PRIAPISMO IDIOPÁTICO EM UM CÃO DA RAÇA POINTER INGLÊS: RELATO DE CASO IDIOPATIC PRIAPISM IN A DOG`S BREED ENGLISH POINTER: A CASE REPORT Fabiano Zanini Salbego1 , Larissa Berté2, Rafael Rovaris Pinheiro3, Critiana Kuci4*, Clarissa Espíndola4, Eduardo Simon4, Edelberto Costa Neto4, Ana Paula costa Neto4, Fernanda Duarte4 Resumo Priapismo é uma ereção persistente do pênis com duração superior a quatro horas, sem estimulação sexual, sendo de ocorrência bastante incomum em cães. O diagnóstico pode ser realizado apenas pelo exame físico ou através de exames de imagem, como a ecografia. As alterativas terapêuticas variam desde os métodos conservativos até aqueles mais agressivos baseados na cirurgia. O presente relato descreve um caso de priapismo em cão e a conduta terapêutica empregada na resolução do problema. Considera-se que o protocolo terapêutico empregado foi satisfatório na resolução do caso, porém, o tratamento bem sucedido desta afecção depende da precocidade com que as medidas terapêuticas apropriadas forem adotadas e do tempo de evolução do quadro. Palavras-chave: cão, protrusão, cirurgia, genital masculino Summary Priapism is a persistent erection of the penis lasting longer than four hours without sexual stimulation and occurrence of unusual dogs. The diagnosis can be performed only by physical examination or by imaging studies such as ultrasound. The alternative treatments range from conservative methods to those based on more aggressive surgery. This report describes a case of priapism in dogs and therapeutic approach used in solving the case, however, successful treatment of this disease depends on early with the appropriate therapeutic measures are adopted and the time od disease progression. Key words: dog, protrusion, surgery, male genital Priapismo é uma ereção persistente do pênis com duração superior a quatro horas, sem estimulação sexual. A ocorrência de priapismo em cães é bastante incomum. Esta afecção pode ser classificada como não isquêmica ou isquêmica (Lavely, 2009). A causa de priapismo pode ser idiopática, por tromboembolismo, infecções genitourinárias, trauma durante à copula, obstrução do fluxo venoso por material estranho envolto ao penis e lesões da medula espinhal (Fossum, 2008). A ultra-sonografia pode auxiliar na avaliação das alterações vasculares e determinação da etiologia (Lavely, 2009). Hafez (1995) comenta que é importante realizar o diagnóstico diferencial para aquelas alterações que estão relacionadas com o aumento de volume peniano, como edema ou hematoma. Quando determinada a causa de origem isquêmica, a aspiração com o paciente sob sedação ou anestesia geral deve ser realizada, auxiliando no alivio da dor e facilitando a redução do prolapso. Também, a injeção intracavernosa de fenilefrina e a lubrificação do pênis exposto são recomendadas (Lavely, 2009). O uso de sabões e agentes lubrificantes não irritantes, associados a aplicação tópica de _______________________ 1 Professor Ajunto . Medico Veterinário, CAV - UDESC. *
[email protected] 2 Mestranda do Programa Pós-Graduação em Medicina Veterinária - UFSM. 3 Médico Veterinário, CAV-UDESC. 4 Academico do Curso de Medicina Veterinária – CAV – UDESC.
Lages,
SC.
agentes higroscópicos podem auxiliar na redução do edema e redução do pênis para a cavidade prepucial (Hobson, 1996). Vicari e Figueiredo (2007) recomendam que hidratação, estímulo da micção, alcalinização, analgesia e controle da ansiedade, sejam instituídas como medidas iniciais nos episódios de caráter agudo. Se a drenagem intracavernosa e as injeções não forem bem sucedidas, ou houver dano tecidual significativo, então poderá ser necessária uma terapia mais agressiva baseada na cirurgia (Lavely, 2009). O presente trabalho tem por objetivo descrever um caso de priapismo idiopático em uma cão e a conduta terapêutica empregada na resolução do problema. Um cão macho da raça pointer inglês foi atendido no hospital de clínicas veterinárias com histórico de priapismo. O proprietário relatava que o mesmo ocorrera nas últimas 24 horas e que não havia histórico de tentativa de cobertura neste período. Após o exame físico constatou-se a exposição do pênis com a retração do prepúcio, onde o bulbo peniano edemaciado impedia a progressão cranial do óstio prepucial. O animal manifestava dor a manipulação do pênis, o qual apresentava áreas com tecido ulcerado e fragmentos de tecido desvitalizado na superfície. Após terapia analgésica com cloridrato de tramadol, realizou-se uma seção de ducha aquecida sobre o corpo do pênis durante um período de 15 minutos. Após este procedimento, realizou-se um bloqueio com anestésico local em toda circunferência na base do óstio prepucial. Uma pequena incisão de 1 cm foi realizada na posição de seis horas para permitir a ampliação do óstio e redução do bulbo edemaciado, com redução parcial do corpo do pênis. O animal recebeu uma dose de meloxicam de 0,2 mg/kg e foi internado para realizar novas seções de hidroterapia a intervalos de 4 horas. No dia seguinte, a despeito do tratamento realizado a exposição peniana persistia e o bulbo continuava com tamanho bastante aumentado. O paciente foi novamente medicado com cloridrato de tramadol e um novo bloqueio foi realizado na circunferência do óstio prepucial, no mesmo padrão do anterior. O corpo do pênis foi higienizado com gluconato de clorixidina a 0,2% e procedeu-se a punção do corpo cavernoso com uma agulha hipodérmica de calibre 25 x 08, drenando-se um volume entre 6 a 10 ml de líquido com aspecto sanguinolento. Em seguida, pelo mesmo ponto de punção foram injetados 10 ml de cloreto de sódio a 0,9% aquecido, acrescido de 0,06 ml de efedrina (0,2 mg/kg). O corpo e bulbo peniano foram delicadamente massageados durante 1 minuto para auxiliar na difusão da solução e em seguida realizou-se a drenagem, obtendo-se um volume de aproximadamente 7 ml. O animal foi sondado com uma sonda uretral número 08 e o prepúcio tracionado cranialmente até recobrir por completo o pênis e glande. O diâmetro do óstio prepucial foi reduzido com aplicação de sutura isolada empregando-se fio de náilon monofilamentar de calibre 3-0 em padrão de Wolf. O animal foi mantido sondado e em repouso, recebendo dieta balanceada e água ad libitum. Foram prescritos cloridrato de tramadol na dose de 6 mg/kg pela via oral a cada 8 horas, meloxicam na dose de 0,1 mg/kg a cada 24 horas e xarope de Claritin-D (Pseudoefedrina 120mg + Loratadina 1mg em 1ml) a cada 12 horas, na dose de 0,4 ml, todos por via oral durante 7 dias. No primeiro dia após a redução, notava-se por palpação externa ao prepúcio um discreto aumento de volume do bulbo peniano. No terceiro dia, como o volume do bulbo peniano havia regredido significativamente, a sonda uretral foi removida e o animal passou a urinar normalmente. Ao quinto dia, removeram-se as suturas de estreitamento do óstio prepucial, mantendo-se apenas o ponto de sutura corretivo da incisão. O pênis permaneceu retido no interior do prepúcio e o animal tolerava a manipulação e exposição manifestando apenas leve desconforto, porém sem sinais evidentes de dor. O animal recebeu alta hospitalar e teve a continuidade do tratamento realizada pelo proprietário. Lavely (2009) comenta que uma ereção persistente do pênis com duração superior a quatro horas, sem estimulação sexual, pode ser definida como priapismo. Por este motivo, o diagnostico realizado no animal do presente relato foi baseado no exame físico e no histórico clínico, o qual relatava a ocorrência de protrusão do pênis por mais de doze horas consecutivas. O pênis edemaciado e traumatizado neste caso não conseguia retrais para o interior do prepúcio, o que foi agravado pela presença de pelos enrolados e uma discreta inversão da borda externa do óstio prepucial, pois como comenta Fossum (2008), uma das causas predisponentes é a
2
obstrução do fluxo venoso por material estranho envolto ao penis. As lesões observadas no pênis do paciente deste relato são compatíveis com aqueles descritas por Hobson (1996), que salienta que quando ocorre exposição persistente do pênis, o processo de lambedura freqüente resulta em rachaduras e outros danos estruturais, além do ressecamento do órgão de ocorrente da exposição. A inspeção e a palpação do pênis foram consideradas suficientes para realizar a diferenciação de condições que causam aumento de volume peniano, já que Hafez (1995) ressalta a importância de se realizar o diagnóstico diferencial. A opção de punção e aspiração do conteúdo com posterior injeção intracavernosa de agonista adrenérgico conforme recomendado por Lavely (2009), foi realizada neste caso devido a condição viável do pênis. As principais metas eram o alívio da dor e a rápida redução de volume do órgão, no intuito de conseguir obter a redução do mesmo para o interior do prepúcio. A lubrificação do pênis com agentes não irritantes, como recomendado por papazoglou e Kazakos (2007) e a redução do mesmo para o interior do prepúcio com estreitamento parcial do óstio prepucial foi a alternativa considerada mais viável para este paciente, tendo em vista a necessidade de preservar a integridade do pênis. Hobson (1996) comenta que se a extremidade do pênis for recoberta por um segmento de ao menos um centímetro do prepúcio, pode realizar o estreitamento do óstio prepucial para auxiliará na prevenção da recorrência. Neste caso, a ausência recidiva após manutenção do pênis do interior da cavidade do prepúcio por restrição da exposição através da redução parcial do óstio prepucial demonstrou-se eficiente. A redução do pênis e a sua manutenção na cavidade do prepúcio foram também atribuídas a rápida redução de volume após a punção e a injeção de agonista adrenergico, com posterior terapia de suporte por via oral, pois conforme descrevem Vicari e Figueiredo (2007) estes fármacos promovem vasoconstrição induzindo a contração da musculatura lisa das artérias do corpo cavernoso e forçando o retorno sanguíneo para a circulação venosa. Além disto, colaborou para efetividade do tratamento, a terapia analgésica empregada. Embora a castração seja recomendada para prevenir a recidiva do priapismo, como comenta Fossum (2008), no presente caso esta opção não foi cogitada, pois o proprietário desejava manter a atividade reprodutiva do animal. De acordo com os resultados obtidos na terapia deste paciente, conclui-se o protocolo terapêutico empregado foi considerado satisfatório na resolução do caso, porém, o tratamento bem sucedido desta afecção depende da precocidade com que as medidas terapêuticas apropriadas forem adotadas e do tempo de evolução do quadro. Referências Bibliográficas FELDMAN EC, NELSON RW. Disordes of the penis and prepuce. In: FELDMAN E.C., NELSON R.W. Canine and feline endocrinology and reproduction. 2nd ed. Philadelphia: W.B. Saunders Company; 1996. p.691-6. FOSSUM TW. Cirurgia dos sistemas reprodutivos e genital. In: FOSSUM T.W. Cirurgia de pequenos animais. 3ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2008. p.702-74. HAFEZ ESE. Disturbios reprodutivos dos machos. In: Reprodução animal. 6ª ed. São Paulo: Manole Ltda; 1995. p.302-18. HOBSON, H. P. Sistema urogenital – pênis. In: BOJRAB, M. J. Técnicas atuais em Cirurgia de Pequenos Animais. 3nd Ed. São Paulo: Roca; 1996. p.397-405. LAVELY J. A. Priapism in dogs. Top. Companion Anim Med. v. 24, n.2, p.49-54, 2009. PAPAZOGLOU L.G., KAZAKOS G.M. Surgical conditions of the canine penis and prepuce. Compend Contin Educ Pract Vet. V.24, n.2, p.204-18, 2002. VASSEUR, P.B. Stifle joint. In: SLATTER, D.H. Textbook of small animal surgery. Philadelphia: Saunders, 1993. cap.137. p.1817-1865. VICARI, P., FIGUEIREDO, M. S. Priapismo na doença falciforme. Rev. Bras. Hematol. Hemoter. v. 29, n.3, p. 275-278, 2007.
3