O ASPECTO SITUACIONAL DA MALDADE HUMANA A INFLUÊNCIA DO AMBIENTE SOBRE O HOMEM E O PAPEL DA EDUCAÇÃO Resumo O presente artigo discute o comportamento balizado pelo aspecto situacional da maldade humana levantado pelo autor norte americano Philip Zimbardo. Por este aspecto, as ações humanas podem ser condicionadas por aspectos situacionais levando pessoas ditas como comuns a tomarem atitudes extremas e até desumanas. Considerando este estudo levantam‐se aqui questionamentos de como tal aspecto pode ser tratado e usado na educação, qual a figura do professor e os problemas que envolvem esta prática Palavras‐chave: Aspecto situacional, comportamento, educação, professor.
Leandro Alberto Piangers
[email protected] João Rodrigo Zancanaro
[email protected] Patrícia Carla Barazetti
[email protected]
X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.
p.1
X Anped Sul
O ASPECTO SITUACIONAL DA MALDADE HUMANA A INFLUÊNCIA DO AMBIENTE SOBRE O HOMEM E O PAPEL DA EDUCAÇÃO Leandro Alberto Piangers ‐ João Rodrigo Zancanaro ‐ Patrícia Carla Barazetti
Depois Javé Deus disse: “O homem se tornou como um de nós, conhecedor do bem e do mal. Que ele, agora, não estenda a mão e colha também da árvore da vida, e coma, e viva para sempre”. (GENESIS, 3:22)
1 INTRODUÇÃO O presente artigo faz uma análise a partir de um recorte do trabalho do psicólogo norte americano Philip Zimbardo e sua teoria sobre o comportamento humano em relação ao aspecto situacional onde o indivíduo está inserido ou o aqui chamado aspecto situacional da maldade humana. Esta análise tenta demonstrar que para o autor, o bem e o mal estão além da postura essencialista tradicional da filosofia e de vertentes da psicologia sendo que aspectos externos podem influenciar ações de todos os tipos e proporções.
Philip Zimbardo1 a partir das análises do seu famoso estudo sobre a “Prisão de
Standford”, que mais tarde foi descrito minuciosamente no livro O Efeito Lúcifer2, nos mostra até que ponto um ser humano comum pode transformar‐se, adotando um comportamento vil e até mesmo desumano. O experimento de Standford foi um estudo psicológico onde indivíduos teriam seu comportamento analisado pelas relações, interações e pressões do grupo onde estivessem inseridos. A equipe de Zimbardo ofereceu através de anúncio em jornal de grande circulação o valor de U$ 15,00/dia para que candidatos se sujeitassem a duas semanas vivendo em um ambiente que simulava uma prisão real. Foram selecionados 24 indivíduos, maioria branca, estudantes, de classe média, considerados pela triagem com as melhores condições psicológicas e legais (sem problemas aparentes, sem passagens pela prisão). Uma vez separados em dois grupos, assumiram papéis de guardas e prisioneiros tendo seus pertences recolhidos e em substituição a estes recebidas novas vestimentas. Para os guardas roupas padrão, cassetetes e óculos escuros espelhados. Os “prisioneiros” por sua vez receberam roupas próprias de prisão e seus nomes foram substituídos por números que foram costurados em suas roupas. 1
Philip Zimbardo (1933) é um psicólogo, professor emérito da Universidade de Standford, conhecido principalmente pelo seu estudo: Standford Prision Study. 2 Em inglês: The Lucifer Effect: Understanding How Good People Turn Evil
X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.
p.2
X Anped Sul
O ASPECTO SITUACIONAL DA MALDADE HUMANA A INFLUÊNCIA DO AMBIENTE SOBRE O HOMEM E O PAPEL DA EDUCAÇÃO Leandro Alberto Piangers ‐ João Rodrigo Zancanaro ‐ Patrícia Carla Barazetti
Os guardas foram proibidos de utilizar agressão física direta, mas liberados para o
uso de quaisquer outros artifícios que viessem a ser necessários para obtenção da ordem. Logo após o início do experimento surgiram comportamentos sádicos por parte dos guardas. Atos de humilhação física, moral, violência psicológica e até sexual obrigaram o experimento, que anteriormente deveria durar por duas semanas, a ser interrompido ao final da primeira. A surpresa por parte dos pesquisadores envolvidos estava no fato de que os escolhidos não tinham nenhuma tendência violenta detectada durante a seleção. Os mesmos não tinham histórico de sadismo ou crueldade. Então, como pessoas ditas como comuns, de “bem”, a partir de um simples “teatro” tornaram‐se malignas, capazes de crueldades desproporcionais? Assim, o que define como será o comportamento do homem: A sua escolha, o sistema onde está inserido ou a situação? Uma situação por si só justifica qualquer tipo de comportamento? É impossível resistir as tentações? Como este conhecimento poderia ser utilizado na educação das crianças? Na primeira parte deste texto resgata‐se brevemente a ideia essencialista do bem e do mal e as três teorias do poder sobre o indivíduo. Após, analisa‐se a teoria do poder situacional de Zimbardo em comparação a de Appiah. Por fim, faz‐se uma abordagem de como o conhecimento sobre o aspecto situacional pode ser usado pela escola na formação dos jovens e quais conceitos podem ajudar neste processo a partir deste pensamento.
2 ESSENCIALISMO E OS TRÊS PODERES O que seria o bem e o mal, o certo e o errado? Por um tempo a humanidade cresceu à sombra destes preceitos considerando que essencialmente os homens eram bons ou maus. Conforme Zimbardo (2012) isso ocorreu por não compreenderem que no fim a linha entre os dois é muito tênue e que na realidade existem muito mais tons de cinza no comportamento humano do que o preto e branco que o folclore popular afirma. Porém ainda para o autor esta dicotomia adotada entre o bem e o mal “permite que “boas pessoas” se eximam de sua responsabilidade” (ZIMBARDO, 2012, p. 26). Para tentar compreender isso devemos perceber como funciona cada uma destas noções. Em primeiro lugar, vejamos o bem, considerado por muitos como o objetivo do homem, o
X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.
p.3
X Anped Sul
O ASPECTO SITUACIONAL DA MALDADE HUMANA A INFLUÊNCIA DO AMBIENTE SOBRE O HOMEM E O PAPEL DA EDUCAÇÃO Leandro Alberto Piangers ‐ João Rodrigo Zancanaro ‐ Patrícia Carla Barazetti
que o aproxima de Deus (aqui utilizaremos o aspecto levantado pela doutrina cristã, que está mais próximo a nossa realidade), o sentido da própria existência. De acordo com esta perspectiva, é viver uma vida de harmonia e respeito ao próximo, onde a simples ideia de causar sofrimento traz dor a quem lhe concebe e a alteridade, a retidão e o auto sacrifício são as bases do comportamento do indivíduo. Assim, o mal seria o inverso de tudo isso.
O mal por sua vez, é retratado de várias formas, por vários crédulos, tendo sua
existência seguidamente registrada, verificada e comprovada nas ações de indivíduos e grupos sociais (tanto quanto o bem). A Teologia busca explicar a existência do mal em um mundo criado por um Deus definido como bom, justo, onipotente, onisciente e onipresente3: O mal é aqui simultaneamente um problema filosófico e teológico. Logo, ele não é apenas entendido como “mal moral”, do qual o “pecado” ou a “transgressão de leis morais” seriam expressões, mas ele envolve o que se compreende por “perfeição”, por “sofrimento”, na ordem do corpo e, de uma maneira mais geral, por uma concepção finalizada do universo. (ROSENFIELD, 1990, p.12)
Rosenfield (1990), baseando‐se nas ideias de Leibniz, concentra‐se na finalidade do
mal onde, segundo sua análise, este e a maldade gerada pela sua ação seriam na verdade instrumentos utilizados no plano divino (que é oculto) para a humanidade. Assim, o mal que primeiro é extrínseco, em seguido converte‐se numa escolha do homem (pecado) que utilizando de seu livre arbítrio opta para si a maldade como forma de agir ao invés do bem. Santo Agostinho trouxe uma nova luz ao assunto ao teorizar que na verdade o bem e o mal são inerentes do ser humano, não tendo sua origem fora e sim estando dentro de cada homem desde o princípio, o qual tem a possibilidade de escolher a qual deles irá recorrer nos diversos momentos de sua vida.
Zimbardo (2012) refere que conheceu durante sua vida algumas pessoas
consideradas aparentemente boas, mas que acabaram fazendo coisas más, ainda o mal para ele “consiste em se comportar de maneiras que agridam, abusem, humilhem, 3
O ramo da teologia e da filosofia que estuda o problema do mal é a Teodicéia. Este termo foi criado por Gottfried Wilhelm Leibniz, filósofo alemão (1646‐1716)
X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.
p.4
X Anped Sul
O ASPECTO SITUACIONAL DA MALDADE HUMANA A INFLUÊNCIA DO AMBIENTE SOBRE O HOMEM E O PAPEL DA EDUCAÇÃO Leandro Alberto Piangers ‐ João Rodrigo Zancanaro ‐ Patrícia Carla Barazetti
desumanizem ou destruam inocentes – ou em utilizar a própria autoridade e poder sistêmicos para encorajar ou permitir que outros o façam em seu nome” (ZIMBARDO, 2012, p. 24). Para o autor, isso acaba levantando o questionamento de quão bem nos conhecemos ao ponto de prevermos como seria nosso comportamento em uma situação específica. Segundo Zimbardo, o poder das variáveis contidas em uma determinada situação pode dominar a vontade de um indivíduo, fazendo com que este tenha comportamentos irreconhecíveis. Dessa forma o autor menciona três princípios que podem dominar a vontade do homem, sendo o poder constitucional, o poder situacional e o poder sistêmico. O poder constitucional baseia‐se na ideia essencialista de que o homem não é influenciado pelo meio, ele é o que é, exemplificado pelo autor na ideia de que sementes ruins são vistas como geradoras de frutos ruins. Assim este modelo busca explicar uma ação através do sujeito que a executou, ignorando quaisquer outros fatores. O poder sistêmico é o sistema onde o indivíduo está inserido, como por exemplo, o sistema capitalista que eventualmente cria diferenças sociais extremas entre as classes, o que impele alguns indivíduos a buscar através do crime o que não conseguem através do trabalho, assim sistematicamente toda a forma de agir de um indivíduo é moldada pelo sistema onde se encontra, um procedimento de longo prazo. Por fim, o poder situacional, que é por si só momentâneo, se explicita por uma necessidade adaptativa de um indivíduo que altera sua forma de agir, sendo influenciado pelo ambiente e/ou situação em que estiver envolvido em um determinado momento.
O experimento do Presídio de Stanford apresentava o indelével e muitas vezes
imperceptível poder do ambiente sobre as pessoas revelando as influências do contexto sobre o comportamento humano, das situações sobre os mecanismos internos e a coletividade sobre a individualidade. Para Zimbardo (2012), o funcionamento opressor das instituições totais, como é o caso das prisões, serve como uma ilustração do poder de forças sistêmicas e situacionais sobre uma sensação de invulnerabilidade de caráter. Desta forma, a toxidade dos sistemas transgrediria a suposta bondade dos sujeitos, fazendo com que se comportassem de maneira oposta a sua própria natureza, tida até então como “boa”.
X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.
p.5
X Anped Sul
O ASPECTO SITUACIONAL DA MALDADE HUMANA A INFLUÊNCIA DO AMBIENTE SOBRE O HOMEM E O PAPEL DA EDUCAÇÃO Leandro Alberto Piangers ‐ João Rodrigo Zancanaro ‐ Patrícia Carla Barazetti
Zimbardo revelou, com seu estudo em Stanford, que muitas vezes a situação é
mais importante do que a personalidade individual como determinante de comportamento. No caso do estudo, os guardas uniformizados ajudaram a construir uma autoridade inquestionável e os presos a legitimaram através da aceitação passiva, alertando‐nos a respeito da tênue linha imaginária que traçamos a respeito de nós mesmos enquanto pessoas de bom caráter capazes de executar a maldade.
Zimbardo (2012) inicia o capítulo I do Efeito Lúcifer apresentando uma imagem de
M.C. Escher4. Também convoca a pensar sobre como o bem e o mal estão presentes em cada um de nós.
Figura 1 A ilusão de anjos e demônios de M. C. Escher ‐ Fonte: O Efeito Lúcifer
Ainda, levanta, o que ele chama de três verdades sobre as características da psique
humana e afirma: 4
Na imagem podemos ver um efeito ótico onde em uma primeira vista vemos demônios (ou anjos) mas se mudarmos a forma de ver o contraste da figura, poderão ser vistos anjos (ou demônios).
X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.
p.6
X Anped Sul
O ASPECTO SITUACIONAL DA MALDADE HUMANA A INFLUÊNCIA DO AMBIENTE SOBRE O HOMEM E O PAPEL DA EDUCAÇÃO Leandro Alberto Piangers ‐ João Rodrigo Zancanaro ‐ Patrícia Carla Barazetti
Três verdades psicológicas emergem da imagem de Escher. Primeiro, o mundo está repleto de bem e mal – esteve, está e sempre estará. Segundo lugar, a barreira entre o bem e o mal é permeável e nebulosa. E terceiro, é possível que os anjos se tornem demônios e, talvez mais difíceis de conceber, por demônios para se transformem em anjos. (ZIMBARDO, 2012, p. 21).
Em um apanhado bíblico, Zimardo discorre acerca da estória da criação do “rei” do
inferno Lúcifer, o anjo portador da luz, se transformaria em Satã o grande adversário de Deus. No entanto, na continuidade da narrativa, o autor “traz a lume” outra metamorfose: Contudo, o estadista de Satanás, Belzebu, sugere com a mais maligna das soluções ao propor que se vingue de Deus por corrompendo a sua maior criação, a raça humana. Embora Satã tenha sido bem sucedido ao tentação de Adão e Eva a desobedecerem a Deus, conduzindo‐os para o mal, Deus decreta que com o tempo eles serão salvos. Até lá, no entanto, será permitido a Satã controlar essa imposição, aliciando bruxas para que atraiam pessoas para o mal. Os intermediários de Satã seriam, depois disso, alvo de zelosos inquisidores que objetivam livrar o mundo do mal; seus terríveis métodos, porém, gerariam uma nova forma de mal sistêmico que o mundo nunca vira. (ZIMBARDO, 2012, p.22).
Os conceitos de Deus e do diabo, estão para a cultura cristã como sinônimos de
bem e mal em uma postura totalmente essencialista. Entretanto ao analisarmos o trecho acima, podemos ver que no momento que Deus (o bem), permite que Satã (o mal) alicie os seres humanos; este Deus permite que as pessoas sejam presas, torturadas, julgadas, condenadas e queimadas vivas pela santa inquisição. O Deus que criou o homem à sua imagem e semelhança também é mal? Obviamente que seguindo a tradição cristã seria impossível ligar o mau a Deus, já que para esta cultura ele seria o máximo da bondade, o símbolo final do que é bom e justo. Logo para explicarmos isso é possível seguir os pensamentos de Santo Agostinho, quando diz que o bem e o mal são na verdade uma escolha, baseada no livre arbítrio. Logo o mal nada mais é nesse contexto do que a ausência do bem. Em sua ideia do mal, em termos gradualistas, Zimbardo (2012) acredita que o mal poderia aparecer em formas mais atenuadas e, por fim, também dependeria das circunstâncias. Abandonando o questionamento no indivíduo como “quem é o
X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.
p.7
X Anped Sul
O ASPECTO SITUACIONAL DA MALDADE HUMANA A INFLUÊNCIA DO AMBIENTE SOBRE O HOMEM E O PAPEL DA EDUCAÇÃO Leandro Alberto Piangers ‐ João Rodrigo Zancanaro ‐ Patrícia Carla Barazetti
responsável?” Em relação a certos crimes, passa a trabalhar com outro tipo de questionamento: “Quais circunstâncias podem estar envolvidas na criação desse comportamento?”, “O que é a situação na perspectiva dos autores?”, “Em que medida as ações individuais podem originar além de seu autor, em variáveis situacionais e processos ambientais únicos que culminem em uma dada situação?”. Ou seja, qual a influência do meio no comportamento do agente que cria uma situação?
3. A LINHA TÊNUE ENTRE O BEM E O MAL – O PODER SITUACIONAL
Para Zimbardo (2012), alguns processos psicológicos influenciam nessa
transformação dos indivíduos dentro do aspecto situacional. Por primeiro a desumanização, que seria central em seu estudo, é um estado onde o indivíduo não vê mais o sujeito como um igual humano. Algumas pessoas acabam percebendo que o indivíduo a sua frente nada mais é que um ser inferior, merecedor de castigo, dor e aniquilação. Esse fato é exemplificado no livro O Efeito Lúcifer com o depoimento do autor acerca de uma investigação de uso de tortura na prisão americana de Abu Ghraib5. Com o trabalho do autor podemos perceber que todos são passíveis de mudanças de caráter se colocados num ambiente propício a isso. Na tentativa de se adaptar ao local ou pelo instinto de sobrevivência alguns tendem a concordar com as ações do grupo no qual estão inseridos. Estas ações e suas variáveis, por mais sutis que sejam, podem levar uma boa pessoa a cometer atrocidades. Porém, a maioria dos sujeitos pensa que atitudes assim nunca lhes ocorreria, a isso Zimbardo (2012) explica: “A maioria de nós se esconde por trás de inclinações egocêntricas que provocam ilusões de que somos especiais. Esse escudo autoprotetor nos permite pensar que todos nós estaríamos acima da média em um teste de integridade.” (ZIMBARDO, 2012, p.24). É possível afirmar que alguns homens, devido a forma que vivem em sociedade, nunca encontrarão situações onde essa integridade será realmente testada. Mas, se percebermos os ideais transmitidos através dos meios midiáticos atuais os ajustes 5
Prisão no Iraque construída pelos britânicos e atualmente utilizada pelos americanos, alvo de reportagens e denúncias de torturas físicas e psicológicas feitas pelos soldados dos Estados Unidos para com prisioneiros iraquianos durante e após a invasão ao Iraque.
X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.
p.8
X Anped Sul
O ASPECTO SITUACIONAL DA MALDADE HUMANA A INFLUÊNCIA DO AMBIENTE SOBRE O HOMEM E O PAPEL DA EDUCAÇÃO Leandro Alberto Piangers ‐ João Rodrigo Zancanaro ‐ Patrícia Carla Barazetti
comportamentais condiciondos ao grupo que Zimbardo fala, não parecem distantes. Exemplo disso é a propaganda americana da guerra ao terror que justifica a invasão, morte e atrocidades a milhares de outras pessoas. O preconceito de classe, gênero, cor e sexualidade presentes na sociedade atual, também são exemplos que nos mostram que nossa falsa integridade sempre está à mercê de influências, e eventualmente com a pressão certa, mesmo seu vizinho poderá se tornar seu inimigo mortal, batendo à sua porta durante a noite para cometer contra sua família, as mesmas atrocidades que comodamente você ignora quando ocorrem em locais distantes de sua vida, perdidas em algum um país distante6. Tudo depende da pressão do grupo e das circunstâncias. A trajetória dos povos encontra‐se permeada por momentos históricos de transição de aspectos de comportamento social, porém é inerente ao sujeito componentes que se contrapõe, como o amor e o ódio, o bem e o mal, a bondade e a crueldade. Desde a ascensão do cristianismo, onde na maioria mulheres e em minoria homens, deficientes físicos e com pouca influência social, eram queimados vivos em fogueiras, ou na idade média em que eram comuns execuções em praça pública, até as execuções em massa na atualidade, a crueldade dos povos segue a perpetuar o domínio pelo medo. Das modificações sociais onde o espetáculo de crueldade ocupava espaço público às instituições totais, a crueldade parece amadurecer‐se requintada em suas formas e métodos. Seriam, desta forma, as instituições totais ferramentas políticas de instrumentalização da crueldade? Seriam os massacres em massa expressão socialmente aceitável, em que a crueldade do eu ganha forma na manifestação do grupo, e desta forma torna‐se socialmente tolerável? Ou é apenas uma questão da situação momentânea? Nem mesmo as modificações sociais que ocorreram neste espaço temporal, tornam o sujeito menos cruel, ou mune às influencias da crueldade social, que é refletida na atualidade. 6
Um exemplo desta postura “indiferente” está nas evidências históricas que envolvem crimes cruéis contra a humanidade são incontáveis e incontestáveis. Zimbardo (2012) nos remete ao exemplo, não menos relevante em tempos atuais, em que se torna possível questionar a civilidade do sujeito e do entorno social em que está inserido, quando no berço da civilização tida na época como a mais requintada em termos de filosofia, jurisprudência e arte o não menos cruel comandante Agamenon, determina a seus homens que não fosse deixado um único troiano vivo, acabando até mesmo com os que ainda habitavam o útero de suas mães.
X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.
p.9
X Anped Sul
O ASPECTO SITUACIONAL DA MALDADE HUMANA A INFLUÊNCIA DO AMBIENTE SOBRE O HOMEM E O PAPEL DA EDUCAÇÃO Leandro Alberto Piangers ‐ João Rodrigo Zancanaro ‐ Patrícia Carla Barazetti
Na teoria situacional aqui apresentada nem mesmo questões ambientais mais simples devem ser postas de lado, até mesmo a possibilidade de contaminação por chumbo oriundo da tinta que descascas das paredes em casas de pessoas pobres pode ser um exemplo claro de como o ambiente pode modificar a ação do homem7. Ou seja, quando se fala em ambiente, não é apenas o ambiente das relações sociais, mas também o espaço físico que está em questão. O ambiente e o sistema tomam status de grande importância e neste contexto há uma relação de poder. Na relação de poder, o autor ainda refere o mal uso do mesmo e como essas pessoas que fazem este mal uso são consideradas minorias pelo sistema. Desse modo, ignora‐se o fato de que as instituições que exercem o poder poderiam estar “poderes” e, por conta disso, seria um meio facilitador para o “aparecimento” ou mudança do bem para o mal no indivíduo. Kwame Anthony Appiah8 traz uma visão semelhante para explicar as formas de agir do homem, suas atitudes em relação a sua ética pessoal e as experiências que vivencia. O autor cita a escritora Lydia Davis9 que em um de seus contos descreve sobre a convivência com um homem que em vários momentos é brincalhão, sério, irado e paciente. Ainda Davis fala de como é difícil detestar esse homem irado que ao mesmo tempo é um homem calmo e paciente. Para Appiah, esse pequeno trecho do trabalho de Lydia mostra como uma mesma pessoa possui diversas outras facetas (comportamentos) dentro de si, que operam sequencialmente senão simultâneamente. Appiah argumenta que esse homem que Davis menciona é na verdade cada um de nós, vivendo existências cotidianas, tendo problemas e convivendo em sociedade.
A “teoria da atribuição” é mencionada como uma tese que indica que possuímos a
inclinação de supor que as ações dos indivíduos refletem seu caráter subjacente, mesmo que, o alvo do estudo esteja encenando uma ação10. Appiah cita também a teoria do 7
Zimbardo usa o exemplo de uma criança de família pobre que possui problemas de aprendizado, sendo tratada por médicos, mas que após uma pesquisa descobre‐se que seu problema derivava de uma contaminação pela ingestão de tinta com alto teor de chumbo que descascava da parede de sua casa. 8 Kwame Anthony Appiah, filósofo e escritor, nascido em 1954. 9 Lydia Davis é uma escritora norte‐americana nascida em 1947. 10 “A Teoria da Atribuição foi proposta para formular explicações para os modos diferentes pelos quais julgamos as pessoas, dependendo do significado que atribuímos a um determinado comportamento.” (Robbins, 1999, p.321). Através desta o indivíduo que julga a ação de outro sujeito analisa baseado em parâmetros que englobam causas internas e externas (onde o sujeito que faz a ação a faz por por
X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.
p.10
X Anped Sul
O ASPECTO SITUACIONAL DA MALDADE HUMANA A INFLUÊNCIA DO AMBIENTE SOBRE O HOMEM E O PAPEL DA EDUCAÇÃO Leandro Alberto Piangers ‐ João Rodrigo Zancanaro ‐ Patrícia Carla Barazetti
“erro fundamental de atribuição”, onde acabamos por valorar o que conhecemos pelo caráter do autor de uma ação e não pela circunstância e/ou fatores sociais que eventualmente tiveram influência direta naquele ato. O autor explica que isso ocorre pois existe a tendência de ignorar os fatos e as variáveis que consideramos insignificantes. Porém, o fato de que uma situação pode ou não influenciar um indivíduo, não exime este da culpa pelos seus atos. Para Appiah (2010), mesmo que neguemos, nossas ações são influenciadas por fatores externos, tendo nosso caráter um peso menor do que os filósofos da moral acreditavam. Em consequência, nossas escolhas e ações podem muito bem ser frutos de variáveis completamente insignificantes em uma primeira vista. Como o autor mesmo indica, esses pontos irrelevantes podem abrir espaço para diversas novas teorias a respeito do comportamento humano.
Porém, mesmo em situações terríveis, alguns indivíduos conseguem manter sua
conduta moral intacta. Para Zimbardo (2012) isso não tem ligação com alguma habilidade herdada, mas sim com uma apropriação (mesmo que inconsciente) de mecanismos e táticas mentais de defesa moral. Tais pessoas poderiam ser chamadas eventualmente de heróis (fato mencionado pelo autor).
O herói é um arquétipo – usando aqui a
conceituação filosófica do mesmo e não a psicológica –, é um modelo que aproxima o homem ao ideal humano do bem, muitas vezes em seu mito original ligado até mesmo a uma divindade (muitos dos heróis gregos eram mestiços de homens com deuses), sendo uma figura semidivina. O herói é a catarse de tudo o que os humanos desejam para si mesmos, como o bem, a força, a coragem, que superam o mal, a fraqueza e a covardia. Como uma figura humana o herói é acima de tudo uma referência à alguma pessoa que em condição extremada, onde qualquer “mero mortal” agiria de uma forma por muitos considerada imoral, imprópria ou desonrosa – mas justificada pela situação –, assume as consequências e enfrenta suas limitações em busca de uma solução ao ideal do que é considerado bom, justo e moral. O mesmo é a materialização em carne do princípio da alteridade, onde justiça, honra e benevolência são seu modus operandi. O que importa ser ressaltado nesse modelo de homem é que o mesmo escolhe ser assim, mesmo tendo escolha própria “interna” ou pela situação onde está inserido “externa”). Ainda para Heider (1958) o homem busca atribuir explicações para os acontecimentos que o envolve.
X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.
p.11
X Anped Sul
O ASPECTO SITUACIONAL DA MALDADE HUMANA A INFLUÊNCIA DO AMBIENTE SOBRE O HOMEM E O PAPEL DA EDUCAÇÃO Leandro Alberto Piangers ‐ João Rodrigo Zancanaro ‐ Patrícia Carla Barazetti
diversas outras possibilidades mais “fáceis” de ação à sua disposição; porém age de uma maneira “heroica” mesmo quando isso lhe acarreta prejuízo. Esta escolha pelo auto sacrificio, a princípio, poderia ser vista como algo simples de ser feito e ensinado; todavia torna‐se praticamente impossível de ser executada por alguém que não conseguiu desenvolver (ou apropriar‐se) durante sua vida dos mecanismo psíquicos necessários. Pessoas que, como Zimbardo menciona, acreditam piamente que seu comportamento será sempre o melhor possível e que não enfrentariam dilemas morais, de modo a serem obrigadas a treinar estas capacidades mentais, podem sim estar sujeitas a se transformarem no que podemos chamar de “vilões” em determinados momentos.
Assim, o aspecto situacional define‐se como um conjunto de variáveis relacionadas
ao momento e local/ambiente onde um indivíduo se encontra e que podem influenciar o sujeito a alterar seu comportamento ou tomar atitudes (de um grupo talvez) que em uma situação dita como “usual” o mesmo não faria. Nesse caso, tudo depende do local, da situação, do grupo, do indivíduo e de suas capacidades de “resistência”.
4. A EDUCAÇÃO ATRAVÉS DA SITUAÇÃO
Consideremos dois fatores aqui, o primeiro é que todos nós sem exclusões somos
bons e maus ao mesmo tempo e que o que define o comportamento vencedor é o livre arbítrio como afirma Santo Agostinho (1995). O segundo fator é que dependendo de onde estivermos, com que grupo e em qual situação que nos encontrarmos, nosso caráter pode ser influenciado e poderemos tomar certas atitudes que a maioria consideraria imoral e em seus devidos momentos até mesmo desumana – porém justificável para aquele momento. Seguindo o pensamento de Zimbardo (2012), em situações como esta a maioria irá sucumbir, porém alguns que se apoderaram de mecanismo de defesa moral conseguirão resistir.
Com as tentações as quais somos expostos diariamente, o caminho mais simples
para os problemas cotidianos nem sempre se mostra como o mais justo ou honesto. Aqui não se fala de crimes contra a humanidade ou atrocidades desumanas, mas de coisas mais simples – como diz o ditado popular, “o diabo está nos detalhes” –, coisas
X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.
p.12
X Anped Sul
O ASPECTO SITUACIONAL DA MALDADE HUMANA A INFLUÊNCIA DO AMBIENTE SOBRE O HOMEM E O PAPEL DA EDUCAÇÃO Leandro Alberto Piangers ‐ João Rodrigo Zancanaro ‐ Patrícia Carla Barazetti
pequenas, como tirar vantagem em situações comuns do cotidiano, fazer “vista grossa” à violações cometidas pelos outros ou até mesmo praticar o famigerado “jeitinho brasileiro”. Trata‐se, aparentemente de ações inofensivas, soluções simples, concessões que fazemos na vida cotidiana em sociedade, como levantado por Appiah (2010) quando fala de experimentos onde variáveis mínimas, como o cheiro de pão recém feito faz com que pessoas que saíram da padaria tenham atitudes mais cordiais do que as que caminham na rua. O problema em questão é que estas pequenas escolhas, podem se apresentar como porta de entrada para o surgimento de atitudes de grande malignidade.
Zimbardo não deixa claro em seu texto uma fórmula/receita para impedir que o
desenvolvimento do indivíduo culmine em um ser propenso a malfeitos dependendo da situação exposta, porém é possível verificarmos através das ideias de outros autores “possibilidades” que iluminem este caminho formativo. Tomemos como exemplo a abordagem vygotskyana, em que o homem é visto como alguém que transforma e é transformado nas relações que acontecem em uma determinada cultura. O que ocorre não é uma somatória entre fatores inatos e adquiridos e sim uma interação dialética que se dá, desde o nascimento, entre o ser humano e o meio social e cultural em que se insere. Assim, é possível constatar que o ponto de vista de Vygotsky é que o desenvolvimento humano é compreendido não como a decorrência de fatores isolados que amadurecem, nem simplesmente de fatores ambientais que agem sobre o organismo controlando seu comportamento, mas sim como produto de trocas recíprocas, que se estabelecem durante toda a vida, entre indivíduo e meio, cada aspecto influindo sobre o outro. Para Vygotsky (1982), o sujeito é ativo, ele age sobre o meio. Para ele, não há a "natureza humana", e "essência humana". Seriamos primeiro seres sociais e posteriormente nos individualizaríamos.
Mas então, como nos proteger desses defeitos e falhas morais e prevenir o
surgimento de comportamentos nocivos? A questão aqui seria como podemos educar alguém para que consiga desenvolver a resistência ao mal? A adquirir os instrumentos mentais que protejam sua moral e que a apoiem na escolha do caminho da virtude uma vez que somos educados em uma sociedade onde este comportamento não é estimulado? Não dizemos aqui que o herói, que a constante luta contra os desejos em
X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.
p.13
X Anped Sul
O ASPECTO SITUACIONAL DA MALDADE HUMANA A INFLUÊNCIA DO AMBIENTE SOBRE O HOMEM E O PAPEL DA EDUCAÇÃO Leandro Alberto Piangers ‐ João Rodrigo Zancanaro ‐ Patrícia Carla Barazetti
prol da razão, seja em si a solução derradeira, todavia é a que mais se aproxima como dito por Zimbardo de superar os problemas que a vulnerabilidade humana natural tem ao encontrar‐se com o aspecto situacional.
Isso nos leva a segunda pergunta: Onde, ou seja, em que meios podemos
desenvolver este tipo de comportamento? Obviamente em toda a sociedade, porém um bom local para começarmos seria na escola. Levando este pensamento um pouco mais longe, temos a ideia do triângulo: família, sociedade, escola. A educação que se busca na escola é preparatória do indivíduo para que este assuma seu papel na sociedade. No entanto, a mesma escola é, como dito anteriormente, um espelho desta sociedade, o que acarreta que o mesmo comportamento que se deseja prevenir acaba presente durante o processo de aprendizagem, trazido pelo alunos e sua convivência familiar/social ou até mesmo (e não raramente) pelos professores que ali estão.
Sem dúvida, o primeiro passo para uma educação que previna o mal seria a
compreensão primeira da própria vulnerabilidade humana do indivíduo. A questão então é como criar condições para este saber e perceber‐se como um ser limitado, vulnerável, que pode vitimar‐se por inúmeras situações da vida faz com que o homem tenha uma visão diferente de mundo. No caso do professor, este em muitos momentos pode tender a acreditar que possui uma moral acima dos homens comuns, como Zimbardo (2012) exemplifica que tendemos a olhar as estrelas ao invés do chão em que pisamos, buscamos ver um todo muito maior mas não nos concentramos em coisas menores, como nossas próprias ações. Acredita nisto (o professor) pois nós (a sociedade) ao lhe darmos o papel de educador, também lhe damos a prerrogativa de dizer às crianças o que é certo e o que é errado. Logo, com o passar do tempo este docente começa a acreditar que realmente é um juiz do que pode ser dito como certo e errado, uma ilusão pessoal que pode criar um terrível desenvolvimento do trabalho pedagógico. Como antes dito, o professor pode acreditar possuir um escudo moral que o impede de ter atitudes ruins.
Em segundo lugar, trata‐se de lutar contra o que pode ser considerado o maior
vilão do processo, a não humanização. Perder a capacidade de ver o próximo como um ser humano é com certeza o primeiro passo para o início de comportamentos malignos. Não fazemos algo a alguém se temos alguma consideração para com essa pessoa, um pai
X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.
p.14
X Anped Sul
O ASPECTO SITUACIONAL DA MALDADE HUMANA A INFLUÊNCIA DO AMBIENTE SOBRE O HOMEM E O PAPEL DA EDUCAÇÃO Leandro Alberto Piangers ‐ João Rodrigo Zancanaro ‐ Patrícia Carla Barazetti
que ame seu filho nunca irá feri‐lo, todavia o mesmo pai se não conseguir ver seu filho como um ser humano, como um igual, não teria motivo para numa situação específica não lhe fazer o mal. Uma tarefa difícil é trabalhar contra a não humanização em uma sociedade que tem como centro um capitalismo agressivo em que homens são tratados como “capital humano”. Nessas circunstâncias, em que seu valor é dado pelo quanto de lucro pode produzir e não por suas características pessoais, a justiça que consta no senso comum e na moralidade está longe da realidade da escola. Esta tende hoje a excluir e classificar o aluno por uma nota ou parecer, o que dificulta desenvolver o papel de ser uma instituição “que faz justiça social – é aquela que, sem degenerar, inclui, não exclui e qualifica as novas gerações. É aquela que lida com a heterogeneidades, as respeita e leva a aprendizagens eficazes.” (GATTI, 2013, p. 53). É necessário compreender o papel do elemento situacional para a formação do jovem e não criar um elemento situacional que o “force” a adaptar‐se aquela situação indo ao encontro de possíveis comportamentos indesejáveis, onde ao invés de fazer com que o jovem aproprie‐se de ferramentas de defesa moral estamos estimulando‐o a adaptar‐se às situações em que estiver exposto (não que isto não seja importante, é de suma importância), porém sem os mecanismos citados anteriormente como será a adaptação à situação? Compreender que este aluno ainda não possui ferramentas psíquicas de defesa moral e que estando inserido dentro de um poder situacional e sistêmico o onde será eventualmente influenciado é, quem sabe, o primeiro passo para uma educação que realmente o capacite a lidar com as mais diversas situações as quais será confrontado durante sua vida adulta.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O bem e o mal são inerentes à natureza do homem e a vulnerabilidade deste em
relação a sua própria existência o coloca facilmente em situações onde não sabe qual caminho seguir e qual atitude tomar. Nestes casos, o meio e o grupo o influenciam a tomar decisões e praticar ações que podem ser boas ou más. O que pode fazer com que este homem vulnerável em sua essência consiga seguir um caminho moral aceitável é seguindo os preceitos de uma vida de virtude, onde a razão seja sua guia. Todavia estes preceitos devem ser adquiridos através da obtenção de instrumentos mentais que
X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.
p.15
X Anped Sul
O ASPECTO SITUACIONAL DA MALDADE HUMANA A INFLUÊNCIA DO AMBIENTE SOBRE O HOMEM E O PAPEL DA EDUCAÇÃO Leandro Alberto Piangers ‐ João Rodrigo Zancanaro ‐ Patrícia Carla Barazetti
tornem este homem imune à influência sistêmica/situacional que o convívio em sociedade lhe traz. Para isso é de suma importância a presença de um guia por este caminho de aprendizagem, que em nossa sociedade tem uma de suas personificações na figura do professor e em um dos espaços que é a escola, o que de forma algum exime a responsabilidade formativa da família.
Este é um caminho que vai na contramão da sociedade atual. Acomodada com o
consumismo e o com a necessidade imediatista de prazer por vezes irracional, cega a seus próprios problemas, ignorando sua própria natureza, entrega‐se aos prazeres da vida cotidiana, assumindo atitudes onde o “doa a quem doer” opera de forma quase que unânime. O homem de hoje usa o próximo para alcançar seus objetivos como mero instrumento descartável. A educação aqui é uma das chaves para mudança. Todos somos responsáveis pela nossa própria formação e pela do próximo, pois enquanto vivos somos exemplos de como lutamos contra nossos instintos irracionais provindos de nossa natureza falha ou se nos entregarmos a eles.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS AGOSTINHO, Santo. O livre‐arbítrio. São Paulo: Paulus, 1995. APPIAH, Kwame Anthony. Experimento de Ética. Buenos Aires: Katz Editores, 2010. CALLEGARO. Ronaldo. A doutrina do Mal em Santo Tomás de Aquino. Disponível em: http://www.marilia.unesp.br/Home/RevistasEletronicas/FILOGENESE//RonaldoCallegaro(6 6‐75).pdf Acesso: setembro 2013. DERRIDA,J. Estados da Alma da Psicanálise. O impossível além de uma soberana crueldade. São Paulo: Escuta, 2001. DIVERSOS AUTORES. A Bíblia Sagrada. São Paulo: Paulus, 1996. FOUCALT,M. Vigiar e Punir. Editora Vozes, 23º edição, 2000, Petrópolis GATTI, Bernardete A. Educação, escola e formação de professores: políticas e impasses. Educar em Revista, Curitiba, Brasil, n. 50, p. 51‐67, out./dez. 2013. Editora UFPR
X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.
p.16
X Anped Sul
O ASPECTO SITUACIONAL DA MALDADE HUMANA A INFLUÊNCIA DO AMBIENTE SOBRE O HOMEM E O PAPEL DA EDUCAÇÃO Leandro Alberto Piangers ‐ João Rodrigo Zancanaro ‐ Patrícia Carla Barazetti
HEIDER, F. The Psycology of interpersonal relations. New York: John Wiley & Sons, 1958. MARIN, I.S.K. Violências. São Paulo: Escuta, 2002. MORA, José Ferrater. Diccionario de Filosofía: Tomo III. Barcelona: Ariel, 1994. ROSENFIELD, Denis L. Filosofia Política & Natureza Humana. Porto Alegre: L&PM, 1990. VYGOTSKY, L.S. Obras Escogidas: problemas de psicologia geral. Gráficas Rogar. Fuenlabrada. Madrid, 1982.. ZIMBARDO, Philip. O Efeito Lúcifer. Rio de Janeiro: Record, 2012.
X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.
p.17