ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO: AS PRÁTICAS DE LEITURA COMO RECURSO PARA A ALFABETIZAÇÃO Giselda Morais de Alencar Militão (Profletras - Universidade Estadual de Londrina) Orientadora: Sheila Oliveira Lima
Resumo: O presente trabalho tem como objetivo fazer um estudo das práticas do letramento voltadas para a leitura literária no cotidiano do período de alfabetização,sendo um recurso inserido no ambiente alfabetizador de crianças do 1º ano do Ensino Fundamental I. Nesse estudo enfoca-se a aprendizagem da habilidade da leitura cotidiana e contextualizada e o seu uso no meio social.Participaram desta pesquisa 25 alunos com idade entre cinco e seis anos de uma escola pública. Tendo como objetivo verificar se que os estudantes demonstraram adquirir conhecimento quanto o uso da escrita e leitura que ajudaram no processo ensino aprendizagem em situações concretas. Inicia-se a discussão sobre o fato de que o uso da leitura cotidiana facilita significativamente o aprendizadoe o desenvolvimento do aluno nesse período de escolarização. Palavras – chave: Leitura cotidiana. Leitura literária. Aprendizagem significativa.
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INTRODUÇÃO Na busca da formação de pessoas criticamente letradas, faz-se presente o letramento e suas implicações teórico-metodológicascomo práticacoerente para alcançar os objetivos propostos e os direitos de aprendizagem das crianças do Ensino Fundamental. O modo de falar, de entendere de escrever dos seres humanos é perpassado por questões psicológicas, linguísticas, cognitivas, culturais e sociais. Toda gama de conhecimento envolvida na aquisição do Sistema de Escrita Alfabética juntamente com as suas vivências de letramento podem levar a criança a se alfabetizar de forma natural sem perder o interesse pelos textos escritos. No presente trabalho colocamos uma pesquisa ação sobre como as práticas de letramento e leitura como função social interferem no processo de alfabetização das crianças de 1º ano. O objetivo do trabalho é verificar empiricamente o desenvolvimento da criança no processo de aquisição do Sistema de Escrita Alfabética estando em contato direto com a leitura, ou seja, seguindo a perspectiva dos estudos de letramento. Para a sua realização, serão observadas duas turmas de 1º ano na Escola Municipal Dalva Fahl Boaventura, situada na região sul da cidade de Londrina noano de 2013. Num primeiro momento indagamos como as crianças chegam até a escola, e em que nível de letramento elas se encontram. Diante das experiências com alfabetização colocadas por SOARES(1999), devemos salientar que letramento é visto como uma forma de encontrarprazer em diferentes atos de ler, considerando os locais de leitura mais diversos e em diferentes condições, a autora defineque não é só na escola que se lê. Diante desse fato pode-se afirmar que as crianças trazem diferentes bagagens de letramento, ofertadas no ambiente familiar e social, antes de ingressarem no âmbito escolar, sendo, portanto, umas diferentes das outras quando iniciam seu processo de alfabetização. Investigar práticas de alfabetização em que a ação de ler não é contínua, ou seja, aquelas em que se apoiam em outras abordagens que não a dos 236
estudos de letramento de propor a leitura como base da alfabetização, verificando sua interferência nesse processo, é o que propomos no presente trabalho em forma de pesquisa- ação. 1
O QUE É LETRAMENTO? O convite à leitura e ainda a escolha daquilo que deve ser lido com a perspectiva de temas relevantes está sendo colocado em destaque. Vimos que em cada fase de escolarização os interesses por determinado gênero em detrimento de outro poderá ocorrer, cabendo pois, ao educador favorecer o manuseio de materiais diversos de leitura. Essa atitude proporcionará a formação do aluno leitor. Para reafirmar tal ideia podemos citar que: Em todos os anos de escolarização, as crianças devem ser convidadas a ler, produzir e refletir sobre textos que circulam em diferentes esferas sociais de interlocução, mas alguns podem ser considerados prioritários como os gêneros da esfera literária; esfera acadêmica/escolar e esfera midiática destinadas a discutir temas relevantes. (PNAIC-ANO 1, UNIDADE 1, P.32) A prática do letrar e alfabetizar, ou alfabetizar letrando,perspectiva dos estudos de letramento, postulada pela educadora e pesquisadora Magda Soares, tendo um caráter de processos simultâneos, indissociáveis no início da aquisição do Sistema da Escrita Alfabética pela criança,tem sidousado pelos professores alfabetizadores. Dentro dessa abordagemdo alfabetizar letrandopode-sesituar a leitura de variados gêneros do discurso como práticas de letramentopara instrumentalizar o aprendiz sem subtrair dele seus conhecimentos prévios e valorosos para o processo de alfabetização. Podemos explicitar, neste momento, que encontraremos diferentes tipos de letramento em cada um dos educandos, uma vez que cada um deles está inserido em um núcleo familiar esocialdiverso.
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Cabe neste ponto chamar a atenção para que não se faça erroneamente apenas a substituição do termo alfabetizaçãopelo termo letramento, sendo muitas vezes colocada a alfabetização como pré-requisito para o letramento. É necessário realizar o desvelamento dos dois termos, para tanto busquemos embasamento em SOARES (1998), quando discorre que alfabetização é o ato de se tornar “alfabetizado” enquantoletramentose traduz como“condição de ser letrado”. A autora trata o letramento como o resultado de uma ação: a de “letrar-se” entendido aqui como “tornar-se letrado”. Retomando osentido de diferenciação, é favorável colocar um método a partir do qual o aluno obtenha habilidade e competência para ler e escrever, todavia para se encontrar letrado o indivíduo precisa saber onde e como usar as habilidades adquiridas. Para reafirmar o fato tomemos como base o que segue: Retomemos a grande diferença entre alfabetização e letramento e entre alfabetizado e letrado [...] um indivíduo alfabetizado não é necessariamente um indivíduo letrado; alfabetizado é aquele indivíduo que saber ler e escrever, já o indivíduo letrado, indivíduo que vive em estado de letramento, é não só aquele que sabe ler e escrever, mas aquele que usa socialmente a leitura e a escrita, pratica a leitura e a escrita, responde adequadamente às demandas sociais de leitura e de escrita.(SOARES 1998, P.39,40)
A autora se faz clara ao explanar sobre os dois termos e deixa a noção sistêmica do que cada um deles representa tornado assim possível discutir o que se refere a cada processo no seu âmbito maior e que no presente trabalho trata-se de colocar a leitura em sala de aula como uma prática de letramento quevenha aoencontro do objetivo. O fenômeno do letramento, então, extrapola o mundo da escrita tal qual ele é concebido pelas instituições que se encarregam de introduzir formalmente os sujeitos no mundo da escrita. Pode-se afirmar quea escola, amais importante das agências de Letramento, preocupa-se não como letramento prática social, mas com apenaso tipo de prática de letramento, a alfabetização, o processo de aquisição de códigos (alfabético, numérico) processo geralmente concebido em termos de uma competênciaindividual necessária para o sucesso e promoção na escola. Já outras agências de letramento, como a família,a igreja, a rua como lugar de trabalho, mostram orientações deletramento muito diferentes. (KLEIMAN, 1995, p. 20.)
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Em relação a este assunto podemos observar que Kleiman (1995) coloca em evidência o distanciamento das práticas de letramento que ocorrem dentro e fora da escola. A escola é uma das instituiçõesresponsáveis por colocar o aprendiz em momentos onde ocorra a prática de letramento, portanto, cabe a ela criar condições de uso real da leitura e da escrita para, com essa ação, desenvolver alunos capazes de se comunicar nas diferentes esferas da sociedade de acordo com suas necessidades. Segundo Magda Soares (2003),“Letrar é mais que alfabetizar, é ensinar a ler e escrever dentro de um contexto onde a escrita e a leitura tenham sentido e façam parte da vida do aluno.” Para tanto, cuidados serão necessários ao conduzir a alfabetização. De acordo com a autora apenas ensinar a ler e a escrever é insuficiente, alcançar níveis de alfabetização funcional onde as pessoas leem e escrevem e, no entanto, não são capazes de fazer uso desse conhecimento numa esfera social já deixou de ser processo de ensino aprendizagem afirmando no Diário da Escola em 23 de agosto de 2003 que: [...] para a adaptação adequada ao ato de ler e escrever, “é preciso compreender, inserir se, avaliar, apreciar a escrita e a leitura”. O letramento compreende tanto a apropriação das técnicas para a alfabetização quanto esse aspecto de convívio e hábito de utilização da leitura e da escrita.
Sendo assim podemos constatar diferenças entre ensinar o código de escrita, sua codificação e decodificação,e nortear a prática docente em instrumentalizar o aluno para se utilizar desse código em situações onde a leitura e a escrita sejam utilizadas de forma real e objetiva. Segundo os PCN de Língua Portuguesa, “Valorizar a leitura como fonte de informação, via de acesso aos mundos criados pela literatura e possibilidade de fruição estética, sendo capazes de recorrer aos materiais escritos em função de diferentes objetivos” (BRASIL, 1997, p. 33).
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Sendo este um dos objetivos gerais do ensino de Língua Portuguesa para o Ensino Fundamental, já se explicita desde 1997. Notamos assim quea intenção de não apenas alfabetizar e sim alfabetizar letrando. Para Kleiman (2007), A diferença entre ensinar uma prática e ensinar para queo aluno desenvolva uma competência ou habilidade não é mera questão terminológica. Na escola, onde se predomina uma concepção da leitura e da escrita como competências, concebe-se a atividade de ler e de escrever como um conjunto de habilidades progressivamente desenvolvidas até se chegar a uma competência leitora e escritora ideal: a do usuário proficiente da língua escrita. Os estudos do letramento, por outro lado, partem de uma concepção de leitura e de escrita como práticas discursivas, com múltiplas funções e inseparáveis dos contextos em que se desenvolvem.(KLEIMAM, 2007, p.02).
Nota-se com a autora que o posicionamento diante da prática do letramento volta-se para o contexto em que usamos a leitura e a escrita em contraponto a adquirir habilidades e competências para se ter alunos leitores ideais sem que estes consigam numa situação real de comunicação fazer com propriedade o uso da leitura e da escrita. Desta forma elencamos algumas bases de definição do que seja o letramento, processo complexo e multifacetadoque não deve ser confundido com método de alfabetização e sim concebido como prática de ensino que desperte nos aprendizes a condição de sistematizar as finalidades do que está sendo ensinado na escola. 2
O QUE É O SISTEMA DE ESCRITA ALFABÉTICA? A partir do acompanhamento da evolução da escrita espontânea de uma criança, podemos notar que ela cria hipóteses semelhantes àquelas descritas por FERREIRO e TEBEROSKY. Segundo as autoras, a criança deve escrever do jeito que sabe para que o professor venha a conhecer em qual nível de escrita ela se encontra. Só conhecendo em qual momento do processo a criança se encontra é que será possível ao professor planejar e levar à sala de aula as atividades pertinentes para que ela venha a progredir na sua alfabetização. 240
GROSSI(1990),em suas pesquisas pós-construtivistas, entende que a criança passa por níveis de hipóteses para entender e utilizar o nosso sistema alfabético de escrita. Os níveis descritos por ela em sua obra Didática sobre os níveis présilábicosv.2, 1990, são:
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Nível Pré-Silábico1(PS1): A escrita é entendida como um desenho, o aprendente concebe aspectos figurativos daquilo que se quer representar. O aluno acredita que só se escreve ou lê aquilo que apresenta traços figurativos, ou seja, fotos, imagens, desenho, etc. Conhecido também como período Logográfico: a palavra é vista como um todo, em um desenho figurativo ou sinais gráficos. Um dos trabalhos a ser realizado com crianças desse nívelserá com ênfase nos nomes dos alunos da classe; isso se dá pelo fato de quenessa faseo aluno memoriza as palavras globalmente e tal trabalho irá favorecer a veiculação da palavra escrita com o objeto ou figura o que ainda o leva a fazer uma leitura não-silábica das palavras.
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Nível Pré-Silábico 2 (PS2): Neste nível os aprendestes, ao escreverem, apresentam em seus registros sinais gráficos desvinculados dos traços figurativos daquilo que está escrito, ou seja não tem mais nada a ver com o desenho. No entanto, os sinais gráficos podem ser mesmo pequenos desenhos em sequência representando uma pseudo-escrita. Em relação à leitura, este aluno sempre fará leitura de memória, sem considerar pronúncia/escrita. Neste nível o glossário-alfabetizador é utilizado. Essese tratade um quadro de desenhos, geralmente produzido a partir de um texto lido em sala, associando imagem e seus nomes. Tal material é colocado como “um dicionário auxiliar” a partir do qual o professor usa uma sequência voltada ao contexto. Tudo é sempre levado a uma prática de leitura/escrita voltada àquelas palavras, de forma a levar a criança a formularos requisitos necessáriospara suas produções escritas.
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Nível Silábico:Para cada fonema, usa uma letra para representá-lo. Pode, ou não, atribuir valor sonoro à letra. Pode usar muitas letras para escrever e ao fazer a leitura, apontar uma letra para cada fonema. Ao escrever frases, pode usar uma letra para cada palavra. Pode dar ênfase à escrita do som só das vogais (como em bola= AO)ou só das consoantes (como em bola =BL). 241
Para desestabilizar oaluno, de forma queeste possa avançar de nível silábico para o alfabético, uma das atividades sugeridas por Grossi é trabalhar com a criança o “valor sonoro convencional das letras”. A autora coloca ainda que, se for um aprendiz que não conheça um significante número de letras e seu valor sonoro, este aluno vai ficar estacionado no seu processor de aquisição da escrita alfabética.Neste ponto, a seguridade de usar uma letra paracadasílaba precisa ser quebrada. Completar letras que faltam nas palavras é visto como outra atividade que deve serinserida nesse momento. Na produção escrita pode-se enfatizar a produção de dicionários com os alunos, usando temas do convívio e preferências das crianças.Visando ainda o valor sonoro convencional das letras, o professor poderá se valer de abordagem na consciência fonológica. •
Nível Alfabético:Compreende que a escrita representa os sons da fala.
A criança
percebe a necessidade de mais de uma letra para a maioria das sílabas e reconhece o som das letras. Atribui o valor do fonema em algumas letras: cabelo= kblo. Nessa fase do processo de aquisição da escrita, há alguns conflitos que se instauram no pensamento da criança que, por exemplo, como fazer para que outras pessoas leiam o que ela escreve como fazer uso da fronteira vocabular e ainda adequar a sua escrita a uma quantidade de letras mínimas para que se possa ser lida. Chegamos a um ponto onde trabalhar a contagem de letras em cada sílaba precisa ser cotidiana, separar palavras em sílabas, associar a fala à escrita e ter sua escrita lida por outras pessoas são fatos que levarão o aluno adiante. •
Nível Alfabetizado: Uma criança que já perpassoutodas as primeiras hipóteses sobre a escrita com a intervenção de seu professor passará agora a compreender a função social da escrita: “comunicação”. Passa a conhecer o valor sonoro de todas ou quase todas as letras, apresenta estabilidade na escrita das palavras, compreende que cada letra corresponde aos menores valores sonoros da sílaba, procura adequar a escrita à fala, faz leitura com ou sem imagem. Inicia então a preocupação com as questões ortográficas, separa as palavras quando escreve frases e produz textos de forma convencional. Pensando na continuidade do processo, deverá ser realizado um trabalho de forma a adequar a escrita à fala, e o deleitura de imagem. Nesse momento a criança começa a se preocupar com as questões ortográficas, no entanto,o aprendiz 242
ainda está em dúvida em usar mais de duas letras para formar a sílaba. Sendo o aluno jáalfabetizado, o professor pode colocar todas as atividades dos níveis anteriorescom o acréscimo da produção de texto de forma convencional. Procura de palavras em textos, ordenar frases, leituras diversas, também os bingos de letras, de silabas, de palavras são atividades fundamentais nessa fase. 3
DESENVOLVENDO A APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA NUMA PRÁTICA DE LETRAMENTO “A leitura de mundo precede a leitura da palavra” FREIRE, 1989.
Uma vez conhecidas as hipóteses de escritas formuladas pelo aprendiz durante sua jornada de alfabetização e conhecendo algumas das atividades a serem trabalhadas com os alunos paraque o processo de alfabetização tenha uma continuidade, torna-se possível formular um planejamento que tenha como objetivo acompanhar o aprendiz nesse processo e a partir desse conhecimento propor trabalhos mediados na leitura. A partir dessa concepção sobre os momentos pelos quais as crianças passam no percurso de aquisição da escrita alfabética é que se deve iniciar uma prática onde a base de toda ação pedagógica esteja pautada na leitura, na escrita, devendo o educador preocupar-se com o que se encontra além da aquisição de habilidades e competências de leitura e escrita que é o uso social da leitura e da escrita sendo este um dos principio básicos do letramento. Segundo Kleiman (2005),os conjuntos de atividades envolvendo o uso da língua, desde que possua um objetivo e estando inserida numa situação que se vincula ao uso de saberes, tecnologias e competências necessárias para sua realização, podem ser consideradas como práticas de letramento. Desse modo, visualizamos que a busca de habilidades e competências vazias de significado pode ser denotada como prática fora do letramento.A forma de colocar os alunos como leitores aptos para
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realizar a tarefa de conduzir uma brincadeira formaliza o caráter de prática de letramento. Outro assunto relevante a ser revisto diz respeito à leitura em casa junto à família. Foi observado que as professoras, desdea Educação Infantil, de algumas escolasadotam um projeto em que os alunos levam para casa uma sacola contendo materiais diversos de leitura, como livros, revistas, gibis, jornais, encartes e demais. Junto a estes contém um caderno com o diário de visita da sacola, conhecida por “Sacola da Leitura” sumariamente. Nesse diário, a família anota como foram os momentos de leitura com o filho, e este registra, no caso dos menores alunos, o desenho de sua leitura preferida daquela ocasião. Denota-se com este procedimento outra prática de letramento, uma vez que a criança está inserida neste grupo, o qual é de grande significado para ela, sendo que toda prática de leitura vivenciada neste grupo será de elevado valor para a alfabetização da criança. A criança precisa ser constantemente colocada diante de situações onde sinta a necessidade de ler. Ler por prazer, ouvir o professor ler, ler para realizar uma atividade, ler para obter informações, ler com o intuito de dar significado ao seu mundo real ou até mesmo ler para acalmar seus medos, seus traumas. É diante deste universo abrangente do ato de ler que nos propomos a realizar com as crianças de duas turmas do 1º ano do Ensino Fundamental I um trabalho de alfabetização que vislumbrasse o aprendizado explicitando o valor da leitura na esfera emocional, cognitiva,funcional e social. Segundo Paulo Freire (1989), quando a criança chega à escola há uma rupturacom a sua leitura de mundo , o que a torna desinteressadapelo atode ler no ambiente escolar. A criança não se vê como agente ativo na maioria das situações vividas que envolvem a leitura dentro da escola. Constantemente ela se coloca fora da esfera literária como se essa atividade fosse atribuição apenas de professores e 244
quaisquer outros adultos dentro do ambiente escolar. Sendoassim quanto mais cedo ecom maior intensidade o aluno for exposto a situações significativas de leitura,melhor será sua relação com a culturaletrada durante sua escolaridade. 4 COMO REALIZAR A LEITURA COTIDIANA EM SALA DE AULA QUE TENHA SIGNIFICADO PARA A CRIANÇA? Em busca de resultados significativos e ascendentes com os alunos do 1º ano do Ensino Fundamental I na alfabetização, vimos necessidade de inovar as aulas com base em estudos realizados enquanto professoraalfabetizadora e envolvida no trabalho do PNAIC (Pacto Nacional Pela Alfabetização na Idade Certa) que tem como objetivo principal a alfabetização das crianças até oito anos de idade. Considerando esta faixa etária a mais propensa para que o aprendizado seja mais significativo,a professora planeja as aulas de leitura para suas turmas de alfabetização, tendo como objeto de estudo o texto, utilizando a leitura do mesmo como uma das intervenções para a alfabetização de seus alunos. Os PCN enfatizamque a prática de leitura em voz alta feita pelo professor é algo raro e, com o passar dos anos de escolaridade, a criança ouve cada vez menos a leitura do professor. Destacam que o modelo de um bom leitor se torna ainda mais necessário com o avanço da aprendizagem. Denota-se no mesmo documento que “Uma prática de leitura na escola é, sobretudo,necessária, porque ler ensina a ler e a escrever.”(BRASIL,1997,p.43). Notamos com o estudo deste fragmento que o ato de ler pode ser uma base para o aprendiz sobre o ato de escrever, pois traz na leitura uma perspectiva de base teórica ascendente no processo de alfabetizar letrando. Quando o professor lê para sua classe ela está alimentandoa criatividade e o poder de criação da criança que o ouve. Devido a isso, a leitura em voz alta feita pelo professor não pode ser algo esporádico. Todas as leituras têm um objetivo, na escola a leitura possui múltiplos objetivos sendoque um dos mais 245
significantes está em ler por prazer, pois nesse prazer muitos processos cognitivos são disparados no interior do aprendiz que ao longode sua vida
o levará a ser
um
verdadeiro leitor. Como leitor, o professor também deve demonstrar sua compreensão e interpretação do texto lido, deixando claro que um mesmo texto, principalmente os literários, pode ter várias “leituras” e que trocar ideias e comparar pontos de vista contribui para a melhor compreensão do que se lê. Paulo Freire (1989), ao afirmar que ler o mundo ocorre antes de ler palavras, supõe que estreitar anossa relação como mundo imaginário do aluno, onde a busca de novos conceitos acontece naturalmente, é uma das formas de ler para o aluno que, ao ouvir, busca em seu conhecimento de mundo, suas necessidades, ansiedades, crenças e desejos. Pode-se afirmar não erroneamente que ler mediante essa perspectiva fará realmente sentido ao aluno. Desde seus primeiros anos de vida a criançatem o hábito de construir um mundo imaginário quea acompanha por longo período de sua infância, este mundo vem alicerçado por uma imaginação fértil e rica em práticas de leitura. Quando ingressa na escola, toda a gama de conhecimento não é explorada ou não se alimenta aquilo que ela já possui, isso se perde e toda a capacidade imagética diante de uma escola empenhada em produzir alunos com competências e habilidades de ler e escrever dentro do contexto escolar. Outro fator relevante sobre o processo de leiturização refere-se aos objetivos aos quais o ato de ler deve se vincular. Segundo os PCN de Língua Portuguesa do Ensino Fundamental, A leitura, como prática social, é sempre um meio, nunca um fim. Ler é resposta a um objetivo, a uma necessidade pessoal. Fora da escola, não se lê só para aprender a ler, não se lê de uma única forma, não se decodifica palavra por palavra, não se responde a perguntas de verificação do entendimento preenchendo fichas exaustivas, não se faz desenho sobre o que mais gostou e raramente se lê em voz alta. Isso não significa que na escola não se possa eventualmente responder perguntas sobre a leitura, de vez em quando desenhar o que o texto lido sugere, ou ler em voz alta quando
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necessário. No entanto, uma prática constante de leitura não significa a repetição infindável dessas atividades escolares. (BRASIL: 1997, p. 41)
O documento exemplifica fatos do cotidiano escolar e levanta situações às quais se devem dar a atenção necessária. Decodificar palavras se aprende também na escola com algumas atividades
planejadas para este objetivo, todavia,
aponta-se para que isso não seja o fundamental do processo, ou seu fim. Também traz no trecho do documento que não é repetindo séries de leitura que o aluno se tornará o leitor ideal. Caracteriza-se, portanto o papel do professor leitor como modelo ao aluno que tendo um bom modelo de leitor pode vir a ser também leitor exemplar. 5
CONSIDERAÇÕES FINAIS Diante das práticas de letramento usadas no ambiente alfabetizador,
podemos concluir que alfabetizar e letrar, simultaneamente, trata-sede uma nova proposta para que tenhamos alunos, ao final do 1º ano do Ensino Fundamental I, com autonomia para usar a leitura e a escrita de forma social coerente. Para o aluno, ingressar no mundo letradotorna-se tarefa árdua e até muitas vezes desestimulante quando o professor alfabetizador não faz referência ao conhecimento prévio sobre a leitura e a escrita que este traz tão vivo no seu cotidiano. Com o investimento do professor nas práticas de letramento, a criança passa a entender o uso da leitura em várias esferas da sociedade e por que precisa aprender a ler. Desta forma, o processo para a aquisição desta habilidade se torna significativo, deixando de ser vago e dispensável para se tornar prazeroso e necessário. Diferente fato ocorre quando a alfabetização se caracteriza de forma descontextualizada e sem práticas de letramento. Concebendo o letramento, não como um método e sim como prática de ensino, teremos um novo foco na alfabetização voltada à leitura de mundo necessária
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e utilizada pela criança dentro e fora da escola, podendo afirmar que a instituição cumpriu o seu papel no que diz respeito ao aprendizado da leitura pelos alunos.
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