UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA
PSICOPEDAGOGIA: TEORIA E PRÁTICA
Por: Eliane Corrêa de Carvalho de Oliveira
Orientador Prof. Magaly Vasques
Rio de Janeiro 2012
2
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA
PSICOPEDAGOGIA: TEORIA E PRÁTICA
Apresentação de monografia à AVM Faculdade Integrada como requisito parcial para obtenção do grau de especialista em Psicopedagogia Por: Eliane Corrêa de Carvalho de Oliveira
3
AGRADECIMENTOS Primeiramente agradeço a Deus pela força que me deu para chegar até aqui. Sem Ele nada seria. Nada alcançaria. Ao meu marido Israel pela presença incansável, mesmo que silenciosa, nos momentos mais difíceis. À minha filha Camille, que mesmo sem entender os meus momentos de ausência, esteve ao meu lado e com seu sorriso angelical me deu forças para prosseguir. À minha amiga Karine que esteve ao meu lado e muitas vezes me “carregou” naqueles momentos que pensei em desistir. À minha amiga e companheira de trabalho Célia Loureiro pela inspiração e “norte” neste trabalho de conclusão. Não poderia esquecer a minha querida mãe Lindalva. Simplesmente me formou na vida e até hoje é referência pra mim. A todos vocês meu muito obrigada. Sem vocês eu talvez não conseguisse chegar até aqui.
4
DEDICATÓRIA
Dedico esse trabalho à minha filha Camille. Que todo meu esforço sirva de exemplo na sua vida futura e que ela nunca não venha a desistir diante dos obstáculos que possam se apresentar em sua a vida.
5
RESUMO A psicopedagogia exerce um papel fundamental na busca de soluções para os problemas de aprendizagem. Teve sua origem na Europa no século XX com caráter médico – pedagógico, o qual visava à readaptação de crianças com comportamentos socialmente inadequados. O Brasil foi influenciado fortemente pela Argentina e iniciou com assuntos psicopedagógicos na década de setenta e tem como “luz” a teoria criada por Jorge Visca: a Epistemologia Convergente que propõe um trabalho clínico utilizando-se da integração de três linhas: a psicogenética, a psicanalítica e a psicologia social. Naquela época os distúrbios de aprendizagem que eram tratados nos consultórios chegaram às escolas, que sem critério algum passaram a “taxar” crianças como sendo “disléxicas”, “hiperativas”, entre outros adjetivos. A partir deste fato, constatou-se a necessidade de um aprofundamento nos estudos de casos e a ação de um profissional competente para solucionálos. Jorge Visca e Sara Paín ofereceram à psicopedagogia uma visão da pluricausalidade de fatores que envolvem o processo de aprendizagem, facilitando assim, a compreensão dos motivos de alguns problemas na aprendizagem. O psicopedagogo é, visto então, como um profissional responsável por sanar todos os problemas de aprendizagem que se apresentam em nossas crianças e adolescentes. No
entanto,
para
sanar
tais
problemas
na
aprendizagem
o
psicopedagogo utiliza vários instrumentos de apoio que o auxiliam no processo, tais como: diagnóstico psicopedagógico, caixa de trabalho, EOCA (Entrevista Operativa Centrada na Aprendizagem), provas piagetianas e outros recursos. Com tantos instrumentos e técnicas a sua disposição, o psicopedagogo deve ter cuidado no uso de tais instrumentos e lembrar-se que o método é um meio e não um fim em si mesmo.
6
METODOLOGIA O presente trabalho foi desenvolvido através de pesquisas bibliográficas, tendo como base inicial os autores Jorge Visca e Nádia Bossa. A consulta de tais bibliografias foi feita na Biblioteca Euclides da Cunha (UNIGRANRIO – Campus Duque de Caxias) que cedeu gentilmente seu acervo para consulta. Também foram consultados trabalhos e teses expostos na Internet.
7
SUMÁRIO INTRODUÇÃO
08
CAPÍTULO I - Psicopedagogia: Um breve histórico
10
CAPÍTULO II - A psicopedagogia e sua teoria
16
CAPÍTULO III – A psicopedagogia e sua prática
25
CONCLUSÃO
38
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
00
BIBLIOGRAFIA CITADA (opcional)
00
ANEXOS
00
ÍNDICE
00
8
INTRODUÇÃO A psicopedagogia é a área que estuda e lida com o processo de aprendizagem
e
com
os
problemas
decorrentes
deste
processo.
A
Psicopedagogia é vista por Souza (1996), como área que investiga a relação da criança com o conhecimento. A psicopedagogia não é sinônimo de psicologia educacional ou psicologia escolar. Psicopedagogia estuda a atividade psíquica da criança e dos princípios que daí recorre. Hoje, é uma área pouco divulgada e bem restrita em termos de atuação. Existem profissionais com esta formação, mas que atuam em outras áreas da educação. Apesar de ser de fundamental importância para o processo ensino x aprendizagem, vê-se ainda certo descrédito por parte dos profissionais da área de educação. A presente pesquisa bibliográfica, em seu primeiro capítulo, mostra um breve histórico sobre a psicopedagogia, seu surgimento na Europa, no Brasil e sua influência na busca dos motivos de alguns problemas na aprendizagem. Há também uma breve definição do termo psicopedagogia com o objetivo buscar uma melhor compreensão do que vem a ser a psicopedagogia. Pela seriedade deste trabalho não poderia deixar de citar a criação da Associação Brasileira de Psicopedagogia, que contribui diariamente na função da psicopedagogia frente aos problemas de aprendizagem no campo educacional do nosso país. Mais complexo que o termo psicopedagogia é a função da mesma no processo complexo do ensino x aprendizagem. Para tentar esclarecer sobre a real função da psicopedagogia, no segundo capítulo, é feito um levantamento sobre as teorias que embasam o trabalho psicopedagógico, através das contribuições de alguns autores com Nádia Bossa, Maria Lúcia Weiss, Jorge Visca, entre outros. Há também um breve relato sobre a Epistemologia Convergente, de Jorge Visca. Teoria que é a base da psicopedagogia. O psicopedagogo pode atuar de duas maneiras: preventiva e curativa. A preventiva se dá antes do problema de aprendizagem se instalar na criança;
9 a curativa que é clínica-terapêutica, tem a função de tratar e sanar distúrbios de aprendizagem já instalados no aluno. Cabe ao psicopedagogo possibilitar o progresso da criança no processo ensino x aprendizagem. E para que isso aconteça, é necessária a verdadeira atuação do psicopedagogo, tanto nas instituições escolares, quanto em nível de sistemas e ainda nos consultórios de psicopedagogia. O terceiro e último capítulo deste trabalho trata sobre a prática psicopedagógica. As intervenções que podem ser feitas pelos psicopedagogos, como: diagnóstico psicopedagógico, a entrevista operativa centrada na aprendizagem, a caixa de trabalho, provas operatórias piagetianas e outras. O trabalho psicopedagógico implica na compreensão da situação de aprendizagem do sujeito, o que requer uma modalidade particular de ação para cada caso no que diz respeito à abordagem, tratamento e forma de atuação.
10
CAPÍTULO I PSICOPEDAGOGIA: UM BREVE HISTÓRICO Para entender um pouco sobre a psicopedagogia é necessário fazer um levantamento sobre seu histórico. É difícil datar com precisão o aparecimento da expressão. Há registros do começo do século XX. Segundo Bossa (2007) a psicopedagogia não nasceu aqui e tampouco na Argentina. A preocupação com os problemas de aprendizagem teve origem na Europa, ainda no século XIX. Os primórdios Centros Psicopedagógicos foram inaugurados na Europa, mais precisamente na França, em 1946, por J Boutonier e George Mauco, com direção médica e pedagógica, com objetivo de tratar comportamentos socialmente inadequados de crianças, tanto na escola como no lar, visando sua readaptação. Observamos que a psicopedagogia teve uma trajetória significativa tendo inicialmente um caráter médico-pedagógico dos quais faziam parte da equipe do Centro Psicopedagógico: médicos, psicólogos, psicanalistas e pedagogos. Segundo Bossa (2000) esses centros contribuíram com ação terapêutica em crianças que tinham lentidão ou dificuldades para aprender. Segundo Bossa (2007) a criança que não conseguia aprender era taxada como “anormal”, devido à interpretação de que a causa de seu fracasso era atribuída a alguma anomalia anatomofisiológica. Esperava-se através desta articulação entre Psicologia-PsicanálisePedagogia, conhecer a criança e o seu meio, e buscar a solução dos problemas de comportamento e aprendizagem. Esta corrente europeia influenciou significativamente a Argentina (que influenciou a práxis brasileira). Conforme a psicopedagoga Alicia Fernández (apud BOSSA, 2000), a Psicopedagogia surgiu na Argentina há mais de 30 anos e foi em Buenos Aires, sua capital, a primeira cidade a oferecer o curso de Psicopedagogia. A partir de 1948 o termo pedagogia curativa passou a ser definido como terapêutica, o qual visava atender crianças e adolescentes desadaptados que,
11 embora inteligentes, tinham maus resultados escolares. Essa pedagogia curativa poderia ser conduzida individualmente ou em grupos. Desde a primeira intenção de se definir como seria o atendimento psicopedagógico até os dias de hoje, vemos que, segundo Sara Paín o objetivo do tratamento psicopedagógico é o desaparecimento do sintoma e a possibilidade de o sujeito aprender normalmente em condições melhores. O curso de psicopedagogia, inicialmente, visava fornecer maiores conhecimentos quanto ao processo de desenvolvimento, maturação e aprendizagem. Scoz (1994) relata que a partir da década de sessenta a categoria profissional dos psicopedagogos começa a expandir-se e a organizar-se, buscando, inicialmente, as causas do fracasso escolar através da sondagem de aspectos do desenvolvimento físico e psicológico do aprendiz. Nessa época, os psicopedagogos prendiam-se a uma concepção organicista e linear, com conotação nitidamente patologizante, que encarava os indivíduos com dificuldades na escola como portadores de disfunções psiconeurológica, mentais e/ou psicológicas. A partir da década de oitenta, a psicopedagogia, em função da eficiência demonstrada na prática clínica, tem se estruturado como corpo de conhecimentos e se transformando em campo de estudos multidisciplinares. No Brasil a psicopedagogia surge na década de setenta através dos cursos de extensão da PUC/SP. Em 1979 surge como especialização, mas com o título de Tratamento dos problemas de aprendizagem. Em
1985
inicia-se
o
curso
de
psicopedagogia,
em
nível
de
especialização na PUC/SP. Este com enfoque preventivo e preparando para o processo institucional. Segundo Johnson & Myklebust (1987), pesquisadores do Intitute for Linguage Disorders, os conceitos de Disfunção cerebral Mínima (DCM) e o de Distúrbios de Aprendizagem (afasias, disgrafias, discalculias, dislexias) eram considerados os principais responsáveis pela incapacidade de algumas crianças para aprender. Essas
ideias,
inicialmente
difundidas
através
dos
consultórios
particulares, acabaram chegando às escolas que, sem nenhum critério, classificavam as crianças com dificuldades para ler e escrever como
12 “disléxicas” e as mais agitadas como “hiperativas”. Esses problemas eram atribuídos, por vezes, às disfunções cerebrais. Essas crianças eram encaminhadas a profissional da área médica, que reforçavam o diagnóstico dos professores e recorriam, frequentemente, a uma linha medicamentosa de tratamento. O conceito DCM permitiu uma aceitação maior da criança pelo professor e pelos pais, uma vez que portadora de uma “doença” neurológica, ela não poderia ser responsabilizada pelo próprio fracasso. Porém, serviu também para desmotivar os educadores a investirem na aprendizagem deste aluno. Já nos consultórios
de
atendimento
psicopedagógico,
reforçou
a
explicação
organicista de problema de aprendizagem, enfatizando, mais uma vez, a postura medicamentosa vigente na época. Nesses trinta anos a psicopedagogia deu conta das áreas de saúde e educação, mas, após a criação do centro de saúde mental em Buenos Aires, percebe-se que após um ano de tratamento, os pacientes retornavam com os problemas de aprendizagem resolvidos, mas com fobias, traços psicóticos, etc. Os problemas eram deslocados. A partir deste fato, constatou-se a necessidade do olhar e da escuta clínica da psicanálise. Procurou-se captar as mensagens que estavam por trás dos discursos. Segundo Jorge Visca1987 (apud Bossa, 2007),
“a psicopedagogia, que inicialmente foi uma ação subsidiária da medicina e da psicologia, perfilou-se como um
conhecimento
independente
e
complementar,
possuidora de um objeto de estudo – o processo de aprendizagem – e de recursos diagnósticos, corretores e preventivos próprios”.
A divulgação das ideias escola novistas também repercutiu no pensamento
psicopedagógico.
A
ênfase
nos
aspectos
afetivos
da
aprendizagem acabou levando os psicopedagogos a utilizarem um número exagerado de testes e instrumentos de mensuração, na tentativa de encontrar índices que o conduzissem a um diagnóstico.
13 Mais recentemente, os psicopedagogos, à luz de contribuições de diversas áreas do conhecimento como, por exemplo, da psicologia, sociologia, antropologia, linguística, psicolinguística, vem reformulando suas linhas de análise. Para Vygotsky, o desenvolvimento cognitivo das crianças é, inicialmente, determinado por processos biológicos e quando, subsequentemente, por interações sociais com adultos, que iniciam e mediam, pelas interações sociais, o desenvolvimento das habilidades cognitivas. Alguns autores que tomam a psicopedagogia como campo principal de seus estudos, entre os quais Jorge Visca e Sara Paín, também têm oferecido valiosas contribuições para o avanço desse campo na tentativa de elaborar uma teoria da prática psicopedagógica. Visca
(1991)
concebe
a
aprendizagem
como
uma
construção
intrapsíquica, com continuidade genética e diferenças evolutivas, resultantes das pré-condições energético-estruturais do sujeito e das circunstâncias do meio. Para Paín (1985), a aprendizagem depende da articulação de fatores internos e externos ao sujeito. Os fatores internos referem-se ao funcionamento do corpo, do organismo, do desejo, das estruturas cognitivas e da dinâmica do comportamento. Os fatores externos são aqueles que dependem das condições do meio que circunda o indivíduo. Por apresentarem uma concepção mais complexa do ser humano, estes autores tiveram o mérito de oferecer à psicopedagogia uma visão da pluricausalidade de fatores que envolvem o processo de aprendizagem e os problemas dele decorrentes, o que evidencia a necessidade de um conhecimento multidisciplinar na ação psicopedagógica.
1.1 – A Associação Brasileira de Psicopedagogia
A associação Brasileira de Psicopedagogia tem contribuído para que a psicopedagogia assuma uma nova função no cenário educacional brasileiro, a partir de um redimensionamento da concepção de problema de aprendizagem. Ao iniciar suas atividades, em 1980, denominando-se inicialmente Associação
14 de Psicopedagogos de São Paulo, já se preocupava em definir o perfil desses profissionais. Para isso promovia pequenos encontros para reflexão e troca de experiências de trabalho, enfocando os problemas de aprendizagem. Com o crescente avanço do campo de atuação da psicopedagogia, os psicopedagogos sentiram a necessidade de aprimorar a própria formação, adquirindo conhecimentos multidisciplinares. Partindo dessa perspectiva, a Associação passou a promover diversas modalidades de atividades (cursos, palestras, conferências, seminários, etc.). A necessidade de conhecimentos multidisciplinares
impunha-se
cada
vez
mais
para
uma
atuação
psicopedagógica mais abrangente. Em razão de sua crescente expansão, assinalando-se, sobretudo a criação de inúmeros núcleos associativos em diversos estados do Brasil – em 1998, passa a denominar-se Associação Brasileira de Psicopedagogia e realiza o I Congresso e o 3º encontro de psicopedagogos. A contínua expansão da psicopedagogia, em decorrência disso, a abertura indiscriminada de cursos de formação nessa área em todo o país, levou a Associação a elaborar um documento sobre a Identidade Profissional do Psicopedagogo, a partir da delimitação de seu campo de estudos e de atuação. No II Congresso e V Encontro realizados em julho de 1992, a Associação abordou o tema “A Práxis Psicopedagógica na Realidade Educacional Brasileira”. Nessa oportunidade ficou clara a posição da Associação em enfatizar a psicopedagogia enquanto uma práxis e, como tal, capaz de oferecer alternativas de ação no sentido de uma melhoria nas condições de aprendizagem, objetivando reverter a situação dramática em que se encontram as escolas brasileiras. Em julho de 1996, a Associação realizou o III Congresso e o VII Encontro,
com
o
tema
“A
Psicopedagogia
em
Direção ao
Espaço
Transdisciplinar”. O objetivo desse encontro foi solidificar a ideia de que a Psicopedagogia ultrapassasse as interpretações cartesianas em direção a uma concepção de mundo indivisível. Entre os dias 05 e 08 de julho de 2012 foi realizado o IX Congresso Brasileiro de Psicopedagogia promovido pela Associação Brasileira de
15 Psicopedagogia, em parceria com o I Simpósio Internacional de Neurociências, Saúde Mental e Educação promovido pelo Projeto Cuca Legal do Centro de Estudos de Psiquiatria da UNIFESP, em São Paulo nas instalações da UNIP – Universidade Paulista, Campus Paraíso. Com uma relevância ímpar nas áreas de Psicopedagogia, Neurociências e Educação em nosso país e superando todas as expectativas e objetivos esperados, esse Congresso teve como tema “Diálogos entre as Neurociências, Saúde Mental e Educação”. Com isso a psicopedagogia além de dominar a patologia e a etiologia dos problemas de aprendizagem, aprofundou conhecimentos que possibilitam uma contribuição efetiva não só relacionada aos problemas de aprendizagem, mas também, na melhoria da qualidade do ensino oferecido nas escolas. Além disso, ao utilizar-se de várias áreas do conhecimento para aprofundar seu campo de estudo e atuação, a psicopedagogia deixou de privilegiar esta ou aquela corrente de pensamento, esta ou aquela ciência. Dessa forma, contribui para a percepção global do fato educativo e para a compreensão satisfatória dos objetivos da Educação e da finalidade da escola, possibilitando, assim, uma ação transformadora. Segundo Scoz (1994), a partir desses encontros a psicopedagogia além de dominar a patologia dos problemas de aprendizagem, propõe que esses profissionais contribuam para a qualidade do ensino oferecido nas escolas, deixando também de privilegiar essa ou aquela corrente de pensamento ou ciência, possibilitando assim uma ação transformadora. Como se vê, um número cada vez maior de profissionais encontra na Psicopedagogia um campo de atuação capaz de criar novas respostas para os velhos problemas educacionais que têm se mostrado insolúveis.
16
CAPÍTULO II A PSICOPEDAGOGIA E SUA TEORIA Para entender o que é Psicopedagogia, é importante ir além da simples junção dos conhecimentos oriundos da Psicologia e da Pedagogia, que ocorre com bastante frequência no senso comum, isto porque, em sua própria denominação Psicopedagogia aparecem suas partes constitutivas – psicologia + pedagogia – e que oferece uma definição reducionista a seu respeito.
2.1 – O que é Psicopedagogia?
A psicopedagogia estuda o processo de aprendizagem e suas dificuldades e apresenta um caráter preventivo. Nasceu com o intuito de resolver e compreender os problemas de aprendizagem que se apresentavam inicialmente no âmbito escolar. Assim, a psicopedagogia visa identificar, analisar, planejar e intervir nos problemas que se apresentam no processo de aprendizagem. O Código de Ética da Psicopedagogia, no Capítulo I, Artigo 1 º, afirma que "A Psicopedagogia é campo de atuação em saúde e educação o qual lida com o conhecimento, sua ampliação, sua aquisição, distorções, diferenças e desenvolvimento por meio de múltiplos processos" . Com a reformulação do Código de Ética em 1996, a conceituação de Psicopedagogia sofre alteração, passando ser a seguinte: "... campo de atuação em Educação e Saúde que lida com o processo de aprendizagem humana; seus padrões normais e patológicos, considerando a influência do meio - família, escola e sociedade - no seu desenvolvimento, usando procedimentos próprios da Psicopedagogia". (Cap. I; Artigo 1º). Continua afirmando que a Psicopedagogia é uma área de atuação que engloba saúde e educação, também limita o campo de atuação à cognição, destacando
que
envolve
os
padrões
normais
e
patológicos
da
17 aprendizagem, ainda, enfatiza a influência do meio (família, escola e sociedade). A Psicopedagogia é uma área de estudos nova que pode e está atendendo os sujeitos que apresentam problemas de aprendizagem. Segundo Bossa (1994), a Psicopedagogia nasce com o objetivo de atender a demanda - dificuldades de aprendizagem. Existem várias definições de vários autores. A maioria escrita de formas diferentes, porém com a mesma essência. Esses autores enfatizam o caráter interdisciplinar. Segundo Bossa (2007)
“reconhecer
tal
caráter
significa
admitir
sua
especificidade enquanto área de estudos, uma vez que, buscando conhecimentos em outros campos, cria o seu próprio
objeto,
condição
essencial
da
interdisciplinaridade”. (BOSSA, 2007, p. 27)
Scoz (1992) define psicopedagogia como área que estuda o processo de aprendizagem e suas dificuldades e em uma ação profissional, deve englobar vários campos do conhecimento, integrando-os e sistematizando-os. Lino Macedo (1992) define:
“A psicopedagogia é uma (nova) área de atuação profissional que tem, ou melhor, busca uma identidade e que requer uma formação de nível interdisciplinar (o que já
é
sugerido
no
próprio
termo
psicopedagogia)”.
(MACEDO, 1992, p. 47).
Ainda segundo Macedo (1992) no novo dicionário Aurélio da língua portuguesa o termo psicopedagogia é definido como aplicação da psicologia experimental à pedagogia. Alguns profissionais brasileiros também têm dado suas contribuições no que se refere à definição sobre psicopedagogia.
18 Para Maria M. Neves (1991)
“Falar sobre psicopedagogia é, necessariamente, falar sobre
a
articulação
entre
educação
e
psicologia,
articulação essa que desafiam estudiosos e práticos dessas duas áreas. Embora quase sempre presente no relato de inúmeros trabalhos científicos que tratam principalmente dos problemas ligados à aprendizagem, o termo psicopedagogia não consegue adquirir clareza na sua dimensão conceitual”. (NEVES, 1991).
Baseando-se no que diz esses autores definir o termo psicopedagogia é um trabalho infindável. Algo que ainda não está claro. Se a dimensão conceitual ainda não está clara, como será a sua prática? De acordo com Golbert (1985) o
“objeto de estudo da psicopedagogia deve ser entendido a partir de dois enfoques: preventivo e terapêutico. O enfoque preventivo considera o objeto de estudo da psicopedagogia o ser humano em desenvolvimento, enquanto educável. Seu objeto de estudo é a pessoa a ser educada, seus processos de desenvolvimento e as alterações de tais processos. Focaliza as possibilidades do aprender, num sentido amplo. Não deve se restringir a uma só agência como a escola, mas ir também à família e à comunidade. Poderá esclarecer, de forma mais ou menos sistemática, a professores, pais, administradores sobre as características das diferentes etapas do desenvolvimento, sobre o progresso nos processos de aprendizagem, sobre as condições psicodinâmicas da aprendizagem, sobre as condições determinantes de dificuldades de aprendizagem. O enfoque terapêutico considera o objeto de estudo da psicopedagogia a
19 identificação, a análise, elaboração de uma metodologia de
diagnóstico
e
tratamento
das
dificuldades
de
aprendizagem”. (GOLBERT, 1985, p. 24).
A psicopedagogia preventiva visa à prevenção de possíveis problemas na aprendizagem. Seu trabalho gira em torno de questões metodológicas, bem como orientando professores e trabalhando com os pais, enquanto a terapêutica visa diretamente recuperar crianças com distúrbios já instalados e manifestados. Busca “curar os sintomas”. Essa prática acontece nos consultórios de psicopedagogia, a forma de atendimento pode ser individual ou em grupo. O trabalho desenvolvido com cada criança varia de acordo com a teoria e a prática de cada psicopedagogo. Segundo Kiguel (1991)
“o objeto central de estudo da psicopedagogia está se estruturando em torno do processo de aprendizagem humana: seus padrões evolutivos normais e patológicos – bem como a influência do meio (família, escola, sociedade) no seu desenvolvimento”. (KIGUEL, 1991).
Do ponto de vista de Weiss (1991) a psicopedagogia busca a melhoria das relações com a aprendizagem, assim como a melhor qualidade na construção da própria aprendizagem de alunos e educadores. Vê-se,
portanto,
que
esses
autores
corroboram
em
algumas
considerações em relação ao objeto de estudo da psicopedagogia: o fato de que ela ocupa-se em estudar a aprendizagem humana e as problemáticas estruturais que se apresentam em seu processo. Para Bossa (2007) a concepção de aprendizagem resulta de uma visão de homem, e é em razão desta que acontece a práxis psicopedagógica. Porém, não foi sempre assim. Houve um tempo em que a psicopedagogia visava à reeducação, após a avaliação dos déficits que se apresentavam e o resultado que se buscava era o de vencer tais defasagens.
20 Num outro momento o objeto de estudo da psicopedagogia era o de buscar a solução do motivo pelo qual o sujeito “não aprendia”, através de análises feitas em grupos de sujeitos com idades semelhantes. Mais adiante, o “não aprender” passou a ter significados e não mais o oposto do aprender. Nessa concepção o sujeito passou a ser visto com suas singularidades, particularidades e com uma história própria dentro do seu mundo sociocultural. Toda essa variação na concepção de sujeito não aconteceu do dia para a noite. Variou de acordo com o momento histórico correspondente a concepção de aprendizagem. Nos dias atuais, a psicopedagogia trabalha com uma concepção de sujeito dotado de um aparelho biológico. Aparelho esse que sofre influências afetivas e intelectuais do meio que vive. Ou seja, ele influencia e é influenciado o tempo todo pelas condições socioculturais do seu meio.
2.2 – As teorias do Trabalho Psicopedagógico
Não dá para embasar o trabalho psicopedagógico numa única teoria. A psicopedagogia necessita da interação de várias teorias que incidam sobre seu objeto de estudo. Como exemplo, a psicanálise que se encarrega do mundo inconsciente e suas representações profundas; a psicologia social que trata a constituição do sujeito em relação aos familiares, grupo que vive e instituições, como também
suas
condições
socioculturais
e
econômicas
específicas;
a
epistemologia e psicologia genética que se encarregam de analisar e descrever o processo construtivo do conhecimento do sujeito em interação com outros sujeitos e objetos; a linguística que traz a compreensão da linguagem como um dos meios que caracterizam o sujeito como humano e social, tendo a fala como fenômeno subjetivo, evolutivo e historiado; a pedagogia que contribui com as diversas abordagens do processo ensino-aprendizagem; e por fim, os fundamentos da neuropsicologia que possibilita compreender os mecanismos cerebrais necessários à aprendizagem, indicando, do ponto de vista orgânico, as evoluções ocorridas nesse processo. Todas essas áreas servem de apoio à psicopedagogia, fornecendo meios para refletir e operar no campo psicopedagógico.
21 Nádia Bossa, em seu livro A Psicopedagogia no Brasil, dá um exemplo claro sobre o auxílio dessas áreas no campo da psicopedagogia: uma criança é encaminhada ao psicopedagogo por não aprender a ler nem escrever. O psicopedagogo deve recorrer a esses campos teóricos, citados anteriormente, para buscar eliminar o centro do problema. O psicopedagogo deve fazer vários questionamentos: será que a metodologia utilizada é adequada? As teorias pedagógicas se encarregariam de responder a essa pergunta. Será que o sujeito sofreu uma anóxia de parto que lhe ocasionou uma lesão cerebral? A neurologia facilmente responderia essa questão. E as diferenças culturais e de linguagem? A linguística ampararia conceitualmente a causa desta problemática ao psicopedagogo. Não basta ao psicopedagogo ficar no “achismo” desse ou daquele motivo de um possível problema de aprendizagem. Cabe a ele investigar a fundo o porquê do problema para que alcance um resultado favorável e satisfatório, tanto para quem aprende como para quem ensina. O papel da psicopedagogia diante de uma queixa de dificuldade na aprendizagem seja de origem primária ou associada a algum distúrbio psiconeurológico, é investigar como o sujeito, particular e único, interage com os objetos do meio social em que vive. Para Visca (1987), a aprendizagem depende de uma estrutura onde envolva o cognitivo/ afetivo/ social, nas quais estas sejam indissociavelmente ligadas a alguns aspectos desses três elementos. Sendo assim, a inteligência vai se construindo a partir da ação mútua do sujeito e as circunstâncias do meio social. No seu ponto de vista bastante clínico, e aludindo-se muito a Piaget, Freud, Pichon e suas epistemologias, Visca é capaz de mostrar que a aprendizagem é vital na edificação das ideias. Que para aprender a pensar socialmente é indispensável a orientação do condutor e o contato do aprendiz com outros de si. Baseado nesse pensamento Visca criou a Epistemologia Convergente.
2.3 – Epistemologia Convergente
A epistemologia convergente é uma linha teórica criada por Jorge Visca. Essa linha teórica propõe um trabalho clínico utilizando-se da integração de
22 três linhas: a Psicologia genética (Jean Piaget), a Psicanálise (Sigmund Freud) e a Psicologia Social (Enrique Pichon Rivière). A teoria da psicologia genética, de Jean Piaget, aborda a construção da aprendizagem em estruturas cognitivas, na qual os conceitos são construídos pelo indivíduo para compreender e responder às experiências que decorrem do meio em que vive. Piaget dividiu o desenvolvimento humano em quatro estágios vividos de acordo com cada sujeito. São eles: sensório motor (até os dois anos de idade) no qual a criança busca adquirir controle motor e aprender sobre os objetos físicos que a rodeia; simbólico ou pré-operatório (de dois a oito anos) no qual a criança busca habilidade verbal; operatório concreto (de sete/ oito anos a onze/ doze anos) no qual a criança lida com conceitos abstratos, números e relacionamentos; operatório formal (de doze a catorze/ quinze anos) no qual a criança começa a ter raciocínio lógico e sistemático. Visca ao se reportar a Piaget compreendeu que o desenvolvimento humano se dividiu em quatro níveis: o primeiro, que corresponde ao estágio sensório motor, a criança constrói um conjunto de esquemas de ação que lhe permite compreender a realidade e a forma como ela funciona. As ações da criança não representam para si mesma o ato do pensamento, há apenas uma ação motriz. O segundo nível, que corresponde ao estágio pré-operatório, a criança é competente ao nível do pensamento representativo, mas precisa de operações mentais que ordene e organize o seus pensamentos. Há distinção entre o significante (conduta de imitação, desenho, imagem mental, jogo, palavra) e o significado (situação evocada, objeto representado). O terceiro nível, que corresponde ao estágio operatório concreto, as experiências físicas e concretas se acumulam e a criança começa a estruturar lógicas para explicar as experiências sem abstração. O pensamento torna-se reversível podendo realizar operação inversa no pensamento. O quarto nível, que corresponde ao estágio operatório formal, a criança atinge o raciocínio abstrato, levantando hipóteses e sendo capaz de pensar cientificamente. O pensamento torna-se independente do concreto, é um pensamento abstrato. Baseados nessa linha teórica de Piaget são aplicados diagnósticos, provas operatórias, exames clínicos que verifica o nível de aprendizagem em
23 que o sujeito se encontra. Segundo Visca (1991) ninguém pode tornar-se capaz de aprender algo acima do nível de estrutura perceptiva que demonstra. Essa é a contribuição da teoria psicogenética para a prática psicopedagógica. Porém, na epistemologia convergente o desenvolvimento cognitivo não se respalda apenas no aspecto psicogenético. Os elementos afetivos
e
sociais
também
possuem
uma
grande
importância
no
desenvolvimento e na aprendizagem do ser humano. A outra linha teórica que embasa a epistemologia convergente é a teoria psicanalítica (Freud). Nessa visão dois sujeitos podem ter o mesmo nível cognitivo e distinto em relação a um objeto, mas aprenderão de forma diferente, pois a personalidade é inigualável. Conhecer o ser humano, o modo como este se conhece, seu objeto de desejo, impulsos e valores, dá um significado maior ao vínculo e a relação com o indivíduo. A psicanálise de Sigmund Freud enquanto método de investigação caracteriza-se pelo método interpretativo, que busca o significado oculto daquilo que é manifesto, é um instrumento importante para análise e compreensão de fenômenos sociais relevantes: as novas formas de sofrimento psíquico, o excesso de individualismo no mundo contemporâneo, a exacerbação da violência, etc. Para Visca, a psicanálise revela a importância das relações afetivas e dos bons ou maus vínculos estabelecidos pelo sujeito estando diante do objeto de aprendizagem. Segundo Visca cada contexto oferece diferentes crenças, conhecimentos, atitudes e habilidades. A última linha teórica é o da psicologia social. Nesta linha Jorge Visca fundamenta-se em Pichon Rivière, que considera o estabelecimento do vínculo como o principal atributo no processo da aprendizagem, caracterizando a formação do grupo operativo como uma unidade de funcionamento na aplicação no campo psicoterapêutico e na educação. A epistemologia convergente dentro de uma perspectiva integradora de três teorias possibilita ao educador/ psicopedagogo refletir sobre as mais diversas causas dos problemas que aparecem no decorrer da aprendizagem e do ensino. Essa teoria foi considerada um método clínico, destinado ao processo de diagnóstico e intervenção, pois segundo Visca (1987)
24 ...quando se fala de psicopedagogia clínica, se está fazendo referência a um método com o qual se tenta conduzir à aprendizagem e não a corrente teórica ou escola. Em concordância com o método clínico podem-se utilizar diferentes enfoques teóricos. O que eu preconizo é o da epistemologia convergente. (VISCA, 1987, p.16).
Então, de acordo com Jorge Visca, nos estudos da epistemologia convergente o ser humano aprende sem interrupções, desde seu nascimento até sua morte. Essa teoria fundamenta-se na assimilação recíproca das contribuições das escolas piagetianas, psicoanalíticas e da psicologia social. O que se entende a aprendizagem como uma variável dependente dos aspectos afetivos, cognitivos e sociais que acontecem simultaneamente.
25
CAPÍTULO III A PSICOPEDAGOGIA E SUA PRÁTICA São
crescentes
os
problemas
referentes
às
dificuldades
de
aprendizagem no Brasil. A Pedagogia embasada em teóricos conceituados como Piaget, Vygotsky, Freinet, Ferreiro, Teberosky e outros, tem sido insuficiente para prevenir ou intervir nas dificuldades de aprendizagem. Para tanto, a Psicopedagogia surge para auxiliar na intervenção e prevenção dos problemas de aprendizagem. Como já visto nos capítulos anteriores, a Psicopedagogia é uma área de conhecimento interdisciplinar que se preocupa em estudar o processo de aprendizagem em seus diferentes espaços, a partir das relações que o sujeito estabelece à sua volta, nas interações com os grupos, instituições e cultura. Dessa forma, o conhecimento psicopedagógico avalia as possibilidades do sujeito, sua disponibilidade afetiva de saber, ser e de fazer, reconhecendo que esse saber é inerente ao saber humano e aprofundando o conhecimento que lhe contribui a aprendizagem e também, em nível mais amplo, na melhoria da qualidade do ensino. O tema aprendizagem é bastante complexo e é de grande importância lembrar que a concepção do termo é resultado de uma visão de homem e, em razão disso, acontece a práxis psicopedagógica. Tem por objeto de estudo as características da aprendizagem humana, principalmente o aprendizado, bem como o tratamento e prevenção das dificuldades na aprendizagem. No que diz respeito à prevenção ou tratamento dos problemas de aprendizagem o psicopedagogo pode atuar de maneira preventiva ou curativa. Como preventiva se apresenta com o compromisso de evitar as dificuldades na aprendizagem, ou seja, ensinar e aprender. Já na atuação curativa é conduzir um método que favoreça a readaptação pedagógica do sujeito, uma vez que auxiliará
o
mesmo
a
adquirir
conhecimento,
desenvolvendo
a
sua
personalidade e enfatizando a relação que ele possa ter com a aprendizagem. A psicopedagogia tem como área de atuação a clínica e as instituições como hospitais, empresas e escolas. Neste capítulo será enfocado o trabalho na instituição escolar.
26 O psicopedagogo tem que distinguir as teorias que lhe permitam conhecer de que modo se dá a aprendizagem, o que é ensinar e aprender. No trabalho de ensinar a aprender, o psicopedagogo utiliza diagnósticos para detectar a falha na aprendizagem. O trabalho psicopedagógico implica na compreensão da situação de aprendizagem do sujeito, o que requer uma modalidade particular de ação para cada caso no que diz respeito à abordagem, tratamento e forma de atuação. Existem várias formas de intervenção do psicopedagogo tanto na clínica como na institucional. Uma das formas é o diagnóstico psicopedagógico.
3.1 – O diagnóstico Psicopedagógico
O psicopedagogo usa o diagnóstico psicopedagógico para detectar os problemas de aprendizagem. Rubinstein (1996) compara diagnóstico psicopedagógico a um processo de investigação, onde o psicopedagogo assemelha-se um a detetive a procura de pistas, selecionando-as e centrando-se na investigação de todo processo de aprendizagem, levandose em conta a totalidade dos fatores envolvidos neste processo. A autora afirma que o diagnóstico psicopedagógico é em si mesmo uma intervenção, pois o psicopedagogo tem que interagir com o cliente, a família, e a escola, partes envolvidas na dinâmica do problema de aprendizagem. Ainda segundo Rubinstein (1996) "durante e após o processo diagnóstico serão construídos um conhecimento e uma compreensão a respeito do processo de aprendizagem" (p. 128). Isto permite que o psicopedagogo tenha maior clareza a respeito dos objetivos a serem alcançados no atendimento psicopedagógico. O diagnóstico psicopedagógico clínico, segundo Rubinstein (1996) deve concentrar sua ação no sentido de "... levantar hipóteses, verificar o potencial de aprendizagem, mobilizar o aprendiz e o seu entorno (família e escola) no sentido da construção de um olhar sobre o não aprender” (p. 134). Vale lembrar o que diz Bossa (1994, p.74) sobre o diagnóstico:
27 “O diagnóstico psicopedagógico é um processo, um contínuo sempre revisável, onde a intervenção do psicopedagogo inicia, segundo vimos afirmando, numa atitude investigadora, até a intervenção. É preciso observar que esta atitude investigadora, de fato, prossegue
durante
intervenção,
com
todo o
o
objetivo
trabalho, de
na
própria
observação
ou
acompanhamento da evolução do sujeito.” (BOSSA, 1994, p. 74).
Quais recursos o psicopedagogo usa para realizar o diagnóstico e a intervenção psicopedagógica? O Código de Ética da Psicopedagogia, em seu Capítulo I - Dos Princípios
- Artigo
1º
afirma
que
o psicopedagogo
pode
utilizar
procedimentos próprios da Psicopedagogia. Neste sentido, realizando o diagnóstico
psicopedagógico,
o
psicopedagogo
está
utilizando
procedimentos próprios de sua área de atuação. No artigo 2º, enfatiza-se o caráter interdisciplinar da Psicopedagogia, destaca o uso de recursos das várias áreas do conhecimento humano para a compreensão do ato de aprender, também, menciona o uso de métodos e técnicas próprias. Rubinstein (1996) destaca que o psicopedagogo pode usar como recursos a entrevista com a família; investigar o motivo da consulta; procurar a história de vida da criança realizando Anamnese; entrevistar o cliente; fazer contato com a escola e outros profissionais que atendam a criança; manter os pais informados do estado da criança e da intervenção que está sendo realizada; realizar encaminhamento para outros profissionais, quando necessário. Os recursos apontados por Rubinstein (1996) constituem-se em instrumentos
para
a
realização
do
diagnóstico
e
intervenção
psicopedagógica. A autora, assim como Fernández (1991) e Paín (1985) sugere, ainda, o uso de jogos considerando que o sujeito através deles pode manifestar, sem mecanismos de defesa, os desejos contidos em seu inconsciente. Além do
28 mais, no enfoque psicopedagógico os jogos representam situaçõesproblemas a serem resolvidas, pois envolvem regras, apresentam desafios e possibilitam observar como o sujeito age frente a eles, qual sua estrutura de pensamento, como reage diante de dificuldades. Levando-se em conta que o sujeito possui poucos recursos (vocabulário, por exemplo) para se comunicar expressar o que sente, o que deseja, pode fazer uso de jogos, desenhos e brincadeiras para manifestar o que sente. Sendo assim, cabe ao psicopedagogo estar atento para fazer a leitura e análise das mensagens que o sujeito está lhe enviando. Quanto ao uso de testes, Bossa (1994), não apresenta restrições quanto ao uso dos instrumentos a que ela se refere para o diagnóstico psicopedagógico. Alguns testes são de uso exclusivo de psicólogos, como as
Provas
de
Inteligência
(Wisc),
Testes
Projetivos,
Avaliação
perceptomotora (Teste Bender), Teste de Apercepção Infantil (CAT.), Teste de Apercepção Temática (TAT.). Porém, a autora chama atenção para as recomendações dos autores dos testes, como no CAT Infantil, no manual, afirma-se
que
o
mesmo
poderá
ser
aproveitado
por
psiquiatras,
psicanalistas, psicólogos, assistentes sociais e professores. Fernández (1990) afirma que o diagnóstico, para o terapeuta, deve ter a mesma função que a rede para um equilibrista. É ele, portanto, a base que dará suporte ao psicopedagogo para que este faça o encaminhamento necessário. É um processo que permite ao profissional investigar, levantar hipóteses provisórias que serão ou não confirmadas ao longo do processo recorrendo, para isso, a conhecimentos práticos e teóricos. Segundo Bossa (2000) esta investigação permanece durante todo o trabalho diagnóstico através de intervenções e da “... escuta psicopedagógica...”, para que “... se possam decifrar os processos que dão sentido ao observado e norteiam a intervenção”. (p. 24). O diagnóstico psicopedagógico não se refere apenas à prescrição de orientações para alunos em particular, mas aborda outros assuntos de caráter mais geral derivados de discussões sobre alunos com dificuldades, do desenvolvimento das orientações e, também, da análise conjunta de dúvidas ou questionamentos sobre assuntos didáticos. Desta forma, a psicopedagogia,
29 além de ajudar a resolver problemas, intervém de uma forma mais preventiva e institucional, evitando o aparecimento de outros. Na
Epistemologia
Convergente
todo o
processo
diagnóstico
é
estruturado para que se possa observar a dinâmica de interação entre o cognitivo e o afetivo de onde resulta o funcionamento do sujeito (Bosse, 1995, p. 80). Conforme Weiss,
“O objetivo básico do diagnóstico psicopedagógico é identificar os desvios e os obstáculos básicos no Modelo de Aprendizagem do sujeito que o impedem de crescer na aprendizagem dentro do esperado pelo meio social.” (WEISS, 2003, p. 32).
O diagnóstico possui uma grande relevância tanto quanto o tratamento. Ele mexe de tal forma com o paciente e sua família que, por muitas vezes, chegam a acreditar que o sujeito teve uma melhora ou tornou-se agressivo e agitado no decorrer do trabalho diagnóstico. Por isso devemos fazer o diagnóstico com muito cuidado observando o comportamento e mudanças que isto pode acarretar no sujeito. Visca (1991) propõe iniciar o diagnóstico com a Entrevista Operativa Centrada na Aprendizagem - EOCA e não com a anamnese argumentando que
“... os pais, invariavelmente ainda que com intensidades diferentes, durante a anamnese tentam impor sua opinião, sua ótica, consciente ou inconscientemente. Isto impede que o agente corretor se aproxime ‘ingenuamente’ do paciente para vê-lo tal como ele é para descobri-lo. (Id. Ibid., 1987, p. 70).
Os profissionais que optam pela linha da Epistemologia Convergente realizam a anamnese após as provas para que não haja “contaminação” pelo
30 bombardeio de informações trazidas pela família, o que acabaria distorcendo o olhar sobre aquela criança e influenciando no resultado do diagnóstico. A técnica de investigação diagnóstica começa com a Entrevista Operativa Centrada na Aprendizagem - EOCA, de onde se extrai um primeiro sistema de hipóteses e se define a linha de pesquisa. São então selecionadas as provas piagetianas para o diagnóstico operatório, as provas projetivas psicopedagógicas e outros instrumentos de pesquisa complementares. A partir da análise desses dados, elabora-se o segundo sistema de hipóteses e organiza-se a linha de pesquisa para a anamnese (entrevista com os pais), e entrevista com a escola (professor e orientação escolar). Por fim, o psicopedagogo, conclui seu terceiro sistema de hipóteses, levantando as causas das dificuldades na aprendizagem e, posteriormente, fazendo a devolutiva aos pais e ao sujeito, indicando-se os agentes corretores ideais e possíveis. Importante destacar que no processo diagnóstico, dependendo do caso, tem a interferência de outros profissionais, como: médico neurologista, psicólogo, fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional. Portanto, exige um trabalho multidisciplinar.
3.2 – Entrevista Operativa Centrada na Aprendizagem – EOCA
A Entrevista Operativa Centrada na Aprendizagem - EOCA é um instrumento inspirado na psicologia social de Pichon-Rivière, nos postulados da psicanálise e no método clínico da escola de Genebra. Foi idealizado por Jorge Visca e é um instrumento de uso simples que avalia em uma entrevista a aprendizagem. (Bossa, 2007.p.46) Uma forma de primeira sessão diagnóstica é proposta por Jorge Visca através da EOCA.
"Em todo momento, a intenção é permitir ao sujeito construir a entrevista de maneira espontânea, porém dirigida de forma experimental. Interessa observar seus conhecimentos, atitudes, destrezas, mecanismos de defesas, ansiedades, áreas expressão da conduta, níveis
31 de operatividade, mobilidade horizontal e vertical etc.”. (Weiss apud Visca, 2007, p. 57).
O entrevistador poderá apresentar vários materiais, tais como: folhas de ofício tamanho A4, borracha, caneta, tesoura, régua, livros ou revistas, barbantes, cola, lápis, massa de modelar, lápis de cor, lápis de cera, quebracabeça ou ainda outros materiais que julgar necessários. Para Visca, a EOCA deverá ser um instrumento simples, porém rico em seus resultados. Consiste em solicitar ao sujeito que mostre ao entrevistador o que ele sabe fazer, o que lhe ensinaram a fazer e o que aprendeu a fazer, utilizando-se de materiais dispostos sobre a mesa, após a seguinte observação do entrevistador: “este material é para que você o use se precisar para mostrarme o que te falei que queria saber de você” (VISCA, 1987, p. 72). O entrevistado tende a comportar-se de diferentes maneiras após ouvir a consigna. Alguns imediatamente pegam o material e começam a desenhar ou escrever etc. Outros começam a falar, outros pedem que lhe digam o que fazer, e outros simplesmente ficam paralisados. Neste último caso, Visca nos propõe empregar o que ele chamou de modelo de alternativa múltipla (1987, p. 73), cuja intenção é desencadear respostas por parte do sujeito. Visca nos dá um exemplo de como devemos conduzir esta situação: "você pode desenhar, escrever, fazer alguma coisa de matemática ou qualquer coisa que lhe venha à cabeça..." (1987, p. 73). De acordo com Visca, o que nos interessa observar na EOCA é: “... seus conhecimentos, atitudes, destrezas, mecanismos de defesa, ansiedades, áreas de expressão da conduta, níveis de operatividade, mobilidade horizontal e vertical etc”. (VISCA, 1987, p. 73). É importante também observar três aspectos que fornecerão um sistema de hipóteses a serem verificados em outros momentos do diagnóstico: A temática – é tudo aquilo que o sujeito diz, tendo sempre um aspecto manifesto e outro latente; A dinâmica – é tudo aquilo que o sujeito faz, ou seja, gestos, tons de voz, postura corporal, etc. A forma de pegar os materiais, de sentar-se são tão ou mais reveladores do que os comentários e o produto. O produto – é tudo aquilo que o sujeito deixa no papel. (Id. Ibid., 1987, p. 74).
32 Visca (1987) observa que o que obtemos nesta primeira entrevista é um conjunto de observações que deverão ser submetidas a uma verificação mais rigorosa, constituindo o próximo passo para o processo diagnóstico. É da EOCA que o psicopedagogo extrairá o primeiro Sistema de hipóteses e definirá sua linha de pesquisa. Logo após são selecionadas as provas piagetianas para o diagnóstico operatório, as provas projetivas psicopedagógicas e outros instrumentos de pesquisa complementares.
3.3 – Caixa de Trabalho Psicopedagógico
Visca idealizou a caixa de trabalho para se trabalhar com as dificuldades de aprendizagem e, para isso, inspirou-se na caixa individual utilizada pelos terapeutas analista na Psicanálise de crianças. Ela seria composta de brinquedos e materiais escolhidos para representarem o mundo interno das crianças, suas fantasias inconscientes frente ao mundo (BARBOSA, 2000, p. 35). Segundo Visca (1987)
“...cada caixa de trabalho é única, não apenas porque será usada por um único paciente (individual ou grupal), mas também no sentido de que não há duas caixas iguais, da mesma maneira que não existem dois indivíduos ou dois diagnósticos iguais”. (VISCA, 1987, p. 29).
A caixa deverá ser única porque ela representa uma importância significativa para o sujeito, já que contém objetos que foram escolhidos para ele, os quais intencionam promover “... a superação ou a minimização das dificuldades de aprendizagem” (BARBOSA, 2002, p. 36). A caixa de trabalho nada mais é do que uma simples caixa, que pode ser de papelão ou plástica, com tamanho suficiente para depositar os objetos de uso do sujeito e suas produções.
33 Apesar de sua simplicidade na aparência tem um valor significado internamente, já que é ali que o sujeito depositará suas construções e elaborações como desenhos, pintura, texto etc. Ela representa “o depositário de conteúdos simbólicos do paciente” (WEISS, 2003, p. 152). A caixa não deverá se tornar apenas receptáculos de materiais e produções, pois representa o mundo interno do aprendiz, devendo ser manejada apenas por seu dono, sem correr o risco de ser mexida ou observada por terceiros, de acordo com Barbosa. O psicopedagogo deverá garantir a privacidade do sujeito para que este não se sinta invadido e não perca a confiança. Para Barbosa a caixa é “um continente, no qual a criança poderá depositar seus conteúdos de saber e de não saber” (BARBOSA, 2002, p. 35). Já a autora Weiss nos informa que “Os materiais a serem colocados são definidos ao final do diagnóstico quando se planeja o tratamento” (WEISS, 2003, p. 152). Barbosa completa nos dizendo que os materiais são escolhidos previamente de acordo com a leitura que fizemos da criança ou adolescente durante a avaliação psicopedagógica (2002, p. 35). Na organização de uma caixa de trabalho psicopedagógico é preciso considerar alguns aspectos, tais como: estágio de pensamento, interesses ou motivações, déficits de aprendizagem, sexo, idade, meio sociocultural, prognóstico e grau de focalização da tarefa (VISCA, 1987, p. 29). Barbosa completa ainda com: nível de apropriação da linguagem escrita, vínculos afetivos estabelecidos com as situações de aprendizagem (2002, p. 36). Segundo Barbosa é preciso haver uma observação de extrema relevância acerca da composição da caixa:
“ Há crianças ou adolescentes que apresentam o predomínio da assimilação, ou seja, são aquelas que se aproximam mais de situações lúdicas. Para estes sujeitos deverão ser colocado apenas um material não estruturado (tinta, argila, peças para montar, massa de modelar, etc.) e mais
materiais estruturados ou semiestruturados
(cadernos, livros, jogos com regras, modelos, receitas etc.) a fim de que ele se identifique com a caixa através deste único material não estruturado e experimente
34 mudanças através dos diferentes materiais estruturados” (BARBOSA, 2002, p. 36-37).
O excesso de materiais não estruturados para este tipo de aprendiz representa o excesso de recursos distratores, dificultando sua concentração e sua busca em direção ao movimento de acomodação, que o obriga a modificar os esquemas de aprendizagem já existentes (Id. Ibid., 2002, p. 37). Já em outros sujeitos ocorre o predomínio da acomodação, que são aqueles que estão sempre modificando seus esquemas de forma excessiva o que acabam por imitar e não criar. Para estes, Barbosa recomenda um material estruturado para servir como ponto de partida e mais materiais não estruturados para que criem sem seguir modelos, sem modificar seus esquemas de aprendizagem, ou seja, são sujeitos que necessitam de uma maior flexibilidade. Além de materiais, estruturados e não estruturados, a caixa deverá conter materiais básicos que servirão de apoio, tais como: lápis, borracha, régua, apontador e a depender da necessidade apontada pela avaliação: tesoura, cola, revistas para recortar, cadernos etc. A caixa de trabalho pode ser incluída como uma das constantes do enquadramento, a qual só poderá sofrer modificações com novos combinados entre o terapeuta e o sujeito. Dentre as modificações está o acréscimo ou a retirada de algum objeto. Se isto for feito sem nenhum critério ou avaliação, a evolução do sujeito poderá ser seriamente prejudicada. Na realidade atual, torna-se praticamente inviável que o psicopedagogo possa dispor de materiais como: jogos, tesouras, caixas de lápis de cor etc. para uso exclusivo de um único cliente. A menos que o profissional se dedique a atender pessoas de classe econômica alta, o que não me parece ser o objetivo da Psicopedagogia (BOSSE, 1995, p. 81). As substituições também não deverão ser feitas de forma aleatória. Elas deverão responder a questões tais como: “Porque vou substituir este disparador nesta sessão? Porque vou introduzir outro”. Mesmo quando o sujeito pedir algo e este objeto estiver na sala, Bosse propõe que diga que
35 talvez lhe seja entregue na próxima sessão. Isto permitirá a avaliação do seu nível de tolerância à frustração e suas resistências. É importante lembrar mais uma vez, que a proposta da Epistemologia Convergente é de se trabalhar com a caixa de trabalho, através da qual o psicopedagogo irá observar as ações do cliente para, a partir daí, fazer suas intervenções com o objetivo de promover o seu avanço em relação às dificuldades.
3.4 – Provas Piagetianas
Na Epistemologia Convergente todo o processo diagnóstico é estruturado para que se possa observar a dinâmica de interação entre o cognitivo e o afetivo de onde resulta o funcionamento do sujeito (BOSSA, 1995, p.80). Piaget em sua teoria criou estágios de desenvolvimento cognitivo. Para diagnosticar problemas de conservação ocorridos nos estágios pré-operatórios e de operações concretas. A teoria piagetiana ressalta a importância de entender a qualidade de pensamento, os argumentos do sujeito na tentativa de compreender as transformações da realidade. Conforme Weiss, a teoria piagetina ressalta a importância de entender a qualidade de pensamento. As provas operatórias têm como objetivo principal determinar o grau de aquisição de algumas noções-chave do desenvolvimento cognitivo, detectando o nível de pensamento alcançado pela criança, ou seja, o nível de estrutura cognoscitiva com que opera. (2003, p. 106). Ela ainda nos alerta que não se devem aplicar várias provas de conservação em uma mesma sessão para se evitar a contaminação da forma de resposta. Observa que o psicopedagogo deverá fazer registros detalhados dos procedimentos da criança, observando e anotando suas falas, atitude, soluções que dá às questões, seus argumentos e juízos, como arruma o material.
Isto
será
fundamental
para
a
interpretação
das
condutas.
Para a avaliação as respostas são divididas em três níveis: • Nível um: Não há conservação, o sujeito não atinge o nível operatório nesse domínio.
36 • Nível dois ou intermediário: As respostas apresentam oscilações, instabilidade ou não são completas. Em um momento conservam, em outro não. •
Nível três: As respostas demonstram aquisição da noção sem vacilação. Muito interessante o que Weiss nos diz sobre as diferentes condutas
em provas distintas. Pode ocorrer que o sujeito não obtenha êxito em apenas uma prova, quando todo o conjunto sugere a sua possibilidade de êxito. Podese ver se há um significado particular para a ação dessa prova que sofra uma interferência emocional: encontramos várias vezes crianças, filhos de pais separados e com novos casamentos dos pais, que só não obtinham êxito na prova de intersecção de classes. Podemos ainda citar crianças muito dependentes dos adultos que ficam intimidadas com a contra argumentação do terapeuta, e passam a concordar com o que ele fala, deixando de lado a operação que já são capazes de fazer (2003, p. 111). Visca
também
reuniu
em
outro
livro
“Técnicas
projetivas
psicopedagógicas” as provas projetivas, cuja aplicação tem como objetivo investigar os vínculos que o sujeito pode estabelecer em três grandes domínios: o escolar, o familiar e consigo mesmo, através dos quais é possível reconhecer três níveis em relação ao grau de consciência dos distintos aspectos que constituem o vínculo de aprendizagem. Sobre as provas projetivas Weiss observa que:
“O princípio básico é de que a maneira do sujeito perceber, interpretar e estruturar o material ou situação reflete os aspectos fundamentais do seu psiquismo. É possível, desse modo, buscar relações com a apreensão do conhecimento como procurar, evitar, distorcer, omitir, esquecer algo que lhe é apresentado. Podem-se detectar, assim, obstáculos afetivos existentes nesse processo de aprendizagem de nível geral e especificamente escolar” (WEISS, 2003, p. 117).
37 Esses
são
apenas
alguns
dos
instrumentos
utilizados
pelos
psicopedagogos para provar, buscar caminhos. Percebemos que há uma necessidade de testes na área da psicopedagogia, testes feitos por psicopedagogos para psicopedagogos. Ressalte-se que as provas acima analisadas, em sua maioria, restringem-se aos aspectos cognitivos de crianças, alunos. Ora a psicopedagogia não tem apenas esse olhar para o seu cliente, não tem apenas esse tipo de cliente, possui um olhar diferenciado, que analisa outros aspectos. Quais instrumentos os psicopedagogos possuem para avaliar as inteligências múltiplas? E a área emocional? Há instrumentos preparados para os adultos? E os idosos? E quanto aos testes projetivos? Testes projetivos é um tipo de teste psicológico baseado no conceito freudiano de projeção. São testes que permitem que a pessoa manifeste algum fato de sua história ou personalidade mesmo que a pessoa não perceba isso. Entretanto, eles são de uso exclusivo de psicólogos. Weiss apud Sampaio (2004), diz que as provas projetivas permitem detectar barreiras afetivas existentes no processo de aprendizagem. Visca analisou esse assunto no livro “Técnicas projetivas psicopedagógicas”, ressaltando a importância das provas projetivas. Lembremo-nos que a realidade do psicopedagogo argentino é distinta da realidade do psicopedagogo brasileira, haja vista as restrições do último. Fernández (1991) levanta uma questão interessante sobre os testes e a clínica. Em seu livro “A inteligência Aprisionada” a autora ressalta o cuidado que devemos ter com os exames objetivos, que estabelecem medida. Também salienta a precaução em usar testes que o psicopedagogo não conheça, não sabe para quais objetivos ele foi criado. É preciso discernimento e responsabilidade na escolha do método a ser utilizado. Sensibilidade e cautela na interpretação de seus resultados. Enfim, é necessário a participação de todos os envolvidos no processo de aprendizagem e lembrar-se que o método é um meio e não um fim em si mesmo.
38
CONCLUSÃO O campo de atuação da psicopedagogia é direcionado ao estudo do processo de aprendizagem, diagnóstico e tratamento de seus entraves. O psicopedagogo é responsável por diagnosticar e tratar os problemas que se apresentam no processo de aprendizagem. A psicopedagogia estuda as características da aprendizagem humana, ou seja, como se aprende - como a aprendizagem varia historicamente e está condicionada por inúmeros fatores, como reconhecer as alterações na aprendizagem, como tratá-las e preveni-las. O diagnóstico psicopedagógico busca investigar, pesquisar para averiguar quais são os obstáculos que estão levando o sujeito à situação de não aprender, aprender com lentidão e/ou com dificuldade; esclarece uma queixa do próprio sujeito, da família ou da escola. A aprendizagem humana é determinada pela interação entre o indivíduo e o meio, da qual participam os aspectos biológicos, psicológicos e sociais. No aspecto biológico o sujeito apresenta várias características que ajudam ou não no desenvolvimento de seus conhecimentos. Já o aspecto psicológico e social é consequência da história individual, de interações com o meio em que vive e com a família, o que influenciará as experiências futuras, como, por exemplo, o conceito de si próprio, insegurança, interações sociais, etc. Portando, a psicopedagogia, pode fazer um trabalho entre os muitos profissionais, visando à descoberta e o desenvolvimento das capacidades do sujeito, bem como pode contribuir para que eles sejam capazes de olhar esse mundo em que vivem, de saber interpretá-lo e de nele ter condições de interferir com segurança e competência. Assim, o psicopedagogo não só contribuirá com o desenvolvimento do sujeito, como também contribuirá com a evolução de um mundo que melhore as condições de vida da maioria da humanidade. Segundo Bossa (1994, p.23), “
cabe
ao
psicopedagogo
perceber
eventuais
perturbações no processo aprendizagem, participar da dinâmica da comunidade educativa, favorecendo a
39 integração, promovendo orientações metodológicas de acordo com as características e particularidades dos indivíduos do grupo, realizando processos de orientação. Já que no caráter assistencial, o psicopedagogo participa de equipes responsáveis pela elaboração de planos e projetos
no
contexto
teórico/prático
das
políticas
educacionais, fazendo com que os professores, diretores e coordenadores possam repensar o papel da escola frente a sua docência e às necessidades individuais de aprendizagem da criança ou, da própria ensinagem.” (BOSSA,
1994,
p.
23)
Considerando a escola responsável por grande parte da formação do ser humano, o trabalho do Psicopedagogo na instituição escolar tem um caráter preventivo no sentido de procurar criar competências e habilidades para solução dos problemas. Com esta finalidade e em decorrência do grande número de crianças com dificuldades de aprendizagem e de outros desafios que englobam a família e a escola, a intervenção psicopedagógica ganha, atualmente, espaço nas instituições de ensino. Por meio de técnicas e métodos próprios, o psicopedagogo possibilita uma intervenção psicopedagógica visando à solução de problemas de aprendizagem em espaços institucionais. Juntamente com toda a equipe escolar, está mobilizado na construção de um espaço adequado às condições de aprendizagem de forma a evitar comprometimentos. Elege a metodologia e/ou a forma de intervenção com o objetivo de facilitar e/ou desobstruir tal processo. O psicopedagogo alcança seus objetivos quando, tendo a compreensão das dificuldades de aprendizagem de determinado sujeito, consegue meios para ajudá-lo, envolvendo a todos os envolvidos no processo na busca de condições para amenizar e/ou sanar tal dificuldade. Deste modo, ele torna-se uma ferramenta poderosa no auxílio da aprendizagem. Quando os problemas concernentes ao fracasso escolar advêm de motivos ligados à estrutura familiar e/ou individual, faz-se necessária uma
40 intervenção
psicopedagógica.
Os
encaminhamentos
ao
consultório
psicopedagógico, são feitos, em sua grande maioria, pela instituição. Assim, é sumamente relevante que a psicopedagogia contribua com a escola, seja na promoção da aprendizagem, seja no tratamento dos distúrbios e dificuldades nesse processo. Enfim, a atuação psicopedagógica nos tempos atuais é de suma importância para o desenvolvimento integral do sujeito, não só no campo educacional como também na interação com o meio em que vive.
41
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA BOSSA, Nádia A. A Psicopedagogia no Brasil; Contribuições a Partir da Prática. 3ª edição. Rio de Janeiro: Artmed, 2007.
DICIONÁRIO BRASILEIRO DA LÍNGUA PORTUGUESA. 11ª Edição. 9ª Tiragem. Editora Gamma: Rio de Janeiro, 1982.
FERNANDEZ. Alícia. Inteligência Aprisionada. Porto Alegre: Artes Médicas, 1991.
RUBINSTEIN, Edith. A Intervenção Psicopedagógica Clínica, in SCOZ at alii, Psicopedagogia: Contextualização, Formação e Atuação Profissional. Porto Alegre: Artes Médicas, l992.
VISCA, Jorge. Clínica Psicopedagógica – Epistemologia Convergente. Porto Alegre: Artes Médicas, 1992.
___________. Psicopedagogia: Novas Contribuições. Organização e tradução Andréa Morais, Maria Isabel Guimarães. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1991.
___________. O Diagnóstico Operatório na prática Psicopedagógica. São José dos Campos: Pulso, 2008. WEISS, Maria Lúcia L. Psicopedagogia Clínica. Porto Alegre: Artes Médicas, 1992.
www.psicopedagogia.com.br, acesso em 18/04/2012
www.abpp.com.br, acesso em 20/04/2012
42
ÍNDICE FOLHA DE ROSTO
2
AGRADECIMENTO
3
DEDICATÓRIA
4
RESUMO
5
METODOLOGIA
6
SUMÁRIO
7
INTRODUÇÃO
8
CAPÍTULO I PSICOPEDAGOGIA: UM BREVE HISTÓRICO
11
1.1 - A Associação Brasileira de Psicopedagogia
13
CAPÍTULO II A PSICOPEDAGOGIA E SUA TEORIA
16
2.1 - O que é Psicopedagogia
16
2.2 - As teorias do Trabalho Psicopedagógico
20
2.3 - Epistemologia Convergente
21
CAPÍTULO III A PSICOPEDAGOGIA E SUA PRÁTICA
25
3.1 - O Diagnóstico Psicopedagógico
26
3.2 - Entrevista Operativa Centrada na Aprendizagem – EOCA
30
3.3 - Caixa de Trabalho Psicopedagógico
32
3.4 - Provas Piagetianas
35
CONCLUSÃO
38
BIBLIOGRAFIA
41
ÍNDICE
42