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Standford”, que mais tarde foi descrito minuciosamente no livro O Efeito Lúcifer2, nos mostra até que ponto um ser humano .... Zimbardo (2012) inicia ...

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        O ASPECTO SITUACIONAL DA MALDADE HUMANA A  INFLUÊNCIA DO AMBIENTE SOBRE O HOMEM E O PAPEL DA  EDUCAÇÃO          Resumo  O  presente  artigo  discute  o  comportamento  balizado  pelo  aspecto  situacional  da  maldade  humana  levantado  pelo  autor norte americano Philip Zimbardo. Por este aspecto, as  ações  humanas  podem  ser  condicionadas  por  aspectos  situacionais  levando  pessoas  ditas  como  comuns  a  tomarem  atitudes  extremas  e  até  desumanas.  Considerando  este  estudo  levantam‐se  aqui  questionamentos  de  como  tal  aspecto  pode  ser  tratado  e  usado  na  educação,  qual  a  figura  do  professor  e  os  problemas que envolvem esta prática    Palavras‐chave: Aspecto situacional, comportamento,  educação, professor.   

  Leandro Alberto Piangers  [email protected]      João Rodrigo Zancanaro  [email protected]      Patrícia Carla Barazetti  [email protected] 

               

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O ASPECTO SITUACIONAL DA MALDADE HUMANA A INFLUÊNCIA DO AMBIENTE SOBRE O HOMEM E O  PAPEL DA EDUCAÇÃO   Leandro Alberto Piangers ‐ João Rodrigo Zancanaro ‐ Patrícia Carla Barazetti 

Depois Javé Deus disse: “O homem se tornou como um de nós, conhecedor  do bem e do mal. Que ele, agora, não estenda a mão e colha também da  árvore da vida, e coma, e viva para sempre”.   (GENESIS, 3:22) 

1 INTRODUÇÃO  O presente artigo faz uma análise a partir de um recorte do trabalho do psicólogo  norte  americano  Philip  Zimbardo  e  sua  teoria  sobre  o  comportamento  humano  em  relação ao aspecto situacional onde o indivíduo está inserido ou o aqui chamado aspecto  situacional da maldade humana. Esta análise tenta demonstrar que para o autor, o bem e  o  mal  estão  além  da  postura  essencialista  tradicional  da  filosofia  e  de  vertentes  da  psicologia  sendo  que  aspectos  externos  podem  influenciar  ações  de  todos  os  tipos  e  proporções.   

Philip  Zimbardo1  a  partir  das  análises  do  seu  famoso  estudo  sobre  a  “Prisão  de 

Standford”,  que  mais  tarde  foi  descrito  minuciosamente  no  livro  O  Efeito  Lúcifer2,  nos  mostra  até  que  ponto  um  ser  humano  comum  pode  transformar‐se,  adotando  um  comportamento vil e até mesmo desumano. O experimento de Standford foi um estudo  psicológico  onde  indivíduos  teriam  seu  comportamento  analisado  pelas  relações,  interações  e  pressões  do  grupo  onde  estivessem  inseridos.  A  equipe  de  Zimbardo  ofereceu através de anúncio em jornal de grande circulação o valor de U$ 15,00/dia para  que  candidatos  se  sujeitassem  a  duas  semanas  vivendo  em  um  ambiente  que  simulava  uma prisão real. Foram selecionados 24 indivíduos, maioria branca, estudantes, de classe  média, considerados pela triagem com as melhores condições psicológicas e legais (sem  problemas  aparentes,  sem  passagens  pela  prisão).  Uma  vez  separados  em  dois  grupos,  assumiram  papéis  de  guardas  e  prisioneiros  tendo  seus  pertences  recolhidos  e  em  substituição  a  estes  recebidas  novas  vestimentas.  Para  os  guardas  roupas  padrão,  cassetetes e óculos escuros espelhados. Os “prisioneiros” por sua vez receberam roupas  próprias de prisão e seus nomes foram substituídos por números que foram costurados  em suas roupas.                                                                1

  Philip  Zimbardo  (1933)  é  um  psicólogo,  professor  emérito  da  Universidade  de  Standford,  conhecido  principalmente pelo seu estudo: Standford Prision Study.  2  Em inglês: The Lucifer Effect: Understanding How Good People Turn Evil 

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Os guardas foram proibidos de utilizar agressão física direta, mas liberados para o 

uso de quaisquer outros artifícios que viessem a ser necessários para obtenção da ordem.  Logo  após  o  início  do  experimento  surgiram  comportamentos  sádicos  por  parte  dos  guardas. Atos de humilhação física, moral, violência psicológica e até sexual obrigaram o  experimento, que anteriormente deveria durar por duas semanas, a ser interrompido ao  final  da  primeira.  A  surpresa  por  parte  dos  pesquisadores  envolvidos  estava  no  fato  de  que os escolhidos não tinham nenhuma tendência violenta detectada durante a seleção.  Os  mesmos  não  tinham  histórico  de  sadismo  ou  crueldade.  Então,  como  pessoas  ditas  como comuns, de “bem”, a partir de um simples “teatro” tornaram‐se malignas, capazes  de  crueldades  desproporcionais?  Assim,  o  que  define  como  será  o  comportamento  do  homem: A sua escolha, o sistema onde está inserido ou a situação? Uma situação por si só  justifica qualquer tipo de comportamento? É impossível resistir as tentações? Como este  conhecimento poderia ser utilizado na educação das crianças?  Na primeira parte deste texto resgata‐se brevemente a ideia essencialista do bem  e do mal e as três teorias do poder sobre o indivíduo. Após, analisa‐se a teoria do poder  situacional de Zimbardo em comparação a de Appiah. Por fim, faz‐se uma abordagem de  como  o  conhecimento  sobre  o  aspecto  situacional  pode  ser  usado  pela  escola  na  formação  dos  jovens  e  quais  conceitos  podem  ajudar  neste  processo  a  partir  deste  pensamento.   

2 ESSENCIALISMO E OS TRÊS PODERES  O  que  seria  o  bem  e  o  mal,  o  certo  e  o  errado?  Por  um  tempo  a  humanidade  cresceu  à  sombra  destes  preceitos  considerando  que  essencialmente  os  homens  eram  bons ou maus. Conforme Zimbardo (2012) isso ocorreu por não compreenderem que no  fim  a  linha  entre  os  dois  é  muito  tênue  e  que  na  realidade  existem  muito  mais  tons  de  cinza no comportamento humano do que o preto e branco que o folclore popular afirma.  Porém  ainda  para  o  autor  esta  dicotomia  adotada  entre  o  bem  e  o  mal  “permite  que  “boas  pessoas”  se  eximam  de  sua  responsabilidade”  (ZIMBARDO,  2012,  p.  26).  Para  tentar compreender isso devemos perceber como funciona cada uma destas noções. Em  primeiro  lugar,  vejamos  o  bem,  considerado  por  muitos  como  o  objetivo  do  homem,  o 

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que o aproxima de Deus (aqui utilizaremos o aspecto levantado pela doutrina cristã, que  está  mais  próximo  a  nossa  realidade),  o  sentido  da  própria  existência.  De  acordo  com  esta  perspectiva,  é  viver  uma  vida  de  harmonia  e  respeito  ao  próximo,  onde  a  simples  ideia de causar sofrimento traz dor a quem lhe concebe e a alteridade, a retidão e o auto  sacrifício são  as  bases do  comportamento  do indivíduo.  Assim,  o  mal  seria  o inverso  de  tudo isso.   

O  mal  por  sua  vez,  é  retratado  de  várias  formas,  por  vários  crédulos,  tendo  sua 

existência  seguidamente  registrada,  verificada  e  comprovada  nas  ações  de  indivíduos  e  grupos  sociais  (tanto  quanto  o  bem).  A  Teologia  busca  explicar  a  existência  do  mal  em  um  mundo  criado  por  um  Deus  definido  como  bom,  justo,  onipotente,  onisciente  e  onipresente3:    O mal é aqui simultaneamente um problema filosófico e teológico. Logo,  ele não é apenas entendido como “mal moral”, do qual o “pecado” ou a  “transgressão de leis morais” seriam expressões, mas ele envolve o que  se compreende por “perfeição”, por “sofrimento”, na ordem do corpo e,  de  uma  maneira  mais  geral,  por  uma  concepção  finalizada  do  universo.  (ROSENFIELD, 1990, p.12)   

 

Rosenfield (1990), baseando‐se nas ideias de Leibniz, concentra‐se na finalidade do 

mal onde, segundo sua análise, este e a maldade gerada pela sua ação seriam na verdade  instrumentos utilizados no plano divino (que é oculto) para a humanidade. Assim, o mal  que  primeiro  é  extrínseco,  em  seguido  converte‐se  numa  escolha  do  homem  (pecado)  que utilizando de seu livre arbítrio opta para si a maldade como forma de agir ao invés do  bem. Santo Agostinho trouxe uma nova luz ao assunto ao teorizar que na verdade o bem  e o mal são inerentes do ser humano, não tendo sua origem fora e sim estando dentro de  cada  homem  desde  o  princípio,  o  qual  tem  a  possibilidade  de  escolher  a  qual  deles  irá  recorrer nos diversos momentos de sua vida.   

Zimbardo  (2012)  refere  que  conheceu  durante  sua  vida  algumas  pessoas 

consideradas  aparentemente  boas,  mas  que  acabaram  fazendo  coisas  más,  ainda  o  mal  para  ele  “consiste  em  se  comportar  de  maneiras  que  agridam,  abusem,  humilhem,                                                               3

 O ramo da teologia e da filosofia que estuda o problema do mal é a Teodicéia. Este termo foi criado por  Gottfried Wilhelm Leibniz, filósofo alemão (1646‐1716) 

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desumanizem  ou  destruam  inocentes  –  ou  em  utilizar  a  própria  autoridade  e  poder  sistêmicos  para  encorajar  ou  permitir  que  outros  o  façam  em  seu  nome”  (ZIMBARDO,  2012,  p.  24).  Para  o  autor,  isso  acaba  levantando  o  questionamento  de  quão  bem  nos  conhecemos ao ponto de prevermos como seria nosso comportamento em uma situação  específica.  Segundo  Zimbardo,  o  poder  das  variáveis  contidas  em  uma  determinada  situação  pode  dominar  a  vontade  de  um  indivíduo,  fazendo  com  que  este  tenha  comportamentos  irreconhecíveis.  Dessa  forma  o  autor  menciona  três  princípios  que  podem dominar a vontade do homem, sendo o poder constitucional, o poder situacional  e o poder sistêmico.  O  poder  constitucional  baseia‐se  na  ideia  essencialista  de  que  o  homem  não  é  influenciado pelo meio, ele é o que é, exemplificado pelo autor na ideia de que sementes  ruins  são  vistas  como geradoras de  frutos  ruins.  Assim este  modelo  busca  explicar  uma  ação  através  do  sujeito  que  a  executou,  ignorando  quaisquer  outros  fatores.  O  poder  sistêmico  é  o  sistema  onde  o  indivíduo  está  inserido,  como  por  exemplo,  o  sistema  capitalista  que  eventualmente  cria  diferenças  sociais  extremas  entre  as  classes,  o  que  impele  alguns  indivíduos  a  buscar  através  do  crime  o  que  não  conseguem  através  do  trabalho, assim sistematicamente toda a forma de agir de um indivíduo é moldada pelo  sistema onde se encontra, um procedimento de longo prazo. Por fim, o poder situacional,  que  é  por  si  só  momentâneo,  se  explicita  por  uma  necessidade  adaptativa  de  um  indivíduo  que  altera  sua  forma  de  agir,  sendo  influenciado  pelo  ambiente  e/ou  situação  em que estiver envolvido em um determinado momento.   

O  experimento  do  Presídio  de  Stanford  apresentava  o  indelével  e  muitas  vezes 

imperceptível poder do ambiente sobre as pessoas revelando as influências do contexto  sobre  o  comportamento  humano,  das  situações  sobre  os  mecanismos  internos  e  a  coletividade sobre a individualidade. Para Zimbardo (2012), o funcionamento opressor das  instituições  totais,  como  é  o  caso  das  prisões,  serve  como  uma  ilustração  do  poder  de  forças  sistêmicas  e  situacionais  sobre  uma  sensação  de  invulnerabilidade  de  caráter.  Desta  forma,  a  toxidade  dos  sistemas  transgrediria  a  suposta  bondade  dos  sujeitos,  fazendo  com  que  se  comportassem  de  maneira  oposta  a  sua  própria  natureza,  tida  até  então como “boa”. 

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Zimbardo  revelou,  com  seu  estudo  em  Stanford,  que  muitas  vezes  a  situação  é 

mais  importante  do  que  a  personalidade  individual  como  determinante  de  comportamento. No caso do estudo, os guardas uniformizados ajudaram a construir uma  autoridade  inquestionável  e  os  presos  a  legitimaram  através  da  aceitação  passiva,  alertando‐nos  a  respeito  da  tênue  linha  imaginária  que  traçamos  a  respeito  de  nós  mesmos enquanto pessoas de bom caráter capazes de executar a maldade.   

Zimbardo (2012) inicia o capítulo I do Efeito Lúcifer apresentando uma imagem de 

M.C. Escher4. Também convoca a pensar sobre como o bem e o mal estão presentes em  cada um de nós. 

  Figura 1 A ilusão de anjos e demônios de M. C. Escher ‐ Fonte: O Efeito Lúcifer 

 

 

Ainda, levanta, o que ele chama de três verdades sobre as características da psique 

humana e afirma:                                                               4

 Na imagem podemos ver um efeito ótico onde em uma primeira vista vemos demônios (ou anjos) mas se  mudarmos a forma de ver o contraste da figura, poderão ser vistos anjos (ou demônios). 

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Três  verdades  psicológicas  emergem  da  imagem  de  Escher.  Primeiro,  o  mundo  está  repleto  de  bem  e  mal  –  esteve,  está  e  sempre  estará.  Segundo lugar, a barreira entre o bem e o mal é permeável e nebulosa. E  terceiro,  é  possível  que  os  anjos  se  tornem  demônios  e,  talvez  mais  difíceis  de  conceber,  por  demônios  para  se  transformem  em  anjos.  (ZIMBARDO, 2012, p. 21). 

 

  Em um apanhado bíblico, Zimardo discorre acerca da estória da criação do “rei” do 

inferno Lúcifer, o anjo portador da luz, se transformaria em Satã o grande adversário de  Deus.  No  entanto,  na  continuidade  da  narrativa,  o  autor  “traz  a  lume”  outra  metamorfose:    Contudo, o estadista de Satanás, Belzebu, sugere com a mais maligna das  soluções ao propor que se vingue de Deus por corrompendo a sua maior  criação,  a  raça  humana.  Embora  Satã  tenha  sido  bem  sucedido  ao  tentação de Adão e Eva a desobedecerem a Deus, conduzindo‐os para o  mal, Deus decreta que com o tempo eles serão salvos. Até lá, no entanto,  será permitido a Satã controlar essa imposição, aliciando bruxas para que  atraiam  pessoas  para  o  mal.  Os  intermediários  de  Satã  seriam,  depois  disso, alvo de zelosos inquisidores que objetivam livrar o mundo do mal;  seus  terríveis  métodos,  porém,  gerariam  uma  nova  forma  de  mal  sistêmico que o mundo nunca vira. (ZIMBARDO, 2012, p.22).   

 

Os  conceitos  de  Deus  e  do  diabo,  estão  para  a  cultura  cristã  como  sinônimos  de 

bem e mal em uma postura totalmente essencialista. Entretanto ao analisarmos o trecho  acima, podemos ver que no momento que Deus (o bem), permite que Satã (o mal) alicie  os seres humanos; este Deus permite que as pessoas sejam presas, torturadas, julgadas,  condenadas  e  queimadas  vivas  pela  santa  inquisição.  O  Deus  que  criou  o  homem  à  sua  imagem  e  semelhança  também  é  mal?  Obviamente  que  seguindo  a  tradição  cristã  seria  impossível ligar o mau a Deus, já que para esta cultura ele seria o máximo da bondade, o  símbolo  final  do  que  é  bom  e  justo.  Logo  para  explicarmos  isso  é  possível  seguir  os  pensamentos  de  Santo  Agostinho,  quando  diz  que  o  bem  e  o  mal  são  na  verdade  uma  escolha,  baseada  no  livre  arbítrio.  Logo  o  mal  nada  mais  é  nesse  contexto  do  que  a  ausência do bem.   Em sua ideia do mal, em termos gradualistas, Zimbardo (2012) acredita que o mal  poderia  aparecer  em  formas  mais  atenuadas  e,  por  fim,  também  dependeria  das  circunstâncias.  Abandonando  o  questionamento  no  indivíduo  como  “quem  é  o 

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responsável?”  Em  relação  a  certos  crimes,  passa  a  trabalhar  com  outro  tipo  de  questionamento:  “Quais  circunstâncias  podem  estar  envolvidas  na  criação  desse  comportamento?”, “O que é a situação na perspectiva dos autores?”, “Em que medida as  ações individuais podem originar além de seu autor, em variáveis situacionais e processos  ambientais  únicos  que  culminem  em  uma  dada  situação?”.  Ou  seja,  qual  a  influência  do  meio no comportamento do agente que cria uma situação?   

3. A LINHA TÊNUE ENTRE O BEM E O MAL – O PODER SITUACIONAL   

Para  Zimbardo  (2012),  alguns  processos  psicológicos  influenciam  nessa 

transformação  dos  indivíduos  dentro  do  aspecto  situacional.  Por  primeiro  a  desumanização,  que  seria  central  em  seu  estudo,  é  um  estado  onde  o  indivíduo  não  vê  mais  o  sujeito  como  um  igual  humano.  Algumas  pessoas  acabam  percebendo  que  o  indivíduo  a  sua  frente  nada  mais  é  que  um  ser  inferior,  merecedor  de  castigo,  dor  e  aniquilação.  Esse  fato  é  exemplificado  no  livro  O  Efeito  Lúcifer  com  o  depoimento  do  autor acerca de uma investigação de uso de tortura na prisão americana de Abu Ghraib5.  Com  o  trabalho  do  autor  podemos  perceber  que  todos  são  passíveis  de  mudanças  de  caráter se colocados num ambiente propício a isso. Na tentativa de se adaptar ao local ou  pelo instinto de sobrevivência alguns tendem a concordar com as ações do grupo no qual  estão inseridos. Estas ações e suas variáveis, por mais sutis que sejam, podem levar uma  boa  pessoa  a  cometer  atrocidades.  Porém,  a  maioria  dos  sujeitos  pensa  que  atitudes  assim nunca lhes ocorreria, a isso Zimbardo (2012) explica: “A maioria de nós se esconde  por trás de inclinações egocêntricas que provocam ilusões de que somos especiais. Esse  escudo  autoprotetor  nos  permite pensar  que  todos  nós estaríamos acima  da  média  em  um teste de integridade.” (ZIMBARDO, 2012, p.24).   É  possível  afirmar  que  alguns  homens,  devido  a  forma  que  vivem  em  sociedade,  nunca  encontrarão  situações  onde  essa  integridade  será  realmente  testada.  Mas,  se  percebermos  os  ideais  transmitidos  através  dos  meios  midiáticos  atuais  os  ajustes                                                               5

 Prisão no Iraque construída pelos britânicos e atualmente utilizada pelos americanos, alvo de reportagens  e  denúncias  de  torturas  físicas  e  psicológicas  feitas  pelos  soldados  dos  Estados  Unidos  para  com  prisioneiros iraquianos durante e após a invasão ao Iraque. 

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O ASPECTO SITUACIONAL DA MALDADE HUMANA A INFLUÊNCIA DO AMBIENTE SOBRE O HOMEM E O  PAPEL DA EDUCAÇÃO   Leandro Alberto Piangers ‐ João Rodrigo Zancanaro ‐ Patrícia Carla Barazetti 

comportamentais  condiciondos  ao  grupo  que  Zimbardo  fala,  não  parecem  distantes.  Exemplo  disso  é  a  propaganda  americana  da  guerra  ao  terror  que  justifica  a  invasão,  morte e atrocidades a milhares de outras pessoas. O preconceito de classe, gênero, cor e  sexualidade presentes na sociedade atual, também são exemplos que nos mostram que  nossa  falsa  integridade  sempre  está  à  mercê  de  influências,  e  eventualmente  com  a  pressão  certa,  mesmo  seu  vizinho  poderá  se  tornar  seu  inimigo  mortal,  batendo  à  sua  porta  durante  a  noite  para  cometer  contra  sua  família,  as  mesmas  atrocidades  que  comodamente você ignora quando ocorrem em locais distantes de sua vida, perdidas em  algum um país distante6. Tudo depende da pressão do grupo e das circunstâncias.  A  trajetória  dos  povos  encontra‐se  permeada  por  momentos  históricos  de  transição  de  aspectos  de  comportamento  social,  porém  é  inerente  ao  sujeito  componentes  que  se  contrapõe,  como  o  amor  e  o  ódio,  o  bem  e  o  mal,  a  bondade  e  a  crueldade.  Desde  a  ascensão  do  cristianismo,  onde  na  maioria  mulheres  e  em  minoria  homens,  deficientes  físicos  e  com  pouca  influência  social,  eram  queimados  vivos  em  fogueiras, ou na idade média em que eram comuns execuções em praça pública, até as  execuções em massa na atualidade, a crueldade dos povos segue a perpetuar o domínio  pelo  medo.  Das  modificações  sociais  onde  o  espetáculo  de  crueldade  ocupava  espaço  público  às  instituições  totais,  a  crueldade  parece  amadurecer‐se  requintada  em  suas  formas  e  métodos.  Seriam,  desta  forma,  as  instituições  totais  ferramentas  políticas  de  instrumentalização da crueldade? Seriam os massacres em massa expressão socialmente  aceitável,  em  que  a  crueldade  do  eu  ganha  forma  na  manifestação  do  grupo,  e  desta  forma  torna‐se  socialmente  tolerável?  Ou  é  apenas  uma  questão  da  situação  momentânea?  Nem  mesmo  as  modificações  sociais  que  ocorreram  neste  espaço  temporal, tornam o sujeito menos cruel, ou mune às influencias da crueldade social, que é  refletida na atualidade.                                                               6

 Um exemplo desta postura “indiferente” está nas evidências históricas que envolvem crimes cruéis contra  a  humanidade  são  incontáveis  e  incontestáveis.  Zimbardo  (2012)  nos  remete  ao  exemplo,  não  menos  relevante  em tempos  atuais,  em  que  se  torna  possível  questionar  a  civilidade  do  sujeito  e  do  entorno  social em que está inserido, quando no berço da civilização tida na época como a mais requintada em  termos de filosofia, jurisprudência e arte o não menos cruel comandante Agamenon, determina a seus  homens  que  não  fosse  deixado  um  único  troiano  vivo,  acabando  até  mesmo  com  os  que  ainda  habitavam o útero de suas mães. 

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Na  teoria  situacional  aqui  apresentada  nem  mesmo  questões  ambientais  mais  simples  devem  ser  postas  de  lado,  até  mesmo  a  possibilidade  de  contaminação  por  chumbo  oriundo  da  tinta  que  descascas  das  paredes  em casas  de  pessoas  pobres  pode  ser um exemplo claro de como o ambiente pode modificar a ação do homem7. Ou seja,  quando se fala em ambiente, não é apenas o ambiente das relações sociais, mas também  o  espaço  físico  que  está  em  questão.  O  ambiente  e  o  sistema  tomam  status  de  grande  importância  e  neste  contexto  há  uma  relação  de  poder.  Na  relação  de  poder,  o  autor  ainda  refere  o  mal  uso  do  mesmo  e  como  essas  pessoas  que  fazem  este  mal  uso  são  consideradas minorias pelo sistema. Desse modo, ignora‐se o fato de que as instituições  que  exercem  o  poder  poderiam  estar  “poderes”  e,  por  conta  disso,  seria  um  meio  facilitador para o “aparecimento” ou mudança do bem para o mal no indivíduo.     Kwame  Anthony  Appiah8  traz  uma  visão  semelhante  para  explicar  as  formas  de  agir  do  homem,  suas  atitudes  em  relação  a  sua  ética  pessoal  e  as  experiências  que  vivencia.  O autor cita a escritora Lydia Davis9 que em um de seus contos descreve sobre a  convivência  com  um  homem  que  em  vários  momentos  é  brincalhão,  sério,  irado  e  paciente.  Ainda  Davis  fala  de  como  é  difícil  detestar  esse  homem  irado  que  ao  mesmo  tempo é um homem calmo e paciente. Para Appiah, esse pequeno trecho do trabalho de  Lydia mostra como uma mesma pessoa possui diversas outras facetas (comportamentos)  dentro  de  si,  que  operam  sequencialmente  senão  simultâneamente.  Appiah  argumenta  que esse homem que Davis menciona é na verdade cada um de nós, vivendo existências  cotidianas, tendo problemas e convivendo em sociedade.   

A “teoria da atribuição” é mencionada como uma tese que indica que possuímos a 

inclinação de supor que as ações dos indivíduos refletem seu caráter subjacente, mesmo  que,  o  alvo  do  estudo  esteja  encenando  uma  ação10.  Appiah  cita  também  a  teoria  do                                                               7

 Zimbardo usa o exemplo de uma criança de família pobre que possui problemas de aprendizado, sendo  tratada  por  médicos,  mas  que  após  uma  pesquisa  descobre‐se  que  seu  problema  derivava  de  uma  contaminação pela ingestão de tinta com alto teor de chumbo que descascava da parede de sua casa.  8  Kwame Anthony Appiah, filósofo e escritor, nascido em 1954.  9  Lydia Davis é uma escritora norte‐americana nascida em 1947.  10   “A  Teoria  da  Atribuição  foi  proposta  para  formular  explicações  para  os  modos  diferentes  pelos  quais  julgamos as pessoas, dependendo do significado que atribuímos a um determinado comportamento.”  (Robbins, 1999, p.321). Através desta o indivíduo que  julga a ação de outro sujeito analisa baseado em  parâmetros  que  englobam  causas  internas  e  externas  (onde  o  sujeito  que  faz  a  ação  a  faz  por  por 

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“erro  fundamental  de  atribuição”,  onde  acabamos  por  valorar  o  que  conhecemos  pelo  caráter  do  autor  de  uma  ação  e  não  pela  circunstância  e/ou  fatores  sociais  que  eventualmente tiveram influência direta naquele ato. O autor explica que isso ocorre pois  existe  a  tendência  de  ignorar  os  fatos  e  as  variáveis  que  consideramos  insignificantes.  Porém, o fato de que uma situação pode ou não influenciar um indivíduo, não exime este  da  culpa  pelos  seus  atos.  Para  Appiah  (2010),  mesmo  que  neguemos,  nossas  ações  são  influenciadas  por  fatores  externos,  tendo  nosso  caráter  um  peso  menor  do  que  os  filósofos da moral acreditavam. Em consequência, nossas escolhas e ações podem muito  bem ser frutos de variáveis completamente insignificantes em uma primeira vista. Como o  autor  mesmo  indica,  esses  pontos  irrelevantes  podem  abrir  espaço  para  diversas  novas  teorias a respeito do comportamento humano.   

Porém,  mesmo  em  situações  terríveis,  alguns  indivíduos  conseguem  manter  sua 

conduta moral intacta. Para Zimbardo (2012) isso não tem ligação com alguma habilidade  herdada,  mas  sim  com  uma  apropriação  (mesmo  que  inconsciente)  de  mecanismos  e  táticas mentais de defesa moral. Tais pessoas poderiam ser chamadas eventualmente de  heróis (fato mencionado pelo autor).  

O  herói  é  um  arquétipo  –  usando  aqui  a 

conceituação  filosófica  do  mesmo  e  não  a  psicológica  –,  é  um  modelo  que  aproxima  o  homem ao ideal humano do bem, muitas vezes em seu mito original ligado até mesmo a  uma divindade (muitos dos heróis gregos eram mestiços de homens com deuses), sendo  uma  figura  semidivina.  O  herói  é  a  catarse  de  tudo  o  que  os  humanos  desejam  para  si  mesmos, como o bem, a força, a coragem, que superam o mal, a fraqueza e a covardia.  Como uma figura humana o herói é acima de tudo uma referência à alguma pessoa que  em condição extremada, onde qualquer “mero mortal” agiria de uma forma por muitos  considerada imoral, imprópria ou desonrosa – mas justificada pela situação –, assume as  consequências  e  enfrenta  suas  limitações  em  busca  de  uma  solução  ao  ideal  do  que  é  considerado  bom,  justo  e  moral.  O  mesmo  é  a  materialização  em  carne  do  princípio  da  alteridade, onde justiça, honra e benevolência são seu modus operandi. O que importa ser  ressaltado  nesse  modelo  de  homem  é  que  o  mesmo  escolhe  ser  assim,  mesmo  tendo                                                                                                                                                                                             escolha  própria  “interna”  ou  pela  situação  onde  está  inserido  “externa”).  Ainda  para  Heider  (1958)  o  homem busca atribuir explicações para os acontecimentos que o envolve. 

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diversas outras possibilidades mais “fáceis” de ação à sua disposição; porém age de uma  maneira  “heroica”  mesmo  quando  isso  lhe  acarreta  prejuízo.  Esta  escolha  pelo  auto  sacrificio, a princípio, poderia ser vista como algo simples de ser feito e ensinado; todavia  torna‐se  praticamente  impossível  de  ser  executada  por  alguém  que  não  conseguiu  desenvolver  (ou  apropriar‐se)  durante  sua  vida  dos  mecanismo  psíquicos  necessários.  Pessoas  que,  como  Zimbardo  menciona,  acreditam  piamente  que  seu  comportamento  será sempre o melhor possível e que não enfrentariam dilemas morais, de modo a serem  obrigadas  a  treinar  estas  capacidades  mentais,  podem  sim  estar  sujeitas  a  se  transformarem no que podemos chamar de “vilões” em determinados momentos.   

Assim, o aspecto situacional define‐se como um conjunto de variáveis relacionadas 

ao momento e local/ambiente onde um indivíduo se encontra e que podem influenciar o  sujeito a alterar seu comportamento ou tomar atitudes (de um grupo talvez) que em uma  situação  dita  como  “usual”  o  mesmo  não  faria.  Nesse  caso,  tudo  depende  do  local,  da  situação, do grupo, do indivíduo e de suas capacidades de “resistência”.   

4. A EDUCAÇÃO ATRAVÉS DA SITUAÇÃO      

Consideremos dois fatores aqui, o primeiro é que todos nós sem exclusões somos 

bons e maus ao mesmo tempo e que o que define o comportamento vencedor é o livre  arbítrio  como  afirma  Santo  Agostinho  (1995).  O  segundo  fator  é  que  dependendo  de  onde  estivermos,  com  que  grupo  e  em  qual  situação  que  nos  encontrarmos,  nosso  caráter  pode  ser  influenciado  e  poderemos  tomar  certas  atitudes  que  a  maioria  consideraria  imoral  e  em  seus  devidos  momentos  até  mesmo  desumana  –  porém  justificável  para  aquele  momento.  Seguindo  o  pensamento  de  Zimbardo  (2012),  em  situações  como  esta  a  maioria  irá  sucumbir,  porém  alguns  que  se  apoderaram  de  mecanismo de defesa moral conseguirão resistir.   

Com as tentações as quais somos expostos diariamente, o caminho mais simples 

para os problemas cotidianos nem sempre se mostra como o mais justo ou honesto. Aqui  não  se  fala  de  crimes  contra  a  humanidade  ou  atrocidades  desumanas,  mas  de  coisas  mais  simples  –  como  diz  o  ditado  popular,  “o  diabo  está  nos  detalhes”  –,  coisas 

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pequenas, como tirar vantagem em situações comuns do cotidiano, fazer “vista grossa” à  violações  cometidas  pelos  outros  ou  até  mesmo  praticar  o  famigerado  “jeitinho  brasileiro”. Trata‐se, aparentemente de ações inofensivas, soluções simples, concessões  que fazemos na vida cotidiana em sociedade, como levantado por Appiah (2010) quando  fala de experimentos onde variáveis mínimas, como o cheiro de pão recém feito faz com  que  pessoas  que  saíram  da  padaria  tenham  atitudes  mais  cordiais  do  que  as  que  caminham  na  rua.  O  problema  em  questão  é  que  estas  pequenas  escolhas,  podem  se  apresentar como porta de entrada para o surgimento de atitudes de grande malignidade.   

Zimbardo  não  deixa  claro  em  seu  texto  uma  fórmula/receita  para  impedir  que  o 

desenvolvimento do indivíduo culmine em um ser propenso a malfeitos dependendo da  situação  exposta,  porém  é  possível  verificarmos  através  das  ideias  de  outros  autores  “possibilidades”  que  iluminem  este  caminho  formativo.  Tomemos  como  exemplo  a  abordagem  vygotskyana,  em  que  o  homem  é  visto  como  alguém  que  transforma  e  é  transformado  nas  relações  que  acontecem  em  uma  determinada  cultura.  O  que  ocorre  não é uma somatória entre fatores inatos e adquiridos e sim uma interação dialética que  se  dá,  desde  o  nascimento,  entre  o  ser  humano  e  o  meio  social  e  cultural  em  que  se  insere.  Assim,  é  possível  constatar  que  o  ponto  de  vista  de  Vygotsky  é  que  o  desenvolvimento  humano  é  compreendido  não  como  a  decorrência  de  fatores  isolados  que amadurecem, nem simplesmente de fatores ambientais que agem sobre o organismo  controlando  seu  comportamento,  mas  sim  como  produto  de  trocas  recíprocas,  que  se  estabelecem durante toda a vida, entre indivíduo e meio, cada aspecto influindo sobre o  outro.  Para  Vygotsky  (1982),  o  sujeito  é  ativo,  ele  age  sobre  o  meio.  Para  ele,  não  há  a  "natureza  humana",  e  "essência  humana".  Seriamos  primeiro  seres  sociais  e  posteriormente nos individualizaríamos.    

Mas  então,  como  nos  proteger  desses  defeitos  e  falhas  morais  e  prevenir  o 

surgimento  de  comportamentos  nocivos?  A  questão  aqui  seria  como  podemos  educar  alguém  para  que  consiga  desenvolver  a  resistência  ao  mal?  A  adquirir  os  instrumentos  mentais que protejam sua moral e que a apoiem na escolha do caminho da virtude uma  vez  que  somos  educados  em  uma  sociedade  onde  este  comportamento  não  é  estimulado?  Não  dizemos  aqui  que  o  herói,  que  a  constante  luta  contra  os  desejos  em 

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prol da razão, seja em si a solução derradeira, todavia é a que mais se aproxima como dito  por  Zimbardo  de  superar  os  problemas  que  a  vulnerabilidade  humana  natural  tem  ao  encontrar‐se com o aspecto situacional.   

Isso  nos  leva  a  segunda  pergunta:  Onde,  ou  seja,  em  que  meios  podemos 

desenvolver este tipo de comportamento? Obviamente em toda a sociedade, porém um  bom  local  para  começarmos  seria  na  escola.  Levando  este  pensamento  um  pouco  mais  longe, temos a ideia do triângulo: família, sociedade, escola. A educação que se busca na  escola  é  preparatória  do  indivíduo  para  que  este  assuma  seu  papel  na  sociedade.  No  entanto, a mesma escola é, como dito anteriormente, um espelho desta sociedade, o que  acarreta que o mesmo comportamento que se deseja prevenir acaba presente durante o  processo  de  aprendizagem,  trazido  pelo  alunos  e  sua  convivência  familiar/social  ou  até  mesmo (e não raramente) pelos professores que ali estão.   

Sem  dúvida,  o  primeiro  passo  para  uma  educação  que  previna  o  mal  seria  a 

compreensão primeira da própria vulnerabilidade humana do indivíduo. A questão então  é como criar condições para este saber e perceber‐se como um ser limitado, vulnerável,  que  pode  vitimar‐se  por  inúmeras  situações  da  vida  faz  com  que  o  homem  tenha  uma  visão diferente de mundo. No caso do professor, este em muitos momentos pode tender  a  acreditar  que  possui  uma  moral  acima  dos  homens  comuns,  como  Zimbardo  (2012)  exemplifica  que  tendemos  a  olhar  as  estrelas  ao  invés  do  chão  em  que  pisamos,  buscamos  ver  um  todo  muito  maior  mas  não  nos  concentramos  em  coisas  menores,  como  nossas  próprias  ações.  Acredita  nisto  (o  professor)  pois  nós  (a  sociedade)  ao  lhe  darmos o papel de educador, também lhe damos a prerrogativa de dizer às crianças o que  é certo e o que é errado. Logo, com o passar do tempo este docente começa a acreditar  que realmente é um juiz do que pode ser dito como certo e errado, uma ilusão pessoal  que pode criar um terrível desenvolvimento do trabalho pedagógico. Como antes dito, o  professor pode acreditar possuir um escudo moral que o impede de ter atitudes ruins.   

Em  segundo  lugar,  trata‐se  de  lutar  contra  o  que  pode  ser  considerado  o  maior 

vilão do processo, a não humanização. Perder a capacidade de ver o próximo como um  ser humano é com certeza o primeiro passo para o início de comportamentos malignos.  Não fazemos algo a alguém se temos alguma consideração para com essa pessoa, um pai 

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que  ame  seu  filho  nunca  irá  feri‐lo,  todavia  o  mesmo  pai  se  não  conseguir  ver  seu  filho  como  um  ser  humano,  como  um  igual,  não  teria  motivo  para  numa  situação  específica  não  lhe  fazer  o  mal.  Uma  tarefa  difícil  é  trabalhar  contra  a  não  humanização  em  uma  sociedade que tem como centro um capitalismo agressivo em que homens são tratados  como “capital humano”. Nessas circunstâncias, em que seu valor é dado pelo quanto de  lucro pode produzir e não por suas características pessoais, a justiça que consta no senso  comum  e  na  moralidade  está  longe  da  realidade  da  escola.  Esta  tende  hoje  a  excluir  e  classificar  o  aluno  por  uma  nota  ou  parecer,  o  que  dificulta  desenvolver  o  papel  de  ser  uma instituição “que faz justiça social – é aquela que, sem degenerar, inclui, não exclui e  qualifica as novas gerações. É aquela que lida com a heterogeneidades, as respeita e leva  a  aprendizagens  eficazes.”  (GATTI,  2013,  p.  53).  É  necessário  compreender  o  papel  do  elemento situacional para a formação do jovem e não criar um elemento situacional que o  “force”  a  adaptar‐se  aquela  situação  indo  ao  encontro  de  possíveis  comportamentos  indesejáveis,  onde  ao  invés  de  fazer  com  que  o  jovem  aproprie‐se  de  ferramentas  de  defesa  moral  estamos  estimulando‐o  a  adaptar‐se  às  situações  em  que  estiver  exposto  (não  que  isto  não  seja importante,  é  de  suma  importância),  porém  sem  os  mecanismos  citados  anteriormente  como  será  a  adaptação  à  situação?  Compreender  que  este  aluno  ainda não possui ferramentas psíquicas de defesa moral e que estando inserido dentro de  um poder situacional e sistêmico o onde será eventualmente influenciado é, quem sabe, o  primeiro passo para uma educação que realmente o capacite a lidar com as mais diversas  situações as quais será confrontado durante sua vida adulta.   

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS   

O bem e o mal são inerentes à natureza do homem e a vulnerabilidade deste em 

relação  a  sua  própria  existência  o  coloca  facilmente  em  situações  onde  não  sabe  qual  caminho  seguir  e  qual  atitude  tomar.  Nestes  casos,  o  meio  e  o  grupo  o  influenciam  a  tomar decisões e praticar ações que podem ser boas ou más. O que pode fazer com que  este  homem  vulnerável  em  sua  essência  consiga  seguir  um  caminho  moral  aceitável  é  seguindo os preceitos de uma vida de virtude, onde a razão seja sua guia. Todavia estes  preceitos  devem  ser  adquiridos  através  da  obtenção  de  instrumentos  mentais  que 

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O ASPECTO SITUACIONAL DA MALDADE HUMANA A INFLUÊNCIA DO AMBIENTE SOBRE O HOMEM E O  PAPEL DA EDUCAÇÃO   Leandro Alberto Piangers ‐ João Rodrigo Zancanaro ‐ Patrícia Carla Barazetti 

tornem este homem imune à influência sistêmica/situacional que o convívio em sociedade  lhe  traz.  Para  isso  é  de  suma  importância  a  presença  de  um  guia  por  este  caminho  de  aprendizagem,  que  em  nossa  sociedade  tem  uma  de  suas  personificações  na  figura  do  professor  e  em  um  dos  espaços  que  é  a  escola,  o  que  de  forma  algum  exime  a  responsabilidade formativa da família.   

Este é um caminho que vai na contramão da sociedade atual. Acomodada com o 

consumismo e o com a necessidade imediatista de prazer por vezes irracional, cega a seus  próprios  problemas,  ignorando  sua  própria  natureza,  entrega‐se  aos  prazeres  da  vida  cotidiana,  assumindo  atitudes  onde  o  “doa  a  quem  doer”  opera  de  forma  quase  que  unânime.  O  homem  de  hoje  usa  o  próximo  para  alcançar  seus  objetivos  como  mero  instrumento descartável. A educação aqui é uma das chaves para mudança. Todos somos  responsáveis pela nossa própria formação e pela do próximo, pois enquanto vivos somos  exemplos  de  como  lutamos  contra  nossos  instintos  irracionais  provindos  de  nossa  natureza falha ou se nos entregarmos a eles.     

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS  AGOSTINHO, Santo. O livre‐arbítrio. São Paulo: Paulus, 1995.    APPIAH, Kwame Anthony. Experimento de Ética. Buenos Aires: Katz Editores, 2010.    CALLEGARO.  Ronaldo.  A  doutrina  do  Mal  em  Santo  Tomás  de  Aquino.  Disponível  em:  http://www.marilia.unesp.br/Home/RevistasEletronicas/FILOGENESE//RonaldoCallegaro(6 6‐75).pdf Acesso: setembro 2013.    DERRIDA,J. Estados da Alma da Psicanálise. O impossível além de uma soberana crueldade.  São Paulo: Escuta, 2001.    DIVERSOS AUTORES. A Bíblia Sagrada. São Paulo: Paulus, 1996.    FOUCALT,M. Vigiar e Punir. Editora Vozes, 23º edição, 2000, Petrópolis    GATTI,  Bernardete  A.  Educação,  escola  e  formação  de  professores:  políticas  e  impasses.  Educar em Revista, Curitiba, Brasil, n. 50, p. 51‐67, out./dez. 2013. Editora UFPR   

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                               

 

 

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O ASPECTO SITUACIONAL DA MALDADE HUMANA A INFLUÊNCIA DO AMBIENTE SOBRE O HOMEM E O  PAPEL DA EDUCAÇÃO   Leandro Alberto Piangers ‐ João Rodrigo Zancanaro ‐ Patrícia Carla Barazetti 

HEIDER, F. The Psycology of interpersonal relations. New York: John Wiley & Sons, 1958.    MARIN, I.S.K. Violências. São Paulo: Escuta, 2002.     MORA, José Ferrater. Diccionario de Filosofía: Tomo III. Barcelona: Ariel, 1994.    ROSENFIELD, Denis L. Filosofia Política & Natureza Humana. Porto Alegre: L&PM, 1990.    VYGOTSKY,  L.S.    Obras  Escogidas:  problemas  de  psicologia  geral.  Gráficas  Rogar.  Fuenlabrada. Madrid, 1982..    ZIMBARDO, Philip. O Efeito Lúcifer. Rio de Janeiro: Record, 2012.         

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