ROCHA, Everardo. O que é etnocentrismo. 5. ed. São Paulo: Brasiliense, 1998. 39p. (Coleção Primeiros Passos, 124). Raquel Novais Milhomem Martins
Nesse livro Rocha reflete sobre as questões culturais. É uma obra que se insere no movimento antropológico. Há a tese de que o “outro” constitui perigo constante, o medo de pensar a diferença gera conflitos e até "pré-conceito" ferindo a igualdade e a justiça. É uma obra que retrata a realidade, em que a visão do "eu" é tomada como centro de tudo e o "outro" é pensado e sentido por meio dos valores e modelos da cultura do "eu". Esse choque gerador do etnocentrismo surge da constatação das diferenças tidas como ameaçadoras. Tal tendência é responsável em seus casos extremos pela ocorrência de numerosos conflitos sociais. Na primeira parte do livro, Pensando em partir, o autor apresenta como pano de fundo o choque cultural. De um lado, o grupo do "eu", que gosta de coisas parecidas; do outro um grupo diferente, o grupo do "outro", aparece como engraçado, obscuro, anormal ou incompreensível. E a cultura do grupo do "eu" é considerada melhor, superior. O "outro" é o aquém ou além, nunca igual ao "eu". O etnocentrismo passa por um julgamento de valor da cultura do “outro” nos termos da cultura do "eu". O autor mostra o desenvolvimento de ideias que se contrapõem ao etnocentrismo, e uma das mais importantes é a relativização, que defende a validade e a riqueza de qualquer sistema cultural por defender que as categorias de valores são relativas a cada cultura. Já na segunda parte da obra, Primeiros movimentos, é abordado o percurso de luta contra o etnocentrismo na tentativa de superá-lo. A antropologia faz um imenso esforço de perceber o “outro”, ou seja, de compreender a diferença. Mostra que como resultado inicial da “viagem” o mundo do "eu" se deparou com o mundo do “outro”, e esse cenário foi marcado por intensa perplexidade. Foi então, que surgiu o primeiro pensamento na tentativa de explicar a diferença, conhecido como Evolucionismo, que equivale ao desenvolvimento, à transformação progressiva. Nesse período todo esforço estava voltado para a compreensão que visava a submissão. Depois surgiu uma nova lógica: quanto mais se sabe mais falta saber. Essa magia leva a Antropologia a multiplicar seu campo de estudos e a questionar a si própria.
Acadêmica do segundo período matutino do curso de Direito, do Instituto de Ciências Jurídicas da Faculdade Alfredo Nasser, sob orientação da professora Ms. Cristiane Roque de Almeida, na disciplina Antropologia Jurídica, no semestre letivo 2010/2.
Na terceira parte do livro, intitulada O passaporte esse questionamento é abordado: houve um grande avanço do estudo das diferenças e, pouco a pouco, o fantasma do etnocentrismo foi sendo exorcizado, contudo a relativização não saiu das fronteiras do conhecimento produzido pela Antropologia. Esta soube conhecer a diferença não como ameaça a ser destruída, mas como alternativa a ser preservada, a diferença como generosa, é o contraste e a possibilidade de escolha. A ida ao “outro” se faz alternativa para o “eu” e não mais uma ameaça constante. Na seção Voando alto, o autor relata os principais movimentos de relativização dentro da disciplina. Rocha mostra que com Durkheim, Malinowski e Radcliffe-Brown, cenários e enredos confirmam que o grupo do "outro" está cada vez mais perto, passível de contrastes e escolhas. Com o avanço das pesquisas, em especial as de campo, com Malinowski, esses autores começaram a socializar mais a perspectiva relativizadora, pois a afirmação do trabalho de campo acabou obrigando o encontro do "eu” com o “outro”. Na última parte da obra, A volta por cima, o autor faz uma homenagem a todos os grandes mestres, fundadores e pioneiros da disciplina e volta ao tema do livro perguntando: Enfim, o que é etnocentrismo? Pensar essa resposta é uma importante reflexão antropológica, pois remete aos conceitos, métodos e técnicas instituídos visando repensar o relacionamento do "eu" com o "outro”, para que o "eu" veja a diferença como opção, escolha, esperança e generosidade e que sua ida ao “outro” se faça alternativa para o seu "eu" Aqui cabe uma última observação sobre este livro: é uma leitura que faz viajar no tempo e no espaço, de forma agradável, leva à reflexão da realidade social marcada por preconceitos e extremismos. Observa-se, então, que pela superficialidade e dificuldade de reflexão o etnocentrismo é um erro. Infelizmente, trata-se de um erro que tem sua vez na história, que faz parte do domínio. Mas, graças a homens corajosos, esse erro vem dando espaço à pluralidade.