II Seminário Nacional em Estudos da Linguagem: Diversidade, Ensino e Linguagem
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A TEXTUALIDADE NAS REDAÇÕES DE COTISTAS E NÃO-COTISTAS NO VESTIBULAR DA UNIOESTE 2009
FRANCESCON, Paula Kracker (G – UNIOESTE) FERNANDES, Rosana Becker (Prof ª. Orientadora / UNIOESTE) RESUMO: Este trabalho tem como objetivo observar questões referentes à textualidade nas redações de vestibulandos cotistas e não-cotistas aprovados no vestibular 2009 da Unioeste. Sendo 2009 o primeiro ano no qual o processo seletivo da universidade foi realizado com o sistema de cotas sociais, essa pesquisa pretende levantar hipóteses em relação à funcionalidade do uso dessa política ao verificar a competência discursiva dos aprovados no Vestibular a partir da análise de suas redações. Para a realização de tal análise, recorrer-se-á aos conceitos da Linguística Textual, principalmente às concepções de coerência textual (KOCH; TRAVAGLIA, 2008; KOCH; ELIAS, 2006); de coesão textual (KOCH, 2008); e de textualidade (COSTA VAL, 2001, 2006), os quais concebem o texto como uma unidade de interação social entre o locutor e o interlocutor. Assim, nossa análise procurará observar as condições de produção do vestibulando, pois levará em consideração os comandos da prova de redação do vestibular, assim como os critérios de correção de tal prova presente no manual do candidato. O objetivo final será analisar a política de cotas sociais implementada na seleção do vestibular, ao avaliar os níveis de textualidade dos diferentes grupos sociais que ingressam na universidade. Dessa forma, será possível observar se o sistema de cotas contribui para o ingresso de alunos com níveis de textualidade muito diferentes ou se, na verdade, ele não apresenta grande peso na seleção dos aprovados. PALAVRAS-CHAVE: Redação. Vestibular. Textualidade. Coerência.
1 Introdução Este artigo originou-se do trabalho de pesquisa desenvolvido durante o ano de 2009 e apresentado em forma de monografia de conclusão de curso de graduação em Letras – Português/Inglês, modalidade Licenciatura, da Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Unioeste, campus de Cascavel. O principal fator que motivou a realização de um trabalho investigativo sobre o desempenho em redação no vestibular relacionado ao sistema de cotas foi a implantação do sistema de reserva de vagas no concurso de Vestibular da Unioeste, no ano de 2009. Essa implantação provocou uma mudança na forma de ingresso na universidade, a qual nos fornece dados iniciais que serão investigados neste trabalho. Causador de muita polêmica, o sistema de cotas propõe a reserva de vagas para alunos egressos de escolas públicas e/ou negros e índios nos processos seletivos de ingresso ao ensino superior público no Brasil, com o objetivo de reparar as injustiças
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sofridas por esses grupos no decorrer do processo histórico brasileiro. Ou seja, as cotas são entendidas como forma de inclusão social desses grupos menos favorecidos. Com base nisso, é possível considerar que a existência desse sistema pressupõe que os alunos que frequentaram escolas públicas tenham maior dificuldade na realização das provas para o ingresso nas universidades públicas e que, portanto, apresentariam menor aproveitamento na prova de redação. O problema do baixo desempenho demonstrado pelos concluintes do Ensino Médio na prova de redação do vestibular já vem sendo discutido há anos. Nos estudos do fim da década de 70 e dos anos 80-90 (LEMOS, 1977; ROCCO, 1981; ILARI, 1984; PÉCORA, 1987; COSTA-VAL, 1991), os principais problemas relacionados à redação foram apontados e discutidos.1 Como 2009 foi o primeiro ano em que a Unioeste realizou seu vestibular utilizando o sistema de cotas, essa pesquisa teve como objetivo central analisar redações de candidatos aprovados nos cursos mais concorridos na Unioeste - campus Cascavel, tanto dentro do sistema de cotas como fora dele. Um corpus reduzido foi selecionado para este trabalho. Assim, as redações do curso de Medicina foram usadas para a apresentação de dados quantitativos e para uma análise qualitativa. O objetivo dessa análise foi observar se é possível verificar se o pressuposto embutido na existência de um sistema de cotas – menor desempenho dos alunos vindos da escola pública – é confirmado na prática. Assim, neste trabalho, é apresentada primeiramente a contextualização teórica que serviu como base para a análise das redações do vestibular realizada nesta pesquisa. O referencial teórico utilizado para este trabalho centra-se nas pesquisas sobre texto como unidade de interação social, que se realiza devido a um objetivo claro entre seus interlocutores. É importante ressaltar que essa concepção textual é a mesma utilizada pela Unioeste no processo de correção das redações do vestibular e isso faz com que a análise realizada por esta pesquisa se aproxime dos critérios de avaliação aos quais as redações dos vestibulandos são submetidas. Depois, será apresentada uma breve análise
1
Uma síntese desses estudos é apresentada em Francescon (2009). Reflexões mais detalhadas sobre as condições em que tradicionalmente é trabalhada a redação na escola e de que como tais encaminhamentos vão influenciar no “modelo de redação a ser produzido no vestibular” podem ser encontradas em Geraldi (1984; 1991) e em Quirino (2003).
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sobre a textualidade em redações de alunos cotistas e não-cotistas aprovados no vestibular da Unioeste 2009.
2 -Contextualização teórica: estudos da textualidade A partir da percepção dos problemas apresentados por alunos nas produções escritas de vestibular, as pesquisas sobre redação no vestibular passaram a detalhar e a dar mais importância aos aspectos textuais/discursivos do texto. Uma obra importante nessa direção é a da professora Maria da Graça da Costa Val. Em sua dissertação de Mestrado, a partir das redações de vestibulandos da UFMG, a autora recorre, principalmente, às contribuições da Linguística Textual para estabelecer critérios de análise para o corpus de sua pesquisa. De acordo com Costa Val (2006, p. 3-4), o texto é “uma unidade de linguagem em uso, cumprindo com uma função identificável num dado jogo de atuação sociocomunicativa”. Assim, percebe-se que, para existir um texto, é necessário ter-se uma unidade semântica, a qual desempenha um papel, tem um objetivo interlocutório num contexto determinado. É isso que diferencia um texto de um amontoado aleatório de frases sem conexão entre si. Segundo a mesma autora, há alguns fatores pragmáticos que contribuem para que o texto alcance essa unidade semântica em determinado contexto comunicativo, que são: [...] as intenções do produtor; o jogo de imagens2 mentais que cada interlocutor faz de si, do outro e do outro em relação a si mesmo e ao tema do discurso; e o espaço de perceptibilidade visual e acústica comum, na comunicação face a face. (COSTA VAL, 2006, p. 4).
De acordo com os estudos feitos sobre redações de vestibular apontados, perceber-se que a dificuldade dos alunos está exatamente em compreender que sua 2
A expressão “jogo de imagens” remete ao conceito de formações imaginárias que “designam o lugar que A e B se atribuem cada um a si e ao outro, a imagem que eles se fazem de seu próprio lugar e do lugar do outro” (PECHEUX, 1990 apud QUIRINO, 2001, p. 284). Mesmo correndo o risco de simplificação, “jogo de imagens” pode ser entendido em Costa Val como as ideias que o produtor e o recebedor fazem do contexto em que estão inseridos e de seus interlocutores, como, por exemplo, de que maneira o produtor deve produzir seu enunciado a fim de alcançar o efeito imaginado em seu interlocutor. Para isso, é importante, para a autora, que o produtor tenha em sua mente a imagem do recebedor, para que possa atingir mais facilmente seu objetivo.
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produção escrita deve cumprir uma intenção comunicativa em determinado contexto, e não simplesmente considerá-la como uma tarefa que será somente corrigida por um professor. Além disso, os alunos não conseguem estabelecer o jogo de imagens mentais citado acima. Desse modo, retoma-se a questão de que os alunos não conseguem intuir as necessidades específicas de seu interlocutor, exatamente porque eles não formam a imagem desse interlocutor e de quais seriam as expectativas desse interlocutor em relação ao texto. A essas propriedades, Costa Val (2006), recorrendo aos estudos de Beaugrande e Dressler (1983), soma ainda a intencionalidade, a aceitabilidade, a situcionalidade, a informatividade e a intertextualidade. Os dois primeiros aspectos se aproximam do jogo de imagens mentais que o produtor precisa estabelecer no momento da produção de seu texto. Ele precisa ter claro em sua mente qual o contexto no qual está produzindo seu enunciado, qual a sua intenção comunicativa, ou seja, qual efeito ele quer produzir no recebedor com seu enunciado, quem é o seu interlocutor e o que ele espera do que está sendo produzido. A intencionalidade é a capacidade de o produtor satisfazer os objetivos que tem em mente enquanto escreve, de acordo com a situação comunicativa. Já a aceitabilidade se refere à expectativa do recebedor de que o texto seja relevante e que permita a construção de conhecimentos. A situcionalidade diz respeito à pertinência e à relevância do texto em relação ao contexto imediato em que está inserido. Isso se deve ao fato de que o contexto pode influenciar na interpretação do texto e, por isso, deve ser considerado nos momentos de produção e recepção do texto.
A informatividade está relacionada a quanto as
informações contidas no texto são esperadas e/ou conhecidas pelo recebedor. Quanto menos esperadas e/ou conhecidas as informações são, mais interessante para o recebedor será a leitura. Por fim, a intertextualidade é apresentar um texto que necessita do conhecimento de outro texto para que seja compreendido. Assim, esses fatores apresentam-se como de extrema importância na construção textual, pois são eles, somados aos conceitos de coerência (nível semântico) e de coesão (nível formal), que fazem com que um texto seja um texto e não um amontoado de palavras. A esse conjunto de características do texto, Costa Val (2006, p. 5) dá o nome de textualidade.
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Como elemento necessário na construção da textualidade de uma produção, a coerência textual
faz com que uma seqüência linguística qualquer seja vista como um texto, [...] que permite estabelecer relações (sintático-semânticas e pragmáticas) entre os elementos da seqüência (morfemas, palavras, expressões, frases, parágrafos, capítulos, etc.), permitindo construí-la e percebê-la, na recepção, como construindo uma unidade significativa global. (KOCH; TRAVAGLIA, 2008, p. 53).
Koch e Travaglia (2008, p. 21) definem coerência como “a possibilidade de estabelecer um sentido para o texto”. Encontra-se, portanto, ligada à interpretabilidade do texto, assim como à sua inteligibilidade em determinado contexto comunicativo. Para os autores, a coerência se refere à capacidade do receptor de estabelecer o sentido do texto. Os autores citam Beaugrande e Dressler (1981) e Marcuschi (1983), para quem a coerência é o que dá a unidade de sentido global do texto, sendo sua base a continuidade de sentidos. Essa continuidade está relacionada ao
modo como os componentes do mundo textual, ou seja, o conjunto de conceitos e relações subjacentes à superfície linguística do texto, são mutuamente acessíveis e relevantes. Evidentemente, o relacionamento entre esses elementos não é linear e a coerência aparece, assim, como uma organização reticulada, tentacular e hierarquizada do texto. (BEAUGRANDE; DRESSLER, 1981, MARCUSCHI, 1983 apud KOCH; TRAVAGLIA, 2008, p. 26).
Assim, a continuidade de sentidos dentro do texto estabelece relação entre os elementos textuais por meio dos processos cognitivos que os interlocutores operam ao ter contato com o texto. Essas relações não dizem somente respeito a aspectos lógicos, mas também aos aspectos socioculturais, relacionados aos contextos em que os interlocutores se situam. Portanto, para os autores, pode-se dizer que há alguns fatores que contribuem para o estabelecimento da coerência de um texto: as intenções comunicativas dos participantes, das quais o texto é o instrumento; a influência exercida por cada um dos interlocutores na situação comunicativa; e as regras sociais que regem o comportamento de cada interlocutor, ou seja, os “lugares sociais” que eles ocupam (KOCH; TRAVAGLIA, 2008, p. 26). A falta dessa continuidade de sentidos torna o
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texto incoerente, o que faz com que o texto deixe de ser texto e se torne um conjunto de sequências fragmentadas entre si. Um dos elementos mais importantes para o estabelecimento da coerência textual é a coesão. Ambas estão ligadas no processo de produção e compreensão de texto já que
a coesão tem relação com a coerência na medida em que é um dos fatores que permite calculá-la e, embora do ponto de vista analítico seja interessante separá-las, distingui-las, cumpre não esquecer que são duas faces do mesmo fenômeno. (KOCH; TRAVAGLIA, 2008, p. 52).
Isso ocorre porque, como a coerência é o fenômeno que nos permite avaliar a continuidade de sentidos de um texto, a coesão se refere aos elementos textuais que estabelecem as relações entre as partes do texto (frases, parágrafos etc.). Marcuschi (1983) define fatores coesivos como
aqueles que dão conta da estruturação da seqüência superficial do texto, afirmando que não se trata de princípios meramente sintáticos, mas de uma espécie de sintaxe textual, isto é, dos mecanismos formais de uma língua que permitem estabelecer, entre os elementos linguísticos do texto, relações de sentido. (MARCUSCHI, 1983 apud KOCH, 2008, P.16)
Dessa forma, há de se compreender que a coesão é um recurso que ajuda a estabelecer as relações de sentido em um texto, colaborando, portanto, com a coerência textual, mas se utiliza do sistema léxico-gramatical. Ou seja, os recursos coesivos estão explícitos na materialidade do texto, sempre seguindo sua linearidade e respeitando as dependências gramaticais da língua. Assim, há a possibilidade de medir, calcular a eficácia dos elementos coesivos de um texto.
3 Exposição de dados e análise de redações Como já foi dito anteriormente, esta pesquisa se originou da intenção de observar se o pressuposto embutido pela implantação de política de cotas nos vestibulares de universidades públicas seria evidenciado na prova de redação do vestibular 2009 da Unioeste. Esse pressuposto é o de que os alunos de escolas públicas apresentariam maior dificuldade em ingressar na universidade; portanto, apresentariam
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também aproveitamento menor na prova de redação. É importante lembrar que a prova de redação é a que apresenta maior peso nos processos seletivos de universidades públicas. No entanto, ao se analisar o corpus da pesquisa, observou-se que esse pressuposto tomado como ponto de partida para a pesquisa não se mostrou verdadeiro. Por isso, se tornou necessária também a demonstração de dados quantitativos, apresentados em forma de tabela numérica e gráfico, relacionados à nota atribuída pela banca avaliadora às redações do curso de Medicina. Sendo 00 (zero) o valor mínimo para a prova de redação do vestibular da Unioeste, e 60 o valor máximo, as redações foram subdivididas em escala de 5 pontos. Os dados decorrentes da análise das notas das redações são apresentados nas tabelas 1 e 2 e nos gráficos 1 e 2:
Tabela 1: Redações de não-cotistas Notas 0 a 25 26 a 30 31 a 35 36 a 40 41 a 45 46 a 50 51 a 55 56 a 60 Total
Gráfico 1: redações de não-cotistas
Quantidade redações 0 0 3 7 6 6 3 0 25
Tabela 2: redações de cotistas Notas 0 a 25 26 a 30 31 a 35 36 a 40 41 a 45 46 a 50 51 a 55 56 a 60
Gráfico 2: redações de cotistas
Quantidade redações 0 1 2 3 4 5 2 0
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17 Assim, com base nesses dados, pode-se observar que não há diferenças
significativas entre as redações de alunos cotistas e não-cotistas, com exceção de uma redação de um aluno cotista com nota abaixo de 30, ou seja, abaixo da metade da nota máxima possível nessa prova. Portanto, os resultados apresentados tendem a contrapor o pressuposto da existência das cotas sociais, que parte da ideia de que os alunos egressos de escolas públicas teriam maior dificuldade de ingressar em universidades públicas do que os alunos vindos de escolas particulares. É importante ponderar que, sendo o curso de Medicina um dos mais concorridos historicamente na Unioeste, pode haver uma preparação melhor dos candidatos advindos de escola pública, e daí viria a proximidade de notas entre alunos cotistas e não-cotistas. Por causa da nota díspar, selecionamos, para realizar a análise, uma redação com bom nível textual (nota acima de 51) produzida por um aluno cotista e a redação que apresentou menor nota (abaixo de 30) produzida também por um cotista. A análise pautou-se nas principais diferenças entre as redações, o que proporcionou a grande diferença também na nota atribuídas às redações. Em seguida, serão apresentadas as redações analisadas. A redação 1 foi considerada ótima pela banca avaliadora e foi produzida por um aluno cotista. Esse aluno optou pela proposta de texto dissertativo. O comando da prova de redação pedia: “Elabore um texto dissertativo, para ser publicado em um jornal, manifestando sua opinião sobre A RESTRIÇÃO PARA AS PUBLICIDADES BRASILEIRAS.” Assim, o tipo de texto pedido na prova e o objetivo que deve ser alcançado pelo texto devem ser atendidos pela produção textual do vestibulando. Esses requisitos são inclusive abordados no Manual do Candidato da Unioeste, quando aponta-se que “Espera-se, ainda, que o texto elaborado atenda ao objetivo solicitado na proposta de redação e esteja adequado a seu(s) destinatário(s)”. Como é de praxe nas provas de redação, a universidade forneceu recortes de textos expressando opiniões diversas sobre o assunto, para servir como possível fonte para o vestibulando. É relevante informar que a universidade destaca, na própria prova de redação, que a coletânea de textos deve ser
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usada de forma articulada pelo escritor, e que este não deve somente copiar as ideias de forma aleatória.
A redação 2 recebeu nota menor da metade possível e também foi produzida por um aluno cotista. Esse aluno escolheu a opção carta para compor sua redação. A proposta traz, inicialmente, um texto escrito por André Santos, em um site sobre os refugiados ambientais. A prova de redação então pede ao candidato que “Escreva uma CARTA a André Campos, apresentando sua opinião sobre o tema REFUGIADOS AMBIENTAIS”. Com base nessas informações, vale ressaltar que o produtor precisa obedecer ao gênero textual pedido, bem como ao objetivo proposto, tendo sempre em
mente o destinatário da carta.
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Realizamos uma análise contrastiva entre as duas redações considerando dois tópicos relacionados à coerêcia textual: a informatividade e a continuidade de sentidos. Com relação à informatividade, a redação 1 demonstra bom nível de informações apresentadas, mesmo que estas não sejam totalmente novas. Afinal, as informações e conceitos já estão presentes na sociedade e esses são apresentados em nossos enunciados, como afirma Bakhtin (1997 apud QUIRINO, 2003, p. 290). “as palavras do outro ocultas ou semi-ocultas, e com graus diferentes de alteridade”. O importante é que o autor faz a apresentação de suas opiniões de forma muito pessoal, apresentando-se realmente como autor do texto e de seu dizer, não utilizando a impessoalidade e o distanciamento para expor ideias pré-existentes. Já a redação 2 não apresenta bom nível de informações novas e imprevisíveis. Além disso, a articulação entre informações novas e já apresentadas no texto não é realizada de forma satisfatória. A continuidade global de sentidos da redação 1 é determinada desde o título, pois, apresentado em modo interrogativo, é a busca por sua resposta que direciona a exposição de argumentos no interior do texto. Como afirmam Lottermann e Zanchet
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(2009, p. 206), títulos formulados por questões pressupõem que “o desenvolvimento da redação será a argumentação decorrente da questão formulada no título”. Ainda, a continuidade de sentidos entre os parágrafos ocorre principalmente no uso de paráfrase do exposto anteriormente, como feito entre os dois parágrafos iniciais. Na redação 2, a continuidade dos sentidos apresenta alguns problemas. O produtor inicia sua produção afirmando que irá apresentar suas propostas para minimizar o sofrimento dos refugiados ambientais. Em seguida, informa que os desastres ambientais também acontecem no Brasil, pois, no texto de André Campos apresentado na prova, o autor aponta exemplos de desastres ambientais que ocorreram ao redor do mundo. Assim, o produtor afirma que os países devem ofertar recursos para que esses desabrigados possam continuar suas vidas. Porém, a partir desse ponto, o produtor passa a tentar explicar as causas dos desastres ambientais e oferecer soluções para que as recorrências desses desastres sejam minimizadas. Essas informações fogem do objetivo inicial anunciado pelo próprio produtor no início do texto e, portanto, apresenta-se como uma incoerência interna. Outra incoerência observada nesse texto se refere à ineficiência do produtor de adequar seu texto ao seu destinatário, problema que já foi apontado na segunda seção deste trabalho, a partir dos estudos já feitos com redações de vestibular. Isso pode ser evidenciado no trecho “Os refugiados ambientais ambientais são pessoas que de alguma forma tiveram que sair de suas e que perderam seus sustentos por causa de algum desastre ambiental” (linhas 15-17). Desconsiderando os problemas de sentido dentro da frase, a tentativa do candidato de explicar quem são os refugiados ambientais ao seu destinatário, que foi quem primeiramente escreveu sobre o assunto, prova que o vestibulando não conseguiu ser hábil ao ajustar sua produção considerando o seu leitor.
4 - Considerações finais Apesar do corpus reduzido e da análise breve, a partir dos dados quantitativos e as ponderações com base qualitativa, pode-se observar que o pressuposto existente na implantação de uma política de cotas sociais não é confirmado na prática. Mesmo considerando que houve uma redação entre o corpus que apresentou nota ruim produzida por um aluno cotista, e que, neste caso, o sistema de cotas possa ter ajudado o
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ingresso desse vestibulando, não há como afirmar que, de modo geral, o sistema de cotas social interfere na qualificação dos alunos aprovados no vestibular. Além disso, os dados apresentados nesta pesquisa também demonstram a relativa equiparação entre alunos egressos de escolas públicas e privadas, apesar de as ressalvas já feitas anteriormente terem de ser consideradas, como o tamanho reduzido do corpus e a escolha pelo curso de Medicina, que, por ser tão concorrido, pode levar os candidatos a uma melhor preparação. Com isso, há também a possibilidade de se investigar de quais escolas públicas vem esses alunos que conquistaram nota alta na prova de redação, para que uma observação de seu trabalho em relação à produção textual seja realizada, servindo como bom exemplo de educação textual.
Referências bibliográficas
COSTA VAL, Maria da Graça. Redação e Textualidade. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2006. FRANCESCON, Paula Kracker. Análise da textualidade em redações de vestibulandos cotistas e não-cotistas. 2009. Monografia de graduação. Curso de Letras Português Inglês, Unioeste-campus Cascavel. ILARI, Rodolfo. Uma nota sobre redação escolar. In: _____. A linguística e o ensino da língua portuguesa. São Paulo: Martins Fontes, 1984. KOCH, Ingedore Villaça. A coesão textual. 21. ed. São Paulo: Contexto, 2008. _____; TRAVAGLIA, Luiz Carlos. A coerência textual. 17. ed. São Paulo: Contexto, 2008. LEMOS, Claudia T. Guimarães de. Redações no vestibular: algumas estratégias. In: Cadernos de Pesquisa. São Paulo: Fundação Carlos Chagas, n. 23, p. 61-71, dez. 1977. PÉCORA, Alcir. Problemas de redação. São Paulo: Martins Fontes, 1987. QUIRINO, Rosana Becker. A escrita na escola e a constituição da subjetividade. In: Línguas & Letras. Cascavel: EDUNIOSTE, V.1 e 2, n. 6 e 7, 2003. ROCCO, Maria Tereza Fraga. Crise na linguagem: a redação no vestibular. São Paulo: Mestre Jou, 1981.
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