LEITURA E PRODUÇÃO TEXTUAL: INSERÇÃO DO TEXTO EM SALA DE AULA

G r a d u a n d o, F e i r a d e S a n t a n a , v . 3 , n . 4 , p . 2 5 J-3 6 , j a n . / j u n . 2 0 1 2 LEITURA E PRODUÇÃO TEXTUAL: INSERÇÃO...

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ISSN 2236-3335

LEITURA E PRODUÇÃO TEXTUAL: INSERÇÃO DO T EX TO EM SA LA D E AU LA Débora de Cássia da Silva Ce rqueira Licenc iatura e m Le tras Ve rnáculas [email protected]

Res umo : Sa be- s e que a educa çã o é mot i v o de p reocupa çã o e di s cuss ões t a nt o em confer ênci a s na ci ona is qua nt o i nt erna ci ona i s , a exempl o da conferênci a de 1 9 90 . A pa rt i r des s as di s cus s ões , i nfere - s e que pa ra a prender é preci s o des env olv er compet ênci as , ent re el a s a s ha bi l i dades de l ei t ura e es cri t a . D i a nt e di s s o, a i dei a n es t e a rt i go é bus ca r i dent i fi ca r a forma como o t ext o é t ra ba l ha do em s a la de a ul a e a na l i sa r que cont ri bui ções a i ns erçã o de t ext os v a ri ados podem t ra zer a o a prendi za do de l í ngua port uguesa no ens i no fundamenta l II. Es t e t ra ba l ho s e des env olv e a pa rt i r de a ná l i s e de cont eúdo de l i v ros e a rt i gos ci ent í fi cos que env olv em ent rev i s ta s e es t udos de ca s o. E concl ui - s e que o t ra ba l ho rea l i za do com t ext os em s a l a de a ula é i nefi ci ent e. Pa l av ras- chav e: Text o. Es col a . L ei t ura . Es cri ta . Gêneros . Res umen : Se s a be que l a educa ci ón es mot i vo de preocupa ci ón y di s cus i ones t a nt o en conferenci a s na ci ona les cua nt o i nt erna ci ona l es . A pa rt i r de es as di s cus i ones s e i nfi ere que pa ra a prender es pr eci s o des a rrol la r compet ênci a s ent re el l a s l a s ha bi l i da des de l ect ura y es cri t a . D el a nt e de e s o, l a i dea en es t e a rt í cul o es bus ca r i dent i fi ca r l a forma como el t ext o es t ra baj a do en cl a s e y a na l i za r que cont ri buci ones l a i ns erci ón de t ext os va ri a dos puedem t ra er a l a a prendi za je de l engua port ugues a en el n i v el funda menta l II. Es t e t ra baj o s e des a rrol l a a pa rt i r de a ná l i s i s de cont eni do de l i bros y a rt í cul os ci ent í fi cos que env uelv en ent rev i st as y es t udi os de ca so. Y concl uyo que

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el t ra ba j o rea l i za do con t ext os en cl as e es i nef i ca z. Palabras clave: Texto. Escuela. Lectura. Escrita. Géneros. 1 INTRO DU ÇÃO Como, na s a ul as de port uguês, a preocupaçã o t em s i do ens i na r est rut uras gra ma t i ca is , os a l unos t êm a prendi do pouco de comuni ca çã o e express ã o, e i ss o fi ca ev i dent e nas redações , em que os a l unos s e express am ma l . Os es t uda nt es aca bam por repres ent a r na es cri t a a ma nei ra como el es fa l am. Os es tuda nt es t êm di fi cul da des de s i nt et i zar a s i dei as de um t ext o ou enunci a do, porque nã o sã o ha bi t uados a rea l i za r l ei t ura s com s i gni fi ca dos, que a cont ecem qua ndo o a l uno ent ende e s i nt et i za a s i deia s de um t ext o no momento em que rea l i za a l ei t ura . A i dei a nest e a rt i go é l eva nt a r ques t i onament os e promov er uma refl exã o a respei t o do es t udo do t ext o em cl a ss e. D es envol v e- s e a qui uma dis cuss ã o s obre o nív el de a prendi za gem adqui ri do na s a t iv i da des de l ei t ura e produçã o t ext ua l na es col a e a na l i s a - s e em que medi da a i ns erçã o de t ext os na s a l a de aul a é us ada apenas como um pret ext o pa ra o es tudo de es t rut ura s gra ma t i ca is . Pa ra es sa di s cus sã o, rea l i za -s e uma a ná l is e a pa rt i r da l ei t ura de out ros a rt i gos , l i v ros e obs erva çã o em s a la de a ul a . Es t e a rt i go é orga ni za do em t rês s eções com cons i derações fi na i s, em que s e ev i dencia a pers is t ênci a da di fi cul da de dos a l unos com rel a çã o à l ei t ura e à express ã o es cri t a a des pei t o de todos os a nos pa ssa dos na es col a. A di fi cul da de de l ei t ura pode s e expl i ca r pel o fa t o de di fi ci l ment e s e i nt egra r o es t udo da l í ngua a o est udo da l i t era t ura . Conforme rel a t a Chi a ppi ni ( 1 997 ) , a l i t era t ura não fa z pa rt e da dis ci pl i na comuni caçã o e express ão ou l í ngua portuguesa no Ens i no Funda menta l . Por que os profess ores recorrem t a nt o às regra s gramat i ca i s , às nomencl a t ura s e à met a l i ngua gem, des fav orecendo o

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ens i no de comuni ca ção e expres sã o? Por que a dis ci pl i na L í ngua Port ugues a não é t ra ba l ha da de forma di nâ mi ca e cria t i va , com t ext os div ers os que ev i denci am o us o da l í ngua? No s ent i do de responder a es sa s ques t ões , es tá a rel evâ nci a des t e a rt i go. 2 A ESCO LA CO MO ESPAÇO DE LEITURA Por mui t o t empo, o es tudo do t ext o em sa l a de a ul a s erv i u à t ra nsmi ss ã o dos va l ores das cl as s es hegemôni cas . Sa be s e que o es t udo do t ext o s erv e t ant o pa ra a abert ura de s ent i dos quant o pa ra a s ua a nul a çã o, ou s ej a pa ra o a pa gament o de c ert as refl exões . Os cont eúdos expos tos pel os t ext os é que rev el am os obj et i vos da educa çã o e que, em i números es t udos rea l i za dos s obre educa çã o, s ã o apont a dos como não cl a ros , em que nã o s e es peci fi ca os obj et i v os da l ei t ura , por exempl o, s erv i ndo es ta apenas pa ra a decodifi ca ção de s i gnos . D ul ce Cas sol Ta gl i ani ( 20 1 1 ) a fi rma em s eu a rt i go “O L iv ro D i dát i co como Inst rument o Medi a dor no Proces s o de Ens i no Aprendi zagem de L í ngua Portuguesa : a produçã o de t ext os ”, que o l i v ro di dá t i co é o úni co i nst rument o de l ei t ura ut i l i za do pel os a l unos t a nto em sa l a de a ul a como no a mbi ent e domés t ico e que no a mbi ent e es col a r es t e nã o é expl ora do qua nt o à s ua va ri a çã o de gêneros . Ela a fi rma que os a l unos l eem e i nt erpret a m s uperfi ci a l ment e o t ext o. L í gi a Chi a ppi ni ( 1 9 97, p. 24 ) em s eu a rt i go “Gra má t i ca e L i t era tura : des encont ros e es pera nças ”, que s e encont ra na obra O Texto na Sala de Aula ( GERAL D I, 1 99 7 ) rel a ta que “na es col a , os a l unos nã o l êem l i v rement e, mas res umem, fi cham, cl a s s i fi cam pers ona gens , rot ula m obras . D e acordo com os rel a t os das es tudi osas ci t a da s, Chia ppi ni ( 19 97) e Ta gl i a ni ( 20 1 1 ) , percebemos que a prá t i ca de sa l a de a ul a , no que di z respei t o a o t ra ba l ho com t ext os nã o cont ri bui pa ra o des env olv iment o da cri t i ci da de. O ens i no da dis ci pl i na L í ngua Port uguesa cent ra -

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s e no domí ni o da gra má t i ca , conforme a fi rma Gera l di ( 19 97 , p. 4 5) : P a r e ce - m e q u e o m a i s c a ó t i co d a a t u a l s i t u a ç ã o d o e n s i n o d e l í n g u a p o r tu g u e s a e m e s c o l a s d e p r i me i r o g r a u co n s i s t e p r e c i s a me n te n o en s i n o p a r a a l u n o s q u e n em s e q u e r d o m i n a m a v a r i e d a d e c u l t a , d e u m a a n á l i s e d e s s a v a r i e d ad e co m e x er c í c i o s c o n t í n u o s d e d e s c r i ç ã o g r am a t i c a l , e s t u d o d e r eg r a s e h i p ó t e s e s d e a n á l i s e d e p r o b l e m a s q u e m e sm o e sp e c i a l i s t a s n ã o e s t ã o s e g u r o s d e co m o r e so l v e r .

Ent re as crí t i cas fei t a s a o ens i no t ra di ci ona l nos a nos 80 , uma que s e dest a ca va era o us o do t ext o como i ns t rumento pa ra o t ra tament o de a spect os grama t i ca i s e t a mbém o ens i no fora de cont ext o da met a l i ngua gem. Sobre es t e úl t i mo a s pect o, Chi a ppi ni ( 19 97 , p. 17 - 18) menci ona : O n t em c o mo h o j e , d i f i c i l m en t e c o n s eg u im o s i n t eg r ar o e s t u d o d a l í n g u a e o e s t u d o d a l i t e r a t u r a . S em p r e a s a u l a s d e l í n g u a t i v er a m a t en d ê n c i a d e s e co n c en tr a r n a g r am á t i c a , e s t u d ad a a b s t r a t a m en t e , a t r a v é s d e e x e mp l o s s o l t o s , d e f r a s e s p r é - f a b r i c a d a s s o b m ed i d a p a r a o s f a t o s g r am a t i c a i s a e x em p l i f i c a r o u a e x e r c i tar .

É i mporta nt e que s ej am col oca dos à di s pos içã o do a l uno uma v a ri eda de de gêneros t ext ua i s que proporci onem a o a l uno uma a t i t ude de refl exã o a pa rt i r da s l ei t uras a pres enta das na es col a , onde s e cri e um a mbi ent e fav oráv el à prá t i ca da l ei t ura e da es cri t a l iv res. Com es sa mes ma v i são, a fi rma Chi a ppi ni ( 1 9 97 , p. 21 ) . P a r e ce i mp o r t an t e , s o b r e t u d o n o s p r i m e i r o s a n o s d e contato com textos, exercitar a le itura e a escri ta, p a r a q u e a r e f l e x ã o t eó r i c a e h i s t ó r i c a s o b r e e l e s s e d ê a p a r t i r d e u m a v i v ên c i a e d o p r o c e s s o q u e o s

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29 g e r a : o t r a b a l h o c r i a t i v o co m a l i n g u ag em , a p r á t i c a d e e x p r e s s ão l i v r e .

N as déca das de 60 e 70 , s urgem propos t as de reformul a çã o do ens i no de l í ngua port uguesa e, na déca da de 80 , t es es sã o el a bora da s a res pei t o do as s unt o, que a ca ba m por des enca dea r um es forço no i nt ui to de rever a s prá t i ca s do ens i no da l í ngua e pa ra um t ra ba l ho com t ext os que fi gurem a rea l i da de, em v ez de t ext os v ol t a dos pa ra o a prendi zado da es cri t a . Ao que também dev em s erv i r, ma s nã o de forma descont ext ua l i za da, poi s a l ei t ura t ambém dev e pos s i bi l i t a r o des envol v iment o da compet ência di s curs i va , os PCN s a pontam es sa compet ênci a como uma da s compet ência s a s erem a l ca nça das pel o a l uno no ambi ent e es cola r. Ta l compet ênci a s e ca ra ct eri za por t orna r o a l uno hábi l em ut i l i za r a l í ngua produzi ndo v a ria dos efei t os de s ent i do e em ut i l i za r o t ext o a dequa ndo - o às di ferent es s i t ua ções de i nt erl ocuçã o. Os PCN s ( BRASIL , 1 99 8, p. 23) de t ercei ro e qua rt o ci cl os do ens i no fundament a l de L í ngua Portuguesa a ponta m: “At ua lment e, exi gem-s e ní v ei s de l ei t ura e de es cri t a di ferent es dos que sa t i s fa zem as demandas s oci a is at é há bem pouco t empo e t udo i ndi ca que es sa exi gência t ende a s er cres cent e”. E o t ra ba l ho que é rea l i za do pel a es cola nã o corres ponde a es s e ní v el de exi gênci a . D e a cordo com os própri os PCN s ( B RASIL , 1 99 8, p. 25) , “t enta -s e aproxi ma r os t ext os s impl i fi ca ndo- os a os a l unos , no l uga r de a proxi ma r os a l unos a t ext os de qua l i dade”. Is t o é, fa l ta di s por aos a l unos t ext os que es t ão a l ém dos apres enta dos nos l iv ros di dá t i cos e que l hes permi t am s e s i t ua rem dent ro do s eu moment o hi s tóri co, a proximando -os da sua rea l i da de. Mesmo qua ndo o profes s or propõe que o a l uno l ei a um l i v ro, que nã o s ej a o l i v ro di dá t i co, es s e profes s or ut i l i za uma met odol ogia equi v oca da , poi s nã o permi t e que o a l uno fa ça uma l ei t ura l iv re, ma s s ol i ci t a del e res umos e fi cha s de l ei t ura que t ornam o a t o de l er uma a t iv i da de t ensa e mecâ ni ca . Pa ul o

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F rei re ( 2009 ) em cont a to com v á ri os es tuda nt es rev el ou que mui t os rel a t a ram s ua s frus t ra ções com rel açã o à l ei t ura , poi s el es nã o l êem ou es t udam de v erda de os l i v ros . E is s o decorre de uma concepçã o errônea que os profes s ores t êm do a t o de l er como o própri o Pa ul o F rei re ( 200 9 , p. 21 ) expl i ci t a , a “i mport ânci a do a t o de l er [ . . . ] i mpl i ca s empre percepçã o crí t i ca ”. Se o t ext o s e a pres ent a como um cami nho pa ra a cons t ruçã o de s ent i dos , como a pont a Paul o F rei re ( 200 9 ) e Gera l di ( 1 9 9 5) es tá a í a i mportâ nci a do t raba l ho em s a l a de a ula com t ext os va ri a dos que pos s i bi l i t em ao a l uno l i da r com a rea l i dade s oci a l , com os v á ri os s ent i dos a fi xa dos pela s di v ersa s l ei t ura s. D i a nt e da v i gênci a de novas t ecnol ogia s e da a pa ri çã o de nov os gêneros com el as , Ma rcus chi ( 200 8, p. 1 9 8) pergunta “s e a es col a dev erá ama nhã s e ocupa r de como s e produz um e ma i l e out ros gêneros do dis curs o do mundo v i rt ua l ou s e i ss o nã o é s ua a t ri bui çã o. Pode a es cola cont i nua r ens ina ndo como s e es crev e ca rt as [ . . . ] ?”. A es col a nã o dev e a mpl ia r s eus obj et i v os e modi fi ca r s ua met odol ogia v is ando a tender à s necess i da des prement es ? N a ci t a çã o que s egue s e a pres enta a rel ev ânci a do t ra ba l ho com div ers os gêneros no ambi ent e es col a r. B ras i l ( 1 99 8, p. 23) a ponta : N e s s a p e r s p e c t i v a , é n e ce s s á r i o co n te mp l a r , n a s a t i v i d a d e s d e en s i n o , a d i v e r s i d a d e d e t e x t o s e g ên e r o s , e n ã o a p en a s e m f u n ç ã o d e s u a r e l e v â n c i a s o c i a l , m a s t a mb ém p e lo f a t o d e q u e t e x t o s p e r t en c en t es a d i f e r e n t e s g ên e r o s s ã o o r g a n iz a d o s d e d i f e r e n t e s fo r mas.

F i ca ass i m expl í ci t o, que s e fa z necess á ri o o es t udo dos gêneros no es pa ço es cola r, com o i nt ui to de corres ponder a uma das expecta t i vas de des envol v iment o da ca pa ci dade comuni ca t iva do a l uno, como bem i ndi ca m os PCNs que a ponta m pa ra neces s i da des do pres ent e.

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3 A ESCO LA CO MO ESPAÇO DE PRO DU ÇÃ O TEXTUA L Os PCN s ( 19 98) de t ercei ro e qua rt o ci cl os do ens i no funda ment a l rev el a m que a ca usa do fra cas so es col a r ness e nív el é a fa l t a de domí ni o da l ei t ura e da es cri t a pel os a l unos . N o 6 º a no, ess e fenômeno ocorre “por nã o s e cons egui r l eva r os a l unos a o uso apropri a do de pa drões da l i ngua gem es cri ta , condi çã o primordi a l pa ra que cont i nuem a progredi r” ( B RASIL , 1 9 9 8, p. 1 7 ) . Os mesmos PCNs ( B RASIL, 1 9 98, p. 23) i ndi ca m que “a uni dade bás i ca do ens i no s ó pode s er o text o” e nã o a gramá t i ca es t uda da de forma des cont extua l i za da . Idei a expl í ci t a a s egui r em B ra s i l ( 1 99 8, p. 23) : [ . . . ] n ã o é p o s s í v e l t o m a r co mo u n i d ad e s b á s i c a s d o p r o c e s so d e en s i n o a s q u e d e co r r em d e u m a an á l i s e d e e s t r a t o s- l e t r a s / f o n em a s , s í l a b a s , p a l a v r a s , s i n ta g m a s , f r a s e s ― q u e d e s co n t e x t u a l i z a d a s , s ã o n o r m a l m en t e t o m ad a s c o mo e x e mp l o s d e e s t u d o g r am a t i c a l e p o u co t êm a v e r co m a c o mp e t ên c i a d i s c u r s i v a .

Rodol fo Il a ri ( 1 9 97 ) cons i dera que pa ra os profes s ores é prováv el que a reda çã o s ej a a prát i ca de sa l a de a ula menos gra t i fi ca nt e, e que es ta dev e es ta r condi ci ona da à prá t i ca da l ei t ura pa ra que el a s e t orne efi ci ent e. El e a i nda menci ona out ra s exi gência s pa ra a es cri t a de uma boa reda çã o. Conforme ( ILARI 1 997 , p. 69 -70 ) : E s s a s i t u a ç ã o é r e l a t i v a m en t e a n t i g a , e t em mo t i v a d o r e f l e x õ e s p ed a g ó g i c a s q u e c o n d i c i o n am u m a p r á ti c a e f i c i e n t e d a r ed a ç ã o à s a t i s f a ç ã o d e t r ê s e x i g ên c ia s : i m p o r t â n c i a d a l e i t u r a d o s “b o n s au t o r e s ” ; o b s e r v aç ã o p r év i a , p e l o a l u n o , d o s “ f a t o s ” q u e s ã o a s s u n t o d a r e d a ç ão e c e r t ez a d e q u e o a l u n o e s t e j a e f e t i v am en t e mo t i v a d o p a r a r ed i g i r .

O a utor a pres ent a res ul ta dos de dua s diss ert a ções de mes t ra do s obre a express ã o es cri ta e os s eus obj et i vos , em

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s ua obra A L i nguí s t i ca e o Ens i no da L í ngua Portuguesa . N o pri mei ro t ra ba l ho, “Peda gogia da Expres sã o Es cri t a ”, do profes s or Gi l bert o Sca rt on, concebe -s e a “peda gogi a da express ão es cri t a como um mei o pa ra s upera r a i ncorreçã o grama t i ca l da s reda ções es cola res . ” ( IL ARI, 1 997 , p. 7 1 ) . Es t e t ra ba l ho fornece um l ev ant ament o dos erros gra ma t i ca is ma is frequent es , dent re os qua i s es tã o os de ort ogra fi a , morfol ogi a e s i nt a xe. N o s egundo t ra ba l ho, i nt i t ul a do “Ha bi l i da de de Express ão Es cri t a e N ív el de Es col a ri da de”, a profess ora Ma ri a Reni ra de Moura L ima exa mi nou reda ções de a l unos de 4 ª a 8ª s éri es do ens i no funda menta l e 3ª s éri e do s egundo gra u. Aqui , i nt eres sa o pri mei ro ní v el . A a utora bus ca res pos t as qua nt o ao cumpri ment o do pa pel da es col a no que di z respei t o a o des env olv i ment o da expres sã o es cri ta . N o s egundo t ra ba l ho, a profess ora chega à concl us ã o de que os a l unos nã o redi gem bem e que, porta nt o, a es col a nã o es t á corres pondendo aos obj et i v os rel a ci ona dos a o des env ol v i ment o da express ã o es cri t a e chega a s ugeri r que el ementos como mot i va ção e experi ênci a de v i da fa çam pa rt e des sa prát i ca . Sobre os dois t ra ba lhos menci ona dos , é rel at a do por Il a ri ( 1 9 97 , p. 7 2-7 3) que “repres entam a opi ni ão corrent e qua nto a os obj et iv os da reda ção; t ra ta -s e [ . . . ] de obt er uma express ão corret a [ . . . ] que depende de a t iv i da des v ari a das : pura ment e grá fi ca s , grama t i ca i s , de v oca bul á ri o, et c. ”. D ia nt e dos obj et i vos a pres enta dos pa ra a reda çã o nos t raba l hos menci onados é i mport a nt e cons i dera r o s egui nt e pont o de v i st a do aut or ( ILARI 1 9 97 , p. 7 3 -74 ) : [ . . . ] e s s a p e d ag o g i a d a r e d a ç ão é i n ad eq u a d a e e s t é r i l ; r e s u l t a d e u m p r e co n c e i t o , i n f e l i z m en t e g en e r a l i z a d o e m n o s s a s e s co l a s , e m f a v o r d a g r a m á t i c a e c o n t r a o ensino da expressão; e contribui destarte para que o p r e co n c e i t o s e m a n t en h a , c o mo f o n t e d e d e sv i o s .

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N ão pensamos que a gra má t i ca dev e s er ext ermi na da do ens i no de l í ngua port ugues a , poi s regras devem s er es ta bel eci da s pa ra a boa compreensã o das formas de expres sã o, ma s a credi t amos que não dev emos nos a t er s oment e a o ens i no de gra má t i ca na di s ci pl i na l í ngua port ugues a, poi s os us uá ri os da l í ngua cons eguem fa zer us o del a , mes mo ant es de conhecer a s s ua s regras e porque out ras ques t ões podem s er t ra t a das no es t udo da l í ngua , como por exempl o a es col ha do códi go l i nguí s t i co ma i s a dequa do pa ra as di ferent es s i t ua ções de comuni ca çã o. Como pensa N eto ( 1 99 6 , p. 1 35) a gra má t i ca nã o dev e tol her o a l uno, ma s s erv i r como “recurs o pa ra o a pri mora ment o da s ua express ã o es cri t a e que o ensi no de l í ngua dev e conduzi r o a l uno a l er e es crev er com compreens ã o e profundi da de”. Ta gl ia ni ( 20 11 , p. 1 39 ) menci ona que no l i v ro di dá t i co “nã o há um t ra ba l ho v ol ta do pa ra a div ers i da de de gêneros e s uas v a ri edades de regi s t ros l i nguí st i cos e pouca refl exã o s obre a s i t ua çã o em que produçã o de t ext os dos a l unos ocorrerá . O foco cont i nua na l í ngua pa drã o”. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS A pa rt i r da s refl exões a pres enta da s a qui , t ivemos o i ntui t o de i dent i fi ca r o que o a prendi zado e o t ra ba l ho com t ext os em sa l a de a ul a, t ant o em rel a çã o a o nív el de l ei t ura quant o à produçã o t ext ua l , podem t ra zer a o ens i no de l í ngua port ugues a no ens i no fundamenta l I I. Ma is es peci fi ca ment e, bus camos a pres ent a r a qui a importâ nci a do t ra ba l ho com a l i ngua gem a pa rt i r da i ns erçã o de t ext os va ri ados , is s o impl i ca di zer de vá ri os gêneros que fazem pa rt e do mundo do a l uno, como mús i ca s , poes ia produzi da pel os própri os a l unos e gêneros da web, que j á sã o conheci dos como nov os recurs os s emi ót i cos . Ao refl et i r s obre as i dei as e os res ul ta dos de a ná l i s es de profes s ores , de es t udi os os da L i nguí st i ca e da Ci ênci a do Text o, cons ta t amos a i nefi ci ênci a da es col a quant o a o obj et iv o de des env ol v er nos a l unos a compet ênci a di s curs i va , ou s ej a, de

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mel hora r nos a l unos a ca pa ci da de em l i da r com a l i ngua gem, t orna ndo - os s uj ei t os há bei s na compreens ão e na const ruçã o de s i gni fi ca dos por mei o das a t iv i dades de lei t ura e es cri t a . O ens i no de l í ngua port ugues a cent ra do na gramá t i ca e a fa l t a de cl a reza dos obj et i v os da es col a cont ri buem pa ra o ba i xo des empenho dos a l unos na s a t iv i da des rel a ciona da s . Embora o ens i no da l í ngua port uguesa es t eja s e mos t ra ndo i nefi ci ent e, Chi a ppi ni ( 19 97 ) rev el a que os profess ores t êm bus ca do ca da v ez ma is i nt egra r o t ext o no t raba l ho com a l i ngua gem. Apesa r dos profess ores es ta rem ut i l i za ndo ma is o t ext o no t ra ba l ho com a l i ngua gem, de a cordo com Ma rcus chi ( 200 8, p. 209 ) , em sa l a de a ul a “cons i deram -s e apena s os gêneros com rea l i za çã o l i nguís t i ca ma is forma l e nã o os ma i s pra t i cados na s a t iv i da des cot i dia nas ”. Ma rcus chi ( 20 08, p. 21 1 ) a i nda rel at a : O s P C N s n ão n eg a m q u e h a j a m a i s g ên e r o s , m a s e s t e s n ã o s ã o l em b r a d o s . P o r q u e n ão t r a b a l h a r t e l ef o n em a s , c o n v e r s a ç õ e s e s p o n t ân e a s , c o n s u l t a s , d i s c u s s õ e s e t c . , p a r a a f a l a ? P o r q u e n ão a n a l i s a r f o r mu l á r i o s , c a r t a s , b i l h e t e s , d o c u me n to s , r e c e i t a s , b u l a s , a n ú n c io s , [ . . . ] d i á r i o s , a t a d e c o n d o m í n io e a s s i m p o r diante, para a escrita?

Pa ra B ange ( 1 9 83 a pud KOCH, 2006 , p. 7 5) “fa l a mos at rav és de t ext os ”. Porta nt o fa z - s e necess á rio a ut i l i za çã o dos di v ers os gêneros e t i pos t ext ua i s no t ra ba l ho com a l i ngua gem. L i ngua gem pel a qua l os s uj ei t os i nt era gem, a qua l nã o s ó é t ra ba l ha da na es cola como a cont ece na escol a , es ta que s e cons t i t ui como espa ço i nt era t iv o. D e a cordo com K och ( 200 5, p. 26 ) t exto “t ra t a - s e de uma a t i v i da de cons ci ent e, cria t i va , que compreende o des envol v iment o de es t ra t égi as , concreta s de a çã o e a es col ha de mei os a dequa dos à rea l i za çã o de obj et i v os ”. Por es sa ra zã o, a necess i da de do tra ba l ho com gêneros va ri a dos em s a la de a ula , procedi ment o es t e, que não t em ocorri do.

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Cons i dera ndo a s refl exões aqui t ra zi da s , percebemos que a a t i v i da de de produçã o t ext ua l na es col a, na ma iori a das v ezes , s erv e s oment e como i ns t rumento de av a l ia çã o e nã o de a prendi za gem. E s endo, em mui t os cas os , o l i v ro di dá t i co o úni co i ns t rument o de l ei t ura ut i l i za do pel os al unos como j á foi menci onado, ocorre um empobreci mento do ní v el de l ei t ura rea l i za do pel os a l unos e um des fav oreciment o do des env olv i ment o da ca pa ci da de dos a lunos quant o à a ná l i se crí t i ca . D ev e- s e poss i bi l i t a r a os a l unos fazerem l ei t ura s div ersas , com propos t as de ofi ci nas de l ei t ura e de produçã o t ext ua l na es col a . D is cuss ões a res pei t o des t e as s unt o dev em s er rea l i za das na s univ ers i da des no i nt ui t o de prepa ra r profes sores de L í ngua Portuguesa em forma çã o pa ra l i da r com as di fi cul da des dos es t uda nt es . Concl ui ndo es t e a rt i go, conv encemo - nos da ext rema importâ nci a da funçã o dos profes s ores enquant o medi a dores ent re o t ext o e a aprendi zagem. R E F E RÊ N C IA S I CONGRESSO IN TERNACION AL DAS L IN GUAGENS; V SEMINÁRIO N ACION AL D O ENSINO D E L ÍNGUA PORTUGUESA; IV SEMINÁRIO IN TERN ACION AL D O ENSINO D E L ÍN GUA ESTRANGEIRA - ESPAN HOL E INGL ÊS; I SILEN: L IN GUAGEN S E L IN GUAGENS , 1 , 200 2, Erechi m, Anais. . . Erechim: URI, 200 2. B RASIL. Secret a ria de Educa ção Fundamenta l . Parâmetros curriculares nacionais : t ercei ro e qua rto ci cl os do ens i no funda ment a l : l í ngua port ugues a . B ra s í l i a: MEC/SEF , 1 9 9 8. L EITE, L i gia Chia ppi ni Mora es . Gramá t i ca e l i t era t ura : des encont ros e es pera nças , In: GERALD I, J oã o Wa nderl ey ( Org. ) . O texto na sala de aula . Sã o Pa ul o: Át i ca, 1 997 , p. 1 7 - 25. F REIRE, Pa ul o. A Importância do ato de ler : em t rês a rt i gos que s e compl etam. 50 . ed. Sã o Pa ul o: Cort ez, 2009 .

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