O Processo de Construção dos Grupos Focais na Pesquisa

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O Processo de Construção dos Grupos Focais na Pesquisa Qualitativa e suas Exigências Metodológicas Autoria: Alysson André Régis de Oliveira, Carlos Alberto Pereira Leite Filho, Cláudia Medianeira Cruz Rodrigues

Resumo Atualmente a pesquisa qualitativa se destaca no meio científico ocupando um lugar peculiar no que se refere ao estudo dos fenômenos que envolvem os seres humanos no cenário social. Dessa forma, a racionalidade cede espaço à subjetividade. O objetivo deste artigo é demonstrar o processo de construção e as suas exigências metodológicas aos pesquisadores que já desenvolvem ou almejam incorporar a técnica de grupos focais em seus estudos organizacionais de natureza qualitativa. A pesquisa aponta a possibilidade de considerar o processo de construção e aplicação dos grupos focais seguindo uma linha metodológica composta pelas seguintes exigências: (i) planejamento, (ii) condução das sessões e (iii) análise dos dados. O grupo focal é uma técnica que se encontra dentro da abordagem direta dos procedimentos da pesquisa qualitativa e que conduz os estudos organizacionais em direção a uma aplicação holística e a uma abordagem natural para a resolução de um problema de forma mais profunda do que a utilização de uma técnica dentro da abordagem quantitativa. Palavras-chave: Pesquisa Qualitativa, Grupos Focais, Técnica de Investigação. 1. Introdução A pesquisa nas ciências sociais tem sido fortemente marcada, ao longo dos anos, por estudos que valorizam a adoção de métodos quantitativos na descrição e explicação dos fenômenos de seu interesse, ou seja, vem sendo fortemente marcada pelo pensamento positivista. Desta forma, ela passa a ser concebida como um modo de geração de conhecimento objetivo, controlada por regras precisas de ação, garantindo a neutralidade do pesquisador em relação ao pesquisado, sendo o rigor nos procedimentos atribuído meramente à natureza exata de testes. Hoje, no entanto, é possível identificar, com clareza, uma outra forma de abordagem que, aos poucos, vem se instalando e se afirmando como uma frutífera possibilidade de investigação para essas áreas do conhecimento. As pesquisas de natureza qualitativa surgem menos como opositoras às pesquisas empíricas que como uma outra possibilidade de investigação. Nas abordagens qualitativas, o termo pesquisa ganha novo significado, passando a ser concebido como uma trajetória circular em torno do que se deseja compreender, não se preocupando unicamente com princípios, leis e generalizações, mas voltando o olhar à qualidade, aos elementos que sejam significativos para o observador-investigador. Essa "compreensão", por sua vez, não está ligada estritamente ao racional, mas é tida como uma capacidade própria do homem, imerso num contexto que constrói e do qual é parte ativa. O homem compreende porque interroga as coisas com as quais convive. Assim, não existirá neutralidade do pesquisador em relação à pesquisa, pois ele atribui significados, seleciona o que do mundo quer conhecer, interage com o conhecido e se dispõe a comunicá-lo. Também não haverá “conclusões”, mas uma “construção de resultados”, posto que compreensões, não sendo encarceráveis, nunca serão definitivas. A investigação qualitativa é uma forma de estudo da sociedade que se centra na forma como as pessoas interpretam e dão sentido às suas experiências e ao mundo em que elas

vivem. Existem diferentes abordagens que são consideradas no âmbito deste tipo de investigação, mas a maioria tem o mesmo objetivo: compreender a realidade social das pessoas, grupos e culturas. Os investigadores usam as abordagens qualitativas para explorar o comportamento, as perspectivas e as experiências das pessoas que eles estudam. A base da investigação qualitativa reside na abordagem interpretativa da realidade social (HOLLOWAY,1999). Para Denzin e Lincoln (2006), a pesquisa qualitativa revela uma longa, notável e, por vezes, atribula história nas disciplinas humanas. Na sociologia, o trabalho realizado pela “escola de Chicago” nas décadas de 1920 e 1930 determinou a importância da investigação qualitativa para o estudo da vida de grupos humanos. Na mesma época, na antropologia, os estudos traçaram os contornos do método de trabalho de campo. Em pouco tempo, a pesquisa qualitativa passou a ser empregada em outras disciplinas das ciências sociais e comportamentais, incluindo a educação, a história, a ciência política, os negócios, a medicina, a enfermagem, a assistência social, as comunicações e a administração de empresa. Sob a denominação de pesquisa qualitativa encontram-se variados tipos de investigação, apoiados em diferentes quadros de orientação teórica e metodológica, tais como o interacionismo simbólico, a etnometodologia, o materialismo dialético e a fenomenologia. Segundo Malhotra (2006, p.156), a pesquisa qualitativa “é uma metodologia de pesquisa não-estruturada e exploratória baseada em pequenas amostras que proporciona percepções e compreensão do contexto do problema”. Denzin e Lincoln (2006, p.16) acrescentam que “a pesquisa qualitativa é, em si mesma, um campo de investigação. Ela atravessa disciplinas, campos e temas. Em torno do termo pesquisa qualitativa, encontra-se uma família interligada e complexa de termos, conceitos e suposições. Entre eles, estão as tradições associadas ao fundacionalismo, ao positivismo, ao pós-fundacionalismo, ao pós-positivismo, ao pósestruturalismo e às diversas perspectivas e/ou métodos de pesquisa qualitativa relacionados aos estudos culturais e interpretativos”. Por sua vez, Hancock (1998, p.2) afirma que “a pesquisa qualitativa está relacionada a achar as respostas a perguntas com as quais começam: por quê? como? de que modo? Por outro lado, pesquisa quantitativa está mais preocupada com perguntas aproximadamente: quanto? quanto? com que freqüência? até que ponto?”. Segundo Rodrigues Filho (2006), a abordagem qualitativa possui como ênfases: (1) perspectivas dos participantes e suas diversidades; (2) reflexividade do pesquisador; e (3) variedade de abordagens e métodos. Diante do exposto são muitas as interpretações que se tem dado à expressão pesquisa qualitativa e atualmente se dá preferência à expressão abordagem qualitativa. Entre os mais diversos significados, neste artigo será adotado abordagem qualitativa ou pesquisa qualitativa como sendo um processo de reflexão e análise da realidade através da utilização de métodos e técnicas para compreensão detalhada do objeto de estudo em seu contexto histórico e/ou segundo sua estruturação. Atualmente a pesquisa qualitativa se destaca no meio científico ocupando um lugar peculiar no que se refere ao estudo dos fenômenos que envolvem os seres humanos no cenário social. Dessa forma, a racionalidade cede espaço à subjetividade. Segundo a perspectiva qualitativa um fenômeno pode ser mais bem compreendido no contexto em que ocorre e do qual é parte. Malhotra (2006) aponta várias razões para usar a pesquisa qualitativa. No seu entender, nem sempre é possível, ou conveniente, utilizar métodos plenamente estruturados ou formais para obter informações dos respondentes. Determinados valores, emoções e motivações que se situam no nível subconsciente são encobertos ao mundo exterior pela racionalização e outros mecanismos de defesa do ego. Em tais casos, a melhor maneira de obter a informação desejada é mediante a pesquisa qualitativa. Esses procedimentos são classificados, segundo o autor, como diretos ou indiretos, dependendo da condição dos entrevistados conhecerem ou 2

não o verdadeiro objetivo da pesquisa. Uma abordagem direta não é encoberta. O objetivo da pesquisa é revelado aos respondentes, ou então fica evidente pelas próprias questões formuladas. Segundo Flick (2004), dentro dos dados verbais nos estudos qualitativos, as entrevistas semi-estruturadas têm atraído bastante interesse dos pesquisadores. Tal interesse se vale à expectativa de que é mais provável que os pontos de vistas dos sujeitos entrevistados sejam expressos em uma situação de entrevista com um planejamento relativamente aberto do que em uma entrevista padronizada ou em um questionário. Na abordagem qualitativa também é possível distinguir diversos tipos de entrevistas semi-estruturadas, mas no presente artigo, os esforços estão em abordar em profundidade um desses caminhos – os grupos focais. Dentre as técnicas mais utilizadas em pesquisas qualitativas, pode-se destacar a entrevista individual e a observação participante em grupos. Pode-se considerar que os grupos focais, como uma entrevista em grupo, combina elementos dessas duas abordagens. Segundo Oliveira e Freitas (1998), os grupos focais possuem destaque na pesquisa qualitativa porque propicia riqueza e flexibilidade na coleta de dados, normalmente não disponíveis quando se aplica um instrumento individualmente, além do ganho em espontaneidade pela interação entre os participantes. Por outro lado, exige maior preparação do local, assim como resulta em menor quantidade de dados (por pessoa) do que se fosse utilizada a entrevista individual. Portanto, o objetivo maior deste artigo é mostrar o processo de construção e as exigências metodológicas aos pesquisadores que já desenvolvem ou almejam incorporar a técnica de grupos focais em seus estudos organizacionais de natureza qualitativa. A motivação e interesse à escolha do tema em estudo justificam-se por quatro razões fundamentais. Em primeiro lugar, apesar da ampla utilização na área de marketing, os grupos focais têm crescido em popularidade em outras áreas de estudo do campo da administração. Em segundo lugar, os grupos focais caracterizam um método que está se evidenciando cada vez mais nos estudos organizacionais de caráter qualitativo. Em terceiro lugar, essa ferramenta pode ser interessante quando se necessita ganhar tempo e utilizar baixos investimentos de recursos financeiros. Por fim, por ter se desenvolvido e amadurecido fora da metodologia tradicional da pesquisa qualitativa, muitos pesquisadores não simpatizam com a utilização desse método. Contudo, o que foi visto até aqui, os grupos focais representam uma técnica que se encontra dentro da abordagem direta dos procedimentos da pesquisa qualitativa e que conduz os estudos organizacionais em direção a uma aplicação holística e a uma abordagem natural para a resolução de um problema de forma mais profunda do que a utilização de uma técnica dentro da abordagem quantitativa. 2. Fundamentação Teórica 2.1 As diversas definições de Grupos Focais Com base nesta construção inicial, muitos conceitos e abordagens surgiram. A figura 1 a seguir apresenta os diversos conceitos ligados à questão dos grupos focais e suas respectivas ênfases.

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AUTOR

CONCEITOS

Malhotra (2006, p.157)

É uma entrevista realizada por um moderador treinado, de uma forma nãoestruturada, e natural, com um pequeno grupo de entrevistados.

Vergara (2004, p. 56)

Grupos focais é um grupo reduzido de pessoas com as quais o pesquisador discute sobre o problema a ser investigado, de modo a obter mais informações sobre ele, dar-lhe um foco, um afunilamento, bem como uma direção ao conteúdo dos instrumentos de coleta de dados.

Leitão (2003, p.43)

O grupo de foco pode ser visto por administradores e gerentes como um álbum de viagem com anotações. Para aqueles que não puderam estar lá, as imagens captadas oferecem uma idéia da atmosfera, dos melhores momentos e das personalidades envolvidas.

Parent et al (2000, p. 47)

O grupo de foco pode ser considerado como método de geração de conhecimento já adotado rotineiramente nas organizações há muito tempo, semelhante a muitos outros bastante conhecidos, como o brainstorm, utilizados para que as pessoas que atuam na organização possam exprimir suas idéias.

Oliveira e Freitas (1998, p.83)

Grupo de foco é um tipo de entrevista em profundidade realizada em grupo, cujas reuniões apresentam características definidas quanto à proposta, tamanho, composição e procedimentos de condução. O foco ou o objetivo de análise é a interação dentro do grupo.

Greenhalg (1997, p.15)

Os grupos focados caracterizam um método de pesquisa qualitativo, juntamente com outros métodos como a observação passiva, a observação participante e as entrevistas em profundidade.

Morgan (1996, p.130)

Grupo de foco como uma técnica de pesquisa para coletar dados através da interação do grupo sobre um tópico determinado pelo pesquisador.

Fonte: Elaboração própria, 2006. Figura 1 – Conceitos e ênfases sobre Grupos Focais

Os grupos focais habitualmente são utilizados para pequenas amostras. Essa ferramenta pode ser interessante quando se necessita ganhar tempo e utilizar baixos investimentos de recursos financeiros. Desta forma, como em qualquer outro método que compõem um estudo qualitativo não se recomenda a generalização dos resultados. Segundo Vergara (2004), o uso do grupo focal é particularmente apropriado quando o objetivo é explicar como as pessoas consideram uma experiência, uma idéia ou um evento, visto que a discussão durante as reuniões é efetiva em fornecer informações sobre o que as pessoas pensam ou sentem ou, ainda, sobre a forma como agem. O objetivo principal dos grupos focais, na concepção de Malhotra (2006), é obter uma visão aprofundada ouvindo um grupo de pessoas do mercado-alvo apropriado para falar sobre problemas que interessam ao pesquisador. O valor da técnica está nos resultados inesperados que frequentemente se obtêm de um grupo de discussão livre. Como uma forma de método qualitativo, os grupos focais são basicamente entrevistas em grupo, embora não no sentido de alternância das questões do pesquisador e as respostas dos entrevistados. Em vez disso, o resultado será a confiança na interação dos membros do grupo, baseada nos tópicos fornecidos pelo pesquisador que, na maioria das vezes, é também o moderador. Com base nesses conceitos, pode-se afirmar que grupo de foco é uma modalidade de entrevista, estabelecida de acordo com um roteiro que tem o propósito de atingir os objetivos pretendidos pelo pesquisador.

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É interessante destacar a importância da criação do conhecimento que se dá nos grupos focais para o desenvolvimento da gestão. Esse conhecimento é criado nos grupos a partir da interação das idéias geradas. Segundo Leitão (2003), a estrutura da criação do conhecimento nos grupos focais ficaria assim distribuída:

Tamanho do Grupo (6 a 12)

Moderação

Moderador e Participação Interativa

Resultados: Novo Conhecimento Gerando Idéias e Qualidade.

Anonimato

Fonte: LEITÃO (2003, p.54) Figura 2 – Estrutura da criação do conhecimento nos grupos focais

Os dados fundamentais produzidos por essa técnica são transcritos das discussões do grupo, acrescidos das anotações e reflexões do moderador e de outro(s) observador (es), caso exista(m). O uso dos dados é que vai transformá-los em conhecimento e em novas formas de entender a realidade, sendo essa transformação o maior desafio para o pesquisador. Os estudos em grupos focais produzem um grande volume de dados, que podem ser classificados de acordo com diversos critérios, comparados entre si, com a literatura ou analisados de diversas outras formas. De acordo com Malhotra (2006), os grupos focais constituem o processo mais importante da pesquisa qualitativa. São tão utilizados que muitas pessoas que fazem pesquisa de marketing consideram essa técnica um sinônimo de pesquisa qualitativa. 2.2 Surgimento e Evolução dos Grupos Focais Como fator precedente à conceituação e caracterização da técnica dos grupos focais, é necessário conhecer sua história e seu surgimento, bem como sua estruturação como ferramenta da pesquisa qualitativa. De acordo com Leitão (2003), o trabalho de Bogardus, realizado em 1926, pode ser considerado o pioneiro para o desenvolvimento da técnica. Ao pesquisar alunos de uma escola, incentivando-os a expressarem suas idéias, Bogardus percebeu a riqueza das discussões originadas pelos grupos, comparando-as com as entrevistas individuais. Até a década de 40, a técnica de entrevistas em grupo foi pouco utilizada. Entretanto, nessa época, o sociólogo americano Paul Lazarsfeld utilizou essa metodologia para analisar como ficava o moral das pessoas durante a transmissão dos programas de rádio, na época da Segunda Guerra Mundial. Essa forma de estudo terminou atraindo a atenção de outro sociólogo, Robert K. Merton. Merton estudou extensivamente a técnica e, em 1956, juntamente com Fiske e Kendall, também sociólogo, publicou o livro intitulado: The focused interview: a manual of problems and procedures. Desta forma, Merton é considerado um dos precursores da elaboração da metodologia para a utilização do grupo focal. 5

Segundo Glitz (1998 apud LEITÃO, 2003), o emprego desse instrumento de pesquisa pela comunidade dos cientistas sociais volta a ser feito nos anos 60 e 70, sendo que hoje seu valor é reconhecido pelos pesquisadores para ser adotado como parte formal ou informal em projetos de pesquisas. Complementando Morgan (1996) aponta a década de 80 como o período em que a utilização das entrevistas em grupo, de forma geral, e em grupo de foco, de forma particular foi realizada em maior escala. Com origem na sociologia, os grupos focais são aplicados fortemente nos dias atuais na área de marketing, sendo a principal área responsável pela adoção e popularização dessa técnica, mas percebe-se um crescimento nos estudos na área da saúde e sistemas de informação (KIDD e PARSHALL, 2000). Originalmente o método foi chamado entrevista focada, porém era indiferente se fossem utilizadas entrevistas individuais e coletivas, embora as coletivas fossem comuns. Eles mantiveram as entrevistas em grupo, apesar de poder aumentar inibições entre os membros do grupo, dependendo do tópico que estava sendo tratado ou da composição do grupo. Por ter se desenvolvido e amadurecido fora da metodologia tradicional da pesquisa qualitativa, muitos pesquisadores permanecem agnósticos a aplicação desse método. 2.3 Características dos grupos focais Krueger (1994) afirma que as características gerais dos grupos focais são: o envolvimento de pessoas, as reuniões em série, a homogeneidade dos participantes quanto aos aspectos de interesse da pesquisa, a geração de dados, a natureza qualitativa e a discussão focada em um tópico que é determinado pelo propósito da pesquisa. De acordo com a definição de Gil (1999, p. 120), os grupos focais se caracterizam (1) são livres, ou seja, o entrevistador permite ao entrevistado falar livremente sobre o assunto, mas quando este se desvia do tema original, esforça-se para sua retomada; (2) é um tipo de técnica empregada em situações experimentais, com o objetivo de explorar a fundo alguma experiência vivida em condições precisas; (3) é um método utilizado com grupos de pessoas que passaram por uma experiência específica, como assistir um filme, presenciar um acidente, etc; e (4) tal técnica requer grande habilidade do pesquisador, que deve respeitar o foco de interesse temático sem que isso implique conferir-lhe maior estruturação. Malhotra (2006) enfatiza que um grupo de foco têm, geralmente, de 8 a 12 membros. Grupos com menos de oito participantes dificilmente geram o ímpeto e a dinâmica de grupo necessários para uma sessão bem-sucedida. Da mesma forma, grupos de mais de 12 participantes podem ficar cheios demais e não levar a um debate coeso e natural. Em relação à quantidade de membros a participarem das sessões dos grupos focais é relativa na visão dos diversos autores que discorrem sobre o assunto, mas geralmente é apontado um número que contemple um parâmetro entre 6 a 12 pessoas. Outra característica básica dos grupos focais diz respeito à homogeneidade em termos de características demográficas e socioeconômicas das pessoas que irão participar das sessões. A similaridade dos membros do grupo evita interações e conflitos a propósito de questões secundárias. Além disso, os participantes devem ser cuidadosamente selecionados a fim de preencher determinadas especificações. Eles devem ter tido uma experiência adequada com o objeto ou problema em discussão. Não devem ser incluídas pessoas que já tenham participado de vários grupos focais (MALHOTRA, 2006, p.158).

O contexto físico para os grupos focais também é importante. Uma atmosfera descontraída, informal, estimula comentários espontâneos. Embora um grupo de foco possa 6

durar de uma a três horas, a sessão normal segundo diversos autores (GIL, 1999; VERGARA, 2004; MALHOTRA, 2006) dura de uma hora e meia a duas horas. Esse período é necessário para estabelecer uma relação com os participantes e explorar, em profundidade, suas crenças, sensações, idéias, atitudes e percepções sobre os tópicos de interesse. As entrevistas do tipo grupos focais são invariavelmente gravadas, em geral em videoteipe, para reapresentação, transcrição e análise subseqüente. O videoteipe tem a vantagem de registrar as expressões faciais e os movimentos de corpo, que são informações importantíssimas diante o problema estudado, mas pode aumentar os custos significativamente. O número de grupos focais que devem ser organizados sobre um único tópico de acordo com Malhotra (2006) depende: (1) da natureza do problema, (2) do número de segmentos de mercado distintos, (3) do número de novas idéias geradas por cada grupo sucessivo e (4) do tempo e do custo. Recomenda-se que pelo menos dois grupos sejam realizados. Os grupos focais conduzidos adequadamente podem gerar importantes hipóteses que servirão de base para a realização de pesquisa quantitativa. O moderador desempenha um papel-chave no sucesso de um grupo de foco que é exposto como: O moderador deve estabelecer relação com os participantes, manter ativa a discussão e motivar os respondentes a trazerem à tona suas opiniões mais reservadas. Além disso, o moderador pode desempenhar um papel central na análise e interpretação dos dados. Portanto, ele deve ter habilidade, experiência e conhecimento do tópico em discussão e deve entender a natureza da dinâmica do grupo (MALHOTRA, 2006, p.158).

É de fundamental importância para o pesquisador, no momento da escolha de seu método de coleta de dados, conhecer as características que compõem tal método, a fim de que seu uso seja adequado às necessidade do estudo em evidência. Para tanto, as características dos grupos focais foram resumidas diante da literatura exposta nessa sessão como:

CARACTERÍSTICAS DOS GRUPOS FOCAIS Tamanho do grupo Composição do grupo Contexto físico Duração Gravação (registro) Quantidade de sessões Moderador

8 a 12 pessoas Homogênea: entrevistados pré-selecionados Atmosfera informal, descontraída 1 a 3 horas Uso de fitas de áudio e vídeo Depende de vários fatores, mas se recomenda a realização de pelo menos duas sessões. Habilidades de observação, interpessoais e de comunicação do moderador.

Fonte: Elaboração própria, 2006 Figura 3 – Características dos Grupos Focais

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2.4 Qualificações fundamentais dos moderadores de grupos focais Um dos fatores que garante o sucesso das sessões dos grupos focais além da escolha apropriada dos membros e do ambiente a se realizar é a qualidade na atuação do moderador, por esta razão dedicou-se um espaço especifico para abordar este fator. Visto como papel chave nos grupos focais, o moderador deve saber como proceder as questões, como sondar a informação e tornar os membros do grupo confortáveis para desejarem manifestar sua opinião para o grupo. A qualidade da informação nos grupos focais está totalmente atrelada à forma de como o moderador conduz as sessões. Segundo Malhotra (2006), as qualificações fundamentais dos moderadores de grupos focais são: 1. Delicadeza com firmeza: o moderador precisa combinar um desapego disciplinado com uma empatia compreensiva para gerar a interação necessária. 2. Permissividade: o moderador deve ser permissivo, mas atento a sinais de que a cordialidade ou a finalidade do grupo estejam se desintegrando. 3. Envolvimento: o moderador deve incentivar e estimular um intenso envolvimento pessoal. 4. Compreensão incompleta: o moderador deve incentivar os entrevistados a serem mais específicos sobre comentários genéricos mostrando que não houve uma compreensão completa. 5. Incentivo: o moderador deve sempre incentivar os entrevistados mais hesitantes a participar. 6. Flexibilidade: o moderador deve ser capaz de improvisar e alterar o esboço planejado entre as distrações do processo de grupo. 7. Sensibilidade: o moderador deve ser suficientemente sensível para conduzir a discussão em grupo em alto nível tanto intelectual quanto emocional. Malhotra (2006) acrescenta ainda que durante a entrevista, o moderador deve: (1) estabelecer relação com o grupo, (2) definir as regras de interação do grupo, (3) fixar objetivos, (4) sondar os entrevistados e provocar intensa discussão nas áreas relevantes e (5) tentar resumir a resposta do grupo para determinar o alcance da concordância. Por sua vez, segundo Greenbaum (1988), o moderador dos grupos focais deve: (1) possuir aprendizagem rápida; (2) ser um líder amigável; (3) ser esclarecido, mas não todo conhecedor da verdade; (4) possuir uma excelente memória; (5) ser bom ouvinte; (6) ser um facilitador e não um ator; (7) ser flexível; (8) ser empático; (9) ter uma visão geral do quadro; e (10) ser um bom relator. Como a qualidade do moderador na execução dos grupos focais é crucial para o sucesso das informações, conhecer as características do moderador é um fator determinante no momento da escolha dessa técnica para se coletar os dados. Caso o pesquisador não se encaixe nesse perfil, mas encontre nos grupos focais o caminho para a coleta dos seus dados, ele pode convidar uma pessoa que conduza as sessões, sendo necessário que esta pessoa esteja familiarizada com o tema a ser investigado, não marginalizando com isto, a presença do pesquisador nos momentos das realizações das sessões, afim de que ele possa fazer suas anotações, independente de estar ou não no papel de moderador. Após a discussão em grupo, o moderador, ou um analista, revê e analisa os resultados. O analista não só relata comentários e resultados específicos, como também procura respostas conscientes, novas idéias, preocupações sugeridas pelas expressões faciais e pela linguagem do corpo e outras hipóteses que podem ou não ter recebido confirmação de todos os participantes. 8

2.5 Processo de Construção dos Grupos Focais e suas Exigências Metodológicas Os grupos focais estão sendo usados intensivamente para fins lucrativos, não-lucrativos e em todo tipo de organização. Podem ser aplicados em quase todas as situações que exijam algum conhecimento e discernimento preliminares. Ribeiro e Milan (2004) afirmam que as entrevistas do tipo grupos focais têm se consolidado como os principais métodos de coleta de dados em pesquisas qualitativas. Através desse método, se bem planejado, gera-se uma oportunidade de explorar em profundidade um determinado tema ou objeto de pesquisa. Pode-se considerar o processo de aplicação dos grupos focais seguindo uma linha metodológica composta pelas seguintes exigências: (i) planejamento, (ii) condução das sessões e (iii) análise dos dados. 2.5.1 Planejamento Uma das vantagens das entrevistas em grupos focais é que elas não requerem muito planejamento prévio, permitindo que o pesquisador vá a campo tão logo tenha definido os objetivos da pesquisa. No entanto, segundo Ribeiro e Milan (2004), apesar de não exigirem muito planejamento, há aspectos que precisam ser verificados, entre os quais se destacam: 1) Escolha dos entrevistados – Sendo uma abordagem qualitativa, as entrevistas não precisam reunir um grupo de pessoas que seja estatisticamente representativo da população. Contudo, os entrevistados devem ser escolhidos da forma que possam fornecer informações úteis a respeito da população de interesse. 2) Agenda e horário – Para diminuir os problemas de falta de agenda, é importante programar as entrevistas com um bom prazo de antecedência e confirmar alguns dias antes da entrevista propriamente dita. 3) Local das entrevistas – Cabe ao moderador assegurar que estará disponível uma sala agradável para o encontro (climatização, mesa e cadeiras confortáveis, chá ou café são bem vindos). 4) Roteiro das questões – No caso de entrevistas não estruturadas, o entrevistador explica os objetivos da pesquisa, confirma a intenção do entrevistado em colaborar e solicita que se inicie a discussão sobre o assunto. Nas entrevistas semi-estruturadas, existirá um roteiro, o qual deverá ser coberto durante a entrevista. 5) Forma de registro dos dados – é muito difícil escrever acompanhando o ritmo em que uma pessoa está falando. Ainda mais lembrando que o entrevistador deve estar prestando atenção, pronto para fazer questões que não estão no roteiro, caso necessário. Assim, a forma mais recomendada para o registro das informações é a gravação ou a filmagem. A figura a seguir apresenta de modo sucinto as etapas.

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ETAPA 1. Definições iniciais

ITENS DE VERIFICAÇÃO Definir claramente os objetivos de estudo Identificar o publico a ser pesquisado

2. Detalhamento do estudo

Definição do número de sessões Definição do local, dia e hora. Infra-estrutura necessária Definição da forma de registro das informações Escolha do moderador e auxiliares Definição do número de participantes (por sessão) Definição do perfil dos participantes Seleção dos participantes Convite aos participantes

3. Roteiro de questões (por sessão)

Questão Inicial Questão de Transição Questões centrais Questão resumo Questão final

4. Alternativas de análise

Listar antecipadamente as possibilidades de análise: Critérios de classificação das informações, Comparações que poderão ser feitas, etc.

Fonte: RIBEIRO E RUPPENTHAL (2002) Figura 4 – Resumo do planejamento em grupos focais

2.5.2 Condução das sessões A maior diferença entre entrevistas em grupos focais e entrevistas individuais é que na segunda sempre está claro quem está sendo entrevistado. Por isso quando se trata de grupos focais, é muito importante a forma da condução das sessões a fim de que se leve a uma satisfatória armazenagem dos dados para posterior transcrição e análise. Algumas formas, como a gravação de áudio e vídeo são consideradas fundamentais, porém é importante que se tenha o cuidado de garantir a qualidade desses recursos. Também é interessante contar com o auxílio de colaboradores que fiquem numa mesa secundária fazendo anotações, para registrarem não apenas as expressões verbais, mas também as expressões não-verbais dos participantes. Muitas pessoas têm a ilusão de que entrevistar é tarefa simples, mas na verdade requer disciplina mental, preparação e habilidade para integração em grupo. Muito do sucesso dos grupos focais depende de boas questões formuladas e respondentes adequadamente escolhidos. A sessão pode iniciar com uma apresentação do moderador, esclarecendo o propósito da reunião. Os outros participantes podem ser apresentados pelo moderador ou apresentarem-se aos outros. Poderá ser preenchido um pequeno questionário sócio-demográfico para formar uma base de dados. Então o moderador poderá explicar as regras básicas da sessão incluindo tempo e forma de responder as sessões. Segundo Oliveira e Freitas (1998), todas as sessões de um mesmo estudo em grupos focais devem seguir padrões idênticos. Quando os participantes apresentam homogeneidade, a sessão é conduzida mais facilmente em certos aspectos, como nível cultural, faixa etária, sexo, posição econômica, entre outros. Porém a não homogeneidade dos participantes, em alguns casos, é necessária 10

para detectar divergência de opiniões, para estimular a discussão e gerar um possível consenso. 2.5.3 Análise dos dados obtidos Cada passo relatado de uma sessão de grupos focais deve obedecer a um método sistemático para assegurar que a informação seja confiável e válida. Quando os grupos focais são utilizados em pesquisas formais deve-se ter cuidado com o rigor analítico, o que nem sempre fica evidente na literatura sobre este tema. Segundo Ribeiro e Ruppenthal (2002), a análise dos dados pode servir para completar um diagnóstico, para identificar ações a serem tomadas, para direcionar novos estudos, ou simplesmente para aprofundar o estudo. Após a coleta de dados, é feita a transcrição e a análise, onde deverão ser considerada as palavras e os seus significados, o contexto em que foram colocadas as idéias, a consistência interna, a freqüência e a extensão dos comentários, a especificidade das respostas, e a importância de identificar grandes idéias. As duas formas básicas e complementares de análise de grupos focais são o resumo etnográfico e sistemática codificação através da análise de conteúdo. Na abordagem etnográfica são relevantes as citações diretas da discussão do grupo, enquanto que na análise de conteúdo é valorizada a descrição numérica dos dados. A semelhança entre grupos focais com outros métodos de pesquisa qualitativa fica mais evidente no relatório da pesquisa, em virtude da inexistência de regras rígidas para sua confecção. O relatório é composto por citações, resumo das discussões e tabelas, mapas e esquemas, os quais contem as informações básicas obtidas em cada dos grandes tópicos da discussão. Para Simon (1999), a falha mais comum após o planejamento, condução e análise dos dados é que a informação gerada não é efetivamente utilizada. Para que isso não ocorra, devese definir uma maneira de transformar os resultados em ações concretas. As entrevistas do tipo grupos focais são uma boa alternativa para explorar temas de pesquisa, coletando opiniões que podem auxiliar no entendimento de um dado fenômeno. Contudo, permite gerar idéias e hipóteses ou proposições, entender relações de causa e efeito, identificar elementos que compõem o tema em estudo ou identificar as bases de um sistema teórico. As entrevistas do tipo grupos focais geram um grande volume de informação. Na área qualitativa, o desafio reside no uso dessa informação. A qualidade das informações reunidas irá depender do planejamento e condução das entrevistas. Essas etapas devem ser realizadas com rigor científico e merecem máxima atenção da parte do pesquisador. Vencidas essas etapas, uma análise criteriosa irá gerar as conclusões atinentes ao trabalho de pesquisa, as quais poderão direcionar alguma tomada de decisão (RIBEIRO E MILAN, 2004, p. 21-22).

2.6. Contribuições e Limites dos Grupos Focais Os grupos focais apresentam várias contribuições aos estudos organizacionais em relação a outras técnicas de coleta de dados. Tais contribuições, segundo Malhotra (2006), podem ser resumidas nos dez itens a seguir: 1. Sinergismo: um grupo de pessoas em conjunto produz uma gama maior de informações, percepções e idéias do que respostas obtidas individualmente. 2. Efeito bola-de-neve: um efeito de carro-chefe ocorre com freqüência nas entrevistas em grupo, quando os comentários de uma pessoa provocam uma reação em cadeia dos outros participantes. 11

3. Estímulo: em geral, após um breve período introdutório, os respondentes desejam expressar suas idéias e expôr seus sentimentos à medida que aumenta no grupo o nível geral de entusiasmo sobre o tema. 4. Segurança: como os sentimentos dos participantes são semelhantes aos de outros membros do grupo, eles se sentem à vontade e estão dispostos a expressar suas idéias e sentimentos. 5. Espontaneidade: como não se solicita aos participantes que respondam a perguntas específicas, suas respostas podem ser espontâneas e não-convencionais, devendo, portanto, dar uma idéia precisa de seus pontos de vista. 6. Descobertas felizes e inesperadas: é mais provável que as melhores idéias brotem inesperadamente em um grupo do que uma entrevista individual. 7. Especialização: como vários participantes estão envolvidos simultaneamente, justifica-se o emprego de um entrevistador bem treinado, embora dispendioso. 8. Escrutínio científico: a entrevista em grupo permite escrutinar detalhadamente o processo de coleta de dados, pelo fato de os observadores poderem testemunhar a sessão e também gravá-la para a análise futura. 9. Estrutura: a entrevista em grupo proporciona flexibilidade nos tópicos abrangidos e na profundidade com que são tratados. 10. Velocidade: como vários indivíduos estão sendo entrevistados ao mesmo tempo, a coleta de dados e a análise de dados se processam de maneira relativamente rápida. Em contrapartida, os limites dos grupos podem ser resumidos, segundo Malhotra (2006), nos cinco itens a seguir: 1. Uso incorreto: os grupos focais podem ser usados incorretamente ou pode-se abusar deles na medida em que os resultados forem considerados conclusivos em vez de explorados. 2. Julgamento incorreto: os resultados de um grupo de foco podem ser julgados de modo incorreto com mais facilidade do que os resultados de outras técnicas de coleta. Os grupos focais são particularmente suscetíveis às tendências do cliente e do pesquisador. 3. Moderação: é difícil moderar os grupos focais. São raros os moderadores com todas as habilidades desejáveis. A qualidade dos resultados depende essencialmente da habilidade do moderador. 4. Confusão: a natureza não-estruturada das respostas torna a codificação, a análise e a interpretação difíceis. Os grupos focais tendem a ser confusos. 5. Apresentação enganosa: os resultados dos grupos focais não são representativos da população geral e não são projetáveis. Conseqüentemente, os resultados do grupo de foco não devem ser a única base para a tomada de decisões, conforme ilustrado no exemplo a seguir. De acordo com os autores (KRUEGER, 1994), a utilização dos grupos focais na pesquisa qualitativa passa ainda por outras contribuições e limites, conforme apresentado a seguir:

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CONTRIBUIÇÕES

LIMITES

Habilidade de coletar dados num pequeno espaço de tempo

Participantes podem hesitar em discutir suas crenças

Método rápido, econômico e eficiente para obter informações

Participantes tímidos podem não se sentir confortáveis em expressar suas preocupações ou opiniões

A experiência de grupo geralmente é positiva aos seus participantes

Um ou mais participantes podem monopolizar a discussão do grupo

Facilita a discussão dos participantes

Dificuldade de reunir os grupos

Alguns indivíduos gostam de relatar suas experiências ao grupo, pois sentem apoio de outras pessoas

Preconceitos do moderador podem influenciar os resultados

Os membros do grupo têm a possibilidade de ouvir diversos pontos de vista

As questões certas não podem ser perguntadas

Alta validade dos dados, ou seja, além do procedimento medir efetivamente o que se deseja, tem-se plena legitimidade e convicção nos dados coletados

Uma opinião pode prevalecer no grupo

Baixo custo em relação a outros métodos

Analise dos dados pode consumir tempo e recursos

Permite ao pesquisador aumentar o tamanho da amostra dos estudos qualitativos

Não é baseado em um ambiente natural

Fonte: Elaboração dos autores a partir de Krueger (1994) Figura 5 – Contribuições e limites dos Grupos Focais

Segundo Morgan (1996), as contribuições e os limites na utilização desse método são: CONTRIBUIÇÕES

LIMITES

• Os grupos são fáceis de conduzir;

• Não é baseado em colocações naturais;

• A técnica não exige emprenho de muitos recursos financeiros;

• O grupo de foco não atinge o potencial dos grupos de pesquisas individuais;

• Mesmo que o pesquisador seja novato, poderá obter muitas informações, pois p grupo permite que se explorem tópicos e hipóteses gerais, possibilitando interação com os itens de interesse do pesquisador;

• Certas posições de alguns participantes podem distorce o estudo;

• Permite explorar não somente o que as pessoas têm a dizer, aquilo que está subentendido, motivando-as para que o máximo de informações seja extraído; • Possibilita observar a extensão daquilo com que os entrevistados concordam e do que discordam; •

• Mesmo parecendo redundância, deve-se insistir para que a atenção deva estar sempre voltada ao foco que se pretende atingir para que não ocorra uma perda dos objetivos; • O moderador tem a responsabilidade de conduzir, estimular e manter os entrevistados dentro da proposta pretendida, pois, se assim não o fizer, podem ocorrer distorções.

Por meio da habilidade do entrevistador, estimula-se entre os entrevistados a troca de suas experiências e visões.

Fonte: Elaboração dos autores a partir de Morgan (1996) Figura 6 – Contribuições e Limites dos Grupos Focais

De acordo com Oliveira e Freitas (1998), existem algumas situações em que o uso desse método de pesquisa não é recomendável, por exemplo: (a) quando o assunto é constrangedor para os participantes; (b) quando o pesquisador não tem controle sobre quais são os aspectos 13

críticos do estudo; (c) quando são necessárias projeções estatísticas; (d) quando outro método pode produzir resultados com melhor qualidade ou mais economicamente; (e) ou quando o pesquisador não pode garantir a confidencialidade da informação. Pode-se perceber que no esforço por diferentes autores (MALHOTRA, 2006; MORGAN, 1996; KRUEGER, 1994) em explanar sobre as contribuições e limites da aplicação da técnica de grupos focais na abordagem qualitativa, ainda há muito pontos que convergem dentro da colaboração que estes autores destacam sobre este tema, mostrando por um lado o aperfeiçoamento dessa técnica na pesquisa qualitativa, e por outro lado, as limitações fazem com que, muitos pesquisadores permanecem agnósticos a aplicação desse método. 3. Considerações Finais Procurou-se através deste artigo, enfocar o processo de construção dos grupos focais e as suas exigências metodológicas aos pesquisadores que já desenvolvem ou almejam incorporar essa técnica em seus estudos organizacionais de natureza qualitativa. Os grupos focais podem ser utilizados isoladamente ou associado a outros métodos (triangulação), o que permite uma maior validação dos resultados da pesquisa. É importante levar em consideração as exigências metodológicas no processo de construção dos grupos focais que normalmente se dividem em planejamento, condução e análise, destacando como ponto fundamental o cuidado no planejamento. Caso o pesquisador não se encaixe nesse perfil, mas encontre nos grupos focais o caminho para a coleta dos seus dados, ele pode convidar uma pessoa que conduza as sessões, sendo necessário que esta pessoa esteja familiarizada com o tema a ser investigado, não marginalizando com isto, a presença do pesquisador nos momentos das realizações das sessões, a fim de que ele possa fazer suas anotações, independente de estar ou não no papel de moderador. Em síntese, pode-se dizer que os grupos focais são uma técnica de coleta de dados em pesquisas qualitativas, apropriada para avaliação de produtos e serviços; pré-testes de embalagens, mensagens e programas promocionais; identificação de necessidades e expectativas de grupos minoritários ou de parcelas do público-alvo; avaliação de usabilidade de interfaces; definição de novos requisitos de produtos e serviços; geração de novos conceitos e idéias; e entendimento de motivações. Assim como foram destacadas as situações favoráveis ao uso do grupo focal, também devem ser ressaltados os casos em que essa técnica não é considerada adequada, isto é, em pesquisas que buscam informações ou generalizações quantitativas, projeções estatísticas de ações e comportamentos futuros, ou ainda o consenso. Para finalizar, um pensamento de Calder (1977) sobre a pesquisa qualitativa, os grupos focais e a utilização de mais de uma técnica de pesquisa com intuito de tornar seus resultados válidos e mais consistentes: A natureza da pesquisa qualitativa não a limita a nenhuma técnica como sendo a melhor. Outras técnicas são tão boas quanto os grupos focais, e devem ser exploradas. A maior ameaça à pesquisa qualitativa não é a falta da capacidade de generalizações, mas a falta de validade. A validade só pode ser atingida a partir do uso de múltiplos métodos.

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