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NUTRIÇÃO E ADUBAÇÃO DE CITROS Godofredo Cesar Vitti (1) José Ricardo Moreira Cabrita (2) 1. INTRODUÇÃO Dentre os fatores de produção, a adubação miner...

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BOLETIM CITRÍCOLA

Março no 4/1998

UNESP/FUNEP/EECB

NUTRIÇÃO E ADUBAÇÃO DE CITROS

Godofredo Cesar Vitti e José Ricardo Moreira Cabrita

Funep Via de Acesso Prof. Paulo Donato Castellane, s/nº 14884-900 - Jaboticabal - SP Tel: (16) 3209-1300 Fax: (16) 3209-1306 E-mail: [email protected] Home Page: http://www.funep.com.br

Ficha catalográfica preparada pela Seção de Aquisição e Tratamento de Informação do Serviço de Biblioteca e Documentação - FCAV. Vitti, Godofredo Cesar V852n Nutrição e adubação de citros / Godofredo Cesar Vitti, José Ricardo M. Cabrita. -- Jaboticabal : Funep, 1998 31p. : il ; 21cm. -- (Boletim Citrícola, 4) Bibliografia

1. Citros - nutrição - adubação. I. Título. II. Cabrita, José R.M., colab. CDU 634.3

ÍNDICE 1. INTRODUÇÃO ................................................................... 1 2. EXIGÊNCIAS NUTRICIONAIS DOS CITROS .................... 2 2.1. Elementos Essenciais (O quê?).................................. 2 2.2. Quantidades (Quanto?) ............................................. 3 2.3. Ciclos de Crescimento (Quando?) ............................ 5 2.4. Local de Aplicação (Como?) ..................................... 6 3. AVALIAÇÃO DA FERTILIDADE DO SOLO ...................... 7 3.1. Diagnose Visual ......................................................... 7 3.2. Diagnose Foliar ........................................................ 10 3.3 Análise Química do Solo .......................................... 13 3.3.1. Amostragem do Solo ...................................... 13 3.3.2. Interpretação dos Resultados ......................... 14 4. MANEJO QUÍMICO DO SOLO ....................................... 15 4.1. Calagem ................................................................... 15 4.2. Gessagem ................................................................. 16 4.3. Adubação Verde ...................................................... 17 4.4. Adubação Orgânica ................................................. 20 4.5. Adubação N-P2O5-K2O ............................................ 21 4.5.1. Adubação de Plantio ...................................... 21 4.5.2. Adubação de Formação ................................. 23 4.5.3. Adubação de Produção ................................. 24 5. TRABALHOS DA E.E.C.B EM NUTRIÇÃO E ADUBAÇÃO DOS CITROS ............................................. 30 6. LITERATURA CITADA ..................................................... 30

NUTRIÇÃO E ADUBAÇÃO DE CITROS Godofredo Cesar Vitti (1) José Ricardo Moreira Cabrita (2)

1. INTRODUÇÃO Dentre os fatores de produção, a adubação mineral é o meio maior, mais rápido e mais barato para se aumentar a produtividade dos pomares de citros. A adubação, em termos muito simples, pode ser definida conforme a seguinte expressão: Adubação = (Exigência da planta - Fornecido pelo solo ) x f

Ou seja, sempre que o Fornecido pelo Solo for menor que a Exigência da Planta, tem-se de utilizar necessariamente o fertilizante. Essa diferença é ainda multiplicada por um fator de correção (f), o qual é maior que 1,0, para compensar as perdas de nutrientes por erosão, lixiviação, volatilização (quando do uso da uréia ou de adubos orgânicos em superfície), ou ainda a fixação, para o caso do fósforo. Estimase que, no ano de aplicação dos fertilizantes, as plantas apresentam os seguintes índices de aproveitamento para os macronutrientes primários: N = 60% (f = 2,0) P2O5 = 30% (f = 3,5) K2O = 70% (f = 1,5) (1)

(2)

Engº Agrº, Professor Titular do Departamento de Ciência do Solo. ESALQ/USP. Caixa Postal 09 - Piracicaba, SP. CEP 13.418-900. E-mail: [email protected] Engº Agrº M.S. Estação Experimental de Citricultura de Bebedouro, CP.49, 14710-000 - SP. 1

Assim para o nitrogênio, considerando uma exportação de cerca de 80g/caixa de laranja, tem-se de fornecer aproximadamente 150g/caixa de 40,8kg. Do exposto acima, tem-se que, além de conhecer as exigências nutricionais dos citros, bem como a fertilidade do solo, o primeiro passo é diminuir as perdas de fertilizantes através de adoções de práticas de conservação do solo e de melhoria do ambiente radicular, principalmente pela correção do solo.

2. EXIGÊNCIAS NUTRICIONAIS DOS CITROS Para estabelecer as exigências nutricionais dos citros, quatro perguntas se fazem necessárias: O quê? Quanto? Quando? Como?

2.1. Elementos Essenciais (O quê?) Com relação, a o que, os nutrientes que devem ser fornecidos obrigatoriamente no programa regular de adubação são o N, P, K, Ca, Mg, B, Mn e Zn. Quando o porta-enxerto for a variedade Sunki, ou quando a copa for a variedade Westin, tem-se observado visualmente deficiências acentuadas de Cu, principalmente na fase de formação do pomar. Quanto aos demais nutrientes, os mesmos são fornecidos normalmente através dos próprios fertilizantes, defensivos, atmosfera ou solo. 2

2.2. Quantidades (Quanto?) As quantidades necessárias desses elementos são dependentes do estádio de desenvolvimento da planta (formação ou produção), da combinação copa/porta-enxerto, da expectativa de produção, do estado nutricional do pomar e da fertilidade do solo. Assim, plantas em formação devem receber maior atenção quanto ao fornecimento de P, Ca e N, enquanto que pomares em produção, de N e K. Com relação ao porta-enxerto, tem-se a seguinte ordem decrescente de preocupação quanto ao fornecimento de nutrientes: Cleopatra > Sunki > Cravo. A combinação Pêra/Sunki tem-se revelado mais sensível à deficiência de P, enquanto que na Pêra as deficiências de Zn são mais acentuadas, e na Westin é necessário dar maior atenção ao Cu. As quantidades exigidas de nutrientes por um pé de laranja produzindo duas caixas são apresentadas na Tabela 1. Tabela 1. Quantidades de macro e micronutrientes em um pé de laranja em produção (2 caixas de 40,8 kg) MARCHAL & LACOEUILHE (1969). Parte Raízes Tronco e ramos lignificados Ramos não lignificados Folhas Frutos Total Parte Raízes Tronco e ramos lignificados Ramos não lignificados Folhas Frutos Total

N P K Ca Mg ------------------- g -------------------33 2 20 50 2 157 3 39 307 6 10 0,5 4 44 2 102 3 18 260 18 156 12 188 100 16 457 19 267 760 42 B Cu -----------------36 237 153 145 13 15 169 30 117 117 487 544

Fe Mn Zn mg ----------------9700 450 128 3379 205 96 160 15 28 843 206 68 592 155 122 14674 1030 442 3

Analisando esses dados, observa-se, em termos de extração, que o Ca é o elemento mais exigido, seguido pelo N e K. Tabela 2. Quantidades de macro e micronutrientes exportadas em uma caixa de 40,8 kg de citros (KOO, 1983). Elemento Pera Baianinha Hamlin Natal —1----------------------------------------------------------------------------g caixa N 83 80 82 88 P 7 7 6 8 K 60 58 52 84 Ca 18 19 23 26 Mg 5 6 5 6 S 8 5 4 6 -1 ---------------------- mg caixa ----------------------------B 96 96 116 136 Cl 802 820 648 1552 Cu 24 20 24 164 Fe 136 264 152 664 Mn 36 28 36 96 Mo 0,2 0,2 0,2 0,2 Zn 28 32 36 56 Valência Pomelo Murcote Cravo Taiti ---------------------------g caixa -1 --------------------------97 61 95 61 40 9 6 7 7 7 79 58 68 47 39 24 18 23 20 19 6 4 5 5 5 7 4 12 4 3 ------------------------- mg caixa -1 ------------------------132 64 96 52 20 1508 1012 980 840 660 140 20 16 24 12 608 252 120 104 84 116 20 512 160 16 0,2 0,4 0,2 0,2 0,2 56 28 36 32 28

4

Na Tabela 2, são apresentadas as quantidades de nutrientes exportadas por uma caixa de laranja, em função da variedade. Analisando os dados da Tabela 2 tem-se que, em termos de macronutrientes primários, uma caixa exporta em média: 80g de nitrogênio (N) 18g de fósforo (P2O5) 72g de potássio (K2O)

2.3. Ciclos de Crescimento (Quando?) A época mais apropriada para a aplicação dos fertilizantes depende da época de maior demanda de nutrientes pelas plantas associada ao período de ocorrência de precipitação pluviométrica. Assim, na cultura de citros no Estado de São Paulo, ocorrem dois ciclos principais anuais de crescimento. a. Primavera: crescimento vegetativo e floral. b. Verão: crescimento principalmente vegetativo e maturação dos frutos. Assim, tem-se que a época de aplicação do fertilizante ocorre normalmente de setembro a março. Na Tabela 3 é apresentado o período de maior exigência de N, P e K pelos citros em produção. Tabela 3. Períodos de maior exigência de N, P e K pela laranjeira (KAMPFER & UEXKULL, 1966). Períodos

N

Antes da vegetação da primavera Floração Fim da floração Maturação dos frutos

x x x x

P

K

x

x x x

x

5

Em termos práticos pode-se optar pelo fornecimento dos três nutrientes em conjunto através do uso de fórmulas N-P2O5-K2O em 3 (pomar em produção, variedades precoces, ano de baixa precipitação) ou 4 parcelamentos (pomar em formação, variedades tardias, anos de precipitação excessiva) ou, ainda, fornecer todo o P2O5 no primeiro parcelamento.

2.4. Local de Aplicação (Como?) Com relação ao local de aplicação dos nutrientes, os macro são fornecidos normalmente via solo (absorção radicular), enquanto que os micronutrientes (Cu, B, Mn e Zn), normalmente, são fornecidos via foliar (absorção foliar). Quanto à aplicação de micronutrientes via solo é importante no sulco de plantio o fornecimento de Zn, pois, além da pobreza desse elemento na maioria de nossos solos, a aplicação de calcário e de fósforo diminui a disponibilidade daquele elemento. Por outro lado, o B tem-se revelado ser muito mais absorvido quando da aplicação via solo, tendo sido indispensável o seu fornecimento, seja no sulco de plantio, bem como em pomares implantados, nos meses de setembro/outubro. Para maior eficiência da adubação, recomenda-se localizar os fertilizantes, de acordo com a idade das plantas nos locais indicados na Tabela 4. Tabela 4. Localização dos fertilizantes em função da idade e desenvolvimento das plantas (GPACC, 1994). Idade (anos)

Localização dos fertilizantes

0-1 1-2 2-3 em diante

Ao redor da coroa, num raio de 0,5m de largura Ao redor da coroa, num raio de 1,5m de largura Em faixas, nos dois lados da planta, de largura igual ao raio da copa, sendo 2/3 dentro e 1/3 fora dela.

6

3. AVALIAÇÃO DA FERTILIDADE DO SOLO O segundo parâmetro para definição da adubação é dimensionar a fertilidade do solo, a qual baseia-se principalmente em três métodos: diagnose visual, diagnose foliar e análise química do solo, devendo os três serem utilizados simultaneamente.

3.1. Diagnose Visual A avaliação do estado nutricional através da diagnose visual apresenta as seguintes características: a. Princípio - todas as plantas necessitam dos mesmos elementos que exercem as mesmas funções, e se houver falta de um deles, ocorrerão os mesmos sintomas; b. há uma seqüência de eventos que conduzem ao sintoma visual de deficiência ou toxidez. Exemplo: no caso da deficiência de Zn tem-se: alteração molecular (menor produção de AIA) ® lesão celular (menor elasticidade da parede celular) ® lesão do tecido (menor número de células e células maiores) ® alteração morfológica ou sintoma (encurtamento dos internódios)

Observa-se, portanto, que quando ocorre a manifestação do sintoma, já houve comprometimento da produção. c. mobilidade dos elementos - a parte da planta em que se manifestam inicialmente os sintomas de deficiência depende da mobilidade dos elementos no interior do vegetal, conforme se pode observar pela análise da Tabela 5. 7

Tabela 5. Mobilidade comparada dos nutrientes aplicados nas folhas. Em cada grupo os elementos aparecem em ordem decrescente de mobilidade (VITTI, 1987). Altamente móveis N K Na

Móveis

Parcialmente móveis

Imóveis

P Cl Mg

S Zn Cu Mn Fe Mo

B Ca

Tabela 6. Sintomas visuais de deficiência de nutrientes em citros. Elementos Nitrogênio Fósforo Potássio

Cálcio Magnésio Boro

Manganês Zinco Cobre

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Sintomas Amarelecimento uniforme, queda das folhas mais velhas e morte descendente dos ramos (die back) Separação dos gomos dos frutos, bronzeamento e desfolha intensa das folhas mais velhas Frutos menores, casca mais fina e menor resistência ao transporte, armazenamento, pragas, doenças e ao clima Afeta principalmente o desenvolvimento do sistema radicular Clorose das folhas mais velhas com um “V” invertido verde Folhas mais novas com nervuras salientes, folhas assimétricas e com falta de tecido, frutos pequenos, duros e secos com albedo espesso Folhas novas sem brilho, com clorose entre as nervuras, não sendo o tamanho da mesma afetado Folhas novas menores, lanceoladas com clorose internerval, queda prematura e internódios curtos Seca da ponta dos ramos e queda prematura dos frutos

Na Foto 1 encontram-se apresentados sintomas de deficiência de magnésio (Mg) em Pêra. Na Foto 2 é possível observar sintomas de deficiência de zinco (Zn), sendo que a Foto 3 mostra uma provável deficiência de cobre (Cu) em Westin e a foto 4, sintomas de toxidez de boro (B) em Ponkan pela aplicação do elemento na cova de plantio.

Foto 1. Planta de laranja Pêra, apresentando sintomas de deficiência de magnésio.

Foto 2. Planta de citros, apresentando sintomas de deficiência de zinco. 9

Assim, a falta de elementos móveis provoca, inicialmente, sintomas de deficiência em partes mais velhas, enquanto que os de elementos menos móveis, em partes mais novas da planta. Na Tabela 6 é apresentado resumo prático dos sintomas visuais de deficiência dos nutrientes em citros.

3.2. Diagnose Foliar A avaliação do estado nutricional pela técnica da diagnose foliar constitui-se na determinação do teor de nutrientes em folhas recém-maduras, isto é, aquelas cujo crescimento terminou e que ainda não entrou em senescência. Essas folhas correspondem à 3a ou 4a folhas a partir do fruto, geradas na primavera, com aproximadamente seis (6) meses de idade, correspondente aos meses de fevereiro e abril, conforme esquema da Figura 1.

Figura 1. Folhas 3 ou 4 de ramos frutíferos são as amostradas. 10

Foto 3. Planta de Westin, apresentando provável sintoma de deficiência de cobre.

Foto 4. Sintomas de toxidez de boro em Ponkan pela aplicação do elemento na cova. 11

Coletam-se 4 folhas por árvore, uma em cada quadrante, à meia altura da planta. De cada talhão, homogêneo quanto a solo, planta e manejo, retirar amostras de pelo menos 25 árvores, as quais, após misturadas, irão formar a amostra composta representativa do talhão. Na Tabela 7 são apresentadas as faixas de interpretação de teores de nutrientes em folhas coletadas segundo os critérios citados. Tabela 7. Faixas para interpretação de teores de macro e de micronutrientes nas folhas de citros, geradas na primavera, com 6 meses de idade, de ramos com frutos (GPACC, 1994). Nutriente

Baixo

N P K Ca Mg S

-------------------------- g kg-1 --------------------------<23 23-27 >30 <1,2 1,2-1,6 >2,0 <10 10-15 >20 <35 35-45 >50 <2,5 2,5-4,0 >5,0 <2.0 2,0-3,0 >5,0

B Cu(2) Fe Mn Zn Mo

------------------------- mg kg-1 ------------------------<36 36-100 >150 <4,1 4,1-10,0 >15,0 <50 50-120 >200 <35 35-50 >100 <35 35-50 >100 <0,10 0,10-1,00 >2,00

(1)

Adequado

Excessivo

Esta é a nova representação, pelo SI. Os resultados em g/kg são 10 vezes maiores que os expressos em porcentagem (%). Os valores expressos em ppm e em mg/kg são numericamente iguais. (2) Para a variedade de laranja Westin, os teores adequados de Cu sugeridos são 10-20mg/kg. 12

3.3 Análise Química do Solo 3.3.1. Amostragem do Solo O primeiro passo para se proceder à análise química do solo é uma boa amostragem do mesmo. Assim, a primeira providência é separar a propriedade em glebas homogêneas, quanto a fatores do solo e práticas anteriores de manejo, enquanto que em pomares já implantados agrupar talhões com características idênticas quanto a combinação copa/portaenxerto, idade e produtividade dentro das glebas homogêneas de solo. Em cada gleba ou talhão homogêneo retirar cerca de 15 a 20 subamostras na profundidade de 0-20 cm, com a finalidade de recomendação de calagem e adubação, e na profundidade de 20-40 cm, para diagnosticar barreiras químicas, ou seja, baixos teores de cálcio e/ou excesso de alumínio. A época apropriada para retirada das amostras é nos meses de fevereiro-abril, respeitando-se um intervalo mínimo de 60 dias após uma adubação. O local para retirada das amostras em pomares implantados é na faixa adubada, conforme esquema da Figura 2.

Figura 2. Local de amostragem do solo, para indicação de calagem e adubação. 13

3.3.2. Interpretação dos Resultados Os critérios de interpretação dos resultados de análise química do solo estabelecidos pelo GPACC (1994) estão apresentados na Tabela 8. Tabela 8. Padrões de fertilidade para a interpretação de resultados de análise de solo para citros (1) (GPACC, 1994). Classes de teores Muito baixo Baixo Médio Alto (1) (2)

P-resina

Potássio

Magnésio Saturação por bases

mg/dm3 <6 6-12 13-30 > 30

--- mmolc dm —3 (2) --< 0,8 0,8-1,5 <4 1,6-3,0 4-8 > 3,0 >8

% < 26 26-50 51-70 > 70

Manter, no mínimo, 10% da CTC com Mg e 40% com Ca Esta é a nova representação, pelo SI. Os resultados expressos em mmolc dm-3 (mmol de carga por decímetro cúbico). São 10 vezes maiores do que os expressos em meq/100cm3, usados anteriormente.

Existe uma tentativa da interpretação dos teores de SSO4 (Ca(H2PO4)2 ou NH4OAc), B (água quente) e de Cu, Mn e Zn (DTPA a pH 7,3) do solo, conforme também apresentado na Tabela 9. Tabela 9. Interpretação preliminar de resultados de análise de solo para enxofre e micronutrientes (GPACC, 1994). Classes de teores Baixo Médio Alto 14

S

B

Cu

Mn

Zn

------------------------ mg/dm3 ------------------------< 10 < 0,60 < 2,0 < 3,0 < 2,0 10-20 0,60-1,2 2,0-5,0 3,0-6,0 2,0-5,0 > 20 > 1,2 > 5,0 > 6,0 > 5,0

4. MANEJO QUÍMICO DO SOLO 4.1. Calagem A calagem é a primeira prática a ser adotada, pelos seus efeitos no controle da acidez (diminuindo a lixiviação de nutrientes, fixação de fósforo, toxidez de alumínio, fornecimento de cálcio e magnésio, melhorando a estrutura e a atividade microbiana). Além da dose e da escolha do calcário adequadas, atentar para fatores de aplicação, uniformidade, incorporações, épocas e local de aplicação. Com relação ao local de aplicação, fazer sempre em área total, enquanto que na formação do pomar proceder também a aplicação no sulco de plantio. O cálculo da calagem pode ser realizado segundo a expressão:

onde: NC = necessidade da calagem expressa em t ha-1 para a profundidade de 0-20cm. CTC = capacidade de troca catiônica do solo, em mmolc dm -3 V1 = saturação por bases do solo V2 = saturação em bases desejadas para citros (60-70%) PRNT = poder relativo de neutralização total do calcário O denominador da fórmula é dividido por 10 porque a CTC, de acordo com as novas normas internacionais, está expressa em mmolc dm-3 , isto é, um valor 10 vezes maior do que meq 100 cm-3 (sistema anterior). 15

É importante na escolha do tipo de calcário atentar para a relação Ca/Mg do mesmo visando atender os valores mínimos dos mesmos na CTC, conforme rodapé da Tabela 8. Além disso, procurar direcionar a aplicação do calcário em faixa (faixa adubada), conforme amplamente discutido em VITTI et al. (1996).

4.2. Gessagem A gessagem, pelos seus efeitos benéficos, principalmente em sub-superfície (solos com baixo teor de Ca e alta saturação em Al) resultando em maior desenvolvimento do sistema radicular com maior absorção de água e de nutrientes, bem como pelo seu efeito no encrostamento superficial, aumentando a taxa de infiltração e reduzindo o escorrimento superficial, pode ser utilizada, desde que feita com critérios, em solos com esses tipos de problemas. Além dos dados químicos das amostras retiradas em profundidade (20-40 cm), é interessante a abertura de trincheiras (Foto 5) em talhões problemas, para melhor observação do sistema radicular das plantas e da ocorrência, ou não, de camadas compactadas. Assim, em talhões que não apresentam camadas compactadas, porém com baixo desenvolvimento radicular, provavelmente associado a baixos teores de Ca e altos teores de Al ou de alta porcentagem de saturação por esse elemento, pode-se recomendar o uso de gesso com maior segurança, principalmente em Latossolos e Areias Quartzosas.

16

Foto 5. Abertura de trincheira para avaliação do sistema radicular.

4.3. Adubação Verde A adubação verde é uma prática antiga que deve ser recomendada para solos compactados, arenosos e declivosos e em pomares novos. Além do enriquecimento do solo em nitrogênio e matéria orgânica, proporciona outras vantagens, tais como: atenua os efeitos da erosão, diminui o controle de ervas daninhas e recicla para a superfície os nutrientes que se acham em camadas mais profundas do solo. Assim, tem-se como principais adubos verdes para pomares de citros, a Crotalaria juncea (solos arenosos e declivosos), principalmente devido ao seu rápido desenvolvimento, o guandu (solos arenosos compactados em pomares novos) e o lab lab ou feijão-de-porco (pomares adultos com problemas de erosão). Na Foto 6, apresenta-se o aspecto do plantio do lab lab, a lanço, num pomar de citros adulto enquanto que na Foto 7, o plantio do adubo verde em linhas espaçadas em 0,5 m com uma semeadora mecânica apos a dessecação do mato com glifosato. 17

O plantio dos adubos verdes deve ser feito a partir dos meados de outubro, semeando-se linhas espaçadas de 0,5 m, sendo fundamental para o sucesso dessa prática o número de sementes/m e a quantidade/ha, conforme Tabela 10. Tabela 10. Densidade e gasto/ha de sementes dos principais adubos verdes recomendados para citros.

Adubo verde Crotalaria juncea Feijão guandu Lab lab Feijão-de-porco

Sementes m-1 25 20 a 25 10 a 12 3a4

Kg ha-1 (*) 30 60 55 100

(*) Considerando-se plantio em área total, sendo que o plantio nas entrelinhas equivale a aproximadamente 60% do recomendado em área total.

Foto 6. Plantio do lab lab a lanço em pomar adulto de citros. 18

Foto 7. Plantio do lab lab em linha, em semeadura mecânica, após uso de glifosato.

Os adubos verdes mais lenhosos (crotalaria e guandu) podem ser semeados em linhas alternadas para maior facilidade das pulverizações, repetindo-se o plantio no próximo ano agrícola nas linhas que não receberam adubação verde. No final da época das chuvas, equivalente ao início da frutificação dos adubos verdes, os mesmos devem ser roçados (roçadeira, triturador) e jamais incorporados através de grades, visando principalmente a manutenção da cobertura do solo, das propriedades físicas e também, no caso do guandu e do lab lab, uma possível rebrota dos mesmos. Em função da análise foliar do teor de N das folhas de citros, pode-se abater, na última adubação mineral, parte do N fornecido pelo adubo verde.

19

4.4. Adubação Orgânica A adubação orgânica traz inúmeros benefícios em propriedades químicas, físicas e biológicas do solo. Em termos de propriedades químicas, além de poder se descontar na adubação mineral os nutrientes levados pela adubação orgânica, principalmente o nitrogênio, um efeito importante dessa prática é quanto à quelatização de micronutrientes, evitando que os mesmos sejam precipitados e consequentemente tornando-se insolúveis, principalmente em condições de pH elevado ou mesmo, diminuindo riscos de toxidez de elementos, como no caso do cobre, utilizado no controle fitossanitário. Entre os adubos orgânicos, podem ser recomendados, principalmente, o esterco de galinha, o esterco de curral, a torta de mamona e a utilização de compostos fabricados na própria propriedade. Na Tabela 11 estão apresentados os teores médios dos macronutrientes primários no material sem secar, isto é, conforme utilizado no campo, enquanto que na Tabela 12, sugestões para adubação orgânica.

Tabela 11. Valores médios de teores de nitrogênio e potássio em adubos orgânicos. Os dados não são rigorosos, servindo apenas para avaliação de grandeza (RAIJ et al. 1985). Fertilizante

Teores do material sem secar (%) Umidade

Esterco de galinha Esterco bovino Esterco suíno Composto de lixo Torta de mamona 20

40 80 75 35 -

N

P2O5

K 2O

1,7 0,6 0,5 0,5 5,0

0,8 0,1 0,1 0,2 1,7

1,0 0,5 0,4 0,3 1,5

Tabela 12. Sugestões para adubação orgânica em citros. Fase de desenvolvimento da cultura

Esterco de curral

Esterco de galinha

Torta de mamona

------------------- kg/planta -----------------Cova Formação Produção

10 - 15 10 - 15 25 - 30

2-3 4-6 10 - 12

1 - 1,5 2-3 5-6

4.5. Adubação N-P2O5-K2O Conforme já comentado, a adubação mineral é a última prática a ser adotada cronologicamente. Adotando-se a ordem de práticas acima citadas, o sucesso da adubação mineral está garantido, devendo-se para isso proceder agora, à escolha do fertilizante, nas quantidades adequadas. 4.5.1. Adubação de Plantio A adubação de plantio é feita em sulcos profundos. A recomendação oficial do GPACC (1994) sugere doses fixas de calcário dolomítico, boro e zinco, conforme abaixo recomendado, enquanto que as doses de P2O5 são baseadas na análise química do fósforo no solo. O zinco e o boro podem ser fornecidos na forma de óxidos silicatados (“fritas”) ou na forma de sais (Sulfato de Zn ou Borax). Há também a possibilidade do fornecimento simultâneo desses nutrientes através de outras fontes alternativas, como o termofosfato e multifosfato magnesiano, levando-se em conta, para a quantificação das doses, o teor de P2O5 total dos mesmos. Na Tabela 14 está apresentada a composição química dessas fontes, garantida pelos fabricantes. 21

Tabela 13. Recomendação de calcário e adubo para o sulco de plantio. (GPACC, 1994). Recomendação

g/m sulco

Calcário dolomítico Zinco Boro P resina (mg/dm3) 0-5 6 - 12 13 - 30 > 30

250 2 1 P2O5(*) 80 60 40 20

(*) Utilizar de preferência o superfosfato simples.

Tabela 14. Composição química de fontes alternativas de P2O5 em macronutrientes secundários e de micronutrientes Produtos

P 2O 5 total

Multifosfato magnesiano Termofosfato (BZ) Termofosfato (Master)

18 17,5 17,5

Ca

Mg

S

Zn

---------------- % ---------------14 20 20

3,5 9,0 9,0

10 -

0,65 0,40 0,55

Produtos B Cu Mn Mo SiO 2 --------------------------------------- % -------------------------------------Multifosfato magnesiano Termofosfato (BZ) Termofosfato (Master)

0,15 0,15 0,10

0,18 0,05

0,12

0,006

25 25

Assim, quando do uso do termofosfato utilizar apenas esse produto levando em consideração para cálculo da dose o teor de P do solo, pois o mesmo, além do fornecimento 22

dos nutrientes B, Zn, Ca e Mg, também apresenta efeito corretivo de acidez de solo. Por outro lado, quando do uso do multifosfato magnesiano, também levar em consideração para a recomendação da dose do mesmo o teor de P do solo, acrescentando junto com o mesmo as doses de calcário já citadas. 4.5.2. Adubação de Formação A recomendação da adubação de formação, além de basear-se na idade (1 a 5 anos), leva também em consideração os teores de P e K do solo, conforme Tabela 15. Tabela 15. Recomendações de adubação para citros em formação por idade e em função da análise do solo (1). (GPACC, 1994). Idade

N

P resina, mg/dm3 <6

anos 0-1 1-2 2-3 3-4 4-5

g/planta 80 160 200 300 400

6-12

13-30

> 30

---------------- P2O5 (g/planta) ---------------0 0 0 0 160 100 50 0 200 140 70 0 300 210 100 0 400 280 140 0 K trocável, mmolc/dm3

<0,8

0,8-1,5

1,6-3,0

>3,0

-------------------- K2O (g/planta) -------------------20 0 0 0 80 60 0 0 150 100 50 0 200 140 70 0 300 210 100 0 (1) Para a variedade de laranja Valência, reduzir em 20% as doses de potássio.

23

4.5.3. Adubação de Produção As recomendações de adubação de variedades de citros em geral e para produção são baseadas na expectativa de produção (t/ha), no máximo lucro (caixa U$3), nos teores foliares de N e K, nos teores de P e K da análise de solos; (Tabela 16), enquanto que para as variedades limão verdadeiro, tangerina e murcote são adotados a outros critérios (Tabela 17). Os micronutrientes que mais limitam a produção de citros, conforme já comentado, são o B, Mn, Zn e o Cu para o caso da copa Westin e porta-enxerto Sunki, seja pela falta real no solo, seja pela diminuição em suas disponibilidades. As condições para a ocorrência de deficiência desses elementos são solos arenosos, solos pobres em matéria orgânica, excesso de calcário ou de adubos alcalinizantes, excesso de adubação fosfatada (Zn e Mn), movimentação de terra, encharcamento e seca prolongada. A maneira mais usual de aplicação de micronutrientes é através da pulverização foliar, enquanto que o B deve ser também aplicado via solo, principalmente em solos deficientes (B solo < 0,2 mg/dm3), conforme já comentado anteriormente.

24

25

(3)

(2)

(1)

Quando a variedade for Valência, reduzir 20% as doses de potássio. Quando o teor de N nas folhas for superior a 30 g/kg, reduzir sua dose em 1/3 da recomendada quando o N nas folhas estiver entre 28 e 30 g/kg. Quando o teor de K nas folhas for superior a 19 g/kg, reduzir a adubação potássica suprimindo o K do último parcelamento.

Tabela 16. Recomendações de adubação para laranjas(1) e lima ácida Taiti em produção, em função da análise do solo e das folhas. As doses foram calculadas para máximo lucro por área, baseandose no preço de U$ 3.00 por caixa de 40,8kg(1) (GPACC, 1994).

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(1)

Quando o teor de N nas folhas for superior a 30 g/kg, reduzir sua dose a 1/3 da recomendada quando o N nas folhas estiver entre 28 e 30 g/kg. (2). Quando o teor de K nas folhas for superior a 19 g/kg, reduzir a adubação potássica suprimindo o K do último parcelamento. (3). Limões Siciliano, Eureka, Feminello e outros.

Tabela 17. Recomendações de adubação para limões e tangerinas, em função da análise do solo e das plantas. As doses foram calculadas para máximo lucro por área com preço a 3 dólares por caixa de 40,8 kg (GPACC, 1994).

As fontes mais tradicionais para a aplicação foliar dos micronutrientes são na forma de sais, estando a recomendação oficial do GPACC (1994) apresentada na Tabela 18. Tabela 18. Composição da solução de micronutrientes para aplicação via foliar em citros (GPACC, 1994). Fontes

Sulfato de zinco Sulfato de manganês Ácido bórico Uréia Cloreto de potássio (1)

Concentração

% 0,30 (1) 0,20 0,10 0,50 0,25

Quantidade por 100 litros de água g 300 200 100 500 250

Em laranja Pêra, ou em outras variedades, quando houver constatação de deficiência aguda de zinco, a concentração de sulfato de zinco na solução deverá ser aumentada para 0,5%, isto é, 500g para 100 litros de água.

Observa-se que no caso do uso de sais devem ser adicionados a uréia e o cloreto de potássio, que auxiliam numa absorção mais rápida e eficaz dos micronutrientes. A época mais adequada para a adubação foliar é o período de vegetação das plantas. Nos pomares em formação, recomendam-se 3 a 4 aplicações. Naqueles em produção, três aplicações: normalmente no período de setembro-março, sendo a primeira, na época do florescimento, logo após a queda das pétalas, aproveitando o tratamento fitossanitário; a segunda, durante o fluxo de vegetação, e a terceira, cerca de 45 a 60 dias após, lembrando-se que deve ser incluído o B apenas na primeira pulverização foliar, quando do uso do 27

mesmo no solo. Além da qualidade dos sais, o sucesso da aplicação foliar depende também de outros fatores, como compatibilidade de produtos e de nutrientes, tempo de absorção dos mesmos pelas folhas, isto é, problemas de lavagens pela ocorrência de precipitação após a aplicação, e fatores relacionados com uma boa aplicação sobre a planta. Podem também ser utilizados como fontes de micronutrientes, produtos quelatizados, principalmente para Zn e Mn, os quais, desde que oriundos de um bom quelato, têm vantagens na economia da dose, bem como diminuem riscos de incompatibilidade no interior do tanque de pulverização. Nas Fotos 8, 9 e 10 estão apresentados, respectivamente, pomares de Murcote (Brotas, SP), Natal (Bariri, SP) e Valência (Araraquara, SP), adotando-se técnicas adequadas de manejo.

Foto 8. Pomar de Murcote em Brotas-SP. 28

Foto 9. Pomar de Natal em Bariri-SP.

Foto 10. Pomar de Valência em Araraquara-SP. 29

5. TRABALHOS DA E.E.C.B EM NUTRIÇÃO E ADUBAÇÃO DOS CITROS Foram efetuados vários experimentos na Estação Experimental de Citricultura de Bebedouro, em seus quinze anos de atividades, alguns concluídos, outros em andamento, os quais estão citados em publicação recente (EECB — 15 anos, 1997). Na área foram feitos trabalhos sobre adubação NPK, Ca, Mg, micronutrientes, calagem e gessagem, além de adubação orgânica, inclusive a verde. Trabalhos sobre diagnóstico nutricional, composição nutricional e formas de adubação, também foram executados, sendo atualmente avaliada a adubação líquida.

6. LITERATURA CITADA E.E.C.B. - 15 anos, Bebedouro, 87p. 1997. GRUPO PAULISTA DE ADUBAÇÃO E CALAGEM PARA CITROS (GPACC). Recomendações para adubação e calagem para citros no Estado de São Paulo. 3.ed. LARANJA. Cordeirópolis, 1994. 27p. KAMPFER, M., UEXKULL, H.R. van. Nuevos conocimientos sobre la fertilización de los citricos. 3 ed. Hanover Verlag Gesselchaft fur Ackerbau, 1966. 104p. KOO, R.C.J. Nutrição e Adubação de citros. In: Nutrição Mineral e Adubação de Citros. Piracicaba: Potafos. 1983. p.99122. (Boletim técnico, 5). 30

MARCHAL, J., LACOEUILHE, J.J. Bilan mineral mandarinier Wilking. Influence de la production e de l’état végétatif de l’arbre sue la composition minérale. Fruits. n.24. 1969. p.299-318. RAIJ, B. van. et al. Recomendações de adubação e calagem para o Estado de São Paulo. Campinas: Instituto Agronômico. 1992. 107p. (Boletim Técnico, 100). VITTI, G.C. Tópicos de nutrição mineral de plantas. Laranja, v.1, n.8. Cordeirópolis. 1987. p.185-237. VITTI, G.C. Nutrição e crescimento de plantas. In: SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE CITROS - FISIOLOGIA, 2, 1992, Bebedouro. Anais... Campinas: Fundação Cargill. p.132-162. VITTI, G.C. et al. Técnicas de utilização de calcário e gesso na cultura dos citros. In: SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE CITROS, 4, 1996. Donadio, L.C. & Baumgartner, J.G. (Coord.). Anais... Campinas: Fundação Cargill. p.131-160.

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