A POLÊMICA THOMPSON-ALTHUSSER: A AÇÃO HUMANA NA TEORIA DA HISTÓRIA Geise Targa de Souza1 O historiador britânico, Edward P. Thompson, publicou The poverty of theory & other essays em 1978, obra na qual, empreende uma crítica in totum ao pensamento do filósofo francoargelino, Louis Althusser. A polêmica pode ser dividida em duas dimensões interdependentes, a saber: a teórica, que constitui a discussão em torno dos antagonismos estabelecidos entre idealismo vs materialismo histórico, teoricismo vs empirismo, prática teórica vs lógica histórica e humanismo vs anti-humanismo teórico; e, a política, que envolve a defesa de uma moralidade comunista e a crítica ao estalinismo, que para Thompson teria sido sistematizado teoricamente pela corrente althusseriana. Embora Thompson reafirme renitentemente a importância do contexto de oposição ao estalinismo de 1956, após a denúncia dos “crimes de Stalin” no XX Congresso do Partido Comunista da União Soviética, como elemento fundamental na elaboração da sua crítica contra o althusserianismo; The poverty of theory também dialoga com uma série de questões da historiografia marxista inglesa que remontam ao início da década de 1960 e com o contexto teórico e político da década de 1970, período em que a retomada dos textos de juventude de Marx e de categorias humanistas estavam em voga. Neste texto, analiso a crítica de Thompson ao anti-humanismo teórico. Recorremos a análise de The poverty of theory; de Pour Marx e Lire Le capital de Louis Althusser; e de outras obras que dialogam com as questões postas. A retomada da crítica thompsoniana a Althusser é importante, pois provocou, em certa medida, o expurgo desta corrente teórica nas produções historiográficas brasileiras, sendo a polêmica em torno do humanismo fundamental na definição destas duas tradições. Na leitura de Thompson, Althusser considera os homens como Träger -suportes de estruturas-, esse tipo de concepção somado ao deslocamento da agência dos homens enquanto sujeitos (mesmo condicionados) no processo histórico para o próprio processo, negaria a luta de classes como força motriz da história. O expurgo do homem da história, além de negar a possibilidade de escolha, negaria também todos os aspectos morais presentes na obra de Marx, aspectos esses, que tornavam sua obra importante. No cotejamento da crítica e dos argumentos dessa questão na obra do filósofo marxista, notamos que Althusser ao pensar a questão do humanismo também estava preocupado com a formação de um plano político para o socialismo do século XX e defendia que a questão fundamental ao materialismo histórico não deveria ser “O que é o homem?” (questão fundamentada na ideologia burguesa) e sim “Qual é o motor da história?”. Toda a crítica de Thompson está pautada em um comprometimento moral na produção desse conhecimento e demonstra que o historiador não reconhece a distinção proposta pela corrente althusseriana entre objeto do conhecimento e objeto real. Sua proposta alternativa é fundamentada no conceito de experiência e na defesa da lógica histórica. Palavras-chave: E. P. Thompson. Louis Althusser. Humanismo. Materialismo Histórico. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALTHUSSER, Louis. A Querela do Humanismo. In: Crítica Marxista, n. 09. São Paulo: Xamã, 1999.
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Acadêmica do curso de graduação em História da Universidade Federal da Fronteira Sul, Chapecó, Santa Catarina, Brasil. Pesquisa vinculada ao Programa de Iniciação Científica PRO-ICT/UFFS. E-mail:
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_________. A Querela do Humanismo II (inédito). In: Crítica Marxista, São Paulo, n. 14, abr. 2002. ALTHUSSER, Louis. A favor de Marx. Trad. Dirceu Lindoso. Ed. 2ª. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1979. _________. Resposta à John Lewis: Sustentação de Tese em Amiens. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1978. (Posições 1) ANDERSON, Perry. Teoría, política e história: Um debate com E. P. Thompson. Madrid, Siglo XXI, 1985. THOMPSON, E. P. A Miséria da Teoria ou Um Planetário de Erros: Uma crítica ao pensamento de Althusser. Rio de Janeiro. Zahar Editores, 1981.