "pacientes", a técnica utilizada é a mesma que nas psicoterapias comuns: a ênfase é posta sobre os conflitos dos pais, que secundariamente interferem na relação com os filhos. Esta abordagem parece-nos mais indicada em casos onde são atendidos apenas os pais, não havendo indicação para psicoterapia da criança: nestes casos, a causa principal dos problemas observados na criança reside nos pais. Quando se enfocam os "pais como tais", o objetivo principal é ajudar o tratamento da criança, prevenindo ações dos pais que possam comprometer a melhora obtida pela criança através da psicoterapia. Alguns fatores operam no processo de orientação dos pais de maneira a possibilitar a remodelação do seu comportamento. Entre estes, um é destacado por Slavson como de grande importância: a transferência. A transferência em relação ao profissional é a aceitação, por este, dos sentimentos hostis e negativos e tem como conseqüência a redução dos sentimentos de culpa. Freqüentemente, a situação de orientação representa para os pais a sua primeira oportunidade para uma expressão aberta diante de alguém que não está julgando, mas desempenhando um papel compreensivo, embora firme. A "universalização" é outro fator mencionado por Slavson como proporcionador de alívio dos sentimentos de culpa dos pais: estes descobrem que não são os únicos a experimentar sentimentos ambivalentes e hostis. Slavson menciona ainda outros fatores que possibilitam a reformulação do comporta11lento dos pais: compreensão das necessidades da criança; aceitação de que a linguagem da criança é uma linguagem de ação; percepção dos efeitos da frustração na criança e da sua necessidade de canalizar a espontaneidade; conscientização, pelos pais, da
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utilização de mecanismos de projeção e deslocamento em relação aos filhos. A função do orientador é de possibilitar a conscientização, pelos pais, do seu papel nas dificuldades da criança. Deve evitar ser rígido e, como em psicoterapia, empregar métodos adequados à situação e necessidades presentes. Há necessidade, muitas vezes, de informações práticas sobre desenvolvimento, sexualidade etc. E importante fazer com que os pais consigam, por si mesmos, insights, pois só assim os resultados serão mais profundos e duradouros. Rogers menciona dois aspectos fundamentais no trabalho do orientador: a qualidade do relacionamento com o cliente e as técnicas utilizadas na terapia centrada no cliente. Aponta uma série de atitudes básicas para a manutenção de uma relação positiva, tais como a congruência, a empatia, a consideração positiva etc. Quanto às técnicas, servem de veículo para comunicação destas atitudes. Dentro do enfoque rogeriano, o "reflexo" é a resposta característica, através da qual o terapeuta participa da experiência imediata do cliente, adaptando-se ao pensamento dele para detectar o sentimento inerente à comunicação (angústia, ódio, remorso etc.). Quanto aos objetivos e técnicas utilizados na orientação, podemos considerar três fases na orientação dos pais: a) a aceitação de qualquer tipo de sentimentos que os pais mostrem em relação aos filhos: sentindo-se compreendidos e aceitos, possibilita-se a mudança de atitudes e eles mesmos são capazes de encontrar muitas respostas para as fases que seguem; b) esclarecimentos dos sentimentos e necessidades do filho: a criança será compreendida e aceita na medida que os pais sintam que eles também o são pelo terapeuta; c) esclarecimento da dinâmica pais-filho, que também exige uma boa relação com o psicólogo (que às vezes serve como modelo de identificação). Ademais das técnicas rogerianas citadas, podem ser utilizadas outras na orientação de pais, como, por exemplo: a) técnicas de apoio: usadas com intensidade variável em função da situação. Sua utilização é muito importante nas primeiras entrevistas enquanto facilitam a diminuição da ansiedade dos pais e a aceitação da ajuda do psicólogo. E por isso que a atividade do psicólogo se dirige à demonstração de interesse, desejo de ajudar, compreensão, atitude de confiança na capacidade dos pais e reasseguramento ante o surgimento de sentimentos de culpa e ansiedade; b) não são interpretados o material inconsciente e o transferencial. Eles são detectados com a finalidade de maior compreensão da dinâmica de personalidade dos pais e o significado profundo que a criança tem para eles. E pelo fato de não se interpretar este material que se faz mais evidente a importância de estabelecer uma relação positiva com os pais; c) os honorários por entrevista correspondem ao que é cobrado por sessão com a criança. Isto facilita a compreensão dos pais de que sua colaboração é tão importante .quanto o tratamento da criança. 4. Limites da orientação Como foi visto, o objetivo da orientação é obter a cooperação mais ativa dos pais para que a criança aproveite mais efetivamente a psicoterapia. 86
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A orientação lida, principalmente, com o presente e sua preocupação é com o ego - apoio, redução de tensão, reforço de funções, ampliação do campo de interesse etc. O conhecimento dos dados sobre o passado dos pais tem apenas a finalidade de poder entender o presente. Não são estimulados nem interpretados. Isto porque a realidade atual pode ser usada para modificar padrões do ego, quando a pessoa é ajudada a examinar e reavaliar suas relações com pessoas e situações. Por outro lado, a falta de compreensão do comportamento do filho, muitas vezes deriva de um real desconhecimento das reações normais da criança nas diferentes etapas do desenvolvimento. Possibilitando esse conhecimento, possibilita-se também a compreensão e, com isso, maior tolerância e paciência. Quando a percepção distorcida da realidade é corrigida, a resposta também se modifica. Como Slavson diz, a orientação se dirige especificamente às áreas de relações pais-filho. Os sentimentos negativos descarregados na criança, quando provenientes de ansiedade, sentimentos de culpa e ignorância dos fatos, podem ser eliminados na medida em que são abordados na orientação. Embora a orientação não tenha intenção de ser terapêutica, alguns efeitos terapêuticos ocorrem. O seu objetivo não é uma mudança da estrutura de personalidade. Quando o comportamento dos pais em relação ao filho é principalmente motivado por conflitos inconscientes que são compulsivamente rígidos e destrutivos, é necessário um tratamento psicoterápico. Alguns aspectos importantes devem ainda ser mencionados: a) a orientação pode, geralmente, ser feita ainda quando os pais estejam em terapia, já que os objetivos a atingir são diferentes, se bem que é verdade que quando os pais estão em terapia se produzem melhoras, como efeito secundário, na sua relação com a criança; b) muitas vezes os pais procuram ajuda para a criança e resistem à idéia de eles mesmos precisarem de tratamento. Na orientação podem ser ajudados a aceitar que eles também precisam de uma psicoterapia. Outro aspecto importante é o fato de ser geralmente escolhido para a orientação dos pais um profissional diferente daquele que atende a criança. Isto traz uma série de vantagens como, por exemplo: menor resistência da criança, que sente mais segurança de que o material das sessões não é transmitido aos pais e ela se sente assim, mais respeitada; facilita o controle dos aspectos transferenciais dos pais em relação ao psicoterapeuta da criança; facilita maior objetividade do terapeuta. 5. Caso clínico 5.1 Sumário
Desde o início de sua infância A.M. sofreu severas privações físicas, sensoriais e afetivas. Abandonada pelo pai aos quatro meses, foi desmamada repentinamente e entregue a uma vizinha, que ao cabo de três meses a deixara subnutrida, doente e semi-abandonada. Recolhida então a contragosto pela tia-avó, que já cuidava de sua irmã mais velha, apenas quando completou três anos e meio voltou para a companhia de sua mãe, que já então vivia com novo companheiro.
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Com nove anos e meio ela principia a apresentar amigdalites seguidas de dores reumáticas nos joelhos. É medicada, mas novos sintomas surgem, sobretudo a queixa de que sente como se alguém lhe estivesse apertando fortemente a garganta, singularmente após situações que lhe hajam trazido algum prazer. Ao mesmo tempo, torna-se aficionada de médicos e hospitais. A sensação de aperto na garganta se torna diária e passa a ser acompanhada de uma "frieza" que se espalha por todo o corpo. Ao mesmo tempo vê corujas por toda parte. É então encaminhada ao SPA, com a idade de 11 anos. Diagnosticada através de sessão livre e bateria de testes composta de HTP, Desenho do Animal, Rorschach e MAPS, além de entrevistas de anamnese com a mãe, a quem chamaremos 0.0., A.M. apresenta um quadro assim descrito: personalidade de forma paranóide com manifestações psicossomáticas e histéricas. Os pontos focais selecionados para a abordagem terapêutica semanal durante 10 meses se centralizaram em torno de fortes impulsos agressivos de natureza precoce em relação à mãe, vista como responsável pelo abandono, associados a sentimentos de culpa que a ligam firmemente a essa mãe, que, atacada na fantasia e doente na realidade, não pode ser abandonada por A.M. 0.0., também hipocondríaca mas ao mesmo tempo portadora de sérias afecções renais, deprimida e em tratamento psiquiátrico, é sentida como futura vítima da intensa revolta que salvou A.M. da psicose na primitiva infância. Essa revolta agora, transformada ora em perseguição ora em autopunição, a faz adoecer, sentir o ataque a sua garganta (desmame) e identificar-se com a mãe doente, presa aos médicos, dependente destes e também ameaçada. A psicoterapia breve de A.M., paralela ao acompanhamento de 0.0., também semanal, com outra terapeuta, terminou com o total desaparecimento dos sintomas e com o surgimento de um gosto pela vida que estava em vias de desaparecer quando fomos procurados. As melhoras de A.M. resistiram até mesmo a um incremento dos problemas orgânicos da mãe, que interferiram com os atendimentos desta no SPA (além do acompanhamento, entrara em psicoterapia pessoal), bem como à mudança para uma nova residência muito mais distante (A.M. vinha sozinha às sessões). Apresentaremos cinco cortes do caso, que, esperamos, ilustrarão o procedimento clínico do SPA nesse tipo de atendimento: uma das entrevistas de anamnese com 0.0., as duas entrevistas de devolução, a mãe e filha, uma entrevista de acompanhamento com 0.0. e uma sessão de psicoterapia com A.M.
5.2 Entrevista de anamnese (5.4.82) 0.0. compareceu no horário marcado. Após ter-se apresentado, pedi-lhe para falar-me um pouco sobre a gestação de A.M. 0.0. conta que ela não passou bem durante a gestação de A.M., pois sentia muitas dores na barriga e por várias vezes procurou cuidados médicos fora das com~ultas de pré-natal. Ela acredita que essas dores tinham relação com suas constantes brigas com seu marido (S.S.). Quanto ao nascimento de A.M., o parto foi feito em casa com a ajuda de uma vizinha. Não se lembra quanto tempo após o parto A.M. foi amamentada. O desmame ocorreu quando ela tinha quatro meses, pois 0.0. separou-se de S.S. e precisou trabalhar fora. Dos quatro aos sete meses A.M. ficou na casa de uma vizinha que não cuidava dela, deixando-a sozinha e não lhe dando comida. 0.0. soube por outros que a tal vizinha maltratava sua filha e então, chegando uma tarde de surpresa em sua casa, encontrou A.M. em péssimas condições. 88
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Diante disso, levou A.M. para morar com sua tia (tia de D.D.). A.M. permaneceu em companhia dessa tia até os três anos e meio, quando então foi novamente morar com D.D. e S.A., companheiro atual de 0.0. O.D. conta que A.M. andou com mais ou menos um ano, não sabe informar com que idade falou, mas diz que não apresentou nenhum problema nesse sentido. A dentição ocorreu tarde, A.M. contava então quase dois anos. Quando despontou o primeiro dentinho, todos os outros logo apareceram. Quanto ao treinamento higiênico, não soube informar com precisão, pois A.M. morava com sua tia. Relata que quando A.M. foi morar novamente com ela, ou seja, quando estava com três anos e meio, já sabia ir direitinho ao banheiro. Sua tia havia-lhe ensinado. Conta que até hoje A.M. faz, de vez em quando, xixi na cama, ficando muito chateada quando isto ocorre, principalmente porque sua irmã a fica gozando. Diz que engravidou de A.M. tomando pílula e que não queria criança, pois já estava vivendo muito mal com seu marido (S.S.). A.M. comia bem, não apresentou dificuldades em passar para alimentos sólidos. Seu relacionamento com outras crianças sempre foi bom. Seu brinquedo predileto sempre foram as bonecas. A.M. sempre teve problemas na garganta (foco-amígdalas), indo constantemente parar em hospitais onde tomava injeções. Há um ano e meio, ou seja, no início das aulas, A.M. começou a sentir dores nas articulações dos joelhos todas as vezes que sofria alguma crise na garganta. Segundo 0.0., essas dores reumáticas são conseqüência das dores de garganta. Perguntei-lhe como ela sabia disso e ela respondeu-me que os médicos já haviam informado. De um ano e meio para cá, portanto, as dores de garganta sempre vêm acompanhadas de dores reumáticas. . 0.0. conta que sempre que A.M. entrava em crise ela a levava para o hospital, até que um dia, após uma injeção, A.M. começou a se sentir muito mal, ficando o seu corpo repleto de caroços e a sua' língua muito seca. A.M. chorava muito. O médico, então, mandou que a enfermeira aplicasse uma outra injeção em A.M. e, após alguns minutos, os caroços começaram a desaparecer. A partir daí, A.M. tem pavor de ir a hospitais ou de tomar injeções. D.D. me fala que A.M. fica seriamente preocupada e não pára de falar sobre o assunto toda vez que D.D. lhe diz que ela precisará voltar ao hospital para novo exame. 0.0. conta que hoje mesmo A.M. tinha uma consulta marcada no Miguel Couto para um exame· de sangue. Ao procurar o papel de consulta dentro da bolsa, não o encontrou, pois A.M. o havia tirado de sua bolsa na quarta-feira e o tinha deixado em casa sem querer. 0.0. explica que A.M. adora mexer em sua bolsa para olhar o papel da consulta. Ela fica andando dentro de casa de um lado para outro com o papel na mão e fica fazendo perguntas sobre o dia da consulta. Deverá voltar na próxima semana ao médico e pedir, então, um novo papel para um novo exame de sangue. Pergunto-lhe para verificar os motivos deste exame e ela me esclarece dizendo que o médico suspendeu o remédio que A.M. estava tomando para as dores reumáticas, "prenomicina", para ver, então, no exame de sangue, se A.M. já pode ou não operar a garganta. D.D. conta que A.M. quer ser operada, pois ela gosta muito de picolé e, atualmente, está proibida de chupá-los. Com relação à sensação de que alguém está apertando a sua garganta, D.D. conta que tudo começou no final do ano passado, pouco antes. de ela ter vindo ao SPA pela primeira vez, ou seja, mais ou menos em outubro. Diz que um dia
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ela estava do lado de fora da casa lavando roupa e A.M. estava na sala vendo televisão. Depois de um certo tempo, quando ela entrou na sala, encontrou AM. deitada no sofá, muito fria, e dizendo que alguém estava apertando a sua garganta. 0.0. relata que quando ela resolveu procurar o SPA no ano passado, A.M. estava sentindo esse aperto na garganta quase todos os dias, sempre acompanhado dessa frieza espalhada por todo o corpo. Atualmente ela sente essa sensação de 15 em 15 dias mais ou menos. Quanto a "ver coruja por toda parte", 0.0. diz que AM. não tem visto mais não, que só de vez em quando, quando ela vê alguma coruja nas vitrinas das lojas, é que toca no assunto. 0.0. conta que ela havia ganho a coruja de A.M. no dia das mães, um presente espontâneo. Ao pedir que ela me esclarecesse o que havia querido dizer com "AM. é muito sensível e R.C. (a única irmã, de 14 anos) não liga para nada", 0.0. me contou que, quando ela havia estado muito doente (inflamação das vias urinárias), perguntou às filhas o que elas sentiriam se ela morresse, ou melhor, se elas tinham medo de que ela morresse. R.C. respondeu que nem ligava, que ela não tinha medo, pois sabia que um dia ela também iria morrer. AM., em compensação, caiu no maior berreiro. Conta que AM. já passou por três escolas diferentes. No primeiro ano esteve numa escola, no segundo ano em outra e no terceiro voltou a estudar novamente na primeira escola. Pergunto qual o motivo que levou 0.0. a transferir A.M. de escola e ela diz que foi por causa de mudança de casa. Já estava na hora e, então, nos despedimos. 5.3 Entrevista de devolução com D.D. (30.4.82) Iniciei a conversa dizendo para 0.0. que esta sessão seria para colocá-la a par do que havíamos podido entender a respeito de AM. Perguntei se, antes de começar a falar, ela gostaria de dizer alguma coisa. Ela disse que não, acrescentando que somente não sabia que ela seria atendida hoje, que ela pensava que seria somente A.M. que seria atendida. Comecei dizendo-lhe que havíamos percebido que AM. é uma criança com uma inteligência boa, sem comprometimentos, que é sociável, isto é, que tem facilidade em se relacionar e que tem boa percepção das coisas que estão à sua volta. Comentei que ela tinha colaborado muito com a Cláudia1 e que nós achávamos que isso era muito bom para o tratamento. 0.0. falou que AM. está gostando muito da moça. Conta que hoje mesmo de manhã AM. acordou bem cedo, se vestiu toda e não via a hora de sair de casa para vir até aqui. Conta que AM. já está melhorando, pois não teve nenhuma daquelas sensações de que estão apertando a sua garganta. Falei-lhe dos altos e baixos que podem ocorrer numa terapia, alertando-a quanto a isso. Disse que A.M. é uma criança que está muito assustada, com muito medo de perdê-la. Nesse ponto, lembrei-lhe da ocasião em que ela, 0.0., estivera muito doente e havia perguntado para AM. se esta sentia medo de perdê-la e que A.M. caiu no maior berreiro. Ela disse que sim, que se lembrava. Eu, então, continuei dizendo-lhe que AM. sentia-se muito feia, muito ruim por dentro. Que, às vezes, 1
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Cláudia foi responsável pelo diagnóstico de A. M. e foi em seguida sua terapeuta.
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nas situações em que AM. fica com mais raiva dela por algum motivo, não consegue suportar que tenha esses sentimentos e, então, sente-se muito ameaçada, chegando inclusive a sentir que tem alguém estrangulando-a. Disse que tínhamos percebido que esse problema de AM. sentir-se sendo estrangulada era uma dificuldade que estava na sua cabecinha. Acrescentei que nosso trabalho seria tentar ajudar A.M. nesses pontos, ou seja, tentar diminuir todo esse medo que ela estava sentindo, e também tentar ajudá-la a sentir-se menos ruim, menos feia por dentro. Comentei o quanto seria importante, para isso, que ela colaborasse conosco. Disse que nos veríamos uma vez por semana, toda segunda-feira, às 14 horas, até o mês de janeiro. Acrescentei que em julho também trabalharíamos. Expliquei que o acompanhamento era muito importante, pois serviria, por um lado, para ela entender melhor os sentimentos de AM. e, por outro, para nós também entendermos melhor AM., a partir do seu contato diário com a filha. Portanto, seria um trabalho conjunto, em que todos nós estaríamos envolvidos com o objetivo de ajudar AM. Nesse ponto houve um grande período de silêncio. Percebi que, quando eu olhava para D.D., esta desviava os olhos. Notei que 0.0. estava emocionada, pois seus olhos estavam brilhando muito e ela trazia nos lábios um sorriso. Comentei que eu havia observado o seu sorriso e perguntei-lhe se estava feliz. Ela olhou-me e disse: "Eu estava com muito medo de que A.M. tivesse de levar choque. Eu tive um irmão que era doente da cabeça e que ficou internado num hospital, onde levou choque. Eu estava com muito medo de que isso acontecesse com A.M." Depois de algum tempo em silêncio, 0.0. perguntou-me o que AM. fazia com a outra moça, se ela também ficava assim conversando como a gente. Eu lhe disse que sim, que A.M. ficava também conversando. Comentei que AM. também brincava, que nós trabalhávamos com brinquedos. Disse que A.M. podia fazer o que quisesse, inclusive conversar. Depois de mais um período de silêncio, eu lhe disse que estava observando que ela não estava acostumada com esse tipo de tratamento que ela estava tendo aqui no SPA. Que, pelo que eu tinha observado, ela estava esperando algo assim como precisar levar choque para se curar. Disse que ela deveria estar surpreendida com o fato de que aqui nós conversávamos, procurávamos entender os sentimentos das pessoas e que também não era um tratamento rápido, que levava tempo. Houve outro período de silêncio. Ela então, me perguntou se a psicologia resolvia problema de gênio. Pedi-lhe para me explicar melhor o que ela estava querendo perguntar. Ela disse que estava muito preocupada também com a outra filha, R.C., pois esta era muito agressiva e, quando elas brigavam, R.C. chegava a ficar até três dias emburrada. Eu, então, disse que sim, que achava que poderia ajudá-la. Disse-lhe, entretanto, que provavelmente ela, 0.0., ao fazer esse acompanhamento para AM., poderia até, quem sabe, passar a compreender melhor também R.C. Nesse momento, achei necessário enfatizar que o acompanhamento seria para falarmos de A.M., que caso ela quisesse ou achasse necessário poderia falar de R.C., desde que falasse de R.C. em relação a A.M. Falei novamente da importância do tratamento e que elas procurassem não faltar. Nesse momento tratamos do preço do tratamento. Ficou combinado que ela pagaria no final do mês e que o preço da sessão seria Cr$ 280. Despedimo-nos.
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5.4 Devolução para A.M. (30.4.82)
A.M. e D.D. chegaram 10 minutos adiantadas. Às 13h fui buscar A.M. Ela estava com uma aparência diferente das outras vezes. Normalmente A.M. vinha vestida de forma bem feminina, collant rosa, .saia, arco no cabelo e este para trás. Hoje A.M. estava com o cabelo repartido ao lado, bem curto e com um short tipo jardineira verde-escuro e com uma blusa bege por dentro. A.M. entrou, sentou-se e então coloquei para ela que hoje iríamos falar do que tínhamos entendido do que ela trouxera ao fazer os testes. Disse que aqueles testes eram para tentar conhecer e entender A.M. e que hoje ia falar sobre isso. Perguntei a A.M. se antes de lhe fazer essas comunicações ela queria dizer alguma coisa. Ela riu e disse que não, que hoje não tinha nada para dizer. Mas logo depois perguntou se eu sabia o que era PPD. Disse que não. Ela se levantou e escreveu no quadro dizendo que era um exame para ver se ela estava doente. A.M. puxou a manga da camisa e mostrou o local da injeção. Disse que não tinha medo de tomar injeção, nem de tirar sangue. A mãe falou para A.M. não olhar, mas ela olhou. Sua mãe perguntou e ela disse que olhava para aprender, pois ela queria ser doutor. Se ela não fosse estudar inglês, ela ia ser doutor. A.M. disse que na vinda para o SPA passou na frente de um curso de inglês e sentiu vontade de estudar lá. Mas sua mãe disse que ali era lugar de gente rica estudar. A.M. ficou em silêncio. Digo a A.M. que vou tentar explicar para ela o que pudemos entender nos testes que ela fez. Relembro os testes para ela. Digo a A.M. que ela falou comigo, cooperando na aplicação dos testes e isso mostra que ela pode relacionarse bem com os outros. Ela não tem problema de inteligência, percebe bem as coisas como mostrou ao fazer aqueles testes. Com essas coisas ela não tinha dificuldade. Mas A.M. mostrava medo, um medo que ela não entendia muito bem. A.M. diz então que não pode ver filme de terror e quando vê não consegue dormir. Digo a A.M. que ela falou do aperto na garganta, das dores na perna, do reumatismo. Essas coisas que aparecem no seu corpo "têm a ver com as coisas da cuca dela que estão chateando e atormentando ela". A.M. confirma com a cabeça, mas geralmente a mantém baixa. Digo que às vezes A.M. não se sente muito bem, mas não sabe por quê. Talvez as coisas que A.M. pensa e sente incomodem muito. A.M. gosta muito da sua mãe e tem medo de perdê-la. Mas às vezes A.M. tem raiva dela também e fica muito chateada com isso e talvez fique com medo de que alguma coisa aconteça. Pergunto se A.M. se lembra daquela história que contou (MAPS) do quarto da menina em que aparece o fantasma e a mãe desmaia, a irmã e o pai também desmaiam. .. e nesse momento A.M. fala junto comigo que a menina fica sozinha com o fantasma. Digo que acho que A.M. está dizendo que às vezes se sente muito sozinha e tem medo de fantasmas. Pergunto: "Você acredita em fantasmas?" A.M. diz logo: "Eu não" e ri. Falo que o pai de A.M. desapareceu da vida dela e que isso deve incomodar muito A.M. Esta diz que há 11 anos não o vê: "Eu nem conheci ele." 92
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Falo então da prancha do cemitério em que o homem está chorando porque matou a esposa quando chega outro homem e diz que quem tem ciúme é quem leva a pior. Digo a AM. que ela tem medo de perder a mãe e que ela sente muitos ciúmes da mãe e tem medo de levar a pior. AM. confirma levemente com a cabeça. Digo a AM. que às vezes ela se sente ruim - não que seja, mas AM. dá a impressão de se sentir assim e talvez por isso não se sinta merecedora das coisas. Pergunto se AM. se lembra de que contou sobre a ida ao Maracanã para ver Papai Noel e que, ao voltar para casa, sentiu aperto na garganta e dores de cabeça. AM. diz que sim. Na prancha do colégio, AM. conta que o aluno chega e o professor manda ele sentar lá atrás. Mas ele (aluno) diz que não enxerga, que precisa sentar na frente e o professor deixa. Pois é, aqui AM. sabe que será ouvida por mim e que eu procurarei dentro do possível ajudá-la. Digo que acho que AM. quer ajudar o tratamento e que eu quero ajudá-la. AM. sorri e confirma com a cabeça. Digo a AM. que ela terá uma caixa com material parecido com o desta caixa (usada durante o psicodiagnóstico), mas que será só dela. A caixa ainda não está pronta, mas segunda-feira estará lá. Digo a AM. que toda segunda-feira às 14h nos encontraremos e que tudo o que ela disser vai ficar apenas entre nós. Enquanto isso sua mãe estará sendo atendida por outra psicóloga para entender A.M. e saber lidar melhor com ela. AM. parece satisfeita. Digo que serão duas coisas diferentes e o que conversarmos aqui não será dito para sua mãe. Digo que teremos até o mês de janeiro do ano que vem para nos encontrarmos, inclusive em julho. AM. diz que está bem e sorri. Começa então a falar das dores reumáticas. Que há um ano esteve num médico em Duque de Caxias que examinou sua garganta e disse que tinha que operar. Ela foi para o Miguel Couto e o médico disse que as dores reumáticas eram causadas pela garganta. Ela precisa fazer tratamento para depois operar. AM. disse que tinha as dores dia sim dia não. Começou tomando vitaminas para abrir o apetite. Ela não comia direito. Estava pesando 29 quilos, foi para 30, depois 32 e agora está com 38 quilos. Agora come bem e adora feijão. Há algum tempo não tem as dores. Vai fazer exame para ver se já pode operar a garganta. Peço a AM. que nos avise caso ela vá operar-se. AM. diz que ainda tem dor na garganta e que operando talvez melhore. Digo a AM. que, se pudermos entendê-la melhor, isso também vai ajudá-la com as dores de garganta. AM. se levanta e começa a falar da escola e de sua professora, se dirigindo ao quadro-de-giz. Escreve no quadro e conta que a professora risca a palavra errada no caderno. A professora a mandou fazer um exame de vista porque A.M. copia as palavras e esquece letras no meio ou no final da palavra (por exemplo: efetue). Mas AM. não tem nada na vista. Sua irmã vai ter que usar óculos e AM. diz que queria usar óculos porque acha bonito. (Eu uso óculos.) Segue-se algum material em que A.M. escreve no quadro alguns exercícios escolares em que comete pequenos erros, como que me pedindo para ajudá-la a ajustar pequenas peças em seu mundo interior. Quando AM. acaba, digo que já está na hora e que hoje ficamos por aqui. "Você se lembra do meu nome?" AM. diz que esqueceu. Digo que é Cláudia. "Até segunda-feira às 2h." AM. diz tchau.
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5.5 Quinta Sessão de acompanhamento com D.D. (12.7.82) A. Expectativas iniciais. Eu estava achando que 0.0. não viria devido a sua doença. B. Atmosfera da sessão com eventuais mudanças. A sessão foi bastante tranqüila até o momento em que apareceu um ratinho andando pela sala. 0.0. e eu
achamos melhor mudar de sala e passamos, então, para outra sala bem em frente. Após este incidente, tudo voltou a correr tranqüilo como antes. C e D. Correntes principais e intervenções de acompanhamento dadas. 0.0. chegou 10 minutos atrasada. Fomos para a sala, sentamo-nos e ai perguntei como ela estava. Ela disse que estava melhor. Falei que havia recebido o recado a respeito da sessão retrasada (falta). Repeti verbalmente o recado e por fim perguntei o que AM. havia sentido ou falado por ocasião de sua doença. 2 Ela me respondeu que AM. não quis sair de perto dela, dizendo que quando era ela quem ficava de cama a mãe não arredava de perto dela e que agora que D.O. estava doente ela não sairia de perto da mãe. Falei que parecia que AM. tinha ficado muito preocupada com ela e que havia sentido muita vontade de ajudá-la a ficar logo boa. 0.0. sorri e me diz "é, é, é", várias vezes.3 Ela comenta que falou com AM. para vir ao SPA com R.C., mas que ela não quis vir. Eu falo, então, que parece que, para AM., naquele dia era mais importante ficar do lado dela do que vir aqui. Esta comenta "é, é", enquanto vou falando. 4 Começa a falar sobre a sua doença. Diz que está tomando um remédio que tem efeitos colaterais, como o aperto na garganta, a falta de ar, o cansaço, a tonteira. Enquanto vai falando, seus olhos ficam úmidos e percebo o quanto está sendo doloroso para 0.0. passar por tudo isso. Digo que imagino todas as dificuldades pelas quais ela passa devido à doença, inclusive trazer AM. ao SPAII Falo que, apesar de tudo, percebo um grande esforço por parte dela em ajudar a filha, em trazê-la aqui, em se preocupar em conseguir alguém que traga a filha quando não lhe é possível vir, como nas situações passadas em que veio S.A e também R.C.6 D.O., então, pergunta se fui eu que escrevi uma carta para ela. Digo que sim. Fala que AM. ficou muito contente e quis saber o que estava escrito. (Percebo que 0.0. também havia ficado contente, mas não digo nada.) Diz que leu a carta para ela, mas que não deu para elas virem porque só receberam a carta na terça-feira mesmo e aí já não dava mais tempo. Comenta também que A.M. gosta muito de receber cartas. Pergunta para esclarecimento - obtenção de dados. Esclarecimento sobre atitudes e sentimentos do cliente que mobilizam a reflexão e a resposta dos pais. 4 Esclarecimento sobre atitudes e sentimentos do cliente que mobilizam a reflexão e a resposta dos pais. 5 Resposta compreensiva mostrando que estou entendendo seus sentimentos. 6 Apoio de ego reforçar um comportamento ou um sentimento positivo.
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Digo que parece que o contentamento de A.M. tem relação com o fato de ela ter-se sentido lembrada, reconhecida, e que isso é muito importante para ela, pois ela é muito sensível. Ela balança a cabeça, sorrindo.7 Ela diz que A.M. é muito sensível mesmo. Fala que ela nunca mais teve aperto na garganta, que só de vez em quando ela diz que vai ter aperto, mas nunca tem. Fala que ela sente essas coisas quando briga com a irmã. Pergunto como é que elas se relacionam e D.D. diz que brigam muito. 8 Diz que às vezes fica achando que elas brigam assim porque não foram criadas juntas. D.D. diz que parece que não são nem irmãs de tanto que brigam. Começa a contar, então, uma discussão que elas tiveram domingo retrasado. Diz que ela estava muito doente, acamada, e que não estava podendo levantar-se para ir à feira. A.M., então, disse que iria fazer a feira para a mãe. D.D. diz que não sabe o que é que deu em A.M. para ela resolver ir à feira, pois ela não gosta disso, diz normalmente que tem muita gente na feira e que ela não gosta. Nesse dia resolveu ir. R.C. também ia à feira e então D.D. resolveu dividir o dinheiro entre as duas. Deu Cr$ 500 para R.C. e pegou duas notas de Cr$ 100 e deu para A.M., que começou a reclamar dizendo que era muito pouco. Por outro lado, R.C. também começou a reclamar dizendo que Cr$ 500 também era pouco e que não ia dar para ela comprar quase nada na feira. Começou a maior discussão, acabando por R.C. rasgar uma das notas de Cr$ 100 de A.M., que chorou muito. D.D., então, deu Cr$ 500 para A.M. e disse que fosse primeiro à feira, mas que não gastasse tudo para sobrar dinheiro para R.C. também ir mais tarde. A.M. voltou sem um tostão no bolso. Havia gasto tudo. D.D. nessa hora faz cara feia, como se tivesse ficado muito zangada com A.M. Pergunto entã09 o que aconteceu depois e ela diz, mudando um pouco de assunto, que em geral R.C. é quem implica com A.M. Que ela acha que R.C. não deveria· ser assim, pois ela já tem 14 anos e A.M. SÓ tem 11 anos. Fala que outro dia mesmo, quando elas estavam saindo daqui, passaram numa padaria que tem pão com queijo dentro, que é uma delícia. Nesse dia ela não estava com dinheiro para dois pães e então só comprou um e deu para A.M. comer. A.M. guardou a metade para dar para R.C., quando elas chegassem em casa. 0.0. diz que se fosse R.C. isso nunca aconteceria, pois R.c. é muito egoísta. D.D. diz que A.M. sente e fala que R.C. não gosta dela. Comento que, às vezes, o relacionamento entre irmãos é difícil mesmo, mas que isso nem sempre quer dizer que as pessoas não se gostem. 10 Digo que já houve outras ocasiões em que A.M. e R.C. se tratavam bem. Relembro a D.D. as várias vezes em que elas já foram à praia juntas e que até já vieram juntas também aqui e que parece que há as duas coisas, tanto elas se desentendem em alguns momentos como também em outros elas se relacionam amigavelmente. l1 0.0. fica algum tempo pensativa e então passa o rato correndo dentro da sala. Converso com D.D. sobre a possibilidade de trocarmos de sala e ela concorda comigo dizendo que também acha melhor. Vou até a secretaria e, voltando, 7 Esclarecimento sobre atitudes e resposta dos pais. 8 Pergunta para esclarecimento 9 Pergunta para esclarecimento 10 Assinalamento. 11 Esclarecimento sobre atitudes e resposta dos pais.
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sentimentos do cliente que mobilizam a reflexão e a obtenção de dados. obtenção de dados.
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chamo 0.0. para a sala em frente. Continuamos a sessão. Faltavam ainda 10min. 0.0. fala, então, que R.C. agora arrumou um namorado. Diz que resolveu não proibir, pois eles acabariam namorando escondido e não ia resolver nada a proibição. Diz que, no entanto, só os deixa saírem sozinhos para cinema e passeios se levarem AM. com eles. AM. saiu várias vezes, até que um dia chegou em casa dizendo que não iria mais sair com eles, pois os dois ficavam o tempo todo só conversando um com o outro e que não davam atenção a ela. A.M. começou a reclamar e a dizer que era muito chato ir sozinha com os dois, que ela poderia pelo menos ter uma amiga para ir com ela, que assim ela poderia também se divertir (o passeio era na Quinta da Boa Vista). Pergunto se AM. não tem nenhum amigo e 0.0. diz que lá onde elas moram não tem. 12 Que as meninas de lá são muito mal-educadas, que falam muitos palavrões, que eu preciso ver. Diz que são crianças que passam o dia todo largadas na rua, pois as mães saem de manhã para trabalhar e só voltam à noite. Diz que não quer saber de deixar A.M. conviver com essas crianças assim não, que fica com medo de AM. também acabar falando palavrões. Comento que para A.M. deve ser muito ruim não ter com quem brincar, que isso deve deixá-la sozinha. 13 0.0. diz que também acha isso, mas que ela não pode fazer nada no momento, que elas têm que agüentar até o início do ano que vem. Fala da casa lá no Estado do Rio, que entrou ladrão e que elas então puseram a casa à venda. Até hoje não arrumaram comprador. Lá AM. tinha um monte de amigas. Na Rocinha ela não tem nenhuma amiga. AM. só brinca com as crianças da escola. Diz que no ano que vem está pretendendo se mudar para Bonsucesso ou então para Ramos. Que ela não quer voltar mais para o Estado do Rio. Digo que já está na hora, nos despedimos e 0.0. então fala que quer pagar quatro sessões do mês passado. E. Intervenções de acompanhamento pensadas mas não dadas. Necessidade de AM. de não sair de perto da mãe - controlar a doença de 0.0. é o mesmo que controlar sua própria doença; sair de perto da mãe pode provocar-lhe danos. F. Objetivos focais. Mantidos.
G. Resultado da sessão. Houve nessa sessão um bom diálogo entre nós duas, fator positivo para o tratamento de AM. H. Reflexões posteriores. Saí deprimida da sessão, mobilizada por aspectos de
pobreza material da família.
5.6 Sétima sessão com A.M. (26.7.82) A. Expectativas iniciais. Estava preocupada. AM. estava há duas semanas sem ter sessões de terapia. Como estaria ela? O que teria acontecido nesse meio tempo? Pergunta para esclarecimento - obtenção de dados. Esclarecimento sobre atitudes e sentimentos do cliente que mobilizam a reflexão e a resposta dos pais.
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B. Atmosfera da sessão. Calma e alegre; A.M. parecia estar bem à vontade.
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Correntes e intervenções. Quando entramos, A.M. deu um sorriso e logo abriu sua caixa, retirando o bloco de papel que estava por cima dos brinquedos. Ela viu o desenho da bandeira,14 que ainda não estava completamente colorida. A.M. pegou a caixa de lápis cera e começou a colorir a bandeira. Disse-lhe então que na semana passada nós tínhamos mandado uma carta para elas marcando hora na terça-feira por causa do jogo do Brasil na segunda-feira, pois a PUC ia estar fechada. A.M. diz que receberam a carta, mas sua mãe teve médico naquele dia e quando chegou em casa não dava mais tempo e ela (A.M.) também esqueceu porque sua hora é na segunda-feira. Disse que fizemos isso para que elas pudessem ser atendidas naquela semana, pois as duas já tinham perdido a sessão da outra semana. Disse a A.M. que tinha recebido o recado dela de que não podia vir à terapia, porque sua mãe estava doente e não queria sair de perto dela. A.M. sorri e confirma com a cabeça. Pergunto o que ela acha que poderia acontecer se ela se separasse da mãe quando esta estivesse doente. A.M. diz que ia ficar com saudades e com pena. Pergunto se A.M. pensa que se sair de perto da sua mãe ela tem medo de que sua mãe morra ou fique muito doente. A.M. diz que é parecido com isso. Diz que tem medo de perder sua mãe. Diz que tem duas mães, "a minha mãe e a minha tia que criou". Pergunto: "Será, A.M., que você pensa que sua mãe pode ficar muito doente porque você algumas vezes teve muita raiva dela e queria mesmo que ela ficasse doente?" A.M. diz que nunca pensou isso. A.M. acaba de desenhar a bandeira, vira a folha, olha todos os outros desenhos que já fez, começa um novo desenho. Ela pára pela metade e vira outra folha. Pergunto se era um balão, A.M. diz que sim, mas que ficou cansada de pintar (fala pintar mas na verdade estava desenhando ou colorindo, para ser mais exata). Ela pega em seguida os vidros de tinta. Pergunto se quer pintar, ela diz que sim; digo que vou pegar a bacia com água para ela poder pintar. Vou lá fora, encho a bacia com água, coloco na mesa pequena e aproximo esta mesa da mesa onde ela está sentada. Ela faz o formato do balão com lápis, recorta, coloca a figura em cima do papel, risca, recorta outra figura igual. Cola os dois pedaços deixando uma pequena abertura. Abre o vidro de tinta amarela e começa a pintar, depois sopra na abertura para o balão ficar estufado. Fica segurando para secar. Pergunto se quer pintar o outro lado. Ela diz que sim. Digo que aquele balão que ela grudou, colou uma parte na outra, parece A.M. com a mãe. E ela não pode pintar o outro lado, tem que esperar aquele lado secar. A.M. tem que esperar 0.0. para poder vir à terapia e para fazer as coisas que ela tem vontade. A.M. sorri, vira o balão e pinta também de amarelo o outro lado, depois pega o vidro de tinta vermelha e faz uns enfeites em cima do amarelo. Quando acaba sopra novamente e coloca o balão "em pé" apoiado na caixa e dá um sorriso de enorme satisfação para o balão. Começa a guardar o material que utilizou: tesoura, cola, vidros de tinta, bloco de papel, joga pedaços de papel no lixo. Disse que hoje tinha sido o primeiro dia de aula mas só foram cinco meninas. Pegou um pedaço de giz e disse que ia tentar um laranjito - fez e refez várias vezes. Depois escreveu: uma flor para uma pessoa. Fez os dois pontos, apagou e se virou para a caixa. Pergunto se A.M. ganhou
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Desenhada e semicolorida na sessão anterior.
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uma flor. AM. diz que não, pega outra cor de giz e escreve. Uma flor para uma pessoa bonita, de olhos "azul". Leio o que ela escreveu. Ela apaga e continua: "que se chama D. Cláudia." Leio e pergunto: "Sou eu, A.M.?" Ela diz que sim, apaga e escreve: "Ela é boa." Leio e pergunto: "E A.M.?" Digo a A.M. o que será que ela está querendo saber: se, como ela acha que eu sou, também ela é boa, bonita, se ela pode ganhar ou merecer muitas coisas boas, flores, perfume (ela tinha escrito "perfume" e "cheirosa" no quadro, referindo-se à flor). AM. continua a escrever: "A flor é cor-de-rosa." Leio. Digo que está na hora. A.M. apaga e escreve: "Na próxima senama (troca a posição de m e n) mais." Agradeço a flor e despedimo-nos. Digo: "Até segunda-feira que vem às 2h." D. Interpretações pensadas mas não dadas. Não houve. E. Focos. Mantidos e trabalhados. F. Resultado da sessão. AM. pôde soltar-se mais, usando as tintas pela pri-
meira vez e sentiu-se agradecida e aliviada pelas interpretações focais dadas. G. Reflexões posteriores. A.M. me pareceu mais alta e com um ar de bom humor. Me dei conta de que AM. é muito carente e precisa agradar as pessoas, elogiando para sentir-se melhor na relação. Talvez A.M. estivesse querendo parecer boazinha e sedutora me dando flores, me fazendo uma declaração de amor por culpa (para que eu não "brigasse" com ela pelas faltas) ou como conseqüência das minhas interpretações, o que se confirmou em sessões posteriores. Abstrad
The psychological attendance to lower-class children, in a university clinic, brings up some points related not only to the trainee's academic formation but ais o to the necessity of being adapted to the clients' characteristics. This research, resulting from a practical experience, together with a theoretical reflection, tries to present a contribution to this matter, and suggests some technical solutions, concerning children's psychotherapy and aIs o parents' guidance. Referências bibliográficas Balint, M.; Ornstein, P. H. & Balint, E. Focal psychotherapy; an example of applied psychoanalysis. London, Tavistoch, 1972. Fiorini, H. J. Teoria e técnica de psicoterapias. Rio de Janeiro, Francisco Alves, 1976. Kessel, H. Psicoterapía breve. Madrid, Fundamentos, 1979. Knobel, M. Psicoterapía breve en la infancia. Rio de Janeiro, Clínica Psicoterápica do Rio de Janeiro, 1968. (Separata.) Marconi, M. G. L. Orientação de pais como técnica auxiliar da psicoterapia de crianças - aspectos teóricos e técnicos. Dissertação de mestrado. Rio de Janeiro, PUC, 1973. Parad, H. J. Tratamiento breve centrado en el yo con famílias en crisis. Rio de Janeiro, Clínica Psicoterápica do Rio de Janeiro, 1968. (Separata.) Rogers, S. Psicoterapía centrada en el cliente. Buenos Aires, Paidós, 1~69. Slavson. R. J. Chitd centered group guidance of parents. New York, International University Press, 1958. SmaIl, L. As psicoterapias breves. Rio de Janeiro, Imago, 1974. 98
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